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1
GOSPEL
DO SÉCULO XXI
Diversidade e qualidade
marcam a nova música gospel
Pag. 20
REALITY
SHOWSEclética foi atrás de ex-
participantes de reality show
Pag. 23
DEMÔNIOS
DA GAROA
Renovação mesmo após 70
anos de sucesso. Entrevista
descontraída com os reis do
samba
Pag. 8
O SOM DO
BRASILRádios dedicadas à valorização
da música nacional
Pag. 28
Hemodiálise
mentalO rapper Max B.O e o Dj Kl jay falam
sobre a relação entre política e música
Pag. 16
Edição01_junho/2015
R$12,00
2 3
4 5
Brasil, um país eclético por natureza.
Culinária, moda, etnias, música. Com
tanta diversidade na terra que recebeu
as caravelas de Cabral, é impossível aos
sensatos não aceitar com estranheza a
evidente discriminação e repúdio ao que
é nossa arte, ao que é nossa capacidade
cognitiva para criar, expressar. A culpa
é de quem? Da Revolução Industrial, que
padronizou a cultura ainda no final do
século XIX? Da imprensa? Do público?
Talvez, procurar responsabilizar algo ou
alguém não seja a solução, e, sim, apenas
postergar essa carência em valorizar nossa
gente e seus costumes, tão vastos e ricos.
Provavelmente, essas palavras podem soar
comoufanistasemplenoperíododerelações
democráticas, mas, é empobrecedor que
nós, brasileiros, não tenhamos a condição
de criar oportunidade para mostrar a cara,
não aquela saturada pela podridão da
política, mas sim a cara de quem contorna
a dor cantando, inovando mesmo em meio
a tantas adversidades. Se nós não dermos a
atenção necessária à nossa arte, qual será o
Messias que o fará? Enquanto vão tentando
descobrir, nós, da Eclética, faremos nossa
singela, porém digna, colaboração.
Eclética, um projeto acadêmico que nasceu
para atender à variedade da música
nacional, tendo em vista a falta de conteúdo
editorial nesse segmento. A cada mês
reportagens, entrevistas com análise sobre
o tema, para que você, leitor, entenda e
valorize esse universo que é todo nosso.
Nesta primeira edição MC e DJ’s falam
da relação entre política e rap, nossos
repórteres mostram a variedade da música
cristã. E ainda: exclusivas com artistas
consagrados como Demônios da Garoa e
os nomes que surgem em reality shows.
Nas seções, Vale Conhecer os artistas em
ascensão e amenizar a Saudade dos que já
se foram, além de ficar inteirado na agenda
de shows com o Eclética na Cidade e das
efemérides do mês, em Acorde e Recorde.
Eclética, a variedade da música brasileira.
Editorial
Expediente
Revista ECLÉTICA
A variedade da música brasileira
Editora Chefe Erika Lins
Repórteres Alex Ribeiro, Diego Alves, Erika Lins,
Fabiele Leite, Sílvia Regina, Vinícius Galdino
Revisor Vinícius Galdino
Fotógrafa Fabiele Leite
Diagramação/Arte Alex Ribeiro, Diego Alves, Erika
Lins, Fabiele Leite, Sílvia Regina, Vinícius Galdino
Colaboradores nesta edição Articulista Claudemir
Eurides de Melo, diagramador Alejandro Uribe
Impressão Ibraphel Gráfica
Rua General Jardim, 160
Vila Buarque – São Paulo-SP
PABX: (11) 3256-1088
ibraphelgrafica@terra.com.br
Tiragem 20.000 exemplares
ECLÉTICA!
A variedade da música brasileira
Edição 01_junho/2015
Pág. 16 Política_ RAP
A hemodiálise mental
Em entrevista à Sílvia Regina, o rapper Max B.O e o Dj Kl
Jay falam sobre a relação entre o rap e a política
Pág. 20 Cotidiano_ GOSPEL DO SÉCULO XXI
Diego Alves revela a diversidade da nova música gospel
Pág. 32 Internacional_ THE PATCH
Erika Lins conta a história dos brasileiros que fundaram
um projeto musical em Dublin
Pág. 11 Cultura_ OS CAMINHOS DA MÚSICA
Fabiele Leite mostra os caminhos do samba de projeto
social na zona leste de SP
Pág. 23 Cotidiano_ REALITY SHOWS
Alex Ribeiro foi à busca dos ex-participantes de reality
shows musicais
Pág. 8 Entrevista_ DEMÔNIOS DA GAROA
Vinícius Galdino e Sílvia Regina fazem o perfil dos
Demônios da Garoa
Pág. 28 Cultura_ O SOM DO BRASIL
Erika Lins entra no mundo das rádios que tocam a
moderna MPB
Pág. 34 Eclética na cidade
Diego Alves dá as dicas dos melhores shows do mês
Pág. 14 Vale Conhecer
Erika Lins traz os novos artistas brasileiros que vale a
pena conhecer
Pág. 31 Acorde e Recorde
Relembre os fatos importantes do mês junho de anos atrás
Pág. 30 Saudade
Alex Ribeiro relembra os talentos que foram cantar e
encantar em outro plano
Claudemir Eurides, o Nino Miau, escreve sobre a
importância da divulgação da música brasileira
FOTO: Fabiele Leite
Capa
Seções
Opinião
6 7
8 9
Ésó ouvir o nome Demônios da Garoa
para vir à cabeça: um grupo que só
canta as músicas do tempo da vovó,
afinal, são sete décadas de história.
No entanto,assim como o planeta gira
constantemente, o mundo da música
não para. E com os Demônios não é
diferente. Gerações surgiram, LPs
deram adeus às vitrolas - boas vindas
aos CDs, DVDs, MP3 players – e o
conjunto musical de nome provocativo
continuou sua sina de tocar a trilha
sonora da vida de muita gente, sempre
com uma técnica vocal que surpreende
até os que não entendem muito sobre
música. Nesse instante, talvez, você
questione: quem são os Demônios da
Garoa em 2015? Quanto à resposta,
nada melhor que um autêntico
demônio para esclarecer.
“Demônios da Garoa, hoje, é um
grupo que continua sendo a cara de
São Paulo. E sem falsa modéstia, o
melhor grupo de samba da cidade.
Para nós, é um orgulho muito grande
estarmos ainda nessa caminhada tão
longa de 72 anos”, diz Wilder Paraízo,
integrante há mais de “30” anos.
Com um público conservador já
consolidado, a arte desses paulistanos
consegue também cativar a geração
da nova era graças ao som da bateria
e outros instrumentos acústicos que,
antes, não eram parte integrante
das apresentações. “São recursos
novos para o estilo dos Demônios,
claro, porém, o que impressiona é a
capacidade de inovar e, ao mesmo
tempo, ser tradicional. São poucos
os mestres que conseguem essa
artimanha”, afirma o produtor musical
Fernando Pinheiro, responsável pelas
gravações dos discos, que são feitos
em estúdio próprio do grupo na Vila
Prudente.
O álbum mais recente, “Um Samba
Diferente”, foi lançado em 2014,
mas, como o público é saudosista, em
cada apresentação sobra espaço para
músicas antigas, as que marcaram a
carreira do grupo, além das inéditas e
regravações de grandes nomes, como
Noel Rosa. Já essa conversa de que
Demônios da Garoa é apenas moda de
paulistano não existe para eles. Do sul
ao nordeste do país são muitos os que
apreciam esse trabalho. “No nordeste,
por exemplo, como é difícil irmos
lá, quando chegamos, a recepção é
enorme e eles não se prendem apenas
às canções mais famosas como,
Samba do Arnesto” “Trem das Onze”
e “Saudosa Maloca, e sim, pedem
músicas que não são tão conhecidas.
É uma prova de que lá somos fortes”,
afirma Ricardo Cassimiro Rosa,
integrante que representa a terceira
geração do grupo. Fora do Brasil, ainda
é necessário trilhar um longo caminho,
pois, os chamados gringos não
Depoisdotrem
Como um dos grupos musicais mais tradicionais do país conserva o sucesso em
meio às constantes mudanças do mercado fonográfico
Silvia Mendonça e Vinícius Galdino
das onze
conhecem ou acompanham a trajetória
– fato previsível. Mas, no que depender
do grupo paulistano, essa evidência
está com os dias contados. “Visitamos
alguns países da América Latina, como
Chile e Argentina, mas nossa vontade
mesmo é fazer uma turnê pela Europa –
não custa sonhar, não é? (risos)”, conta
Cassimiro, apelidado de Ricardinho por
ser o integrante mais jovem.
TRADIÇÃO X MERCADO
Sérgio Rosa, também da velha guarda
dos Demônios, ressalta que com a
morte do maior compositor do grupo,
em 1982, Adoniran Barbosa, a música
brasileirae o grupo perderam um
grande nome. “Os Demônios tiveram
que sobreviver, gravar coisas novas,
arranjar compositores novos. Mas isso
não impediu o grupo de continuar
com o sucesso e ganhar discos de
ouro e platina. E olha que ganhar um
disco de platina hoje já não é como
antigamente. Antes, esse mérito era
muito mais honroso, não só pelo título,
mas também pelo número de cópias
“O novo cenário
musical perdeu
a tradição. A
músicaé muito
mais comercial.”
FOTO:Vinícius Galdino
Início do Grupo do Luar (primeiro nome adotado pelos Demônios): 1942.
Demônios da Garoa: nome usado a partir de 1943.
O Estilo Gaiato: 1953.
A Parceria com Adoniran Barbosa: Começa em 1951.
1994: entraram para o Guinnes Book -Livro dos Recordes Brasileiro, como o
“Conjunto Vocal Mais Antigo do Brasil em Atividade” e com o maior tempo
de atividade.
RECORDAR É VIVER
10 11
de disco vendidas. Sem dúvida, o valor
do trabalho por parte do público e da
crítica era outro”, afirma.
Porisso,nemtudoéummarderosas.“O
novo cenário musical perdeu a tradição.
A música é muito mais comercial”,
conta Izael Caldeira enquanto esbraveja
com as mãos. “Nessa nova fase, já
houve até emissora de televisão que
cobrou cachê para que fizéssemos uma
participação num programa. Antes, nós
recebíamos para aparecer”, continua
Wilder Paraizo com ar de indignação.
Em consenso, os integrantes atribuem
também ao público a responsabilidade
por essa desvalorização. Segundo
eles, o povo e seu modo de consumir
são fatores que motivam os veículos
de comunicação à construção de uma
programação classificada por eles como
‘sem conteúdo relevante’. “Ainda bem
que existem veículos sérios, temos que
concordar. A TV Cultura, TV Brasil,
Rádio USP são veículos que dignificam
nosso trabalho”, admite Sérgio Rosa.
Devido à queda nas vendas de discos e
a possibilidade de conseguir conteúdo
pirateado, tanto em CD quanto na
internet, o desafio é sobreviver, em
grande parte, à custa das mais de 20
apresentações por mês.
O FUTURO DA GAROA
A formação atual conserva muitos
desejos de novas conquistas, porém,
“Os Demônios
tiveram que
sobreviver,
gravar coisas
novas, arranjar
compositores
novos. Mas isso
não impediu
o grupo de
continuar com
o sucesso e
ganhar discos
de ouro e
platina.”
CONHECENDO OS INTEGRANTES
RICARDO CASSIMIRO
ROSA
Ricardinho, o mais jovem da
turma, nasceu em 1988 no
município de SantoAndré,
região doABC paulista. É
vocalista e toca pandeiro.
Ele é o primeiro da terceira
geração dos Demônios
ROBERTO BARBOSA
Canhotinho, como é
carinhosamente chamado
pelos companheiros, nasceu
em Espírito Santo do Pinhal,
interior paulista, em 1938. É
vocalista e toca cavaquinho
WILDER BENEDITO
PARAÍZO
Dedé Paraízo vem da capital
de Minas Gerais, nascido em
1959. É vocalista toca violão
7 cordas
IZAEL CALDEIRA
Apelidado de Catraca,
nasceu emAraçatuba,
interior de São Paulo, em
1942. É vocalista e toca
timba. Sua música preferida é
“Trem das Onze”
SÉRGIO ROSA
Conhecido também como
Pimpolho, nasceu na Mooca
em 1955. Seu instrumento
é o afoxé, herdado do pai,
Arnaldo Rosa, fundador dos
Demônios da Garoa. Este
é o que está há mais
tempo no grupo.
tem consciência de que reformulações
continuarão sendo necessárias. Sérgio,
o mais falante dos cinco, garante que
já tem nos bastidores novas apostas
para chegar aos próximos 72 anos
do quinteto. E não é tarefa simples
tentar fazer parte dessa turma. “Para
entrar no Demônios, tem que ter muita
bagagem, precisa estudar muito,
afinal, o Demônios é uma escola.
Tem que saber muito de música e da
nossa história. não queremos daqui
10 anos que olhem e digam: olha lá
aqueles rapazes cantando repertório do
Demônios da Garoa, e, sim, que são a
continuidade do grupo mais tradicional
de São Paulo”. E quando a pergunta é
sobre o fim da trupe, Sérgio faz questão
de dar uma definição direta e ousada.
“Demônios da Garoa é como catinga
de cú, não acaba nunca!”.
O acústico “Vem Cantar Comigo”, lançado em 2012
pela Radar Records, foi o primeiro DVD gravado pelo
grupo. Na produção, houve participação especial de
artistas como Dudu Nobre, Péricles, Wando e Arnaldo
Antunes. O repertório exclusivo, vocais e arranjos bem
estruturados são mostrados nas 24 canções do álbum.
DVD ACÚSTICO
FOTOS:ViniciusGaldino
Um encontro ao ar livre, debaixo da
aroeira, até as partituras sentiam
a brisa do vento, foi o local em que
a orquestra de samba iniciou sua
trajetória. A Orquestra de Samba e
Choro de São Mateus é formada por
jovens músicos instrumentistas, o
projeto tem como propósito levar a
riquezadamúsicapopularbrasileira,em
seus mais variados ritmos, e valorizar
a cultura do nosso país através das
oficinas . Nasceu no de 2004, no CDM
(Centro Desportivo Municipal - Vera
Cruz) bairro de São Mateus, zona leste
de São Paulo. O começo foi apenas
com quatro cavaquinhistas, que aos
poucos foram convidando outros e
assim  começaram a expressar seu
talento até montarem uma orquestra
instrumental de música brasileira.   
Surgiu numa região carente e num
ambiente longe do ideal para o ensaio
de uma orquestra, mas gradualmente
seguem conquistando espaço e
mostram que é possível trilhar no
caminho da música. Mesmo sem
ajuda financeira para o projeto, os
alunos chegam longe e permanecem
com esperança e talento. Atualmente
contam com o espaço do teatro do
CEU (Centro Educacional Unificado)-
São Mateus, pois foi cedido para os
ensaios de domingos. A orquestra
é formada por jovens da região de
diferentes idades e conta com aula do
músico, compositor e idealizador do
projeto, Everson Pessoa.
Clássicos dos mestres compositores
As composições dos grandes mestres da música brasileira ajudam jovens da Orquestra de Samba e
Choro de São Mateus a chegar aos grandes palcos
Por Fabiele Leite
Abre alas pra
orquestra
Começaram
a expressar
seu talento
até montarem
uma orquestra
instrumental de
música brasileira
FOTOS:ViniciusGaldino
FOTOS: Fabiele Leite
12 13
Abbadia hoje é trombonista profissional e também professor, já tocou em cidades como Amsterdã, Paris, Nova York.
Atualmente se apresenta em uns dos grandes teatros de São Paulo com o espetáculo “Chacrinha – O musical”. Mesmo
depois de tanto tempo ainda se sente parte da orquestra, apesar da dificuldade de conciliar as agendas e trabalhos, ele
procura sempre frequentar alguns ensaios para rever os amigos para  tocar uma boa música.
Em meio a tudo isso o projeto não perde sua essência de continuar a se responsabilizar por levar a comunidade não
só a boa música, mas também grandes sonhos. E acreditam estar no caminho certo, pois sempre alguém se destaca. A
orquestra realiza suas apresentações em centro culturais da cidade e o ensaio é aberto a quem quiser participar.
CHACRINHA O MUSICAL
A vida de Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha, é contada em forma
de cordel e programa de auditório, na montagem da produtora Aventura
dirigida por Andrucha Waddington. O espetáculo acompanha a trajetória
do apresentador desde sua infância em Surubim, Pernambuco, até o auge
da carreira na TV Globo, comandando o programa de auditório “Cassino
do Chacrinha”, com espaço para as rebolativas chacretes, os trocadilhos
infames, buzinadas e troféu abacaxi. A trilha sonora reúne mais de 60
sucessos da música nacional.
brasileiros não faltam no repertório.
Tom Jobim, Pixinguinha, Jacob do
Bandolim, Luiz Gonzaga, são tocados
com paixão pelos jovens. “Sempre
foi uma base boa para quem está
começando, e não só para quem está
começando, mas também para quem
gosta de praticar música instrumental
brasileira”, afirma Everton Pessoa
sobre a escolha do reportório. Nos
ensaios os ritmos são os mais diversos
como, choro, samba, baião, entre
outros da esfera popular, procura
sempre aprimorar e descobrir novos
talentos entre alunos.  E assim
obtendo a música como ferramenta
que impulsiona, direciona os sonhos
de cada um e acrescenta á comunidade
um enriquecimento cultural.
Da zona leste para a zona sul, da
plateia vazia de ensaios no CEU,
para plateia cheia de um espetáculo
no Teatro Alfa. O que se destaca é a
perseverança de jovens que iniciaram
sua carreira na orquestra e hoje trilham
no caminho do sucesso profissional. A
orquestra ajudou músicos a focarem
no que realmente queriam, pois
num país como nosso, bombardeado
pela  cultura estrangeira, se manteram
valorizando a música brasileira. É o
que aconteceu com Allan Abbadia,
que hoje vive da música e atribui boa
parte do seu sucesso ao projeto.  “Foi
muito bom porque eu tinha um
aperfeiçoamento, vamos dizer assim é
parte importante da minha formação
como músico ”, afirma.
Nos ensaios os
ritmos são os
mais diversos
como, choro,
samba, baião,
entre outros da
esfera popular,
procura sempre
aprimorar e
descobrir novos
talentos entre
alunos
DOS PEQUENOS AOS GRANDES PALCOS
SERVIÇO
Ensaio: Aos Domingos
Horário: 10h ás 12h
Local: CEU São Mateus
Rua Curumatim, 201 - Pq. Boa Esperança. 
