1. Riscos ocupacionais em saúde
RISCOS OCUPACIONAIS EM SAÚDE
OCCUPATIONAL HEALTH RISKS
p.338 • R Enferm UERJ 2004; 12:338-45.
Maria Yvone Chaves Mauro *
CamilaDrumondMuzi**
RaphaelMendonçaGuimarães**
Carla Christina Chaves Mauro***
RESUMO: Este é um artigo de revisão que pretende discutir os riscos ocupacionais em saúde, apoian-do-
se em pesquisa bibliográfica referente ao período de 1976 a 2004. Objetiva-se discutir os riscos
ocupacionais em saúde a partir de elementos do contexto do trabalhador e analisar as condições gerais
do seu ambiente de trabalho e suas condições individuais e de saúde. Percebe-se que a desarmonia
entre saúde e trabalho é incontestavelmente um problema de saúde pública, que merece ser analisado
em todos os seus prismas, compreendendo assim a integralidade do trabalhador. Tal fato requer, do
enfermeiro, a atenção necessária para que, primeiramente, não sofra o desgaste gerado por essa desar-monia
e, depois, possa contribuir para minimizar os efeitos negativos gerados em outros trabalhadores.
Palavras-chave: Enfermagem; risco ocupacional; saúde; trabalho.
ABSTRACT: This article intends to discuss occupational health risks, based on a bibliographic research
covering the period from 1976 to 2004. The objective is to discuss occupational risks from elements that
make part of the worker’s context, and to analyze related general environment conditions and personal
conditions. It is clear that the disharmony between health and work is an incontestable public health
problem that must be analyzed under its multiple facets. That fact demands attention of the nurse in order
to avoid suffering the effects generated by such disharmony, and to contribute to minimize the negative
effects generated upon other workers.
Keywords: Nursing; occupational risk; health; work.
INTRODUÇÃO
Apalavra trabalho e o qualitativo profissi-onal
são usados em psicologia para designar toda
atividade realizada tecnicamente com a finalida-de
de conseguir um rendimento econômico. Em
nossa organização social, o ser humano dedica ao
trabalho aproximadamente 65% da sua vida pro-dutiva,
incluindo-se jornada de trabalho e ativi-dade
propriamente dita, a locomoção e o atendi-mento
das necessidades relacionadas ao trabalho.
Portanto, não é a terceira parte da vida, mas a
metade da sua existência que o homem dedica ao
trabalho profissional.
Hoje o trabalho constitui uma das práticas
mais importantes da vida do ser humano, porque
é dessa atividade que o homem tira os elementos
para sua própria subsistência familiar. Entretanto,
o homem não deve trabalhar apenas pelo salário
que recebe, mas também pela satisfação pessoal
que deve sentir na sua realização e pelos resulta-dos
que colhe através do seu próprio esforço.
O trabalho desempenha uma função im-portante
na vida do homem e preenche alguns
objetivos, tais quais: respeitar a vida e a saúde
do trabalhador, priorizando o problema da segu-rança
e da salubridade dos locais de atividade
laboral; deixar-lhe tempo livre para o descanso
e lazer, destacando-se a questão da duração
dessa jornada e de sua coordenação para a
melhoria das condições de vida fora do local da
atividade ocupacional; e deve permitir ao tra-balhador
sua própria realização pessoal, ao mes-mo
tempo em que presta serviços à comunida-de,
considerando o problema do tipo de ativi-dade
e da organização do trabalho.
Quanto à Saúde do Trabalhador, ela é com-preendida
como um conjunto de práticas teóricas
interdisciplinares - técnicas, sociais, humanas - e
interinstitucionais, realizadas por diferentes ato-res
situados em espaços sociais distintos e infor-mados
por uma mesma perspectiva comum1.
2. Mauro MYC, Muzi CD, Guimarães RM, Mauro CCC
R Enferm UERJ 2004; 12:338-45. • p.339
Discorrer sobre a Saúde do Trabalhador é, em
primeiro lugar, abordar um tema que ainda não
atingiu a adolescência, mas que precisa discutir os
caminhos que levem a uma maturidade saudável
e duradoura2. Para tal maturidade, cabe discutir
os aspectos relacionados ao trabalho que garan-tam
o bem-estar do sujeito e, ainda, abordar os
riscos inerentes a esse trabalho, de forma que sua
prevenção possa trazer segurança ao indivíduo.
