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EL ARCA DE LOS NÚMEROS
RECREO TENETEHARA CANTADO
INTRODUCCIÓN
Rev. Antropol. vol.46 no.1 São Paulo 2003
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-77012003000100007
RESENHAS
Julio Cezar Melatti
Professor do Departamento de Antropologia – UnB
Pereira Gomes, Mércio. O índio na história. O povo Tenetehara em busca da
liberdade, Petrópolis, Vozes, 2002, 631 pp.
Mércio Pereira Gomes iniciou sua pesquisa sobre os Tenetehara (autodenominação
dos índios conhecidos como Guajajara no Maranhão e Tembé no Pará) em julho de
1975 na aldeia de Bacurizinho, onde permaneceu quatro meses, convivendo
também com a vizinha aldeia Ipu, ambas próximas às cabeceiras do rio Mearim.
Nos dois últimos meses do mesmo ano visitou as aldeias do trecho inferior do rio
Pindaré, as dispostas entre os altos cursos de seus afluentes Buriticupu e Zutiua e
as próximas do ponto em que o rio Corda entra no Mearim. Também gastou duas
semanas a subir o rio Turiaçu, onde conheceu os Guajá e os Ka'apor. Em janeiro do
ano seguinte já estava nos Estados Unidos, onde redigiu sua tese The Ethnic
Survival of the Tenetehara Indians of Maranhão, Brazil, que defendeu em The
University of Florida em 1977, cujas cópias a University Microfilms International, de
Ann Arbor, Michigan, pôs à disposição dos leitores em 1986 (nº 78-6699). A tese
não se fundamenta apenas no trabalho de campo, pois grande parte dela é
dedicada ao exame do desenvolvimento, ao longo do tempo (do século XVII ao XX),
das relações dos Tenetehara com a sociedade que se vem formando a partir da
conquista européia, o que exigiu uma dedicada pesquisa documental. Para tanto
recorre à documentação escrita desde as leis e textos administrativos do período
colonial até os dos arquivos dos postos e da sede do antigo SPI e da Funai, desde
as crônicas de missionários capuchinhos e jesuítas e de naturalistas e outros
viajantes até livros e artigos de antropólogos do século XX. Também se valeu das
anotações de campo de Charles Wagley (orientador da tese) e Eduardo Galvão (que
faleceu um ano antes de sua defesa), autores do clássico Os índios Tenetehara.
Uma cultura em transição (1961, tradução do original em inglês de 1949), baseado
em pesquisa realizada na década de 1940.
Vinte e cinco anos depois, eis que Mércio Gomes publica o livro que aqui se
comenta. Não se trata, porém, da simples tradução de sua tese para o português.
Na verdade o texto é reescrito e, mais que isso, ampliado. Os acréscimos são fruto
de seu retorno, após a defesa da tese, às aldeias tenetehara, tanto às
anteriormente visitadas quanto a outras que ainda não conhecia, quiçá também
quando a caminho das aldeias dos Guajá, povo a que mais recentemente tem
dedicado especial atenção. Incorpora ainda resultados de mais consulta documental
e leitura de recentes trabalhos de outros pesquisadores. Os acréscimos se demoram
especialmente na focalização das atividades de antigos e recentes funcionários dos
sucessivos órgãos indigenistas e no processo de reivindicação, delimitação e
demarcação das terras indígenas.
Para aqueles acostumados à leitura de trabalhos baseados em longa permanência
em uma ou duas aldeias, essa móvel e difusa forma de coleta de dados pode
parecer estranha. Mas ela é sem dúvida adequada para a análise de um processo
multivariado que vem se desenvolvendo por 400 anos e por sobre a vasta extensão
de uns 125 mil km2
.
A orientação metodológica da tese se mantém no livro. Já na versão original ela era
admitidamente inspirada no primado do econômico e se atinha ao exame da infra-
estrutura, justificando-se o autor (na p. 43 de sua tese) com o reconhecimento de
que Charles Wagley e Eduardo Galvão já se haviam ocupado com a super-estrutura
em seu já referido estudo. Não obstante o novo prólogo que inicia o livro, esse
enfoque permanece.
Duas coordenadas se mantêm ao longo do livro, fazendo-lhe o arcabouço. Uma
delas é a periodização temporal em que cada etapa é marcada por um determinado
tipo de relação de produção que fundamenta as relações interétnicas. Assim, os
Tenetehara são sucessivamente escravos, servos, ignorados, clientes, tendendo
recentemente à autonomia. Outra é a distinção de ambientes geográficos, que
oferecem diferentes recursos, facilidades e obstáculos à exploração: a floresta
amazônica, mais úmida, a noroeste; a mata de transição para o cerrado, mais seca,
a sudeste. Essas duas matas não são internamente uniformes e seus rios têm
características distintas: o rio Gurupi é mais rico em copaibeiras, a área onde o
Pindaré e o Mearim se aproximam é mais alagadiça; o alto Pindaré tinha a
navegação dificultada pela erva aquática mururu; o Grajaú, mesmo após as
embarcações a vapor ou diesel, só era vencido por remeiros e vareiros.
A flutuação populacional recebe de Mércio Gomes uma atenção constante. Ele
calcula para cada período ou região o número de habitantes indígenas, seja
fundamentado em documentos, seja em estimativas. O exame desses números é
retomado num capítulo no final do livro, e é com satisfação ver o reaparecimento
da demografia indígena, ainda que 45 anos após os ensaios pioneiros de Darcy
Ribeiro. Surpreende-nos constatar em seu gráfico (p. 521) que a linha que
representa a população tenetehara não desce de uma vez em declive acentuado até
chegar ao ponto zero dos povos extintos, e nem tem o seu declive sustado pouco
antes do zero para retomar uma lenta ascensão, como ocorre com muitos outros,
mas é uma linha quebrada com mais de um ápice e mais de uma depressão, que
revelam períodos favoráveis e desfavoráveis. Wagley e Galvão os estudaram num
período em que saíam de uma dessas depressões, ainda mais acentuada na região
que visitaram; Gomes os conheceu em tamanha ascensão que alcançam hoje um
número talvez maior que no tempo em que foram encontrados pelos primeiros
conquistadores europeus; daí, entre outras razões, os prognósticos desanimadores
daqueles etnólogos e o otimismo deste.
Mércio Gomes põe a primeira etapa de sua periodização no início do século XVII,
quando os Tenetehara viviam na altura do curso médio do rio Pindaré, no trecho
onde desembocam o Caru, o Zutiua e o Buriticupu, em área da floresta pluvial
amazônica, estimados em cerca de 10 mil pessoas. Logo após expulsarem os
franceses do litoral, os portugueses fizeram algumas expedições em busca de
escravos no vale do Pindaré, fazendo decrescer acentuadamente a população
tenetehara.