Está aberto para todos interessados em trocar experiência e estudar Música Popular Brasileira.
Aberto ao público também prestigiar e conhecer.
AGENDA
27 DE MARÇO A 26 DE JULHO
Quintas feiras: 21h
Sextas-feiras: 21h30
Sábados: 16h e 20h
Domingo: 17h
Nos dias 15 e 21 de maio o
personagem Chacrinha será
interpretado por Jonathas Joba.
FOTO: Divulgação
14 15
Vale Conhecer
Enquanto você lê esta matéria,
deve estar curtindo um ócio, seja
ele criativo ou não. Pois saiba que
há uma banda que vive do ócio,
literalmente, trata-se do grupo de
rock Vivendo do Ócio. Formada
pelos baianos, que vivem em São
Paulo, Jajá Cardoso, Dieguito Reis,
Luca e Davide Bori, a banda surgiu
em 2006, e tem esse nome por suas
tardes ociosas, musicando. Em 2008,
lançaram o CD Demo “Teorias do
Amor Moderno”, disponibilizado
gratuitamente para download. No
mesmo ano, venceram o concurso
de bandas GAS Sound, que resultou
na gravação de um disco com a
Deckdisc, gravadora independente,
da qual os meninos ainda fazem parte. Em 2009, a banda teve maior visibilidade quando ganhou o prêmio Aposta MTV,
no VMB (Vídeo Music Brasil). Uma de suas músicas mais famosa, do álbum “O Pensamento é um Ímã”, é a canção
‘Nostalgia’, na qual os garotos declaram a saudade que sentem da Bahia. Atualmente, estão trabalhando na divulgação
de seu novo álbum “Selva Mundo”. Ficou curioso e quer saber mais sobre esses baianos? Não seja ocioso, e entra no site
da banda http://vivendodoocio.com/.
Agora, se você curte um som mais leve, vale conhecer a maranhense Nathalia Ferro. A cantora e compositora que iniciou
sua carreira em 2004, na cidade de São Luís, traz em suas músicas a doçura, misturando o romantismo melancólico com
o reggae da chamada “Jamaica brasileira”, como é conhecida a capital maranhense. Em 2009, ela foi a vencedora na
categoria Revelação, do Prêmio Universidade FM, que tem como objetivo valorizar a produção cultural local e é considerado
o principal evento musical do
Maranhão. Seu primeiro EP,
“Instante”, foi lançado em 2013,
trazendo cinco faixas, que falam
sobre o amor fugindo da obviedade.
Atualmente a cantora trabalha na
divulgação do álbum “Alice Ainda”,
que fala sobre uma persistência da
compositora no trabalho criativo,
de continuar uma ‘Alice’, como a
sonhadora personagem de Alice, no
País das Maravilhas,. Se você quer
conhecer mais a fundo o trabalho
dessa sonhadora, suas músicas estão
disponíveis para download gratuito
no soundcloud, https://soundcloud.
com/nathaliaferro.
FOTO:Divulgação
FOTO: Erika Lins
16 17
M
ovimento Hip Hop ou Rap, “a mesma coisa”,
confirma KL Jay em uma de suas músicas no álbum
KL Jay na batida Vl.3. Esse estilo musical que muitos
acham que música de bandido ou que faz apologia ao crime.
Rap (Ritmo Alternativo e Protestante), a maioria de suas letras
vem com gírias e até com palavrões, mostram a realidade das
periferias, presídios, classes desfavorecidas, retrata o racismo,
violência policial, estupro, exploração do trabalho infantil e
pedofilia. E como diz a socióloga e psicóloga Bruna Ramiro,
não existe ser humano sem a presença do outro e pessoas são
representadas e ensinadas através de manifestações culturais
e a linguagem verbal e a produção de pensamento é o que nos
difere de outros animais e a música pode influenciar positiva e
negativamente. E se tratando do preconceito que há contra o
rap, principalmente das grandes mídias, ela concorda com os
rappers que afirmam dizem que isso não passa de receio, que
dar voz a maioria pobre não é interessante, e ainda ressalta
que a sociedade é parte de uma engrenagem onde poucos se
beneficiam os demais se tonam escravos do sistema.
O preconceito está presente, mas o rap sobrevive. São os 4
elementos: Grafite (expressão da arte em pinturas), Break
(B.Boy e B. Girl, representando a dança), Mc (a consciência) e
o Dj (a essência). Estão aí para quem quiser escutar, apreciar,
aprender e respeitar. O ritmo polêmico que já mudou a vida
de muitas pessoas.
Kl Jay, é dj dos Racionais MC’s e Max B.O, Mc e apresentador
do programa Manos e Minas da TV Cultura,
dois de muitos representantes desse
movimento, falam melhor sobre essa música
malvista e, ao mesmo tempo, admirada por
muitos.
Você acha que a música tem o poder
de “abrir os olhos” da sociedade?
Max B.O - De abrir e de fechar também.
A música tem o poder de mexer com as
pessoas através do ritmo, e quando vem
carregada de uma letra, é potencializada.
Mas, muitas vezes pode e ludibriar, conduzir
ao sexo sem prevenção e fazer muitos
jovens terem filhos na adolescência, seguir
outros caminhos de encontrar o prazer, como “boquinha da
garrafa”, e por aí vai. A música tem o poder de mostrar e
fechar o caminho.
KL Jay - Tem também. Eu acho que a música, antes de
mais nada é um entretenimento, é um antídoto, um remédio
que o mundo precisa ter para não ficar todo mundo louco,
cair em depressão e sair atirando nos outros. É um relaxante
muscular, nos leva para um futuro, um passado e ir de volta
ao presente, nos faz esquecer os problemas. A música faz
você viajar. Mas também pode ser usado como meio de
mudança e articulação política e social
O rap tem influência na periferia como agente social
e político?
Max B.O - Sim, mas já teve mais. Porque o rap começou
dizendo só que as pessoas precisavam ouvir, depois passou
a ser o que precisavam e queriam ouvir, agora é quase não
diz o que as pessoas precisam ouvir. Tudo isso faz parte da
transformação, depois volta a ser como era. No Brasil é
interessante eliminar o questionado e “criar o cala a coca”.
Tem gente que vai passar a vida inteira na mesma luta,
acho que sou uma dessas pessoas, só vou modificando meu
jeito de lutar. Infelizmente, para muita gente, a revolução já
acabou, depois que se consegue uma casa própria mais perto
da Marginal, andar no seu próprio carro, deixa de ser a luta
que era. Mas para outros, sempre vai existir porque sempre
vão sentir a dor que o outro sente. É isso que faz com que
as pessoas se sintam representadas no rap.
Já ouvi gente dizer que, por causa de uma
letra de rap, deixou de cometer um delito,
ou mudou de ideia sobre determinado fato.
Kl Jay - Articulação, as pessoas param
para ouvir, mudam o comportamento,
andam com a mesma roupa do artista.
Mas a música é entretenimento, não pode
ser usada só como instrumento político, os
artistas, principalmente os de hip hop não
podem confundir isso, senão não é música,
é política. Se for subir no palco só para
fazer discurso político, se candidate, entre
para o congresso.
Não é muito fácil representar a sociedade principalmente através da música.
Desde que o mundo é mundo, a música fez crítica social e política. Compositores
como Noel Rosa na década de 30, a Tropicália na ditadura, enfim, canções que
para classe dominante, talvez sejam provocadoras. O rap nacional é um desses
estilos e costuma com suas letras dar voz à periferia, criticando a negligência
do governo e a elite e até hoje ainda sofre muito preconceito.
Por Silvia Mendonça
é a
hemodiálise
mental
O
Rap “Salvo os
programas
específicos,
tanto
no rádio
quanto na
TV, o rap
não tem
espaço e
nem vai ter”
Max B.O
FOTO:FabieleLeite
18 19
Você já sofreu alguma repressão por causa de suas
letras?
Não, pelo contrário. Uma vez estava no trânsito e parou uma
viatura do meu lado e até pensei, vou tomar um “enquadro”,
aí o policial disse... ”faz uma rima aí pra gente”...e eu falei:
“Vou rimando no improviso, com carinho e com malícia, e vou
virar aqui à esquerda, boa tarde pro polícia”. Quando eu sofri
essas questões não foi por cantar rap, e sim, por ser negro,
da quebrada, andar de bombeta, essas coisas do cotidiano do
jovem da periferia.
Kl Jay - A primeira, quando ainda não tínhamos nem disco,
estávamos vindo de uma apresentação em uma casa chamada
Clube do Rap, na Brigadeiro Luís Antônio, eu estava com um
Toca Discos, que era usado, o polícial me pediu a nota, eu
não tinha, mas viram que eu não era ladrão, tive que ir preso
para averiguação, isso só porque eu tocava rap. Racionais já
foi preso cantando Homem na Estrada em um megaevento
de rap no Vale do Anhangabaú. Já teve shows que a polícia
cercou e subiu no palco, também o show da praça de Sé, o
Mano Brown já foi perseguido quando morava na Zona Sul.
Porque o rap não tem tanto espaço na mídia?
Max B.O - Vou até rimar: “Salvo os programas específicos,
tanto no rádio quanto na TV, o rap não tem espaço e nem vai
ter”. Se nós mesmo não fizermos ninguém fará, para mídia,
o formato de pessoas que elas têm, já é o suficiente para
ela não precisarem do rap, é mais fácil lhe dar com um cara
menos estudado, mais matuto que cuida de uma fazenda do
que com um cara que estudou em escola pública e mora na
favela, ao lado do esgoto a céu aberto e que a polícia entra ali
e bate na molecada. Existe o medo de dar para uma pessoa a
oportunidade de ser igual ou melhor que você, esse é o receio
da mídia.
Kl Jay - Só aqui no Brasil. Porque sofre preconceito,
perseguição, o país ainda é colônia, latifundiária, tem a
mentalidade do coronel, então o rap é impedido de chegar.
“Se for
subir no
palco só
para fazer
discurso
político, se
candidate,
entre
para o
congresso”
Kl Jay
Você considera suas letras pesadas?
Max B.O - Não, procuro escrever músicas que meu filho e
meus pais possam ouvir.
Kl Jay - Não são pesadas, são muito bem escritas. São
letras que tem poesia muito bonitas e as palavras são bem
colocadas e rimadas, inclusive as de autoria do Brown. E nisso
você pode falar de roubo, morte e palavrão, porque tem arte
e fica bonito. Entendeu?
O que acha do atual governo?
Max B.O - Tá difícil! Muita gente roubou e agora querem
malhar o receptador, são coisas que vinham acontecendo e
agora estouraram. Nesse bairro que é rodeado de prédio,
quando rolou o panelaço, que deveria ser coisa de gente que
não tem comida no prato, imagino quantos teflons foram
arranhados. Esse governo, que é menos pior (não existe
governo bom), mesmo cheio de escândalo, fez o pobre se
sentir um pouco melhor e fez o rico ralar um pouco mais. E
com essa de manifestação e mudança, eles têm condições de
fazer o pobre acreditar que está ruim para o ele também. Mas
no plano Collor, estavam todos arrebentados aí o Brasil se
uniu.
Kl Jay - Horrível! Os governos têm sido ruins há muito
tempo, o que poderia mudar alguma coisa é o governo do
Lula, mas infelizmente, ele não pôde dar continuidade. É um
governo mal administrado, economicamente mal pensado, o
Brasil sempre pega o barco andando e vai empurrando com a
barriga. Não dá para inventar planos de governo, é a mesma
coisa que a época da ditadura, talvez até pior, é um país
democrático apenas na teoria, só de ser obrigado a votar e
se listar, já é ditadura. É uma minoria que domina a maioria,
e essa maioria fica um contra o outro. Essas manifestações
pedindo o impeachment da Dilma (e não é isso que deve ser
feito) é uma luta de classes, não vai resolver nada. Mas dá
para esperar muito de um país que no ranking da educação
é de número 85. Nós temos que fazer a nossa parte sendo
honesto, não passando no farol vermelho, devolvendo o troco
quando nos dão 1 real a mais. Como eu li, estamos numa
falência moral, todos são corruptos nesse país.
O que você acha da mídia?
Max B.O - “Quero minha foto na revista sem erro da
Jornalista”.Émuitocomumnorap,teentrevistaremetrocarem
seu nome, ou também as grandes mídias que esquecem que o
cantor de rap fez um grande ato na comunidade, ele é citado
apenas como jovem da periferia. Mas, se ele for preso, a coisa
é diferente. O agente de transformação do rap não aparece
explicitamente, pois ele é a hemodiálise mental, quando o
moleque ouve o rádio e as letras que falam diretamente para
ele, que está na favela vulnerável à vida do crime.
Kl Jay - Importante, também é entretenimento, divulgação
artista, mostra a arte para o mundo. Claro que tem a mídia
falsa e corrupta, é só escolhermos o que queremos ver.
A Cultura dos Manos
Max B.O apresenta semanalmente,
na TV Cultura, o programa Manos
e Minas, e fala da força que o
programa tem, principalmente
depois que saiu do ar e o público
(não só o do hip-hop) pediu a volta.
Pessoas que tiveram seu trabalho
mais observado em alguma matéria
que passou no Manos, quando
mostramos na favela um grupo
de sanfona de um menino que
faz um instrumento com o lixo da
comunidade. Mesmo não sendo do
só rap, é de manos e minas.
“Não temos a necessidade de fazer um programa de ilusão,
como a maioria dos programas de TV aberta ligados ao
pobre fazem, não mostramos o polícia batendo na favela
e tráfico de drogas, não criticamos nem protegemos
polícia e bandidos, apenas mostramos, dentro de nossas
possibilidades, a realidade. Mas também não dizemos que
lá não tem assalto, nem que está tudo lindo, sem problema
social, que todos os moleques têm cordão de ouro
pendurado no pescoço”. Assim Max fez questão de afirmar.
Como ele mesmo disse, os medidores de audiência não
estão em toda parte, e nos presídios, onde ele sempre vai
visitar algum amigo, todos assistem o Manos, e não se
sabe se o medidor está na cadeia, e a TV Cultura não é
uma emissora que briga por audiência. O Manos e Minas
é a cara da comunidade, independente do estilo musical,
aborda vários temas como exposições, agenda de shows,
projetos sociais e novos artistas. Toda semana há um
convidado, na maioria do estilo rap, mas também alguns
sambistas ou jazz e blues.
DJ Abade,
de receptor a emissor
O rap é um ritmo que dá voz a periferia, ás classes
desfavorecidas, muita gente diz que mudou a vida
ouvindo rap. De uns anos pra cá, o ritmo atingiu
outros públicos, pessoas que nunca passaram
dificuldade, mas que apreciam o estilo. Fabio
Reginaldo Abade, mais conhecido como Dj Abade
cresceu ouvindo rap e diz que demorou a assimilar
o que a música dizia e a via apenas como curtição.
Mas, quando passou a ter mais instrução, viu que
era muito mais que isso, principalmente as letras
dos Racionais MC’s, “ quando o grupo lançou o
álbum Sobrevivendo no Inferno, eu comecei a ter a
noção do que é ser preto, sentir orgulho do cabelo
duro, andar largado, ter orgulho do que eu sou, nós
pretos, já nascemos com inferioridade, e eu achava
que não iria casar e tinha vergonha da minha cor,
mas o rap mudou minha visão”, afirma Abade.
Para ele muita gente ainda sofre preconceito por
ouvir rap e diz “o nome rap soa estranho em
muitos ouvidos, Racionais foi o barulho para muita
gente, mas isso está mudando, a rap está melhor
estruturalmente”.
Mas Abade já não é só ouvinte de rap, com o tempo
estudou música e se tornou dj fazendo vários
eventos por São Paulo. Participou de concursos
de discotecagem e hoje faz parte da equipe dos
Racionais, e diz que foi um sonho ser escolhido
entre tantos dj’s, Racionais para ele é a empresa
em que trabalha.
FOTO:ÉrikaLins
FOTO:FabieleLeite
20 21
Daigreja
mundo
para
o
Ogospel tem se tornado um dos fenômenos culturais mais
significativos do início do século XXI. Propagado como
um estilo musical no começo do século passado, este gênero
tem se tornando marca de uma nova cultura evangélica. O
universo do gospel não consiste apenas de letras que abordam
temas religiosos cantadas nas igrejas. Sua música é eclética e,
como resultado, um número expressivo de pessoas tem sido
alcançadas por este novo som.
No Brasil, a música gospel, interpretada por nomes como
os de Aline Barros, Thales Roberto e Oficina G3, também
tem empregado quase todos os gêneros da moderna
canção popular, enquanto o mercado musical evangélico
nacional apresenta números de crescimento
expressivos. O gospel passou a introduzir
novas práticas musicais, que englobam o
pop/rock e o baião, o hip-hop e o sertanejo,
o funk e a axé-music. Alem disso, os artistas
gospel de grande público chamam cada vez
mais a atenção das grandes gravadoras da
música pop –, o que tem levado a canção
evangélica até programas de TV , programas
de auditório,telenovelas e até trilha sonora
de filme.Este crescimento se dá nos Estados
Unidos também. Há uma grande indústria
fonográfica que gera altas cifras financeiras
lideradas por cantores como Michael W.
Smith, Amy Grant, Third Day e Kirk Franklin.
Cenário maravilhoso certo? Claro, aliás, como diria o poeta
“se melhorar estraga”. Porém, para que ele chegasse a este
patamar, muitas pessoas tiveram que ousar numa época que
era um crime religioso, por exemplo, tocar violão na igreja
porque era considerado um instrumento boêmio. Luís de
Carvalho, ícone da musica gospel brasileira na década de
40 foi o percussor deste instrumento e achincalhado por tal
atitude. Durante muito tempo apenas as palmas eram aceitas
como acompanhamento “A palma era parte integrante no
arranjo das músicas, mesmo porque os hinos da harpa cristã
eram compostos para a congregação participar” conta o
professor de música Rafael de Farias. Mesmo depois de tanto
tempo e diversas inovações desde então, ainda há pessoas
que imaginam a música gospel como algo
simples e sem instrumento. Marina de Lima,
29,baixista da banda de rock U.P.R,afirma
que constantemente é questionada sobre
este tema. “Geralmente ao me abordarem os
comentários são o mesmo do tipo se tocamos
instrumentos populares como guitarra, baixo
e bateria” diz ela.
