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O BemViver como princípio
ético para a Amazônia
Nesta perspectiva dois aspectos são centrais
Estes dois aspectos são os pilares para uma
ética do BemViver.
O sentido
de pertença
à natureza
O sentido
da
comunidade.
Bem – viver
 Na construção do “bem viver”, dois eixos
são sumamente importantes: o “bem
viver” para todos, quer dizer, o combate
contra uma sociedade de classes e
privilégios, e o “bem viver” para sempre,
que é o “bem viver” com memória
histórica, o bem viver não apenas dos
sobreviventes e vencedores, mas o bem
viver que dá voz e ouvido aos vencidos.
O BemViver
Ser feliz, como
indivíduo
viver bem, como
ser social em
família e
sociedade
duas tarefas
conjuntas que
procuramos
solucionar a vida
inteira
No centro da primeira está a felicidade própria do
indivíduo, o núcleo da segunda são costumes e
prescrições culturais, a moral, a virtude e a lei da
sociedade.
Lutas sociais – equilíbrio entre
felicidade individual e moral social
 Praticamente todas as lutas sociais representam
tentativas de equilibrar felicidade individual e
moral social, ou, como se diz no mundo andino,
são buscas de harmonia, de harmonia
sociocultural entre o individuo e o coletivo, e
harmonia entre os seres humanos e a natureza
da qual são parte integrante.
 Essa busca de harmonia se transformou em lutas
políticas.A harmonia não é dada. Ela é uma
conquista que exige vigilância permanente.
o capitalismo
 Nova colonização pelo capital, pela ideologia do
desenvolvimento, pelo consumo e pela competição,
procuramos curar as patologias do desequilíbrio que se
manifesta pela acumulação, pelo crescimento desenfreado e
pela aceleração.
 Procuramos novos conceitos de propriedade e
desenvolvimento para construir novas realidades.
 Procuramos bem-estar sem crescimento. No meio de lutas
pela redistribuição dos bens (terra, água, ar) e pelo
reconhecimento do outro procuramos desvincular o bem-
estar do crescimento predatório (agrotóxicos, expansão
sobre a propriedade dos outros, consumo autodestrutivo).
 Percebemos que o capitalismo não tem patologias. Ele é a
patologia.
Independência não gerou vida para
todos
 A Independência dos países latino-americanos
nem sempre foi um avanço em direção do bem
viver. Os mecanismos da colonização e de uma
sociedade escravocrata podem também continuar
em países independentes. As elites mestiças,
crioulas e brancas que assumiram os governos
ditos independentes, muitas vezes reproduziram
os mecanismos de dominação no interior de seus
países. No Brasil, a escravidão continuou. Nos
países emancipados, afro-americanos e indígenas,
geralmente, não participaram do “bem viver” pós-
colonial.
Desafios ao “bem viver” hoje
 A exploração irracional atinge não só operários, indígenas ou
migrantes, mas também a nossa irmã natureza. A devastação
de florestas e da biodiversidade, “coloca em perigo a vida de
milhões de pessoas”, em especial a vida dos “camponeses e
indígenas, que são expulsos para as terras improdutivas e para
as grandes cidades para viverem amontoados nos cinturões de
miséria” (DAp 473).
 Acreditamos que um outro mundo é possível, porque o atual
tripé crescimento econômico, segurança social e democracia
política não oferece perspectivas do bem viver universal. Não
entramos no jogo de alternativas perversas: democracia
com fome e miséria, ou bem-estar
material sem participação, sem liberdade
política e sem horizonte de sentido, ou
prosperidade econômica do país com
A construção do bem viver é uma
construção cultural (não natural).
Quem quer construir o bem viver, é
contracultural. Essa construção significa:
descolonizar as
instituições
políticas,
-
desmercantilizar
os saberes, a fé, a
escola, saúde,
- desprivatizar o
que deve ser de
domínio público,
- na patologia da
aceleração
somos o freio de
emergência.
