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                                                        SEGUNDOCADERNO
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     “HISTÓRIAS DO Clube da Esquina” (L.Ferreira e O.Viñole) bateu Sandman em algumas livrarias




                  Heitor Pitombo *                  Snyder e, pasmem, Stephen King), Me-
                                                    lhor Minissérie e Melhor Colorização
               Especial para O GLOBO                (ambos os prêmios para “Day tripper”,
     ● Aquele moleque que vai à banca e             dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá). O
     compra uma edição da “Turma da Mô-             curioso é que roteiros de brasileiros es-
     nica jovem”, dos estúdios Mauricio de          tão conseguindo emplacar nas revistas
     Souza, pode não saber, mas está levan-         americanas, espaço que parecia reser-                  “TURMA DA MÔNICA jovem nº 34”,
     do a HQ que mais vende no planeta. Por         vado apenas aos nossos desenhistas.                    500 mil exemplares: a HQ mais
     essa e outras, 2011 foi, sem dúvida, o            Mas não é de hoje que o Brasil pode                 vendida em todo o mundo, sensação
     melhor ano da história dos quadrinhos          ser considerado um país especial para                  entre especialistas americanos
     brasileiros. Nunca houve tantos lança-         os quadrinhos. Numa reedição da dispu-
     mentos, de autores novos e consagra-           ta entre Santos Dumont e os Irmãos
     dos. Os incentivos governamentais para         Wright pela primazia da aviação, ex-
     a produção de HQs seguem em alta. O            perts dizem que a as-                                                                                      “ACHADOS E PERDIDOS” e a força dos independentes:
     MEC já incluiu 225 títulos em seu Progra-      sim chamada nona                                                                                           capa cartonada, papel cuchê e CD com trilha sonora
     ma Nacional Biblioteca na Escola (PN-          arte foi criada justa-
     BE), para escolas públicas.                    mente em nosso país
        Em algumas livrarias, quem diria, o         pelo artista italiano Ân-
     cultuado “Sandman edição definitiva
     (Vol. 2)” de Neil Gaiman foi superado
                                                    gelo Agostini, nas páginas
                                                    da revista “Vida                    Premiada nos EUA,
     por “Histórias do Clube da Esquina”, de        Fluminense”,
     Laudo Ferreira e Omar Viñole, adapta-
     ção gráfica da saga da turma capitanea-
                                                    em 1869. Mui-
                                                    to antes, portanto,
                                                                                       HQ nacional é top de
     da por Milton Nascimento, Lô Borges,
     Beto Guedes e Toninho Horta.
                                                    do surgimento do “Yel-
                                                    low Kid” (1894) de Ri-             vendas e de público
        Outro sinal de que nada será como an-       chard Outcoult, tido
     tes vem, aliás, de Minas: quase todas as
     capitais sediaram algum encontro em
                                                    como o pioneiro das
                                                    HQs nos Estados Uni-
                                                                                       em feiras em 2011 e
     2011 (Rio Comicon, Fest Comix de SP, a
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                                                    dos.
                                                       Mesmo não possuindo                atrai o governo
     plantou o 7º Festival Internacional de         uma tradição quadrinísti-
     Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ).            ca como a da Argentina,
        O prestigiado site americano Bleeding       a arte sequencial bra-
     Cool decretou que a festa mineira foi o        sileira vem marcando
     evento de HQs de maior afluência do            a cultura do país. Nos anos 1940 e 1950,
     planeta ao longo do ano: 148 mil pes-          quando educadores, jornalistas e escrito-
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     em cinco dias, mais que as 130 mil que         mo Adolfo Aizen, Assis Chateubriand e Ro-                                                             quente”: os “quadrões” de Lourenço Mutarelli fizeram frisson
     foram à edição de 2011 da Feira de Qua-        berto Marinho defendiam que ler quadri-
     drinhos de San Diego, a maior do mun-          nhos era um hábito saudável. Nos anos de
     do. Além de contar com a participação          chumbo, entre os artistas que mais nota-
     de artistas de vários cantos do planeta,       damente combatiam o regime no país es-
     o FIQ abarcou fóruns que anteciparam           tavam aqueles que se dedicavam aos qua-
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     Sem contar a quantidade de lançamen-
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     los, principalmente independentes.             Viver de quadrinhos:
        O espanto dos americanos com o qua-
     drinho brasileiro em 2011 não se manifes-      o sonho não acabou
     tou apenas por conta desses números. A
     poderosa DC Comics (casa editorial de          ● Apesar disso, fazer quadrinhos no Brasil
     personagens como Batman e Superman,            nunca foi uma atividade capaz de sustentar
     parte do conglomerado da Warner Bros.)         artista algum. Com a exceção de Mauricio
     chegou a divulgar que o gibi mais vendido      de Souza, os gibizeiros do país, desde sem-
     do ano havia sido a primeira edição da no-     pre, vêm se dedicando a outras atividades
     va “Liga da Justiça”, com 200 mil leitores.    para poder pagar as contas. Oportunidades
     Contudo, esse número empalidece em             para romper com esse estado de coisas
     comparação com as 500 mil cópias im-           aparecem de quando em quando, como o
     pressas da “Turma da Mônica jovem #34”         advento dos quadrinhos eróticos e de ter-
     (edição na qual Mônica e Cebolinha come-       ror na virada dos anos 1970 para os 1980 —
     çam a namorar). Tal informação chegou a        representados por editoras como a Vecchi
     boa parte do público americano graças ao       e a Grafipar — ou a entrada de desenhistas
     influente jornalista especializado local Ri-   brasileiros no mercado norte-americano no
     ch Johnston, que publicou uma nota no          começo da década de 1990.
