SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 3
•


    As mil e uma noites de Saladino
    O homem mais respeitado do mundo árabe até hoje foi um curdo que viveu há mais de 800 anos.
    Conheça a história de Saladino, um sultão que uniu seu povo, tomou Jerusalém dos cruzados e virou o
    grande líder muçulmano

    por Mariana Sgarioni


    ”Os verdadeiros reis não se matam uns aos outros.” Depois de falar essa frase certeira, o sultão guarda a
    espada na cintura e oferece um refresco de água de rosas ao prisioneiro inimigo, que estava de joelhos diante
    dele, esperando o golpe final sobre sua cabeça. Estamos em 1187. O protagonista da cena é Salah al-Din
    Yusuf ibn Ayub, ou para nós, ocidentais, Saladino. Ajoelhado e rendido estava Guy de Lusignan, então
    governante cristão de Jerusalém, recém-tomada pelos muçulmanos.

    Quem está acostumado a ver na TV prisioneiros decepados por extremistas da Al Qaeda pode imaginar que
    eles nada aprenderam com o maior líder do Islã de que se tem notícia. Em uma época nem tão diferente da
    nossa, em que governantes se mostravam traiçoeiros e cruéis, Saladino entrou para a história não só pela
    coragem de conquistar Jerusalém, mas por sua humanidade e simplicidade. Líder carismático, implacável na
    luta, generoso na vitória. Esse é o homem que você vai conhecer agora. “Saladino foi adorado até mesmo
    pelos seus inimigos”, resume Ridley Scott, diretor de Cruzada.

    De família curda, Yusuf nasceu em 1137 nas montanhas de Tikrit, no Iraque – curiosamente, a mesma cidade
    natal de Saddam Hussein. Justo no dia de seu nascimento, seu tio Xirkuh, que mais tarde iria ensinar-lhe a
    guerrear, envolveu-se numa briga e a família teve de se mudar para a Síria.

    O pai de Saladino, Najm ad-Dim, tornou-se o comandante da segurança da fortaleza do líder árabe Zengi, em
    Baalbek. Xirkuh, seu tio, chefiava parte do exército que, em 1144, tomou Edessa, no norte do Iraque, dos
    cruzados. Dois anos depois, Zengi morreu e foi substituído por seu filho Nur al-Din, uma liderança ainda
    mais forte na unificação dos domínios do Islã.

    Jovem guerreiro

    Por ordem do novo comandante, a família de Saladino mudou para Damasco, onde o patriarca teve como
    missão reorganizar a defesa da cidade. Por segurança, Saladino e os irmãos só podiam andar com soldados
    como guarda-costas. Sendo o terceiro filho homem, ele cresceu um tanto livre das cobranças que sofriam os
    primogênitos. Todos os dias, os irmãos se divertiam ensinando os soldados a jogar chogan, uma espécie de
    pólo, com os amigos. Outro passatempo infantil do futuro sultão era matar serpentes – os meninos mais
    corajosos, como ele, pisavam em suas cabeças. Isso chamou a atenção de Xirkuh, um bravo e impetuoso
    guerreiro, que começou a ensinar o sobrinho a cavalgar e a manejar a espada. E, observando o pai astuto, o
    menino aprendia a ser estrategista, a calcular cada passo e nunca agir por impulso. Segundo os historiadores,
    essa mistura de audácia e astúcia é que fez de Saladino um grande combatente.

    Desde muito cedo, ele ficava impressionado e comovido com os horrores das histórias que ouvia sobre a
    tomada de Jerusalém. Os mais velhos contavam que seu povo havia sido queimado vivo e sua carne fora
    comida pelos cruzados. As mesquitas teriam sido profanadas e servidas como estábulo para que os animais
    dos cristãos defecassem.

