Este documento apresenta uma introdução editorial à revista PACTA. Resume os principais artigos e temas abordados nesta edição, incluindo uma entrevista com o Embaixador do Qatar, artigos sobre a conferência do clima em Paris e a importância estratégica do mar para Portugal. Apresenta também a equipa responsável pela revista e agradece o apoio dos leitores.
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A opção estratégica atlântica de Portugal
1.
2. EDITORIAL
Depois de um ano em que todos os dias tentamos
levar aos nossos seguidores o que de mais
relevante ocorre no mundo, chegamos agora, com
esta edição da PACTA, ao fim do terceiro ano deste
projeto, que não pára de crescer e nos faz trabalhar
com tanto gosto e afinco. Em Setembro a equipa
da PACTA volta com novas ideias para continuar
a desenvolver este apaixonante trabalho, de forma
a tratar o que de melhor e pior se passa no mundo
das Relações Internacionais, e para trabalhar
de forma ainda mais intensa no sentido de vos
surprender, pois a PACTA não é nossa, é de todos!
Para a última edição deste ano lectivo, e seguindo
sempre o nosso lema, procurámos oferecer-vos
informação com qualidade, pertinência e actuali-
dade. Uma vez mais, temos o orgulho de vos apre-
sentar uma edição recheada de artigos de opinião
e uma entrevista, que incidem sobre os principais
temas da realidade internacional que nos rodeia.
Como não podia deixar de ser, trazemos-vos
os Cadernos do Tiaguistão, a habitual coluna do
ProfessorTiagoFerreiraLopes.DoISCSP,contamos
com uma reflexão do professor Pedro Fonseca
sobre a Conferência das Partes da Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações
Climáticas (CQNUAC) a ocorrer em Paris no final
deste ano e uma abordagem à questão estratégica
do mar para Portugal desenvolvida pelo professor
Pedro Borges Graça. De fora do ISCSP, contamos
com uma revisão crítica de Diogo Noivo a um livro
sobre Adolfo Suárez da autoria de Fernando Ónega
e com a opinião de Vasco Martins dos Santos acerca
do estado actual das relações Rússia-Finlândia.
Ainda, apresentamos mais uma experiência
ERASMUS, desta vez em Estocolmo, na Suécia.
Nesta 13ª edição da PACTA a capa é dedicada
à entrevista realizada com o Senhor Embaixador
do Qatar, na qual foram abordadas as principais
questões sobre as relações de Portugal com
o Qatar, os grandes desafios e oportunidades
regionais e globais do Qatar, o papel do país
nas várias frentes da sua acção internacional e
a importante organização do Mundial de 2022.
As Relações Internacionais têm vindo a crescer
ao longo dos anos e suscitado o interesse de cada
vez mais pessoas. Por isso, a disciplina ganhou
importância com o decorrer do tempo e suscitou a
necessidade de um olhar mais aprofundado sobre
os eventos e organismos que integram o sistema
internacional. Assim, nesta edição, não podia ser
esquecida a tão bem sucedida simulação “Liga
Árabe Summit 2015”, que ocorreu no passado
mês de Abril, pelas mãos do Núcleo de Estudantes
de Relações Internacionais (NERI), no Instituto
Superior de Ciências Sociais e Políticas. Sendo que
o mundo árabe mostra uma crescente importância
nas estruturas de poder internacionais, o artigo
do Duarte Vieira, aluno do 2º ano de Relações
Internacionais no ISCSP, mostra-nos como
esta iniciativa decorreu e qual o seu propósito.
Desde já gostaria de deixar aqui um agradeci-
mento tanto para a equipa como a todos os que nos
acompanham. Sem vocês nada disto seria possível
e só assim conseguimos evoluir e tornar esta revista
útil e interessante para todos vós. Para o próximo
ano, voltaremos ainda com mais garra e ambição
de continuar um trabalho de qualidade e inovador!
Tiago Nobre
Sub-Coordenador da Equipa PACTA
3. Coordenadores da PACTA:
Sofia Ramos, 212430
Tiago Nobre, 216492
Colaboradores:
Filipe Gomes, 216427
Gabriel Machado, 216387
João Pinto, 214903
Nuno Gonçalves, 216399
Teresa Dominguez, 214346
Responsáveis pelas Redes Sociais:
Filipe Gomes
Gabriel Machado
João Pinto
Nuno Gonçalves
Teresa Dominguez
Tiago Nobre
Design Editorial:
Maria João Martins
EQUIPA
ÍNDICE DE CONTEÚDOS
PÁG. 4 Cadernos do Tiaguistão
DO COMITATUS À LEALDADE
DO TIPO GAFANHOTO
ARTIGOS DA CASA
A OPÇÃO ESTRATÉGICA
ATLÂNTICA DE PORTUGAL
PÁG. 6
A POLÍTICA DAS ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS EM PARIS:
De mãos vazias novamente?
PÁG. 8
ENTREVISTA
com H.E. Mr. Adel Ali AlKhal
PÁG. 10
PUEDO PROMETER Y
PROMETO. MIS AÑOS
COM ADOLFO SUÁREZ
PÁG. 14
ARTIGOS DE FORA
FINLÂNDIA E RÚSSIA:
A desconfiança
que veio do frio
PÁG. 16
CRONOLOGIA
PÁG. 18
ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS
LIGA ÁRABE SUMMIT 2015
PÁG. 22
EXPERIÊNCIA ERASMUS
ESTOCOLMO, Suécia
PÁG. 24
4. A ideia de Lealdade tem sofrido mutações
profundas ao longo da História. Da ideia de uma
lealdade-profunda-perene (ainda em vigor no
dito bárbaro Cáucaso e Ásia Central), que, por
vezes, justificava o tolher da própria existência,
passámos (no tal civilizado Ocidente) a
uma ideia de lealdade-tipo-xarope, em que
cada um toma a que quer e na qual a ideia
de perenidade não existe… Já nem a ideia
de irrevogabilidade parecemos conhecer…
A História da Antiguidade na Ásia Central,
Cáucaso e no Médio Oriente faz-se através
de uma parada complexa de reinos e impérios
que ora guerreiam entre si, ora se aliam por
razões nem sempre claras, ou racionais;
faz-se de sátrapas que passam a capitais de
novos Impérios e de capitais que se tornam
em cidade regionais de média dimensão…
Quando não desaparecem da História.
Curiosamente existe um elemento comum
entreosvárioscontendores.ParaalémdeHititas,
Persas, Citas, Turquemenos, Cazares, Uigures,
Hunos, Heftalitas, Sogdianos, Mongóis,
Avares, Eslavos, Chineses, Tibetanos e
Coreanos partilharem a origem Centro-Eu-
rasiática, parece que, talvez por causa dessa
origem comum, todos estes grupos mantiveram
uma instituição informal no decurso de toda
a Antiguidade pré-Islâmica: o comitatus.
Antes de explicar o que é o comitatus,
olhemos um pouco para a tal “parada
complexa de reinos e impérios”. Nos finais
do século IV começo do século V os Avares,
que dominavam o território entre a Bacia do
Tarim (China) e a Coreia, tinham por rivais o
Reino de Tabgach (sob domínio dos Mongóis
Hsien-pei) que dominavam a maioria do Norte
da China, o sudeste e a zona das estepes.
Diga-se que os Avares, cuja origem permanece
em zona semi-obscura, começaram por ser
vassalos de Tabgach sob égide dos Hsien-pei.