Falando em rock,historicamente este estilo
sempre foi visto com maus olhos pela igreja
no país.Até a década de 60 não havia
rock gospel.O desbravador da vez foi Luís
Batista,primeiro cantor a gravar no estilo. De
lá para cá,diversas bandas surgiram como
Depois de séculos enfrentando muitas barreiras no Brasil,a música cristã saiu das quatro paredes e vem
ganhando cada vez mais espaço na mídia
Por Diego Alves
FOTO:FabieleLeite
Oficina,Resgate,Katsbarnea entre outros. A banda UPR
faz parte deste time. Seus integrantes tocam juntos desde
2002,quando ainda eram adolescentes e,13 anos depois, se
preparam para a gravação do Cd Unidos pela Revolução. O
baterista da banda, Vinícius Melo,29,já chegou até a tocar
hardcore,um estilo bem mais pesado e com pouca aceitação
nas igrejas do que o rock,porém,ele conta que sua igreja
sempre lhe deu abertura. “Por fazer parte de uma igreja que
nunca foi tradicional, sempre tivemos incentivo e liberdade
para fazermos nossa bagunça” conta de forma bem
efusiva. Vinicius provavelmente não falaria desta forma nem
tampouco faria parte da musica cristã se tivesse nascido na
década de 70. Parte das igrejas brasileiras não aceitavam
bateria em suas canções pois falavam “que não era de
Deus”.Nesta época usavam-se instrumentos harmônicos
como oboé,harpa,flauta,piano.
Quanta coisa mudou. Dos anos 70 para cá, instrumentos
foram se achegando ao gospel, estilos musicais ganharam
a confiança dos religiosos e a musica ampliou suas estacas.
Só para se ter uma noção, hoje em dia existem certos
tipos de teclados que comportam todos estes instrumentos
citados num só lugar. “O Worksation possui timbres que
simulam orquestras, ou seja, ao invés de contar com 30
pessoas se necessita apenas do tecladista”, afirma Rafael.
Outra grande vantagem que tornou este estilo conhecido e
atrativo foi a igreja. Você deve estar se perguntando “Como
assim se acabei de ler que ela era uma espécie de juiz?”.
Segundo o produtor musical Thiago Suguihara, o músico
cristãotemavantagemdetocarnostemplossemanalmente.
“A igreja ajuda-o a se desenvolver pelo fato dele tocar quase
todos os dias e isso melhora sua capacidade” afirmou. Por
conta destas novidades no mundo gospel,diversos músicos
cristãos se tornaram referência fora da igreja.”Tive a
oportunidade de ajudar no ultimo DVD do Luan Santana,
produzido 80% com músicos cristãos”, disse o produtor.
Outro fator agregador são suas mensagens que, junto da
música conseguem atingir diversos públicos. A banda de
Reggae Reobote ZIon é prova disto.
Este estilo musical normalmente é visto pela sociedade
relacionadaaousodealgumvício,poremseuscomponentes
iniciaram o trabalho porque, além de gostarem do reggae,
viram que poderiam alcança um público diferente. “Junto
com a musica e nosso estilo podemos estar no meio
das pessoas que curtem o reggae e através da nossa
mensagem fazer a diferença na vida deles”, afirmou Daniel
Charelli,líder da banda.
Isto demonstra o quanto esta vertente musical rompeu as
barreiras do preconceito dentro do seus próprios adeptos e
consegue aos poucos se equiparam a chamada música secular.
Desde as últimas décadas do século XX, o cenário do
cristianismo no Brasil tem sido marcado pela expansão dos
evangélicos. No Brasil o número aumentou 61,45% em 10
anos, segundo dados do Censo Demográfico divulgado em
2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesquisarevelouquehouveumdeclíniode1,3%decatólicos
declarados.
Mas mesmo com estes dados, o movimento carismático
católico cresceu na ultima década. Sem querer ficar atrás
“Geralmente ao
me abordarem
os comentários
são o mesmo do
tipo se tocamos
instrumentos
populares como
guitarra, baixo e
bateria”. Marina de
Lima – Baixista
Quem não se lembra do vídeo dos irmãos Jefferson e Suellen da
Silva Barbosa cantando o hino evangélico “Para nossa alegria”
sentados no sofá de casa, às gargalhadas?
A gravação caiu na web e foi visto por 30 milhões de pessoas
via YouTube. Dois anos após o sucesso - que rendeu à dupla
participação em programas de televisão, a gravação de um
segundo CD e até mesmo um comercial com atriz Jessica Alba -,
Jefferson e Suellen tentam voltar à fama.Atualmente, eles fazem
animação em festas infantis e se apresentam em eventos.
RECORDAR É VIVER
FOTO: Clayton Castelani/G1
22 23
Músicos em começo de carreira querendo despontar
no cenário nacional, outros com anos de estrada
desejando somente reconhecimento pelo seu trabalho,
e tantos diferentes desses sonham com fama e dinheiro.
Assim pode-se traçar o perfil dos participantes de reality
shows musicais, formato que garante a alguns um sucesso
repentino e que a cada apresentação na TV conquistam fãs
quase que instantaneamente. Suas músicas viram hits em
questões de dias e o anonimato desaparece surgindo uma
nova estrela nacional.
Nesse cenário, entretanto, surgem artistas “criados” para
a fama, produtos pré-fabricados por empresários em busca
de retorno financeiro e logo quando esse retorno deixa de
vir seus contratos são cancelados expondo a fragilidade do
reality show que os trouxeram ao estrelato.
A partir da última década houve um “boom” desses modelos
no Brasil, destacam-se os programas Pop Stars, The Voice,
Ídolos e Fama, que apresentaram diversos artistas à cena
musical nacional. Os precursores dessa leva foram os grupos
Br’oz e Rouge que venderam milhões de cópias de discos
em curtíssimo tempo, porém desapareceram na mesma
velocidade. Outros fazem sucesso nos dias de hoje como
Thaeme da dupla sertaneja Thaeme e Tiago, Roberta Sá (que
chegou a gravar com Ney Matogrosso e Chico Buarque),
Hugo e Tiago, Mariana Elali (que teve a música “Você” na
trilha da novela “América”), e Thiaguinho. O último desses
alcançou o posto de vocalista do grupo Exaltasamba, hoje
segue em sólida carreira solo. Todavia, eles são exceções se
compararmos o número de participantes em cada edição,
na segunda do Pop Star, por exemplo, 34 mil pessoas foram
inscritas e somente 5 saíram vencedoras.
Devido ao acirrado cenário musical no país fica evidente
a dificuldade que tantos artistas de qualidade enfrentam
após a atração, eles dificilmente ganham uma segunda
chance nas grandes mídias e voltam ao quase anonimato,
continuando da forma que pararam quando ingressaram no
reality fazendo com que o programa vire apenas um hiato
Reality shows musicais revelam dezenas de artistas ao cenário nacional, porém poucos sobrevivem a esse
feroz mercado artístico. Muitos voltam ao ostracismo tão rapidamente quanto alcançaram o sucesso
Por Alex Ribeiro Gonzaga
Da ascensão àdestas novidades e tendências, a banda católica Rosa de Sarom
também mostrou sua cara dentro de uma realidade de mentalidade
bem tradicional.
O grupo surgiu em 1988 na cidade de Campinas/SP, dentro deste novo
movimento da Igreja Católica, com a pretensão de fazer algo diferente
e atrair jovens para igreja através de letras com a linguagem do jovem.
“Resolvemos tocar um rock pesado com uma temática religiosa como
pano de fundo, mensagens que envolvam nosso cotidiano”, disse
Rogério Feltrin,criador da banda. Os conservadores criticaram a ideia
e acreditavam que o estilo musical não combinava com a mensagem
de Deus. “Os mais antigos achavam a linguagem inapropriada mas
sempre tivemos a vontade de levar a mensagem que acreditamos
fazendo o que gostamos”, falou Rogério.
O sucesso do Rosa de Sarom foi tanto que, em 2009, a Som Livre os
contratou e até hoje distribui os materiais da banda por todo o Brasil.
Atualmente, eles faz cerca de 10 shows por mês chegando, no fim de
ano, com uma média de 120 apresentações por ano.
Se os percussores da musica cristã estivessem vivos,no mínimo iriam
ficar felizes pois musicalmente e socialmente ela alargou suas estacas.
Se tornou uma indústria em que milhares de pessoas sobrevivem deste
mercado que chega a fazer com que um cantor faça quase vinte e
cinco shows por mês, com cifras por apresentação sendo aumentada a
cada ano.O que fica cravado seja em um poema, carta, e na musica é a
mensagem que ela propaga e seus possíveis efeitos. “Deus é o criador
da musica e, portanto o que importa é a mensagem que a musica
passa”, diz o produtor
THIAGO SUGUIHARA
A quantidade de eventos, como festas, baladas e cristotecas, em que
os estilos musicais dançantes são tocados ao vivo, ou eletronicamente
por um DJ gospel.
E as pessoas ainda indagam se este cenário, em relação as cifras que
envolvem este trabalho, se tornou um mercado. Quem toma esta
postura se esquece de que a música em si sempre foi uma ferramenta
de sobrevivência desde os primórdios. Já na década de 40, existiam
gravadoras gospel e ,assim como em qualquer gênero ,a sobrevivência
vem do dinheiro recebido pelas vendas de Cd.
A realidade é que os frutos gerados pela música gospel crescem a cada
ano. Anualmente, a Marcha para Jesus leva milhares de fieis às ruas
de todo o país e com ela os cantores e bandas. Além disso, também
existe há quase 10 anos a Expo Cristã, uma feira que envolve produtos
cristãoseéclaro,umespaçogigantepara a veiculaçãoda musica cristã.
Desde sua vinda ao Brasil, a música gospel se desenvolveu e
continua nesta crescente em busca do novo, do diferencial, do
inédito, provocando mudança em si mesma e na sociedade. Ela vem
apresentando mais do que apenas uma proposta litúrgica diferente,
mas de um movimento que ganhou adeptos dentro e fora das suas
igrejas. Conforme a música “Faz um milagre em mim” do cantor Régis
Danese, ela tem entrado nas casas e na vida das pessoas mexendo
com suas estruturas. Quem olha para seu nascimento e analisa seu
atual momento pode dizer que é um milagre.
Aqui no Brasil o termo gospel passou a designar todo
e qualquer estilo que seja expressão musical de fé,
mas foi a partir dos anos 80 que a música religiosa,
capitaneadas pelas igrejas evangélicas, tomou impulso
e se transformou no grande negócio comercial que
hoje movimenta cerca de 25 milhões de unidades de
CD´s por ano.
Thalles Roberto
Já lançou cinco CDs e três DVDs.
Discos vendidos: mais de 1 milhão de cópias
Média de shows por mês: 12
Valor do Show: R$ 160 mil + passagens áreas
(ida e volta)
Fernanda Brum
Já lançou vinte e nove CDs e sete DVDs.
Discos vendidos: mais de 100.000 mil cópias
Média de shows por mês: 5
Valor do Show: R$ 28.000,00 + passagens áreas
(ida e volta)
Aline Barros
Já lançou dezoito CDs e treze DVDs.
Discos vendidos: mais de 100.000 mil cópias
Média de shows por mês: 10
Valor do Show: R$  R$115.000,00
FOTO:FabieleLeite
FOTOS: Divulgação Globo
24 25
semifinalistas, uma tamanha
responsabilidade. Infelizmente após o
programa Ídolos, eu continuei cantando,
porém não segui carreira na música, não só
por falta de oportunidade e de espaço, mas
também porque eu comecei a me interessar
por outras coisas, fiz teatro, participei
de algumas peças, mas nada de muita
repercussão. Hoje apenas trabalho e estudo
Rádio e TV” finaliza.
BR’OZ
Matheus Herriez fez parte da formação do
Br’oz (grupo que contava também com Filipe
Duarte, André Marinho, Jhean Marcell e
OscarTintel)edurantedoisanosviveuoápice
do sucesso, as músicas do grupo estavam na
boca de muitos brasileiros, “Prometida” era
o hit do momento e elevou a banda a um
patamar jamais imaginado, todavia possui
opinião cética sobre o formato do espetáculo
que o revelou. “Eu não curtia muito, vou ser
bem sincero, nem achava que era a minha
praia e continua não sendo. Eu não tinha
preconceito, mas a mente fechada para esse
tipo de projeto, esse formato, reality show,
big brother, etc” afirma.
Garante, porém, que vê a importância
desses programas e dos artistas que eles
apresentam, com algumas resalvas. “Até
participar do Popstars e ver que realmente
envolvia talento e que tem um propósito
tudo bem, hoje eu entendo que é uma
coisa bacana, embora tenha alguns pontos negativos que
é o sensacionalismo, eles exploram demais a imagem das
pessoas sofrendo, se esforçando, tem gente chorando,
emocionada, que vêm da Bahia, as pessoas que não
conseguem um resultado bacana voltam frustradas, outras
conseguem e explodem de alegria e acabam não passando
depois” complementa.
Revela que durante as seletivas do programa
passou perto da eliminação, pelo fato dos
produtores o virem como arrogante após
acenar somente com um positivo depois
de avançar de fase, entretanto, pela sua
imagem, resolveram mantê-lo na atração.
Após sair vencedor do Popstar e integrar o
Br’oz Matheus descobriu que o sucesso tinha
um preço, ele e seus companheiros tiveram
que aceitar algumas imposições vindas de
empresários que investiram no grupo. “Eles
focaram em uma coisa muito comercial
e isso passa muito rápido, as pessoas,
querendo ou não gostavam da gente, se a
gente cantasse samba iriam gostar da gente
do mesmo jeito”. “O Br´oz eram empresas
e nós éramos o rótulo dessas empresas, o
produto eram as empresas que estavam por
trás, o Br’oz não era a gente, nós éramos
apenas a embalagem e era um risco muito
grande pra gente com relação a exposição,
segurança e quem dava a cara para bater
era a gente, se acontecesse alguma coisa
negativa com relação ao grupo nós que
sofríamos as consequências” afirma.
Com o sucesso vieram às criticas, Matheus
sentiu alguma delas principalmente por
não ter autonomia para mudar atitudes da
banda. “Tinha muito preconceito justamente
por ser uma boyband, nós não éramos
dançarinos. Parecia algo desesperador,
queriam soltar a gente para fazer sucesso logo. Se fosse
para optar gostaríamos que o grupo tivesse músicas mais
elaboradas, a gente não tinha autonomia, ‘tem essas letras
aqui e vejam o que vocês acham’”, desabafa.
O fim chegou rápido, em 2005 (dois anos após o inicio)
os 5 integrantes anunciaram a separação do grupo após
decidirem não renovar o contrato com a gravadora. O ex-
integrante diz que mesmo se todos optassem por continuar
não permaneceria por não concordar com os princípios da
banda. Mas diz que participaria novamente do programa
que o revelou, mesmo sabendo das suas consequências e
que talvez agisse diferente sabendo o que aconteceria por
de trás dos bastidores.
Para encerrar garante que não pensa na parte financeira.
“Não quero ficar rico, não preciso ficar rico, não tenho
essa ambição, estou sendo sincero, falando a verdade, se
quiserem publicar vai de vocês, estou sendo sincero, os
meus valores são outros” finaliza.
“Foi uma
oportunidade
ímpar e um
momento único
na minha vida.
Eu até então
nunca tinha
tido nenhuma
experiência com
palco, público,
câmeras,
jurados e etc.
Era tudo uma
novidade pra
mim naquela
época e ainda
assim consegui
chegar a
semifinal. E se
eu pudesse eu
faria tudo outra
vez”. Diogo Lima
Vanessa Jackson
venceu a primeira edição do Fama (2002). Fez shows no Japão,
Estados Unidos e Europa em 2003, além de se apresentar em
Angola com o Rei Roberto Carlos. No ano passado venceu o
programa “Que artista sou eu?” do SBT.
O QUE FAZEM OS EX-REALITYS HOJE?
Ellen Oléria
foi a vencedora da primeira edição do The Voice Brasil.Após a
vitória aderiu ao veganismo emagrecendo 25kg.Atualmente,
sua agenda de shows está praticamente lotada e, em maio,
a cantora apresentou-se ao lado de outros artistas em
comemoração aos 50 anos da Globo, no Maracanãzinho.
Sam Alves
venceu o The Voice Brasil em 2013, logo após ser eliminado
da versão americana do programa. Seu primeiro CD em 2014
vendeu mais de 20 mil cópias. Sam tocou no réveillon da
Paulista. Lançará esse ano seu segundo CD chamado “Id”.
Karin Hils
foi integrante do grupo Rouge, participou das novelas
“Floribella” e “Aquele Beijo”, além da série “Pé na Cova”
e “Sexo e as Negas”. Um dos seus últimos trabalhos foi no
papel de Deloris da versão brasileira do musical “Mudança de
Hábito”, personagem consagrada de Whoopi Goldberg no filme
dirigido por Emile Ardolino em 1992.
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FOTO:JoaoCotta-RedeGlobo
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Numa tarde comum de sexta-feira você liga o rádio para
zapear. Já na primeira frequência, toca Ariana Grande,
novo talento da música pop americana. Na próxima, Taylor
Swift, mais uma cantora americana. Resolve avançar mais
um pouco, enfim uma música brasileira! ...Não, ainda não,
é pregação religiosa. Após uma saga, percebe-se o quanto
é difícil encontrar música popular brasileira nas freqüências
de rádios de SP.
Em uma busca rápida foram cinco rádios sertanejas, uma de
pagode, uma de música clássica, nove religiosas, dezesseis
internacionais ou mistas e, enfim, a MPB. São poucas as
rádios dedicadas exclusivamente à música popular brasileira,
mas elas ainda existem, a exemplo da NovaBrasil FM (SP),
Rádio Cultura Brasil AM (SP) e a MPB FM (RJ).