A partir dos meados do século XVII, os jesuítas, após visitas que chegam ao âmago
do território dos Tenetehara, conseguem convencer uma parte deles a se
estabelecerem em aldeamentos missionários. Estes passam por mais de uma
mudança de local relacionada à disputa da mão-de-obra indígena com o colonos,
firmando-se uma parte no baixo Pindaré no lago Maracu e a outra, de São Francisco
Xavier ou Carará, um pouco mais acima. Nessa época, os indígenas que viviam em
aldeamentos missionários ou naqueles sujeitos à requisição de mão-de-obra pelos
colonos eram nominalmente livres. Mas Gomes tem razão em considerá-los em
regime de servidão, pois o trabalho para jesuítas ou colonos, apesar de
remunerado, aliás muito mal, era compulsório e os índios não tinham nem mesmo
escolha de para quem trabalhar. Os Tenetehara que haviam conseguido se manter
em suas terras é que gozavam de liberdade.
O regime de servidão vai perdurar até meados do século XVIII, quando o governo
de Pombal extingue o poder temporal dos missionários, expulsa os jesuítas, liberta
todos os índios e transforma os aldeamentos maiores em vilas e os menores em
lugares regidos segundo as normas dos núcleos urbanos portugueses. Foi assim
que o aldeamento de Maracu foi transformado na vila de Viana e o de São Francisco
Xavier, no lugar de Monção. Sem apoio dos jesuítas e envolvidos pelos colonos, os
Tenetehara desses aldeamentos irão pouco a pouco definhar como grupo étnico
distinto e se confundirem com a população sertaneja. Em compensação os
Tenetehara que haviam permanecido nos cursos médio e alto do Pindaré e seus
afluentes serão ignorados pelos colonos e irão passar por um período de expansão
e crescimento demográfico. Eles se expandem para oeste e noroeste na direção do
Gurupi e mais além. E também para o sul e sudeste, para a mata seca de transição,
entre a floresta amazônica e o cerrado, nos cursos altos do Pindaré, Buriticupu,
Zutiua, Grajaú e Mearim. A razão de ficarem assim esquecidos é porque a região do
Maranhão que vai se desenvolver economicamente nessa época são os vales do
Itapecuru e do Monim, a leste, com o plantio do arroz e do algodão, feito por
escravos africanos, introduzidos pela Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão,
cuja criação decorre também de uma iniciativa pombalina. A revogação do Diretório
em 1798 e a indefinição da política indigenista que se seguiu, até com medidas
retrógradas, como a permissão de escravização temporária de índios em certas
região do Brasil, parecem não ter chegado a afetar os Tenetehara, que Mércio
Gomes estima terem chegado a somar umas 9 mil pessoas, um ápice que quase
igualava a sua população no início da conquista européia.
Por volta de 1840, as relações entre os Tenetehara e os brancos começam a ganhar
uma nova forma, a de clientes para com patronos. A população sertaneja do baixo
Pindaré começa a crescer; no Gurupi entram regatões em busca do óleo de
copaíba; pelo sul os criadores de gado avançam, conquistando o cerrado aos
Timbira, e chegando à orla da mata de transição. Os Tenetehara estabelecem com
os brancos relações de troca, mantendo-se livres mas considerados por estes como
socialmente inferiores. Tal como estava acontecendo nas diferentes províncias no
reinado de Pedro II, que então se iniciava, as aldeias tenetehara foram postas aos
cuidados de diretorias parciais subordinadas à diretoria geral de índios do
Maranhão, que também recebeu missionários capuchinhos, uma outra medida geral
do Império. Em sistema paralelo ao das diretorias, algumas aldeias foram
agrupadas em colônias indígenas ou se viram incluídas em sua órbita de influência.
A responsabilidade por essas diretorias e colônias coube não raro a missionários
capuchinhos ou membros da elite local. Tanto nas colônias como nas aldeias delas
distantes, os Tenetehara estavam em contato com comerciantes, fazendeiros,
sertanejos pobres e sujeitos a um intenso processo de assimilação. Sua população
em geral, e especialmente em algumas regiões, decresce.
As relações dos Tenetehara com o brancos tomam uma nova direção a partir do
levante de uma parte deles contra a missão capuchinha de Alto Alegre, no alto
Mearim, em 1901. Instalada no último decênio do século XIX, essa missão
mantinha uma orientação obsoleta, mesmo para sua época, apesar de sua
contribuição na instrução escolar e nas artes e ofícios. Mortes de crianças internas
por doenças não debeladas com presteza e a punição de um índio em cárcere
privado, atado por quatro semanas de modo humilhante e penoso, em razão de ter
abandonado por outra a esposa considerada legítima, constituíram o estopim para a
rebelião, para a qual pode ter contribuído também a hostilidade velada de certos
comerciantes e fazendeiros pela competição que a Missão lhes fazia. A morte dos
padres e freiras, de crianças e jovens internados não indígenas, de brancos das
vizinhanças, desencadearam a ação das milícias repressoras, que contaram com a
colaboração dos índios Canelas (Ramkokamekrá). Por cerca de 20 anos atitudes de
desconfiança e desconforto reinaram entre brancos e Tenetehara, sobretudo os da
área em que tinha ocorrido o confronto. Conforme aponta Mércio Gomes, esse
distanciamento contribuiu para pôr um freio no processo de assimilação dos
Tenetehara.
Segue-se a esses acontecimentos a instalação na região do Serviço de Proteção aos
Índios (SPI), criado em 1910. As relações patrono-cliente prosseguem, mas, como
mostra Mércio Gomes, os funcionários do órgão não se comportam exatamente
como um patrão regional, dada a sua orientação ideológica favorável à promoção
social dos índios e porque, servidores públicos que eram, não tomavam o
descumprimento de algumas de suas ordens e exigências como uma ameaça a seus
interesses pessoais. Gomes examina a criação e o funcionamento dos postos um a
um, com uma riqueza de dados proporcional à disponibilidade dos documentos.
Refere-se nominalmente a alguns funcionários, fossem inspetores, encarregados de
postos, professores, enfermeiros, e comenta seu desempenho, perscruta seus
interesses e relações, e avalia sua contribuição. Vale notar que, entre os
funcionários recrutados na região de Barra do Corda, o SPI encontrou pessoas que
trabalharam sinceramente a favor dos Tenetehara, mostrando que os sentimentos
antiindígenas não são unânimes mesmo nas áreas em que suas terras são
altamente cobiçadas. Fazem-se os primeiros ensaios no sentido de identificar e
delimitar as terras tenetehara, sem que se logre conduzir o processo até o final. A
extração do óleo de copaíba no Gurupi decai, a população Tenetehara desse rio e
dos que lhe ficam a oeste, no Pará, decresce, o mesmo acontecendo com a do
baixo Pindaré, dando-se o contrário no alto Grajaú e Mearim.
