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- 1. 54 [maio 2009] revista LER
Dezescritoreseuropeus
que(já)mereciamser
traduzidosemPortugalTEXTODEJOSÉRIÇODIREITINHO
TomasTranströmer
(Suécia,1931)
Éumdos«nomesfortes»queemtodososcomeçosdeOu-
tubroéapontadocomoumprováveleleitopeloComitéNobel.
Constaemalgumaspublicações,especialmentealemãs,
orumordequeoseunometemvindoaserpropositadamen-
teadiadoporaAcademiaaindanãoterqueridoatribuir,nas
últimastrêsdécadas,oprémioaumsueco.Verdadeéquepou-
cospoetastêmtidotantasobrastraduzidasemvida;asuaagên-
ciaapontaparamaisde50línguas.Recebeuquasetodosos
importantesprémiosinternacionaisdepoesiaexistentes.
TomasTranströmertemumalíricaoriginalíssimae,decer-
tomodo,umimagináriopróximododossurrealistas.Otra-
balhopoéticoqueiniciouemmeadosdosanos50,equetem
influenciadoprofundamentepoetascontemporâneosnorte-
-americanoseeuropeus,encontraraízesnapoesiamodernis-
taeexpressionista/surrealista.Aolongodedécadas,Tranströ-
mertemvindoaapuraralinguagempoéticacomumagenia-
lidadecaracterísticadepoucos.Osseuspoemasestão
imbuídosdeumaestranhajustaposiçãodeforçasprimevase
contrárias,sempreassentesnaexperiênciaenarealidadecir-
cundante;movimentoemudança,liberdadeecontrolododis-
curso,naturezaeinfluênciahumana,fazempartedassuas
JamesKelman
(Escócia,1946)
Éconsiderado,pormuitos,omelhorescritorescocêseum
dosmaisimportantesromancistascontemporâneosdelíngua
inglesa.Autorderomances,colectâneasdecontos,peças
deteatroeensaiospolíticos,éporvezesapontadocomoum
escritorpolíticaeculturalmentecomprometido,quetenta
subverteroespaçoculturaldaglobalização,insistindonuma
especificidadelocaldaidentidadedaliteratura.
OsromancesdeJamesKelmantratamsobretudodeex-
periênciasurbanas,comnarradoresda«classetrabalhado-
ra»quetentammostrarasuainventivacapacidadederes-
postaaocapitalismo.Masessesanti-heróistendemaser
maisrebeldesdoquerevolucionários,indivíduosqueaca-
bamporsealienardasestruturassociais,passandoaviver
comomerosobservadoresdasociedade.Parecemsempre
demasiadamenteenvolvidoscomasuaimpotênciapolí-
ticaparatransformaroquequerqueseja,acabandoporal-
terarapenasoseustatus.Avoznarrativaénormalmentea
da«terceirapessoa»,oquedeixaKelmansemprenumapo-
siçãodeautoridadefaceaosseuspersonagens;masdevez
emquandosurgeumnarrador,àsemelhançadeJoyce,que
semoveemdiferentesplanosdeomnisciênciaedeimanên-
KjellAskildsen
(Noruega,1929)
Éummestrenaartedeescrevercontos.Asuaprimeira
colectânea(DesdeAhorateAcompañaréaCasa,ediçãoes-
panholanaLenguadeTrapo)foipublicadaem1953,ede
imediatoteveoreconhecimentodacrítica;masnabibliote-
capúblicadolugarondenasceu,Mandal,foiclassificadade
imoraleproibidapeloseuconteúdosexual.Comumestilo
enganadoramenteassépticoefrio,defrasesconcisasesim-
ples,quaseparecendodesdenhardousodosadjectivos,
KjellAskildsencriouumuniversoliterárioondenãohálu-
garparabucólicosretratosdosfiordes:ospersonagens,
mal-humoradosecomfobiasocial,dosquaisnãosãofeitas
descriçõesfísicas,parecemestarsempreemconflitocom
apessoaquelhesémaispróxima.Hásempreporpertoum
qualquerabismosilenciosoeameaçador.Adificuldadeem
nosconhecermosanóspróprios–etambémàquelescom
quemvivemos–criaummundocínico,desentimentos
hibernados,defaltadecomunicação,poucorazoávelepor
vezesquaseatocaroabsurdo,masqueAskildsenenfeita
comumhumorbastantenegroeirónico,umasubespécie
(porquemuitosingular)dosarcasmoácidoquecarac-
terizaalgumaliteraturaescandinava.Asuaescritagelada,
- 2. Merecesertraduzidopelouniversoliteráriobastantesingu-
lar,pelashistóriasondeparecequeésempreOutono,epelaes-
critaemcujaspalavras–transparentesefriascomoogelo–po-
demosavistarfantasmasinterioresquenossãofamiliares.
