O artigo discute a proposta de construir uma estação do metrô dentro da Praça Nossa Senhora da Paz em Ipanema no Rio de Janeiro. Moradores do bairro fazem campanha contra o projeto, alegando que ele descaracterizaria o espaço e não é necessário. Uma sugestão é construir a saída da estação em outro local próximo.

1. Sábado, 21 de janeiro de 2012 OPINIÃO ●
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O GLOBO
Crescimento ZUENIR VENTURA
medíocre?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
A polêmica estação
E U
m 2011, a economia brasilei- m leitor pergunta se Ipanema está racterizar o bairro”. Ignez alega que a dis- Fajardo, obteve a informação de que não
ra registrou crescimento me- querendo impedir que “nossa tância entre a General Osório e a futura es- chegou a ele até o dia 4 de janeiro qualquer
díocre. O PIB cresceu um
gente bronzeada mostre o seu va- tação Jardim de Alah é “perfeitamente re- projeto e que, se chegar algo como o que foi
pouco menos do que 3%; o
setor industrial estagnou. Foi um de- lor”, repetindo o que aconteceu corrível a pé”. Por seus cálculos, o tempo feito na Gal. Osório, ele não aceitará. Se por
sempenho bem abaixo do esperado, em SP, quando moradores de Higienópolis do trem no percurso Gal. Osório-N. S. da razões técnicas for irrevogável a decisão de
que não faz jus ao renome de econo- resistiram à instalação de uma estação de Paz seria de menos de um minuto e idem construir o polêmico terminal em Ipanema,
mia emergente dinâmica, de estrela metrô no bairro, alegando a invasão de daí até o Jardim de Alah. Sua conclusão “é como parece ser, surgiu uma sugestão ten-
em ascensão na economia mundial. “gente diferenciada”. Respondo que, de mi- que se vai andar muito mais dentro da es- tando conciliar as posições antagônicas:
Para 2012, as projeções continuam
indicando crescimento medíocre. Is- nha parte, o sangue misturado — branco, tação do que viajando no trem”. construir a saída da estação em outro local
so pode mudar, mas no momento a índio e negro — não pode ser contra a mis- Segundo ela, as pessoas que trabalham próximo ao pretendido, desapropriando pa-
expectativa dos analistas de merca- tura, nem contra o direito de ir e vir de qual- ou estudam em Ipanema seriam bem aten- ra isso algum imóvel.
do é de uma expansão do PIB da or- quer um. O que rejeito é a proposta de cons- didas por duas estações, uma em cada ex- Estação dentro da Praça N.S. da Paz é que
dem de 3% ou um pouco mais. truir o terminal dentro da Praça N.S. da Paz, tremo do bairro, já que em qualquer uma não pode, até porque é um bem tombado.
Nesse ritmo, o Brasil cresce menos
como se fez na General Osório, desfiguran- delas a oferta de transporte coletivo é “am- Para destombá-la, seria necessária a autori-
do que a média mundial. Foi o que
aconteceu no ano passado; é o que po- do o espaço com aquele mostrengo arqui- plíssima”. “O número de ônibus que transi- zação dos membros do Conselho.
de acontecer este ano outra vez. Dos tetônico, feio e invasivo. tam entre Ipanema e Leblon é enorme e, ■■■■■■
Brics, o Brasil foi o que teve a menor “A população do bairro não quer”, diz Ig- aliás, muito estranho, estão sempre vazios.
taxa de expansão em 2011 — um pou- nez Barretto, do Projeto de Segurança de Então, quem saia do metrô vai estar em cin- Quem quiser passar duas horas rindo
co inferior à da África do Sul. Ipanema, que lidera a campanha de opo- co minutos em qualquer ponto do bairro.” sem compromisso e sem pudor vá ver “Xa-
O que explica esse desempenho de- nadu”. A peça é americana, dos anos 80,
cepcionante? O cenário mundial adver- sição à ideia. “Fizemos uma enquete, tra- Em nome do PSI, Ignez entrou com uma
so atrapalhou, sobretudo no segundo balho totalmente voluntário, de porta em representação no Ministério Público, já mas Artur Xexéo adaptou-a, ou melhor, rein-
semestre. Mas a explicação primordial é porta, e a conclusão é que 93,37% dos mo- aceita, e vem consultando autoridades. Na ventou-a de tal maneira que acabou trans-
interna: desde o fim de 2010, o governo radores são contra o projeto por entende- audiência com o presidente do Conselho do formando-a num impagável besteirol cario-
brasileiro adotou diversas medidas de rem que ele é desnecessário e vai desca- Patrimônio Cultural da Cidade, Washington ca. Trabalho de craque.