É no período da Fundação Nacional do Índio, que sucede ao SPI em 1967, que
essas terras serão demarcadas, homologadas e registradas. Funcionários um pouco
mais preparados e sobretudo índios mais ciosos de seus direitos, apesar dos
propósitos assimilacionistas do regime militar, logram garantir essas terras,
malgrado algumas perdas irrecuperáveis devido à falta de visão e incúria de alguns
agentes governamentais do passado. Os vínculos clientelísticos começam a ceder a
novas formas de relacionamento com os brancos, mostrando-se os Tenetehara mais
autônomos. Para isso contribuíram as novas possibilidades econômicas que se
ofereceram aos Tenetehara, como a venda de artefatos à Artíndia, da Funai, ou
diretamente às lojas comerciais e nas paradas rodoviárias; o fornecimento de
maconha, tradicionalmente cultivada para uso próprio, aos consumidores
forasteiros; o trabalho assalariado nos estabelecimentos de empresários agrícolas
que vinham se estabelecer na região oriundos do sul do país; o plantio de arroz
para venda; e o salário de professores bilíngües.
O livro processa e põe à disposição do leitor um enorme número de informações e
indicações bibliográficas e documentais referentes à atuação político-administrativa
daqueles que lidaram com os Tenetehara e índios vizinhos nos diferentes períodos e
regiões, tornando-se uma excelente obra de consulta. Prevendo-se que os leitores,
inclusive os próprios Tenetehara, sempre terão motivos para retornar ao livro,
sente-se a falta de um índice remissivo, aliás providência rara nas edições
brasileiras.
Obviamente, como qualquer obra, é fruto de uma escolha, o que implica explorar
certos aspectos em detrimento de outros. No caso das três unidades de produção –
a família nuclear, a família extensa e a aldeia –, ainda que bem definidas na visão
geral do sistema econômico dos Tenetehara (p. 425-6), não se encontra nenhuma
descrição viva e concreta de suas relações internas. Um ou outro exemplo de
tensão entre as duas primeiras unidades aparecem aqui e ali, ficando a terceira
como que na penumbra. Assim, Gomes admite que a distribuição de ferramentas de
metal pelos jesuítas a indivíduos, como gratificação de serviços ou estímulo por
seguirem o regulamento missionário, teria sido uma das causas do surgimento da
família nuclear como unidade de produção da economia interna (p. 439). Além de
ser uma suposição de difícil constatação empírica, vale notar que, se a família
nuclear ganhou alguma força nos aldeamentos missionários do baixo Pindaré, ela
não teria se transmitido ao sistema familiar dos atuais Tenetehara, pois aqueles se
transformaram em núcleos sertanejos após a expulsão dos jesuítas. Mais amparo
etnográfico tem a constatação de que os ensaios de criação de gado na região
Grajaú-Barra do Corda no terceiro quartel do século XX fizeram crescer a
importância da família nuclear, por implicarem uma atividade que requer pouca
mão-de-obra e que afasta os criadores daqueles que mantêm a agricultura (p. 483-
85). Por sua vez, a afirmação de que os monitores bilíngües da década de 1970
teriam se reforçado como chefes de famílias extensas devido a seu salário,
passando daí a aspirar a cargos de direção nos postos indígenas (p. 506-07) leva-
nos a perguntar: se o monitor recebe salário por serviços que ele presta sem
necessitar do apoio da família extensa, porque ele não redirecionaria seus
rendimentos para a família nuclear? Ou terá ele que distribuí-lo pelos membros da
família extensa para granjear apoio em suas pretensões a cargo público? Mas nesse
caso não terá de recrutar adesões numa unidade ainda maior, a aldeia? O exemplo
mais rico em detalhes é o da breve trajetória de Virgolino como empresário
dedicado à produção e venda de artefatos indígenas, que pôs sua família extensa, e
ainda parentes próximos e distantes, para trabalhar para ele. Sem negociar com a
Artíndia, que atuou entre os Tenetehara no período de 1972 a 1975, vendia
diretamente a lojas e consumidores, mesmo de grandes centros distantes da região
(p. 488-94). Gomes o compara a Camiranga, um chefe de família extensa que se
destacava, no tempo da pesquisa de Wagley e Galvão, como produtor de óleo de
copaíba. Mas vale notar que Camiranga, tal como Virgolino, estava envolvido com
algo mais que a família extensa, pois, segundo esses pesquisadores, ele era
também o chefe da aldeia, que incluía mais três famílias extensas além da sua
(1961, p. 34-5 e p. 40-1).
Na terminologia de parentesco Gomes também vê modificações que atribui a
mudanças de caráter demográfico decorrentes de transformações socioeconômicas.
Ele considera a terminologia atual atípica e incongruente porque, apesar de igualar
todos os primos a irmãos e irmãs, independentemente de serem paralelos ou
cruzados, distingue, na primeira geração ascendente o pai e o irmão do pai,
chamados por um mesmo termo, do tio materno; e a mãe e a irmã da mãe,
também rotuladas por um mesmo termo, da irmã do pai. Baseado nas informações
de um naturalista que passou pelos Tenetehara em 1856, na memória dos velhos
de hoje e na existência de termos descritivos para primos cruzados, Gomes admite
que há uns 150 anos o casamento entre primos cruzados era comum, e a
terminologia de parentesco mais coerente. O quase total abandono do casamento
de primos cruzados, aventa ele, teria sido uma estratégia dos Tenetehara para
forçarem a uniões matrimoniais entre moradores de aldeias distintas, evitando que
se atomizassem como núcleos sem laços entre si num período em que se
expandiam geograficamente (p. 65-68). Aqui vale o reparo de que a terminologia
tenetehara não é tão atípica quanto parece, pois está presente em outros lugares;
o próprio Eduardo Galvão viu o mesmo descompasso terminológico das duas
gerações contíguas entre os índios do alto Xingu, sendo o casamento entre primos
cruzados a minoria dos casos observados, mas por outro lado considerado como a
união ideal, havendo recursos terminológicos para especialmente designá-los e
relações jocosas e evitativas para distingui-los (1978, p. 101-2; volume que
republica artigos desse autor, inclusive ''Cultura e sistema de parentesco das tribos
do alto rio Xingu''). Se na vida social a cada situação não se abrissem inúmeras
alternativas, e se houvessem dados disponíveis para cada período e região em que
vivem ou viveram os Tenetehara, haveria a possibilidade de testar a hipótese de
Gomes, usando o seu rico levantamento demográfico: a cada retração areal ou
populacional deveria ocorrer um aumento dos casamentos de primos cruzados. Mas
vale lembrar que numa situação de retração há pelo menos duas alternativas, a
segunda das quais muitas vezes escolhida nas épocas difíceis do passado: ou voltar
a casar com primos cruzados ou casar com os brancos.