No começo século VI, com as tribos de Hsien-pei
maioritariamente sinizadas, fez-se a paz entre
osAvares e Tabgach. Em meados desse mesmo
século VI, a dinastia Wei (que controlava
Tabgach) dividiu o reino em duas metades:
Tabgach Oriental e Tabgach Ocidental. Tabgach
Oriental manteve a paz recém firmada com os
Avares mas Tabgach Ocidental aliou-se ao líder
dos Goturcos, até então vassalos dos Avares.
Entretanto os Goturcos, aliados a Tabgach
DO COMITATUS À
LEALDADE DO TIPO
GAFANHOTO
TIAGO FERREIRA LOPES
Director Académico da Sustainable Leadership Initiative, Índia
Investigador Integrado no Instituto do Oriente, Portugal
Pág. 4 | PACTA
Cadernos do Tiaguistão
5. Ocidental, sabem que Tiele (confederação
de clãs no norte da Mongólia) se preparava
para atacar os Avares. O que fazem? Os
Goturcos, sozinhos, atacam preventivamente
Tiele, salvando os suseranos Avares a quem
tinham jurado lealdade. Bumïn (líder dos
Goturcos) pede ao khagan Anagai (Imperador
dos Avares) uma princesa Avar em casamento.
Anagai reage com repulsa, negando o pedido
com um: “Como é que o meu escravo ferreiro
se atreve a pronunciar tais palavras”? Com
a honra manchada e orgulho ferido, Bumïn
volta-se para o aliado Tabgach Ocidental
com o mesmo pedido que é aceite. Os
Avares são derrotados pela força conjunta
Goturca-Tabgach Ocidental ressurgindo, mais
tarde, no pós-primeira invasão árabe, no
Daguestão (Cáucaso Norte, a Sul da Rússia).
Os Goturcos, os Tabgach, os Tiele e os
Avares partilham entre si não apenas uma
complicada História feita de alianças, traições,
vinganças e novas alianças mas também a
manutenção do tal comitatus! O comitatus
mais não é do que um sentimento de lealdade
fraterna perene partilhado entre o líder e os
seus homens mais próximos. Foi graças
ao comitatus que Bumïn lança as bases
do Império Goturco e, mais tarde, Temüjin
(Genghis Khan) funda o Império Mongol.
Lealdade fraterna perene! Algo que não
sabemos bem o que significa nos nossos dias.
Os homens do comitatus teriam obrigações
invioláveis entre si. A mais importante seria que
todos os homens do comitatus cometessem
suicídio caso o líder morresse primeiro. Várias
escavações arqueológicas mostram que tal
era prática comum entre Citas, Turquemenos,
Cazares,Uigures,Hunos,Heftalitas,Sogdianos,
Mongóis, Avares e Coreanos.
Lealdade fraterna perene implica colocar o
bem comum a cima das agendas pessoais de
cada um. Se Anagai tivesse apenas rejeitado
o pedido de Bumïn, sem lhe manchar a
honra, hoje teríamos uma Mongólia, China
e Coreia bem diferentes. Lealdade fraterna
perene implicava que o líder tomava conta
dos subordinados, que encarava como irmãos
de sangue e pelos quais fazia sacrifícios.
era de tal ordem que estes eram tidos em
linha de conta na hora de dividir o saque, de
escolher matrimónios aristocráticos e até nos
testamentos dos suseranos. O líder entendia
a sua liderança como um esforço partilhado,
olhando para os que lhe eram leais de igual
para igual. Por estes dias, temos uma leal-
dade-de-gravata-e-gabinete em que o chefe
exige dos outros lealdade submissa para
apenas e só para consigo. Sejam leais a
mim, que eu também serei leal a mim mesmo.
Hoje a lealdade também é gafanhoteira, se
me é permitida a expressão. Criam-se pactos
e acordos de estabilidade, que ao mínimo
sopro de vento se desfazem como a espuma
no final de um dia de praia. A lealdade deixou
de ser garante de estabilidade, para se tornar
quase sempre num nado-morto. A lealdade
está aqui, para depois estar ali, não porque
o bem comum importa mas porque a agenda
pessoal impera. É a era do Eu sobre o Nós.
É certo que a lealdade do comitatus tinha
o seu lado dramático, com vários suicídios
cometidos em prol de um laço estabelecido em
cerimónias simbólicas e que, de resto, esteve
na origem das relações feudais (no tal civilizado
Ocidente) entre Suseranos e Vassalos. Mas é
igualmente certo que também é dramático uma
existência saltitante, onde a lealdade se revoga
a cada pequena variação de temperatura.
Felizmente só temos quatro estações…
Pág. 5 | PACTA
6. O Mar configurou Portugal. Na fundação da
nacionalidade, há nove séculos, o Oceano
Atlântico representou a Oeste uma via de
liberdade e comércio perante três frentes de
guerra que encurralavam Portugal: a Norte o
Reino de Leão, a Este o Reino de Castela e a Sul
os Mouros. Entre os séculos XII e XV, Portugal
teve assim a sua economia fortalecida pela orla
marítima, como atestam os estudos de Orlando
Ribeiro no campo da Geografia Humana,
particularmente em “Introduções Geográficas
à História de Portugal”, publicado em 1977
pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
A Conquista de Ceuta em Agosto de 1415,
há precisamente 600 anos, consolidou essa
condição transformada em opção estratégica
vital para o desenvolvimento do espaço
português. A persecução da opção estratégica
atlântica não foi porém consensual nesse
distante século XV. No seio do núcleo real, após
a morte de D. João I, formou-se um “partido”
que defendia antes uma opção estratégica
europeia, liderado pelo Infante D. Pedro, que
chegou a ser Regente após a morte do seu
irmão mais velho D. Duarte e ficou conhecido
como o “Infante das Sete Partidas” exactamente
pelas viagens que fez pela Europa. O confronto
entre as duas opções teve o seu desfecho
com a morte de D. Pedro em 1449 na Batalha
de Alfarrobeira, em Alverca perto de Lisboa.
A opção estratégica atlântica ficou pois
firmada na História de Portugal com as
Descobertas e os sucessivos factos de
colonização e exploração económica em
ambas as margens do Oceano, até 25 de Abril
de 1974. Esta data representou assim uma
ruptura, estrutural, nessa opção enquanto
movimento de longa duração da História
de Portugal, uma vez que lhe sobreveio a
opção estratégica europeia que, na verdade,
ressurgiu actualizada quase seis séculos
depois da Batalha de Alfarrobeira. Numa
geração, aproximadamente, Portugal virou
costas aoAtlântico e ao Sul e concentrou-se na
Europa, isto é, Portugal ficou política e jurídica
e economicamente enquadrado no processo
de integração conducente à União Europeia.
Com o fim dessa opção estratégica atlântica,
para todos os efeitos inevitável nos termos em
que se desenrolara, Portugal sofreu de imediato
consequências no orçamento nacional, histo-
ricamente dependente em grande medida das
relações económicas com o “ultramar”, que
ficava para Sul e com o qual transaccionava
A OPÇÃO ESTRATÉGICA
ATLÂNTICA DE
PORTUGAL
PEDRO BORGES GRAÇA
Professor Associado do ISCSP
Director do Centro de Estudos Estratégicos do Atlântico
Pág. 6 | PACTA
Da Casa
7. por via do Oceano Atlântico. Ainda no século
XX, ocorreu a intervenção do FMI na segunda
metade dos anos 70, que voltou de novo a
verificar-se na primeira metade dos anos 80.
