[1] Os primeiros portugueses encontraram um Brasil selvagem com rios sendo usados para alimentação, transporte e referência espacial; [2] O ouro trouxe prosperidade às margens dos rios que serviam como estradas para o transporte de mercadorias; [3] Ao longo dos séculos, as atividades econômicas se diversificaram dependendo dos recursos hídricos, mas a industrialização e o crescimento urbano poluíram gravemente os rios.
Planetario (atividade retirada do site Ponto Ciência)
A história do brasil vista das margens de um rio
1. A História do Brasil vista das margens de um rio
Veja como o homem se relacionou com a água em nosso país nos últimos 500 anos
Autor: Guilherme Pallerosi
Fonte: Revista Ciência Hoje das Crianças
Se pudéssemos pegar emprestados os
força física das águas, elas eram
praticamente não existiam mais
olhos dos primeiros portugueses que
usadas para moer a mandioca, o
minérios para serem retirados da
milho e outros alimentos. Além
terra. Durante esse período, os rios
disso, nas margens dos rios também
funcionavam como grandes estradas,
é mais comum encontrar animais
que ligavam as regiões mais remotas
para caçar e grande fartura de peixes,
às principais cidades. Ao longo desses
o que completava a alimentação
rios, foram construídos pequenos
daquelas pessoas.
sítios para que os viajantes pudessem
chegaram ao Brasil, em 1500, seria
possível enxergar o território em que
vivemos hoje de forma muito
diferente. Cidades estradas, pontes,
casas, edifícios, carros, caminhões:
nada disso existia. Se olhássemos esse
território do alto, veríamos apenas
Pelas margens dos rios passou muito
um verde exuberante, pintado pela
ouro
copa das arvores, estendendo-se sem
fim.
Os bandeirantes foram homens que,
entre os séculos 16 e 17, se
embrenharam pelo interior do país.
Muito corajosos, eles não temiam
desvendar os mistérios de outras
matas, diferentes em tudo de sua
terra natal. Apesar de haver inúmeros
perigos no caminho, eles vagavam
Os portugueses, quando chegaram
aqui no século 16, depararam-se com
um lugar selvagem, nada parecido
com a Europa. Era tudo tão diferente
que foi necessário que aprendessem
muito com os índios que aqui
viviam, para poderem desvendar os
segredos destas terras.
durante muitos meses em busca de
novas descobertas. Passado algum
tempo, entre o final do século 17 e o
início do século 18, eles descobriram
a existência de muito ouro e pedras
preciosas em lugares como Minas
Gerais, Mato Grosso e Goiás.
descansar e conseguir mais
mantimentos. Esses lugares, com o
tempo, se tornariam vilas e depois
cidades. Muitas existem até hoje.
Não pensem, no entanto, que essas
viagens eram fáceis. Para se ir de
Cuiabá, no Mato Grosso, até São
Paulo, por exemplo, eram necessários
meses subindo os rios. Nos trechos
mais difíceis, como nos casos de
corredeiras ou de uma cachoeira que
aparecesse no meio do caminho, era
preciso sair das canoas, descarregá-las
e levá-las nas costas até outro trecho
de melhor navegação. Imagine fazer
isso dezenas de vezes, carregando
cargas pesadas como ouro, armas e
comida!
A partir daí, os rios passaram a servir
como um importante meio de
transporte de mercadorias, uma vez
que era muito difícil construir
estradas naquela época. Eram usadas
canoas feitas com enormes troncos
No princípio, os rios serviam apenas
como ponto de referência para que
os aventureiros empenhados em
meter-se mata adentro não se
perdessem. Os vilarejos eram
construídos sempre perto de algum
rio ou córrego. Dessa maneira
haveria água suficiente para se
banhar, matar a sede e cozinhar.
A água também servia para fazer
funcionar engenhocas como o
moinho e o monjolo. Movidas pela
de árvores, exatamente iguais às dos
índios. Elas levavam comida e
materiais para serem usados nas
minas de ouro, além de carregar
todo o metal precioso para o litoral,
para que fosse vendido no
continente europeu. Essas viagens
pelos rios ficaram conhecidas como
Após o ciclo do ouro, cada região do
Brasil passou a cultivar e
comercializar o produto que melhor
se adaptava ao território. Dessa
forma, no século 19, ao Norte do
país, na região amazônica, passou-se
a extrair a borracha da seringueira,
encontrada em abundância na selva.
monções.