contenção no campo das contas públi-
cas, da moeda e do crédito. A austeri-
dade fiscal, combinada com aperto mo-
netário e creditício, derrubou o ritmo de
expansão da demanda doméstica e da
atividade econômica. Além disso, a so-
Cruz
Uma linha
brevalorização cambial prejudicou gra-
vemente a indústria e outros setores ex-
postos à competição internacional.
de planilha
Foi demais? Em retrospecto, pare-
ce que sim. Até aqui no FMI econo- ANDRÉ VILLELA
mistas já se perguntam se o aperto
U
não teria sido excessivo no Brasil. ma movimentação financeira
Evidentemente, é a fácil sabedoria “atípica” efetuada em 2002 co-
“ex post”. No momento em que as de- locou a Justiça do Trabalho
cisões foram tomadas reinava, como do Rio em todos os noticiá-
sempre, a incerteza. Como dizia Keynes, rios nos últimos dias. A data grita aos
“the expected never happens; it is the olhos: a questão vem a público passada
unexpected, always” (o esperado nunca nada menos que uma década. E a fonte
acontece; é o inesperado, sempre). da informação também chama atenção.
Ex ante, no início de 2011, o quadro Diga honestamente: até poucos dias
econômico e as percepções eram atrás, você já havia ouvido falar do
completamente diferentes. A econo- Coaf? A sigla que nomeia o conselho do
mia brasileira estava aquecida de- Ministério da Fazenda responsável pelo
mais e todos se preocupavam com o controle de atividades financeiras no
risco de que uma expansão excessi- país era uma ilustre desconhecida na
vamente rápida da demanda gerasse maior parte da semana passada.
desequilíbrios internos e externos O fato é que uma movimentação fi-
que se tornariam, com o passar do nanceira da ordem de R$ 282 milhões
tempo, muito difíceis de administrar. ao longo de um ano foi detectada, en-
Era recomendável aproveitar o capi- volvendo “alguém ligado” ao TRT da 1 a -
A cidade e o legado
tal político de início de mandato para Região. Ponto. Este é o fato, verbaliza-
dar uma “freada de arrumação”. do e noticiado, sem especificar nomes
Tampouco se poderia imaginar que a ou cargos. Mas, neste momento, impor-
crise da área do euro fosse se agravar ta observar a pergunta que paira no ar,
tão dramaticamente a partir de meados sugerida nas entrelinhas: a Justiça tem
de 2011. A turbulência externa veio se MARIA SILVIA BASTOS MARQUES e taque como promotoras de imagem. para que o Rio seja reconhecido, na idoneidade para cumprir seu papel? Em
somar ao ajuste interno para instalar AUGUSTO IVAN PINHEIRO Foi assim que as metrópoles incorpo- próxima década, como a melhor ci- verdade, a questão que se levanta é de
um quadro de crescimento medíocre. raram o termo legado como um ele- dade do hemisfério sul para viver, maior fôlego: quais as raízes mais pro-
O
Agora o governo está correndo atrás s grandes eventos espor- mento novo na disputa para sediar as trabalhar e visitar. fundas que levam o tema da moralidade
do prejuízo. A Fazenda adotou incenti- tivos mundiais vêm, nos grandes competições. A vinculação dos compromissos da Justiça a entrar em pauta?
