O documento é um artigo sobre a história e uso das bengalas ao longo dos tempos. O autor descreve como as bengalas evoluíram de galhos de árvores para símbolos de autoridade e status, e como eram usadas e decoradas por reis, nobres e aristocratas. O artigo também discute os diferentes tipos e usos de bengalas no passado.
1. O Bandeirante
254
JANEIRO
2014
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S.Paulo
O mundo das bengalas
“Na Idade Média as bengalas eram decoradas com crucifixos e
outros símbolos da igreja, uma vez que prevalecia o domínio
destes prelados. Os reis europeus portavam bengalas como
símbolos de autoridade, muito bem observado nas pinturas da
época como, por exemplo, de Henrique VIII. Luiz XIV da França
portava sempre bengalas ricamente ornamentadas com joias e
as restringiu apenas para a aristocracia. Não permitia que seus
súditos usassem bengalas em sua presença...”
Leia o artigo de WALTER WHITTON HARRIS na p.
3
Assombração
“...Era noitinha, o céu estava nublado e sem lua, no pomar
era um breu. Tio Pepino esperava, quando apareceu um vulto,
vestido com uma roupa comprida. Sem mais delongas, tio
Pepino já foi atacando. Em prudente silêncio ele agarrou o
vulto por trás, já foi levantando a longa roupa e beijando a
nuca. O vulto atacado deu uns berros, desvencilhou-se dele,
disparou pelo quintal afora...”
O conto de GEOVAH PAULO DA CRUZ está na p.
6
Arte
“São tantas cores a descobrir, tantos teores
Que não há nada a se dizer, nem embaraços.
Apenas muito para sentir, que o tempo e o espaço
Admitindo as leis da física, serão abraços....”
Poesia de JOSYANNE RITA DE ARRUDA FRANCO na p.
4
5
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5
JANEIRO CHEGOU
VIRGÍNIA e OFÉLIA
CANTO DAS SEREIAS
Alcione Alcântara Gonçalves
Sérgio Perazzo
José Jucovsky
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2. 2
O Bandeirante - Janeiro 2014
Jornal O Bandeirante
ANO XXIII - nº. 254
Janeiro 2014
Publicação mensal da Sociedade
Brasileira de Médicos Escritores Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede:
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da Associação Paulista de Medicin a) - São Paulo - SP
Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Marcos Gimenes
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Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto
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Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira
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Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 99937-6342.
Um novo ano alvorece prometendo as bênçãos por todos
desejadas. Façamos deste novo período um tempo de
crescimento nos diversos aspectos de nossas vidas, e um
congraçamento constante em que brindemos, irmanados em
ofício e arte, ao grande presente que se oferece como
oportunidade: viver cada dia com a gratidão de existir! Bem-vindos a 2014!
Josyanne Rita de Arruda Franco
Médica Pediatra Presidente da Sobrames-SP
Colaboradores desta edição: (Textos literários): Alcione
Alcântara Gonçalves, Geovah Paulo da Cruz, José Jucovsky,
Josyanne Rita de Arruda Franco, Sérgio Perazzo e Walter
Whitton Harris.| (Fatos & Olhares) Márcia Etelli Coelho.
Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de
1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.
Diretoria - Gestão 2013/2014 - Presidente: Josyanne Rita
de Arruda Franco. Vice-Presidente: Carlos Augusto Ferreira
Galvão. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. SegundoSecretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. PrimeiroTesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida
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Editores de O Bandeirante
Flerts Nebó - novembro a dezembro de 1992
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1993-1994
Carlos Luis Campana e Hélio Celso Ferraz Najar - 1995-1996
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1996-2000
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Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun - 2013-2014
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1º. Flerts Nebó (1988-1990)
2º. Flerts Nebó (1990-1992)
3º. Helio Begliomini (1992-1994)
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14º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2013-2014)
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Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto
Diagramação: Marcos Gimenes Salun | Rumo Editorial
Produções e Edições Ltda. E-mail: rumoeditorial@uol.com.br
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica
Editora - São Paulo
01/01 – José Rodrigues Louzã
06/01 – Evanil Pires de Campos
13/01 - Aída Lucia Pullin Dal
Sasso Begliomini
16/01 - José Leopoldo Lopes de
Oliveira
24/01 - Suzana Grunspun
25/01 - Rodolpho Civile
Anuidade 2014
Será de R$ 330,00 o valor da anuidade para 2014, que poderá ser pago
em três parcelas de R$ 110,00, com cheques para fevereiro, março e
abril. Para os pagamentos efetuados após esse prazo o valor será de
R$ 360,00. A diretoria espera e agradece a contribuição de todos, pois
esta é a única fonte de recursos para manter as atividades da SOBRAMESSP
.