    O destino deu um empurrãozinho para que Saladino tivesse sua primeira oportunidade. O irmão mais velho
    morreu subitamente e o segundo na linha de sucessão irritava o pai por causa de sua indisciplina e teimosia.
    Assim, o jovem Yusuf ganhou muito mais atenção. Por outro lado, o cenário geopolítico também contribuía
    para o surgimento de um líder. Disputas de facções islâmicas causavam rivalidades entre povos. O
    surgimento da facção xiita rachou o Islã – os sunitas, como Saladino, ainda eram maioria e respondiam ao
    líder titular no Oriente Médio, o califa de Bagdá. As brigas eram tão intensas que muitos cristãos se
aproveitavam desse racha para tomar cidades. Portanto, havia a necessidade urgente de unificação do mundo
árabe.

Nessa mesma época, em 1164, Nur al-Din, da facção sunita, decidiu enviar suas tropas e invadir o Egito,
governado por califas fatímidas (dinastia que se considerava descendente direta de Fátima e Ali, filha e genro
do profeta Maomé), da facção xiita. A idéia era colocar ordem no país, que estava em pleno caos, sem depor
os califas. O chefe do exército era ninguém menos que Xirkuh, o tio de Saladino, que insistiu em levar o
sobrinho para o combate. Os dois guerrearam juntos e venceram uma série de lutas no sul da Mesopotâmia
contra os muçulmanos xiitas, muitos apoiados pelos cruzados, até conquistar o Cairo, quatro anos depois.

O Soberano

Xirkuh foi proclamado rei do Egito, mas morreu dois meses depois, enquanto se esbaldava em um banquete
fartamente servido de carneiros, cabras e codornas no espeto. Segundo o escritor paquistanês Tariq Ali, autor
de O Livro de Saladino, ele se engasgou de tanto comer. Saladino teria ficado tão impressionado com a cena
que passou o resto da vida preferindo pratos vegetarianos, como ervilhas cozidas. Outros escritores, porém,
cogitam a hipótese de envenenamento.

Por ser jovem e inexperiente, Nur al-Din achou por bem que Saladino herdasse o trono – ele obedeceria a
suas ordens sem se rebelar. Assim, em 1169, aos 31 anos, ele se tornou vizir, cargo que corresponde a uma
espécie de ministro. A conselho do pai, nomeou irmãos e primos curdos para a maioria dos cargos
importantes do seu reinado. Com uma equipe de total confiança, evitaria uma eventual traição. Foi aí que,
dois anos depois, surpreendeu a corte de Bagdá ao acabar de uma vez por todas com os fatímidas, que
dominaram a região por três séculos. Em reconhecimento, foi nomeado sultão – ou seja, governante absoluto
– do Egito.

Com a morte de Nur al-Din, Saladino comandou um exército que assumiu o controle da Síria, unificando os
dois reinos e tornando-se o imperador. Para o pesadelo dos cruzados, a união dos árabes progredia. “Quando
Deus me deu a terra do Egito, eu tinha a certeza de que ele pretendia me dar também a Palestina”, teria dito o
sultão, mostrando sua idéia fixa pela conquista do Reino de Jerusalém.

Antes de se dedicar à ofensiva final, restava ao sultão a tarefa de terminar de unir seu próprio império, já que
ainda havia dissidências. Sua característica era a de sempre buscar uma solução diplomática antes de atacar –
só usava a força militar quando não tinha possibilidade de diálogo. Em junho de 1183, ele tomou Aleppo,
cidade de grande importância estratégicas, e em 1186 suas tropas dominaram a Alta Mesopotâmia. Nesse
período, o sultão sofreu diversos atentados, todos sem sucesso. Em um deles, soldados xiitas cercaram sua
cama enquanto dormia. Foi atingido de raspão por um punhal – morreria se seus seguranças, fiéis e atentos,
não tivessem chegado a tempo.

Com o Islã unificado, Saladino se tornou o soberano mais poderoso da época. Naquele tempo Damasco,
Cairo e Bagdá somavam uma população de cerca de 2 milhões de habitantes. Já Paris e Londres tinham
menos de 50 mil moradores cada uma.

O Líder

O governo de Saladino foi o mais popular da história. No Cairo, era adorado pela população por sua
simplicidade e por ter recuperado a economia local. “Para merecer o respeito do povo, e em particular de
nossos soldados, devemos nos acostumar a comer e vestir como eles”, ele dizia. “Ao contrário dos califas
fatímidas, Saladino não exigia que o povo pagasse imposto para ele acumular uma fortuna pessoal.
Recompensava muito bem seus soldados e impedia que o país fosse assolado pela fome”, afirma o escritor
Tariq Ali.