Referências bibliográficas
GALVÃO, E. 1978 Encontro de sociedades. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
WAGLEY, C. & GALVÃO, E. 1961 Os índios Tenetehara. Uma cultura em transição.
Rio de Janeiro, MEC/Serviço de Documentação.
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Commons Attribution License
Revista de Antropologia
Departamento de Antropologia FFLCH/USP
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Tel.: +55 11 3091-2347
Fax: +55 11 3091-3163
revant@edu.usp.br
PRESENTACIÓN DEL PROYECTO
“El arca de los números”
Recreo Tenetehara
Cantado
¿Qué protegemos en el arca? El proyecto El arca
de los números se lanza al rescate de cualquier lengua
extinta o en vías de extinción para tratar de preservarla
e inculcarla en los más pequeños.
¿Cómo contaban nuestros antepasados? En
nuestro arca queremos acoger a todos los números de
nuestros antepasados mediante el canto de los niños en
el recreo. Con el Recreo Tenetehara pretendemos que
algo tan sencillo y tan necesario para un niño como es
saber contar no sólo no se pierda, sino que se amplíe al
compararse con los hablantes originarios de su lengua.
¿Cómo rescatamos? A través de un canto común
para todas las lenguas y guiados por el personaje del
profesor, conocedor de mil de ellas, cantaremos y
contaremos hasta cien.
Un niño, navegando por internet, encuentra unos
aborígenes de su tierra que le enseñan a contar tal y
como ellos lo hacían miles de años atrás.
¿Qué objetivos perseguimos?
1. Aprendizaje e integración a través del juego
Los textos de los Recreos tienen como objetivo el aprendizaje y la
integración cultural a través del juego, de modo que así, cantando y
contando, los niños aprenden juntos de forma colectiva los números del
uno al cien, en un ejercicio de bilingüismo lengua Tenetehara/español, a
la vez que distintos personajes de la obra los van introduciendo en
diferentes aspectos de la historia, el presente y el futuro, que discurren
a lo largo de la misma.
2. Rescate y valoración de la lengua Tenetehara
La educación desde la infancia, en el reconocimiento de los
propios orígenes y la valoración de los mismos como un
patrimonio cultural único e intransferible, genera un gran aporte
cultural a los valores de la propia identidad, principios sumamente
necesarios dentro del contexto cada vez más globalizado del
desarrollo social del siglo XXI. Identidad e integración social son las
claves del futuro de las nuevas generaciones.
3. Identidad y educación en las nuevas tecnologías
En esta creación artística, la música y los textos nos enseñan que
el concepto de identidad no se contrapone a los avances
tecnológicos, sino que son precisamente estos nuevos medios en
los que hay que capacitarse y desarrollarse, ya que son el presente
y el futuro de nuestra sociedad globalizada.
Plasmando el proyecto El Recreo Tenetehara es abarcable
desde diversos ámbitos, siempre con las prioridades educativas y
preservadoras iniciales.
A. PROPUESTA PEDAGÓGICA PARA COLEGIOS. PATROCINIO
Uno de los principales objetivos es que se lleve a cabo como producción
discográfica y/o visual, y que ésta cuente con el apoyo de alguna
personalidad de renombre en el ámbito musical Brasileño. Se
presentaría como una propuesta pedagógica idónea en los colegios de
su Provincia para su admisión en el sistema de estudios.
B. REPRESENTACIÓN
Una vez establecido ese formato físico, la representación del mismo en
forma de espectáculo en directo en escuelas e Intendencias, con música
y bailes.
C. ENCUENTRO DE COMUNIDADES PARA EL RESCATE
Fomentar el encuentro entre asociaciones, coros y demás comunidades
no necesariamente ligadas al ámbito educativo para la promulgación de
la obra y el rescate del Tenetehara en particular.
Bagaje y reconocimientos
Tacún Lazarte, músico y compositor del proyecto de El Arca de los
números .
El pasado año se llevó a cabo el Recreo Mapuche en Argentina, en donde
se rescató la lengua indígena desaparecida en la Provincia de Buenos
Aires. El proyecto fue respaldado por figuras como Víctor Heredia,
Chany Suarez, Rafael Amor y ha sido declarado de “interés
educativo”por la Dirección General de Cultura y Educación de la
Provincia de Buenos Aires.Resolución Nº 1.569 DEL 23/07/2011.
Recreo Ona-Sellk nam
SOÑÉ SER UN NAVEGANTE, INTERNET NO TIENE ORILLAS
UNA ”COMPU” COMO QUILLA Y UN RATÓN COMO ALMIRANTE
SURCANDO TODOS LOS MARES BUSQUÉ GENTE LUEGO RISAS
Y DESCUBRÍ MARAVILLAS DE OTROS NIÑOS NAVEGANTES
ME RECIBIERON NATIVOS QUE RESCATABAN SU LENGUA
LOS ONAS LOS DE MI TIERRA DEJAN TESOROS PERDIDOS
A CONTRAMANO DEL SIGLO QUIEREN SALDAR ESTA DEUDA
LUCHAN JUGANDO A LA CUENTA HASTA VEINTE CUENTAN CONMIGO.
Maestro 1 sos Niños repiten
2 soki
3 sauke
4 soki ne
5 kismarei
6 kari sauce
7 kach sauce
8 konisoki
9 kauken kismarei
10 karai kismarei
11 karai kismarei sos
12 karai kismarei soki
13 karai kismarei sauke
14 karai kismarei soki-ne
15 karai kismarei kismarei
16 karai kismarei kari sauce
17 karai kismarei kach sauce
18 karai kismarei konisoki
19 karai kismarei kauken kismarei
20 soki kismarei
ADIOS NIÑOS ME DESPIDO DEJO UN SALUDO EN TU LENGUAQUE MAÑANA
TENGO ESCUELA SOY UN NAVEGANTE NIÑO
CUANDO ME QUEDE DORMIDO VIGILAD QUE NO SE PIERDA
LUCHAR JUGANDO A LA CUENTA HASTA VEINTE CUENTEN CONMIGO
Equipo artístico
Tacún Lazarte, músico y compositor, creador del proyecto y
responsable de las letras y la música.
