O documento é um jornal mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores da região de São Paulo. O artigo principal discute como as lembranças do passado podem estar próximas na mente, mesmo que as paisagens estejam distantes geograficamente. Outros artigos falam sobre a importância do voluntariado e listam eventos literários recentes e próximos.
1. Jornal
O Bandeirante
Ano XX - no 235 - junho de 2012
Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
Imagens próximas...
paisagens distantes
Josyanne Rita de Arruda Franco
Médica Pediatra
Presidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012
Dentro do coração e da me-
mória, residem imagens queri-
das: anseios e sonhos de outro-
ra, grandes momentos vividos.
Quem não fez planos de viagens
ao ver bela fotografia de lugares
longínquos e aprazíveis, pensan-
do conhecer outras paragens,
viver novas experiências, sentir
outros ares e aromas? Como es-
quecer sensações felizes ou mes-
mo tristezas recolhidas em olhos
fechados e bocas silentes? Tudo inseridas em nós, tão próximas e depois da tempestade vem a bo-
tão perto e ainda assim distante, palpáveis como um corpo cheio nança. Memória e coração aco-
como um filme antigo, um sonho do calor da vida e, ao mesmo lhem as estações da vida e as
delicado... Lembranças. tempo, distantes como um sonho mudanças climáticas que se su-
A maturidade nos ensina a res- inacabado pelo despertar abrup- cedem, tal e qual a natureza: o
gatar paisagens esquecidas, po- to com alheio estertor. orvalho que salpica as folhas du-
rém não aquelas das fotos turísti- A geografia do coração per- rante a madrugada aceita evapo-
cas dos lugares convidativos. São mite acessar paisagens distantes, rar sem dor com o calor do sol.
as imagens vividas que assolam mesmo que imersas em geleiras, “Assim se passaram dez anos...”
em profusão a mente madura, vulcões ou escombros. Ocorrên- fala a antiga canção. Passarão
muitas vezes em desfocadas pai- cias que resultam em muralhas mais dez, vinte ou trinta, quem
sagens adormecidas pelo tempo. desfeitas, catedrais erigidas, la- poderá dizer... Novos aconteci-
Imagens tão próximas que pare- mento e devoção. Lugares onde a mentos brindarão a vida, notícias
cem ter vida e respirar o mesmo temperatura é tépida e aconche- alegres germinarão na felicida-
ar que inalamos agora, que ape- gante, recôndito de bosques e ma- de que um dia será lembrança e
lam para retornar e serem outra tas, clareiras e áreas desmatadas, alimentará o sorriso, tornando-
vez acarinhadas, na suave espera terrenos arenosos, movediços, se gratidão pelos “tempos idos e
de um sorriso alentador. Que por irregulares, planaltos e planícies, vividos”... Afinal, recordar não é
vezes dormem nas ruínas, nas pa- vício e virtude, densidade e vas- viver? Desta feita nossas imagens
redes e soalhos do passado e des- tidão. Clima e relevo de ocasião, queridas sempre estarão muito
pertam em jardins floridos, poe- revés do sonho... realidade. próximas da mente e do coração,
mas e canções eternas. Imagens Diz a sabedoria popular que mesmo em paisagens distantes...
2. 2 O BANDEIRANTE - Junho de 2012
EXPEDIENTE O mundo está sempre apresentando grandes mu-
Jornal O Bandeirante
danças e com elas descobertas que felizmente quase
ANO XX - no 235 - Junho 2012 sempre trazem benefícios. Buscam-se novas formas,
alternativas para que as mudanças aconteçam, visando
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores um mundo melhor. Uma delas foi o ser voluntário.
- Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP Sede: Rua
.
Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo Que oportunidade melhor existe para exercer a ci-
- SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores: Josyanne dadania e a solidariedade? Todos ganham quando
Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira Galvão.
Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto alguém se dispõe a realizar uma diferença na vida de
(MTb 17.671-SP). Redação e Correspondência: Rua Francisco outras pessoas: para aquele que recebe ajuda através
Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-
100 – Jundiaí – SP E-mail: josyannerita@gmail.com Tels.: (11) de um projeto ou organização social; ou então ganha
4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores desta edição: a sociedade que reconhece no cidadão o seu potencial
Alcione Alcântara Gonçalves, Hélio José Déstro, Josyanne
Rita de Arruda Franco, Ligia Terezinha Pezzuto, Márcia Etelli a ser aproveitado.
Coelho, Maria do Céu Coutinho Louzã. E, assim, por que não lembrar o importante papel
do voluntário que, espontaneamente doa seu tempo,
Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de talento e trabalho, ao levar momentos de alegria, de alívio ao sofrimento, ou
1.000 exemplares PDF enviados por e-mail. mesmo ensinamentos para melhorar condições de vida?
Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita De acordo com pesquisa realizada pela Rede Brasil Voluntário e Ibope
de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira.
Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo- Inteligência, um em cada quatro brasileiros com mais de 16 anos – cerca
Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-
Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida
de 35 milhões de pessoas –, faz ou já realizou algum trabalho voluntário. E
Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos: o interessante é que a maioria dos voluntários (77%) declarou estar muito
Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto
Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara
satisfeita com o trabalho que realiza.
Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli. Em relação à motivação para o exercício do trabalho voluntário, 67%
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus apontam que o realizam para “ser solidário e ajudar os outros”; 32% para “fazer a
autores e não representam, necessariamente, a opinião diferença e melhorar o mundo” e 32% declararam ser por motivações religiosas. E dos
da Sobrames-SP
voluntários entrevistados, 87% declararam que estão totalmente motivados a
Editores de O Bandeirante continuar exercendo o trabalho voluntário.
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992 O Centro de Voluntariado de São Paulo – CVSP, através de palestras, que po-
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994 derão ser agendadas, orienta as pessoas no sentido de que o ser voluntário
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000 deve ter uma atitude responsável, que exige comprometimento e que deve
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009 principalmente trazer satisfação pessoal. O voluntário sente-se útil, valorizado
Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009
Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010
e reconhecido. Ele vê uma grande oportunidade de exercer a cidadania, de ser
Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011 solidário e contribuir para uma sociedade mais justa, inclusiva e melhor.
O site www.voluntariado.org.br propicia aos interessados informações de
Presidentes da Sobrames – SP
como participar de palestras interessantes e gratuitas e conhecer melhor o
1º. Flerts Nebó (1988-1990) trabalho voluntário.
2º. Flerts Nebó (1990-1992)
3º. Helio Begliomini (1992-1994)
4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996) Maria do Céu Coutinho Louzã
5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)
7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
O Malho
8º. Luiz Giovani (2003-2004)
9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)
11º. Helio Begliomini (2007-2008)
12º. Helio Begliomini (2009-2010)
PIZZA DE JUNHO – Maravilhosa, interestadual (Minas Gerais e Paraná),
13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012) alguns textos um pouco longos, mas ninguém se importou. A noite foi glamo-
Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão
rosa, elegante, excelente qualidade literária. Que pena que não tenha Pizza
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto Literária pelo Brasil afora. A receita da massa, deixa conosco.
Diagramação: Mateus Marins Cardoso
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica
CUPOM DE ASSINATURAS*
Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00
Aniversário
Nome:___________________________________________________________
End.completo: (Rua/Av./etc.) _______________________________________
junho: nesta data
________________________________ nº. _______ complemento _________ querida, nossos parabéns!
Cidade:_____________ Estado:_____ E-mail:___________________________
Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante Antônio Carlos Lima Pompeu – 18/06
receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)
Helio José Déstro – 20/06
*Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP
Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO José Alberto Vieira – 08/06
“O Bandeirante” R. Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A - V. Municipal - CEP 13201-100 - Jundiaí - SP
Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega
3. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Junho de 2012 3
Fatos e olhares
Márcia Etelli Coelho
Pizza Literária de junho
No dia 21 de junho, decoração típica e quitutes juninos fizeram
os participantes esquecerem um pouco a dieta e se lembrarem dos
tempos de criança. Apesar da chuva e do trânsito, a Sobrames São
Paulo acolheu confrades de Minas Gerais (José Carlos Serufo e Alitta
Guimarães Costa Reis) e do Paraná (Sérgio Pitaki). Este compareceu
(em uma visita relâmpago) especialmente para reforçar o convite para
o Congresso da Sobrames Nacional a se realizar em Curitiba de 11 a
13 de outubro. Além das sessões literárias tradicionais, esse Congresso
promoverá palestras com representantes de todas as regionais. Temas
interessantes, uma oportunidade imperdível de confraternização e
de troca de experiências. www.sobramescongresso2012.com.br.
Feira Nacional do Livro
Um sucesso a décima segunda edição da Feira Nacional do
Livro de Ribeirão Preto realizada de 24 de maio a 3 de junho, com
lançamento de livros, debates, conferências, salão de ideias, teatro e
apresentações musicais. O sobramista Nelson Jacintho, que comanda
o Movimento dos Escritores junto à Feira, teve destaque no Café
Filosófico. Essa edição escolheu como patrono, Brasil Salomão, e
homenageou, entre outros, Graciliano Ramos e Paulo Freire.
Mil poemas para Gonçalves Dias
A exemplo da homenagem que o Chile fez para Pablo Neruda, o Brasil abraçou a ideia dessa inusitada Antologia
que pretende reunir textos dedicados a Gonçalves Dias, como se fossem cartas a ele dirigidas, poemas inspirados
em suas temáticas ou mesmo pesquisa histórica sobre sua vida. A aceitação dos trabalhos dar-se-á na ordem de
recebimento até se completarem os 1.000 (mil) textos. À frente da organização dessa Antologia encontra-se a confreira
da Sobrames do Maranhão Dilercy Aragão Adler (dilercy@hotmail.com).
