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AS IDEIAS SÃO COMO BEBÉS




  Precisam de um obstetra
  quando estão para nascer.
NASCEM DE UM CASAL




do copy
                     e do director de arte



O director de arte deixa uma semente no copy (ou vice-versa)
- LOREM IPSUM.
- SUPER.




  A dupla discute
  e da discussão aparece um embrião.
FECUNDOU? DEIXA VER.


    A ideia começa a tomar forma.

    Com uma frase ou um visual, a dupla aponta
    várias ideias num papel.

    Quando a ideia tem cabeça, tronco e
    membros, chega o momento de mostrar ao
    director criativo.
A PRIMEIRA
ECOGRAFIA




     A dupla mostra esboços de várias ideias.

     O director criativo vê qual delas tem
     pernas para andar.
SÃO GÉMEOS!




Às vezes, o director criativo vê mais que uma ideia na ecografia.
É preciso alimentá-las para ver qual fica mais forte.
SOCORRO!



Outras vezes, o director criativo vê
genes de campeão num embrião enfezado.

Com alguma reabilitação,
ideias que pareciam acanhadas
transformam-se em ideias fortes.
A GRAVIDEZ
HISTÉRICA
Pode acontecer que a ecografia não
mostre nada.

Em vez de ideias,
a dupla ainda só tem intenções.




É preciso continuar
a pensar para procriar.
É UMA MENINA!
Mas o mais comum é os embriões saírem da ecografia
              já em forma de ideia.

  Com cabeça, braços e pernas (e algum músculo).
NÃO ATIREM PEDRAS AO
BEBÉ
O tempo é curto
na maternidade da publicidade.

Por isso, as ideias são
mostradas aos accounts
e aos planners como vêm ao
mundo:

nuas, pequenitas, sujas
e engelhadas.
ACREDITEM. VAI PARAR O
Quando apresenta as ideias dentro da agência, o director criativo defende os
TRÂNSITO. das pedradas, faz um quadro clínico optimista
bebés como seus. Protege-os
e mostra a todos o potencial da ideia.
AS VACINAS
   Mas dentro da agência, nem todas as
   pedras que atiram às ideias são para
   matar. Algumas são veneno útil
   que reforça o sistema imunitário.




No meio das pedras, se o director criativo
vê uma vacina, deixa-a passar.
O bebé apanha-a e mastiga-a,
cresce e fica mais forte.
AS IDEIAS PRECISAM DE MIMOS
         Depois de aprovada por todos na agência,
         a ideia é penteada e perfumada,
         dá os primeiros passos e começa
         a fazer gracinhas.
                                            Aparecem
                                            as primeiras
                                            maquetes.

                                            Accounts
                                            embevecidos
                                            olham para os
                                            layouts e soltam
                                            gargalhadas
                                            quando os pais da
                                            ideia lhes contam o
                                            filme.
O director de arte escolhe a roupa da ideia
                  e faz-lhe um layout. O copy dá-lhe voz e um
                  tom, escreve-lhe graças e dá-lhe espírito.



                        O director criativo
                        agora é o pediatra,
                        orienta as escolhas
                        da criação.
                                               Quando chega
                                               ao percentil certo,
                                               a ideia está pronta
                                               para sair da
                                               maternidade.
LET’S DO IT



E começam os perigos.
Chegou o dia da apresentação. A ideia veste roupas bonitas
 e cheira a perfume. Na reunião com o cliente, faz gracinhas
 pela mão do director criativo. Na mesa comprida há
 croissants.Nofim acaba tudo de parabéns.




                                                Ou não.



LADIES AND GENTLEMEN
O CLIENTE NÃO GOSTOU
Algumas ideias morrem aqui.
A epidemia mais frequente
é o critério do cliente.




                        O director criativo chora a morte da ideia como se ela
                        fosse sua. Mas acorda no dia seguinte a saber que há
                        mais ideias de onde esta veio (tão boas ou melhores).
O CLIENTE APROVOU


Muitos bebés recebem
a benção do cliente.
Mas…
há sempre um MAS.
Este MAS é uma
abreviatura para
“Minas À Superfície”.




                      MAS é preciso fazer algumas alterações.
                     MAS tem que estar pronto para a semana.
                  MAS custa 3 vezes mais do que o nosso orçamento.
CABUM!
Há minas que explodem
e deixam a ideia irreconhecível.