Já na região Nordeste, desde o século
A extração de ouro e de pedras
objetivo de vender o açúcar extraído
preciosas durou muitos anos.
a outros países. No Sudeste,
Terminou apenas quando
plantava-se café para exportação. Na
16 se plantava cana-de-açúcar, com o
2. região Sul, a principal atividade era a
a civilização moderna que estava
barragens para movimentar a turbina
pecuária: o gado era criado para ser
nascendo funcionasse.
que gera energia.
Foi aí que as coisas começaram a
Para cada mudança uma nova atitude
vendido para as demais regiões.
Essas atividades dependiam
complicar. As cidades por todo o país
diretamente das águas dos rios para
começaram a crescer e, sobretudo
irrigar as plantações, saciar a sede dos
após 1930, muitas pessoas que
animais, transportar pessoas e
moravam no campo foram para os
mercadorias, acionar moinhos etc. A
centros urbanos. Esse fenômeno
água que sempre nos beneficiou
aconteceu, a princípio, na região
passou a ser um recurso indispensável
Sudeste, principalmente onde fica a
para a economia das diferentes
cidade de São Paulo, porque ali se
regiões do Brasil.
concentrou a maior parte das
A força dos rios ilumina as cidades
Ao longo do século 19, o homem
construiu algumas engenhocas que
iriam mudar o modo de vida das
pessoas para sempre. Primeiramente,
foi descoberto como produzir
energia elétrica, depois como usar
indústrias naquele período. A
aglomeração de habitantes das
cidades consome grandes
quantidades de água e produz
toneladas de esgoto. Adivinha para
onde vai toda essa sujeira?
Infelizmente, acertou quem disse rios
e mares…
O Brasil possui 12% da água potável
do mundo, mas ela não está
espalhada igualmente pelo território.
Enquanto em algumas regiões as
pessoas sentem sede, por não haver
nem mesmo o que beber, em outros
lugares nunca foi dada a devida
importância para o desperdício de
água.
Foi mais ou menos em 1970 que
algumas pessoas de várias partes do
mundo começaram a questionar o
modo de vida que levamos: passaram
perceber muitas coisas que não
pareciam estar certas. É o caso dos
ecologistas. Esse grupo percebeu que
essa energia para fazer luz. Daí em
a natureza não suportaria tamanho
diante, a força dos rios passou a ser
abuso.
usada para produzir energia
No Brasil, eles tiveram uma grande
hidrelétrica e cidades inteiras se
influência nos anos 1980, lutando
iluminaram no final daquele período.
contra a destruição do meio
ambiente. Muitas batalhas pela
preservação da natureza foram
Na primeira metade do século 20,
começou a se pensar em saneamento
básico para as cidades, isto é, num
plano para levar toda água suja por
perdidas. Mas em 1988, aconteceu
uma grande vitória: a nova
Constituição aprovou leis que
protegiam a fauna a flora e as águas.
meio de canos para um lugar onde
ela pudesse ser tratada. Porém, as
cidades foram crescendo tão
rapidamente que até hoje não
conseguimos tratar essa água para
ficar limpa, antes de voltar para os
No começo do século 20, as grandes
cidades como conhecemos hoje
começaram a se formar. Para
funcionar bem, além de luz, elas
precisavam de bondes elétricos para
facilitar o transporte das pessoas. E
não eram somente as pessoas que
precisavam de energia elétrica: as
indústrias que começavam a surgir,
para fabricar produtos que usamos
no dia-a-dia, também utilizam a
energia hidrelétrica. A água passa a
ser um recurso indispensável para que
O que nos resta é ter consciência de
rios.
que toda a degradação dos rios foi
Como se isso não bastasse, ficamos
dependentes de energia elétrica.
Nossas ruas e casas são iluminadas, os
aparelhos domésticos são movidos a
eletricidade. Para suprir toda essa
demanda, foram construídas
centenas de usinas de energia
hidrelétrica ao longo do século 20.
Mas isso tem seu custo: pois para
construir usinas precisamos mudar o
curso dos rios e edificar grandes
consequência do modo de agirmos
ao longo dos anos. O que
precisamos, imediatamente, é mudar
alguns costumes, ter mais respeito
pelos rios. Pois onde já houve
fartura, hoje a fonte começa a secar.
Que isso sirva de alerta para nós!