Assim, são objetivos deste estudo: discutir
os riscos ocupacionais na área da saúde, a partir
dos elementos do contexto do trabalhador e ana-lisar
as condições gerais do seu ambiente de tra-balho
e suas condições individuais de saúde.
A pesquisa bibliográfica realizada abrange
produção científica de 1976 a 2004, recuperando
conceitos e achados de grande relevância para a
especialidade Saúde do Trabalhador.
O SIGNIFICADO DO TRABALHO
O provimento das necessidades biológicas
básicas humanas é a função primordial do traba-lho,
entretanto, existem outras funções como:
propicia o aplauso social, uma vez que o individuo
que não trabalha é mal visto pela sociedade; ali-via
a tensão emocional funcionando como uma
válvula de escape ou uma derivação para as emo-ções
acumuladas; estimula a imaginação e ativa
a criatividade porque afeta poderosamente a ati-vidade
mental e estimula a inteligência, procu-rando
obter melhores formas de expressão da
produtividade; condiciona o progresso e o bem-estar
humano porque cada trabalhador é consi-derado
parte do processo de melhoria de sua co-munidade3.
Osignificado do trabalho4,5,6é elaborado como
uma cognição subjetiva, histórica e dinâmica,
caracterizada por múltiplas facetas que se articu-lam
de diversificadas maneiras. É subjetiva, apre-sentando
uma variação individual, a qual reflete
a história pessoal de cada um. É social, porque,
além de apresentar aspectos compartilhados por
um conjunto de indivíduos, reflete as condições
históricas da sociedade, na qual está inserido. É
dinâmica, no sentido de que é construto
inacabado, em permanente processo de constru-ção.
Decorrente disso, sua caracterização varia
conforme seu próprio caráter histórico-social.
O significado do trabalho, para o homem,
representa uma situação especial, que lhe traz
satisfação ou não, e ainda, como atividade hu-mana
tem significado tríplice: material, psicoló-gico
e social3.
Quanto à satisfação material, é necessário
que o trabalho proporcione o atendimento das
necessidades biológicas primordiais: alimentação,
vestuário, habitação, saúde física e mental, re-creação
e outras.
No que se refere à satisfação psíquica indi-vidual,
ela se fundamenta no provimento das se-guintes
necessidades: afeto; noção de pertencer,
sentir-se uma peça da engrenagem empresarial;
companhia dos outros; realização; experiências
novas; segurança; e fator de otimismo.
Considerando a satisfação social, o trabalho
confere posição entre os membros do grupo, o que
é importante para a convivência social.
Após a revisão desses significados, torna-se
imprescindível destacar as alterações no homem
determinadas pelo trabalho.
AS ALTERAÇÕES PELO TRABALHO
No desempenho do trabalho, pode-se obser-var
alterações no organismo e na personalidade
do trabalhador que se manifestam durante a jor-nada3,
tais como: modificações fisiológicas – altera-ção
do processo metabólico, aumento do ritmo
respiratório e cardíaco e alterações no teor físico-químico
do sangue e dos tecidos musculares, re-sultantes
do esforço produzido; aquecimento – ou
seja, intensificação do rendimento do trabalho
pelo aumento da capacidade dos músculos e ner-vos
condicionados à atividade exercida; queda da
velocidade e qualidade do rendimento – observáveis
com o prolongamento forçado do trabalho, decor-rente
do esforço muscular e intelectual que sur-ge
com a fadiga; reativação – é o súbito aumento
do ritmo de trabalho, seja pelo estímulo do
supervisor ou apelo nas ultimas horas de traba-lho;
alterações no controle e coordenação motora –
observáveis na continuidade do esforço físico.