A dúvida que surge é: porque é tão difícil manter uma
programação nacional e qual a importância disso? E afinal, o
que é MPB? Que cantores vêm à sua cabeça quando se fala
em MPB? Alguns dirão que MPB é Caetano Veloso, Maria
Bethânia, Tom Jobim. Bem, esses realmente são os nomes
icônicos quando se fala nesse gênero musical. No entanto,
nem sempre foi assim, Eduardo Weber, coordenador da
rádio Cultura Brasil AM, lembra que há algumas décadas
atrás, qualquer música produzida no Brasil era MPB. “MPB
era tudo, Luiz Gonzaga era.”
No início da década de 60, as músicas que se tornaram
populares eram tocadas em eventos como o Festival
Nacional de Música Popular Brasileira, promovido pela TV
Excelsior de São Paulo, em 65 e 66, e os realizados pela TV
Record de São Paulo, que consagraram os hoje conhecidos
como grandes artistas da MPB, tal qual Elis Regina, Chico
Buarque, Gilberto Gil, Tom Zé e tantos outros.
Éevidente,queemumpaístãograndeemextensãoterritorial
e diversidade cultural e rítmica, não se pode considerar MPB
apenas as canções produzidas em determinada região. O
que é popular no sudeste, muitas vezes não é considerado
popular no norte, e vice versa. De fato, há uma corrente que
se inclina mais ao tradicional choro e samba que classifica
a MPB como um nicho no eixo Rio/São Paulo, mas como
salienta o coordenador da Rádio Cultura AM, como gênero
musical, MPB é o que é produzido no Brasil inteiro.
O CAMINHO DA SEGMENTAÇÃO
Hoje,noBrasilexistem3.209rádiosFMe1.921AM,segundo
dados de outubro-2014 do Ministério das Comunicações. Só
na cidade de São Paulo as rádios FM ocupam 40 canais e
as AM, 29, já no Rio de Janeiro, as emissoras FM somam
36, e as AM, 25. Com tamanha concorrência, ficou difícil
manter uma programação homogênea. O rádio em mídia
eletrônica foi o primeiro veículo a segmentar, por volta das
Por Erika Lins
Esse é o nome da Web Rádio que faz sucesso entre os
internautas. Com sede em Recife-PE, o Brasileiríssimos
surgiu em 2012 e é especializada em criar soluções
criativas para valorização da cultura brasileira. Desde
sua concepção, o Brasileiríssimos utiliza a internet como
canal de divulgação da cultura brasileira e artistas
autorais, tocando músicas nacionais desde Caetano
Veloso à Rouge, com o objetivo de mostrar que o que há
na cena brasileira é tão bom quanto o que é de fora.
BRASILEIRÍSSIMOS
revela, a partir de dados do Ibope, que a audiência do rádio
entre as 6h e meio-dia é o dobro da TV aberta. Nessa faixa
de horário, o rádio tem 1,815 milhão de ouvintes por minuto
na Grande São Paulo. Os dados foram divulgados pelo site
Notícias da TV, em junho de 2014.
Com as novas tecnologias e a vida pós-
moderna de correria, mesmo sem o famoso
aparelho de som, o rádio se tornou opção
para quem está no carro ou no ônibus, preso
no trânsito, em filas de espera, e ouve as
emissoraspelosmartphone.Weberconsidera
que, o grande desafio para a emissora de
rádio é cativar o ouvinte que está do outro
lado e o convencer a desligar o Ipod, pra te
ouvir. E isso, só é possível se você traz uma
informação diferente, interação, renovação,
conteúdo de relevância. É assim que a
MPB FM mantém sua audiência, segundo
Yke. “Mantemos o interesse do nosso
ouvinte levando a ele uma programação de
qualidade, além de programas com bastante
conteúdo e eventos que permitem que ele possa ter uma
experiência sensorial com a marca.”, conta o produtor.
Para o coordenador da NovaBrasil FM, ainda é importante
para o ouvinte, ouvir sua banda favorita no rádio, ainda que
ele as ouça todos os dias em seu mp3. “Você pode ter 10
mil músicas no Ipod, se você é ouvinte de rádio, vai sempre
ouvir rádio”, e completa, “quem gosta de ouvir rádio não
vai mudar de opinião.”
Diferente do que muitos pensavam, e até temiam, a internet
não desbancou o rádio, se tornou uma aliada, pois serve
para expandir o conteúdo, que antes, só era difundido em
uma plataforma. Hoje, as emissoras produzem conteúdo
exclusivo para canais no Youtube, fazem enquetes e sorteios
em seus sites, e criam uma relação próxima com seu público
por meio das redes sociais. “A internet é um braço da radio”,
conclui Marcelo.
Uma rádio
dedicada
exclusivamente
à música
brasileira tem
uma função
social que vai
além da mera
condição de
entretenimento
À brasileira
Conheça as rádios que ainda mantém uma programação exclusivamente dedicada à produção nacional
décadas de 70 e 80. “Principalmente com o advento do FM,
não adiantava muito tocar as mesmas músicas porque você
estava competindo com o mesmo nicho. Então segmentou
e foi surgindo rádio rock, funk, samba, sertaneja, religiosa,
jornalística”, conta Eduardo Weber, coordenador de produção
da rádio Cultura Brasil AM, rádio publica, que desde 2010
dedicasuaprogramaçãoàMPB(cançõesemúsicainstrumental)
e oferece uma alternativa diferente das emissoras comerciais.
Para ele, esse foi o melhor caminho, pois nem todo mundo
gosta de rock ou música de raiz, por exemplo.
Marcelo Barros, coordenador artístico da NovaBrasil FM,
que desde 2000 adotou uma programação exclusivamente
brasileira,maisespecificamenteàchamada“modernamúsica
brasileira”, abrangendo desde clássicos da MPB à nova
produção musical nacional, completa que a segmentação se
torna uma opção de mercado, pois cada emissora de rádio é,
antes de tudo, um negócio. Isso se comprova com números,
pois a rádio passou de 28º para 10º lugar em
audiência na capital paulista.
Não só uma boa opção de mercado, a
escolha de tocar música popular brasileira
é fundamental para a valorização e
preservação da cultura local, concordam
Weber e Barros. “Uma rádio dedicada
exclusivamente à música brasileira tem uma
função social que vai além da mera condição
de entretenimento. Através desse veículo
temos a oportunidade de resgatar grandes
músicas do passado, ao mesmo tempo em
que estamos antenados com tudo que é
novo e bom.” Acrescenta Yke Leon, produtor
da MPB FM, no Rio.
O NOVO BRAÇO DO RÁDIO
Segundo a ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de
Rádio e Televisão) o rádio está presente em 88,1% dos
domicílios no país, perdendo só para a TV. E, contrariando
muitos pessimistas quanto ao fim do rádio, uma pesquisa
encomendada pela Jovem Pan, realizada pela Ipsos Brasil
FOTOS: Fabiele Leite
30 31
Saudade
Fevereiro
Renato Rocha, ex-baixista da Legião Urbana.
MúsicodaformaçãooriginalaLegiãoUrbana,gravouostrêsprimeirosdiscosogrupo,
“Legião Urbana” (1984), “Dois” (1986) e Que País é Esse ? (1987).
O baixista, também conhecido como Negrete, participou de composições do álbum
“Dois”, nas músicas “Daniel na cova dos leões”, Quase sem querer” , “Acrillic on
Canvas” , “Andrea Doria” e “Plantas embaixo do aquário”. No álbum “Que país é
esse?” ajudou nas composições de “Mais do mesmo” e “Angra dos Reis”. Renato
Rocha saiu do grupo antes da gravação do aclamado álbum “As Quatro Estações”.
O baixista chegou a morar na rua em 2012 quando não tinha mais condições
financeiras de pagar diárias de hotel, não tendo mais contatos com ex-mulher e filhos.
O músico estava em processo de reabilitação do uso de drogas na cidade de Cotia (SP) e justamente após uma das saídas
permitidas pela clinica viajou ao Guarujá, cidade litorânea, local em que morreu domingo (22) decorrente de uma parada cardíaca.
Março
José Rico, da dupla sertaneja
Milionário e José Rico
José “Rico” Alves dos Santos formou uma das mais
respeitadas duplas sertanejas com Milionário, nome
artístico de Romeu Januário de Matos. Adotou
o nome José Rico em referência a sua cidade de
criação, Terra Rica. Os cantores se conheceram em
1968 em um hotel na cidade de São Paulo.
Começaram cantando jingles de comerciais em
Londrina (PR) quando foram apresentados pelo
compositor Prado Junior à gravadora Chantecler
em 1973. Com “Tribuna do Amor”, em 1982,
alcançou o grande público.
Entre os sucessos da dupla estão músicas como
“O Tropeiro”, “Amor Dividido”, “Jogo de Amor”,
“De Longe Também se Ama” e, principalmente,
“Estrada da Vida”.
A dupla realizava um show no interior de São
Paulo quando José Rico sentiu fortes dores na
perna, fato que o fez cantar sentado. Logo após a
apresentação foi internado no hospital Unimed de
Americana, local onde morreu na terça-feira (3) de
infarto do miocárdio.
Março
Inezita Barroso,
a dama da música caipira.
Alémdecantoraeapresentadora,InezitaBarroso,90,foiinstrumentista,
arranjadora, folclorista e professora. Gravou mais de 80 discos em toda
a sua careira, era uma mulher que respirava música caipira.
Na televisão, começou na TV Record, depois passou pela extinta TV
Tupi entre outras emissoras, até chegar à TV Cultura para comandar o
“Viola,MinhaViola”porquase35anos,sendoomaisantigoprograma
musical da televisão brasileira.
Como intérprete, sua gravação mais famosa foi “Moda da Pinga”, dos
versos “Co’a marvada pinga é que eu me atrapaio/ Eu entro na venda
e já dô meu taio/ Pego no copo e dali num saio/ Ali mesmo eu bebo, ali
mesmo eu caio/ Só pra carregá é queu dô trabaio, oi lá!”.
Internada no hospital Sírio-Libanês desde o dia 19, Inezita Barroso,
que completou 90 anos no dia 4, morreu em decorrência de uma
insuficiência respiratória aguda no domingo, dia 8. Segundo a única
filha de Inezita, Marta, a mãe não chegou nem a saber da morte do
amigo José Rico pois estava sedada no dia da morte o músico.
A cantora deixa uma filha, Marta Barroso, três netas e cinco bisnetos.
19 DE JUNHO
O cantor, compositor, poeta, escritor e
dramaturgo carioca Chico Buarque
completa 71 anos.
4 DE JUNHO DE 1912
A cantora brasileira Bellah Andrade
realiza, com êxito, concerto em Paris.
18 DE JUNHO DE 1958
Publicada pela primeira vez uma coluna
no “Jornal do Dia”, de Porto Alegre,
especializada em música popular,
lançamentos e sucessos em discos,
de responsabilidade de Cláudio
Laitano Santos, com o título de
“Sucessos Musicais” que, a partir de
23 de julho do mesmo ano passou a
denominar-se “Discomentando”.
Acorde e Recorde
“ Ter recordações faz parte da vida, viver
emoções na vida sentida é alma esquecida.
Infeliz aquele que não tem recordações,
viveu uma vida despida de alegrias,
tristezas e emoções”
(Poema Recordar e Viver – Chica)
32 33
Dublin, Irlanda, fevereiro de 2012. Uma roda de
estudantes/músicos brasileiros tocando na área de
fumantes de um pub. Foi assim que surgiu o The Patch,
projeto pensado por Ivo Durante, que queria criar uma
noite para que qualquer um pudesse tocar suas músicas
autorais, sem o compromisso de um show inteiro, em bares
da cidade.
Ivo expôs sua ideia a Rodrigo Sena, que já tocava com uma
banda de pagode na cidade, e chamou outras pessoas, que
trabalhavam com audiovisual e produção. Nascido pelas
mãos de brasileiros, o projeto era aberto a artistas de toda
e qualquer nacionalidade, dispostos a divulgar seu trabalho
autoral, e de quebra, ainda ganhavam o registro em vídeo
para portfólio. As apresentações aconteciam sempre às
quartas-feiras, a cada duas semanas, e já na terceira noite,
não cabia o público na área de fumantes, e aos poucos eles
foram ganhando seu espaço.
Como não havia pré-seleção, apareciam músicos de todos
os estilos, tocando desde samba à funk irlandês, rock
japonês e gaita de fole. “Tinha gente que não era tão legal
assim, tipo karaokê e mesmo quando era ruim, todo mundo
batia palma”, conta Rodrigo.
DE BRASILEIROS PARA GRINGOS
O público que se tornou cativo do The Patch era formado
por gente a fim e arte, gente que gostava de música, em
sua maioria gringos, 85% do público era de outros países.
“Nasceu por brasileiros, mas não era para brasileiros”,
Rodrigo explica que, o brasileiro, no exterior, vai buscar o
mainstream, os ritmos mais comuns no Brasil, como pagode
e samba, por isso, a busca maior era de estrangeiros e
próprios irlandeses. “Uma vez um gringo falou: não entendi
Por Erika Lins
Brasileiros criam projeto musical e cativam
público irlandês
o que vocês cantaram, mas a música foi foda, nunca me
diverti tanto”, relembra Sena.
Realmente, o ritmo brasileiro chamava a atenção de todos,
e esse foi dos intercâmbios possíveis, pois enquanto a
malemolência brasileirinha influenciava os irlandeses,
a técnica irlandesa era
absorvida pelos brasileiros.
Além da troca de
experiências musicais, o
programa permitia troca em
outras áreas. Com o tempo,
conseguiram patrocínio da
maior loja de música da
Irlanda, a Music Maker,
e de uma famosa fábrica
de amplificadores para
guitarras. Além disso, o
Intercâmbio
Musical
projeto virou estágio para os alunos da escola de áudio e
cinema Pulse College, que davam equipamento em troca
da oportunidade para os estudantes, que entravam como
assistente de câmera, de produção, e etc. Mas dinheiro
mesmo, ninguém ganhava. Nem músicos, nem produção,
apenas os pubs que aumentavam seu lucro em noites que
antes eram ‘mortas’.
O The Patch durou dois anos, entre 2012 até o final de
2014, realizou ao todo quatro temporadas, que aconteciam
em quatro seções, divididas em duas semanas, com pausas
a cada dois meses. Mesmo com o pouco tempo de duração,
“Primeiro faz sucesso
como artista brasileiro
e depois você galga
como o artista”
Carlinhos Cruz
“Uma vez um
gringo falou:
não entendi
o que vocês
cantaram, mas a
música foi foda,
nunca me diverti
tanto” Rodrigo Sena
OS FRUTOS DO
THE PATCH
Baque Soul - Formada no verão de
2010, em Dublin, a banda abriu
shows para artistas brasileiros
como Marcelo D2, Gabriel O
Pensador e Vanessa da Mata.
Umbrella Media Production –
A participação no The Patch
despertou o interesse de Lucas
Martins em trabalhar com
audiovisual
Carlinhos Cruz – Se firmou como
cantor em Dublin, cantando em
festas importantes da cidade, e
gravando um EP
a partir do The Patch foram descobertos diversos talentos,
e artistas também se descobriram lá. “Nasceu produtores,
vontade de fazer vídeo de música, e foi aí que eu falei ‘quero
ser produtor’”, revela Rodrigo, que atualmente é produtor
musical de Carlinhos Cruz, que também é um dos frutos do
projeto.
Carlinhos morou por quatro anos em Dublin, enquanto
estava lá tocou na festa oficial, que corresponde ao 7 de
setembro brasileiro, chegou a tocar na casa do prefeito da
cidade, gravou um EP, e lançou lá. Para ele, fazer sucesso
representando a música brasileira fora do Brasil é mais
fácil, mas se tratando de ser reconhecido, não só como
músico brasileiro, mas com o seu próprio nome, é tão difícil
quanto aqui. “Primeiro faz sucesso como artista brasileiro
e depois você galga como o artista Carlinhos Cruz”, revela.
Atualmente Carlinhos está no Brasil, e em junho vai tocar
nos festivais de inverno da Europa.
Além dele, em Dublin fizeram sucesso a banda Baque Soul,
que gravou um CD lá e chegou a abrir show para Marcelo
D2, além de Fiona Bos que se apresentou ao vivo em rádios
da cidade. Para Rodrigo, que também foi integrante da
Baque Soul, afirma que “as pessoas confundem sucesso
com estar na TV, e isso é muito difícil em qualquer lugar do
mundo”. Para ele, todos os músicos que conheceu durante
o The Patch fizeram sucesso. Hoje, todos moram no Brasil,
mas têm planos de realizar também em São Paulo.
FOTO: Fabiele Leite
FOTO:VinícusGaldino
FOTO:CarlaRomão
34 35
Eclética na cidade
BACKSTREET BOYS
RIO DE JANEIRO, RJ
Quinta, 11/06/2015, às 21h30
Citibank Hall
Av. Ayrton Senna, 3000
Barra da Tijuca. Tel.: (21) 2156-7300
Ingressos: Tickets for Fun:
R$ 240 a R$ 550
Classificação 14 anos
THALLES ROBERTO
SÃO PAULO, SP
Quinta,04/06/2015, às 17h00
Marcha para Jesus
Ingressos: Entrada Franca
Classificação Livre
EMMERSON NOGUEIRA
RIO DE JANEIRO, RJ
Sábado, 13/06/2015, às 21h00
Vivo Rio
Parque do Flamengo
Tel.: (21) 2272-2900
Ingressos: Ingresso Rápido:
R$ 80 a R$ 180
Classificação 15 anos
SOCORRO LIRA
SÃO CAETANO DO SUL,SP
Sexta,19/06/2015
Mais informações no site
www.socorrolira.com.br
EXTREME
RIO DE JANEIRO, RJ
Domingo, 14/06/2015, às 21h00
Fundição Progresso
Rua dos Arcos,240
Ingressos: Ticket Brasil
R$ 180,00 a R$ 300,00
NEGRA LI
SÃO PAULO,SP
Sexta,19/06/2015
Tom Jazz
Show da Nova Brasil FM
Opinião
É claro que não iremos vamos falar da diáspora africana, tampouco da chegada
dos portugueses em nossas terras. Porém, não podemos negar as grandes
contribuições musicais que foram trazidas desses dois continentes.
Os africanos trouxeram seus tambores rítmicos, os portugueses nos deram
influências europeias. Contudo, somadas à musicalidade indígena, deu-se início
à música no Brasil.