A injecção massiva de dinheiro em Portugal,
e consequentemente do equilíbrio recorrente
do orçamento nacional, começou então com a
entrada na Comunidade Económica Europeia.
Visto agora em perspectiva histórica, Portugal
não teve qualquer vantagem comparativa
sustentável desde o início relativamente aos
seus parceiros europeus, cujos níveis de indus-
trialização e de competitividade não diminuíram
nem abrandaram ou mesmo estagnaram.
À custa da agricultura e do mar (das pescas
ao transporte marítimo), sem o “ultramar”,
Portugal passou de pequeno produtor a grande
consumidor dos produtos dos outros países
europeus mais avançados na industriali-
zação das suas economias e com dimensões
geográficas e demográficas muito mais
favoráveis ao crescimento e desenvolvimento.
Com o alargamento sucessivo da “integração
europeia” aos países do Leste, Portugal ficou
também numa posição económica e produtiva
sucessivamente desfavorável relativamente
à que teria se, ao invés, se tivesse verificado
um aprofundamento do princípio e correspon-
dente processo da coesão económica e social
europeia no sentido de uma aproximação
àqueles níveis de industrialização e compe-
titividade. É que no processo da “integração
europeia” a solidariedade e a cooperação foram
conjugadas com a competitividade – dinâmicas
de forças contrárias –, sobrepondo-se a última
às primeiras como dinâmica natural e nuclear
da economia de mercado. Portanto, vemos
hoje que Portugal construiu inúmeras infraes-
truturas (nacionais, regionais, locais e urbanas)
das quais se destaca uma rede excelente de
estradas e comunicações para a circulação de
produtos que não chegaram a ser produzidos
nem pela indústria nem pela agricultura nem
pelas pescas, por incapacidade própria de gerar
competitividade minimamente comparável aos
parceiros europeus. Na verdade, contraria-
mente ao que era suposto acontecer, Portugal
foi submergido pelos fundos europeus no que
respeita à sua capacidade produtiva. Assim,
economicamente fragilizado e dependente,
Portugal sucumbiu à crise internacional de
2008 e de novo se viu obrigado a recorrer
ao FMI com o apoio da União Europeia.
É neste contexto que de há alguns anos a esta
parte assistimos ao ressurgimento actualizado
da opção estratégica atlântica através de factos
como a Expo 98, o relatório da Comissão
Estratégica dos Oceanos em 2004, a proposta
de extensão da plataforma continental marítima
junto das Nações Unidas e a formulação de uma
estratégianacionalparaomar.Comoenvolvente,
temos um discurso político “suprapartidário”
progressivamente empenhado em indicar
que tal opção é vital para o desenvolvimento
económico e social de Portugal. Estimulada,
uma nova geração de portugueses voltados
para o mar, para a ciência, para a criatividade,
para a invenção mais que a inovação e
para o empreendedorismo está a emergir.
Tal como há nove séculos, o Oceano
Atlântico representa uma via de liberdade
para Portugal, que aí poderá explorar
científica e economicamente o potencial
de recursos que inverterão a desvantagem
produtiva e competitiva relativamente aos
parceiros europeus. E no horizonte estão
os países atlânticos de língua portuguesa.
Portugal é mar - noventa e sete por cento
para ser mais concreto - com uma dimensão
avassaladora correspondente ao território
da União Europeia. Como fazer? Que
planear? Como executar? Como conjugar
a opção estratégica atlântica com a opção
estratégica europeia? Eis o desafio. É a hora!
Pág. 7 | PACTA
8. A POLÍTICA DAS ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS EM PARIS:
DE MÃOS VAZIAS NOVAMENTE?
Paris receberá, entre 30 de novembro e
11 de dezembro de 2015, a 21ª Conferência
das Partes da Convenção Quadro das
Nações Unidas sobre as Alterações
Climáticas (CQNUAC). Analisar a evolução
das negociações climáticas ao longo dos
últimos 20 anos é uma tarefa penosa na
qual a desilusão habita de forma confortável.
Quando foi constituído o Painel Intergoverna-
mental sobre as Alterações Climáticas (PIAC)
em 1988 já se suspeitava que estavam em
curso importantes alterações climáticas a
nível planetário. Todavia, para a tomada de
decisões políticas, era necessário um estudo
aprofundado e sistemático que permitisse
conhecer a dimensão e as causas do
problema. Enfrentando poderosos interesses
e uma constante oposição organizada e
bem financiada, o PIAC publicou diversos
relatórios de avaliação que sustentam a ideia
de que estão em curso mudanças climáticas
sem precedente desde há vários milhares
de anos, as quais são provocadas pelas
atividades humanas. Em causa está sobretudo
o excessivo consumo de combustíveis
fósseis (carvão, petróleo e gás natural) do
qual resulta o crescimento das emissões e da
concentração na atmosfera de gases de efeito
estufa (GEE), em particular de CO2. Que ironia
e que azar! Na raiz do problema haviam logo
de estar os combustíveis fósseis, fontes de
energia que permitiram à humanidade, desde
a revolução industrial, ultrapassar o cenário
de escassez de energia que tinha caracteri-
zado a sua História e construir as bases da
nossa civilização. Em 2013 os combustíveis
fósseis representaram mais de 80% das
fontes de energia primária a nível mundial.
Apoiando-se nos relatórios do PIAC, vários
especialistas, instituições governamentais
e organismos internacionais têm vindo a
alertar que as alterações climáticas colocam
desafios extraordinários ao ambiente, ao
desenvolvimento e à segurança, podendo
também contribuir para o surgimento ou
aprofundamento de conflitos violentos e
para o agravamento das condições de vida
em vários pontos do planeta, fatores que
podem originar Estados falhados, crises
humanitárias, grandes massas migratórias
e ameaçar a paz e segurança mundiais.
Perante estes impactos, as negociações
políticas cedo estabeleceram o objetivo
de estabilizar a concentração de GEE na
atmosfera num nível que evitasse uma inter-
ferência antropogénica perigosa no sistema
climático (princípio basilar da Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre as
Alterações Climáticas adotada em 1992). Ao
longo dos anos, o PIAC lá foi alertando que,
na medida em que parte do CO2 permanece
na atmosfera durante vários milhares de
anos, um certo nível de alterações climáticas
está já em curso e é irreversível, pelo que
importava evitar alterações climáticas
perigosas. Assim, estabeleceu-se o objetivo
de reduzir as emissões numa dimensão que
evite um crescimento da temperatura média
global superior a 2°C até ao fim do século
face aos valores pré-industriais.
Pág. 8 | PACTA
Da Casa
9. Ao longo dos últimos vinte anos, conferência
após conferência, negociação após negociação,
a política das alterações climáticas não
tem produzido resultados relevantes para
evitar as denominadas alterações climáticas
perigosas, visto que, ano após ano, as
emissões e a concentração na atmosfera
de GEE têm crescido de forma acelerada. A
evolução verificada tem mesmo levado alguns
a considerar que a mitigação do problema
climático que permita evitar as alterações
climáticas perigosas é já uma “batalha” perdida.
Outros, quem sabe mais otimistas, acreditam
que, apesar de escasso, ainda há tempo para
construir uma resposta global ao problema.
No final do ano de 2015, Paris receberá
os líderes mundiais para uma nova ronda
negocial na qual se ambiciona a obtenção de
um acordo global de redução quantificada e
obrigatória das emissões de GEE ao longo
das próximas décadas. Tal como no passado,
o lançamento da conferência tem sido rico
em boas intenções, elevadas ambições e
nobres declarações. No texto final da cimeira
do G7, realizada em junho de 2015, fala-se,
de forma vaga é certo, em descarbonizar a
economia global ao longo do presente século.