     Bleeding Cool intitulada “This is what a          Com a popularização da internet e
     half-million-selling american comic book       dos meios de produção editorial infor-
     looks like” (na tradução, “Isto é como uma     matizados nos últimos 20 anos, a produ-
     HQ americana de meio milhão de vendas          ção local ganhou um enorme incremen-
     se parece”).                                   to. Isso não só beneficiou as grandes
        Artistas brasileiros não só colaboram       editoras — que passaram a mirar muito
     desde os anos 1990 para os maiores             mais as livrarias do que as bancas de
     mercados editoriais do mundo, como             jornais — como também a produção in-
     vêm ganhando prêmios importantes               dependente, que tem revelado a nova
     anualmente. Em 2011, mereceram gran-           geração de talentos responsável por
     de destaque nos Eisner Awards (o Oscar         uma reviravolta de contornos inéditos
     dos quadrinhos americanos) e levaram           em se tratando da divulgação de nosso
     todas as categorias nas quais foram in-        quadrinho a nível mundial.
     dicados: Melhor Série Nova (para “Ame-
     rican vampire”, desenhada pelo gaúcho          HEITOR PITOMBO é jornalista, tradutor
     Rafael Albuquerque e escrita por Scott         de quadrinhos e músico                                 “DAY TRIPPER”, dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, premiada no Oscar HQ, emplacou no mercado dos EUA



                                                                  ●   JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS: a coluna voltará a ser publicada na próxima segunda.

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  • 1. 10 ● Segunda-feira, 19 de dezembro de 2011 SEGUNDOCADERNO Logo A PÁGINA MÓVEL Gibigbang Imagens de divulgação “HISTÓRIAS DO Clube da Esquina” (L.Ferreira e O.Viñole) bateu Sandman em algumas livrarias Heitor Pitombo * Snyder e, pasmem, Stephen King), Me- lhor Minissérie e Melhor Colorização Especial para O GLOBO (ambos os prêmios para “Day tripper”, ● Aquele moleque que vai à banca e dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá). O compra uma edição da “Turma da Mô- curioso é que roteiros de brasileiros es- nica jovem”, dos estúdios Mauricio de tão conseguindo emplacar nas revistas Souza, pode não saber, mas está levan- americanas, espaço que parecia reser- “TURMA DA MÔNICA jovem nº 34”, do a HQ que mais vende no planeta. Por vado apenas aos nossos desenhistas. 500 mil exemplares: a HQ mais essa e outras, 2011 foi, sem dúvida, o Mas não é de hoje que o Brasil pode vendida em todo o mundo, sensação melhor ano da história dos quadrinhos ser considerado um país especial para entre especialistas americanos brasileiros. Nunca houve tantos lança- os quadrinhos. Numa reedição da dispu- mentos, de autores novos e consagra- ta entre Santos Dumont e os Irmãos dos. Os incentivos governamentais para Wright pela primazia da aviação, ex- a produção de HQs seguem em alta. O perts dizem que a as- “ACHADOS E PERDIDOS” e a força dos independentes: MEC já incluiu 225 títulos em seu Progra- sim chamada nona capa cartonada, papel cuchê e CD com trilha sonora ma Nacional Biblioteca na Escola (PN- arte foi criada justa- BE), para escolas públicas. mente em nosso país Em algumas livrarias, quem diria, o pelo artista italiano Ân- cultuado “Sandman edição definitiva (Vol. 2)” de Neil Gaiman foi superado gelo Agostini, nas páginas da revista “Vida Premiada nos EUA, por “Histórias do Clube da Esquina”, de Fluminense”, Laudo Ferreira e Omar Viñole, adapta- ção gráfica da saga da turma capitanea- em 1869. Mui- to antes, portanto, HQ nacional é top de da por Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta. do surgimento do “Yel- low Kid” (1894) de Ri- vendas e de público Outro sinal de que nada será como an- chard Outcoult, tido tes vem, aliás, de Minas: quase todas as capitais sediaram algum encontro em como o pioneiro das HQs nos Estados Uni- em feiras em 