Merecesertraduzidopelacuriosidadedeserummodernis-
tatardiojátocadopelopós-modernismo,epelasingularidade
deummundoedeumalinguagemdeanti-heróisquetêm
andadoumpoucoarrediosdaliteraturacontemporânea.
Merecesertraduzidopelasualíricadegrandeoriginalida-
de,pelasimagenspoéticasdeumanaturezanórdicapouco
conhecidaeporserumareferênciaincontornávelnapoe-
siaeuropeiacontemporânea.
paisagenspoéticas,localizadasalguresentreosonhoeope-
sadelo.Alutaentreaterraeomaréoutrodosseustemaspre-
feridos,particularmentenospoemasquesereferemaoBálti-
coouàssuasilhas,lugardosVerõesdainfância,numatentativa
dereconstruçãodamemória.NospoemasdeTranströmer,as
imagenspoéticasparecemmuitasvezesabrirportasparaes-
tadospsicológicoseparainterpretaçõesmetafísicas,havendo
umaespéciede«ideiareligiosa»aafloraralgunsversos.
TheGreatEnigma:NewCollectedPoems,traduçãodeRobin
Fulton,eeditadoem2006pelaNewDirectionsBooks,reúnea
quasetotalidadedoseutrabalhopoético.TomasTranströmer
étambémtradutoreexerceudurantetodaavidaaprofissão
depsicólogoclínico,tendotrabalhadoemprisõesjuvenisecom
toxicodependentes.
cia,eentãodá-seasurpresa.Algunsdessesmonólogosin-
teriores,comlutaslabirínticascomaautoridade,fazem
lembraroscontosdeKafka.
JamesKelmancomeçouporpublicarhistóriasnosanos
70,masfoioromanceADisaffectionqueem1989olançou
paraograndepúblicoaoaparecernashortlistdoBooker,pré-
mioqueacabariaporreceberem1994comHowLateitWas,
HowLate,provocandoacesasdiscussõesentrecríticoslite-
rários.OseunomefoijáesteanoincluídonashortlistdoMan
BookerInternacionalPrize,quededoisemdoisanosdistin-
gueumautordequalquernacionalidade(desdequetradu-
zidoparainglês)peloconjuntodassuasobras.
lúcidaedolorosamenteeficaz,deumasobriedadequepor
vezesdeixaoleitoraturdido,podeserentendidacomoum
trabalhoprofundoecorajososobreainevitabilidadeda
solidãoedodesconsoloemocional.
KjellAskildsen,tambémtradutorparaonorueguêsde
Strindberg,Beckett,HaroldPinter,entremuitosoutros,pu-
blicouseisromancesenovecolectâneasdecontos,eestá
traduzidoemváriaslínguaseuropeias.Autorbastasvezes
premiadonospaísesnórdicos,foi-lhejáesteanoatribuído
oSwedishAcademy’sNordicPrize.
revista LER [maio 2009] 55
©UllaMontan
©DavidLevenson/GettyImages
©SinnStaleFelberg
- 3. MarcelMöring
(Holanda,1957)
Éumdosmaisconceituadose
traduzidosautoresholandesesda
actualidade,aoladodeHarryMül-
lischedeCeesNooteboom,apesar
depertenceraoutrageraçãolite-
rária.Estreou-seem1990com
Mendel,masfoicomInBabylon
(1997)queoseunomepassoua
serreconhecidointernacionalmen-
te.Möring,deascendênciajudaica,
publicouesteromance(poralguns
consideradoasuaopusmagnum)
paracumprirumavontadeantiga
deescreverumaHistóriadaEuro-
panoséculoXX.Assim,nessequa-
segenialthrillerliterárioconseguiu
juntarumaépicasagafamiliar,
umromancegóticoeumacrónica
doséculoXX.InBabylonnarraa
históriadeumafamíliaderelojoei-
rosquechegaàHolanda,vindada
zonadefronteiraentreaPolónia
eaLituânia,noséculoXVII.