Prêmio Flerts Nebó
Na Pizza Literária de 20 de fevereiro será feita a entrega do Prêmio
“Flerts Nebó” que, em sua 13ª. edição, será entregue ao melhor texto em
prosa apresentado em 2013. Dois outros textos receberão menções
honrosas neste concurso.
Mais uma fornada
Já foram definidas as regras e condições para mais uma edição da
tradicional coletânea bianual da SOBRAMES-SP, que inclusive já tem data
marcada para lançamento: 07.11.2014. Nos próximos dias, serão
divulgadas por e-mail e correio convencional as informações detalhadas
para a participação na “A Pizza Literária - décima terceira
fornada”. Prepare seus melhores textos e não deixe de participar.
Fim de festa
Este é o mote para quem quiser participar do desafio da próxima
Superpizza. Os textos em prosa ou verso com o tema “fim de festa”
deverão ser apresentados na Pizza Literária de 20.02.2014. O que for
escolhido por um jurado convidado, receberá uma garrafa de vinho.
Nosso blog pelo mundo
Perto de chegar ao marco de 20.000 visitas, nosso Blog agora tem um
mecanismo para aferir de onde são os visitantes. Clicando no mapa da
página inicial (no alto, à direita), aparecerá a listagem dos países visitantes.
Clicando na linha correspondente ao país, aparecerão as cidades de onde
se originaram os acessos. É muito gratificante saber que somos vistos na
Costa do Marfim, EUA, Italia, Austrália, Senegal, Rússia, UK, Portugal,
Angola, etc. Confira: http://sobramespaulista.blogspot.com.br
As Pizzas Literárias da SOBRAMES-SP acontecem
na terceira quinta-feira de cada mês, a partir
das 19h00 na PIZZARIA BONDE PAULISTA
Rua Oscar Freire, 1.597 - Pinheiros - S.Paulo
3. O Bandeirante - Janeiro 2014
3
O mundo das bengalas
Walter Whitton Harris
Desde que o Homem
habita a Terra, encontrou no
galho de uma árvore um
objeto para auxiliá-lo em sua
marcha, seja apenas para
apoiá-lo
em
terrenos
acidentados, como no caso
do cajado, seja para ajudálo para ficar em pé por
qualquer lesão dos membros
inferiores, traumática ou
neurológica.
É óbvio pressupor-se
que, com o avançar da
Humanidade, o homem
primitivo foi se aprimorando,
escolhendo galhos cada vez
mais retos, ou então,
recorrendo à pedra lascada,
polida e aos metais para
também trabalhar os galhos retorcidos. Imaginase que, acidentalmente, algum primitivo descobriu
que uma pequena bolota ou uma pequena
curvatura numa das pontas melhorava muito para
segurá-la pela mão.
Com o passar do tempo, bengalas tornaramse símbolos de autoridade. No antigo Egito elas
variavam de acordo com a profissão do dono, fosse
ele um faraó, um tecelão ou um marinheiro. Era
de suma importância que o acompanhasse até a
morte e no além, tendo sido encontrada junto às
múmias.
Na Idade Média, as bengalas eram decoradas
com crucifixos e outros símbolos da Igreja, uma
vez que prevalecia o domínio destes prelados. Os
reis europeus portavam bengalas como símbolos
de autoridade, muito bem observado nas pinturas
da época como, por exemplo, de Henrique VIII.
Luiz XIV da França portava sempre bengalas
ricamente ornamentadas com joias e as restringiu
apenas para a aristocracia. Não permitia que seus
súditos usassem bengalas em sua presença.
Basicamente, uma bengala é dividida em
quatro partes: o cabo, a haste, o colarinho (que
une o cabo à haste, especialmente se forem de
materiais diferentes) e a ponteira.
O século XIX, com a Revolução Industrial,
presenciou a fabricação em massa de bengalas
para todos os gostos. Continuaram representando
o poder, fundamentalmente monetário, pois
quanto mais rico o proprietário, mais elaborada
era sua bengala. Tiffany as fazia, como todas as
outras firmas de porcelana. Faberge usava jade e
quartzo. Do oriente chegavam
bengalas com ornamentos em
marfim. Artesãos desenhavam
colarinhos, encrustando-os com
diamantes. Marinheiros as
preparavam de osso de baleia.
