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Aliança Estratégica na Indústria Automobilística: O Caso da
                         Autolatina




                       HEIDY RODRIGUEZ RAMOS
                        Departamento de Administração
                           Universidade de São Paulo
 Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Sala E-200 – Cidade Universitária. São Paulo.
                                      Brasil
                                 heidy@usp.br




                       AFONSO CARNEIRO LIMA
                       Departamento de Administração
                         Universidade de São Paulo
           Rua Válson Lopes, 101, sala S3. 05360-020. São Paulo-SP.
                                    Brasil.
                             afonsolima@usp.br




               MARTINHO ISNARD RIBEIRO DE ALMEIDA
                        Departamento de Administração
                           Universidade de São Paulo
 Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Sala E-200 – Cidade Universitária. São Paulo.
                                      Brasil
                                martinho@usp.br




                                                                                   1
RESUMO

O objetivo deste artigo é revisitar a operacionalização da Autolatina, uma joint-venture
entre as empresas Ford e Volkswagen (VW), no ano de 1987. Trata inicialmente de
alguns aspectos teóricos acerca de alianças estratégicas, contextualizando a indústria
automobilística brasileira durante a década de 1980. Procura estabelecer as motivações
por parte da Ford e da VW no momento da criação da Autolatina, ao longo de sua
existência e após a sua dissolução, associando-as às características do ambiente
competitivo brasileiro ao longo das duas últimas décadas. A partir da compreensão de
um novo contexto competitivo nacional, as duas empresas, em diferentes momentos,
souberam ajustar suas estratégias de manufatura de forma bastante inovadora. A
Autolatina figurou-se como uma estratégia de sobrevivência da Ford no Brasil no
momento da união com a VW, num contexto político-econômico protecionista, embora
ambas também buscassem complementaridades. Dentre alguns dos resultados com o
fim dessa parceria, pode-se citar a perda de know-how de um dos lados e ganho de
expertise operacional de outro.

PALAVRAS-CHAVE: alianças estratégicas, indústria automobilística, ambiente
competitivo.


ABSTRACT

The purpose of this article is to analyze the start up of Autolatina, a Brazilian joint-
venture between Ford and Volkswagen (VW) in 1987. Firstly, the paper presents some
theoretical aspects of strategic alliances; secondly, it contextualizes the Brazilian
automotive industry in the 1980s, showing strong economic and institutional influences
in this industry. Finally, the paper places both Ford and VW motivations at the
conception of Autolatina, bringing up relevant aspects of their cooperative relationship
and its dissolution in 1994. While comprehending two national competitive contexts,
the two companies, in two different occasions, knew how to adjust their manufacturing
strategies in a very innovative way. Autolatina is considered Ford’s strategy for survival
in Brazil at the time of its union with VW, in a political and economic protectionist
environment, although both companies searched for synergies.

KEYWORDS: strategic alliances, automotive industry, competitive environment.




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1. Introdução



Há várias décadas, a indústria automobilística vem se mostrando um fértil terreno e

laboratório para a realização de pesquisas nas ciências sociais, em especial na

administração de empresas. Ao evidenciar particularidades e problemas complexos, ela

tem estado, por vezes, à frente de muitos dos temas correntemente tratados pela

academia, fornecendo também interessantes contribuições para teorias já existentes.

Pode-se dizer, com base em pesquisas existentes, que a indústria automobilística tem

constantemente contribuído com a evolução da ciência da administração de empresas.



Trata-se de uma indústria de amplo poder de mobilização e emprego de recursos, assim

como de organização de segmentos relacionados: desde fornecedores de autopeças, até

distribuidores de seus produtos. Haja vista seu papel de “estimulador econômico”, o

setor automobilístico é considerado estratégico para muitos países (OICA, 2007).

Somente no Brasil, em 2007, o setor automotivo, incluindo autopeças, respondeu por

15% do PIB industrial; contribuiu ainda para um volume de exportações da ordem de

US$11,2 bilhões (ANFAVEA, 2007).



O presente trabalho tem como objetivo estudar a operacionalização da joint-venture

entre duas empresas, Ford e Volkswagen, cujo resultado foi a criação da Autolatina, no

ano de 1987. Ações estratégicas como essa em questão vêm possibilitando as indústrias

automobilísticas a mobilizarem recursos e operacionalizar suas atividades em escala

internacional desde a primeira parte do século XX.




                                                                                     3
De modo que se compreenda a formação da Autolatina, o artigo trata inicialmente de

alguns aspectos teóricos de alianças estratégicas; contextualiza, em seguida, a indústria

automobilística brasileira durante a década de 1980, exibindo influências econômico-

institucionais marcantes no setor; coloca as motivações por parte da Ford e da

Volkswagen no momento da criação da Autolatina, ao longo de sua existência e após a

sua dissolução, associando-as às características do ambiente competitivo brasileiro ao

longo das duas últimas décadas.

2. Revisão da literatura

2.1 Alianças Estratégicas

Ao longo da década de 1980, houve um aumento acentuado não só do número de fusões

e aquisições, mas também de alianças estratégicas, entendida esta última como “arranjos

entre duas ou mais empresas independentes que empreendem um projeto ou operam

numa área específica de negócios coordenando competências e recursos conjuntamente

ao invés de operarem sozinhas ou fundindo suas operações (DUSSAUGE et al, 2004)”.

Esses acordos, de uma maneira geral, assim como as fusões e aquisições, são postos em

prática por empresas que não possuem condições de assumir por si só o custo e o risco

de seu desenvolvimento e, surgem, de acordo com Spekman e Sawhney (1990), a partir

de contingências como a crescente competição, rápida mudança tecnológica e crescente

necessidade de informações.

           As alianças estratégicas possuem origem no reconhecimento das
           grandes limitações do ambiente competitivo em termos de
           recursos e tempo. As empresas engajadas em alianças, em geral,
           reformulam suas metas empresariais, optando pela criação de
           oportunidades que lhes configurem menores custos de transação
           e maiores vantagens competitivas. O acesso a mercados,
           tecnologia e know how são motivos fundamentais à constituição
           dessas parcerias (VERSIANI, 1995).




                                                                                       4
Acerca de seus aspectos estruturais, as alianças estratégicas exigem de seus

participantes certo grau de troca ou compartilhamento de recursos e capacidades, de

maneira a atingirem uma meta em conjunto, como o co-desenvolvimento ou distribuição

de bens ou serviços (HITT et al., 2003, p. 77; KEEGAN e GREEN, 2006, p. 272;

KOTABE e HELSEN, 2000, p. 262). Segundo Todeva e Knoke (2005), uma aliança

estratégica envolve pelo menos duas empresas parceiras que (a) continuam legalmente

independentes após a formação da aliança, (b) compartilham benefícios e controle

gerencial sobre o desempenho de tarefas designadas e (c) realizam contribuições

contínuas em uma ou mais áreas estratégicas, como tecnologia ou produtos.



As bases dessa estrutura cooperativa se dão a partir da compreensão das diferentes

intenções das empresas envolvidas e na crença da integração dessas diferenças num

objetivo comum. Já alguns dos fundamentos integradores, segundo Spekman e Sawney

(1990) são o consenso, o comprometimento, a solidariedade e a coesão. Esses elementos

são essenciais à formação das alianças, pois tornarão possível a divisão do controle das

operações.



Há uma grande diversidade taxonômica referente a alianças estratégicas na literatura.

Todeva e Knoke (2005) colocam treze diferentes classificações levando em conta níveis

de integração. Hitt et al. (2003, p. 278-279), por sua vez, levam em conta três tipologias

principais. Alguns exemplos dessas taxonomias são: o licenciamento, as parcerias em

P&D, kereitsu e joint ventures.



Algumas das principais características relativas ao instrumento contratual de uma joint

venture merecem destaque:

                                                                                        5
   a natureza legal da joint venture e os termos sob os quais ela pode ser dissolvida;

      a constituição do conselho administrativo e o poder de votos dos parceiros;

      as responsabilidades e os direitos administrativos dos parceiros;

      a constituição da administração e a indicação do quadro administrativo;

      as condições em que o capital pode ser aumentado;

      a responsabilidade de cada um dos parceiros com relação aos ativos, finanças,

       pessoal, R&D e similares;

      os direitos dos parceiros com relação à utilização de licenças, know-how e

       marcas registradas em países terceiros;

      as limitações, caso existam, na venda de produtos da joint venture para

       determinados países ou regiões;

      uma cláusula de arbitragem indicando como as disputas entre os parceiros

       devem ser resolvidas (COOPER e ARGYRIS, 2003, p. 752-753).



Em se tratando do valor que as alianças estratégicas trazem às organizações, Thompson

e Strickland (2000, p. 174) explicitam que este não vem do acordo em si, mas,

           da capacidade dos parceiros de desarmar fricções
           organizacionais, colaborar efetivamente ao longo do tempo, e
           trabalhar por entre os diversos caminhos de mudanças que se
           encontram em sua frente – surpresas tecnológicas e surpresas
           competitivas, desenvolvimento de novos mercados (que podem
           vir num ritmo bastante rápido), e mudanças em suas próprias
           prioridades e circunstâncias competitivas.