Jairo Martín, filólogo inglés y español, músico, responsable de
la investigación filológica de las lenguas aborígenes.
Raúl Giberti, musicólogo.
Músicos;Mauricio Godoy
Quique Ferrari

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Proyecto tenetehara

  • 1. EL ARCA DE LOS NÚMEROS RECREO TENETEHARA CANTADO INTRODUCCIÓN Rev. Antropol. vol.46 no.1 São Paulo 2003
  • 2. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-77012003000100007 RESENHAS Julio Cezar Melatti Professor do Departamento de Antropologia – UnB Pereira Gomes, Mércio. O índio na história. O povo Tenetehara em busca da liberdade, Petrópolis, Vozes, 2002, 631 pp. Mércio Pereira Gomes iniciou sua pesquisa sobre os Tenetehara (autodenominação dos índios conhecidos como Guajajara no Maranhão e Tembé no Pará) em julho de 1975 na aldeia de Bacurizinho, onde permaneceu quatro meses, convivendo também com a vizinha aldeia Ipu, ambas próximas às cabeceiras do rio Mearim. Nos dois últimos meses do mesmo ano visitou as aldeias do trecho inferior do rio Pindaré, as dispostas entre os altos cursos de seus afluentes Buriticupu e Zutiua e as próximas do ponto em que o rio Corda entra no Mearim. Também gastou duas semanas a subir o rio Turiaçu, onde conheceu os Guajá e os Ka'apor. Em janeiro do ano seguinte já estava nos Estados Unidos, onde redigiu sua tese The Ethnic Survival of the Tenetehara Indians of Maranhão, Brazil, que defendeu em The University of Florida em 1977, cujas cópias a University Microfilms International, de Ann Arbor, Michigan, pôs à disposição dos leitores em 1986 (nº 78-6699). A tese não se fundamenta apenas no trabalho de campo, pois grande parte dela é dedicada ao exame do desenvolvimento, ao longo do tempo (do século XVII ao XX), das relações dos Tenetehara com a sociedade que se vem formando a partir da conquista européia, o que exigiu uma dedicada pesquisa documental. Para tanto recorre à documentação escrita desde as leis e textos administrativos do período colonial até os dos arquivos dos postos e da sede do antigo SPI e da Funai, desde as crônicas de missionários capuchinhos e jesuítas e de naturalistas e outros viajantes até livros e artigos de antropólogos do século XX. Também se valeu das anotações de campo de Charles Wagley (orientador da tese) e Eduardo Galvão (que faleceu um ano antes de sua defesa), autores do clássico Os índios Tenetehara. Uma cultura em transição (1961, tradução do original em inglês de 1949), baseado em pesquisa realizada na década de 1940. Vinte e cinco anos depois, eis que Mércio Gomes publica o livro que aqui se comenta. Não se trata, porém, da simples tradução de sua tese para o português. Na verdade o texto é reescrito e, mais que isso, ampliado. Os acréscimos são fruto de seu retorno, após a defesa da tese, às aldeias tenetehara, tanto às anteriormente visitadas quanto a outras que ainda não conhecia, quiçá também quando a caminho das aldeias dos Guajá, povo a que mais recentemente tem dedicado especial atenção. Incorpora ainda resultados de mais consulta documental e leitura de recentes trabalhos de outros pesquisadores. Os acréscimos se demoram especialmente na focalização das atividades de antigos e recentes funcionários dos sucessivos órgãos indigenistas e no processo de reivindicação, delimitação e demarcação das terras indígenas. Para aqueles acostumados à leitura de trabalhos baseados em longa permanência em uma ou duas aldeias, essa móvel e difusa forma de coleta de dados pode
  • 3. parecer estranha. Mas ela é sem dúvida adequada para a análise de um processo multivariado que vem se desenvolvendo por 400 anos e por sobre a vasta extensão de uns 125 mil km2 . A orientação metodológica da tese se mantém no livro. Já na versão original ela era admitidamente inspirada no primado do econômico e se atinha ao exame da infra- estrutura, justificando-se o autor (na p. 43 de sua tese) com o reconhecimento de que Charles Wagley e Eduardo Galvão já se haviam ocupado com a super-estrutura em seu já referido estudo. Não obstante o novo prólogo que inicia o livro, esse enfoque permanece. Duas coordenadas se mantêm ao longo do livro, fazendo-lhe o arcabouço. Uma delas é a periodização temporal em que cada etapa é marcada por um determinado tipo de relação de produção que fundamenta as relações interétnicas. Assim, os Tenetehara são sucessivamente escravos, servos, ignorados, clientes, tendendo recentemente à autonomia. Outra é a distinção de ambientes geográficos, que oferecem diferentes recursos, facilidades e obstáculos à exploração: a floresta amazônica, mais úmida, a noroeste; a mata de transição para o cerrado, mais seca, a sudeste. Essas duas matas não são internamente uniformes e seus rios têm características distintas: o rio Gurupi é mais rico em copaibeiras, a área onde o Pindaré e o Mearim se aproximam é mais alagadiça; o alto Pindaré tinha a navegação dificultada pela erva aquática mururu; o Grajaú, mesmo após as embarcações a vapor ou diesel, só era vencido por remeiros e vareiros. A flutuação populacional recebe de Mércio Gomes uma atenção constante. Ele calcula para cada período ou região o número de habitantes indígenas, seja fundamentado em documentos, seja em estimativas. O exame desses números é retomado num capítulo no final do livro, e é com satisfação ver o reaparecimento da demografia indígena, ainda que 45 anos após os ensaios pioneiros de Darcy Ribeiro. Surpreende-nos constatar em seu gráfico (p. 521) que a linha que representa a população tenetehara não desce de uma vez em declive acentuado até chegar ao ponto zero dos povos extintos, e nem tem o seu declive sustado pouco antes do zero para retomar uma lenta ascensão, como ocorre com muitos outros, mas é uma linha quebrada com mais de um ápice e mais de uma depressão, que revelam períodos favoráveis e desfavoráveis. Wagley e Galvão os estudaram num período em que saíam de uma dessas depressões, ainda mais acentuada na região que visitaram; Gomes os conheceu em tamanha ascensão que alcançam hoje um número talvez maior que no tempo em que foram encontrados pelos primeiros conquistadores europeus; daí, entre outras razões, os prognósticos desanimadores daqueles etnólogos e o otimismo deste. Mércio Gomes põe a primeira etapa de sua periodização no início do século XVII, quando os Tenetehara viviam na altura do curso médio do rio Pindaré, no trecho onde desembocam o Caru, o Zutiua e o Buriticupu, em área da floresta pluvial amazônica, estimados em cerca de 10 mil pessoas. Logo após expulsarem os franceses do litoral, os portugueses fizeram algumas expedições em busca de escravos no vale do Pindaré, fazendo decrescer acentuadamente a população tenetehara. A partir dos meados do século XVII, os jesuítas, após visitas que chegam ao âmago do território dos Tenetehara, conseguem convencer uma parte deles a se estabelecerem em aldeamentos missionários. Estes passam por mais de uma mudança de local relacionada à disputa da mão-de-obra indígena com o colonos, firmando-se uma parte no baixo Pindaré no lago Maracu e a outra, de São Francisco Xavier ou Carará, um pouco mais acima. Nessa época, os indígenas que viviam em aldeamentos missionários ou naqueles sujeitos à requisição de mão-de-obra pelos