vos fiscais seletivos; o Banco Central últimos tempos, desen- Neste contexto, os chamados me- olímpicos ao Plano Diretor de De- Antes que o leitor se apresse a sen-
afrouxou os controles sobre o crédito e volvendo estratégias de gaeventos tornaram-se indutores de senvolvimento Sustentável da Cida- tenciar o texto nos extremos do corpo-
reduziu a taxa básica de juros em dois sustentabilidade que busquem ma- políticas urbanas e de parcerias pú- de, aprovado pelo prefeito e pelos rativismo ou do conspiracionismo, es-
pontos percentuais desde agosto. ximizar seu impacto positivo e du- blico-privadas, aceleradores da eco- vereadores em 2009, ao Plano Estra- clareço que nosso objetivo aqui em ne-
É possível reverter o quadro? Creio radouro na vida e na economia das nomia, impulsionadores de práticas tégico do Rio, e o alinhamento com nhum momento é questionar se o Coaf
que sim. O governo não usou nem me- cidades. Esta preocupação já era de sustentabilidade, melhorias am- outros níveis de governo, foram ele- é competente para realizar o acompa-
tade da munição de que dispõe. O Ban- notada na década de 60 (Jogos bientais e de infraestrutura, de inte- mentos fundamentais deste proces- nhamento financeiro em questão (espe-
co Central pode, por exemplo, reduzir Olímpicos de Roma), mas se inten- gração social, regeneração urbana, so, pois garantem a esses compro- ra-se dele este papel) ou o tempo decor-
os compulsórios sobre passivos bancá- sificou recentemente, podendo ser acessibilidade, mobilidade, conecti- missos o lastro político-institucio- rido do fato (em casos em que a coisa
rios ou adotar outras medidas de estí- destacados casos como os de Seul vidade e outras dimensões deste uni- nal para sua execução. pública é lesada não há prescrição de
mulo ao crédito. As taxas de juros con- (1988), Barcelona (1992), Austrália verso cada vez mais complexo das A vitória em 2009 da candidatura crime). No entanto, chamamos atenção
tinuam muito altas e podem ser gra- (2000), Pequim (2008) e Londres metrópoles contemporâneas. carioca para sediar os Jogos deve-se para o momento em que a divulgação
dualmente reduzidas. (2012). Do aproveitamento das vilas O legado urbano dos megaeventos assim, em grande medida, ao com- do fato foi realizada, pois não se trata de
Apesar da redução dos últimos me- de atletas para futuras moradias pode ser entendido a partir de dois promisso da Prefeitura de realizar uma investigação ainda. Tudo gira em
ses, os juros básicos ainda são eleva- (Roma) a um plano complexo de re- conceitos: o primeiro é o que resulta projetos estratégicos para o desen- torno de um dado de relatório, uma li-
dos para padrões internacionais. A taxa generação urbana de num conjunto de bens volvimento da metrópole, sejam eles nha de planilha que servirá como ponto
básica real ex ante, isto é, a taxa nomi- uma área degradada e materiais, e o segundo o materiais ou imateriais. Alguns dos de partida de apuração.
nal ajustada pela inflação esperada, ain- obsoleta (Londres), os que possibilita a apro- muitos exemplos de legado direta- E apuração decerto haverá. Uma
da está em quase 5% no Brasil. Levan- exemplos são ricos em O compromisso priação ou a construção mente relacionados aos Jogos serão Justiça forte é o avesso de uma Justiça
tamento da corretora Cruzeiro do Sul, demonstrar que há de bens de natureza o grande aumento na oferta de trans- cega para si mesma. Admitir falhas,
que abrange os 39 principais países muito mais coisas en- é com projetos imaterial. Bens mate- porte de alta capacidade, os BRTs, a quando elas acontecem, e, mais que is-
avançados e em desenvolvimento, tre cidades e eventos riais são as instalações regeneração do Centro do Rio atra- to, reparar os erros, é uma condição
além de Hong Kong, indica que a média olímpicos do que úni- estratégicos para esportivas, as redes de vés do projeto Porto Maravilha, a am- desta característica de fortaleza que se
dos juros básicos reais é negativa em ca e exclusivamente a transporte, as vilas de pliação do Sambódromo, o Parque almeja. A Justiça não foge e nunca fu-
0,9%. Só 13 países praticam juros bási- realização de competi- o desenvolvimento moradia dos atletas e Olímpico — que será um novo bairro girá do seu compromisso com o cida-
cos positivos em termos reais e destes ções esportivas. todos os demais apara- pós-Jogos, referência em sustentabi- dão e com o país, respeitado sempre o
apenas três (Hungria, China e Indoné- Atualmente, o con- da metrópole tos de lazer, turismo, lidade e acessibilidade — e onde fi- devido processo e a ampla defesa, sem
sia) têm taxas entre 2 e 3%. ceito que une jogos e comunicação e seguran- cará também o Centro Olímpico de linchamentos públicos.