As alianças colaborativas devem estar fortemente atreladas a uma relação em contínua

evolução, cujos benefícios e valor competitivo dependam do aprendizado mútuo, da

cooperação efetiva ao longo do tempo e de uma adaptação à mudança. Da mesma forma

que as fusões e aquisições, a vantagem competitiva numa aliança emerge quando uma


                                                                                        6
empresa adquire recursos valiosos e capacidades que não poderia obter sozinha

(THOMPSON e STRICKLAND, 2000, p. 174).



Segundo Thiétart (1990, p. 173), o estudo de setores industriais mais inclinados do que

outros à cooperação revela fatores proeminentes. Nas indústrias onde tais atividades são

mais facilmente evidenciadas, as economias de escala e os efeitos da experiência são

importantes. Trata-se ainda de setores onde as tecnologias evoluem rapidamente, onde a

entrada em novos mercados é muito custosa, onde a globalização dos produtos e a

concorrência é regra e onde os riscos operacionais são substanciais. Cada um desses

fatores pressiona as empresas a uma forma ou outra de cooperação. Por exemplo, o

compartilhamento de recursos, como fazem a Peugeot e a Renault para a fabricação de

motores, permite a realização de economias de escala (THIÉTART, 1990, p. 173).



Thompson e Strickland (2000, p. 174) complementam afirmando que as razões mais

comuns pelas quais as empresas se engajam em alianças estratégicas são: colaboração

tecnológica ou referente ao desenvolvimento de novos produtos promissores, superação

de deficits em sua expertise técnica e de manufatura, aquisição de novas competências,

melhoramento da eficiência da cadeia de suprimentos, geração de economias de escala

em produção e/ou marketing, e aquisição ou melhoramento de acesso ao mercado

através de acordos conjuntos de marketing.



A observação da prática evidencia que as cooperações mais numerosas ao longo da

década de 1980 foram as que envolveram pesquisa e desenvolvimento, motivadas pelo

custo e os riscos em matéria tecnológica, sendo facilitadas pelo seu caráter pré-

concorrencial. As alianças em matéria de produção vieram em segundo lugar no ranking

                                                                                      7
(25% do total dos acordos; 40% incluem os acordos abrangendo ao mesmo tempo P&D

e fabricação). “(...) A título de ilustração, General Motors colabora com Toyota e Isuzu

para a concepção e a produção e a produção de certos modelos de carros” (THIÉTART,

1990, p. 174).



Assim, uma empresa que está na corrida para obter uma posição forte numa indústria

necessita de uma aliança para:

   •   Estabelecer uma porta de entrada para participar na indústria visada;

   •   Dominar novas tecnologias e criar nova expertise e competências mais

       rapidamente do que seria possível simplesmente através de esforços internos;

   •   Abrir oportunidades novas oportunidades na indústria visada através da reunião

       das capacidades da empresa com a expertise e os recursos de parceiros

       (THOMPSON e STRICKLAND, 2000, p. 174).



O aprendizado resultante dessa interação entre parceiros, seja através da realização de

pesquisas conjuntas, do compartilhamento de know-how tecnológico ou da colaboração

com novas tecnologias e produtos complementares, por vezes, pode lhes oferecer a

possibilidade de seguir outras oportunidades individualmente.



Se uma aliança durará muito tempo ou não, dependerá de como os parceiros trabalham

juntos, isto é, seus sucessos em responderem e se adaptarem às condições internas e

externas de mudanças, assim como suas predisposições à renegociação em determinadas

circunstâncias (THOMPSON e STRICKLAND, 2000, p. 176). Esses autores ainda

apontam o perigo da dependência contínua de uma empresa a outra, no que se refere à



                                                                                      8
expertise e às capacidades essenciais. Nesse caso, a empresa deve procurar desenvolver

tais variáveis caso sejam vitais para a construção de vantagem competitiva.



Em efeito, cooperar implica uma coordenação subentendida entre os parceiros. Estes

demandam tempo e recursos, podendo se opor a certas decisões assim como à repartição

de tarefas, de riscos e de benefícios (THIÉTART, 1990, p. 178).



Além disso, algumas alianças oferecem apenas um potencial limitado uma vez que o

parceiro guarda suas mais valiosas competências e expertise; nesses casos, a fusão ou

aquisição com a empresa possuidora dos recursos desejados é uma solução mais

razoável (THOMPSON e STRICKLAND, 2000, p. 177).



3. Metodologia



O presente estudo se caracteriza por ser uma pesquisa qualitativa seguindo a abordagem

de Flick (2004). Utilizou-se como procedimento para a execução da pesquisa a

classificação de Jung (2004) de Estudo de Caso definida por Yin (2005).



Quanto aos seus objetivos, a presente pesquisa pode ser classificada como sendo

descritiva exploratória. Cervo e Bervian (2002, p. 66) destacam que “a pesquisa

descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem

manipulá-los”. No caso dessa pesquisa, o fenômeno observado, registrado e analisado é

a operacionalização da joint-venture entre a Ford e a Volkswagen, a Autolatina.




                                                                                     9
A Pesquisa Exploratória, segundo Cervo e Bervian (2002, p. 66), visa “familiarizar-se

com o fenômeno ou obter nova percepção do mesmo e descobrir novas idéias”. Segundo

estes autores, o objetivo deste tipo de pesquisa é descrever a situação assim como

descobrir as relações entre os elementos que fazem parte da mesma.



De acordo com a classificação de Jung (2004), o procedimento para a execução da

presente pesquisa foi de Estudo de Caso, especificamente analisou-se o caso da

Autolatina. O escopo do estudo de caso, de acordo com a definição do Yin (2005, p.

32), “é uma investigação empírica que: investiga um fenômeno contemporâneo dentro

do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o

contexto não estão claramente definidos”. Na atual pesquisa, estudou-se a constituição

da Autolatina.



Em relação à técnica de coleta de dados primários, realizou-se mediante uma entrevista

em profundidade com o controller da Autolatina, José Ramos, a quem aproveitamos

para agradecer pelas informações valiosas fornecidas sem as quais não teria sido

possível a realização deste artigo. De acordo com Roesch (1999, p. 159), este tipo de

técnica de coleta de dados “é a técnica principal da pesquisa qualitativa”.



O grau de estruturação utilizado na entrevista individual foi uma entrevista semi-

estruturada, a través de questões abertas sem a necessidade de seguir um roteiro formal,

o qual oferece maior liberdade para o entrevistador e para o entrevistado, uma vez que o

mesmo pode expor suas idéias, percepções sobre o assunto e até oferecer informações

valiosas que poderiam passar imperceptíveis numa pesquisa baseada num questionário

formal como principal ferramenta.

                                                                                     10
No que se refere à coleta dos dados secundários do caso estudado e do setor em que o

mesmo está inserido, utilizaram-se principalmente artigos de revistas especializadas,

relatórios setoriais, etc.



4. Panorama do setor automobilístico no Brasil a partir da década de 1980



Dentre os principais fenômenos considerados no escopo de mudanças da indústria

automobilística ao longo da década de 1980, citam-se: a flexibilização das máquinas; a

flexibilização das firmas, fator que implica na reestruturação empresarial, nas alianças,

na desintegração vertical e nas redes; os sistemas just-in-time (JIT); e a flexibilização do

trabalho, que envolve a flexibilidade das tarefas, das práticas de trabalho e a redução do

poder dos sindicatos (LAW, 1991, p. 10). Essas mudanças se dão em meio ao

crescimento da indústria automobilística japonesa, que passou a ditar novos modelos de

competitividade.



No início da década de 1980 pairava certo otimismo em relação às possibilidades de

crescimento da indústria automobilística no Brasil e na América Latina. O Brasil

produzia mais de um milhão de veículos, tornando-se a oitava maior manufatura do

mundo. Entretanto, com o surgimento da crise da dívida em 1982, o crescimento

contínuo dessa indústria parecia dissipar-se. A queda da renda disponível da população

e a falta de facilidades de financiamento respondiam pelos níveis ínfimos de vendas e de

produção de veículos.




                                                                                         11
Conforme ressalta Hollanda Filho (1996, p. 59), desde a implantação da indústria

automobilística no país até a década de 1980, seu constante crescimento pôde ser

atribuído em grande parte à expansão do mercado interno e, aliado à retração desse

mercado, medidas de austeridade governamentais prejudicavam mais ainda o setor

(TUMAN e MORRIS, 1998, p. 3).

           O ano de 1981, com o mercado encolhido ao nível de 1972, foi
           excepcionalmente ruim para a indústria automobilística. Mas a
           crise, que em grande parte refletia a recessão que atingia toda a
           economia do país, não seria superada até o início dos anos 90
           (HOLLANDA FILHO, 1996, p. 60).


Um outro lado desse cenário corresponde ao conflito entre as empresas do setor e o

governo. O setor automobilístico, acusado desde o início da década de 1980 de praticar

ações de cartel, não respondia a ajustes nos preços de seus produtos a partir da retração

da demanda. O governo, por sua vez, estabelecia mecanismos de controle quanto ao

preço de fábrica do automóvel. Esse controle e a alta carga tributária no setor, foram os

alvos principais das queixas do empresariado durante toda a década de 1980 (...)