  • 4. colonos eram nominalmente livres. Mas Gomes tem razão em considerá-los em regime de servidão, pois o trabalho para jesuítas ou colonos, apesar de remunerado, aliás muito mal, era compulsório e os índios não tinham nem mesmo escolha de para quem trabalhar. Os Tenetehara que haviam conseguido se manter em suas terras é que gozavam de liberdade. O regime de servidão vai perdurar até meados do século XVIII, quando o governo de Pombal extingue o poder temporal dos missionários, expulsa os jesuítas, liberta todos os índios e transforma os aldeamentos maiores em vilas e os menores em lugares regidos segundo as normas dos núcleos urbanos portugueses. Foi assim que o aldeamento de Maracu foi transformado na vila de Viana e o de São Francisco Xavier, no lugar de Monção. Sem apoio dos jesuítas e envolvidos pelos colonos, os Tenetehara desses aldeamentos irão pouco a pouco definhar como grupo étnico distinto e se confundirem com a população sertaneja. Em compensação os Tenetehara que haviam permanecido nos cursos médio e alto do Pindaré e seus afluentes serão ignorados pelos colonos e irão passar por um período de expansão e crescimento demográfico. Eles se expandem para oeste e noroeste na direção do Gurupi e mais além. E também para o sul e sudeste, para a mata seca de transição, entre a floresta amazônica e o cerrado, nos cursos altos do Pindaré, Buriticupu, Zutiua, Grajaú e Mearim. A razão de ficarem assim esquecidos é porque a região do Maranhão que vai se desenvolver economicamente nessa época são os vales do Itapecuru e do Monim, a leste, com o plantio do arroz e do algodão, feito por escravos africanos, introduzidos pela Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, cuja criação decorre também de uma iniciativa pombalina. A revogação do Diretório em 1798 e a indefinição da política indigenista que se seguiu, até com medidas retrógradas, como a permissão de escravização temporária de índios em certas região do Brasil, parecem não ter chegado a afetar os Tenetehara, que Mércio Gomes estima terem chegado a somar umas 9 mil pessoas, um ápice que quase igualava a sua população no início da conquista européia. Por volta de 1840, as relações entre os Tenetehara e os brancos começam a ganhar uma nova forma, a de clientes para com patronos. A população sertaneja do baixo Pindaré começa a crescer; no Gurupi entram regatões em busca do óleo de copaíba; pelo sul os criadores de gado avançam, conquistando o cerrado aos Timbira, e chegando à orla da mata de transição. Os Tenetehara estabelecem com os brancos relações de troca, mantendo-se livres mas considerados por estes como socialmente inferiores. Tal como estava acontecendo nas diferentes províncias no reinado de Pedro II, que então se iniciava, as aldeias tenetehara foram postas aos cuidados de diretorias parciais subordinadas à diretoria geral de índios do Maranhão, que também recebeu missionários capuchinhos, uma outra medida geral do Império. Em sistema paralelo ao das diretorias, algumas aldeias foram agrupadas em colônias indígenas ou se viram incluídas em sua órbita de influência. A responsabilidade por essas diretorias e colônias coube não raro a missionários capuchinhos ou membros da elite local. Tanto nas colônias como nas aldeias delas distantes, os Tenetehara estavam em contato com comerciantes, fazendeiros, sertanejos pobres e sujeitos a um intenso processo de assimilação. Sua população em geral, e especialmente em algumas regiões, decresce. As relações dos Tenetehara com o brancos tomam uma nova direção a partir do levante de uma parte deles contra a missão capuchinha de Alto Alegre, no alto Mearim, em 1901. Instalada no último decênio do século XIX, essa missão mantinha uma orientação obsoleta, mesmo para sua época, apesar de sua contribuição na instrução escolar e nas artes e ofícios. Mortes de crianças internas por doenças não debeladas com presteza e a punição de um índio em cárcere privado, atado por quatro semanas de modo humilhante e penoso, em razão de ter abandonado por outra a esposa considerada legítima, constituíram o estopim para a rebelião, para a qual pode ter contribuído também a hostilidade velada de certos
  • 5. comerciantes e fazendeiros pela competição que a Missão lhes fazia. A morte dos padres e freiras, de crianças e jovens internados não indígenas, de brancos das vizinhanças, desencadearam a ação das milícias repressoras, que contaram com a colaboração dos índios Canelas (Ramkokamekrá). Por cerca de 20 anos atitudes de desconfiança e desconforto reinaram entre brancos e Tenetehara, sobretudo os da área em que tinha ocorrido o confronto. Conforme aponta Mércio Gomes, esse distanciamento contribuiu para pôr um freio no processo de assimilação dos Tenetehara. Segue-se a esses acontecimentos a instalação na região do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), criado em 1910. As relações patrono-cliente prosseguem, mas, como mostra Mércio Gomes, os funcionários do órgão não se comportam exatamente como um patrão regional, dada a sua orientação ideológica favorável à promoção social dos índios e porque, servidores públicos que eram, não tomavam o descumprimento de algumas de suas ordens e exigências como uma ameaça a seus interesses pessoais. Gomes examina a criação e o funcionamento dos postos um a um, com uma riqueza de dados proporcional à disponibilidade dos documentos. Refere-se nominalmente a alguns funcionários, fossem inspetores, encarregados de postos, professores, enfermeiros, e comenta seu desempenho, perscruta seus interesses e relações, e avalia sua contribuição. Vale notar que, entre os funcionários recrutados na região de Barra do Corda, o SPI encontrou pessoas que trabalharam sinceramente a favor dos Tenetehara, mostrando que os sentimentos antiindígenas não são unânimes mesmo nas áreas em que suas terras são altamente cobiçadas. Fazem-se os primeiros ensaios no sentido de identificar e delimitar as terras tenetehara, sem que se logre conduzir o processo até o final. A extração do óleo de copaíba no Gurupi decai, a população Tenetehara desse rio e dos que lhe ficam a oeste, no Pará, decresce, o mesmo acontecendo com a do baixo Pindaré, dando-se o contrário no alto Grajaú e Mearim. É no período da Fundação Nacional do Índio, que sucede ao SPI em 1967, que essas terras serão demarcadas, homologadas e registradas. Funcionários um pouco mais preparados e sobretudo índios mais ciosos de seus direitos, apesar dos propósitos assimilacionistas do regime militar, logram garantir essas terras, malgrado algumas perdas irrecuperáveis devido à falta de visão e incúria de alguns agentes governamentais do passado. Os vínculos clientelísticos começam a ceder a novas formas de relacionamento com os brancos, mostrando-se os Tenetehara mais autônomos. Para isso contribuíram as novas possibilidades econômicas que se ofereceram aos Tenetehara, como a venda de artefatos à Artíndia, da Funai, ou diretamente às lojas comerciais e nas paradas rodoviárias; o fornecimento de maconha, tradicionalmente cultivada para uso próprio, aos consumidores forasteiros; o trabalho assalariado nos estabelecimentos de empresários agrícolas que vinham se estabelecer na região oriundos do sul do país; o plantio de arroz para venda; e o salário de professores bilíngües. O livro processa e põe à disposição do leitor um enorme número de informações e indicações bibliográficas e documentais referentes à atuação político-administrativa daqueles que lidaram com os Tenetehara e índios vizinhos nos diferentes períodos e regiões, tornando-se uma excelente obra de consulta. Prevendo-se que os leitores, inclusive os próprios Tenetehara, sempre terão motivos para retornar ao livro, sente-se a falta de um índice remissivo, aliás providência rara nas edições brasileiras. Obviamente, como qualquer obra, é fruto de uma escolha, o que implica explorar certos aspectos em detrimento de outros. No caso das três unidades de produção – a família nuclear, a família extensa e a aldeia –, ainda que bem definidas na visão geral do sistema econômico dos Tenetehara (p. 425-6), não se encontra nenhuma descrição viva e concreta de suas relações internas. Um ou outro exemplo de