Tendo conquistado a fidelidade de súditos, era hora de partir para seu maior objetivo: Jerusalém. Saladino
chamou os dois sobrinhos preferidos, filhos de seu irmão mais velho, para comandar os soldados. Sua
popularidade era tão grande que vieram guerreiros de todos os cantos – só os curdos somavam cerca de 30
mil homens e, entre eles, havia judeus e cristãos convertidos ao islamismo. Saladino os conclamava para a
mais esperada jihad (guerra santa). Por todos os lados só se ouvia um grito: “Allah o akbar” (Alá é grande!).
Milhares de soldados, arqueiros e espadachins começaram a chegar. O sultão ordenou que todos acampassem
em Ashtara (na Síria), cidade em que havia muita água para beber e extensas planícies para a simulação de
combates. O exército ali ficou por 25 dias. Foram convocados também 100 cozinheiros, com 300 ajudantes.
Saladino fazia questão absoluta que todos recebessem a mesma comida. “Todos são semelhantes aos olhos de
Alá, amigos ou inimigos”, dizia ele. Isso fez crescer o sentimento coletivo de solidariedade.

Ao desmontar os acampamentos rumo à guerra, o sultão inspecionava tudo pessoalmente e tinha a habilidade
de lembrar o nome da maioria dos arqueiros e espadachins. “Ele não gostava de delegar tarefas e fazia
questão de correr riscos junto com seus soldados. Queria lhes dar segurança e manter alto o moral da tropa”,
afirma o professor Mohamed Habib, da Unicamp.

Dados acessados em 11 agosto 2010 site:




http://historia.abril.com.br/religiao/mil-noites-saladino-434455.shtml

Weitere ähnliche Inhalte

Andere mochten auch (20)

Fosforodelsuelo
FosforodelsueloFosforodelsuelo
Fosforodelsuelo
 
Csc alunos
Csc alunosCsc alunos
Csc alunos
 
Segundo parcial
Segundo parcialSegundo parcial
Segundo parcial
 
1228사례발표자료
1228사례발표자료1228사례발표자료
1228사례발표자료
 
DE-Group.Microsoft Exchange
DE-Group.Microsoft ExchangeDE-Group.Microsoft Exchange
DE-Group.Microsoft Exchange
 
La ciutat
La ciutatLa ciutat
La ciutat
 
Ação anulatória de sentença arbitral
Ação anulatória de sentença arbitralAção anulatória de sentença arbitral
Ação anulatória de sentença arbitral
 
R printers
R printersR printers
R printers
 
Internet i istoriografija
Internet i istoriografijaInternet i istoriografija
Internet i istoriografija
 
Billar
BillarBillar
Billar
 
013fertilizantes[1]
013fertilizantes[1]013fertilizantes[1]
013fertilizantes[1]
 
Jugoslovenska žena u digitalnoj Politici
Jugoslovenska žena u digitalnoj PoliticiJugoslovenska žena u digitalnoj Politici
Jugoslovenska žena u digitalnoj Politici
 
40 Lecie Patrona PSP Olesnica
40 Lecie Patrona PSP Olesnica 40 Lecie Patrona PSP Olesnica
40 Lecie Patrona PSP Olesnica
 
Персонален брендинг
Персонален брендингПерсонален брендинг
Персонален брендинг
 
4 ll 43 final
4 ll 43   final4 ll 43   final
4 ll 43 final
 
Contrato de compra e venda, afastamento de Cláusula arbitral
Contrato de compra e venda, afastamento de Cláusula arbitralContrato de compra e venda, afastamento de Cláusula arbitral
Contrato de compra e venda, afastamento de Cláusula arbitral
 
Content Marketing - foredrag fra Bloggcamp 2012
Content Marketing - foredrag fra Bloggcamp 2012Content Marketing - foredrag fra Bloggcamp 2012
Content Marketing - foredrag fra Bloggcamp 2012
 