A União Europeia mantem-se, como quase
sempre no domínio climático, ambiciosa.
Nos EUA, a Administração Obama promete
uma ação sem precedente no combate às
alterações climáticas, aspiração típica de
quem cumpre o último mandato. Os países
em desenvolvimento declaram-se disponíveis
para um esforço adicional. Como sempre,
as organizações ambientalistas e vários
movimentos da sociedade civil exigem nada
menos do que o fim da era dos combustíveis
fósseis. Neste prelúdio da conferência
de Paris até o Papa Francisco prepara a
publicação da encíclica “Laudato si” sobre
questões ambientais, na qual reconhece
a importância de mitigar as alterações
climáticas. Nada disto é novo e nem sequer
verdadeiramente surpreendente, visto que às
grandes ambições e exigências regularmente
declaradas nos períodos de lançamento das
negociações têm-se seguido, quase sem
exceção, acordos frágeis ou mesmo
estrondosos fracassos.
A verdade é que o elevado número e diver-
sidade dos atores envolvidos e a expansão
da agenda negocial têm complexificado mui-
tíssimo as negociações climáticas, assim
como a procura de consensos alargados tem
resultado ou em acordos frágeis e pouco
ambiciosos. Paralelamente, os debates em
torno de temas como as responsabilidades
comuns mas diferenciadas, a fuga de carbo-
no, as desigualdades de desenvolvimento, a
mobilização de fundos para mitigação/adap-
tação e a vulnerabilidade climática têm origi-
nado discórdias profundas, descredibilizado
o regime internacional de combate às alte-
rações climáticas. Uma resposta eficaz às
alterações climáticas exige respostas com-
plexas e dispendiosas, requer uma profunda
cooperação global com a participação dos
principais emissores mundiais de CO2 (paí-
ses desenvolvidos e em desenvolvimento),
obriga a cedências de todos os atores e exi-
ge uma transformação célere de um sistema
energético mundial ainda demasiado depen-
dente dos combustíveis fósseis que susten-
tam a nossa civilização. Escrevia Sophia de
Mello Breyner que ‘apesar das ruínas e da
morte, onde sempre acabou cada ilusão, a
força dos meus sonhos é tão forte, que de
tudo renasce a exaltação e nunca as minhas
mãos ficam vazias’. Chegados a Paris, essa
eterna Ville-Lumière, permanece a ilusão e
reinventa-se o sonho de lá não sair de mãos
vazias novamente.
Pedro Fonseca
Professor Auxiliar no ISCSP
Pág. 9 | PACTA
10. PACTA: Firstly, hope Your Excellency
enjoys being in Lisbon, Portugal. Could you
tell us about when and how the Embassy of
the State of Qatar was settled in Portugal?
H.E. The Ambassador: In Qatar’s foreign
policy, the opening of an embassy in any
country should be preceded by an opening of
that country’s embassy in the State of Qatar.
So when Portugal sent H.E. Mr. Fernando
Araújo – as the first Ambassador of Portugal
in the State of Qatar, on December 2011, the
government of the State of Qatar decided
to send me as an Ambassador to Portugal.
I arrived on the 6th of January 2012 and I
presented my accreditation letter to H.E. Prof.
Aníbal António Cavaco Silva, the president
of the Republic of Portugal on the 10th of
January of 2012. I’m officially In Portugal for
ENTREVISTA
com H.E. Mr. Adel Ali AlKhal
3 and half years. Usually, the ambassadors are
shifted every 4 or 5 years so I am expecting
to be shifted this year or the next one.
Regarding Portugal, I like the country a lot, it is
a beautiful country. When I arrived in January I
did not bring my family along. My son was in high
school so we decided to wait until he graduates
from school. My wife, son and daughter arrived
to Portugal in August or September of 2012.
In those 8 months I had the opportunity to
go all over Portugal. I went to Porto, Alentejo
and Algarve and I have been all around the
country’s villages and I liked it very much.
PACTA: Currently what are the fields
that the State of Qatar gives priority to in
its relations with Portugal? Has there been
significant cooperation in those fields?
Ambassador Extraordinary and Plenipotentiary of the State of Qatar in Portugal
Pág. 10 | PACTA
11. H.E. The Ambassador: Qatar is looking
now to increase mutual investment. We
want to increase investment in Portugal and
increase the presence of the Portuguese
companies in Qatar. Qatar is going to host
the 2022 World Cup and to host that we
need to build stadiums, roads, underground,
railways, which means a lot of business.
Who usually build these are Germans,
French, Americans or British, because it has
been like that for a long time. My role here is to
bring investors and companies from Portugal to
Qatar, so they can compete with others because
I know that Portuguese are able to compete with
the rest, especially in terms of quality and prices.
On the other hand, Qatar is also looking
for investments in Portugal. In this field,
I arranged a meeting between the Qatar
Investment Authorities (QIA) and the
Agency for Investment and Foreign Trade of
Portugal (AICEP). They studied the fields of
investments for 3 days, in February of 2012.
After that, H.E. Mr. Paulo Portas, Deputy
Prime Minister, took care of this negotiation
and visited Qatar 3 or 4 times. He met with
QIA in London and in France several times.
In terms of Qatar’s investment, Qatar has
a share of 2.6 percentage of EDP, the energy
company in Portugal, which is not that much.
However, the Qatari investment in Portugal
is more significant and clear through VINCI,
the French company- bearing in mind that
Qatar is the biggest shareholder in VINCI.
VINCI is holding now the 2 bridges of Lisbon
and running the airports ANA, as well as
many other businesses. When they have
a ceremony they always invite the French
Ambassador and the Qatari Ambassador. So
I consider that in these 3 and half years, we
have reached something but I want more from
both sides mainly in the field of investment.
I have discovered that there are Portuguese
companies working in Qatar since 2007.
There are 2 companies there since 2007,
one is working in the field of information and
technologies (IT) and the other is working in
engineering. The IT Company has its origin in
Porto and has its office in Qatar with around
150 workers in which approximately 20 of
them are Portuguese; while the rest are from
all over the world. The company is doing well
for almost 8 years, which proves it is possible
for a Portuguese company to succeed there.
PACTA: What are the main exter-
nal goals of the country in the long term?
H.E. The Ambassador: Qatar has three
priorities: infrastructure, health and edu-
cation. The aim is to reach to the goals that
the government has set in 2030. Now, the
income in Qatar is 80% from petrol and gas,
20% from others. Our target in 2030 is to flip
this figure by making the oil and gas reach
20% of the total income and others reach-
ing the 80%, and when I say others, I mean
from the Qatari investments abroad. Qatar
invests a lot mainly in the last years all over
the world, I cannot say where concretely, but
we are looking to invest more in Portugal.
Speaking of the 3 priorities, I would like to
highlight the importance of education that is
to say, if the country pays attention to the ed-
ucation and prioritize it, the governments will
not face problems such as the problems in the
Middle East region at this time; take Syria, Ye-
men and Libya for an example. Poverty and the
lack of education created a massive tragedy.
PACTA: And what are the main inter-
national challenges that Qatar is facing?
H.E. The Ambassador: Internationally, Qa-
tar was a member of the UN Security Coun-
cil 2006-2007. In the meantime, it is the rep-
resentative of the United Nations Alliance of
Civilizations (UNAOC). H.E. Mr. Jorge Sam-
paio was the high representative of UNA-
OC and he delivered it to the State of Qatar.