É preciso estar atento para o início dessas
alterações no trabalhador: os movimentos se tor-nam
mais lentos e imprecisos e o trabalho se apre-senta
com menos rendimento e queda na produ-tividade;
os bloqueios que se caracterizam por in-terrupções
muito curtas, de fração de segundos,
automáticas e inconscientes no decorrer da ati-vidade,
que o trabalhador nem percebe, acredi-tando-
se ser reflexo de fadiga mental; e a fadiga
que é a sensação de exaustão física e mental, re-sultante
do excesso de atividades, manifestada
3. Riscos ocupacionais em saúde
pela redução da força física e capacidade de rea-gir
ou executar tarefa3.
Dando prosseguimento, inicia-se, a seguir,
o estudo da relação ambiente ocupacional/tra-balhador.
O AMBIENTE DE TRABALHO E O
TRABALHADOR
A Saúde Ocupacional avança numa pro-posta
interdisciplinar, com base na Higiene In-dustrial,
relacionando ambiente de trabalho-corpo
do trabalhador1. Incorpora a teoria da
multicausalidade, na qual um conjunto de fato-res
de risco é considerado na produção da doen-ça,
avaliada através da clínica médica e de in-dicadores
ambientais e biológicos de exposição
e efeito. Os fundamentos teóricos do modelo da
História Natural da Doença7 são aplicáveis a
indivíduos ou grupos, e derivam da interação cons-tante
entre o agente, o hospedeiro e o ambiente,
significando um aprimoramento da multicausali-dade
simples.
Mesmo assim, se os agentes/riscos são assumi-dos
como peculiaridades naturalizadas de objetos e
meios de trabalho, descontextualizados das razões
que se situam em sua origem, repetem-se, na prá-tica,
as limitações da Medicina do Trabalho. As
medidas que deveriam assegurar a saúde do traba-lhador,
em seu sentido mais amplo, acabam por res-tringir-
se a intervenções pontuais sobre os riscos
mais evidentes. Enfatiza-se a utilização de equipa-mentos
de proteção individual, em detrimento dos
que poderiam significar a proteção coletiva;
normatizam-se formas de trabalhar consideradas
seguras, o que, em determinadas circunstâncias,
conforma apenas um quadro de prevenção simbó-lica.
Assumida essa perspectiva, são imputados aos
trabalhadores os ônus por acidentes e doenças,
concebidos como decorrentes da ignorância e da
negligência, caracterizando uma dupla
penalização8. A fórmula ideal para a vida humana
consiste em manter em equilíbrio os componentes
biológicos e psíquicos da personalidade e os fatores
sociais e do ambiente. Quando o equilíbrio persis-te,
o individuo conserva o seu estado de saúde e
mantém uma sensação de bem-estar.
Desse modo, o ambiente de trabalho pode
converter-se em elemento agressor do indivíduo.
Qualquer que seja a origem do desequilíbrio, exis-te
a possibilidade de dano para a saúde do traba-lhador,
p.340 • R Enferm UERJ 2004; 12:338-45.
o qual deve ser protegido pela adoção de
medidas adequadas9.
Assim, o estudo do ambiente de trabalho
deve compreender os seguintes aspectos: os dife-rentes
tipos (características); os fatores que o
condicionam; as alterações desses fatores e suas
causas; a técnica para exploração dessas altera-ções;
as medidas que devem ser adotadas para
evitar a agressão do ambiente sobre o indivíduo10.
Não é possível indicar todos os fatores de
risco, contudo relacionam-se os mais comuns11:
muitas horas de trabalho; postura inadequada;
monotonia; meio físico inadequado; instalações
sanitárias insuficientes; falta de salas de descanso
e assentos; saúde e higiene mental insatifatórias
e fadiga.
Entre os agravos à saúde do trabalhador, des-tacam-
se os acidentes de trabalho que são men-cionados
a seguir.
ACIDENTES
Com uma perspectiva de superação da visão
do acidente de trabalho de uma forma inespecífica
e a-histórica, deve-se ter uma visão renovada
desse tipo de evento, ou seja, olhar com cuidado
não só o acidente em si, mas também os fatores
que o predispuseram. Embora saiba-se que aci-dentes
com material biológico não acontecem
somente com enfermeiros ou técnicos de enfer-magem,
há estudos que indicam a hegemonia
dessa categoria nos incidentes, especialmente em
acidentes com material perfurocortantes12.