MarcelMöringescreveumgé-
nerode«romancesdeideias»,em
queahistórianuncasedeixado-
minarpelasreferênciasàlitera-
turaeuropeia,àFilosofiaouàHis-
tória.Váriossãooslivrosdeste
autorholandêsquetentamencon-
trarrespostasparaasquestões
«quemsomos»e«ondeestamos»
semraízes.Outroromancecuja
traduçãoparainglêsacríticaacla-
moufoiTheDarkWood,umaparó-
diaaoInferno,deDante,transfe-
ridoparaumacidadeholandesa
(ouvice-versa).
Merecesertraduzidopeloquetraz
denovasinterrogaçõesàliteratura
europeia,porserumavozmarginal
quesevaiafirmandonaconstela-
çãodasgrandesliteraturas.
DubravkaUgresic
(Croácia,1949)
Éumadasvozesmaisori-
ginaisdaliteraturabalcânica.
Antesdadesagregaçãodaanti-
gaJugosláviaescreviaromances
cómicosearremedospós-mo-
dernistasdehistóriasromân-
ticascomumfinalfeliz.Masveio
aguerraeostemposmudaram:
DubravkaUgresictornou-se
numaautoramais«séria»,pas-
sandoaescreversobretemas
comooexílio,avidadeescritor,
ousobreaimposiçãoarbitrá-
riadefronteirasedeidentida-
des,emregistodeficçãooude
ensaio.
Amestriatécnicaéumadas
suascaracterísticasmaisnota-
das,aoconseguirjuntar,por
exemplo,subtisintertextuali-
dadescomdiálogosassertivos.
Acomplexidadedoseupensa-
mentoéexpressaquasesempre
comumatocantesimplicidade.
Aestruturadosromanceséepi-
sódica,resultantedeumaacu-
mulaçãodepeçasnumaespécie
depatchworknarrativoemcons-
trução.
Éautoradepelomenosdois
livrosbastantetraduzidosealvo
dasatençõesdoscríticos:The
MinistryofPainetambémThe
MuseumofUnconditionalSurren-
der.Oseunomefoirecentemen-
teincluídonashortlistdoMan
BookerInternationalPrize.
Merecesertraduzidopelaorigi-
nalidadedecomoabordatemas
comoaimposiçãodefronteiras
edeidentidades,eporquealite-
raturadaerapós-Jugoslávianãoé
aindasuficientementeconhecida.
GudbergurBergsson
(Islândia,1932)
Éoúnicoautorislandêsquega-
nhoumaisdoqueumavezos
maioresprémiosdaliteraturanór-
dicaeescandinava.Depoisdenos
anos60teridoestudarespanhol
paraBarcelona,porlásefixouehá
poucosanostraduziuoQuijote
paraislandês;éaindaresponsável
pelatraduçãodeautoreslatino-
-americanoscomoGarcíaMárquez
eBorges.(Chegouatraduzirtam-
bém,pelomenos,algunsversos
deAlexandreO’Neill.)Temmaisde
20livrospublicados,entreroman-
ces,novelasecolectâneasdecon-
tos.Parteimportantedasuapro-
duçãoliteráriaestátraduzidapara
castelhanoepublicadaporEdicio-
nesTusquets.
Masfoicomocurtoromance
OCisne(ediçãobrasileiranaRocco)
–pequenaobra-prima,umahistória
implacáveleinquietante–,queoseu
nomesetornouinternacionalmen-
teconhecido.Depoisdissovieramas
traduçõesde,porexemplo,Amor
DuroouLaMagiadelaNiñez,obras
queconfirmamBergssoncomoum
autorpoucodadoacomplacências
eareceiosdeafrontaroleitor.
Merecesertraduzidoporquecon-
tahistóriascomamesmaincle-
mênciadodesapiedadoclimais-
landêseporqueéumdiscípulo
esforçadoetalentosodeHalldór
Láxness.