Durante anos a música brasileira sofreu inúmeras transformações, embora,
sempre predominando o estilo europeu. Ao longo dessas transformações,
fomos criando nossa própria identidade musical, identidade essa, graças ao
virtuosismo do músico brasileiro, e principalmente, pela diversidade cultural que
aflora em várias regiões desse gigante chamado Brasil.
É evidente que houve uma demora significativa para que a grande mídia
radiofônica e televisiva abrisse suas portas para a música brasileira- embora
na época do ouro de rádio, grandes nomes brasileiros tenham dominado o
mercado fonográfico com suas vozes, os estilos musicais ainda eram europeus-
essa abertura deu-se por conta do surgimento de vários movimentos musicais
como por exemplo:
O samba (um dos movimentos mais forte e antigo da música brasileira, oriundo
das senzalas e dos terreiros religiosos, movimento de pura resistência cultural),
Tropicália, Jovem Guarda, Bossa Nova (ramificação do samba criada para
atender a elite carioca). Quero lembrar que, todos esses movimentos foram de
suma importância para a mudança sócio-política do país, mostrando a força da
música no que nos diz respeito à democracia a reivindicações socioculturais deu
uma nação.
Hoje a música brasileira encontra-se mais uma vez em transformação. As vozes
saem dos guetos e tomam as ruas.
O som das periferias é a “bola da “vez”.
Através da “janela do mundo” (internet), podemos levar nossa música até os
mais distantes lugares.
Como em toda essa transformação, há um período de adaptação e,
principalmente, de reforma na qualidade musical, aos poucos, a música
brasileira vai passar por uma “peneira”, e com absoluta certeza alcançará a
fineza que lhe é peculiar.
Essa é a música brasileira, que a cada mutação descobre outros brasís, que a
cada ritmo transpira melodias, que se afina num grito, que levanta a voz e pede
a vez, e acima de tudo, toca o coração do mundo.
Por Nino Miau
Brasis
Musicais
36 37

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Revista ecletica

  • 1. 1 GOSPEL DO SÉCULO XXI Diversidade e qualidade marcam a nova música gospel Pag. 20 REALITY SHOWSEclética foi atrás de ex- participantes de reality show Pag. 23 DEMÔNIOS DA GAROA Renovação mesmo após 70 anos de sucesso. Entrevista descontraída com os reis do samba Pag. 8 O SOM DO BRASILRádios dedicadas à valorização da música nacional Pag. 28 Hemodiálise mentalO rapper Max B.O e o Dj Kl jay falam sobre a relação entre política e música Pag. 16 Edição01_junho/2015 R$12,00
  • 2. 2 3
  • 3. 4 5 Brasil, um país eclético por natureza. Culinária, moda, etnias, música. Com tanta diversidade na terra que recebeu as caravelas de Cabral, é impossível aos sensatos não aceitar com estranheza a evidente discriminação e repúdio ao que é nossa arte, ao que é nossa capacidade cognitiva para criar, expressar. A culpa é de quem? Da Revolução Industrial, que padronizou a cultura ainda no final do século XIX? Da imprensa? Do público? Talvez, procurar responsabilizar algo ou alguém não seja a solução, e, sim, apenas postergar essa carência em valorizar nossa gente e seus costumes, tão vastos e ricos. Provavelmente, essas palavras podem soar comoufanistasemplenoperíododerelações democráticas, mas, é empobrecedor que nós, brasileiros, não tenhamos a condição de criar oportunidade para mostrar a cara, não aquela saturada pela podridão da política, mas sim a cara de quem contorna a dor cantando, inovando mesmo em meio a tantas adversidades. Se nós não dermos a atenção necessária à nossa arte, qual será o Messias que o fará? Enquanto vão tentando descobrir, nós, da Eclética, faremos nossa singela, porém digna, colaboração. Eclética, um projeto acadêmico que nasceu para atender à variedade da música nacional, tendo em vista a falta de conteúdo editorial nesse segmento. A cada mês reportagens, entrevistas com análise sobre o tema, para que você, leitor, entenda e valorize esse universo que é todo nosso. Nesta primeira edição MC e DJ’s falam da relação entre política e rap, nossos repórteres mostram a variedade da música cristã. E ainda: exclusivas com artistas consagrados como Demônios da Garoa e os nomes que surgem em reality shows. Nas seções, Vale Conhecer os artistas em ascensão e amenizar a Saudade dos que já se foram, além de ficar inteirado na agenda de shows com o Eclética na Cidade e das efemérides do mês, em Acorde e Recorde. Eclética, a variedade da música brasileira. Editorial Expediente Revista ECLÉTICA A variedade da música brasileira Editora Chefe Erika Lins Repórteres Alex Ribeiro, Diego Alves, Erika Lins, Fabiele Leite, Sílvia Regina, Vinícius Galdino Revisor Vinícius Galdino Fotógrafa Fabiele Leite Diagramação/Arte Alex Ribeiro, Diego Alves, Erika Lins, Fabiele Leite, Sílvia Regina, Vinícius Galdino Colaboradores nesta edição Articulista Claudemir Eurides de Melo, diagramador Alejandro Uribe Impressão Ibraphel Gráfica Rua General Jardim, 160 Vila Buarque – São Paulo-SP PABX: (11) 3256-1088 ibraphelgrafica@terra.com.br Tiragem 20.000 exemplares ECLÉTICA! A variedade da música brasileira Edição 01_junho/2015 Pág. 16 Política_ RAP A hemodiálise mental Em entrevista à Sílvia Regina, o rapper Max B.O e o Dj Kl Jay falam sobre a relação entre o rap e a política Pág. 20 Cotidiano_ GOSPEL DO SÉCULO XXI Diego Alves revela a diversidade da nova música gospel Pág. 32 Internacional_ THE PATCH Erika Lins conta a história dos brasileiros que fundaram um projeto musical em Dublin Pág. 11 Cultura_ OS CAMINHOS DA MÚSICA Fabiele Leite mostra os caminhos do samba de projeto social na zona leste de SP Pág. 23 Cotidiano_ REALITY SHOWS Alex Ribeiro foi à busca dos ex-participantes de reality shows musicais Pág. 8 Entrevista_ DEMÔNIOS DA GAROA Vinícius Galdino e Sílvia Regina fazem o perfil dos Demônios da Garoa Pág. 28 Cultura_ O SOM DO BRASIL Erika Lins entra no mundo das rádios que tocam a moderna MPB Pág. 34 Eclética na cidade Diego Alves dá as dicas dos melhores shows do mês Pág. 14 Vale Conhecer Erika Lins traz os novos artistas brasileiros que vale a pena conhecer Pág. 31 Acorde e Recorde Relembre os fatos importantes do mês junho de anos atrás Pág. 30 Saudade Alex Ribeiro relembra os talentos que foram cantar e encantar em outro plano Claudemir Eurides, o Nino Miau, escreve sobre a importância da divulgação da música brasileira FOTO: Fabiele Leite Capa Seções Opinião
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  • 5. 8 9 Ésó ouvir o nome Demônios da Garoa para vir à cabeça: um grupo que só canta as músicas do tempo da vovó, afinal, são sete décadas de história. No entanto,assim como o planeta gira constantemente, o mundo da música não para. E com os Demônios não é diferente. Gerações surgiram, LPs deram adeus às vitrolas - boas vindas aos CDs, DVDs, MP3 players – e o conjunto musical de nome provocativo continuou sua sina de tocar a trilha sonora da vida de muita gente, sempre com uma técnica vocal que surpreende até os que não entendem muito sobre música. Nesse instante, talvez, você questione: quem são os Demônios da Garoa em 2015? Quanto à resposta, nada melhor que um autêntico demônio para esclarecer. “Demônios da Garoa, hoje, é um grupo que continua sendo a cara de São Paulo. E sem falsa modéstia, o melhor grupo de samba da cidade. Para nós, é um orgulho muito grande estarmos ainda nessa caminhada tão longa de 72 anos”, diz Wilder Paraízo, integrante há mais de “30” anos. Com um público conservador já consolidado, a arte desses paulistanos consegue também cativar a geração da nova era graças ao som da bateria e outros instrumentos acústicos que, antes, não eram parte integrante das apresentações. “São recursos novos para o estilo dos Demônios, claro, porém, o que impressiona é a capacidade de inovar e, ao mesmo tempo, ser tradicional. São poucos os mestres que conseguem essa artimanha”, afirma o produtor musical Fernando Pinheiro, responsável pelas gravações dos discos, que são feitos em estúdio próprio do grupo na Vila Prudente. O álbum mais recente, “Um Samba Diferente”, foi lançado em 2014, mas, como o público é saudosista, em cada apresentação sobra espaço para músicas antigas, as que marcaram a carreira do grupo, além das inéditas e regravações de grandes nomes, como Noel Rosa. Já essa conversa de que Demônios da Garoa é apenas moda de paulistano não existe para eles. Do sul ao nordeste do país são muitos os que apreciam esse trabalho. “No nordeste, por exemplo, como é difícil irmos lá, quando chegamos, a recepção é enorme e eles não se prendem apenas às canções mais famosas como, Samba do Arnesto” “Trem das Onze” e “Saudosa Maloca, e sim, pedem músicas que não são tão conhecidas. É uma prova de que lá somos fortes”, afirma Ricardo Cassimiro Rosa, integrante que representa a terceira geração do grupo. Fora do Brasil, ainda é necessário trilhar um longo caminho, pois, os chamados gringos não Depoisdotrem Como um dos grupos musicais mais tradicionais do país conserva o sucesso em meio às constantes mudanças do mercado fonográfico Silvia Mendonça e Vinícius Galdino das onze conhecem ou acompanham a trajetória – fato previsível. Mas, no que depender do grupo paulistano, essa evidência está com os dias contados. “Visitamos alguns países da América Latina, como Chile e Argentina, mas nossa vontade mesmo é fazer uma turnê pela Europa – não custa sonhar, não é? (risos)”, conta Cassimiro, apelidado de Ricardinho por ser o integrante mais jovem. TRADIÇÃO X MERCADO Sérgio Rosa, também da velha guarda dos Demônios, ressalta que com a morte do maior compositor do grupo, em 1982, Adoniran Barbosa, a música brasileirae o grupo perderam um grande nome. “Os Demônios tiveram que sobreviver, gravar coisas novas, arranjar compositores novos. Mas isso não impediu o grupo de continuar com o sucesso e ganhar discos de ouro e platina. E olha que ganhar um disco de platina hoje já não é como antigamente. Antes, esse mérito era muito mais honroso, não só pelo título, mas também pelo número de cópias “O novo cenário musical perdeu a tradição. A músicaé muito mais comercial.” FOTO:Vinícius Galdino Início do Grupo do Luar (primeiro nome adotado pelos Demônios): 1942. Demônios da Garoa: nome usado a partir de 1943. O Estilo Gaiato: 1953. A Parceria com Adoniran Barbosa: Começa em 1951. 1994: entraram para o Guinnes Book -Livro dos Recordes Brasileiro, como o “Conjunto Vocal Mais Antigo do Brasil em Atividade” e com o maior tempo de atividade. RECORDAR É VIVER
  • 6. 10 11 de disco vendidas. Sem dúvida, o valor do trabalho por parte do público e da crítica era outro”, afirma. Porisso,nemtudoéummarderosas.“O novo cenário musical perdeu a tradição. A música é muito mais comercial”, conta Izael Caldeira enquanto esbraveja com as mãos. “Nessa nova fase, já houve até emissora de televisão que cobrou cachê para que fizéssemos uma participação num programa. Antes, nós recebíamos para aparecer”, continua Wilder Paraizo com ar de indignação. Em consenso, os integrantes atribuem também ao público a responsabilidade por essa desvalorização. Segundo eles, o povo e seu modo de consumir são fatores que motivam os veículos de comunicação à construção de uma programação classificada por eles como ‘sem conteúdo relevante’. “Ainda bem que existem veículos sérios, temos que concordar. A TV Cultura, TV Brasil, Rádio USP são veículos que dignificam nosso trabalho”, admite Sérgio Rosa. Devido à queda nas vendas de discos e a possibilidade de conseguir conteúdo pirateado, tanto em CD quanto na internet, o desafio é sobreviver, em grande parte, à custa das mais de 20 apresentações por mês. O FUTURO DA GAROA A formação atual conserva muitos desejos de novas conquistas, porém, “Os Demônios tiveram que sobreviver, gravar coisas novas, arranjar compositores novos. Mas isso não impediu o grupo de continuar com o sucesso e ganhar discos de ouro e platina.” CONHECENDO OS INTEGRANTES RICARDO CASSIMIRO ROSA Ricardinho, o mais jovem da turma, nasceu em 1988 no município de SantoAndré, região doABC paulista. É vocalista e toca pandeiro. Ele é o primeiro da terceira geração dos Demônios ROBERTO BARBOSA Canhotinho, como é carinhosamente chamado pelos companheiros, nasceu em Espírito Santo do Pinhal, interior paulista, em 1938. É vocalista e toca cavaquinho WILDER BENEDITO PARAÍZO Dedé Paraízo vem da capital de Minas Gerais, nascido em 1959. É vocalista toca violão 7 cordas IZAEL CALDEIRA Apelidado de Catraca, nasceu emAraçatuba, interior de São Paulo, em 1942. É vocalista e toca timba. Sua música preferida é “Trem das Onze” SÉRGIO ROSA Conhecido também como Pimpolho, nasceu na Mooca em 1955. Seu instrumento é o afoxé, herdado do pai, Arnaldo Rosa, fundador dos Demônios da Garoa. Este é o que está há mais tempo no grupo. tem consciência de que reformulações continuarão sendo necessárias. Sérgio, o mais falante dos cinco, garante que já tem nos bastidores novas apostas para chegar aos próximos 72 anos do quinteto. E não é tarefa simples tentar fazer parte dessa turma. “Para entrar no Demônios, tem que ter muita bagagem, precisa estudar muito, afinal, o Demônios é uma escola. Tem que saber muito de música e da nossa história. não queremos daqui 10 anos que olhem e digam: olha lá aqueles rapazes cantando repertório do Demônios da Garoa, e, sim, que são a continuidade do grupo mais tradicional de São Paulo”. E quando a pergunta é sobre o fim da trupe, Sérgio faz questão de dar uma definição direta e ousada. “Demônios da Garoa é como catinga de cú, não acaba nunca!”. O acústico “Vem Cantar Comigo”, lançado em 2012 pela Radar Records, foi o primeiro DVD gravado pelo grupo. Na produção, houve participação especial de artistas como Dudu Nobre, Péricles, Wando e Arnaldo Antunes. O repertório exclusivo, vocais e arranjos bem estruturados são mostrados nas 24 canções do álbum. DVD ACÚSTICO FOTOS:ViniciusGaldino Um encontro ao ar livre, debaixo da aroeira, até as partituras sentiam a brisa do vento, foi o local em que a orquestra de samba iniciou sua trajetória. A Orquestra de Samba e Choro de São Mateus é formada por jovens músicos instrumentistas, o projeto tem como propósito levar a riquezadamúsicapopularbrasileira,em seus mais variados ritmos, e valorizar a cultura do nosso país através das oficinas . Nasceu no de 2004, no CDM (Centro Desportivo Municipal - Vera Cruz) bairro de São Mateus, zona leste de São Paulo. O começo foi apenas com quatro cavaquinhistas, que aos poucos foram convidando outros e assim  começaram a expressar seu talento até montarem uma orquestra instrumental de música brasileira.    Surgiu numa região carente e num ambiente longe do ideal para o ensaio de uma orquestra, mas gradualmente seguem conquistando espaço e mostram que é possível trilhar no caminho da música. Mesmo sem ajuda financeira para o projeto, os alunos chegam longe e permanecem com esperança e talento. Atualmente contam com o espaço do teatro do CEU (Centro Educacional Unificado)- São Mateus, pois foi cedido para os ensaios de domingos. A orquestra é formada por jovens da região de diferentes idades e conta com aula do músico, compositor e idealizador do projeto, Everson Pessoa. Clássicos dos mestres compositores As composições dos grandes mestres da música brasileira ajudam jovens da Orquestra de Samba e Choro de São Mateus a chegar aos grandes palcos Por Fabiele Leite Abre alas pra orquestra Começaram a expressar seu talento até montarem uma orquestra instrumental de música brasileira FOTOS:ViniciusGaldino FOTOS: Fabiele Leite
  • 7. 12 13 Abbadia hoje é trombonista profissional e também professor, já tocou em cidades como Amsterdã, Paris, Nova York. Atualmente se apresenta em uns dos grandes teatros de São Paulo com o espetáculo “Chacrinha – O musical”. Mesmo depois de tanto tempo ainda se sente parte da orquestra, apesar da dificuldade de conciliar as agendas e trabalhos, ele procura sempre frequentar alguns ensaios para rever os amigos para  tocar uma boa música. Em meio a tudo isso o projeto não perde sua essência de continuar a se responsabilizar por levar a comunidade não só a boa música, mas também grandes sonhos. E acreditam estar no caminho certo, pois sempre alguém se destaca. A orquestra realiza suas apresentações em centro culturais da cidade e o ensaio é aberto a quem quiser participar. CHACRINHA O MUSICAL A vida de Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha, é contada em forma de cordel e programa de auditório, na montagem da produtora Aventura dirigida por Andrucha Waddington. O espetáculo acompanha a trajetória do apresentador desde sua infância em Surubim, Pernambuco, até o auge da carreira na TV Globo, comandando o programa de auditório “Cassino do Chacrinha”, com espaço para as rebolativas chacretes, os trocadilhos infames, buzinadas e troféu abacaxi. A trilha sonora reúne mais de 60 sucessos da música nacional. brasileiros não faltam no repertório. Tom Jobim, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Luiz Gonzaga, são tocados com paixão pelos jovens. “Sempre foi uma base boa para quem está começando, e não só para quem está começando, mas também para quem gosta de praticar música instrumental brasileira”, afirma Everton Pessoa sobre a escolha do reportório. Nos ensaios os ritmos são os mais diversos como, choro, samba, baião, entre outros da esfera popular, procura sempre aprimorar e descobrir novos talentos entre alunos.  E assim obtendo a música como ferramenta que impulsiona, direciona os sonhos de cada um e acrescenta á comunidade um enriquecimento cultural. Da zona leste para a zona sul, da plateia vazia de ensaios no CEU, para plateia cheia de um espetáculo no Teatro Alfa. O que se destaca é a perseverança de jovens que iniciaram sua carreira na orquestra e hoje trilham no caminho do sucesso profissional. A orquestra ajudou músicos a focarem no que realmente queriam, pois num país como nosso, bombardeado pela  cultura estrangeira, se manteram valorizando a música brasileira. É o que aconteceu com Allan Abbadia, que hoje vive da música e atribui boa parte do seu sucesso ao projeto.  “Foi muito bom porque eu tinha um aperfeiçoamento, vamos dizer assim é parte importante da minha formação como músico ”, afirma. Nos ensaios os ritmos são os mais diversos como, choro, samba, baião, entre outros da esfera popular, procura sempre aprimorar e descobrir novos talentos entre alunos DOS PEQUENOS AOS GRANDES PALCOS SERVIÇO Ensaio: Aos Domingos Horário: 10h ás 12h Local: CEU São Mateus Rua Curumatim, 201 - Pq. Boa Esperança.  Está aberto para todos interessados em trocar experiência e estudar Música Popular Brasileira. Aberto ao público também prestigiar e conhecer. AGENDA 27 DE MARÇO A 26 DE JULHO Quintas feiras: 21h Sextas-feiras: 21h30 Sábados: 16h e 20h Domingo: 17h Nos dias 15 e 21 de maio o personagem Chacrinha será interpretado por Jonathas Joba. FOTO: Divulgação