  • 6. tensão entre as duas primeiras unidades aparecem aqui e ali, ficando a terceira como que na penumbra. Assim, Gomes admite que a distribuição de ferramentas de metal pelos jesuítas a indivíduos, como gratificação de serviços ou estímulo por seguirem o regulamento missionário, teria sido uma das causas do surgimento da família nuclear como unidade de produção da economia interna (p. 439). Além de ser uma suposição de difícil constatação empírica, vale notar que, se a família nuclear ganhou alguma força nos aldeamentos missionários do baixo Pindaré, ela não teria se transmitido ao sistema familiar dos atuais Tenetehara, pois aqueles se transformaram em núcleos sertanejos após a expulsão dos jesuítas. Mais amparo etnográfico tem a constatação de que os ensaios de criação de gado na região Grajaú-Barra do Corda no terceiro quartel do século XX fizeram crescer a importância da família nuclear, por implicarem uma atividade que requer pouca mão-de-obra e que afasta os criadores daqueles que mantêm a agricultura (p. 483- 85). Por sua vez, a afirmação de que os monitores bilíngües da década de 1970 teriam se reforçado como chefes de famílias extensas devido a seu salário, passando daí a aspirar a cargos de direção nos postos indígenas (p. 506-07) leva- nos a perguntar: se o monitor recebe salário por serviços que ele presta sem necessitar do apoio da família extensa, porque ele não redirecionaria seus rendimentos para a família nuclear? Ou terá ele que distribuí-lo pelos membros da família extensa para granjear apoio em suas pretensões a cargo público? Mas nesse caso não terá de recrutar adesões numa unidade ainda maior, a aldeia? O exemplo mais rico em detalhes é o da breve trajetória de Virgolino como empresário dedicado à produção e venda de artefatos indígenas, que pôs sua família extensa, e ainda parentes próximos e distantes, para trabalhar para ele. Sem negociar com a Artíndia, que atuou entre os Tenetehara no período de 1972 a 1975, vendia diretamente a lojas e consumidores, mesmo de grandes centros distantes da região (p. 488-94). Gomes o compara a Camiranga, um chefe de família extensa que se destacava, no tempo da pesquisa de Wagley e Galvão, como produtor de óleo de copaíba. Mas vale notar que Camiranga, tal como Virgolino, estava envolvido com algo mais que a família extensa, pois, segundo esses pesquisadores, ele era também o chefe da aldeia, que incluía mais três famílias extensas além da sua (1961, p. 34-5 e p. 40-1). Na terminologia de parentesco Gomes também vê modificações que atribui a mudanças de caráter demográfico decorrentes de transformações socioeconômicas. Ele considera a terminologia atual atípica e incongruente porque, apesar de igualar todos os primos a irmãos e irmãs, independentemente de serem paralelos ou cruzados, distingue, na primeira geração ascendente o pai e o irmão do pai, chamados por um mesmo termo, do tio materno; e a mãe e a irmã da mãe, também rotuladas por um mesmo termo, da irmã do pai. Baseado nas informações de um naturalista que passou pelos Tenetehara em 1856, na memória dos velhos de hoje e na existência de termos descritivos para primos cruzados, Gomes admite que há uns 150 anos o casamento entre primos cruzados era comum, e a terminologia de parentesco mais coerente. O quase total abandono do casamento de primos cruzados, aventa ele, teria sido uma estratégia dos Tenetehara para forçarem a uniões matrimoniais entre moradores de aldeias distintas, evitando que se atomizassem como núcleos sem laços entre si num período em que se expandiam geograficamente (p. 65-68). Aqui vale o reparo de que a terminologia tenetehara não é tão atípica quanto parece, pois está presente em outros lugares; o próprio Eduardo Galvão viu o mesmo descompasso terminológico das duas gerações contíguas entre os índios do alto Xingu, sendo o casamento entre primos cruzados a minoria dos casos observados, mas por outro lado considerado como a união ideal, havendo recursos terminológicos para especialmente designá-los e relações jocosas e evitativas para distingui-los (1978, p. 101-2; volume que republica artigos desse autor, inclusive ''Cultura e sistema de parentesco das tribos do alto rio Xingu''). Se na vida social a cada situação não se abrissem inúmeras alternativas, e se houvessem dados disponíveis para cada período e região em que
  • 7. vivem ou viveram os Tenetehara, haveria a possibilidade de testar a hipótese de Gomes, usando o seu rico levantamento demográfico: a cada retração areal ou populacional deveria ocorrer um aumento dos casamentos de primos cruzados. Mas vale lembrar que numa situação de retração há pelo menos duas alternativas, a segunda das quais muitas vezes escolhida nas épocas difíceis do passado: ou voltar a casar com primos cruzados ou casar com os brancos. Referências bibliográficas GALVÃO, E. 1978 Encontro de sociedades. Rio de Janeiro, Paz e Terra. WAGLEY, C. & GALVÃO, E. 1961 Os índios Tenetehara. Uma cultura em transição. Rio de Janeiro, MEC/Serviço de Documentação. All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License Revista de Antropologia Departamento de Antropologia FFLCH/USP Av. Professor Luciano Gualberto 315 Cidade Universitária 05508-900 São Paulo SP Brazil Tel.: +55 11 3091-2347 Fax: +55 11 3091-3163 revant@edu.usp.br
  • 8. PRESENTACIÓN DEL PROYECTO “El arca de los números” Recreo Tenetehara Cantado ¿Qué protegemos en el arca? El proyecto El arca de los números se lanza al rescate de cualquier lengua extinta o en vías de extinción para tratar de preservarla e inculcarla en los más pequeños. ¿Cómo contaban nuestros antepasados? En nuestro arca queremos acoger a todos los números de nuestros antepasados mediante el canto de los niños en el recreo. Con el Recreo Tenetehara pretendemos que algo tan sencillo y tan necesario para un niño como es saber contar no sólo no se pierda, sino que se amplíe al compararse con los hablantes originarios de su lengua. ¿Cómo rescatamos? A través de un canto común para todas las lenguas y guiados por el personaje del profesor, conocedor de mil de ellas, cantaremos y contaremos hasta cien.