(HOLLANDA FILHO, 1996, p. 62). A justificativa das montadoras em relação à prática

de seus preços vinha do encarecimento das autopeças e de insumos básicos.



Tal situação reflete a política governamental brasileira durante a década de 1980,

marcada fortemente pelo protecionismo do mercado nacional face aos produtos

importados. Segundo Baranson (1969, p. 66), as conseqüências dessa política em

relação ao setor automobilístico traz desvantagens em variados graus de intensidade:

custos de produção aumentados em comparação a padrões internacionais, o

investimento em treinamento vem a ser um gasto perdido, já que se está considerando

tecnologias em declínio, a ocorrência de um gap tecnológico e, a dificuldade de se


                                                                                      12
remover esse protecionismo construído na economia haja vista interesses de grupos

formados.



Ao longo da década de 1980, no Brasil, as importações de carros e de grande parte de

seus componentes eram banidas. Tal política, aliada a uma hiperinflação, restringiu o

número de multinacionais do setor nesse mercado geográfico e, aquelas que

permaneceram, produziam modelos antiquados a preços altos, de modo a lucrar com a

venda de pequenos volumes.



5. O Caso da Autolatina



A parceria estratégica que deu origem à Autolatina em 1987 é tida como uma joint

venture, uma estratégia de cooperação particular entre a Ford norte-americana e a

Volkswagen da Alemanha, a partir da união de suas plantas no Brasil e na Argentina. O

objetivo conjunto era lucrar num mercado fechado e restrito, compartilhando custos

para dar suporte a uma ampla gama de modelos (ANÔNIMO, 1995). A união permitiu

uma redução tanto dos investimentos quanto dos custos e, ao mesmo tempo, economias

de escala através da produção conjunta (MOFFETT; SURIS, 1994).



Essa estratégia, motivada pela crescente movimentação internacional de empresas e pela

necessidade de aumento de eficiência produtiva, contribuiu para um aumento da

participação de mercado das duas empresas. Antes da união, a Volkswagen possuía 34%

de participação de mercado no Brasil e a Ford 21%, após a constituição da Autolatina, a

nova entidade respondia por um percentual de 60% de participação.



                                                                                    13
O controle da empresa ficou com a Volkswagen, que possuía 51% das ações. A diretoria

da empresa estava constituída por um presidente da Volkswagen, um vice-presidente da

Ford, três diretores da Volkswagen e dois diretores da Ford. Em relação às diversas

áreas das empresas, todas se fundiram exceto as de marketing e canais de distribuição e

vendas, isto com o objetivo de manter a individualidade de cada marca e a forma de

comercialização das mesmas. Dessa forma, os distribuidores da Volkswagen

continuaram a vender e assistir seus produtos, da mesma forma que os da Ford em

relação aos seus produtos.



O departamento de finanças ficou a cargo da Ford, considerando a tradição das

empresas americanas na administração com foco no lucro, já as áreas administrativas e

de recursos humanos foram assumidas pela Volkswagen. Também, as áreas de

engenharia e de manufatura ficaram a cargo da Volkswagen pela sua expertise.



Um dos exemplos da sinergia operacional advinda desta união foi o fechamento da

fábrica de caminhões da Volkswagen, uma vez que seu forte, na época da união, não se

concentrava nesse segmento. Após a venda dessa fábrica, a produção de ambas as

empresas se concentrou na fábrica da Ford, a qual produzia caminhões das duas marcas

sob o nome da Autolatina. O gráfico 1, referente à produção de caminhões das duas

empresas, ilustra a posição da Volkswagen em relação a Ford antes e após a união das

duas empresas.




                                                                                    14
Gráfico 1: Produção de caminhões em unidades (1981-2006)

            35000




            30000




            25000




            20000

                                                                                                                                                                               VW
                                                                                                                                                                               Ford
            15000




            10000




             5000




               0
                               83




                                                                             91




                                                                                                        96
                    1
                         82



                                     84

                                           85

                                                  6
                                                        87

                                                                 88

                                                                89

                                                                       90



                                                                                   92

                                                                                            93

                                                                                           94

                                                                                                  95



                                                                                                              97

                                                                                                                    98

                                                                                                                           9
                                                                                                                                 00

                                                                                                                                          01

                                                                                                                                         02

                                                                                                                                                03

                                                                                                                                                       4
                                                                                                                                                             05

                                                                                                                                                                   06
                  8




                                                   8




                                                                                                                            9




                                                                                                                                                        0
                        19

                              19

                                    19

                                          19



                                                       19

                                                             19

                                                              19

                                                                      19

                                                                            19

                                                                                  19

                                                                                        19

                                                                                         19

                                                                                                 19

                                                                                                       19

                                                                                                             19

                                                                                                                   19



                                                                                                                                20

                                                                                                                                      20

                                                                                                                                       20

                                                                                                                                               20



                                                                                                                                                            20

                                                                                                                                                                  20
               19




                                                19




                                                                                                                         19




                                                                                                                                                     20
                                               Fonte: Anfavea, pesquisa direta (2008)




A partir do início dos anos 2000, a Volkswagen adquiriu a posição de líder em

participação de mercado de caminhões, conforme apresentado no gráfico 2, como

conseqüência do conhecimento adquirido pela joint venture e de novos investimentos,

explicitados mais adiante.

    Gráfico 2: Vendas internas de caminhões nacionais no atacado (1981-2006)

                30000




                25000




                20000




                                                                                                                                                                        VW
                15000
                                                                                                                                                                        Ford




                10000




                    5000




                        0
                           83

                          84

                          85

                          86

                          87

                           88

                           89

                          90

                          91

                          92




                           95

                          96

                          97

                          98

                          99

                           00

                          01

                          02

                          03

                          04

                          05

                           06
                          81

                          82




                          93

                          94
                        19




                        20




                        20
                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19



                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19



                        20

                        20

                        20

                        20

                        20




                                               Fonte: Anfavea, pesquisa direta (2008)

                                                                                                                                                                                      15
Como exemplos dos modelos híbridos resultantes das operações conjuntas de ambas as

empresas, a Volkswagen produzia os Ford Versailles e Royale (derivados dos

Volkswagen Santana e Quantum) e a Ford produzia os Volkswagen Logus e Pointer

(derivado do Ford Escort). Outros carros também foram exemplos como o Ford Verona

e Volkswagen Apollo, modelo esse que constituiu o produto de menor sucesso da união.



Apesar do aumento em poder de negociação com os fornecedores pelo maior volume de

compras, já que muitas peças eram comuns para os carros das duas marcas, além da

economia de escala e da diminuição dos custos de P&D, diversos problemas vieram à

tona, oriundos da administração de duas marcas que concorriam no mesmo mercado.

Foi o caso da perda de participação de mercado da Volkswagen para o Uno Mille,

produto da empresa Fiat voltado para o segmento de carros “populares”; a Ford, durante

vários anos, ignorou esse mercado, optara por uma estratégia diferente. Sua entrada

tardia nesse mercado se deu apenas anos depois com a introdução do modelo Ford Ka.



Por outro lado, a Volkswagen considerava remodelar o modelo Gol. Tal iniciativa ia

contra os interesses da Ford que não queria dar início a esse projeto, pois tinha planos

que priorizavam a linha Escort. Finalmente, conforme o Gráfico 3, evidencia-se o

aumento de vendas dos carros da Volkswagen enquanto os carros da Ford perdiam cada

vez mais participação no mercado brasileiro, principalmente em 1993, um ano antes da

dissolução da empresa.




                                                                                     16
Gráfico 1: Vendas internas de veículos nacionais no atacado (Ford, VW, GM e

                                             Fiat)

                   600.000




                   500.000




                   400.000



                                                                            Ford
        Unidades




                                                                            VW
                   300.000
                                                                            GM
                                                                            Fiat



                   200.000




                   100.000




                        0
                          80



                          82

                          83

                          84

                          85

                          86




                          91

                          92

                          93

                          94

                          95

                          96

                          97

                          98

                          99

                          00

                          01




                          05

                          06
                          81




                          87

                          88

                          89

                          90




                          02

                          03

                          04
                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

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                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        19

                        20

                        20

                        20

                        20

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                        20

                        20
                             Fonte: Pesquisa direta, Anfavea (2007)




A esses problemas operacionais, somaram-se os conflitos de ambas as empresas com as

respectivas matrizes, pois, embora não fossem concorrentes nos mercados internos do

Brasil e da Argentina, eram rivais no mercado internacional. Esse motivo impedia as

matrizes de realizarem grandes investimentos nessas filiais além de limitarem ações de

transferência de tecnologia e troca de conhecimento técnico, considerando possíveis

ações oportunísticas de cada uma. A Autolatina, dessa forma, isolava-se em meio a um

ambiente com novos desafios competitivos no início da década de 90.



O novo ambiente institucional, inaugurado com a abertura da economia brasileira ao

mercado internacional, forçava a Autolatina a reaver seu posicionamento estratégico.