Como a dívida pública é relativa- política urbana se en- ça incorporados à pai- Treinamento para atletas de alto ren- Levar a público uma informação que
mente elevada no Brasil, o espaço pa- contra tão absorvido sagem da cidade-sede dimento, a universalização do ensino ainda não foi apurada e investigada sus-
ra uma política fiscal anticíclica é me- que o Comitê Olímpico Internacional, em função dos eventos. Como bens de inglês nas escolas públicas muni- cita muitas perguntas. A quem interessa
nor. Mas há espaço para reduzir os no capítulo 1 da Carta Olímpica, re- imateriais destacam-se a capacitação cipais, a participação da população a fragilização do Judiciário por meio de
juros, sem dúvida. Juros mais baixos, comenda a adoção de medidas que dos envolvidos na organização, o es- na conservação da cidade, a profis- denuncismos na imprensa? A quem in-
além de estimular a demanda inter- promovam "um legado olímpico po- tímulo à prática esportiva, a produ- sionalização dos serviços, o aumento teressa propagar entre o público a su-
na, favorecem o equilíbrio das contas sitivo" na cidade-sede. Neste enfo- ção de conhecimento, as alterações no turismo etc. Tudo isto juntamente gestão de que a Justiça não é idônea,
públicas e uma taxa de câmbio mais que, os Jogos são vistos como uma na percepção e no comportamento com o orgulho de termos sido capa- justamente às vésperas da discussão —
depreciada. possibilidade ímpar para discutir e dos cidadãos em relação ao espaço zes de realizar com alegria e sucesso, polêmica, diga-se — sobre o papel de re-
O caminho mais promissor parece alavancar o desenvolvimento das ci- urbano e, em última análise, sua iden- no tempo exigido e com transparên- gulação do Conselho Nacional de Justi-
ser o de combinar diminuição gra- dades onde ocorrem, além da dimen- tificação com a própria cidade. cia, aquele que é o maior evento es- ça (CNJ)? A quem interessa colocar em
dual dos juros e dos controles de cré- são esportiva e de congraçamento A preocupação com o pós-Jogos portivo, social e cultural concebido conflito a autonomia de corregedorias
dito com preservação da disciplina entre diversos povos e culturas e da foi um ponto central na candidatura pela humanidade. locais e federais? Mesmo correndo o ris-
fiscal. É por essa via que o Brasil de- oportunidade para demonstrar a ca- do Rio como sede dos Jogos Olímpi- co de ser taxado de corporativista ou
ve procurar reativar a economia, so- pacidade de organização de seus cos e Paralímpicos de 2016. Pensou- MARIA SILVIA BASTOS MARQUES é conspiracionista, não sei a quem a fra-
bretudo se o quadro mundial conti- promotores. se nos Jogos e em sua complexa or- presidente da Empresa Olímpica Municipal gilização do Judiciário pode interessar,
nuar se agravando. Das pioneiras feiras internacionais ganização, mas também na oportuni- do RJ. Foi diretora do BNDES, secretária de mas sei a quem ela definitivamente não
do fim do século XIX e início do XX, dade e urgência de alavancar os pro- Fazenda da cidade do RJ, presidente da interessa: ao Brasil e à democracia.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. é onde as nações exibiam sua pujança jetos necessários para a cidade, ga- CSN e do Grupo Icatu Seguros.
economista e diretor executivo pelo Brasil e econômica e tecnológica como atra- rantindo a permanência dos benefí- ANDRÉ VILLELA é juiz do Trabalho, titular
mais oito países no Fundo Monetário tivos para novos investimentos, aos cios alcançados. A meta buscada pe- AUGUSTO IVAN PINHEIRO é assessor da da 46 a Vara do Trabalho-Rio.
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Internacional, mas expressa os seus pontos megaeventos esportivos do século la Prefeitura é a de construir um le- presidência da Empresa Olímpica Municipal
de vista em caráter pessoal. XX, em que as cidades globais passa- gado urbano permanente, cujo valor do RJ. Foi subprefeito do Centro, diretor de O GLOBO NA INTERNET
E-mail: paulonbjr@hotmail.com ram a desempenhar este papel, as material se aproxime do valor do in- Urbanismo do Instituto Pereira Passos e OPINIÃO Leia mais artigos
Twitter: @paulonbjr grandes competições ganharam des- vestimento realizado, contribuindo secretário municipal de Urbanismo. oglobo.com.br/opiniao