Unió Europea
Unió EuropeaUnió Europea
Unió Europea
 
Parcial 2 laura insaurralde avila
Parcial 2 laura insaurralde avilaParcial 2 laura insaurralde avila
Parcial 2 laura insaurralde avila
 
Presentación sobre gerena
Presentación sobre gerenaPresentación sobre gerena
Presentación sobre gerena
 

Ähnlich wie O líder Saladino unifica os árabes e toma Jerusalém dos cruzados

Hegemonia 01 conflito_entre_o_isla_e_o_ocidente
Hegemonia 01 conflito_entre_o_isla_e_o_ocidenteHegemonia 01 conflito_entre_o_isla_e_o_ocidente
Hegemonia 01 conflito_entre_o_isla_e_o_ocidenteJocimar Vieira
 
Bernard lewis a crise do islã - guerra santa e terror profano
Bernard lewis   a crise do islã - guerra santa e terror profanoBernard lewis   a crise do islã - guerra santa e terror profano
Bernard lewis a crise do islã - guerra santa e terror profanoAriovaldo Cunha
 
El Cid; O Senhor da Espanha
El Cid; O Senhor da EspanhaEl Cid; O Senhor da Espanha
El Cid; O Senhor da EspanhaCláudia Risil
 
Uma história do negro no brasil ceao-ufba
Uma história do negro no brasil  ceao-ufbaUma história do negro no brasil  ceao-ufba
Uma história do negro no brasil ceao-ufbaElizete Santos
 
Império Songhai
Império SonghaiImpério Songhai
Império Songhai2dot4
 
Império Songhai
Império SonghaiImpério Songhai
Império Songhai2dot4
 
3º ano - Civilização Árabe e Cruzadas
3º ano - Civilização Árabe e Cruzadas3º ano - Civilização Árabe e Cruzadas
3º ano - Civilização Árabe e CruzadasDaniel Alves Bronstrup
 
Ritos e costumes da cavalaria medieval
Ritos e costumes da cavalaria medievalRitos e costumes da cavalaria medieval
Ritos e costumes da cavalaria medievalAdilson P Motta Motta
 

Ähnlich wie O líder Saladino unifica os árabes e toma Jerusalém dos cruzados (13)

Ordem do Templo
Ordem do TemploOrdem do Templo
Ordem do Templo
 
Hegemonia 01 conflito_entre_o_isla_e_o_ocidente
Hegemonia 01 conflito_entre_o_isla_e_o_ocidenteHegemonia 01 conflito_entre_o_isla_e_o_ocidente
Hegemonia 01 conflito_entre_o_isla_e_o_ocidente
 
Assíria
AssíriaAssíria
Assíria
 
Bernard lewis a crise do islã - guerra santa e terror profano
Bernard lewis   a crise do islã - guerra santa e terror profanoBernard lewis   a crise do islã - guerra santa e terror profano
Bernard lewis a crise do islã - guerra santa e terror profano
 
A cruzada
A cruzadaA cruzada
A cruzada
 
El Cid; O Senhor da Espanha
El Cid; O Senhor da EspanhaEl Cid; O Senhor da Espanha
El Cid; O Senhor da Espanha
 
Cruzadas.final
Cruzadas.finalCruzadas.final
Cruzadas.final
 
Uma história do negro no brasil ceao-ufba
Uma história do negro no brasil  ceao-ufbaUma história do negro no brasil  ceao-ufba
Uma história do negro no brasil ceao-ufba
 
Império Songhai
Império SonghaiImpério Songhai
Império Songhai
 
Império Songhai
Império SonghaiImpério Songhai
Império Songhai
 
3º ano - Civilização Árabe e Cruzadas
3º ano - Civilização Árabe e Cruzadas3º ano - Civilização Árabe e Cruzadas
3º ano - Civilização Árabe e Cruzadas
 
Ritos e costumes da cavalaria medieval
Ritos e costumes da cavalaria medievalRitos e costumes da cavalaria medieval
Ritos e costumes da cavalaria medieval
 
Cruzadas.pptx
Cruzadas.pptxCruzadas.pptx
Cruzadas.pptx
 

Mehr von Silvânio Barcelos

A arte como princípio educativo
A arte como princípio educativo A arte como princípio educativo
A arte como princípio educativo Silvânio Barcelos
 