São várias as categorias de
bengalas. Sempre vem à mente
o seu importante uso médico,
desde bengalas de madeira, às
de metal, onde se pode regular
sua altura, àquelas de
extremidade com quatro
ponteiras para garantir maior
estabilidade.
As bengalas decorativas são
principalmente do século XIX e
até 1920. Os cabos podiam ser
esmaltados, de prata, bronze,
madeira, vidro, etc. As de cabo
de prata eram bastante trabalhadas com cabeças
de índios e outras figuras humanas, animais e
flores. Os temas eram por demais variados.
Há também bengalas com várias funções.
Podem camuflar uma arma branca ou de fogo,
podem apresentar um esconderijo para portar
documentos ou drogas, ou então ter no seu cabo
uma bússola ou um relógio. Eram inúmeras as
aplicações. O famoso violinista Jascha Heifitz
frequentemente portava um arco de violino dentro
de uma bengala que retirava ao se apresentar no
palco para um concerto.
No entanto, talvez o uso mais comum foi de
ser, no século XIX e XX, um símbolo de elegância
para as damas e cavalheiros da época. Não se
pode esquecer, contudo, seu uso em plena Segunda
Guerra Mundial, onde os comandantes das forças
armadas carregavam bengalas finas e curtas
debaixo do braço, como símbolo de seu indiscutível
poder.
Não poderia deixar de mencionar que existem
miniaturas de escudos representando cidades ou
locais que podem ser afixadas em uma bengala
de madeira. Deixa de ser uma simples bengala
para ser uma bem viajada com histórias para
contar.
Gosto sempre de lembrar que me foi ensinado
que a bengala é um instrumento médico para dar
apoio, no entanto, apenas “apoio moral”. Isto
não é verdade. Já tive de usar uma bengala em
diversas ocasiões e dou graças ao Homem Primitivo
pela sua descoberta, pois muito ajuda no apoio
aos transtornos físicos também.
4. 4
O Bandeirante - Janeiro 2014
Janeiro chegou
Alcione Alcântara Gonçalves
Dezembro tem festas: Natal e Ano-Novo
Tradicionalmente festejadas pelo povo
Com muita alegria, esperança e amor,
Encerrando um ano de trabalho e fervor.
Um ano termina e outro começa,
Com fogos de artifício e muita festa,
Com presentes para Iemanjá, Rainha do Mar;
E todos de branco na praia, para festejar.
Espelhos, rosas, perfume, colocadas num barco,
Como oferenda e agradecimento ao orixá;
Bilhetes, cartas e rituais, fazendo os pedidos
De emprego, casamento, realizações, são jogadas ao mar
Assim o “Réveillon” é festa do despertar,
Comemorando a entrada do ano novo,
Após velório festivo do ano que acabou,
Anunciando ao povo que janeiro chegou!
O canto das Sereias
Orfeu e os iniciados Órficos
José Jucovsky
MITO DE ORFEU
Para matar Orfeu não basta a Morte
Tudo morre que nasce e que viveu
Só não morre no mundo a voz de Orfeu.
Vinícius de Morais (1913 – 1980).
Orfeu com sua viva voz angelical
Pelas Musas e Bacantes amado
Orquestrava em ritmo sem igual
As naus para o destino almejado!
O canto das sereias a enfeitiçar
Não competia com a Orfeu ternura
Pois não podiam mais atrair para o mar
Argonautas à fatal desventura!
Orfeu ao saber da morte de sua ninfa amada
Explode em poética plangente melodia
Cenário trágico da Eurídice invocada
Proclamando seu querido nome noite e dia.
Solitário eco e canto n’alma, amargurado
A revelar a dor que não se cala, violenta
Com a lira em desventura no céu estrelado
Apaixonado, imerso em dramática tormenta!
Palavras sob palavras dos cantos flutuantes
Rouba secretos segredos da grega cultura
Trazendo iniciados libertos órficos bacantes
Opondo-se à cólera de Zeus na Olímpica altura.
5. O Bandeirante - Janeiro 2014
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Virgínia e Ofélia
Sérgio Perazzo
Quando tiramos os seixos dos bolsos do casaco, o
corpo flutuou na superfície do rio. Não se sabe se Ofélia
ou Virgínia, separadas que estavam por séculos e
fronteiras, por um fio de cabelo, o teatro da vida no fundo
das águas. Ofélia encerrada num castelo de Elsinore no
reino gelado da Dinamarca, Virgínia afogada no Rio Ouse,
na paisagem campestre do Sussex, quase uma pastoral
de Beethoven revisitada. Um
colapso nervoso, disseram
depois, confirmado por seus
biógrafos.