                                   “Afinal,
                                   o realizador queria fazer o filme
                                   dele e não o nosso.”
                                   “Era para ficar parecido com a
                                   campanha da Nike, só que tivemos
                                     que fazer tudo numa semana.”
                                   Era uma boa história para contar
                                      num minuto mas afinal só temos
                                     20” mais 10” de packshot.”
                                   “Só temos que alterar uma frase.
                                    É a frase de conceito que fecha
                                   todas as peças.
                                   Mas é só uma frase.”
ER... FIQUEI ASSIM?


              O director criativo detecta as minas
              e desarma-as como pode.

              Mesmo assim, muitas ideias ficam coxas
              e desfiguradas e perdem os lindos olhos
              azuis que nos tinham feito reparar nelas
              no início.
JOVEM PROCURA COMPANHEIRO




                           A produção
                           é a adolescência.

                           A ideia já tem
                           idade para namorar.
As alterações do cliente
                           O director criativo
são a infância da ideia.
                           procura realizadores
                           e fotógrafos e tenta
O director criativo
                           que o namoro resulte
dá-lhe a mão e evita
                           num bom casamento.
que ela vá por maus
caminhos.
TODOS QUEREM
O BEBÉ DO ANO
(mas poucos querem mudar fraldas)
DC, O PROFISSIONAL DODOT
                                 Pelo caminho, nem
                                 tudo são minas.
                                 Às vezes é só uma
                                 fralda com cocó
                                 que cheira mal
                                 e ninguém sabe por
                                 onde pegar.




O director criativo tem kms de
fraldas mudadas no currículo.

Limpa cocó atrás de cocó
sem dar pelo cheiro.
TCHARAN! A IDEIA SAI À RUA
Recebeu a bênção do director criativo, do contacto,
do planeamento estratégico, da agência de meios, dos estudos de mercado,
do cliente, da administração, da secretária da administração
e das esposas da administração.


Atravessou campos de minas
sem perder braços nem pernas.

Usou fraldas até começar a cheirar
a perfume.

Namorou com fotógrafos e realizadores.

E sobreviveu.

Agora caminha na rua, é bonita
e tem personalidade.
Será que alguém vai reparar nela?
“O queé um director criativo?”