56 [maio 2009] revista LER
IngoSchulze
(Alemanha,1962)
Éomaisimportanteescritoralemãosurgidonacenaliterá-
riagermânicadepoisdaquedadoMurodeBerlimedareuni-
ficaçãodaAlemanha.Oseuprimeirolivro,de1995,colectânea
decontosintitulada33AugenblickeDesGlucks(33Momentos
deAlegria),recebeudeimediatoasmaisentusiasmadascrí-
ticas(etraduções)eaindatodososgrandesprémiosliterários
desseano.IngoSchulzenasceunaantigaAlemanhaDemo-
crática,emDresden,eviveudurantealgumtempoemSam-
petersburgo.Essesprimeiroscontosforaminspiradosnessa
estadanaRússiapós-perestroika.Trêsanosdepoisestreou-se
noromancecomSimpleStorys–note-sequeotítulo(preten-
samenteeminglês)adoptaamaneiraalemãdefazeroplu-
raldossubstantivosterminadosem«y»,com«ys»,oquesó
porsipodedenunciaroqueaívemsobre«crisedeidentida-
de».Eoqueveioforamhistóriassobreavidanoladolestede-
poisdareunificação.Históriassobrepessoasperdidas,confu-
sasedesoladas,queseestranhamaoentrarnummundoque
nãoconhecemmasqueseesforçamelutamporentender.
Ospersonagensmovem-se,porvezes,comoautênticosaliens.
OestilodeSchulzeélacónico,assemelhando-seumpouco
aodeRaymondCarver,masoquenoautornorte-americano
PerOlovEnquist
(Suécia,1934)
Éomaistraduzidodosromancistassuecoscontemporâ-
neos.Ganhoureputaçãointernacionalnoanode2003aoser-
lheatribuídooIndependentForeignFictionPrizepeloroman-
cedecarizhistóricoTheVisitofTheRoyalPhysician,uma
históriapassadanacortedoreidinamarquêsCristianoVII
comoseumédicopessoal,oalemãoJohannFriedrichStruen-
see.Depoisdesselivro,assuasobrasanteriorescomeçarama
sertraduzidasumpoucoportodaaEuropaeEstadosUnidos.
Originalmenteescritoem1999,foiumaespéciede«segunda
vidaliterária»paraEnquist,queem1991,aquandodapubli-
caçãosuecadeKaptenNemosBibliotek(ABibliotecadoCa-
pitãoNemo),tinhaanunciadoquenãovoltariaaescrever
romances,dedicando-se,apartirdeentão,apenasaoteatro.
PerOlovEnquist(emalgunspaísesapenasconhecidopor
P.O.Enquist)começouapublicarnoiníciodosanos60,per-
tencendoaumageraçãoderomancistasqueprocuravam
umanovaformadeexpressãoliteráriaequecomeçaramaas-
similarasinfluênciasdonouveauroman(ClaudeSimon,Alain
Robbe-Grillet…).Maspassadosdoislivros,Enquist(queera
entãojornalistaeumdosmaioresatletassuecosnosaltoem
altura)adoptaumestiloprópriomuitochegadoaododocu-
- 4. DagSolstad
(Noruega,1941)
Éumdosautoresescandina-
vosmaispremiadosetraduzido
paralínguaseuropeias.Nãoes-
creveparaograndepúblicodos
best-sellers.Assuashistórias,
bemarquitectadas,exigemtem-
poparaaleitura.
Ospersonagensprincipaissão
quasesempreescritores,pro-
fessores,historiadores,todos
solitáriosàprocuradeumsen-
tidoparaavida,vidasaque,na
bemorganizadasociedadees-
candinava,aparentementenada
falta.Oseuestilodeescritaé
secoeporvezesinesperadamen-
teatravessadoporumhumor
cáustico.
Umdosseusúltimoslivros,
ArmandV.,narra-nosahistóriade
umdiplomatanorueguêsaparen-
tementedesucesso.Oromance,
comosubtítuloFootnotestoan
Unexcavatednovel,équasetodo
eleconstruídocomnotasdero-
dapé–anota7,porexemplo,tem
50páginas.Solstadtentarespon-
deràquelesquedizemqueafor-
ma(ouafórmula)doromance
estáesgotada.