Ofélia, repaginada na
loucura, seu lastro também a
afogá-la no fundo de outro rio.
Sempre as águas. Farol e Waves
de Virgínia, Mrs. Dalloway
tomando conta de tudo,
desenterrando Ofélia da areia
de um riacho, leito do leito de
uma corrente revolta. Um lapso
no tempo.
Ofélia sucumbindo na loucura a falsa loucura de
Hamlet. A bengala e o chapéu de Virgínia deixados na
margem, não dando margem a qualquer dúvida, a qualquer
desvio neste estranho, úmido, exílio, exílio para dentro
de si mesma. Estranha viagem essa, sem trem e sem
barcos, arcos, arcobotantes das ramagens ribeirinhas,
sem remos, velas infladas de uma nau de ficção apagando
velas noturnas com um sopro, deixando tudo no escuro
neste último percurso no curso das águas sem fim,
cabrestantes içando âncoras, labirintos, colmeias,
caracóis, em que se perde de vista as asas da imaginação,
sopradas por um vento de quase inverno.
Duas suicidas, produto e fonte de literatura, da
criação, resultado da vivência do desalento. Uma,
personagem, outra, palco e ação da tragédia.
Shakespeareanas ambas, cada uma em sua própria
dimensão, quer ficcional, quer na vida concreta do correr
dos dias, que teimamos chamar de vida real, no turbilhão
da correnteza, afluentes uma da outra, boiando, enfim,
no remanso de um braço de rio.
Como Marília e Marina, as
duas mocinhas de Botafogo, da
balada de Vinicius que, de mãos
dadas se atiraram nos trilhos do
bonde num desesperado abraço de
solidão e desesperança sem saída.
As duas mocinhas que davam que
nem galinhas na perspectiva
implacável do poeta, na falta de
perspectiva do isolamento
irreversível.
Heroínas trágicas destinadas a
viver para sempre nas páginas de um livro e de habitar
estantes envidraçadas de uma biblioteca e a quem, hoje,
apenas, se oferecesse o sacrifício da beberragem de
alguma classe e de alguma dose de prozacs.
Diante do afogamento de Ofélia, de Hamlet ou de
Virgínia Woolf com seu chapéu e bengala no fundo do rio
ou do sangue nos trilhos das mocinhas de Botafogo, a
redenção de transformar a morte, com seu paralisante
horror, numa obra de arte, tirando as pedras do bolso do
casaco e devolvendo ao rio as flores recém-despetaladas
de nossos anseios mais secretos. Ser ou não ser, viver
ou deixar morrer. Conflito eterno e recorrente entre autor
e personagem.
Arte
Josyanne Rita de Arruda Franco
Sem te dizer por que nem quando,
Deixo-me levar em teus mistérios.
Que me dirás quando chegarem os planos,
O que farás se te disser que quero?
Há a distância nos evitando danos...
Desconhecidos querem perder-se tanto!
Inebriados de sedução e apelos,
Nós nos amamos entre versos-novelos.
São tantas cores a descobrir, tantos teores
Que não há nada a se dizer, nem embaraços.
Apenas muito para sentir, que o tempo e o espaço
Admitindo as leis da física, serão abraços.
Só felizardos conseguem amar sem pranto.
Desatinados nutrem obsessiva ideia.
Resta aos poetas querer amar nos cantos,
Nas tênues trincas que a prisão empresta.
Pois no prenúncio do misturar textura e tinta,
E no silêncio das coisas que não serão ditas,
Há um desejo de perdição sem ter castigo...
E a vontade de se achar noutro destino.
O frio convida ao crespo fogo da lareira
Criando um quadro de expressivo movimento:
Se realista ou abstrato, se aquarela,
Tudo comporta o ir e vir... Pincel e tela!
Enquanto espero abrir no tempo a brecha
Que me desloque rumo do inevitável encontro,
Vou me entregando ao sonho que banqueteia a festa:
De chama ardente... libido acesa... cair do pano.