Cidadania, inclusão e ética na educação de jovens e adultos
Cidadania, inclusão e ética na educação de jovens e adultosCidadania, inclusão e ética na educação de jovens e adultos
Cidadania, inclusão e ética na educação de jovens e adultosSilvânio Barcelos
 
Adolescência a complexidade do ser na visão espírita
Adolescência a complexidade do ser na visão espíritaAdolescência a complexidade do ser na visão espírita
Adolescência a complexidade do ser na visão espíritaSilvânio Barcelos
 
Não se pode servir a deus e a mamon ppt
Não se pode servir a deus e a mamon pptNão se pode servir a deus e a mamon ppt
Não se pode servir a deus e a mamon pptSilvânio Barcelos
 
A lei de deus cap. 16 e 17 ppt
A lei de deus cap. 16 e 17 pptA lei de deus cap. 16 e 17 ppt
A lei de deus cap. 16 e 17 pptSilvânio Barcelos
 
Os dragões (apresentação Power Point)
Os dragões (apresentação Power Point)Os dragões (apresentação Power Point)
Os dragões (apresentação Power Point)Silvânio Barcelos
 
Dragões (baseado na obra de wanderley oliveira)
Dragões (baseado na obra de wanderley oliveira)Dragões (baseado na obra de wanderley oliveira)
Dragões (baseado na obra de wanderley oliveira)Silvânio Barcelos
 
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi 4)
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi   4)A lei de deus (revisitando pietro ubaldi   4)
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi 4)Silvânio Barcelos
 
A lei de deus (pietro ubaldi revisitado 3)
A lei de deus (pietro ubaldi revisitado   3)A lei de deus (pietro ubaldi revisitado   3)
A lei de deus (pietro ubaldi revisitado 3)Silvânio Barcelos
 
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi 2)
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi   2)A lei de deus (revisitando pietro ubaldi   2)
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi 2)Silvânio Barcelos
 
A grande síntese (revisitando pietro ubaldi)
A grande síntese (revisitando pietro ubaldi)A grande síntese (revisitando pietro ubaldi)
A grande síntese (revisitando pietro ubaldi)Silvânio Barcelos
 
A lei de deus revisitando pietro ubaldi 1
A lei de deus revisitando pietro ubaldi 1A lei de deus revisitando pietro ubaldi 1
A lei de deus revisitando pietro ubaldi 1Silvânio Barcelos
 
A educação da nova era silvânio barcelos
A educação da nova era silvânio barcelosA educação da nova era silvânio barcelos
A educação da nova era silvânio barcelosSilvânio Barcelos
 
Posse e conflito pela terra em jaurú mt
Posse e conflito pela terra em jaurú   mtPosse e conflito pela terra em jaurú   mt
Posse e conflito pela terra em jaurú mtSilvânio Barcelos
 
O atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroy
O atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroyO atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroy
O atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroySilvânio Barcelos
 
Globalização releitura da obra de zigmunt bauman
Globalização releitura da obra de zigmunt baumanGlobalização releitura da obra de zigmunt bauman
Globalização releitura da obra de zigmunt baumanSilvânio Barcelos
 

Mehr von Silvânio Barcelos (20)

A arte como princípio educativo
A arte como princípio educativo A arte como princípio educativo
A arte como princípio educativo
 
Cidadania, inclusão e ética na educação de jovens e adultos
Cidadania, inclusão e ética na educação de jovens e adultosCidadania, inclusão e ética na educação de jovens e adultos
Cidadania, inclusão e ética na educação de jovens e adultos
 
A educação quilombola
A educação quilombolaA educação quilombola
A educação quilombola
 
Adolescência a complexidade do ser na visão espírita
Adolescência a complexidade do ser na visão espíritaAdolescência a complexidade do ser na visão espírita
Adolescência a complexidade do ser na visão espírita
 
Não se pode servir a deus e a mamon ppt
Não se pode servir a deus e a mamon pptNão se pode servir a deus e a mamon ppt
Não se pode servir a deus e a mamon ppt
 