  • 8. 14 15 Vale Conhecer Enquanto você lê esta matéria, deve estar curtindo um ócio, seja ele criativo ou não. Pois saiba que há uma banda que vive do ócio, literalmente, trata-se do grupo de rock Vivendo do Ócio. Formada pelos baianos, que vivem em São Paulo, Jajá Cardoso, Dieguito Reis, Luca e Davide Bori, a banda surgiu em 2006, e tem esse nome por suas tardes ociosas, musicando. Em 2008, lançaram o CD Demo “Teorias do Amor Moderno”, disponibilizado gratuitamente para download. No mesmo ano, venceram o concurso de bandas GAS Sound, que resultou na gravação de um disco com a Deckdisc, gravadora independente, da qual os meninos ainda fazem parte. Em 2009, a banda teve maior visibilidade quando ganhou o prêmio Aposta MTV, no VMB (Vídeo Music Brasil). Uma de suas músicas mais famosa, do álbum “O Pensamento é um Ímã”, é a canção ‘Nostalgia’, na qual os garotos declaram a saudade que sentem da Bahia. Atualmente, estão trabalhando na divulgação de seu novo álbum “Selva Mundo”. Ficou curioso e quer saber mais sobre esses baianos? Não seja ocioso, e entra no site da banda http://vivendodoocio.com/. Agora, se você curte um som mais leve, vale conhecer a maranhense Nathalia Ferro. A cantora e compositora que iniciou sua carreira em 2004, na cidade de São Luís, traz em suas músicas a doçura, misturando o romantismo melancólico com o reggae da chamada “Jamaica brasileira”, como é conhecida a capital maranhense. Em 2009, ela foi a vencedora na categoria Revelação, do Prêmio Universidade FM, que tem como objetivo valorizar a produção cultural local e é considerado o principal evento musical do Maranhão. Seu primeiro EP, “Instante”, foi lançado em 2013, trazendo cinco faixas, que falam sobre o amor fugindo da obviedade. Atualmente a cantora trabalha na divulgação do álbum “Alice Ainda”, que fala sobre uma persistência da compositora no trabalho criativo, de continuar uma ‘Alice’, como a sonhadora personagem de Alice, no País das Maravilhas,. Se você quer conhecer mais a fundo o trabalho dessa sonhadora, suas músicas estão disponíveis para download gratuito no soundcloud, https://soundcloud. com/nathaliaferro. FOTO:Divulgação FOTO: Erika Lins
  • 9. 16 17 M ovimento Hip Hop ou Rap, “a mesma coisa”, confirma KL Jay em uma de suas músicas no álbum KL Jay na batida Vl.3. Esse estilo musical que muitos acham que música de bandido ou que faz apologia ao crime. Rap (Ritmo Alternativo e Protestante), a maioria de suas letras vem com gírias e até com palavrões, mostram a realidade das periferias, presídios, classes desfavorecidas, retrata o racismo, violência policial, estupro, exploração do trabalho infantil e pedofilia. E como diz a socióloga e psicóloga Bruna Ramiro, não existe ser humano sem a presença do outro e pessoas são representadas e ensinadas através de manifestações culturais e a linguagem verbal e a produção de pensamento é o que nos difere de outros animais e a música pode influenciar positiva e negativamente. E se tratando do preconceito que há contra o rap, principalmente das grandes mídias, ela concorda com os rappers que afirmam dizem que isso não passa de receio, que dar voz a maioria pobre não é interessante, e ainda ressalta que a sociedade é parte de uma engrenagem onde poucos se beneficiam os demais se tonam escravos do sistema. O preconceito está presente, mas o rap sobrevive. São os 4 elementos: Grafite (expressão da arte em pinturas), Break (B.Boy e B. Girl, representando a dança), Mc (a consciência) e o Dj (a essência). Estão aí para quem quiser escutar, apreciar, aprender e respeitar. O ritmo polêmico que já mudou a vida de muitas pessoas. Kl Jay, é dj dos Racionais MC’s e Max B.O, Mc e apresentador do programa Manos e Minas da TV Cultura, dois de muitos representantes desse movimento, falam melhor sobre essa música malvista e, ao mesmo tempo, admirada por muitos. Você acha que a música tem o poder de “abrir os olhos” da sociedade? Max B.O - De abrir e de fechar também. A música tem o poder de mexer com as pessoas através do ritmo, e quando vem carregada de uma letra, é potencializada. Mas, muitas vezes pode e ludibriar, conduzir ao sexo sem prevenção e fazer muitos jovens terem filhos na adolescência, seguir outros caminhos de encontrar o prazer, como “boquinha da garrafa”, e por aí vai. A música tem o poder de mostrar e fechar o caminho. KL Jay - Tem também. Eu acho que a música, antes de mais nada é um entretenimento, é um antídoto, um remédio que o mundo precisa ter para não ficar todo mundo louco, cair em depressão e sair atirando nos outros. É um relaxante muscular, nos leva para um futuro, um passado e ir de volta ao presente, nos faz esquecer os problemas. A música faz você viajar. Mas também pode ser usado como meio de mudança e articulação política e social O rap tem influência na periferia como agente social e político? Max B.O - Sim, mas já teve mais. Porque o rap começou dizendo só que as pessoas precisavam ouvir, depois passou a ser o que precisavam e queriam ouvir, agora é quase não diz o que as pessoas precisam ouvir. Tudo isso faz parte da transformação, depois volta a ser como era. No Brasil é interessante eliminar o questionado e “criar o cala a coca”. Tem gente que vai passar a vida inteira na mesma luta, acho que sou uma dessas pessoas, só vou modificando meu jeito de lutar. Infelizmente, para muita gente, a revolução já acabou, depois que se consegue uma casa própria mais perto da Marginal, andar no seu próprio carro, deixa de ser a luta que era. Mas para outros, sempre vai existir porque sempre vão sentir a dor que o outro sente. É isso que faz com que as pessoas se sintam representadas no rap. Já ouvi gente dizer que, por causa de uma letra de rap, deixou de cometer um delito, ou mudou de ideia sobre determinado fato. Kl Jay - Articulação, as pessoas param para ouvir, mudam o comportamento, andam com a mesma roupa do artista. Mas a música é entretenimento, não pode ser usada só como instrumento político, os artistas, principalmente os de hip hop não podem confundir isso, senão não é música, é política. Se for subir no palco só para fazer discurso político, se candidate, entre para o congresso. Não é muito fácil representar a sociedade principalmente através da música. Desde que o mundo é mundo, a música fez crítica social e política. Compositores como Noel Rosa na década de 30, a Tropicália na ditadura, enfim, canções que para classe dominante, talvez sejam provocadoras. O rap nacional é um desses estilos e costuma com suas letras dar voz à periferia, criticando a negligência do governo e a elite e até hoje ainda sofre muito preconceito. Por Silvia Mendonça é a hemodiálise mental O Rap “Salvo os programas específicos, tanto no rádio quanto na TV, o rap não tem espaço e nem vai ter” Max B.O FOTO:FabieleLeite
  • 10. 18 19 Você já sofreu alguma repressão por causa de suas letras? Não, pelo contrário. Uma vez estava no trânsito e parou uma viatura do meu lado e até pensei, vou tomar um “enquadro”, aí o policial disse... ”faz uma rima aí pra gente”...e eu falei: “Vou rimando no improviso, com carinho e com malícia, e vou virar aqui à esquerda, boa tarde pro polícia”. Quando eu sofri essas questões não foi por cantar rap, e sim, por ser negro, da quebrada, andar de bombeta, essas coisas do cotidiano do jovem da periferia. Kl Jay - A primeira, quando ainda não tínhamos nem disco, estávamos vindo de uma apresentação em uma casa chamada Clube do Rap, na Brigadeiro Luís Antônio, eu estava com um Toca Discos, que era usado, o polícial me pediu a nota, eu não tinha, mas viram que eu não era ladrão, tive que ir preso para averiguação, isso só porque eu tocava rap. Racionais já foi preso cantando Homem na Estrada em um megaevento de rap no Vale do Anhangabaú. Já teve shows que a polícia cercou e subiu no palco, também o show da praça de Sé, o Mano Brown já foi perseguido quando morava na Zona Sul. Porque o rap não tem tanto espaço na mídia? Max B.O - Vou até rimar: “Salvo os programas específicos, tanto no rádio quanto na TV, o rap não tem espaço e nem vai ter”. Se nós mesmo não fizermos ninguém fará, para mídia, o formato de pessoas que elas têm, já é o suficiente para ela não precisarem do rap, é mais fácil lhe dar com um cara menos estudado, mais matuto que cuida de uma fazenda do que com um cara que estudou em escola pública e mora na favela, ao lado do esgoto a céu aberto e que a polícia entra ali e bate na molecada. Existe o medo de dar para uma pessoa a oportunidade de ser igual ou melhor que você, esse é o receio da mídia. Kl Jay - Só aqui no Brasil. Porque sofre preconceito, perseguição, o país ainda é colônia, latifundiária, tem a mentalidade do coronel, então o rap é impedido de chegar. “Se for subir no palco só para fazer discurso político, se candidate, entre para o congresso” Kl Jay Você considera suas letras pesadas? Max B.O - Não, procuro escrever músicas que meu filho e meus pais possam ouvir. Kl Jay - Não são pesadas, são muito bem escritas. São letras que tem poesia muito bonitas e as palavras são bem colocadas e rimadas, inclusive as de autoria do Brown. E nisso você pode falar de roubo, morte e palavrão, porque tem arte e fica bonito. Entendeu? O que acha do atual governo? Max B.O - Tá difícil! Muita gente roubou e agora querem malhar o receptador, são coisas que vinham acontecendo e agora estouraram. Nesse bairro que é rodeado de prédio, quando rolou o panelaço, que deveria ser coisa de gente que não tem comida no prato, imagino quantos teflons foram arranhados. Esse governo, que é menos pior (não existe governo bom), mesmo cheio de escândalo, fez o pobre se sentir um pouco melhor e fez o rico ralar um pouco mais. E com essa de manifestação e mudança, eles têm condições de fazer o pobre acreditar que está ruim para o ele também. Mas no plano Collor, estavam todos arrebentados aí o Brasil se uniu. Kl Jay - Horrível! Os governos têm sido ruins há muito tempo, o que poderia mudar alguma coisa é o governo do Lula, mas infelizmente, ele não pôde dar continuidade. É um governo mal administrado, economicamente mal pensado, o Brasil sempre pega o barco andando e vai empurrando com a barriga. Não dá para inventar planos de governo, é a mesma coisa que a época da ditadura, talvez até pior, é um país democrático apenas na teoria, só de ser obrigado a votar e se listar, já é ditadura. É uma minoria que domina a maioria, e essa maioria fica um contra o outro. Essas manifestações pedindo o impeachment da Dilma (e não é isso que deve ser feito) é uma luta de classes, não vai resolver nada. Mas dá para esperar muito de um país que no ranking da educação é de número 85. Nós temos que fazer a nossa parte sendo honesto, não passando no farol vermelho, devolvendo o troco quando nos dão 1 real a mais. Como eu li, estamos numa falência moral, todos são corruptos nesse país. O que você acha da mídia? Max B.O - “Quero minha foto na revista sem erro da Jornalista”.Émuitocomumnorap,teentrevistaremetrocarem seu nome, ou também as grandes mídias que esquecem que o cantor de rap fez um grande ato na comunidade, ele é citado apenas como jovem da periferia. Mas, se ele for preso, a coisa é diferente. O agente de transformação do rap não aparece explicitamente, pois ele é a hemodiálise mental, quando o moleque ouve o rádio e as letras que falam diretamente para ele, que está na favela vulnerável à vida do crime. Kl Jay - Importante, também é entretenimento, divulgação artista, mostra a arte para o mundo. Claro que tem a mídia falsa e corrupta, é só escolhermos o que queremos ver. A Cultura dos Manos Max B.O apresenta semanalmente, na TV Cultura, o programa Manos e Minas, e fala da força que o programa tem, principalmente depois que saiu do ar e o público (não só o do hip-hop) pediu a volta. Pessoas que tiveram seu trabalho mais observado em alguma matéria que passou no Manos, quando mostramos na favela um grupo de sanfona de um menino que faz um instrumento com o lixo da comunidade. Mesmo não sendo do só rap, é de manos e minas. “Não temos a necessidade de fazer um programa de ilusão, como a maioria dos programas de TV aberta ligados ao pobre fazem, não mostramos o polícia batendo na favela e tráfico de drogas, não criticamos nem protegemos polícia e bandidos, apenas mostramos, dentro de nossas possibilidades, a realidade. Mas também não dizemos que lá não tem assalto, nem que está tudo lindo, sem problema social, que todos os moleques têm cordão de ouro pendurado no pescoço”. Assim Max fez questão de afirmar. Como ele mesmo disse, os medidores de audiência não estão em toda parte, e nos presídios, onde ele sempre vai visitar algum amigo, todos assistem o Manos, e não se sabe se o medidor está na cadeia, e a TV Cultura não é uma emissora que briga por audiência. O Manos e Minas é a cara da comunidade, independente do estilo musical, aborda vários temas como exposições, agenda de shows, projetos sociais e novos artistas. Toda semana há um convidado, na maioria do estilo rap, mas também alguns sambistas ou jazz e blues. DJ Abade, de receptor a emissor O rap é um ritmo que dá voz a periferia, ás classes desfavorecidas, muita gente diz que mudou a vida ouvindo rap. De uns anos pra cá, o ritmo atingiu outros públicos, pessoas que nunca passaram dificuldade, mas que apreciam o estilo. Fabio Reginaldo Abade, mais conhecido como Dj Abade cresceu ouvindo rap e diz que demorou a assimilar o que a música dizia e a via apenas como curtição. Mas, quando passou a ter mais instrução, viu que era muito mais que isso, principalmente as letras dos Racionais MC’s, “ quando o grupo lançou o álbum Sobrevivendo no Inferno, eu comecei a ter a noção do que é ser preto, sentir orgulho do cabelo duro, andar largado, ter orgulho do que eu sou, nós pretos, já nascemos com inferioridade, e eu achava que não iria casar e tinha vergonha da minha cor, mas o rap mudou minha visão”, afirma Abade. Para ele muita gente ainda sofre preconceito por ouvir rap e diz “o nome rap soa estranho em muitos ouvidos, Racionais foi o barulho para muita gente, mas isso está mudando, a rap está melhor estruturalmente”. Mas Abade já não é só ouvinte de rap, com o tempo estudou música e se tornou dj fazendo vários eventos por São Paulo. Participou de concursos de discotecagem e hoje faz parte da equipe dos Racionais, e diz que foi um sonho ser escolhido entre tantos dj’s, Racionais para ele é a empresa em que trabalha. FOTO:ÉrikaLins FOTO:FabieleLeite