Inicialmente, a importação de veículos, antes restrita, passava a ameaçar a posição dos

veículos Ford e Volkswagen fabricados no Brasil. Além disso, outras empresas

                                                                                    17
automobilísticas, se preparavam para entrar no mercado brasileiro, haja vista a

estabilização da inflação e o aumento dos níveis de consumo (MOFFETT; SURIS,

1994).



A decisão quanto à extinção da união das empresas no Brasil foi definida após a troca

dos presidentes no comando mundial, os quais não participaram do processo de parceria

e naquele momento não tinham interesse em manter o acordo. Tal atitude era

especialmente particular a Ford, que havia se prejudicado muito em termos de

competitividade com a união. A decisão de dissolver a Autolatina foi tomada no final de

1994 e efetivou-se em 1996, uma vez que os sistemas de informações deveriam ser

separados e passarem a corresponder aos processos de cada empresa.



A partir de uma conscientização por parte das duas empresas quanto à necessidade de

uma ruptura, houve uma separação pacífica. Uma consultoria internacional foi

contratada com a missão de avaliar a empresa e, em função disso, cada uma ficou com

sua respectiva fatia. Em relação aos funcionários, foi dada a escolha para qual empresa

desejassem trabalhar, Ford ou Volkswagen, independentemente de seu vínculo inicial.

Finalmente, realizou-se um acordo a partir do qual ambas as empresas se

comprometeriam em fornecer seus componentes para os produtos híbridos elaborados a

partir da união. Após esse período, cada empresa deveria estar capacitada a trabalhar

com seus próprios recursos.



6. Desafios pós-ruptura




                                                                                    18
Num depoimento proferido no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São

Paulo em 1993, o então presidente da Autolatina, Pierre-Alain De Smedt, tratou de

importantes tópicos: a necessidade de mudança de comportamento por parte das

empresas do setor, desafios a serem vencidos e uma política industrial mais direcionada

por parte do governo. Essas questões diziam respeito ao delicado ambiente em que

estava inserida a indústria automobilística brasileira (SMEDT, 1993).



Quanto ao primeiro tópico, segundo Smedt (1993), era necessária uma mudança de

atitude radical no diálogo da indústria automobilística com o governo, com os

fornecedores, com os revendedores e com os trabalhadores. Esse discurso exortava um

espírito de cooperação entre os diversos atores envolvidos no setor na busca para vencer

os desafios do atraso tecnológico, dos problemas de custo e produtividade, da qualidade

e das incertezas econômicas e políticas. Nesse novo ambiente de cooperação, as

empresas do setor estariam mais aptas a atuarem num contexto mais dinâmico de

competição.



Com a abertura do mercado brasileiro e novas promessas de crescimento, Ford e VW

passaram a trilhar diferentes caminhos. Conforme Colitt (2000), ao fim da Autolatina, o

grupo norte-americano se viu com uma fraca rede de distribuição e marketing, ficando

fora do mercado de carros populares, segmento que passou a dominar o mercado

brasileiro (KARP, 2002). A VW, por sua vez, abraçou o novo ambiente de competição,

dando início, em 1995, a projetos da ordem de 2,5 bilhões de dólares. Seus projetos

compreendiam a expansão da capacidade de suas duas plantas de automóveis, elevando

seu potencial de produção para 2.500 veículos por dia e a inauguração de uma nova



                                                                                     19
planta para produção de caminhões, além da criação de uma nova linha de motores

simultaneamente no Brasil e na Europa.



A nova planta de caminhões, ação inovadora da empresa, foi inaugurada em novembro

de 1996, adotando o chamado consórcio modular como sistema de produção. Liderado

por Ignacio Lopez Arriortúa, o então vice-presidente mundial da VW e idealizador

desse sistema, a fábrica de caminhões localizada Resende (RJ) foi resultado de um

investimento de US$ 300 milhões de dólares. Algumas peculiaridades desse sistema

são:

      os trabalhadores da VW são responsáveis pela engenharia, qualidade e

       distribuição, enquanto as atividades de montagem são executadas por seus

       principais fornecedores;

      a planta trabalha para atender os pedidos, dessa forma, não há atividades de

       previsão ou de inventário;

      os custos fixos da planta são pagos pelos fornecedores que, além de produzirem

       seus componentes em consonância com os pedidos solicitados à fábrica, são

       responsáveis pela entrega do produto completo; e

      o pagamento aos fornecedores somente após o veículo passar por uma inspeção

       final (ETTLIE, 1996).



No ano de 2007, segundo a Agência Autoinforme (2007), a VW apresentou o maior

crescimento no País, registrando vendas de 464.010 unidades até outubro, e

correspondendo a um crescimento de 0,65% de participação no mercado. Entretanto,

sua liderança no mercado ainda ficou atrás da Fiat.



                                                                                  20
Segundo Colitt (2000), somente ao final da década de 1990, com perdas da ordem de

600 milhões de dólares, sendo 80% relacionados às operações no Brasil, a Ford se

engajou num novo projeto estratégico. Agora inserida num ambiente econômico

brasileiro mais estável, a empresa decidiu dar início a profundas mudanças em suas

atividades no país. Para isso, o CEO Jac Nasser contratou, em julho de 1999, Antonio

Maciel Neto, executivo cuja experiência se fez notável por haver salvo duas companhias

brasileiras que estavam à beira da falência.



Dentre as principais iniciativas sob seu comando, destacadas por Colitt (2000), podem

ser mencionadas:

      a construção de uma das mais modernas plantas automotivas na cidade de

       Camaçari – BA, investimento da ordem de 1,7 bilhões de dólares, permitindo

       redução de custos e uma produção mais flexível de longo prazo;

      a implementação de uma abordagem regional da estratégia global da empresa, na

       qual toda a operação, desde o design do produto até sua montagem e marketing,

       teria uma identidade “mais brasileira”, sendo o modelo Eco Sport um dos

       principais resultados dessa estratégia;

      a substituição de mais da metade dos 300 gerentes, com a contratação inclusive

       de executivos de bancos, empresas de varejo e até da ex-parceira VW;

      a redução do número de distribuidores de 350 para 240 e concomitante aumento

       do número de pontos de venda de 360 para 450, tendo em vista estabelecer

       melhores relações;

      a melhora nos serviços ao cliente com a expansão do sistema de atendimento;




                                                                                     21
   uma significativa economia de custos na cadeia de suprimentos a partir da

       renegociação de contratos, escolha de novos fornecedores e compras pela

       internet.



7. Considerações Finais



A joint venture Autolatina foi concebida pela Ford. A empresa americana tinha como

objetivo aliar-se a uma concorrente forte no mercado brasileiro, visando ganhar

competitividade e aumentar sua participação de mercado, haja vista o ambiente

institucional vigente. A sua dissolução, por outro lado, representou o início de uma nova

fase na economia brasileira.



A Autolatina teve o desafio de trabalhar com duas marcas tradicionalmente

concorrentes no mercado interno, mas que permaneciam concorrentes no mercado

internacional. Mesmo as duas empresas deixando de operar sob o seu nome original, a

nova Autolatina estampava a marca de seus carros como Ford e Volkswagen, isto é, o

setor comercial da empresa funcionava independentemente. Assim, a produção foi o

principal aspecto contemplado pela união da Ford e Volkswagen.



A partir da compreensão de um novo contexto competitivo nacional, as duas empresas,

em diferentes momentos, souberam ajustar suas estratégias de manufatura de forma

bastante inovadora. O novo cenário do setor em meados da década de 1990 incentivou

os líderes da VW a aplicarem um novo modelo de operações em uma de suas plantas,

tornando-se um benchmarking para a indústria automobilística nacional. A Ford, por

sua vez, somente anos após a dissolução da joint venture com a VW, decidiu posicionar-

                                                                                      22
se agressivamente no mercado brasileiro. Tal esforço vem sendo recompensado pela

participação de mercado da ordem de 13,5% e o registro de 15 lucros trimestrais

seguidos (AUTOINFORME, 2007).



O contexto político-econômico da década de 1980 foi marcado por conflitos entre o

governo e empresários do setor automobilístico. Conforme explicitado por Smedt

(1993), havia o desafio da falta de uma atitude cooperativa, de uma política industrial.

Um movimento estratégico como a Autolatina certamente foi dispendioso para as duas

empresas, especialmente com a sua dissolução ao se considerar a perda de

conhecimentos, importantes em termos de competitividade, de uma empresa para outra.

Entretanto, a dissolução da joint venture representou o início de uma nova era de

competitividade no cenário econômico brasileiro.



Finalmente, considera-se aqui um caso de união estratégica incomum em relação a

outros recentemente evidenciados. Enquanto grande parte dessas uniões buscava

complementaridades de modo a aproveitar maiores oportunidades num mercado

globalizado, a Autolatina figurou-se como uma estratégia de sobrevivência da Ford no

Brasil no momento da união com a VW, num contexto político-econômico

protecionista, embora ambas também buscassem complementaridades.



