1. III ENCONTRO NACIONAL SOBRE POLÍTICAS DE LÍNGUA(S) E ENSINO SIMPÓSIO 08 Políticas públicas para o ensino de LM e LE Brasília, 18 a 20 de novembro de 2009
2. Políticas públicas para o ensino do código escrito da língua portuguesa para crianças e adolescentes campestres Sonilda Sampaio
3. Linha de pesquisa: Educação e linguagem Objeto: Educação de camponeses (ensino do código escrito da língua ) e interesse (ou não) das políticas públicas governamentais.
4. Problemática: Há interesse das políticas públicas governamentais na educação integral e no ensino do código escrito da língua portuguesa para crianças e adolescentes campestres?
5. Objetivos: 1. Observar como acontece a educação no/do campo para crianças e adolescentes. 2. Buscar compreender como se dá o ensino do código escrito da língua para campestres, sem ambientes alfabetizadores. 3. Ensaiar uma práxis de alfabetismo alternativo com camponeses.
6. Espaço da pesquisa: Zona rural (100 famílias) Escola Estadual Rural Taylor-Egídio (300 educandos de 6 a 15 anos e 20 docentes alfabetizadores) Jaguaquara - Bahia
7. Justificativa: Relevância humana, social, educacional e linguística uma vez respeitados os sujeitos do campo como sujeitos de direitos e respeitada a singularidade do campo para uma prática educativa (alfabetizadora), a própria educação realizada fará movimentos em direção aos avanços da sociedade como um todo.
10. A escola que chegou ao campo [...], não só não deu atenção sistemática às questões e às particularidades da vida no campo, como também chegou como expressão da precariedade, já que o que chegava ao campo eram os sobejos, os restos das escolas urbanas. (MARTINS, 2004)
11. Até 1891 educação campestre não foi sequer mencionada em textos constitucionais do Brasil , “evidenciando o descaso dos dirigentes e as matrizes culturais centradas no trabalho escravo [...]” (RPNEC, 2004)
12. Reforçar os valores do campestre, a fim de fixá-lo a terra, acarretaria a necessidade de adaptar programas e currículos ao meio físico e à cultura rural. (CALAZANS, 1993)
13. Porque quanto mais se afirma a especificidade do campo mais se afirma a especificidade da educação e da escola do campo. (ARROYO, 2005)
14. Fica evidente a histórica ausência de políticas públicas que considerem, na sua formulação e implementação, as diferenças entre campo e cidade, no sentido de que a vida em ambos os meios se tece de maneira distinta e que políticas “universalistas”, baseadas em um parâmetro único (e geralmente urbanizado), que não se aproxima das necessidades, potenciais saberes e desejos dos que vivem no campo, acabam por reproduzir a desigualdade e a exclusão social, distanciando cada vez mais os sujeitos do campo do exercício de sua cidadania. (RPNEC, 2004)
15. O Poder Público, no cumprimento das suas responsabilidades com o atendimento escolar e à luz da diretriz legal do regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, proporcionará Educação Infantil e Ensino Fundamental nas comunidades rurais. (DOEBEC, art. 6º. Resolução CNE / CEB nº 1, de 03 de abril de 2002)
16. A atual L.D.B. promove a desvinculação da escola rural dos meios e da performance escolar urbana, exigindo para a primeira um planejamento interligado à vida rural e de certo modo desurbanizado. (LEITE, 1999)
17. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; adequação à natureza do trabalho na zona rural. (LDB nº 9394/96, art. 28)
18. Um dos problemas do campo no Brasil hoje é a ausência de políticas públicas que garantam seu desenvolvimento em formatos adequados à melhoria da qualidade de vida das pessoas que ali vivem e trabalham. (ARROYO, 2005)
19. O Brasil rural, com seus pobres, atrasados, esquecidos e desesperados filhos continua esperando pela escola prometida nas plataformas políticas [...]. (BRAGA, 1949)
21. A prova mais eloquente do fracasso da escola rural tradicional é a existência da formidável massa de analfabetos na roça. Não houve até agora educação rural no Brasil. (MENNUCCI,1993)
22. 32,7% da população do meio rural, acima de 15 anos, é analfabeta. (IBGE, 1995) A nalfabetismo rural (23,3%) três vezes maior que a urbana (7,6%). (IBGE, 2008)
23. O que se fortalece aí é a sociedade letrada, que segue aperfeiçoando as instituições que se suportam cada vez mais no código escrito e, assim, o código escrito (...) é elevado à categoria de suporte fundamental e condição para todas as tecnologias, incluindo o avanço no campo dos direitos políticos, sociais e humanos. (MARTINS, 2004)
24. Quanto mais inclusivo for o alcance da educação básica [...], maior será a probabilidade de que mesmo os potencialmente pobres tenham uma chance maior de superar a penúria. (SEN, 2000)
25. Há um vazio em relação a propostas pedagógicas que tomem o campo como referência; no próprio âmbito das teorias educacionais críticas, o parâmetro é o das escolas urbanas. Uma exceção a ser referida é a obra de Paulo Freire , que em muitos momentos tem como matéria-prima a realidade camponesa. (ARROYO, 2005)
26. Não se pode tornar o indivíduo absoluto [...] é a cultura e a sociedade que garantem a realização e as interações dos indivíduos [...]. (MORIN, 2001)
27. A educação do campo deve compreender que os sujeitos possuem história, participam de lutas sociais, sonham, têm nomes e rostos, lembranças, gêneros, raças e etnias diferenciadas... Os currículos precisam se desenvolver a partir das formas mais variadas de construção e reconstrução do espaço físico e simbólico, do território, dos sujeitos, do meio ambiente. O currículo precisa incorporar essa diversidade[...]. (RPNEC, 2004)
28. A educação deve ser móvel e flexível na forma; deve forçosamente adaptar suas técnicas às necessidades variáveis da atividade e da vida humanas [...] deve preparar o indivíduo para suas tarefas imediatas [...]. (FREINET, 1998)
29. Paulo Freire e modalidade pedagógica alternante: possibilidade para a demanda desafiante do alfabetismo de camponeses
30. Paulo Freire O homem é complexo e singular. Ao homem precisa ser dada a oportunidade de redescobrir-se. Conhecimento - movimento dialético - ação - reflexão - ação. O educando ou é o protagonista do processo educativo ou estamos falando de opressão educativa que, portanto, não é educadora.