Qatar was also the head of the Non-Align-
ment movement (NAM) in 2005, and it is
working with an International Group, focused
in solving what is happening in the region.
PACTA: So, regionally, what is the role of
Qatar in the Gulf Cooperation Council (GCC)?
Pág. 11 | PACTA
12. H.E. The Ambassador: Qatar is a part of the
GCC just as Portugal is a part of the European
Union (EU). Qatar has its own policy but also
there is a common policy in the GCC. Qatar
is also a member of several different organ-
isations such as the Organisation of Islamic
Cooperation and the United Nations (UN).
To sum it up, Portugal has two “umbrellas”:
the EU and the UN. On the other hand, Qatar
has four “umbrellas”. So the challenges are
almost common: political challenges, economic
challenges, environmental challenges and
social challenges. So what Portugal faces,
Qatar faces too. How Portugal is trying to
solve it, Qatar is also trying to solve it. We
are now in a global society, you cannot work
alone in this globalisation, you have to be
a part of other groups. As you are a part of
two groups, we are a part of four groups.
PACTA: How are the relations with the
West, namely with the USA and the EU?
H.E.TheAmbassador:Fantastic,cannotsay
more than that, they are our allies. Especially,
fighting terrorism, fighting ISIS, as a part of
a coalition. Our presence there is important
to prove that the EU and the Americans are
not fighting against a Muslim country alone,
because GCC does not believe that USA is
attacking an Arab country, we want to be there
sothatothersdonotmakethatanargument.Our
presence there is exactly to avoid this argument.
PACTA: Qatar will host the 2022 FIFA World
Cup. How important is that for the country, since
Qatar will be the first Arab country to do it?
H.E. The Ambassador: The World Cup was
always hosted by European or South American
countries, as it is hosted in summer. For that
reason, it always goes to Europe or to South
America as the weather during that time of the
year is good. Now there is some news about
the probability of shifting it from summertime
to wintertime because of the heat during the
summer in Qatar, and this will give not only Qatar
but all the countries of that part of the world who
could not host a World Cup so far, the
opportunity to host it in the future. For us is very
important to host it and it is also important for
other countries from the area in which Qatar
is located. Every country that has very tough
weather, they are giving them the chance to host
this event in the future.
PACTA: So now we have finished the
questions. Thank you very much for you time.
Pág. 12 | PACTA
13.
14. Puedo prometer y prometo. Adolfo Suárez
repetiu esta fórmula sete vezes ao longo de
um discurso proferido no dia 13 de Junho de
1977, apelando ao voto na sua União de Centro
Democrático (UCD) nas eleições legislativas
desse ano. Mais do que o exercício costumeiro
de promessas miríficas que tende a acompanhar
os processos eleitorais, a frase puedo prometer
y prometo foi uma demonstração de responsabi-
lidade e de pragmatismo político num momento
crucial para a consolidação da democracia em
Espanha. Juntamente com o Rei Juan Carlos,
Suárez foi responsável pela edificação de um
Estado de Direito Democrático, assegurando
que o processo de transição entre o Franquismo
e a democracia se fazia sem violência e livre
de sobressaltos de maior – algo praticamente
impensável quando se tem presente o quão
adversas eram as condições de partida.
Muito embora não haja consenso quanto
às datas de início e de término do processo
de transição democrática em Espanha, a
generalidade dos autores tende a compreender
este período entre 1975 e 1982. O momento
inicial, mais consensual, ocorre com a morte
de Francisco Franco. Já o ponto de chegada é
passível de discórdia. Embora a Constituição
fosse aprovada em 1978, só com a criação dos
estatutos autonómicos da Catalunha e do País
Basco temos em Espanha um quadro institu-
cional suficientemente amplo e estabilizado que
permite antever a sedimentação da democracia
liberal. Aliás, importa não esquecer que a 23 de
Fevereiro de 1981 há uma tentativa de golpe
de Estado com vista a reverter o processo de
democratização – um dia que ficou na memória
colectiva dos espanhóis como um momento
de elevado sentido de Estado, de coragem
política e física de Adolfo Suárez e do General
Gutierrez Mellado, que mesmo sob a ameaça
de armas recusam vergar perante os golpistas.
Por outro lado, o ano de 1982 conta ainda com
outro argumento a favor de ser este o ano
em que termina a Transición: dá-se o que o
cientista político Samuel Huntington designou
de “turnover test”, isto é, o poder muda de
mãos. A UCD de Suárez perde as eleições
para o Partido Socialista Obreiro Espanhol de
Felipe González, mostrando o normal funcio-
Pág. 14 | PACTA
De Fernando Ónega
PUEDO PROMETER Y
PROMETO. MIS AÑOS
CON ADOLFO SUÁREZ.
DIOGO NOIVO
Mestre em Segurança e Defesa
pela Universidade Complutense de Madrid & Centro
Superior de Estudios de la Defensa Nacional
(CESEDEN)
Licenciado em Ciência Política
pela Universidade Lusíada de Lisboa
De Fora
(Barcelona: Plaza Janés, 2013), 330 páginas.
15. -namento institucional da alternância política
resultante de eleições livres e democráticas.
Fernando Ónega, um dos jornalistas mais
conceituados em Espanha e antigo assessor
de Adolfo Suárez, pede emprestada a frase
emblemática do discurso para titular o livro onde,
cerca de 40 anos depois, percorre a memória
da transição política espanhola de forma
algo episódica, sem grandes preocupações
cronológicas mas sem comprometer o rigor do
relato. Embora logo no início fique a advertência
de que não se trata de uma biografia, as
recordações de Ónega e os testemunhos
que recolheu junto a outros que, como ele,
conviveram e trabalharam com Suárez,
deixa-nos um retrato muito completo e cheio de
detalhes de alguém que foi marido, pai, amigo,
mas sobretudo político. Essa é porventura a
melhor descrição do personagem retratado por
Fernando Ónega: alguém que sempre quis ser
Presidente de Governo, como o próprio admitiu
em entrevista ao El País em 1979. Alguém que
se assumia político, mas que com prejuízo
pessoal e partidário sempre usou o poder que
obteve em prol da construção da democracia
em Espanha. O livro é o retrato eminente-
mente pessoal deste carácter e deste percurso.
Numa outra entrevista a que o autor faz
referência Suárez afirma “não sou especialista
em nada, mas acho que sou um bom político”. A
frase é exemplar a dois níveis. Em primeiro lugar,
deixa transparecer a consciência do desdém com
que era visto por detractores e por companheiros
de partido, para quem ele era alguém simples e
destituído dos títulos académicos que permitem
a sobranceria no poder – um dos apodos menos
hostis que lhe foi dirigido na época foi o de
“empregado de armazém”. Em segundo lugar, a
frase é o elogio da política enquanto tal. Mais do
que um tecnocrata altamente qualificado ou um
académico munido das credenciais da praxe,
de um político espera-se uma visão de conjunto
e integrada do país, bom-senso e astúcia na
gestão dos interesses públicos, e o pragmatismo
necessário para trabalhar com todos, indepen-
dentemente das opiniões pessoais ou políticas
que deles tenha. E foi assim que Suárez exerceu
o poder, e foi assim que Fernando Ónega
o acompanhou nos bastidores da política.
Adolfo Suaréz exerceu o cargo de Presidente
de Governo ao longo de cinco anos e meio,
fez aprovar a Lei da Reforma Política que,
desde o estrito respeito pela legalidade e paz
social, enterrava toda a estrutura franquista.