Referências



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  • 1. Aliança Estratégica na Indústria Automobilística: O Caso da Autolatina HEIDY RODRIGUEZ RAMOS Departamento de Administração Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Sala E-200 – Cidade Universitária. São Paulo. Brasil heidy@usp.br AFONSO CARNEIRO LIMA Departamento de Administração Universidade de São Paulo Rua Válson Lopes, 101, sala S3. 05360-020. São Paulo-SP. Brasil. afonsolima@usp.br MARTINHO ISNARD RIBEIRO DE ALMEIDA Departamento de Administração Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Sala E-200 – Cidade Universitária. São Paulo. Brasil martinho@usp.br 1
  • 2. RESUMO O objetivo deste artigo é revisitar a operacionalização da Autolatina, uma joint-venture entre as empresas Ford e Volkswagen (VW), no ano de 1987. Trata inicialmente de alguns aspectos teóricos acerca de alianças estratégicas, contextualizando a indústria automobilística brasileira durante a década de 1980. Procura estabelecer as motivações por parte da Ford e da VW no momento da criação da Autolatina, ao longo de sua existência e após a sua dissolução, associando-as às características do ambiente competitivo brasileiro ao longo das duas últimas décadas. A partir da compreensão de um novo contexto competitivo nacional, as duas empresas, em diferentes momentos, souberam ajustar suas estratégias de manufatura de forma bastante inovadora. A Autolatina figurou-se como uma estratégia de sobrevivência da Ford no Brasil no momento da união com a VW, num contexto político-econômico protecionista, embora ambas também buscassem complementaridades. Dentre alguns dos resultados com o fim dessa parceria, pode-se citar a perda de know-how de um dos lados e ganho de expertise operacional de outro. PALAVRAS-CHAVE: alianças estratégicas, indústria automobilística, ambiente competitivo. ABSTRACT The purpose of this article is to analyze the start up of Autolatina, a Brazilian joint- venture between Ford and Volkswagen (VW) in 1987. Firstly, the paper presents some theoretical aspects of strategic alliances; secondly, it contextualizes the Brazilian automotive industry in the 1980s, showing strong economic and institutional influences in this industry. Finally, the paper places both Ford and VW motivations at the conception of Autolatina, bringing up relevant aspects of their cooperative relationship and its dissolution in 1994. While comprehending two national competitive contexts, the two companies, in two different occasions, knew how to adjust their manufacturing strategies in a very innovative way. Autolatina is considered Ford’s strategy for survival in Brazil at the time of its union with VW, in a political and economic protectionist environment, although both companies searched for synergies. KEYWORDS: strategic alliances, automotive industry, competitive environment. 2
  • 3. 1. Introdução Há várias décadas, a indústria automobilística vem se mostrando um fértil terreno e laboratório para a realização de pesquisas nas ciências sociais, em especial na administração de empresas. Ao evidenciar particularidades e problemas complexos, ela tem estado, por vezes, à frente de muitos dos temas correntemente tratados pela academia, fornecendo também interessantes contribuições para teorias já existentes. Pode-se dizer, com base em pesquisas existentes, que a indústria automobilística tem constantemente contribuído com a evolução da ciência da administração de empresas. Trata-se de uma indústria de amplo poder de mobilização e emprego de recursos, assim como de organização de segmentos relacionados: desde fornecedores de autopeças, até distribuidores de seus produtos. Haja vista seu papel de “estimulador econômico”, o setor automobilístico é considerado estratégico para muitos países (OICA, 2007). Somente no Brasil, em 2007, o setor automotivo, incluindo autopeças, respondeu por 15% do PIB industrial; contribuiu ainda para um volume de exportações da ordem de US$11,2 bilhões (ANFAVEA, 2007). O presente trabalho tem como objetivo estudar a operacionalização da joint-venture entre duas empresas, Ford e Volkswagen, cujo resultado foi a criação da Autolatina, no ano de 1987. Ações estratégicas como essa em questão vêm possibilitando as indústrias automobilísticas a mobilizarem recursos e operacionalizar suas atividades em escala internacional desde a primeira parte do século XX. 3
  • 4. De modo que se compreenda a formação da Autolatina, o artigo trata inicialmente de alguns aspectos teóricos de alianças estratégicas; contextualiza, em seguida, a indústria automobilística brasileira durante a década de 1980, exibindo influências econômico- institucionais marcantes no setor; coloca as motivações por parte da Ford e da Volkswagen no momento da criação da Autolatina, ao longo de sua existência e após a sua dissolução, associando-as às características do ambiente competitivo brasileiro ao longo das duas últimas décadas. 2. Revisão da literatura 2.1 Alianças Estratégicas Ao longo da década de 1980, houve um aumento acentuado não só do número de fusões e aquisições, mas também de alianças estratégicas, entendida esta última como “arranjos entre duas ou mais empresas independentes que empreendem um projeto ou operam numa área específica de negócios coordenando competências e recursos conjuntamente ao invés de operarem sozinhas ou fundindo suas operações (DUSSAUGE et al, 2004)”. Esses acordos, de uma maneira geral, assim como as fusões e aquisições, são postos em prática por empresas que não possuem condições de assumir por si só o custo e o risco de seu desenvolvimento e, surgem, de acordo com Spekman e Sawhney (1990), a partir de contingências como a crescente competição, rápida mudança tecnológica e crescente necessidade de informações. As alianças estratégicas possuem origem no reconhecimento das grandes limitações do ambiente competitivo em termos de recursos e tempo. As empresas engajadas em alianças, em geral, reformulam suas metas empresariais, optando pela criação de oportunidades que lhes configurem menores custos de transação e maiores vantagens competitivas. O acesso a mercados, tecnologia e know how são motivos fundamentais à constituição dessas parcerias (VERSIANI, 1995). 4
  • 5. Acerca de seus aspectos estruturais, as alianças estratégicas exigem de seus participantes certo grau de troca ou compartilhamento de recursos e capacidades, de maneira a atingirem uma meta em conjunto, como o co-desenvolvimento ou distribuição de bens ou serviços (HITT et al., 2003, p. 77; KEEGAN e GREEN, 2006, p. 272; KOTABE e HELSEN, 2000, p. 262). Segundo Todeva e Knoke (2005), uma aliança estratégica envolve pelo menos duas empresas parceiras que (a) continuam legalmente independentes após a formação da aliança, (b) compartilham benefícios e controle gerencial sobre o desempenho de tarefas designadas e (c) realizam contribuições contínuas em uma ou mais áreas estratégicas, como tecnologia ou produtos. As bases dessa estrutura cooperativa se dão a partir da compreensão das diferentes intenções das empresas envolvidas e na crença da integração dessas diferenças num objetivo comum. Já alguns dos fundamentos integradores, segundo Spekman e Sawney (1990) são o consenso, o comprometimento, a solidariedade e a coesão. Esses elementos são essenciais à formação das alianças, pois tornarão possível a divisão do controle das operações. Há uma grande diversidade taxonômica referente a alianças estratégicas na literatura. Todeva e Knoke (2005) colocam treze diferentes classificações levando em conta níveis de integração. Hitt et al. (2003, p. 278-279), por sua vez, levam em conta três tipologias principais. Alguns exemplos dessas taxonomias são: o licenciamento, as parcerias em P&D, kereitsu e joint ventures. Algumas das principais características relativas ao instrumento contratual de uma joint venture merecem destaque: 5
  • 6. a natureza legal da joint venture e os termos sob os quais ela pode ser dissolvida;  a constituição do conselho administrativo e o poder de votos dos parceiros;  as responsabilidades e os direitos administrativos dos parceiros;  a constituição da administração e a indicação do quadro administrativo;  as condições em que o capital pode ser aumentado;  a responsabilidade de cada um dos parceiros com relação aos ativos, finanças, pessoal, R&D e similares;  os direitos dos parceiros com relação à utilização de licenças, know-how e marcas registradas em países terceiros;  as limitações, caso existam, na venda de produtos da joint venture para determinados países ou regiões;  uma cláusula de arbitragem indicando como as disputas entre os parceiros devem ser resolvidas (COOPER e ARGYRIS, 2003, p. 752-753). Em se tratando do valor que as alianças estratégicas trazem às organizações, Thompson e Strickland (2000, p. 174) explicitam que este não vem do acordo em si, mas, da capacidade dos parceiros de desarmar fricções organizacionais, colaborar efetivamente ao longo do tempo, e trabalhar por entre os diversos caminhos de mudanças que se encontram em sua frente – surpresas tecnológicas e surpresas competitivas, desenvolvimento de novos mercados (que podem vir num ritmo bastante rápido), e mudanças em suas próprias prioridades e circunstâncias competitivas. As alianças colaborativas devem estar fortemente atreladas a uma relação em contínua evolução, cujos benefícios e valor competitivo dependam do aprendizado mútuo, da cooperação efetiva ao longo do tempo e de uma adaptação à mudança. Da mesma forma que as fusões e aquisições, a vantagem competitiva numa aliança emerge quando uma 6