A lei de deus cap's 21 à 25
A lei de deus cap's 21 à 25A lei de deus cap's 21 à 25
A lei de deus cap's 21 à 25
 
A lei de deus cap. 16 e 17 ppt
A lei de deus cap. 16 e 17 pptA lei de deus cap. 16 e 17 ppt
A lei de deus cap. 16 e 17 ppt
 
Os dragões cap. 12 ppt
Os dragões cap. 12 pptOs dragões cap. 12 ppt
Os dragões cap. 12 ppt
 
Os dragões (apresentação Power Point)
Os dragões (apresentação Power Point)Os dragões (apresentação Power Point)
Os dragões (apresentação Power Point)
 
A lei de amor ppt
A lei de amor pptA lei de amor ppt
A lei de amor ppt
 
Dragões (baseado na obra de wanderley oliveira)
Dragões (baseado na obra de wanderley oliveira)Dragões (baseado na obra de wanderley oliveira)
Dragões (baseado na obra de wanderley oliveira)
 
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi 4)
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi   4)A lei de deus (revisitando pietro ubaldi   4)
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi 4)
 
A lei de deus (pietro ubaldi revisitado 3)
A lei de deus (pietro ubaldi revisitado   3)A lei de deus (pietro ubaldi revisitado   3)
A lei de deus (pietro ubaldi revisitado 3)
 
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi 2)
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi   2)A lei de deus (revisitando pietro ubaldi   2)
A lei de deus (revisitando pietro ubaldi 2)
 
A grande síntese (revisitando pietro ubaldi)
A grande síntese (revisitando pietro ubaldi)A grande síntese (revisitando pietro ubaldi)
A grande síntese (revisitando pietro ubaldi)
 
A lei de deus revisitando pietro ubaldi 1
A lei de deus revisitando pietro ubaldi 1A lei de deus revisitando pietro ubaldi 1
A lei de deus revisitando pietro ubaldi 1
 
A educação da nova era silvânio barcelos
A educação da nova era silvânio barcelosA educação da nova era silvânio barcelos
A educação da nova era silvânio barcelos
 
Posse e conflito pela terra em jaurú mt
Posse e conflito pela terra em jaurú   mtPosse e conflito pela terra em jaurú   mt
Posse e conflito pela terra em jaurú mt
 
O atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroy
O atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroyO atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroy
O atlântico negro, uma releitura da obra de paul gilroy
 
Globalização releitura da obra de zigmunt bauman
Globalização releitura da obra de zigmunt baumanGlobalização releitura da obra de zigmunt bauman
Globalização releitura da obra de zigmunt bauman
 