Legalizou o Partido Comunista espanhol
– um episódio admirável que condensa na
perfeição a inteligência, a habilidade política
e cultura conciliadora de Suaréz – e legalizou
os sindicatos Comisiones Obreras (CC.OO) e
UGT. Organizou os Pactos de La Moncloa, que
uniram os vários partidos e sindicatos, apesar
das profundas diferenças que os afastavam,
para debelar os sérios problemas económicos
do país. Foi o homem que logrou romper com
o passado sem choques abruptos através de
procedimentos reformistas. Estes e outros
episódios do processo de transição democrática
em Espanha, sem esquecer as relações com
a imprensa, a política externa, ou a ameaça
da ETA, são abordados em Puedo Prometer
y Prometo, cruzando com mestria os planos
pessoal e político do “piloto” da Transición.
Em artigo publicado no El País por ocasião
da morte de Suárez, a jornalista Soledad
Gallego-Diáz descreve-o como o político
mais solitário que alguma vez existiu na
democracia espanhola e, no entanto, numa
época “perigosamente incerta”, o político que
mais se empenhou em promover o diálogo
e a pacificação social de um país profunda-
mente dividido e receoso em relação ao futuro.
Adolfo Suárez tem hoje o estatuto de lenda. E
embora este livro o retrate como o homem que
foi, colocando a astúcia e a coragem a par com
os erros, as imperfeições e as debilidades, não
lhe retira a grandeza que está reservada aos
poucos estadistas que se tornam imemoriais.
Pág. 15 | PACTA
16. FINLÂNDIA E RÚSSIA:
A DESCONFIANÇA QUE
VEIO DO FRIO
Na sequência da anexação da Crimeia,
e das movimentações dos exército russo
na Ucrânia, importa analisar os efeitos da
nova postura da Federação Russa sobre os
países vizinhos, como é o caso da Finlândia.
Os conflitos com o Império Russo iniciaram-se
quando Finlândia era ainda parte integrante do
império sueco. A Rússia invadiu a Finlândia
sucessivas vezes, culminando na anexação
da Finlândia em 1809. Na Primeira Guerra
Mundial, com o colapso do Império Russo,
a Finlândia aproveitou a fragilidade russa e
o princípio da auto-determinação nacional
preconizado por Lenin, para declarar a inde-
pendência. Após a Guerra Civil Finlandesa e
a Revolução de Outubro, no período entre as
guerras mundiais, as relações entre os dois
Estados mantiveram-se tensas, com a Rússia
a procurar repetidamente interferir na política
interna finlandesa. Depois da disputa pela área
de Karelia, ocupada pelos Russos, sanada pelo
Tratado de Tartu em 1920, a União Soviética
impõe um bloqueio ao tráfego naval finlandês.
A Finlândia é atacada pela URSS em 1939
dando inicio à “Guerra do Inverno”, e posterior-
mente à “Guerra da Continuação” prolongan-
do-se durante a 2.ª Guerra Mundial na guerra
contra a URSS. Nestas guerras os finlandeses
sofreram 90.000 baixas e causaram pesadas
baixas aos soviéticos (120.000 mortos na
Guerra de Inverno, 200.000 na Guerra de
Continuação). Como resultado Finlândia
perdeu mais de 10% do seu território anterior
à Guerra de Inverno, incluindo a cidade
Vyborg, para a União Soviética. Devido a
esta conflitualidade histórica, a Finlândia é
dos poucos países que mantém umas Forças
Armadas dimensionadas e estruturadas para
repelir uma eventual invasão do seu território.
Durante a “Guerra Fria”, a Finlândia adoptou
uma posição de imparcialidade entre os dois
blocos, procurando prevenir novos conflitos
com a URSS. Por essa razão, a Finlândia
nunca pediu a adesão à Nato, mas desenvolveu
sólidas relações comerciais com os seus
membros. Em 1995, a Finlândia torna-se
membro da UE, subscreve o Tratado de
Schengen em 1996 e faz parte da Zona Euro
desde 1999, obrigando-a agora a participar
nas sanções europeias contra a Rússia. Isto
não impediu que estabelecesse fortes relações
comerciais com a Federação, aproveitando
a grande dimensão daquele mercado.
Pág. 16 | PACTA
VASCO MARTINS DOS SANTOS
Assessor da Fundação Luso-Americana
para o Desenvolvimento
Colaborador do Instituto de Estudos Pós-Graduados do ISCSP
De Fora
17. Com uma população de 5,5 milhões e 350.000
reservistas, um produto interno bruto de 218.3
biliões de dólares, e um orçamento militar
de 1,5% do PIB, a Finlândia adoptou uma
estratégia que conjuga a criação de sólidas
relações comerciais, com a manutenção de
um aparelho militar independente da NATO,
com capacidade autónoma de defesa do
seu território – chamam-lhe a Finlandização.
Esta estratégia traduziu-se na conquista do
mercado russo através das exportações de
madeira e seus derivados, serviços e tecnologia
principalmente na área das comunicações.
Actualmente procura exportar produtos que
não estejam cobertos pelas sanções da UE.
Nesta estratégia enquadram-se também os
programas de cooperação bilateral nas áreas
do controlo ambiental, transportes, emigração
e missões de busca e salvamento. Da Rússia,
a Finlândia importa principalmente combustível,
procurando neste momento outras fontes de
abastecimento. Mas a questão que se coloca
neste momento é se a finlandização será eficaz
para garantir a integridade do seu território?
Na Federação Russa assistimos actualmente
a um revisionismo histórico. Puttin, ainda antes
de ser eleito Presidente afirmou que a maior
catástrofe do Séc. XX foi o fim da União Soviética
em 1991. Esse marco, segundo a generalidade
dos autores sinaliza o fim da Guerra Fria, porém
não há qualquer documento assinado que
estabeleça os termos e condições definindo
vencedores e vencidos. Esse é o fundamento
do discurso de Puttin: a Rússia foi lesada
pelo desmoronamento da União Soviética,
considerando inaceitável a expansão da NATO
aos países que fazem parte do chamado
“cordão sanitário” entre a Rússia e o Ocidente.
A alteração das fronteiras da Europa provocou
um forte ressentimento nas elites russas que
reclamam a revisão das fronteiras, mas também
a recuperação da influência russa no sistema
internacional. Existe uma forte desconfiança
em relação ao Ocidente pelo papel atribuído á
Rússia depois da Guerra Fria e uma tentativa de
reafirmação do seu poder, procurando combater
as barreiras geoestratégicas da segurança
euro-atlântica e o isolamento imposto pelo
Ocidente. O revisionismo russo abarca toda
a sua histórica área de influência, incluindo a
Ásia Central e o Cáucaso. Zonas com conflitos
locais latentes, onde a China surge como novo
actor, principalmente no vector económico e
energético aproveitando as actuais fragilidades
russas.
Com a anexação da Crimeia pela
Federação Russa, a Finlândia foi obrigada a
participar nas sanções económicas impostas
pela UE, o que aliado à baixa do preço do
petróleo fez diminuir drasticamente as
exportações da Finlândia para o vizinho, bem
como o turismo russo, embora esta situação
tenha vindo a ser colmatada pela crescente
procura chinesa no mercado finlandês.
No passado mês de Fevereiro, a Federação
enviou 3000 militares para reactivar a base
aérea de Murmansk Oblast junto da cidade
Finlandesa de Rovaniemi. A Força Aérea
Russa tem realizado constantes exercícios
ao longo da fronteira com bombardeiros
e dispõe de uma nova geração de caças
Sukhoi. Ao largo da península de Kola
encontram estacionado em submarinos
boa parte do potencial nuclear russo.