Recentes estudos13 evidenciaram que a re-lação
entre incidência de acidentes de trabalho
e mortalidade não é tão baixa, o que significa que
há um pequeno potencial de mortalidade e um
grande potencial de morbidez, condição que de-manda
estratégias para minimizar esses agravos
no ambiente de trabalho, tendo em vista suas re-percussões
para o indivíduo e para o Estado. Veri-ficou-
se, ainda, que há diferenças brutais entre
as mesmas taxas nacionais e por regiões, o que
sinaliza uma diferenciação no acesso aos serviços
de saúde e, especificamente, na área da Saúde
do Trabalhador.
Neste contexto, os acidentes de trabalho
(AT) ocupam destaque, uma vez que se apresen-tam
como a concretização dos agravos à sua saú-de
em decorrência da atividade produtiva, rece-bendo
interferências de variáveis inerentes à pró-
4. Mauro MYC, Muzi CD, Guimarães RM, Mauro CCC
R Enferm UERJ 2004; 12:338-45. • p.341
pria pessoa, do ponto de vista físico ou psíquico,
bem como do contexto social, econômico, políti-co
e da própria existência. Decorrem da ruptura
na relação entre o trabalhador e os processos de
trabalho, os quais interferem no processo saúde/
doença, algumas vezes de maneira abrupta e ou-tras
de forma insidiosa, bem como no modo de
viver ou morrer dos trabalhadores14.
Considerando o exposto, o trabalho notur-no
pode ser outro fator de ruptura no equilíbrio
saúde/doença, conforme é descrito na seção se-guinte.
TRABALHO NOTURNO
As escalas de trabalho em turnos geralmen-te
adotadas são bastante variadas, e em uma mes-ma
empresa pode haver várias escalas. Nas déca-das
de 60 e 70, escalas de turnos em que predo-minava
o rodízio semanal dos horários de traba-lho
eram bastante freqüentes.
Uma das análises mais divulgadas na litera-tura
sobre erros/acidentes relacionados ao traba-lho
em turnos foi publicada originalmente em 1979
15. A hipótese destacada pelo referido estudo é a
de que provavelmente o pior desempenho obser-vado
em atividades em plantões ou regimes de
trabalho noturnos estaria associado à queda ou
diminuição na expressão comportamental de al-guns
ritmos biológicos, com especial ênfase ao da
temperatura corporal.
Esse ritmo apresenta valores mais baixos du-rante
a noite, concomitante ao aumento da so-nolência
e conseqüente queda de rendimento de
algumas funções cognitivas. A falta de repouso
leva a riscos, decorrentes da privação de sono que
vão desde a irritação, ansiedade, insegurança,
depressão, dificuldade de concentração e redu-ção
da capacidade crítica; o profissional de en-fermagem
se sente insatisfeito por não ter presta-do
uma assistência de melhor qualidade ao
paciente16.Diante das evidências de problemas
gerados pela inversão do ciclo vigília-sono e con-seqüente
privação do sono de trabalhadores, pode-se
dizer que as estratégias individuais relaciona-das
aos hábitos de sono são essenciais para permi-tir
a adaptação ao trabalho em turnos17.
Um estudo18 realizado entre auxiliares de
enfermagem e enfermeiros que trabalhavam em
hospital público de São Paulo, cuja organização
dos turnos diurnos e noturnos fixos era de 12 ho-ras
diárias, seguidas de 36 horas de descanso, com-parou
as durações dos episódios de sono, detec-tando
diferenças significativas entre sono diurno
e noturno. A qualidade dos episódios de sono diur-no
após as noites de trabalho foi avaliada como
pior do que a qualidade dos episódios de sono
noturno. Foram encontradas diferenças significa-tivas
na percepção dos estados de alerta em três
momentos diferentes do turno da noite. Os níveis
percebidos de alerta à noite tornam-se piores à
medida que aumenta o número de horas de tra-balho.