6. 6
O Bandeirante - Janeiro 2014
Assombração
Geovah Paulo da Cruz
Meu bisavô Giussepe, nascido no Tirol
italiano, era alto, alourado, bonitão. Aqui no
Brasil pôs o pinto a juros e “fez América”,
casando-se sucessivamente duas vezes com
filhas de ricos fazendeiros. Como era instruído,
letrado num meio de analfabetos, esperto e
trabalhador, multiplicou o patrimônio e se
tornou quase um milionário. Chegou a ser tão
importante que a missa não começava antes de
ele e sua família chegarem. Deixou fazenda
para cada um dos numerosos filhos, e alguns
cumpriram o ditado: pai rico, filho nobre,
neto pobre. O que o inteligente carcamano
amealhou, os filhos aproveitaram. Vários deles
eram boas-vidas. Um deles, irmão de minha
avó, meu tio-avô Pepino, diminutivo do
diminutivo Giuseppino (Giuseppe=José), era
renomado mulherengo. Era bonitão como o pai,
bem apessoado como então se dizia. Folgazão e
malandro vivia para a alcova.
Na sua fazenda não havia mulher e filha
de empregado que ele não assediasse, e em
geral não conquistasse. Tinha filhos bastardos
por toda a região. Quando uma criança não se
parecia com o pai, dizia-se que era filho do
Pepino. Muitos usavam um trocadilho, dizendo
que ele vivia de pepino duro. Por aquelas
paragens ninguém gostava de comer pepino, tal
a má fama que o vegetal alcançou. A palavra
pepino ficou demonizada.
Logo após a imigração italiana, chegaram
os japoneses. Foram todos para a lavoura. Um
deles foi parar na fazenda do tio Pepino. Lá
morava com sua jovem esposa e alguns filhos
pequenos. Não se sabe como, algo
completamente fora dos padrões nipônicos,
mas o fato é que tio Pepino
seduziu a mulher do japonês.
Tinha com ela encontros
frequentes no retiro afastado onde
ela residia.
Certa vez o Don Juan veio
para mais uma rapidinha. Ele tinha
um código para avisá-la de que
estaria no quintal, à espera dela.
Relinchava igual a um burro,
depois assobiava como um pássaro
preto, e novamente relinchava.
Nunca havia engano. Fosse qual
fosse a hora, a japonesa ia para o
quintal, para a moita de
bananeiras. As antigas casas de
fazenda não tinham banheiro, e as
de empregados, nem ao menos latrinas.
Usavam-se moitas mesmo. Era um costume
trivial que dava um álibi perfeito.
A japonesa costumava usar um longo
quimono, muito prático para a ocasião. Era
noitinha, o céu estava nublado e sem lua, no
pomar era um breu. Tio Pepino esperava,
quando apareceu um vulto, vestido com uma
roupa comprida. Sem mais delongas, tio Pepino
já foi atacando. Em prudente silêncio ele
agarrou o vulto por trás, já foi levantando a
longa roupa e beijando a nuca. O vulto atacado
deu uns berros, desvencilhou-se dele, disparou
pelo quintal afora. Era o marido, que chegou
em casa esbaforido, gritando:
-Chombraçom! Chombraçom!
Chombraçom memo non?!! Dizem que o japonês
nunca mais foi ao quintal à noite, até que se
mudou para bem longe.
Velho e falido, já sem terras após uma
vida de esbórnia, meu tio-avô Pepino foi morar
na cidade, e para sobreviver tornou-se vendedor
ambulante de bilhetes de loteria. Agora pobre e
menos respeitável, era alvo do pessoal gozador:
- “Seu” Pepino, é verdade que o
japonês “tava de caganeira” e borrou o
senhor todinho?
Tio Pepino dava um risinho sardônico e
saía de fininho.
7. O Bandeirante - Janeiro 2014
7
Livros em destaque
NELSON JACINTHO
“A Casa de Pedra”
Funpec Editora - Ribeirão Preto
Romance de aventuras onde o
mistério, o mundo real e o imaginário vão se mesclando e sendo
descobertos por dois meninos
curiosos durante uma excursão do
colégio em que estudam pelo
interior de Minas Gerais. Ao
encontrarem um velho índio, os
dois meninos fazem descobertas e
desvendam mistérios que prendem
o leitor do começo ao fim. Voltado
ao público infanto-juvenil, este é o
décimo livro de Nelson Jacintho e
contém ilustrações de Dumara
Piantino Jacintho. Contatos:
HELIO BEGLIOMINI
“Esculápios da Casa de
Machado de Assis”
Expressão & Arte Editora - SP
A obra de pesquisa histórica
permite conhecer um pouco da
vida e obra de 24 médicos que
ligaram sua própria história
literária não apenas às ciências
médicas e da saúde, mas também
à literatura no seu sentido mais
amplo, e que desfrutaram ou ainda
desfrutam da casa de Machado de
Assis, a circunspecta Academia
Brasileira de Letras. É o 25º. livro de
Helio Begliomini e mais uma
importante contribuição à cultura.