  • 7. empresa adquire recursos valiosos e capacidades que não poderia obter sozinha (THOMPSON e STRICKLAND, 2000, p. 174). Segundo Thiétart (1990, p. 173), o estudo de setores industriais mais inclinados do que outros à cooperação revela fatores proeminentes. Nas indústrias onde tais atividades são mais facilmente evidenciadas, as economias de escala e os efeitos da experiência são importantes. Trata-se ainda de setores onde as tecnologias evoluem rapidamente, onde a entrada em novos mercados é muito custosa, onde a globalização dos produtos e a concorrência é regra e onde os riscos operacionais são substanciais. Cada um desses fatores pressiona as empresas a uma forma ou outra de cooperação. Por exemplo, o compartilhamento de recursos, como fazem a Peugeot e a Renault para a fabricação de motores, permite a realização de economias de escala (THIÉTART, 1990, p. 173). Thompson e Strickland (2000, p. 174) complementam afirmando que as razões mais comuns pelas quais as empresas se engajam em alianças estratégicas são: colaboração tecnológica ou referente ao desenvolvimento de novos produtos promissores, superação de deficits em sua expertise técnica e de manufatura, aquisição de novas competências, melhoramento da eficiência da cadeia de suprimentos, geração de economias de escala em produção e/ou marketing, e aquisição ou melhoramento de acesso ao mercado através de acordos conjuntos de marketing. A observação da prática evidencia que as cooperações mais numerosas ao longo da década de 1980 foram as que envolveram pesquisa e desenvolvimento, motivadas pelo custo e os riscos em matéria tecnológica, sendo facilitadas pelo seu caráter pré- concorrencial. As alianças em matéria de produção vieram em segundo lugar no ranking 7
  • 8. (25% do total dos acordos; 40% incluem os acordos abrangendo ao mesmo tempo P&D e fabricação). “(...) A título de ilustração, General Motors colabora com Toyota e Isuzu para a concepção e a produção e a produção de certos modelos de carros” (THIÉTART, 1990, p. 174). Assim, uma empresa que está na corrida para obter uma posição forte numa indústria necessita de uma aliança para: • Estabelecer uma porta de entrada para participar na indústria visada; • Dominar novas tecnologias e criar nova expertise e competências mais rapidamente do que seria possível simplesmente através de esforços internos; • Abrir oportunidades novas oportunidades na indústria visada através da reunião das capacidades da empresa com a expertise e os recursos de parceiros (THOMPSON e STRICKLAND, 2000, p. 174). O aprendizado resultante dessa interação entre parceiros, seja através da realização de pesquisas conjuntas, do compartilhamento de know-how tecnológico ou da colaboração com novas tecnologias e produtos complementares, por vezes, pode lhes oferecer a possibilidade de seguir outras oportunidades individualmente. Se uma aliança durará muito tempo ou não, dependerá de como os parceiros trabalham juntos, isto é, seus sucessos em responderem e se adaptarem às condições internas e externas de mudanças, assim como suas predisposições à renegociação em determinadas circunstâncias (THOMPSON e STRICKLAND, 2000, p. 176). Esses autores ainda apontam o perigo da dependência contínua de uma empresa a outra, no que se refere à 8
  • 9. expertise e às capacidades essenciais. Nesse caso, a empresa deve procurar desenvolver tais variáveis caso sejam vitais para a construção de vantagem competitiva. Em efeito, cooperar implica uma coordenação subentendida entre os parceiros. Estes demandam tempo e recursos, podendo se opor a certas decisões assim como à repartição de tarefas, de riscos e de benefícios (THIÉTART, 1990, p. 178). Além disso, algumas alianças oferecem apenas um potencial limitado uma vez que o parceiro guarda suas mais valiosas competências e expertise; nesses casos, a fusão ou aquisição com a empresa possuidora dos recursos desejados é uma solução mais razoável (THOMPSON e STRICKLAND, 2000, p. 177). 3. Metodologia O presente estudo se caracteriza por ser uma pesquisa qualitativa seguindo a abordagem de Flick (2004). Utilizou-se como procedimento para a execução da pesquisa a classificação de Jung (2004) de Estudo de Caso definida por Yin (2005). Quanto aos seus objetivos, a presente pesquisa pode ser classificada como sendo descritiva exploratória. Cervo e Bervian (2002, p. 66) destacam que “a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”. No caso dessa pesquisa, o fenômeno observado, registrado e analisado é a operacionalização da joint-venture entre a Ford e a Volkswagen, a Autolatina. 9
  • 10. A Pesquisa Exploratória, segundo Cervo e Bervian (2002, p. 66), visa “familiarizar-se com o fenômeno ou obter nova percepção do mesmo e descobrir novas idéias”. Segundo estes autores, o objetivo deste tipo de pesquisa é descrever a situação assim como descobrir as relações entre os elementos que fazem parte da mesma. De acordo com a classificação de Jung (2004), o procedimento para a execução da presente pesquisa foi de Estudo de Caso, especificamente analisou-se o caso da Autolatina. O escopo do estudo de caso, de acordo com a definição do Yin (2005, p. 32), “é uma investigação empírica que: investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Na atual pesquisa, estudou-se a constituição da Autolatina. Em relação à técnica de coleta de dados primários, realizou-se mediante uma entrevista em profundidade com o controller da Autolatina, José Ramos, a quem aproveitamos para agradecer pelas informações valiosas fornecidas sem as quais não teria sido possível a realização deste artigo. De acordo com Roesch (1999, p. 159), este tipo de técnica de coleta de dados “é a técnica principal da pesquisa qualitativa”. O grau de estruturação utilizado na entrevista individual foi uma entrevista semi- estruturada, a través de questões abertas sem a necessidade de seguir um roteiro formal, o qual oferece maior liberdade para o entrevistador e para o entrevistado, uma vez que o mesmo pode expor suas idéias, percepções sobre o assunto e até oferecer informações valiosas que poderiam passar imperceptíveis numa pesquisa baseada num questionário formal como principal ferramenta. 10
  • 11. No que se refere à coleta dos dados secundários do caso estudado e do setor em que o mesmo está inserido, utilizaram-se principalmente artigos de revistas especializadas, relatórios setoriais, etc. 4. Panorama do setor automobilístico no Brasil a partir da década de 1980 Dentre os principais fenômenos considerados no escopo de mudanças da indústria automobilística ao longo da década de 1980, citam-se: a flexibilização das máquinas; a flexibilização das firmas, fator que implica na reestruturação empresarial, nas alianças, na desintegração vertical e nas redes; os sistemas just-in-time (JIT); e a flexibilização do trabalho, que envolve a flexibilidade das tarefas, das práticas de trabalho e a redução do poder dos sindicatos (LAW, 1991, p. 10). Essas mudanças se dão em meio ao crescimento da indústria automobilística japonesa, que passou a ditar novos modelos de competitividade. No início da década de 1980 pairava certo otimismo em relação às possibilidades de crescimento da indústria automobilística no Brasil e na América Latina. O Brasil produzia mais de um milhão de veículos, tornando-se a oitava maior manufatura do mundo. Entretanto, com o surgimento da crise da dívida em 1982, o crescimento contínuo dessa indústria parecia dissipar-se. A queda da renda disponível da população e a falta de facilidades de financiamento respondiam pelos níveis ínfimos de vendas e de produção de veículos. 11
  • 12. Conforme ressalta Hollanda Filho (1996, p. 59), desde a implantação da indústria automobilística no país até a década de 1980, seu constante crescimento pôde ser atribuído em grande parte à expansão do mercado interno e, aliado à retração desse mercado, medidas de austeridade governamentais prejudicavam mais ainda o setor (TUMAN e MORRIS, 1998, p. 3). O ano de 1981, com o mercado encolhido ao nível de 1972, foi excepcionalmente ruim para a indústria automobilística. Mas a crise, que em grande parte refletia a recessão que atingia toda a economia do país, não seria superada até o início dos anos 90 (HOLLANDA FILHO, 1996, p. 60). Um outro lado desse cenário corresponde ao conflito entre as empresas do setor e o governo. O setor automobilístico, acusado desde o início da década de 1980 de praticar ações de cartel, não respondia a ajustes nos preços de seus produtos a partir da retração da demanda. O governo, por sua vez, estabelecia mecanismos de controle quanto ao preço de fábrica do automóvel. Esse controle e a alta carga tributária no setor, foram os alvos principais das queixas do empresariado durante toda a década de 1980 (...) (HOLLANDA FILHO, 1996, p. 62). A justificativa das montadoras em relação à prática de seus preços vinha do encarecimento das autopeças e de insumos básicos. Tal situação reflete a política governamental brasileira durante a década de 1980, marcada fortemente pelo protecionismo do mercado nacional face aos produtos importados. Segundo Baranson (1969, p. 66), as conseqüências dessa política em relação ao setor automobilístico traz desvantagens em variados graus de intensidade: custos de produção aumentados em comparação a padrões internacionais, o investimento em treinamento vem a ser um gasto perdido, já que se está considerando tecnologias em declínio, a ocorrência de um gap tecnológico e, a dificuldade de se 12