Isso é um indicativo de que a sonolência
no trabalho noturno se faz presente e pode preju-dicar
seriamente tanto trabalhadores quanto os
pacientes que estão sob seus cuidados.
A partir de estudos anteriores19, 20 realiza-dos
acerca do trabalho noturno, verificou-se uma
série de alterações no ritmo biológico do traba-lhador
(ciclo circadiano; temperatura corporal;
nível de glicose no sangue; grau de fadiga; adap-tação
ao trabalho; rendimento; duração do sono;
grau de retenção da informação). As conseqü-ências
diretas foram: fadiga; desadaptação à ati-vidade;
baixo rendimento; baixa capacidade de
conciliar o sono normal; maior índice de erros
detectados; desequilíbrio nutricional; limite re-duzido
de responsabilidade; aumento ou apare-cimento
de patologia de natureza somática;
estress.
CONDIÇÕES DE SAÚDE
As medidas ergonômicas relacionadas à pos-tura
no ambiente de trabalho, assim como as so-luções
implementadas de modo preventivo são mais
positivas, especialmente quando associadas à se-leção
adequada do trabalhador e à utilização de
técnicas corretas no processo de trabalho21. Essa
prática é comumente realizada inadequadamen-te
pelos profissionais de enfermagem, daí a fre-qüência
de problemas de saúde no trabalho.
Deve-se ainda considerar o trabalho senta-do,
no qual a incidência de hérnias de disco é três
vezes maior que no trabalho em pé, e os esforços no
sentido de ampliar os conhecimentos básicos de
ergonomia dos profissionais da área de saúde.
Cabe destacar aqui os principais fatores re-lacionados
às condições ocupacionais20,21, consi-derando-
se as novas tendências do mercado de
trabalho: remuneração; oportunidade de carrei-ra;
garantia disciplinares; horas de trabalho; des-
5. Riscos ocupacionais em saúde
canso e férias; segurança social; proteção à saú-de;
oportunidade de formação inicial e educação
continua; efetivo de pessoal no serviço; organiza-ção
do trabalho; participação do pessoal na de-terminação
de suas condições ocupacionais e de
vida e participação em tudo que contribui para
sua satisfação no trabalho.
No Brasil, existem inúmeros convênios e re-comendações
da Organização Internacional do
Trabalho(OIT) ratificadas pelas Portarias do Mi-nistério
do Trabalho denominadas Normas
Regulamentadoras (NR), além da Consolidação
das Leis de Trabalho (CLT), disciplinando essa
área. Os estudos sobre os riscos ocupacionais apon-tam
que, quando eles não são submetidos a con-trole,
levam ao aparecimento de acidentes e do-enças
profissionais e do trabalho.
O Ministério do Trabalho, através das NR,
visa eliminar ou controlar tais riscos ocupacionais.
São 32 NRs direcionadas para trabalhador urba-no,
das quais foram selecionadas algumas de re-levância
para o trabalhador de saúde: NR-1 Dis-posições
Gerais; NR-4 Serviços Especializados em
Engenharia de Segurança e Medicina do Traba-lho
– SESMT; NR-5 Comissão Interna de Preven-ção
de Acidentes – CIPA; NR-6 Equipamentos
de Proteção Individual – EPI; NR-7 Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional -
PCMSO; NR-9 Programa de Prevenção de Ris-cos
Ambientais - PPRA; NR-15 Atividades e
Operações Insalubres; NR-16 Atividades e Ope-rações
Perigosas; NR-17 Ergonomia; NR-24 Con-dições
Sanitárias e de Conforto nos Locais de Tra-balho;
NR-26 Sinalização de Segurança; NR-31
Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Con-finados;
NR-32 (em processo de implementação)
Segurança e Saúde no Trabalho em Estabeleci-mentos
de Assistência à Saúde 22.
Algumas delas estão envolvidas no controle
das condições de risco para a saúde e melhoria
dos ambientes de trabalho, visando: identifica-ção
das condições de risco para a saúde presentes
no trabalho; caracterização da exposição e
quantificação das condições de risco; discussão e
definição das alternativas de eliminação ou con-trole
das condições de risco; implementação e
avaliação de medidas a serem adotadas 22.