O líder Saladino unifica os árabes e toma Jerusalém dos cruzados

  • 1. As mil e uma noites de Saladino O homem mais respeitado do mundo árabe até hoje foi um curdo que viveu há mais de 800 anos. Conheça a história de Saladino, um sultão que uniu seu povo, tomou Jerusalém dos cruzados e virou o grande líder muçulmano por Mariana Sgarioni ”Os verdadeiros reis não se matam uns aos outros.” Depois de falar essa frase certeira, o sultão guarda a espada na cintura e oferece um refresco de água de rosas ao prisioneiro inimigo, que estava de joelhos diante dele, esperando o golpe final sobre sua cabeça. Estamos em 1187. O protagonista da cena é Salah al-Din Yusuf ibn Ayub, ou para nós, ocidentais, Saladino. Ajoelhado e rendido estava Guy de Lusignan, então governante cristão de Jerusalém, recém-tomada pelos muçulmanos. Quem está acostumado a ver na TV prisioneiros decepados por extremistas da Al Qaeda pode imaginar que eles nada aprenderam com o maior líder do Islã de que se tem notícia. Em uma época nem tão diferente da nossa, em que governantes se mostravam traiçoeiros e cruéis, Saladino entrou para a história não só pela coragem de conquistar Jerusalém, mas por sua humanidade e simplicidade. Líder carismático, implacável na luta, generoso na vitória. Esse é o homem que você vai conhecer agora. “Saladino foi adorado até mesmo pelos seus inimigos”, resume Ridley Scott, diretor de Cruzada. De família curda, Yusuf nasceu em 1137 nas montanhas de Tikrit, no Iraque – curiosamente, a mesma cidade natal de Saddam Hussein. Justo no dia de seu nascimento, seu tio Xirkuh, que mais tarde iria ensinar-lhe a guerrear, envolveu-se numa briga e a família teve de se mudar para a Síria. O pai de Saladino, Najm ad-Dim, tornou-se o comandante da segurança da fortaleza do líder árabe Zengi, em Baalbek. Xirkuh, seu tio, chefiava parte do exército que, em 1144, tomou Edessa, no norte do Iraque, dos cruzados. Dois anos depois, Zengi morreu e foi substituído por seu filho Nur al-Din, uma liderança ainda mais forte na unificação dos domínios do Islã. Jovem guerreiro Por ordem do novo comandante, a família de Saladino mudou para Damasco, onde o patriarca teve como missão reorganizar a defesa da cidade. Por segurança, Saladino e os irmãos só podiam andar com soldados como guarda-costas. Sendo o terceiro filho homem, ele cresceu um tanto livre das cobranças que sofriam os primogênitos. Todos os dias, os irmãos se divertiam ensinando os soldados a jogar chogan, uma espécie de pólo, com os amigos. Outro passatempo infantil do futuro sultão era matar serpentes – os meninos mais corajosos, como ele, pisavam em suas cabeças. Isso chamou a atenção de Xirkuh, um bravo e impetuoso guerreiro, que começou a ensinar o sobrinho a cavalgar e a manejar a espada. E, observando o pai astuto, o menino aprendia a ser estrategista, a calcular cada passo e nunca agir por impulso. Segundo os historiadores, essa mistura de audácia e astúcia é que fez de Saladino um grande combatente. Desde muito cedo, ele ficava impressionado e comovido com os horrores das histórias que ouvia sobre a tomada de Jerusalém. Os mais velhos contavam que seu povo havia sido queimado vivo e sua carne fora comida pelos cruzados. As mesquitas teriam sido profanadas e servidas como estábulo para que os animais dos cristãos defecassem. O destino deu um empurrãozinho para que Saladino tivesse sua primeira oportunidade. O irmão mais velho morreu subitamente e o segundo na linha de sucessão irritava o pai por causa de sua indisciplina e teimosia. Assim, o jovem Yusuf ganhou muito mais atenção. Por outro lado, o cenário geopolítico também contribuía para o surgimento de um líder. Disputas de facções islâmicas causavam rivalidades entre povos. O surgimento da facção xiita rachou o Islã – os sunitas, como Saladino, ainda eram maioria e respondiam ao líder titular no Oriente Médio, o califa de Bagdá. As brigas eram tão intensas que muitos cristãos se