O Ministro da Defesa Haglund tem-se
distanciado cada vez mais das propostas
russas de cooperação na área da Indústria
de Defesa, bloqueando todos os projectos e
recusando a aquisição de tecnologia militar
russa,porsuspeitadequeessesequipamentos
pudessem comprometer a segurança e
eficácia operacional. A par disto é notória
a maior aproximação da Finlândia à NATO.
Independentemente da coragem finlandesa,
o “urso” russo deve ser levado a sério. Estamos
a assistir à fragmentação da estratégia da
“finlandização” e consequente aumento do
desagrado russo, o que nos leva a concluir que
a Federação Russa pode ser no imediato uma
ameaça real ao Estado Finlandês, embora
essa ameaça seja dificilmente sustentável
num futuro longínquo, dadas as fragilidades
russas no plano económico, político e social.
Pág. 17 | PACTA
18. 2 ABR
Manoel de Oliveira
(1908-2015), o tempo
faltou-lhe, claramente.
(Público)
Segunda caixa negra
confirma ação voluntária
do co-piloto na queda
do A320.
(Público)
Obama presses case
for Iran nuclear deal in
weekly address.
(Reuters)
3 ABR 4 ABR
CRONOLOGIAABRIL, MAIO E JUNHO
Pág. 18 | PACTA
Egyptian court
sentences Muslim
Brotherhood
leader to death.
(CNN)
“Data activist Max Schrems surrounded by media in the courthouse after his trial against
Facebook. Schrems, who closed the list of plaintiffs after 25,000 people joined, is clai-
ming damages of 500 euros per user for alleged data violations by Facebook, including ai-
ding the US National Security Agency’s PRISM programme, which mined personal data”
Fonte: Leonhard Foeger/Reuters
11 ABR
“Cuba não é uma
ameaça para os EUA.”
Diz Obama depois de
encontro com Castro.
(Euronews)
12 ABR9 ABR
Nigeria protesters
demand action on
Chibok abductions.
(Al Jazeera)
14 ABR
Irão critica
interferências
externas no Iémen.
(Euronews)
16 ABR
EUA: Justiça acusa 6
polícias do “homicídio”
de Freddy Gray.
(Euronews)
1 MAI
Número de mortos no
sismo do Nepal
ultrapassou as 7000
pessoas.
(Diário de Notícias)
2 MAI
Nepal government
criticised for blocking
earthquake aid to
remote areas.
(The Guardian)
3 MAI
Italia rescata a 5.800
inmigrantes en el
Mediterráneo.
(El País)
3 MAI
19. Pág. 19 | PACTA
“Data activist Max Schrems
surrounded by media in the
courthouse after his trial
against Facebook. Schrems,
who closed the list of plain-
tiffs after 25,000 people
joined, is claiming damag-
es of 500 euros per user
for alleged data violations
by Facebook, including aid-
ing the US National Security
Agency’s PRISM programme,
which mined personal data”
Fonte: Leonhard Foeger/Reu-
ters
Senate approves bill on
reviewing Iran nuclear
deal.
(The Washington Post)
7 MAI
Greek PM forecasts
‘happy end’; Eurogrup
chief cites progress in
talks.
(Reuters)
8 MAI
China ‘negotiates
military base’ in
Djibouti.
(Aljazeera)
9 MAI
UE leva à ONU plano
militar contra traficantes
no Mediterrâneo.
(Público)
10 MAI
“A firefighter uses a saw to
open a metal gate while fight-
ing a fire in a convenience
store and residence during
clashes after the funeral of
Freddie Gray in Baltimore,
Maryland in the early morning
hours. Baltimore erupted in
violence on Monday as hun-
dreds of rioters looted stores,
burned buildings and at least
15 police officers were in-
jured following the funeral of
a 25-year-old black man who
died after suffering a spinal in-
jury in police custody. The riots
broke out blocks from where
the funeral of Freddie Gray
took place and spread through
much of west Baltimore.”
Fonte: Eric Thayer/Reuters
Ukraine crisis: Kerry
has ‘frank’ meeting with
Putin.
(BBC News)
12 MAI
Obama says
Israel-Palestinian two
state solution ‘vital’ for
peace.
(Reuters)
14 MAI
Bombista de maratona
de Boston condenado à
morte por unanimidade.
(Diário de Notícias)
15 MAI
Metade da Síria sob
controlo do grupo
Estado Islâmico.
(Público)
21 MAI
14 ABR
28 ABR
20. CRONOLOGIAABRIL, MAIO E JUNHO
Pág. 20 | PACTA
França: supermercados
proibidos de deitar fora
alimentos.
(Euronews)
22 MAI
Ireland becomes first
nation to legalize same
sex marriage.
(CCN)
23 MAI
Putin promulga lei que
proíbe a presença de
ONG ‘indesejáveis’
na Rússia.
(Público)
24 MAI
Ex-Israeli Prime Minister
Ehud Olmert sentenced
to 8 months in prison.
(The Washington Post)
25 MAI
China to extend military
reach, build lighthouses
in disputed waters.
(Reuters)
26 MAI
Japan earthquake:
Tremors felt across
nation.
(CNN)
30 MAI
Macedónia prepara
legislativas antecipadas.
(Euronews)
2 JUN
Dois anos depois de
Snowden EUA limitam a
espionagem.
(Diário de Notícias)
5 JUN
Greece submits new
reform plan to EU
and IMF.
(BBC News)
9 JUN
Demir Kapija, Macedonia
“A group of migrants walk on a road on their way to the Serbian border. Macedonia has become one
of the main transit routes for thousands of migrants from the Middle East and Africa, entering from
neighbouring Greece on their way to western European countries”
Photograph: Robert Atanasovski/AFP/Getty Images
U.S. Airstrike in Libya
Targets Al Qaeda
Leader.
(The New York Times)
14 JUN
Portugal 2014. O ano
em que emigrámos mais
do que nunca e morre-
mos ainda mais do que
nascemos .
(Observador)
16 JUN
11 JUN
“O Nepal a caminho do
renascimento após a
tragédia.”
(Euronews)
15 JUN
21. Pág. 21 | PACTA
Sanliurfa, Turkey
“A man carries a girl as Syrians fleeing the war pass through broken-down border fences to enter Turkish territory illegally”
Photograph: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
El Rey Felipe VI relanza
el apoyo a la Monarquia.
(El País)
18 JUN
Milhares protestam
contra políticas da
austeridade em
Londres.
(Euronews)
20 JUN
EUA pedem ‘flexibili-
dade’ nas negociações
com a Grécia.
(Público)
21 JUN
S. C. Gov. Haley calls
for removal of
Confederate flag near
the state Capitol.
(The Washington Post)
22 JUN
Hungria suspende
aplicação da Convenção
de Dublin .
(Euronews)
23 JUN
Cedências das duas
partes ainda insuficien-
tes para um acordo para
a Grécia.
(Público)
25 JUN
Libya talks at crucial
stage over
power-sharing deal.
(Reuters)
26 JUN
Tunisia attack: Tourists
flee the country after
gunman killd 38 .
(CNN)
27 JUN
15 JUN
22. LIGA ÁRABE SUMMIT 2015
Nos passados dias 28 e 29 de Abril o
NERI realizou, no Instituto Superior de Ciên-
cias Sociais e Políticas, mais uma gran-
de iniciativa como já nos vem habituando.