Os condicionantes sociais, econômicos,
tecnológicos e organizacionais responsáveis pelas
condições de vida e de trabalho e os fatores de
risco ocupacionais são também determinantes da
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saúde do trabalhador. Portanto, ações na área da
saúde do trabalhador têm como objetivo primor-dial
mudanças nos processos de trabalho que con-templem,
em toda sua dimensão, as relações saú-de-
trabalho, por meio de uma atuação
multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial.
Considera-se fator de risco para provocar um
dano, toda característica ou circunstancia que
acompanha um aumento de probabilidade de
ocorrência do fator indesejado, sem que o dito
fator tenha de intervir necessariamente em sua
causalidade23.
Classicamente, os fatores de risco para a saú-de
e segurança dos trabalhadores, presentes ou
relacionados ao trabalho, de acordo com a Orga-nização
Pan-Americana da Saúde no Brasil, po-dem
ser classificados em cinco grandes grupos22,24:
físicos- agressões ou condições adversas de natu-reza
ambiental que podem comprometer a saúde
do trabalhador; químicos- agentes e substâncias
químicas, sob a forma líquida, gasosa ou de partí-culas
e poeiras minerais e vegetais, comuns nos
processos de trabalho; biológicos- microorganismos
geralmente associados ao trabalho em hospitais,
laboratórios e na agricultura e pecuária;
ergonômicos e psicossociais - que decorrem da or-ganização
e gestão do trabalho; de acidentes- liga-dos
à proteção das máquinas, arranjo físico, or-dem
e limpeza do ambiente de trabalho, sinaliza-ção,
rotulagem de produtos e outros que podem
levar a acidentes do trabalho.
Os riscos ocupacionais têm origem nas ativi-dades
insalubres e perigosas, aquelas cuja natu-reza,
condições ou métodos de trabalho, bem como
os mecanismos de controle sobre os agentes bio-lógicos,
químicos, físicos e mecânicos do ambien-te
hospitalar podem provocar efeitos adversos à
saúde dos profissionais.
Os técnicos especialistas em Higiene e Se-gurança
do Trabalho são unânimes em colocar que
o importante não é gratificar o trabalhador com o
adicional de insalubridade ou de periculosidade,
mas sim tornar o trabalhador e o ambiente abso-lutamente
saudáveis.
O quadro a seguir mostra a classificação dos
principais riscos ocupacionais em grupos, de acor-do
com a sua natureza:
Essas condições isalubres e perigosas na mai-oria
das vezes se tornam rotina, freqüentemente
não percebidas pelos gerentes, nem pelo próprio
trabalhador de saúde, o qual se habitua com a
6. Mauro MYC, Muzi CD, Guimarães RM, Mauro CCC
Fonte: Ministério do Trabalho (MTE) Norma Regulamentadora – NR 9 – Riscos ambientais25
FIGURA 1: Classificação dos Principais Riscos Ocupacionais.
R Enferm UERJ 2004; 12:338-45. • p.343
situação ou mantém um autocontrole dos sinto-mas,
sem procurar esclarecer as causas verdadei-ras.
Das observações feitas, e com base na litera-tura
estudada9,14,17,24-27, evidenciam-se as conse-qüências
dessas condições: queda da produção,
maior vulnerabilidade aos acidentes de trabalho,
afastamento do trabalho por motivo de saúde,
causa mais freqüente do elevado absenteísmo.
A combinação desses fatores leva a enfer-magem,
principalmente, a uma condição que os
peritos da OIT caracterizam como de penúria
crônica.
Com o conhecimento desses fatores de ris-cos
e a identificação da população exposta (os
próprios profissionais de enfermagem, seus cole-gas
de trabalho e os clientes), cabe aos gerentes
encetar uma luta para orientar o trabalhador so-bre
tais riscos ocupacionais e as medidas necessá-rias
ao seu controle.
Um programa de educação continuada, com
treinamento específico para profissionais de saú-de,
pode favorecer o entendimento desses pro-blemas
e de sua gravidade para combatê-los.