2011 e 2011 (Rio Comicon, Fest Comix de SP, a Gibicon curitibana), mas nenhum su- dos. Mesmo não possuindo atrai o governo plantou o 7º Festival Internacional de uma tradição quadrinísti- Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ). ca como a da Argentina, O prestigiado site americano Bleeding a arte sequencial bra- Cool decretou que a festa mineira foi o sileira vem marcando evento de HQs de maior afluência do a cultura do país. Nos anos 1940 e 1950, planeta ao longo do ano: 148 mil pes- quando educadores, jornalistas e escrito- soas passaram pela Serraria Souza Pinto res questionavam o seu valor, editores co- “QUANDO MEU PAI se encontrou com o ET fazia um dia em cinco dias, mais que as 130 mil que mo Adolfo Aizen, Assis Chateubriand e Ro- quente”: os “quadrões” de Lourenço Mutarelli fizeram frisson foram à edição de 2011 da Feira de Qua- berto Marinho defendiam que ler quadri- drinhos de San Diego, a maior do mun- nhos era um hábito saudável. Nos anos de do. Além de contar com a participação chumbo, entre os artistas que mais nota- de artistas de vários cantos do planeta, damente combatiam o regime no país es- o FIQ abarcou fóruns que anteciparam tavam aqueles que se dedicavam aos qua- novidades de editoras como a Marvel. drinhos, como Henfil, Ziraldo e Fortuna. Sem contar a quantidade de lançamen- tos de novos gibis: para lá de cem títu- los, principalmente independentes. Viver de quadrinhos: O espanto dos americanos com o qua- drinho brasileiro em 2011 não se manifes- o sonho não acabou tou apenas por conta desses números. A poderosa DC Comics (casa editorial de ● Apesar disso, fazer quadrinhos no Brasil personagens como Batman e Superman, nunca foi uma atividade capaz de sustentar parte do conglomerado da Warner Bros.) artista algum. Com a exceção de Mauricio chegou a divulgar que o gibi mais vendido de Souza, os gibizeiros do país, desde sem- do ano havia sido a primeira edição da no- pre, vêm se dedicando a outras atividades va “Liga da Justiça”, com 200 mil leitores. para poder pagar as contas. Oportunidades Contudo, esse número empalidece em para romper com esse estado de coisas comparação com as 500 mil cópias im- aparecem de quando em quando, como o pressas da “Turma da Mônica jovem #34” advento dos quadrinhos eróticos e de ter- (edição na qual Mônica e Cebolinha come- ror na virada dos anos 1970 para os 1980 — çam a namorar). Tal informação chegou a representados por editoras como a Vecchi boa parte do público americano graças ao e a Grafipar — ou a entrada de desenhistas influente jornalista especializado local Ri- brasileiros no mercado norte-americano no ch Johnston, que publicou uma nota no começo da década de 1990. Bleeding Cool intitulada “This is what a Com a popularização da internet e half-million-selling american comic book dos meios de produção editorial infor- looks like” (na tradução, “Isto é como uma matizados nos últimos 20 anos, a produ- HQ americana de meio milhão de vendas ção local ganhou um enorme incremen- se parece”). to. Isso não só beneficiou as grandes Artistas brasileiros não só colaboram editoras — que passaram a mirar muito desde os anos 1990 para os maiores mais as livrarias do que as bancas de mercados editoriais do mundo, como jornais — como também a produção in- vêm ganhando prêmios importantes dependente, que tem revelado a nova anualmente. Em 2011, mereceram gran- geração de talentos responsável por de destaque nos Eisner Awards (o Oscar uma reviravolta de contornos inéditos dos quadrinhos americanos) e levaram em se tratando da divulgação de nosso todas as categorias nas quais foram in- quadrinho a nível mundial. dicados: Melhor Série Nova (para “Ame- rican vampire”, desenhada pelo gaúcho HEITOR PITOMBO é jornalista, tradutor Rafael Albuquerque e escrita por Scott de quadrinhos e músico “DAY TRIPPER”, dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, premiada no Oscar HQ, emplacou no mercado dos EUA ● JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS: a coluna voltará a ser publicada na próxima segunda.