OutrotítulodeSolstadque
fazdeleumautorsingularéShy-
nessandDignity,ondeseconta
ahistóriadeumdianavidade
EliasRukla,professordeLitera-
turaqueensinaIbsen,masque
há25anostentaentenderuma
dascenasdapeçaOPatoBravo.
Merecesertraduzidopelasin-
gularidadedoimaginárioedaes-
critaprecisaeclara,porqueaNo-
rueganãosãosófiordesegente
ricaebonita.
ArnostLustig
(RepúblicaCheca,1926)
Éumsobreviventedoscampos
deconcentraçãonaziseumdos
maisimportantesescritoresda
RepúblicaCheca.Em1942,ainda
adolescente,foienviadopara
ocampodeTheresienstadtede-
poisparaAuschwitzedepoisain-
daparaBuchenwald.Em1945
conseguiufugirdeumcomboio
queolevavaparaDachau.Nadé-
cadade60eraumdosmaisfero-
zesopositoresdoregimecomu-
nistacheco,eem1968,depoisda
«PrimaveradePraga»,conseguiu
emigrarparaosEstadosUnidos.
Nosseuslivros(LovelyGreen
EyesouIndecentDreams,entre
outros)exploraaexistênciainte-
riordosquevivemnamargem
doabismo.Nãosãohistórias
deguerra,masantessobreo
conflitoemcadaindivíduoque
temqueresistiràbrutalidade,
àcrueldadeeàobscenidade
donazismo.Osromancesde
ArnostLustigconstroem-se
numaatmosferadensade
tempestadeeminente,
aenergiavai-seacumu-
lando,massónofinal
édescarregadacom
todaaviolência.
Oseunomefoi
recentementein-
cluídonashortlistdo
ManBookerInterna-
tionalPrize.
Merecesertraduzidoporserda
RepúblicaChecadeondequase
sóchegaavoz«afrancesada»de
Kundera,porsabersobreoque
escreveefazê-locomorigina-
lidade.
Merecesertraduzidopelaescritaluminosadeumdos
cultoreseuropeusdonewjournalism,quenãodeixouque
ainspiraçãoseficasseportemasdomésticos,optandopor
momentosdaHistóriaEuropeia.
MerecesertraduzidoporquenaAlemanhahámaisvidalite-
ráriaparaalémdeGünterGrassedo«Grupo47»(Böll,Walser,
EnzensbergereHandke),eporqueSchulzenostrazumavi-
sãodareunificaçãoalemãquenãofoipublicadanosjornais.
éumaespéciede«claridadedepalavraquenãoédita»,em
Schulzeissoésubstituídopelaobscuridadeepelaintangibi-
lidade,transformandoanarrativanuma«comédia».Osepisó-
diossãocortadoscomonumfilme,mesmoquandogangues
depunksedeskinheadstravambatalhaspelasruasdeAlten-
burg.Dozepersonagenssobemaopalcoparadeclamaremas
históriasdassuasvidas,eoresultadoéumimpressionante
romancepicarescopós-moderno.
Depoisdesse,IngoSchulzeescreveumaisalgunsroman-
ces,deentreosquaissedestacam,pelarecepçãodacrítica
edopúblicoeaindapelonúmerodetraduções,NeueLeben
(VidasNovas)eHandy(Telemóvel).
mentáriojornalístico,reconstruindoacontecimentosemque
averdadeestavamuitasvezesinacessíveleemqueosfactos
tinhamumanaturezaambíguaquelhedeixavaespaçopara
aficção.EramostemposdofurordosromancesdeNorman
MaileredeTrumanCapote,nosEstadosUnidos.
Poressaaltura,Enquistinspira-senofamosovoosolitário
deRudolfHessparaInglaterranofinaldaSegundaGuerra
Mundial(Hess,1966)enadeportaçãopelaSuéciadesoldados
dosEstadosbálticosquetinhamlutadoaoladodosalemães
duranteaguerra.Depoisdisso,continuaainspirar-seemfac-
tosdecarizhistórico,deséculospassados,eafazerdelesuma
leituramuitosingular.
revista LER [maio 2009] 57
©UllaMontan
©DR