A criação de Comissões Internas para Pre-venção
de Acidentes27 (CIPAS), nas Unidades
de Saúde, também, facilitará a discussão dos pro-blemas
com a direção das instituições, assim
como as Comissões de Saúde. Vale ressaltar que
os hospitais com mais de 500 empregados são
obrigados a incorporar um Enfermeiro do Traba-lho
no seu quadro, de modo que esse profissio-nal
além de participar das atividades especifi-cas,
deverá estar atento aos fatores de riscos para
combatê-los 28.
Atualmente, conta-se com a Norma
Regulamentadora do Ministério do Trabalho nº
32/2002, ainda em fase de homologação, que se
destina à proteção dos trabalhadores de estabe-lecimentos
de saúde 29.
Os centros de estudos dos hospitais e outros
serviços de saúde, também deverão discutir essa
problemática e buscar a assessoria necessária com
os técnicos competentes, principalmente em re-lação
a novos riscos.
Resultados de pesquisas sobre condições de
trabalho e aspectos ergonômicos mostram que há
necessidade de difundir-se entre os enfermeiros
o conhecimento desses estudos e de outros sobre
a higiene, biossegurança e segurança do traba-lho,
visando a proteção de sua própria saúde e de
seus clientes26. É imperativa a implementação de
medidas ergonômicas e de biossegurança para a
proteção dos enfermeiros e demais profissionais
de saúde, assim como de medidas de higiene
mental para a garantia de um ambiente saudável
e obtenção do equilíbrio emocional do grupo.
7. Riscos ocupacionais em saúde
CONCLUSÃO
Existem medidas especificas de proteção à
saúde do trabalhador que são quantitativa e qua-litativamente
satisfatórias, embora de circulação
ainda limitada, e, devem ser implantadas como
norma obrigatória do Ministério do Trabalho. É
uma questão de cidadania a conquista desse di-reito
do trabalhador.
A enfermagem ainda não está mobilizada o
suficiente para aplicar as medidas em favor de sua
própria saúde, da produtividade do serviço, do seu
melhor desempenho e satisfação no trabalho.
Destaca-se como elemento de grande efici-ência
o domínio do conhecimento dos fatores de
riscos ocupacionais, causas das patologias do tra-balho
e medidas de controle, especialmente no
que se relaciona com a enfermagem.
Considera-se o grupo de enfermagem o gru-po
ideal para difundir esses conhecimentos por
ser o sujeito e o objeto do problema em questão.
Desse modo, o enfermeiro pode ser o multiplicador
em potencial na área da saúde.
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RIESGOS OCUPACIONALES EN SALUD
RESUMEN: Esto es un artículo de revisión que intenta discutir los riesgos ocupacionales en salud,
apoyándose en investigación bibliográfica referente al período de 1976 a 2004. Se objetiva debatir los
riesgos ocupacionales en salud a partir de elementos del contexto del trabajador y analizar las condiciones
generales de su ambiente de labor y sus condiciones individuales y de salud. Se percibe que la desarmonía
entre salud y trabajo es incontestablemente un problema de salud pública, lo cual merece ser analizado
en todos sus prismas, comprendiendo así la integralidad del trabajador. Tal hecho requiere, del enfermero,
la atención necesaria para que, primeramente no venga a sufrir el desgaste generado por esa desarmonía
y, después, pueda contribuir para minimizar los efectos negativos generados en otros trabajadores.
Palabras clave: Enfermería; riesgo ocupacional; salud; trabajo.
Recebido em: 06.05.2004
Aprovado em: 14.10.2004
Notas
*Doutora em Enfermagem e Professora Titular do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública da FENF/UERJ. Sanitarista, Enfermei-ra
do Trabalho e Ergonomista. Pesquisadora do CNPq. Rio de Janeiro/RJ.
**Interno da Faculdade de Enfermagem UERJ. Bolsista IC do CNPq.
***Mestranda do Programa de Engenharia de Produção do GENTE/COPPE/UFRJ. Arquiteta, Ergonomista e Engenheira de Segurança do
Trabalho