Desta vez foi a Liga Árabe Summit 2015.
Quando soube da ideia tive desde logo inte-
resse em participar, afinal de contas o que
faz falta nestes eventos são “ajudantes” e
eu tive o privilégio de estar na organização
e ser membro da Mesa durante o debate.
À semelhança de outras simulações do
género tentámos organizar o debate da sim-
ulação o mais próximo possível da realidade.
No primeiro dia as equipas participantes, di-
vididas em comités, organizaram as suas
moções, bastante pertinentes e adequadas
à realidade política actual do Médio Oriente
e do mundo árabe, que levaram para a mesa
de debate no segundo dia. Assistimos a um
debate vivo e interessante, com muito boas
intervenções e com todas as equipas a par-
ticipar activamente e a promover o debate.
Porquê a Liga Árabe? A Liga dos Estados
Árabes é uma organização regional de estados
árabes formada em 1945 que conta hoje com
vinte e dois estados e cerca de 400 milhões
de habitantes, cujos principais objectivos são
estreitar a as relações dentro da Liga e cola-
borar entre si de modo a garantir a sua segu-
rança, independência, soberania e promover
os seus interesses na esfera internacional.
Esta é uma realidade que não estamos tão
Pág. 22 | PACTA
Organização de Eventos:
DUARTE VIEIRA
Aluno do 2º Ano de Relações Internacionais no ISCSP
23. Pág. 23 | PACTA
habituados a ver no Ocidente, pois somos
de certa forma alienados de muito do que se
passa deste lado do mundo. Para alunos de
Relações Internacionais (e não só) é neces-
sário ter uma visão abrangente do mundo que
nos rodeia, não só política mas também eco-
nómica, social e cultural. O mundo árabe é um
destes exemplos com uma crescente impor-
tância nas estruturas de poder internacionais,
daí a necessidade de se estudar e adquirir in-
formação sobre esta realidade. Todos os parti-
cipantes saíram da simulação certamente com
mais conhecimento dos países da Liga Árabe.
Nesta simulação, para além de todos os
participantes adquirirem mais à vontade em
se exprimirem em público e treinarem a sua
capacidade de retórica e argumentação, ti-
vemos todos também a oportunidade de ter
uma abordagem e uma experiência mais
prática do funcionamento das Relações In-
ternacionais neste tipo de organizações.
A primeira edição da Liga Árabe Summit
foi sem dúvida um grande sucesso e convi-
do desde já todos a participarem nos even-
tos que o NERI vai certamente organizar no
próximo ano, com a esperança de se con-
tinuar o projecto da Liga Árabe e nunca es-
quecendo a habitual simulação G20 Summit.
SÍMBOLO DA LIGA ÁRABE
24. Experiência ERASMUS:
Muitos são aqueles de nós que desejam e
fantasiam sobre a ideia de estudar para o es-
trangeiro. Começamos por equacionar pergun-
tas como: Quão diferente será viver no país x
em comparação com Portugal? Será que me
adaptaria bem a um novo meio cultural? A par-
tir daí e do momento em que todas as buro-
cracias estão tratadas para irmos ao encontro
do nosso destino de eleição, todo o estudan-
te em Erasmus embarca numa nova aventura
que se afigura inevitavelmente inesquecível.
No início do segundo ano da Licenciatu-
ra decidi que ia realizar um sonho já tido há
algum tempo e ir estudar para fora. O onde
pouco importava porque queria ter uma ex-
periência completamente diferente daquela
que tinha aqui, acabando por escolher Es-
tocolmo como minha nova casa por ser a ci-
dade mais estereotipicamente distinta de
Lisboa e pelo prestígio internacionalmente
reconhecido da Universidade de Estocolmo.
Lembro-me do receio inicial de sair da mi-
nha zona de conforto, de deixar todos os meus
amigos e família, de deixar para trás algumas
experiências como a bênção das fitas em
prol de partir para uma realidade totalmente
desconhecida.
A vontade de conhecer, de descobrir e crescer
através das diferenças e semelhanças que par-
tilhamos com pessoas que vêm de uma realida-
de totalmente diferente da minha foi o que me
motivou a ir sem olhar para trás uma única vez.
Assim, no segundo semestre do terceiro ano,
meti-me num avião e começou uma das me-
lhores experiências da minha vida. Lembro-me
vivamente do friozinho na barriga que sentia
por ir sozinha, por ser a minha primeira expe-
riência de “liberdade”. O facto de não se co-
nhecer ninguém, de não se falar a língua local,
de não nos parecermos minimamente com as
pessoas locais, faz com que o primeiro impac-
to seja de um choque brutal mas também de
uma intensa adrenalina, afinal de contas cria-
se um cenário de infinitas probabilidades de
conhecer algo pela primeira vez, várias vezes.
O primeiro dia em solo sueco foi um mis-
to de emoções, de ansiedade e curiosida-
de. Recordo-me de chegar ao meu quarto na
residência, aquela que seria a minha casa
nos próximos seis meses, e admirar a neve
pela janela, ver aquelas ruas cheias de bi-
cicletas e as pessoas totalmente cobertas
Pág. 24 | PACTA
ESTOCOLMO, SUÉCIA
25. de roupa e pensar como este cenário seria
completamente impossível no calor lisboeta.
Na primeira noite há uma festa para que to-
dos os novos estudantes se conheçam e foi
aí que comecei por fazer amigos. Começa-
mos com as perguntas típicas “Como te cha-
mas? De onde vens? O que estudas?” na
esperança de que haja um click e é sempre
isso que acontece, esse click acontece inú-
meras vezes pois independentemente do local
de onde vimos ou o que estudamos todos te-
mos em comum esta sede do desconhecido.
A partir daí, começas a ter contacto com todos
estes desconhecidos que rapidamente pas-
sam a amigos e a explorar a nova realidade.
Sendo a estupenda cidade que é, Estocol-
mo tem muito a oferecer. Desde os ringues de
patinagem de gelo, ao famoso fika (nada mais
significa que amigos a conversarem acompa-
nhados de uma boa bebida quente e de uns
bolinhos), passando pelas tardes ensolaradas
junto ao rio e as visitas aos inúmeros museus,
a cidade tem de tudo um pouco, para todos os
gostos e todas as estações do ano, afiguran-
do-se uma maravilha arquitectónica em con-
junto com a, talvez surpreendente, simpatia e
amabilidade do seu povo. Os inúmeros barcos
de cruzeiro que partem da cidade para ou-
tros destinos do Báltico permitem-nos conhe-
cer muitos dos países “vizinhos” a um pre-
ço bastante acessível, permitindo-nos viajar
ainda mais e ligando-nos aos companhei-
ros de viagem de forma ainda mais palpável.
Conhecidos pela sua metodológica or-
ganização, não foi espanto para mim che-
gar à Universidade e ter uma grande recep-
ção feita para todos os novos alunos, onde
nos é explicado o funcionamento da Uni-
versidade bem como do país, fazendo-nos
sentir imediatamente mais bem recebidos.
O próprio sistema de ensino é totalmente di-
ferente, havendo testes que se realizam no
conforto da nossa casa, muitos trabalhos de
grupo que envolvem bastante leitura e mui-
ta interacção entre alunos e professores na
aula que nos permite debater ideias e apren-
der de forma mais dinâmica. No final de con-
tas, o aluno que vai estudar para a Suécia vê-
se posto numa realidade totalmente diferente
mas que se revela eficazmente enriquecedora.
Filipa Bastos
Licenciada em Relações Internacionais no ISCSP
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