Contatos com o autor e aquisições:
njacintho@convex.com.br
heomini.ops@terra.com.br
ELEIÇÕES
PIZZAS LITERÁRIAS
Realizadas na terceira
quinta-feira de cada mês
JAN - 16
FEV - 20
MAR - 2O
ABR - 24*
MAI - 15
JUN - 26*
JUL - 17
AGO - 21
SET - 18
OUT - 16
NOV - 13*
DEZ - 18
*ATENÇÃO
Em virtude de feriados as datas
das reuniões de Abril, Junho e
Novembro foram modificadas
Endereços e horários
JUL - 17 - Prazo final para a
inscrição de chapas concorrentes
SET - 18 - Eleição
BALADA LITERÁRIA
MAI - 30
NOV - 07
COLETÂNEA 2014
FEV Divulgação das regras e
início das adesões de autores
NOV - 07 Lançamento
CONGRESSO NACIONAL
REUNIÕES DE DIRETORIA
OUT - 08 a 12 Recife - PE
Primeira quinta-feira do mês
“QUEM é QUEM”
ROBERTO CAETANO MIRAGLIA era o
garoto da foto da edição de DEZEMBRO
Pizzas Literárias:
Pizzaria Bonde Paulista. Rua Oscar
Freire, 1.507 - a partir de 19h00.
Balada Literária:
APM - Espaço Maracá - Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278 - 11º. andar das 18h30 às 22h00
Reuniões de Diretoria:
Sede da SOBRAMES-SP na APM Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278 7º. andar - às 19h00
Esta agenda está sujeita a
alterações em decorrência de
fatores não previstos quando
de sua elaboração
O verso abaixo é parte de uma poesia de um dos autores
da SOBRAMES-SP, já publicado anteriormente numa de
nossas coletâneas. Você consegue identificar o autor?
Resposta na próxima edição.
Esqueço problemas
Obrigações e rotinas
Apenas caminho
sem me importar
se me vigiam
se me envenenam.
8. FESTA DE FIM DE ANO I
Ambiente festivo, decoração natalina, premiações e brindes
marcaram a Pizza Literária de 19 de dezembro de 2013.
Destaque para o descerramento simbólico da placa em
homenagem aos membros beneméritos Dr. Manlio Mario Marco
Napoli e Dr. José Jucovsky. A placa será afixada na sede da
Sobrames-SP na APM, perpetuando a nossa gratidão pela
contribuição patrimonial de ambos.
FESTA DE FIM DE ANO II
Rever amigos, alguns distantes, consiste em uma das
tônicas dessa época de confraternização.
Indescritível, porém, foi a emoção com que
acolhemos o Dr. Flerts Nebó, nosso decano,
aplaudindo-o de pé, demonstrando a honra e o
contentamento por sua presença. Foi mais um
encontro inesquecível desta grande família.
PRÊMIO COLABORADOR 2013
Devido ao excelente trabalho na revitalização do jornal
“O Bandeirante”, a Sobrames-SP concedeu o Certificado
de Colaborador 2013 a Marcos Gimenes Salun que
também se dedica à organização do Blog da entidade:
sobramespaulista.blogspot.com.br
CONDECORAÇÕES
Depois de fundar a ATLECA – Academia Tupanense de Letras,
Ciências e Artes de Tupã, o sobramista Alcione Alcântara
Gonçalves recebeu o Diploma e a Medalha “Mérito Presidente
Juscelino Kubistchek” conferido pela ABRAMMIL (Academia
Brasileira de Medalhística Militar) e a “Moção de
Congratulação” outorgada pela Câmara Municipal da
Estância Turística de Tupã. Homenagens mais que merecidas.
CONCURSO AFLAJ
Hildette Rangel Enger foi uma das 50 classificadas no
Concurso de Poesias da Academia Feminina de Letras e
Artes de Jundiaí - AFLAJ, que resultou em
um belíssimo livro, lançado em 17 de dezembro
na cidade de Jundiaí. Parabéns.