  • 9. Un niño, navegando por internet, encuentra unos aborígenes de su tierra que le enseñan a contar tal y como ellos lo hacían miles de años atrás. ¿Qué objetivos perseguimos? 1. Aprendizaje e integración a través del juego Los textos de los Recreos tienen como objetivo el aprendizaje y la integración cultural a través del juego, de modo que así, cantando y contando, los niños aprenden juntos de forma colectiva los números del uno al cien, en un ejercicio de bilingüismo lengua Tenetehara/español, a la vez que distintos personajes de la obra los van introduciendo en diferentes aspectos de la historia, el presente y el futuro, que discurren a lo largo de la misma. 2. Rescate y valoración de la lengua Tenetehara La educación desde la infancia, en el reconocimiento de los propios orígenes y la valoración de los mismos como un patrimonio cultural único e intransferible, genera un gran aporte cultural a los valores de la propia identidad, principios sumamente necesarios dentro del contexto cada vez más globalizado del desarrollo social del siglo XXI. Identidad e integración social son las claves del futuro de las nuevas generaciones. 3. Identidad y educación en las nuevas tecnologías En esta creación artística, la música y los textos nos enseñan que el concepto de identidad no se contrapone a los avances tecnológicos, sino que son precisamente estos nuevos medios en los que hay que capacitarse y desarrollarse, ya que son el presente y el futuro de nuestra sociedad globalizada.
  • 10. Plasmando el proyecto El Recreo Tenetehara es abarcable desde diversos ámbitos, siempre con las prioridades educativas y preservadoras iniciales. A. PROPUESTA PEDAGÓGICA PARA COLEGIOS. PATROCINIO Uno de los principales objetivos es que se lleve a cabo como producción discográfica y/o visual, y que ésta cuente con el apoyo de alguna personalidad de renombre en el ámbito musical Brasileño. Se presentaría como una propuesta pedagógica idónea en los colegios de su Provincia para su admisión en el sistema de estudios. B. REPRESENTACIÓN Una vez establecido ese formato físico, la representación del mismo en forma de espectáculo en directo en escuelas e Intendencias, con música y bailes. C. ENCUENTRO DE COMUNIDADES PARA EL RESCATE Fomentar el encuentro entre asociaciones, coros y demás comunidades no necesariamente ligadas al ámbito educativo para la promulgación de la obra y el rescate del Tenetehara en particular. Bagaje y reconocimientos Tacún Lazarte, músico y compositor del proyecto de El Arca de los números . El pasado año se llevó a cabo el Recreo Mapuche en Argentina, en donde se rescató la lengua indígena desaparecida en la Provincia de Buenos Aires. El proyecto fue respaldado por figuras como Víctor Heredia, Chany Suarez, Rafael Amor y ha sido declarado de “interés
  • 11. educativo”por la Dirección General de Cultura y Educación de la Provincia de Buenos Aires.Resolución Nº 1.569 DEL 23/07/2011. Recreo Ona-Sellk nam SOÑÉ SER UN NAVEGANTE, INTERNET NO TIENE ORILLAS UNA ”COMPU” COMO QUILLA Y UN RATÓN COMO ALMIRANTE SURCANDO TODOS LOS MARES BUSQUÉ GENTE LUEGO RISAS Y DESCUBRÍ MARAVILLAS DE OTROS NIÑOS NAVEGANTES ME RECIBIERON NATIVOS QUE RESCATABAN SU LENGUA LOS ONAS LOS DE MI TIERRA DEJAN TESOROS PERDIDOS A CONTRAMANO DEL SIGLO QUIEREN SALDAR ESTA DEUDA LUCHAN JUGANDO A LA CUENTA HASTA VEINTE CUENTAN CONMIGO. Maestro 1 sos Niños repiten 2 soki 3 sauke 4 soki ne 5 kismarei 6 kari sauce 7 kach sauce 8 konisoki 9 kauken kismarei 10 karai kismarei 11 karai kismarei sos 12 karai kismarei soki 13 karai kismarei sauke 14 karai kismarei soki-ne 15 karai kismarei kismarei 16 karai kismarei kari sauce
  • 12. 17 karai kismarei kach sauce 18 karai kismarei konisoki 19 karai kismarei kauken kismarei 20 soki kismarei ADIOS NIÑOS ME DESPIDO DEJO UN SALUDO EN TU LENGUAQUE MAÑANA TENGO ESCUELA SOY UN NAVEGANTE NIÑO CUANDO ME QUEDE DORMIDO VIGILAD QUE NO SE PIERDA LUCHAR JUGANDO A LA CUENTA HASTA VEINTE CUENTEN CONMIGO Equipo artístico Tacún Lazarte, músico y compositor, creador del proyecto y responsable de las letras y la música. Jairo Martín, filólogo inglés y español, músico, responsable de la investigación filológica de las lenguas aborígenes. Raúl Giberti, musicólogo. Músicos;Mauricio Godoy