  • 11. 20 21 Daigreja mundo para o Ogospel tem se tornado um dos fenômenos culturais mais significativos do início do século XXI. Propagado como um estilo musical no começo do século passado, este gênero tem se tornando marca de uma nova cultura evangélica. O universo do gospel não consiste apenas de letras que abordam temas religiosos cantadas nas igrejas. Sua música é eclética e, como resultado, um número expressivo de pessoas tem sido alcançadas por este novo som. No Brasil, a música gospel, interpretada por nomes como os de Aline Barros, Thales Roberto e Oficina G3, também tem empregado quase todos os gêneros da moderna canção popular, enquanto o mercado musical evangélico nacional apresenta números de crescimento expressivos. O gospel passou a introduzir novas práticas musicais, que englobam o pop/rock e o baião, o hip-hop e o sertanejo, o funk e a axé-music. Alem disso, os artistas gospel de grande público chamam cada vez mais a atenção das grandes gravadoras da música pop –, o que tem levado a canção evangélica até programas de TV , programas de auditório,telenovelas e até trilha sonora de filme.Este crescimento se dá nos Estados Unidos também. Há uma grande indústria fonográfica que gera altas cifras financeiras lideradas por cantores como Michael W. Smith, Amy Grant, Third Day e Kirk Franklin. Cenário maravilhoso certo? Claro, aliás, como diria o poeta “se melhorar estraga”. Porém, para que ele chegasse a este patamar, muitas pessoas tiveram que ousar numa época que era um crime religioso, por exemplo, tocar violão na igreja porque era considerado um instrumento boêmio. Luís de Carvalho, ícone da musica gospel brasileira na década de 40 foi o percussor deste instrumento e achincalhado por tal atitude. Durante muito tempo apenas as palmas eram aceitas como acompanhamento “A palma era parte integrante no arranjo das músicas, mesmo porque os hinos da harpa cristã eram compostos para a congregação participar” conta o professor de música Rafael de Farias. Mesmo depois de tanto tempo e diversas inovações desde então, ainda há pessoas que imaginam a música gospel como algo simples e sem instrumento. Marina de Lima, 29,baixista da banda de rock U.P.R,afirma que constantemente é questionada sobre este tema. “Geralmente ao me abordarem os comentários são o mesmo do tipo se tocamos instrumentos populares como guitarra, baixo e bateria” diz ela. Falando em rock,historicamente este estilo sempre foi visto com maus olhos pela igreja no país.Até a década de 60 não havia rock gospel.O desbravador da vez foi Luís Batista,primeiro cantor a gravar no estilo. De lá para cá,diversas bandas surgiram como Depois de séculos enfrentando muitas barreiras no Brasil,a música cristã saiu das quatro paredes e vem ganhando cada vez mais espaço na mídia Por Diego Alves FOTO:FabieleLeite Oficina,Resgate,Katsbarnea entre outros. A banda UPR faz parte deste time. Seus integrantes tocam juntos desde 2002,quando ainda eram adolescentes e,13 anos depois, se preparam para a gravação do Cd Unidos pela Revolução. O baterista da banda, Vinícius Melo,29,já chegou até a tocar hardcore,um estilo bem mais pesado e com pouca aceitação nas igrejas do que o rock,porém,ele conta que sua igreja sempre lhe deu abertura. “Por fazer parte de uma igreja que nunca foi tradicional, sempre tivemos incentivo e liberdade para fazermos nossa bagunça” conta de forma bem efusiva. Vinicius provavelmente não falaria desta forma nem tampouco faria parte da musica cristã se tivesse nascido na década de 70. Parte das igrejas brasileiras não aceitavam bateria em suas canções pois falavam “que não era de Deus”.Nesta época usavam-se instrumentos harmônicos como oboé,harpa,flauta,piano. Quanta coisa mudou. Dos anos 70 para cá, instrumentos foram se achegando ao gospel, estilos musicais ganharam a confiança dos religiosos e a musica ampliou suas estacas. Só para se ter uma noção, hoje em dia existem certos tipos de teclados que comportam todos estes instrumentos citados num só lugar. “O Worksation possui timbres que simulam orquestras, ou seja, ao invés de contar com 30 pessoas se necessita apenas do tecladista”, afirma Rafael. Outra grande vantagem que tornou este estilo conhecido e atrativo foi a igreja. Você deve estar se perguntando “Como assim se acabei de ler que ela era uma espécie de juiz?”. Segundo o produtor musical Thiago Suguihara, o músico cristãotemavantagemdetocarnostemplossemanalmente. “A igreja ajuda-o a se desenvolver pelo fato dele tocar quase todos os dias e isso melhora sua capacidade” afirmou. Por conta destas novidades no mundo gospel,diversos músicos cristãos se tornaram referência fora da igreja.”Tive a oportunidade de ajudar no ultimo DVD do Luan Santana, produzido 80% com músicos cristãos”, disse o produtor. Outro fator agregador são suas mensagens que, junto da música conseguem atingir diversos públicos. A banda de Reggae Reobote ZIon é prova disto. Este estilo musical normalmente é visto pela sociedade relacionadaaousodealgumvício,poremseuscomponentes iniciaram o trabalho porque, além de gostarem do reggae, viram que poderiam alcança um público diferente. “Junto com a musica e nosso estilo podemos estar no meio das pessoas que curtem o reggae e através da nossa mensagem fazer a diferença na vida deles”, afirmou Daniel Charelli,líder da banda. Isto demonstra o quanto esta vertente musical rompeu as barreiras do preconceito dentro do seus próprios adeptos e consegue aos poucos se equiparam a chamada música secular. Desde as últimas décadas do século XX, o cenário do cristianismo no Brasil tem sido marcado pela expansão dos evangélicos. No Brasil o número aumentou 61,45% em 10 anos, segundo dados do Censo Demográfico divulgado em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesquisarevelouquehouveumdeclíniode1,3%decatólicos declarados. Mas mesmo com estes dados, o movimento carismático católico cresceu na ultima década. Sem querer ficar atrás “Geralmente ao me abordarem os comentários são o mesmo do tipo se tocamos instrumentos populares como guitarra, baixo e bateria”. Marina de Lima – Baixista Quem não se lembra do vídeo dos irmãos Jefferson e Suellen da Silva Barbosa cantando o hino evangélico “Para nossa alegria” sentados no sofá de casa, às gargalhadas? A gravação caiu na web e foi visto por 30 milhões de pessoas via YouTube. Dois anos após o sucesso - que rendeu à dupla participação em programas de televisão, a gravação de um segundo CD e até mesmo um comercial com atriz Jessica Alba -, Jefferson e Suellen tentam voltar à fama.Atualmente, eles fazem animação em festas infantis e se apresentam em eventos. RECORDAR É VIVER FOTO: Clayton Castelani/G1
  • 12. 22 23 Músicos em começo de carreira querendo despontar no cenário nacional, outros com anos de estrada desejando somente reconhecimento pelo seu trabalho, e tantos diferentes desses sonham com fama e dinheiro. Assim pode-se traçar o perfil dos participantes de reality shows musicais, formato que garante a alguns um sucesso repentino e que a cada apresentação na TV conquistam fãs quase que instantaneamente. Suas músicas viram hits em questões de dias e o anonimato desaparece surgindo uma nova estrela nacional. Nesse cenário, entretanto, surgem artistas “criados” para a fama, produtos pré-fabricados por empresários em busca de retorno financeiro e logo quando esse retorno deixa de vir seus contratos são cancelados expondo a fragilidade do reality show que os trouxeram ao estrelato. A partir da última década houve um “boom” desses modelos no Brasil, destacam-se os programas Pop Stars, The Voice, Ídolos e Fama, que apresentaram diversos artistas à cena musical nacional. Os precursores dessa leva foram os grupos Br’oz e Rouge que venderam milhões de cópias de discos em curtíssimo tempo, porém desapareceram na mesma velocidade. Outros fazem sucesso nos dias de hoje como Thaeme da dupla sertaneja Thaeme e Tiago, Roberta Sá (que chegou a gravar com Ney Matogrosso e Chico Buarque), Hugo e Tiago, Mariana Elali (que teve a música “Você” na trilha da novela “América”), e Thiaguinho. O último desses alcançou o posto de vocalista do grupo Exaltasamba, hoje segue em sólida carreira solo. Todavia, eles são exceções se compararmos o número de participantes em cada edição, na segunda do Pop Star, por exemplo, 34 mil pessoas foram inscritas e somente 5 saíram vencedoras. Devido ao acirrado cenário musical no país fica evidente a dificuldade que tantos artistas de qualidade enfrentam após a atração, eles dificilmente ganham uma segunda chance nas grandes mídias e voltam ao quase anonimato, continuando da forma que pararam quando ingressaram no reality fazendo com que o programa vire apenas um hiato Reality shows musicais revelam dezenas de artistas ao cenário nacional, porém poucos sobrevivem a esse feroz mercado artístico. Muitos voltam ao ostracismo tão rapidamente quanto alcançaram o sucesso Por Alex Ribeiro Gonzaga Da ascensão àdestas novidades e tendências, a banda católica Rosa de Sarom também mostrou sua cara dentro de uma realidade de mentalidade bem tradicional. O grupo surgiu em 1988 na cidade de Campinas/SP, dentro deste novo movimento da Igreja Católica, com a pretensão de fazer algo diferente e atrair jovens para igreja através de letras com a linguagem do jovem. “Resolvemos tocar um rock pesado com uma temática religiosa como pano de fundo, mensagens que envolvam nosso cotidiano”, disse Rogério Feltrin,criador da banda. Os conservadores criticaram a ideia e acreditavam que o estilo musical não combinava com a mensagem de Deus. “Os mais antigos achavam a linguagem inapropriada mas sempre tivemos a vontade de levar a mensagem que acreditamos fazendo o que gostamos”, falou Rogério. O sucesso do Rosa de Sarom foi tanto que, em 2009, a Som Livre os contratou e até hoje distribui os materiais da banda por todo o Brasil. Atualmente, eles faz cerca de 10 shows por mês chegando, no fim de ano, com uma média de 120 apresentações por ano. Se os percussores da musica cristã estivessem vivos,no mínimo iriam ficar felizes pois musicalmente e socialmente ela alargou suas estacas. Se tornou uma indústria em que milhares de pessoas sobrevivem deste mercado que chega a fazer com que um cantor faça quase vinte e cinco shows por mês, com cifras por apresentação sendo aumentada a cada ano.O que fica cravado seja em um poema, carta, e na musica é a mensagem que ela propaga e seus possíveis efeitos. “Deus é o criador da musica e, portanto o que importa é a mensagem que a musica passa”, diz o produtor THIAGO SUGUIHARA A quantidade de eventos, como festas, baladas e cristotecas, em que os estilos musicais dançantes são tocados ao vivo, ou eletronicamente por um DJ gospel. E as pessoas ainda indagam se este cenário, em relação as cifras que envolvem este trabalho, se tornou um mercado. Quem toma esta postura se esquece de que a música em si sempre foi uma ferramenta de sobrevivência desde os primórdios. Já na década de 40, existiam gravadoras gospel e ,assim como em qualquer gênero ,a sobrevivência vem do dinheiro recebido pelas vendas de Cd. A realidade é que os frutos gerados pela música gospel crescem a cada ano. Anualmente, a Marcha para Jesus leva milhares de fieis às ruas de todo o país e com ela os cantores e bandas. Além disso, também existe há quase 10 anos a Expo Cristã, uma feira que envolve produtos cristãoseéclaro,umespaçogigantepara a veiculaçãoda musica cristã. Desde sua vinda ao Brasil, a música gospel se desenvolveu e continua nesta crescente em busca do novo, do diferencial, do inédito, provocando mudança em si mesma e na sociedade. Ela vem apresentando mais do que apenas uma proposta litúrgica diferente, mas de um movimento que ganhou adeptos dentro e fora das suas igrejas. Conforme a música “Faz um milagre em mim” do cantor Régis Danese, ela tem entrado nas casas e na vida das pessoas mexendo com suas estruturas. Quem olha para seu nascimento e analisa seu atual momento pode dizer que é um milagre. Aqui no Brasil o termo gospel passou a designar todo e qualquer estilo que seja expressão musical de fé, mas foi a partir dos anos 80 que a música religiosa, capitaneadas pelas igrejas evangélicas, tomou impulso e se transformou no grande negócio comercial que hoje movimenta cerca de 25 milhões de unidades de CD´s por ano. Thalles Roberto Já lançou cinco CDs e três DVDs. Discos vendidos: mais de 1 milhão de cópias Média de shows por mês: 12 Valor do Show: R$ 160 mil + passagens áreas (ida e volta) Fernanda Brum Já lançou vinte e nove CDs e sete DVDs. Discos vendidos: mais de 100.000 mil cópias Média de shows por mês: 5 Valor do Show: R$ 28.000,00 + passagens áreas (ida e volta) Aline Barros Já lançou dezoito CDs e treze DVDs. Discos vendidos: mais de 100.000 mil cópias Média de shows por mês: 10 Valor do Show: R$  R$115.000,00 FOTO:FabieleLeite FOTOS: Divulgação Globo
  • 13. 24 25 semifinalistas, uma tamanha responsabilidade. Infelizmente após o programa Ídolos, eu continuei cantando, porém não segui carreira na música, não só por falta de oportunidade e de espaço, mas também porque eu comecei a me interessar por outras coisas, fiz teatro, participei de algumas peças, mas nada de muita repercussão. Hoje apenas trabalho e estudo Rádio e TV” finaliza. BR’OZ Matheus Herriez fez parte da formação do Br’oz (grupo que contava também com Filipe Duarte, André Marinho, Jhean Marcell e OscarTintel)edurantedoisanosviveuoápice do sucesso, as músicas do grupo estavam na boca de muitos brasileiros, “Prometida” era o hit do momento e elevou a banda a um patamar jamais imaginado, todavia possui opinião cética sobre o formato do espetáculo que o revelou. “Eu não curtia muito, vou ser bem sincero, nem achava que era a minha praia e continua não sendo. Eu não tinha preconceito, mas a mente fechada para esse tipo de projeto, esse formato, reality show, big brother, etc” afirma. Garante, porém, que vê a importância desses programas e dos artistas que eles apresentam, com algumas resalvas. “Até participar do Popstars e ver que realmente envolvia talento e que tem um propósito tudo bem, hoje eu entendo que é uma coisa bacana, embora tenha alguns pontos negativos que é o sensacionalismo, eles exploram demais a imagem das pessoas sofrendo, se esforçando, tem gente chorando, emocionada, que vêm da Bahia, as pessoas que não conseguem um resultado bacana voltam frustradas, outras conseguem e explodem de alegria e acabam não passando depois” complementa. Revela que durante as seletivas do programa passou perto da eliminação, pelo fato dos produtores o virem como arrogante após acenar somente com um positivo depois de avançar de fase, entretanto, pela sua imagem, resolveram mantê-lo na atração. Após sair vencedor do Popstar e integrar o Br’oz Matheus descobriu que o sucesso tinha um preço, ele e seus companheiros tiveram que aceitar algumas imposições vindas de empresários que investiram no grupo. “Eles focaram em uma coisa muito comercial e isso passa muito rápido, as pessoas, querendo ou não gostavam da gente, se a gente cantasse samba iriam gostar da gente do mesmo jeito”. “O Br´oz eram empresas e nós éramos o rótulo dessas empresas, o produto eram as empresas que estavam por trás, o Br’oz não era a gente, nós éramos apenas a embalagem e era um risco muito grande pra gente com relação a exposição, segurança e quem dava a cara para bater era a gente, se acontecesse alguma coisa negativa com relação ao grupo nós que sofríamos as consequências” afirma. Com o sucesso vieram às criticas, Matheus sentiu alguma delas principalmente por não ter autonomia para mudar atitudes da banda. “Tinha muito preconceito justamente por ser uma boyband, nós não éramos dançarinos. Parecia algo desesperador, queriam soltar a gente para fazer sucesso logo. Se fosse para optar gostaríamos que o grupo tivesse músicas mais elaboradas, a gente não tinha autonomia, ‘tem essas letras aqui e vejam o que vocês acham’”, desabafa. O fim chegou rápido, em 2005 (dois anos após o inicio) os 5 integrantes anunciaram a separação do grupo após decidirem não renovar o contrato com a gravadora. O ex- integrante diz que mesmo se todos optassem por continuar não permaneceria por não concordar com os princípios da banda. Mas diz que participaria novamente do programa que o revelou, mesmo sabendo das suas consequências e que talvez agisse diferente sabendo o que aconteceria por de trás dos bastidores. Para encerrar garante que não pensa na parte financeira. “Não quero ficar rico, não preciso ficar rico, não tenho essa ambição, estou sendo sincero, falando a verdade, se quiserem publicar vai de vocês, estou sendo sincero, os meus valores são outros” finaliza. “Foi uma oportunidade ímpar e um momento único na minha vida. Eu até então nunca tinha tido nenhuma experiência com palco, público, câmeras, jurados e etc. Era tudo uma novidade pra mim naquela época e ainda assim consegui chegar a semifinal. E se eu pudesse eu faria tudo outra vez”. Diogo Lima Vanessa Jackson venceu a primeira edição do Fama (2002). Fez shows no Japão, Estados Unidos e Europa em 2003, além de se apresentar em Angola com o Rei Roberto Carlos. No ano passado venceu o programa “Que artista sou eu?” do SBT. O QUE FAZEM OS EX-REALITYS HOJE? Ellen Oléria foi a vencedora da primeira edição do The Voice Brasil.Após a vitória aderiu ao veganismo emagrecendo 25kg.Atualmente, sua agenda de shows está praticamente lotada e, em maio, a cantora apresentou-se ao lado de outros artistas em comemoração aos 50 anos da Globo, no Maracanãzinho. Sam Alves venceu o The Voice Brasil em 2013, logo após ser eliminado da versão americana do programa. Seu primeiro CD em 2014 vendeu mais de 20 mil cópias. Sam tocou no réveillon da Paulista. Lançará esse ano seu segundo CD chamado “Id”. Karin Hils foi integrante do grupo Rouge, participou das novelas “Floribella” e “Aquele Beijo”, além da série “Pé na Cova” e “Sexo e as Negas”. Um dos seus últimos trabalhos foi no papel de Deloris da versão brasileira do musical “Mudança de Hábito”, personagem consagrada de Whoopi Goldberg no filme dirigido por Emile Ardolino em 1992. FOTO:ArquivoPessoal FOTO:SueleneCouto FOTO:JoaoCotta-RedeGlobo FOTO:LeoFranco-AgNews FOTO:DivulgaçãoGlobo
  • 14. 26 27