Essência do “viver bem”:
a) Priorizar a vida e os direitos cósmicos
Viver Bem significa buscar a vivência em comunidade, onde
todos os integrantes se preocupam com todos. O mais
importante não é o ser humano (como afirma o
socialismo) nem o dinheiro (como postula o capitalismo),
mas a vida com mais simplicidade possível.Viver bem
significa dar prioridade aos direitos cósmicos antes que aos
Direitos Humanos. É mais importante falar sobre os
direitos da Mãe Terra do que falar sobre os direitos
humanos.
b) Construção do consenso
Viver Bem significa buscar o consenso entre todos. Na
hora de conflitos se procura chegar a um ponto de
neutralidade em que todos coincidam. Procura-se
aprofundar a democracia para que não haja submissão.
Submeter a minoria à maioria não é “viver bem”.
Essência do “viver bem”:
c) Respeitar as diferenças
Para viver em harmonia é necessário respeitar a diferença.
O respeito se estende a todos os seres que habitam o
planeta (animais, plantas). O respeito vai além da tolerância.
Aceitar a diferença significa também aceitar a semelhança.
d)Ver na diferença a complementaridade
Nas comunidades, a criança se complementa com o avô, o
homem com a mulher, a terra com a água, a humanidade
com os vegetais.
e) Equilíbrio (não-exclusão dos opostos)
BemViver significa levar uma vida equilibrada com todos os
seres dentro de uma comunidade e com a natureza.Vivemos
atualmente num projeto que exclui. Democracia, justiça,
meios de comunicação, terra, natureza – em tudo se
mostram mecanismos de exclusão
Essência do “viver bem”:
 f)Valorizar a identidade
 Viver bem significa valorizar e recuperar a identidade.
Esta identidade tem como base valores que resistiram
mais de 500 anos e que foram transmitidos pelas famílias
e nas comunidades que viveram em harmonia com a
natureza e o cosmos.
 g) Saber comer, beber, dançar, trabalhar
 Em tudo prevalece o equilíbrio e os aprendizados
ancestrais. O trabalho é algo comunitário e festivo e não
produção de mais-valia.
 h) Saber se comunicar
 BemViver é saber se comunicar. Rezar significa
comunicar (cacique Babau). O diálogo é o resultado desta
boa comunicação ancestral nas comunidades (oralidade!).
Essência do “viver bem”:
 i) Escutar os anciãos
BemViver significa ler as rugas dos avós
para poder continuar o caminho.“Nossos
avós são bibliotecas ambulantes”.

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O bem viver - viver na Amazônia

  • 1. O BemViver como princípio ético para a Amazônia
  • 2. Nesta perspectiva dois aspectos são centrais Estes dois aspectos são os pilares para uma ética do BemViver. O sentido de pertença à natureza O sentido da comunidade.
  • 3. Bem – viver  Na construção do “bem viver”, dois eixos são sumamente importantes: o “bem viver” para todos, quer dizer, o combate contra uma sociedade de classes e privilégios, e o “bem viver” para sempre, que é o “bem viver” com memória histórica, o bem viver não apenas dos sobreviventes e vencedores, mas o bem viver que dá voz e ouvido aos vencidos.
  • 4. O BemViver Ser feliz, como indivíduo viver bem, como ser social em família e sociedade duas tarefas conjuntas que procuramos solucionar a vida inteira No centro da primeira está a felicidade própria do indivíduo, o núcleo da segunda são costumes e prescrições culturais, a moral, a virtude e a lei da sociedade.
  • 5. Lutas sociais – equilíbrio entre felicidade individual e moral social  Praticamente todas as lutas sociais representam tentativas de equilibrar felicidade individual e moral social, ou, como se diz no mundo andino, são buscas de harmonia, de harmonia sociocultural entre o individuo e o coletivo, e harmonia entre os seres humanos e a natureza da qual são parte integrante.  Essa busca de harmonia se transformou em lutas políticas.A harmonia não é dada. Ela é uma conquista que exige vigilância permanente.
  • 6. o capitalismo  Nova colonização pelo capital, pela ideologia do desenvolvimento, pelo consumo e pela competição, procuramos curar as patologias do desequilíbrio que se manifesta pela acumulação, pelo crescimento desenfreado e pela aceleração.  Procuramos novos conceitos de propriedade e desenvolvimento para construir novas realidades.  Procuramos bem-estar sem crescimento. No meio de lutas pela redistribuição dos bens (terra, água, ar) e pelo reconhecimento do outro procuramos desvincular o bem- estar do crescimento predatório (agrotóxicos, expansão sobre a propriedade dos outros, consumo autodestrutivo).  Percebemos que o capitalismo não tem patologias. Ele é a patologia.