  • 2. aproveitavam desse racha para tomar cidades. Portanto, havia a necessidade urgente de unificação do mundo árabe. Nessa mesma época, em 1164, Nur al-Din, da facção sunita, decidiu enviar suas tropas e invadir o Egito, governado por califas fatímidas (dinastia que se considerava descendente direta de Fátima e Ali, filha e genro do profeta Maomé), da facção xiita. A idéia era colocar ordem no país, que estava em pleno caos, sem depor os califas. O chefe do exército era ninguém menos que Xirkuh, o tio de Saladino, que insistiu em levar o sobrinho para o combate. Os dois guerrearam juntos e venceram uma série de lutas no sul da Mesopotâmia contra os muçulmanos xiitas, muitos apoiados pelos cruzados, até conquistar o Cairo, quatro anos depois. O Soberano Xirkuh foi proclamado rei do Egito, mas morreu dois meses depois, enquanto se esbaldava em um banquete fartamente servido de carneiros, cabras e codornas no espeto. Segundo o escritor paquistanês Tariq Ali, autor de O Livro de Saladino, ele se engasgou de tanto comer. Saladino teria ficado tão impressionado com a cena que passou o resto da vida preferindo pratos vegetarianos, como ervilhas cozidas. Outros escritores, porém, cogitam a hipótese de envenenamento. Por ser jovem e inexperiente, Nur al-Din achou por bem que Saladino herdasse o trono – ele obedeceria a suas ordens sem se rebelar. Assim, em 1169, aos 31 anos, ele se tornou vizir, cargo que corresponde a uma espécie de ministro. A conselho do pai, nomeou irmãos e primos curdos para a maioria dos cargos importantes do seu reinado. Com uma equipe de total confiança, evitaria uma eventual traição. Foi aí que, dois anos depois, surpreendeu a corte de Bagdá ao acabar de uma vez por todas com os fatímidas, que dominaram a região por três séculos. Em reconhecimento, foi nomeado sultão – ou seja, governante absoluto – do Egito. Com a morte de Nur al-Din, Saladino comandou um exército que assumiu o controle da Síria, unificando os dois reinos e tornando-se o imperador. Para o pesadelo dos cruzados, a união dos árabes progredia. “Quando Deus me deu a terra do Egito, eu tinha a certeza de que ele pretendia me dar também a Palestina”, teria dito o sultão, mostrando sua idéia fixa pela conquista do Reino de Jerusalém. Antes de se dedicar à ofensiva final, restava ao sultão a tarefa de terminar de unir seu próprio império, já que ainda havia dissidências. Sua característica era a de sempre buscar uma solução diplomática antes de atacar – só usava a força militar quando não tinha possibilidade de diálogo. Em junho de 1183, ele tomou Aleppo, cidade de grande importância estratégicas, e em 1186 suas tropas dominaram a Alta Mesopotâmia. Nesse período, o sultão sofreu diversos atentados, todos sem sucesso. Em um deles, soldados xiitas cercaram sua cama enquanto dormia. Foi atingido de raspão por um punhal – morreria se seus seguranças, fiéis e atentos, não tivessem chegado a tempo. Com o Islã unificado, Saladino se tornou o soberano mais poderoso da época. Naquele tempo Damasco, Cairo e Bagdá somavam uma população de cerca de 2 milhões de habitantes. Já Paris e Londres tinham menos de 50 mil moradores cada uma. O Líder O governo de Saladino foi o mais popular da história. No Cairo, era adorado pela população por sua simplicidade e por ter recuperado a economia local. “Para merecer o respeito do povo, e em particular de nossos soldados, devemos nos acostumar a comer e vestir como eles”, ele dizia. “Ao contrário dos califas fatímidas, Saladino não exigia que o povo pagasse imposto para ele acumular uma fortuna pessoal. Recompensava muito bem seus soldados e impedia que o país fosse assolado pela fome”, afirma o escritor Tariq Ali. Tendo conquistado a fidelidade de súditos, era hora de partir para seu maior objetivo: Jerusalém. Saladino chamou os dois sobrinhos preferidos, filhos de seu irmão mais velho, para comandar os soldados. Sua popularidade era tão grande que vieram guerreiros de todos os cantos – só os curdos somavam cerca de 30 mil homens e, entre eles, havia judeus e cristãos convertidos ao islamismo. Saladino os conclamava para a mais esperada jihad (guerra santa). Por todos os lados só se ouvia um grito: “Allah o akbar” (Alá é grande!).
  • 3. Milhares de soldados, arqueiros e espadachins começaram a chegar. O sultão ordenou que todos acampassem em Ashtara (na Síria), cidade em que havia muita água para beber e extensas planícies para a simulação de combates. O exército ali ficou por 25 dias. Foram convocados também 100 cozinheiros, com 300 ajudantes. Saladino fazia questão absoluta que todos recebessem a mesma comida. “Todos são semelhantes aos olhos de Alá, amigos ou inimigos”, dizia ele. Isso fez crescer o sentimento coletivo de solidariedade. Ao desmontar os acampamentos rumo à guerra, o sultão inspecionava tudo pessoalmente e tinha a habilidade de lembrar o nome da maioria dos arqueiros e espadachins. “Ele não gostava de delegar tarefas e fazia questão de correr riscos junto com seus soldados. Queria lhes dar segurança e manter alto o moral da tropa”, afirma o professor Mohamed Habib, da Unicamp. Dados acessados em 11 agosto 2010 site: http://historia.abril.com.br/religiao/mil-noites-saladino-434455.shtml