  • 15. 28 29 Numa tarde comum de sexta-feira você liga o rádio para zapear. Já na primeira frequência, toca Ariana Grande, novo talento da música pop americana. Na próxima, Taylor Swift, mais uma cantora americana. Resolve avançar mais um pouco, enfim uma música brasileira! ...Não, ainda não, é pregação religiosa. Após uma saga, percebe-se o quanto é difícil encontrar música popular brasileira nas freqüências de rádios de SP. Em uma busca rápida foram cinco rádios sertanejas, uma de pagode, uma de música clássica, nove religiosas, dezesseis internacionais ou mistas e, enfim, a MPB. São poucas as rádios dedicadas exclusivamente à música popular brasileira, mas elas ainda existem, a exemplo da NovaBrasil FM (SP), Rádio Cultura Brasil AM (SP) e a MPB FM (RJ). A dúvida que surge é: porque é tão difícil manter uma programação nacional e qual a importância disso? E afinal, o que é MPB? Que cantores vêm à sua cabeça quando se fala em MPB? Alguns dirão que MPB é Caetano Veloso, Maria Bethânia, Tom Jobim. Bem, esses realmente são os nomes icônicos quando se fala nesse gênero musical. No entanto, nem sempre foi assim, Eduardo Weber, coordenador da rádio Cultura Brasil AM, lembra que há algumas décadas atrás, qualquer música produzida no Brasil era MPB. “MPB era tudo, Luiz Gonzaga era.” No início da década de 60, as músicas que se tornaram populares eram tocadas em eventos como o Festival Nacional de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Excelsior de São Paulo, em 65 e 66, e os realizados pela TV Record de São Paulo, que consagraram os hoje conhecidos como grandes artistas da MPB, tal qual Elis Regina, Chico Buarque, Gilberto Gil, Tom Zé e tantos outros. Éevidente,queemumpaístãograndeemextensãoterritorial e diversidade cultural e rítmica, não se pode considerar MPB apenas as canções produzidas em determinada região. O que é popular no sudeste, muitas vezes não é considerado popular no norte, e vice versa. De fato, há uma corrente que se inclina mais ao tradicional choro e samba que classifica a MPB como um nicho no eixo Rio/São Paulo, mas como salienta o coordenador da Rádio Cultura AM, como gênero musical, MPB é o que é produzido no Brasil inteiro. O CAMINHO DA SEGMENTAÇÃO Hoje,noBrasilexistem3.209rádiosFMe1.921AM,segundo dados de outubro-2014 do Ministério das Comunicações. Só na cidade de São Paulo as rádios FM ocupam 40 canais e as AM, 29, já no Rio de Janeiro, as emissoras FM somam 36, e as AM, 25. Com tamanha concorrência, ficou difícil manter uma programação homogênea. O rádio em mídia eletrônica foi o primeiro veículo a segmentar, por volta das Por Erika Lins Esse é o nome da Web Rádio que faz sucesso entre os internautas. Com sede em Recife-PE, o Brasileiríssimos surgiu em 2012 e é especializada em criar soluções criativas para valorização da cultura brasileira. Desde sua concepção, o Brasileiríssimos utiliza a internet como canal de divulgação da cultura brasileira e artistas autorais, tocando músicas nacionais desde Caetano Veloso à Rouge, com o objetivo de mostrar que o que há na cena brasileira é tão bom quanto o que é de fora. BRASILEIRÍSSIMOS revela, a partir de dados do Ibope, que a audiência do rádio entre as 6h e meio-dia é o dobro da TV aberta. Nessa faixa de horário, o rádio tem 1,815 milhão de ouvintes por minuto na Grande São Paulo. Os dados foram divulgados pelo site Notícias da TV, em junho de 2014. Com as novas tecnologias e a vida pós- moderna de correria, mesmo sem o famoso aparelho de som, o rádio se tornou opção para quem está no carro ou no ônibus, preso no trânsito, em filas de espera, e ouve as emissoraspelosmartphone.Weberconsidera que, o grande desafio para a emissora de rádio é cativar o ouvinte que está do outro lado e o convencer a desligar o Ipod, pra te ouvir. E isso, só é possível se você traz uma informação diferente, interação, renovação, conteúdo de relevância. É assim que a MPB FM mantém sua audiência, segundo Yke. “Mantemos o interesse do nosso ouvinte levando a ele uma programação de qualidade, além de programas com bastante conteúdo e eventos que permitem que ele possa ter uma experiência sensorial com a marca.”, conta o produtor. Para o coordenador da NovaBrasil FM, ainda é importante para o ouvinte, ouvir sua banda favorita no rádio, ainda que ele as ouça todos os dias em seu mp3. “Você pode ter 10 mil músicas no Ipod, se você é ouvinte de rádio, vai sempre ouvir rádio”, e completa, “quem gosta de ouvir rádio não vai mudar de opinião.” Diferente do que muitos pensavam, e até temiam, a internet não desbancou o rádio, se tornou uma aliada, pois serve para expandir o conteúdo, que antes, só era difundido em uma plataforma. Hoje, as emissoras produzem conteúdo exclusivo para canais no Youtube, fazem enquetes e sorteios em seus sites, e criam uma relação próxima com seu público por meio das redes sociais. “A internet é um braço da radio”, conclui Marcelo. Uma rádio dedicada exclusivamente à música brasileira tem uma função social que vai além da mera condição de entretenimento À brasileira Conheça as rádios que ainda mantém uma programação exclusivamente dedicada à produção nacional décadas de 70 e 80. “Principalmente com o advento do FM, não adiantava muito tocar as mesmas músicas porque você estava competindo com o mesmo nicho. Então segmentou e foi surgindo rádio rock, funk, samba, sertaneja, religiosa, jornalística”, conta Eduardo Weber, coordenador de produção da rádio Cultura Brasil AM, rádio publica, que desde 2010 dedicasuaprogramaçãoàMPB(cançõesemúsicainstrumental) e oferece uma alternativa diferente das emissoras comerciais. Para ele, esse foi o melhor caminho, pois nem todo mundo gosta de rock ou música de raiz, por exemplo. Marcelo Barros, coordenador artístico da NovaBrasil FM, que desde 2000 adotou uma programação exclusivamente brasileira,maisespecificamenteàchamada“modernamúsica brasileira”, abrangendo desde clássicos da MPB à nova produção musical nacional, completa que a segmentação se torna uma opção de mercado, pois cada emissora de rádio é, antes de tudo, um negócio. Isso se comprova com números, pois a rádio passou de 28º para 10º lugar em audiência na capital paulista. Não só uma boa opção de mercado, a escolha de tocar música popular brasileira é fundamental para a valorização e preservação da cultura local, concordam Weber e Barros. “Uma rádio dedicada exclusivamente à música brasileira tem uma função social que vai além da mera condição de entretenimento. Através desse veículo temos a oportunidade de resgatar grandes músicas do passado, ao mesmo tempo em que estamos antenados com tudo que é novo e bom.” Acrescenta Yke Leon, produtor da MPB FM, no Rio. O NOVO BRAÇO DO RÁDIO Segundo a ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) o rádio está presente em 88,1% dos domicílios no país, perdendo só para a TV. E, contrariando muitos pessimistas quanto ao fim do rádio, uma pesquisa encomendada pela Jovem Pan, realizada pela Ipsos Brasil FOTOS: Fabiele Leite
  • 16. 30 31 Saudade Fevereiro Renato Rocha, ex-baixista da Legião Urbana. MúsicodaformaçãooriginalaLegiãoUrbana,gravouostrêsprimeirosdiscosogrupo, “Legião Urbana” (1984), “Dois” (1986) e Que País é Esse ? (1987). O baixista, também conhecido como Negrete, participou de composições do álbum “Dois”, nas músicas “Daniel na cova dos leões”, Quase sem querer” , “Acrillic on Canvas” , “Andrea Doria” e “Plantas embaixo do aquário”. No álbum “Que país é esse?” ajudou nas composições de “Mais do mesmo” e “Angra dos Reis”. Renato Rocha saiu do grupo antes da gravação do aclamado álbum “As Quatro Estações”. O baixista chegou a morar na rua em 2012 quando não tinha mais condições financeiras de pagar diárias de hotel, não tendo mais contatos com ex-mulher e filhos. O músico estava em processo de reabilitação do uso de drogas na cidade de Cotia (SP) e justamente após uma das saídas permitidas pela clinica viajou ao Guarujá, cidade litorânea, local em que morreu domingo (22) decorrente de uma parada cardíaca. Março José Rico, da dupla sertaneja Milionário e José Rico José “Rico” Alves dos Santos formou uma das mais respeitadas duplas sertanejas com Milionário, nome artístico de Romeu Januário de Matos. Adotou o nome José Rico em referência a sua cidade de criação, Terra Rica. Os cantores se conheceram em 1968 em um hotel na cidade de São Paulo. Começaram cantando jingles de comerciais em Londrina (PR) quando foram apresentados pelo compositor Prado Junior à gravadora Chantecler em 1973. Com “Tribuna do Amor”, em 1982, alcançou o grande público. Entre os sucessos da dupla estão músicas como “O Tropeiro”, “Amor Dividido”, “Jogo de Amor”, “De Longe Também se Ama” e, principalmente, “Estrada da Vida”. A dupla realizava um show no interior de São Paulo quando José Rico sentiu fortes dores na perna, fato que o fez cantar sentado. Logo após a apresentação foi internado no hospital Unimed de Americana, local onde morreu na terça-feira (3) de infarto do miocárdio. Março Inezita Barroso, a dama da música caipira. Alémdecantoraeapresentadora,InezitaBarroso,90,foiinstrumentista, arranjadora, folclorista e professora. Gravou mais de 80 discos em toda a sua careira, era uma mulher que respirava música caipira. Na televisão, começou na TV Record, depois passou pela extinta TV Tupi entre outras emissoras, até chegar à TV Cultura para comandar o “Viola,MinhaViola”porquase35anos,sendoomaisantigoprograma musical da televisão brasileira. Como intérprete, sua gravação mais famosa foi “Moda da Pinga”, dos versos “Co’a marvada pinga é que eu me atrapaio/ Eu entro na venda e já dô meu taio/ Pego no copo e dali num saio/ Ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio/ Só pra carregá é queu dô trabaio, oi lá!”. Internada no hospital Sírio-Libanês desde o dia 19, Inezita Barroso, que completou 90 anos no dia 4, morreu em decorrência de uma insuficiência respiratória aguda no domingo, dia 8. Segundo a única filha de Inezita, Marta, a mãe não chegou nem a saber da morte do amigo José Rico pois estava sedada no dia da morte o músico. A cantora deixa uma filha, Marta Barroso, três netas e cinco bisnetos. 19 DE JUNHO O cantor, compositor, poeta, escritor e dramaturgo carioca Chico Buarque completa 71 anos. 4 DE JUNHO DE 1912 A cantora brasileira Bellah Andrade realiza, com êxito, concerto em Paris. 18 DE JUNHO DE 1958 Publicada pela primeira vez uma coluna no “Jornal do Dia”, de Porto Alegre, especializada em música popular, lançamentos e sucessos em discos, de responsabilidade de Cláudio Laitano Santos, com o título de “Sucessos Musicais” que, a partir de 23 de julho do mesmo ano passou a denominar-se “Discomentando”. Acorde e Recorde “ Ter recordações faz parte da vida, viver emoções na vida sentida é alma esquecida. Infeliz aquele que não tem recordações, viveu uma vida despida de alegrias, tristezas e emoções” (Poema Recordar e Viver – Chica)
  • 17. 32 33 Dublin, Irlanda, fevereiro de 2012. Uma roda de estudantes/músicos brasileiros tocando na área de fumantes de um pub. Foi assim que surgiu o The Patch, projeto pensado por Ivo Durante, que queria criar uma noite para que qualquer um pudesse tocar suas músicas autorais, sem o compromisso de um show inteiro, em bares da cidade. Ivo expôs sua ideia a Rodrigo Sena, que já tocava com uma banda de pagode na cidade, e chamou outras pessoas, que trabalhavam com audiovisual e produção. Nascido pelas mãos de brasileiros, o projeto era aberto a artistas de toda e qualquer nacionalidade, dispostos a divulgar seu trabalho autoral, e de quebra, ainda ganhavam o registro em vídeo para portfólio. As apresentações aconteciam sempre às quartas-feiras, a cada duas semanas, e já na terceira noite, não cabia o público na área de fumantes, e aos poucos eles foram ganhando seu espaço. Como não havia pré-seleção, apareciam músicos de todos os estilos, tocando desde samba à funk irlandês, rock japonês e gaita de fole. “Tinha gente que não era tão legal assim, tipo karaokê e mesmo quando era ruim, todo mundo batia palma”, conta Rodrigo. DE BRASILEIROS PARA GRINGOS O público que se tornou cativo do The Patch era formado por gente a fim e arte, gente que gostava de música, em sua maioria gringos, 85% do público era de outros países. “Nasceu por brasileiros, mas não era para brasileiros”, Rodrigo explica que, o brasileiro, no exterior, vai buscar o mainstream, os ritmos mais comuns no Brasil, como pagode e samba, por isso, a busca maior era de estrangeiros e próprios irlandeses. “Uma vez um gringo falou: não entendi Por Erika Lins Brasileiros criam projeto musical e cativam público irlandês o que vocês cantaram, mas a música foi foda, nunca me diverti tanto”, relembra Sena. Realmente, o ritmo brasileiro chamava a atenção de todos, e esse foi dos intercâmbios possíveis, pois enquanto a malemolência brasileirinha influenciava os irlandeses, a técnica irlandesa era absorvida pelos brasileiros. Além da troca de experiências musicais, o programa permitia troca em outras áreas. Com o tempo, conseguiram patrocínio da maior loja de música da Irlanda, a Music Maker, e de uma famosa fábrica de amplificadores para guitarras. Além disso, o Intercâmbio Musical projeto virou estágio para os alunos da escola de áudio e cinema Pulse College, que davam equipamento em troca da oportunidade para os estudantes, que entravam como assistente de câmera, de produção, e etc. Mas dinheiro mesmo, ninguém ganhava. Nem músicos, nem produção, apenas os pubs que aumentavam seu lucro em noites que antes eram ‘mortas’. O The Patch durou dois anos, entre 2012 até o final de 2014, realizou ao todo quatro temporadas, que aconteciam em quatro seções, divididas em duas semanas, com pausas a cada dois meses. Mesmo com o pouco tempo de duração, “Primeiro faz sucesso como artista brasileiro e depois você galga como o artista” Carlinhos Cruz “Uma vez um gringo falou: não entendi o que vocês cantaram, mas a música foi foda, nunca me diverti tanto” Rodrigo Sena OS FRUTOS DO THE PATCH Baque Soul - Formada no verão de 2010, em Dublin, a banda abriu shows para artistas brasileiros como Marcelo D2, Gabriel O Pensador e Vanessa da Mata. Umbrella Media Production – A participação no The Patch despertou o interesse de Lucas Martins em trabalhar com audiovisual Carlinhos Cruz – Se firmou como cantor em Dublin, cantando em festas importantes da cidade, e gravando um EP a partir do The Patch foram descobertos diversos talentos, e artistas também se descobriram lá. “Nasceu produtores, vontade de fazer vídeo de música, e foi aí que eu falei ‘quero ser produtor’”, revela Rodrigo, que atualmente é produtor musical de Carlinhos Cruz, que também é um dos frutos do projeto. Carlinhos morou por quatro anos em Dublin, enquanto estava lá tocou na festa oficial, que corresponde ao 7 de setembro brasileiro, chegou a tocar na casa do prefeito da cidade, gravou um EP, e lançou lá. Para ele, fazer sucesso representando a música brasileira fora do Brasil é mais fácil, mas se tratando de ser reconhecido, não só como músico brasileiro, mas com o seu próprio nome, é tão difícil quanto aqui. “Primeiro faz sucesso como artista brasileiro e depois você galga como o artista Carlinhos Cruz”, revela. Atualmente Carlinhos está no Brasil, e em junho vai tocar nos festivais de inverno da Europa. Além dele, em Dublin fizeram sucesso a banda Baque Soul, que gravou um CD lá e chegou a abrir show para Marcelo D2, além de Fiona Bos que se apresentou ao vivo em rádios da cidade. Para Rodrigo, que também foi integrante da Baque Soul, afirma que “as pessoas confundem sucesso com estar na TV, e isso é muito difícil em qualquer lugar do mundo”. Para ele, todos os músicos que conheceu durante o The Patch fizeram sucesso. Hoje, todos moram no Brasil, mas têm planos de realizar também em São Paulo. FOTO: Fabiele Leite FOTO:VinícusGaldino FOTO:CarlaRomão
  • 18. 34 35 Eclética na cidade BACKSTREET BOYS RIO DE JANEIRO, RJ Quinta, 11/06/2015, às 21h30 Citibank Hall Av. Ayrton Senna, 3000 Barra da Tijuca. Tel.: (21) 2156-7300 Ingressos: Tickets for Fun: R$ 240 a R$ 550 Classificação 14 anos THALLES ROBERTO SÃO PAULO, SP Quinta,04/06/2015, às 17h00 Marcha para Jesus Ingressos: Entrada Franca Classificação Livre EMMERSON NOGUEIRA RIO DE JANEIRO, RJ Sábado, 13/06/2015, às 21h00 Vivo Rio Parque do Flamengo Tel.: (21) 2272-2900 Ingressos: Ingresso Rápido: R$ 80 a R$ 180 Classificação 15 anos SOCORRO LIRA SÃO CAETANO DO SUL,SP Sexta,19/06/2015 Mais informações no site www.socorrolira.com.br EXTREME RIO DE JANEIRO, RJ Domingo, 14/06/2015, às 21h00 Fundição Progresso Rua dos Arcos,240 Ingressos: Ticket Brasil R$ 180,00 a R$ 300,00 NEGRA LI SÃO PAULO,SP Sexta,19/06/2015 Tom Jazz Show da Nova Brasil FM Opinião É claro que não iremos vamos falar da diáspora africana, tampouco da chegada dos portugueses em nossas terras. Porém, não podemos negar as grandes contribuições musicais que foram trazidas desses dois continentes. Os africanos trouxeram seus tambores rítmicos, os portugueses nos deram influências europeias. Contudo, somadas à musicalidade indígena, deu-se início à música no Brasil. Durante anos a música brasileira sofreu inúmeras transformações, embora, sempre predominando o estilo europeu. Ao longo dessas transformações, fomos criando nossa própria identidade musical, identidade essa, graças ao virtuosismo do músico brasileiro, e principalmente, pela diversidade cultural que aflora em várias regiões desse gigante chamado Brasil. É evidente que houve uma demora significativa para que a grande mídia radiofônica e televisiva abrisse suas portas para a música brasileira- embora na época do ouro de rádio, grandes nomes brasileiros tenham dominado o mercado fonográfico com suas vozes, os estilos musicais ainda eram europeus- essa abertura deu-se por conta do surgimento de vários movimentos musicais como por exemplo: O samba (um dos movimentos mais forte e antigo da música brasileira, oriundo das senzalas e dos terreiros religiosos, movimento de pura resistência cultural), Tropicália, Jovem Guarda, Bossa Nova (ramificação do samba criada para atender a elite carioca). Quero lembrar que, todos esses movimentos foram de suma importância para a mudança sócio-política do país, mostrando a força da música no que nos diz respeito à democracia a reivindicações socioculturais deu uma nação. Hoje a música brasileira encontra-se mais uma vez em transformação. As vozes saem dos guetos e tomam as ruas. O som das periferias é a “bola da “vez”. Através da “janela do mundo” (internet), podemos levar nossa música até os mais distantes lugares. Como em toda essa transformação, há um período de adaptação e, principalmente, de reforma na qualidade musical, aos poucos, a música brasileira vai passar por uma “peneira”, e com absoluta certeza alcançará a fineza que lhe é peculiar. Essa é a música brasileira, que a cada mutação descobre outros brasís, que a cada ritmo transpira melodias, que se afina num grito, que levanta a voz e pede a vez, e acima de tudo, toca o coração do mundo. Por Nino Miau Brasis Musicais
  • 19. 36 37