  • 13. remover esse protecionismo construído na economia haja vista interesses de grupos formados. Ao longo da década de 1980, no Brasil, as importações de carros e de grande parte de seus componentes eram banidas. Tal política, aliada a uma hiperinflação, restringiu o número de multinacionais do setor nesse mercado geográfico e, aquelas que permaneceram, produziam modelos antiquados a preços altos, de modo a lucrar com a venda de pequenos volumes. 5. O Caso da Autolatina A parceria estratégica que deu origem à Autolatina em 1987 é tida como uma joint venture, uma estratégia de cooperação particular entre a Ford norte-americana e a Volkswagen da Alemanha, a partir da união de suas plantas no Brasil e na Argentina. O objetivo conjunto era lucrar num mercado fechado e restrito, compartilhando custos para dar suporte a uma ampla gama de modelos (ANÔNIMO, 1995). A união permitiu uma redução tanto dos investimentos quanto dos custos e, ao mesmo tempo, economias de escala através da produção conjunta (MOFFETT; SURIS, 1994). Essa estratégia, motivada pela crescente movimentação internacional de empresas e pela necessidade de aumento de eficiência produtiva, contribuiu para um aumento da participação de mercado das duas empresas. Antes da união, a Volkswagen possuía 34% de participação de mercado no Brasil e a Ford 21%, após a constituição da Autolatina, a nova entidade respondia por um percentual de 60% de participação. 13
  • 14. O controle da empresa ficou com a Volkswagen, que possuía 51% das ações. A diretoria da empresa estava constituída por um presidente da Volkswagen, um vice-presidente da Ford, três diretores da Volkswagen e dois diretores da Ford. Em relação às diversas áreas das empresas, todas se fundiram exceto as de marketing e canais de distribuição e vendas, isto com o objetivo de manter a individualidade de cada marca e a forma de comercialização das mesmas. Dessa forma, os distribuidores da Volkswagen continuaram a vender e assistir seus produtos, da mesma forma que os da Ford em relação aos seus produtos. O departamento de finanças ficou a cargo da Ford, considerando a tradição das empresas americanas na administração com foco no lucro, já as áreas administrativas e de recursos humanos foram assumidas pela Volkswagen. Também, as áreas de engenharia e de manufatura ficaram a cargo da Volkswagen pela sua expertise. Um dos exemplos da sinergia operacional advinda desta união foi o fechamento da fábrica de caminhões da Volkswagen, uma vez que seu forte, na época da união, não se concentrava nesse segmento. Após a venda dessa fábrica, a produção de ambas as empresas se concentrou na fábrica da Ford, a qual produzia caminhões das duas marcas sob o nome da Autolatina. O gráfico 1, referente à produção de caminhões das duas empresas, ilustra a posição da Volkswagen em relação a Ford antes e após a união das duas empresas. 14
  • 15. Gráfico 1: Produção de caminhões em unidades (1981-2006) 35000 30000 25000 20000 VW Ford 15000 10000 5000 0 83 91 96 1 82 84 85 6 87 88 89 90 92 93 94 95 97 98 9 00 01 02 03 4 05 06 8 8 9 0 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20 20 20 20 20 19 19 19 20 Fonte: Anfavea, pesquisa direta (2008) A partir do início dos anos 2000, a Volkswagen adquiriu a posição de líder em participação de mercado de caminhões, conforme apresentado no gráfico 2, como conseqüência do conhecimento adquirido pela joint venture e de novos investimentos, explicitados mais adiante. Gráfico 2: Vendas internas de caminhões nacionais no atacado (1981-2006) 30000 25000 20000 VW 15000 Ford 10000 5000 0 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 81 82 93 94 19 20 20 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20 20 20 20 Fonte: Anfavea, pesquisa direta (2008) 15
  • 16. Como exemplos dos modelos híbridos resultantes das operações conjuntas de ambas as empresas, a Volkswagen produzia os Ford Versailles e Royale (derivados dos Volkswagen Santana e Quantum) e a Ford produzia os Volkswagen Logus e Pointer (derivado do Ford Escort). Outros carros também foram exemplos como o Ford Verona e Volkswagen Apollo, modelo esse que constituiu o produto de menor sucesso da união. Apesar do aumento em poder de negociação com os fornecedores pelo maior volume de compras, já que muitas peças eram comuns para os carros das duas marcas, além da economia de escala e da diminuição dos custos de P&D, diversos problemas vieram à tona, oriundos da administração de duas marcas que concorriam no mesmo mercado. Foi o caso da perda de participação de mercado da Volkswagen para o Uno Mille, produto da empresa Fiat voltado para o segmento de carros “populares”; a Ford, durante vários anos, ignorou esse mercado, optara por uma estratégia diferente. Sua entrada tardia nesse mercado se deu apenas anos depois com a introdução do modelo Ford Ka. Por outro lado, a Volkswagen considerava remodelar o modelo Gol. Tal iniciativa ia contra os interesses da Ford que não queria dar início a esse projeto, pois tinha planos que priorizavam a linha Escort. Finalmente, conforme o Gráfico 3, evidencia-se o aumento de vendas dos carros da Volkswagen enquanto os carros da Ford perdiam cada vez mais participação no mercado brasileiro, principalmente em 1993, um ano antes da dissolução da empresa. 16
  • 17. Gráfico 1: Vendas internas de veículos nacionais no atacado (Ford, VW, GM e Fiat) 600.000 500.000 400.000 Ford Unidades VW 300.000 GM Fiat 200.000 100.000 0 80 82 83 84 85 86 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 05 06 81 87 88 89 90 02 03 04 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20 20 20 20 20 20 Fonte: Pesquisa direta, Anfavea (2007) A esses problemas operacionais, somaram-se os conflitos de ambas as empresas com as respectivas matrizes, pois, embora não fossem concorrentes nos mercados internos do Brasil e da Argentina, eram rivais no mercado internacional. Esse motivo impedia as matrizes de realizarem grandes investimentos nessas filiais além de limitarem ações de transferência de tecnologia e troca de conhecimento técnico, considerando possíveis ações oportunísticas de cada uma. A Autolatina, dessa forma, isolava-se em meio a um ambiente com novos desafios competitivos no início da década de 90. O novo ambiente institucional, inaugurado com a abertura da economia brasileira ao mercado internacional, forçava a Autolatina a reaver seu posicionamento estratégico. Inicialmente, a importação de veículos, antes restrita, passava a ameaçar a posição dos veículos Ford e Volkswagen fabricados no Brasil. Além disso, outras empresas 17
  • 18. automobilísticas, se preparavam para entrar no mercado brasileiro, haja vista a estabilização da inflação e o aumento dos níveis de consumo (MOFFETT; SURIS, 1994). A decisão quanto à extinção da união das empresas no Brasil foi definida após a troca dos presidentes no comando mundial, os quais não participaram do processo de parceria e naquele momento não tinham interesse em manter o acordo. Tal atitude era especialmente particular a Ford, que havia se prejudicado muito em termos de competitividade com a união. A decisão de dissolver a Autolatina foi tomada no final de 1994 e efetivou-se em 1996, uma vez que os sistemas de informações deveriam ser separados e passarem a corresponder aos processos de cada empresa. A partir de uma conscientização por parte das duas empresas quanto à necessidade de uma ruptura, houve uma separação pacífica. Uma consultoria internacional foi contratada com a missão de avaliar a empresa e, em função disso, cada uma ficou com sua respectiva fatia. Em relação aos funcionários, foi dada a escolha para qual empresa desejassem trabalhar, Ford ou Volkswagen, independentemente de seu vínculo inicial. Finalmente, realizou-se um acordo a partir do qual ambas as empresas se comprometeriam em fornecer seus componentes para os produtos híbridos elaborados a partir da união. Após esse período, cada empresa deveria estar capacitada a trabalhar com seus próprios recursos. 6. Desafios pós-ruptura 18
  • 19. Num depoimento proferido no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo em 1993, o então presidente da Autolatina, Pierre-Alain De Smedt, tratou de importantes tópicos: a necessidade de mudança de comportamento por parte das empresas do setor, desafios a serem vencidos e uma política industrial mais direcionada por parte do governo. Essas questões diziam respeito ao delicado ambiente em que estava inserida a indústria automobilística brasileira (SMEDT, 1993). Quanto ao primeiro tópico, segundo Smedt (1993), era necessária uma mudança de atitude radical no diálogo da indústria automobilística com o governo, com os fornecedores, com os revendedores e com os trabalhadores. Esse discurso exortava um espírito de cooperação entre os diversos atores envolvidos no setor na busca para vencer os desafios do atraso tecnológico, dos problemas de custo e produtividade, da qualidade e das incertezas econômicas e políticas. Nesse novo ambiente de cooperação, as empresas do setor estariam mais aptas a atuarem num contexto mais dinâmico de competição. Com a abertura do mercado brasileiro e novas promessas de crescimento, Ford e VW passaram a trilhar diferentes caminhos. Conforme Colitt (2000), ao fim da Autolatina, o grupo norte-americano se viu com uma fraca rede de distribuição e marketing, ficando fora do mercado de carros populares, segmento que passou a dominar o mercado brasileiro (KARP, 2002). A VW, por sua vez, abraçou o novo ambiente de competição, dando início, em 1995, a projetos da ordem de 2,5 bilhões de dólares. Seus projetos compreendiam a expansão da capacidade de suas duas plantas de automóveis, elevando seu potencial de produção para 2.500 veículos por dia e a inauguração de uma nova 19