  • 7. Independência não gerou vida para todos  A Independência dos países latino-americanos nem sempre foi um avanço em direção do bem viver. Os mecanismos da colonização e de uma sociedade escravocrata podem também continuar em países independentes. As elites mestiças, crioulas e brancas que assumiram os governos ditos independentes, muitas vezes reproduziram os mecanismos de dominação no interior de seus países. No Brasil, a escravidão continuou. Nos países emancipados, afro-americanos e indígenas, geralmente, não participaram do “bem viver” pós- colonial.
  • 8. Desafios ao “bem viver” hoje  A exploração irracional atinge não só operários, indígenas ou migrantes, mas também a nossa irmã natureza. A devastação de florestas e da biodiversidade, “coloca em perigo a vida de milhões de pessoas”, em especial a vida dos “camponeses e indígenas, que são expulsos para as terras improdutivas e para as grandes cidades para viverem amontoados nos cinturões de miséria” (DAp 473).  Acreditamos que um outro mundo é possível, porque o atual tripé crescimento econômico, segurança social e democracia política não oferece perspectivas do bem viver universal. Não entramos no jogo de alternativas perversas: democracia com fome e miséria, ou bem-estar material sem participação, sem liberdade política e sem horizonte de sentido, ou prosperidade econômica do país com
  • 9. A construção do bem viver é uma construção cultural (não natural). Quem quer construir o bem viver, é contracultural. Essa construção significa: descolonizar as instituições políticas, - desmercantilizar os saberes, a fé, a escola, saúde, - desprivatizar o que deve ser de domínio público, - na patologia da aceleração somos o freio de emergência.
  • 10. Essência do “viver bem”: a) Priorizar a vida e os direitos cósmicos Viver Bem significa buscar a vivência em comunidade, onde todos os integrantes se preocupam com todos. O mais importante não é o ser humano (como afirma o socialismo) nem o dinheiro (como postula o capitalismo), mas a vida com mais simplicidade possível.Viver bem significa dar prioridade aos direitos cósmicos antes que aos Direitos Humanos. É mais importante falar sobre os direitos da Mãe Terra do que falar sobre os direitos humanos. b) Construção do consenso Viver Bem significa buscar o consenso entre todos. Na hora de conflitos se procura chegar a um ponto de neutralidade em que todos coincidam. Procura-se aprofundar a democracia para que não haja submissão. Submeter a minoria à maioria não é “viver bem”.
  • 11. Essência do “viver bem”: c) Respeitar as diferenças Para viver em harmonia é necessário respeitar a diferença. O respeito se estende a todos os seres que habitam o planeta (animais, plantas). O respeito vai além da tolerância. Aceitar a diferença significa também aceitar a semelhança. d)Ver na diferença a complementaridade Nas comunidades, a criança se complementa com o avô, o homem com a mulher, a terra com a água, a humanidade com os vegetais. e) Equilíbrio (não-exclusão dos opostos) BemViver significa levar uma vida equilibrada com todos os seres dentro de uma comunidade e com a natureza.Vivemos atualmente num projeto que exclui. Democracia, justiça, meios de comunicação, terra, natureza – em tudo se mostram mecanismos de exclusão
  • 12. Essência do “viver bem”:  f)Valorizar a identidade  Viver bem significa valorizar e recuperar a identidade. Esta identidade tem como base valores que resistiram mais de 500 anos e que foram transmitidos pelas famílias e nas comunidades que viveram em harmonia com a natureza e o cosmos.  g) Saber comer, beber, dançar, trabalhar  Em tudo prevalece o equilíbrio e os aprendizados ancestrais. O trabalho é algo comunitário e festivo e não produção de mais-valia.  h) Saber se comunicar  BemViver é saber se comunicar. Rezar significa comunicar (cacique Babau). O diálogo é o resultado desta boa comunicação ancestral nas comunidades (oralidade!).
  • 13. Essência do “viver bem”:  i) Escutar os anciãos BemViver significa ler as rugas dos avós para poder continuar o caminho.“Nossos avós são bibliotecas ambulantes”.