Outubro 2011 @ INP

Susana Albuquerque
desenhosda Ana Magalhães

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AS IDEIAS SÃO BEBÉS

  • 1. AS IDEIAS SÃO COMO BEBÉS Precisam de um obstetra quando estão para nascer.
  • 2. NASCEM DE UM CASAL do copy e do director de arte O director de arte deixa uma semente no copy (ou vice-versa)
  • 3. - LOREM IPSUM. - SUPER. A dupla discute e da discussão aparece um embrião.
  • 4. FECUNDOU? DEIXA VER. A ideia começa a tomar forma. Com uma frase ou um visual, a dupla aponta várias ideias num papel. Quando a ideia tem cabeça, tronco e membros, chega o momento de mostrar ao director criativo.
  • 5. A PRIMEIRA ECOGRAFIA A dupla mostra esboços de várias ideias. O director criativo vê qual delas tem pernas para andar.
  • 6. SÃO GÉMEOS! Às vezes, o director criativo vê mais que uma ideia na ecografia. É preciso alimentá-las para ver qual fica mais forte.
  • 7. SOCORRO! Outras vezes, o director criativo vê genes de campeão num embrião enfezado. Com alguma reabilitação, ideias que pareciam acanhadas transformam-se em ideias fortes.
  • 8. A GRAVIDEZ HISTÉRICA Pode acontecer que a ecografia não mostre nada. Em vez de ideias, a dupla ainda só tem intenções. É preciso continuar a pensar para procriar.
  • 9. É UMA MENINA! Mas o mais comum é os embriões saírem da ecografia já em forma de ideia. Com cabeça, braços e pernas (e algum músculo).
  • 10. NÃO ATIREM PEDRAS AO BEBÉ O tempo é curto na maternidade da publicidade. Por isso, as ideias são mostradas aos accounts e aos planners como vêm ao mundo: nuas, pequenitas, sujas e engelhadas.
  • 11. ACREDITEM. VAI PARAR O Quando apresenta as ideias dentro da agência, o director criativo defende os TRÂNSITO. das pedradas, faz um quadro clínico optimista bebés como seus. Protege-os e mostra a todos o potencial da ideia.
  • 12. AS VACINAS Mas dentro da agência, nem todas as pedras que atiram às ideias são para matar. Algumas são veneno útil que reforça o sistema imunitário. No meio das pedras, se o director criativo vê uma vacina, deixa-a passar. O bebé apanha-a e mastiga-a, cresce e fica mais forte.
  • 13. AS IDEIAS PRECISAM DE MIMOS Depois de aprovada por todos na agência, a ideia é penteada e perfumada, dá os primeiros passos e começa a fazer gracinhas. Aparecem as primeiras maquetes. Accounts embevecidos olham para os layouts e soltam gargalhadas quando os pais da ideia lhes contam o filme.
  • 14. O director de arte escolhe a roupa da ideia e faz-lhe um layout. O copy dá-lhe voz e um tom, escreve-lhe graças e dá-lhe espírito. O director criativo agora é o pediatra, orienta as escolhas da criação. Quando chega ao percentil certo, a ideia está pronta para sair da maternidade. LET’S DO IT E começam os perigos.
  • 15. Chegou o dia da apresentação. A ideia veste roupas bonitas e cheira a perfume. Na reunião com o cliente, faz gracinhas pela mão do director criativo. Na mesa comprida há croissants.Nofim acaba tudo de parabéns. Ou não. LADIES AND GENTLEMEN
  • 16. O CLIENTE NÃO GOSTOU Algumas ideias morrem aqui. A epidemia mais frequente é o critério do cliente. O director criativo chora a morte da ideia como se ela fosse sua. Mas acorda no dia seguinte a saber que há mais ideias de onde esta veio (tão boas ou melhores).
  • 17. O CLIENTE APROVOU Muitos bebés recebem a benção do cliente. Mas… há sempre um MAS. Este MAS é uma abreviatura para “Minas À Superfície”. MAS é preciso fazer algumas alterações. MAS tem que estar pronto para a semana. MAS custa 3 vezes mais do que o nosso orçamento.
  • 18. CABUM! Há minas que explodem e deixam a ideia irreconhecível. “Afinal, o realizador queria fazer o filme dele e não o nosso.” “Era para ficar parecido com a campanha da Nike, só que tivemos que fazer tudo numa semana.” Era uma boa história para contar num minuto mas afinal só temos 20” mais 10” de packshot.” “Só temos que alterar uma frase. É a frase de conceito que fecha todas as peças. Mas é só uma frase.”
  • 19. ER... FIQUEI ASSIM? O director criativo detecta as minas e desarma-as como pode. Mesmo assim, muitas ideias ficam coxas e desfiguradas e perdem os lindos olhos azuis que nos tinham feito reparar nelas no início.
  • 20. JOVEM PROCURA COMPANHEIRO A produção é a adolescência. A ideia já tem idade para namorar. As alterações do cliente O director criativo são a infância da ideia. procura realizadores e fotógrafos e tenta O director criativo que o namoro resulte dá-lhe a mão e evita num bom casamento. que ela vá por maus caminhos.
  • 21. TODOS QUEREM O BEBÉ DO ANO (mas poucos querem mudar fraldas)
  • 22. DC, O PROFISSIONAL DODOT Pelo caminho, nem tudo são minas. Às vezes é só uma fralda com cocó que cheira mal e ninguém sabe por onde pegar. O director criativo tem kms de fraldas mudadas no currículo. Limpa cocó atrás de cocó sem dar pelo cheiro.
  • 23. TCHARAN! A IDEIA SAI À RUA Recebeu a bênção do director criativo, do contacto, do planeamento estratégico, da agência de meios, dos estudos de mercado, do cliente, da administração, da secretária da administração e das esposas da administração. Atravessou campos de minas sem perder braços nem pernas. Usou fraldas até começar a cheirar a perfume. Namorou com fotógrafos e realizadores. E sobreviveu. Agora caminha na rua, é bonita e tem personalidade.
  • 24. Será que alguém vai reparar nela?
  • 25. “O queé um director criativo?” Outubro 2011 @ INP Susana Albuquerque desenhosda Ana Magalhães