31. Sistema educacional por alternância Nasceu na França em 1935. Chegou ao Brasil por volta dos anos 60. É uma pedagogia da pessoa. É uma continuidade de ação formadora e descontinuidade de atividades. Possui os princípios da pedagogia freiriana, mas com uma metodologia adaptada às condições do meio rural. Tem como ponto central a relação trabalho – escola.
33. Paulo Freire enfatiza a relevância da associação da vida às atividades escolares Leitura, em grupo, sobre plantio e colheita . Do texto escrito para a prática, na terra. Da prática, na terra, para a produção textual coletiva.
34. ALFABETISMO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES CAMPESTRES Sem preconceito: diferença não é deficiência (SOARES, 1993) Concepção freiriana de educação integral (FREIRE) Pedagogia radical, alfabetização crítica (GIROUX, 1997) Eventos de letramento (SOARES, 2001, 2004; TFOUNI, 2000; k. e RODRIGUEZ,1995 JOLIBERT, 1994 e LEMLE, 1991) Fortalecimento da autoestima (LAPLANCHE; PONTALIS, 1996) Metodologias significativas sociointeracionistas (VYGOTSKY, 1998) Contribuições do construtivismo (FERREIRO, 1991, 2003, 2005) Consciência fonológica e clareza da relação fonema-grafema (SOARES, 2004) Garantia da oralidade e da oralização (GERALDI, 1993) (FOUCAMBERT, 1994) Alfabetizadores em formação continuada (CAGLIARI, 1992 e PERRENOUD, 2000) Possibilidade do erro ortográfico como hipótese. (PEREIRA, 2009) Contínua reflexão sobre a língua. (PCN, 1997) Atividades epilinguísticas (PEREIRA, 2009) Reinvenção da linguagem e do poder. (FREIRE, 2002 e GARCIA, 1997 ) O campo é o eixo das atividades. (PEREIRA, 2009)
35. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel e outros. Por uma educação do campo . 2. ed. Petrópolis: vozes, 2005. BRAGA, Murilo. Problemas de educação rural. V. 47. Rio de Janeiro: I.N.E.P./ Ministério da Educação e Saúde, 1950. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 33 ed. São Paulo: brasiliense, 1996. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil . Brasília, DF: senado, 1988. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente . Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. BRASIL. Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. BRINGUIER, Jean-Claude. Conversando com Piaget. São Paulo: DIFEL, 1978. BRONFENBRENNER, Urie. A ecologia do desenvolvimento humano : experimentos naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. CALAZANS, Maria Julieta C. Para compreender a educação do Estado no meio rural. In: THERRIEN, Jacques; DAMASCENO, Maria N. (Coord.). Educação e escola no campo. Campinas: Papirus, 1993. DAMASCENO, Maria Nobre. 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Anotações a partir do trabalho no Grupo de Estudos de Educação Rural (GEER) do PRADEM/ISP/UFBA e adotado para a participação no Curso “Operações Estratégicas Para a Reforma Educacional”, realizado no ISP/UFBA, 21 de setembro de 2004. MENNUCCI, Sud. Anais do Oitavo Congresso Brasileiro de Educação, Goiânia, junho, 1942, Rio de Janeiro, IBGE, 1944. In: COSTA. Maria Julieta Para compreender a educação do Estado no meio rural. In: THERRIEN, Jacques; DAMASCENO, Maria N. (Coord.). Educação e escola no campo . Campinas: Papirus, 1993. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde . 7.ed. Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, 2000. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro . 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia da educação . São Paulo: Ática, 1993. PEREIRA, Sonilda Sampaio Santos. 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