  • 20. planta para produção de caminhões, além da criação de uma nova linha de motores simultaneamente no Brasil e na Europa. A nova planta de caminhões, ação inovadora da empresa, foi inaugurada em novembro de 1996, adotando o chamado consórcio modular como sistema de produção. Liderado por Ignacio Lopez Arriortúa, o então vice-presidente mundial da VW e idealizador desse sistema, a fábrica de caminhões localizada Resende (RJ) foi resultado de um investimento de US$ 300 milhões de dólares. Algumas peculiaridades desse sistema são:  os trabalhadores da VW são responsáveis pela engenharia, qualidade e distribuição, enquanto as atividades de montagem são executadas por seus principais fornecedores;  a planta trabalha para atender os pedidos, dessa forma, não há atividades de previsão ou de inventário;  os custos fixos da planta são pagos pelos fornecedores que, além de produzirem seus componentes em consonância com os pedidos solicitados à fábrica, são responsáveis pela entrega do produto completo; e  o pagamento aos fornecedores somente após o veículo passar por uma inspeção final (ETTLIE, 1996). No ano de 2007, segundo a Agência Autoinforme (2007), a VW apresentou o maior crescimento no País, registrando vendas de 464.010 unidades até outubro, e correspondendo a um crescimento de 0,65% de participação no mercado. Entretanto, sua liderança no mercado ainda ficou atrás da Fiat. 20
  • 21. Segundo Colitt (2000), somente ao final da década de 1990, com perdas da ordem de 600 milhões de dólares, sendo 80% relacionados às operações no Brasil, a Ford se engajou num novo projeto estratégico. Agora inserida num ambiente econômico brasileiro mais estável, a empresa decidiu dar início a profundas mudanças em suas atividades no país. Para isso, o CEO Jac Nasser contratou, em julho de 1999, Antonio Maciel Neto, executivo cuja experiência se fez notável por haver salvo duas companhias brasileiras que estavam à beira da falência. Dentre as principais iniciativas sob seu comando, destacadas por Colitt (2000), podem ser mencionadas:  a construção de uma das mais modernas plantas automotivas na cidade de Camaçari – BA, investimento da ordem de 1,7 bilhões de dólares, permitindo redução de custos e uma produção mais flexível de longo prazo;  a implementação de uma abordagem regional da estratégia global da empresa, na qual toda a operação, desde o design do produto até sua montagem e marketing, teria uma identidade “mais brasileira”, sendo o modelo Eco Sport um dos principais resultados dessa estratégia;  a substituição de mais da metade dos 300 gerentes, com a contratação inclusive de executivos de bancos, empresas de varejo e até da ex-parceira VW;  a redução do número de distribuidores de 350 para 240 e concomitante aumento do número de pontos de venda de 360 para 450, tendo em vista estabelecer melhores relações;  a melhora nos serviços ao cliente com a expansão do sistema de atendimento; 21
  • 22. uma significativa economia de custos na cadeia de suprimentos a partir da renegociação de contratos, escolha de novos fornecedores e compras pela internet. 7. Considerações Finais A joint venture Autolatina foi concebida pela Ford. A empresa americana tinha como objetivo aliar-se a uma concorrente forte no mercado brasileiro, visando ganhar competitividade e aumentar sua participação de mercado, haja vista o ambiente institucional vigente. A sua dissolução, por outro lado, representou o início de uma nova fase na economia brasileira. A Autolatina teve o desafio de trabalhar com duas marcas tradicionalmente concorrentes no mercado interno, mas que permaneciam concorrentes no mercado internacional. Mesmo as duas empresas deixando de operar sob o seu nome original, a nova Autolatina estampava a marca de seus carros como Ford e Volkswagen, isto é, o setor comercial da empresa funcionava independentemente. Assim, a produção foi o principal aspecto contemplado pela união da Ford e Volkswagen. A partir da compreensão de um novo contexto competitivo nacional, as duas empresas, em diferentes momentos, souberam ajustar suas estratégias de manufatura de forma bastante inovadora. O novo cenário do setor em meados da década de 1990 incentivou os líderes da VW a aplicarem um novo modelo de operações em uma de suas plantas, tornando-se um benchmarking para a indústria automobilística nacional. A Ford, por sua vez, somente anos após a dissolução da joint venture com a VW, decidiu posicionar- 22
  • 23. se agressivamente no mercado brasileiro. Tal esforço vem sendo recompensado pela participação de mercado da ordem de 13,5% e o registro de 15 lucros trimestrais seguidos (AUTOINFORME, 2007). O contexto político-econômico da década de 1980 foi marcado por conflitos entre o governo e empresários do setor automobilístico. Conforme explicitado por Smedt (1993), havia o desafio da falta de uma atitude cooperativa, de uma política industrial. Um movimento estratégico como a Autolatina certamente foi dispendioso para as duas empresas, especialmente com a sua dissolução ao se considerar a perda de conhecimentos, importantes em termos de competitividade, de uma empresa para outra. Entretanto, a dissolução da joint venture representou o início de uma nova era de competitividade no cenário econômico brasileiro. Finalmente, considera-se aqui um caso de união estratégica incomum em relação a outros recentemente evidenciados. Enquanto grande parte dessas uniões buscava complementaridades de modo a aproveitar maiores oportunidades num mercado globalizado, a Autolatina figurou-se como uma estratégia de sobrevivência da Ford no Brasil no momento da união com a VW, num contexto político-econômico protecionista, embora ambas também buscassem complementaridades. Referências ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS (ANFAVEA). Anuário da Indústria Automobilística Brasileira. Disponível em: http://www.anfavea.com.br. Acessado em: 03/06/2007. 23
  • 24. ANÔNIMO. Brazil’s car industry: party time. The Economist, vol 332, Iss. 7881, p. 76. London: Sep 17, 1994. __________. The sputtering spark from South America’s car industry. The Economist, vol. 335, Iss. 7910, p. 57. London: Apr 15, 1995. AUTOINFORME. Agência de Informação do Automóvel. Disponível em: http://www.autoinforme.com.br. Acessado em: 08/12/2007. BARANSON, J. Automotive Industries in Developing Countries. World Bank Staff Occasional Papers n. 8. Baltimore: Johns Hopkins Press, 1969. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 5 Edição. São Paulo: Prentice Hall, 2002. COLITT, R. Ford goes local to resurrect its fortunes in Brazil: after years of poor performance, carmaker pins its hopes on a Brazilian ‘corporate doctor’. Financial Times, London (UK): Nov 3, 2000. COOPER, C. L. e ARGYRIS, C. (organizadores). Dicionário Enciclopédico de Administração. São Paulo: Atlas, 2003. 24
  • 25. DUSSAUGE, P.; GARRETTE, B. e MITCHELL, W. Asymetric performance: the market share impact of scale and link alliances in the global auto industry. Strategic Management Journal. 25, 7, Jul. 2004 ETTLIE, J. E. Plant X, Plant B or Planet Hollywood: take your pick. Automotive Production, 108, 6, june 1996. FLICK, U. Uma introdução à Pesquisa Qualitativa. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. HITT, M. A.; IRELAND, R. D. e HOSKISSON, R. E. Strategic Management: Competitiveness and Globalization (Concept and Cases). 5a ed. Thomson, 2003. HOLLANDA FILHO, S. B. de. Os Desafios da Indústria Automobilística: A Crise da Modernização. São Paulo: IPE/USP, 1996. JUNG, C. F. Metodologia para Pesquisa & Desenvolvimento aplicada a novas Tecnologias, Produtos e Serviços. Editora Axcel Books do Brasil, 1999. KARP, J. Ford’s Brazilian unit turns a corner: Fiesta helps company recapture market share, but financial problems remain. Wall Street Journal. New York, N.Y.: Nov 27, 2002. KEEGAN, W. J. e GREEN, M. C. Princípios de Marketing Global. São Paulo: Saraiva, 2006. 25
  • 26. KOTABE, M. e HELSEN, K. Administração de Marketing Global. São Paulo: Atlas, 2000. LAW, C. M. Reestructuring the Global Automobile Industry: National and Regional Impacts. New York: Routledge, 1991. MOFFETT, M. e SURIS, O. Ford and VW part company in Latin America – auto venture prospered, but strategies diverged as the market took off. Wall Street Journal. New York, N.Y.: Dec. 2, 1994. OGIER, T. Carmaker pins Brazil hopes on new Fiesta: Ford coastal plant at Bahia houses 19 suppliers under one roof who are responsible for complete modules. Financial Times. London (UK): May 10, 2002. ROESCH, S. M. A. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guias para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de casos. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1999. SMEDT, P.A. de. Cenários futuros da indústria automobilística. Revista de Administração. São Paulo, v. 28, n. 4, p. 126-135, out./nov. 1993. SPEKMAN, R. E. e SAWHNEY, K. Toward a conceptual understanding of the antecedents of strategic alliances. Cambridge: Marketing Science Institute, p. 231, aug. 1990. 26
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