Concurso literário Abrames 2012 – 25 anos
Até o dia 30 de agosto de 2012 estarão abertas as inscrições para o Concurso Literário da ABRAMES (Academia
Brasileira de Médicos Escritores) para textos inéditos nas Categorias aldravia, conto, crônica, poesia, trova e
ensaio, podendo participar não só acadêmicos como o público em geral. Os prêmios serão conferidos durante as
comemorações dos 25 anos de existência da ABRAMES a se realizar em novembro no Rio de Janeiro. O regulamento
pode ser obtido no site: www.abrames.com.br
A Sobrames de São Paulo gostaria de se ver com maior representatividade em todos esses eventos. Possuímos
talento e estamos aprimorando cada vez mais os nossos textos. Só falta tirá-los da gaveta, inscrevê-los e permitir que
eles sigam mundo afora.
4. 4 O BANDEIRANTE - Junho de 2012
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Outras notícias
- Carlos Roberto Ferriani assumiu a presidência do Rotary Clube de Ribeirão Preto.
- Alcione de Alcântara Gonçalves recebeu indicação da ABEPL (Academia Brasileira
de Estudos e Pesquisas Literárias) para a Medalha do Mérito Acadêmico 2012.
Parabéns aos talentosos e ilustres confrades!
Perfil 2012 Sobrames-SP
Maria de Fátima Barros Calife Batista
Atuação: Médica Psiquiatra e Psicanalista.
Cidade de nascimento: Recife.
Comida preferida: Frutos do Mar.
Esporte: Caminhada e Hidroginástica.
Livro de cabeceira atual: História da Filosofia
Filme: A Partida (Yojiro Takita)
Fim de semana: Praia, descanso e refeição num bom restaurante.
Viagem inesquecível: Barcelona, Paris e Lisboa.
Sonho: Harmonia e Paz entre os humanos.
Intolerância: Violência e injustiça.
Características pessoais: Descontração, bom humor e responsabilidade.
Projeto futuro: Viajar a lugares bonitos e viver em harmonia com a natureza.
Filosofia de vida: Viver o momento com intensidade.
Complemento: Valorizar amizades sinceras ajuda a ser feliz!
5. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Junho de 2012 5
A era das sacolinhas
Maria do Céu Coutinho Louzã
Logo cedo vou até o sapateiro buscar os
sapatos que deixei para conserto. Ele solícito
mostra o serviço feito. Após ter pago, eu rece-
bo os meus sapatos dentro de uma sacola de
cor muito diferente da que eu havia trazido
dias atrás. Espantada vejo que é uma sacola
de uma loja da cidade de São Francisco, dos
Estados Unidos. Que coisa engraçada! Como
tais sacolas, agora duradouras, passeiam pelo
mundo. Os tempos mudam e com eles muitos
hábitos também.
No momento atual, uma polêmica e uma
decisão dos donos de supermercados ou do
governo está transformando a vida das donas de
casa num verdadeiro reboliço. Uma mudança
terrível deixou atônitos os frequentadores de
supermercados. As sacolas de plástico estavam
com o fim decretado!
Há poucos meses foi resolvido, não sei se,
só pelo governo, pelas entidades defensoras
da natureza ou pelos donos de supermercados:
não mais serão oferecidas as sacolas plásticas,
embalagens usadas há muitos anos!
Poluem muito o meio ambiente e não era
mais possível serem distribuídas. Uma quantidade exagerada desse material para uso dos clientes dos supermercados
estava criando problemas para o planeta terra. Era o que eles alegavam, mas a polêmica não está terminada. Havia
algo por trás do que não sabemos muito bem: gastos exagerados com essas embalagens? Dificuldades em destruir o
material de que são feitas?
Usadas para embalar verduras, frutas, carnes, enfim todas as compras de supermercado, facilitavam e muito a vida
da dona de casa, que depois as utilizavam para vários fins domésticos. De todos os lados houve reclamações. Como
deveriam os frequentadores de supermercados embalar e carregar as suas compras? Ao mesmo tempo, a indústria e o
comércio muito criativos fizeram surgir embalagens, ditas recicláveis, não poluidoras e que deveriam ser compradas!
Isso mesmo adquiridas dos supermercados! Estes imediatamente colocaram à venda sacolas de diferentes materiais,
coloridas e atrativas. Ou os clientes poderiam usar, durante algum tempo, as caixas de papelão, sobras de embalagens
de mercadorias recebidas pelos ditos supermercados. Estaria sendo um modo de os supermercados se desfazerem
delas? Ou então... cada um que resolvesse como deveria carregar as suas compras. Mas sacolinhas plásticas nunca
mais! Protestos de todos os lados. Dúvidas pairando pelo ar... Mas ficou assim agendada a data para não mais serem
distribuídas as célebres embalagens plásticas, alvo de tanta polêmica. O que aconteceu foi que as pessoas foram
obrigadas a munir-se de carrinhos, cestas, sacolas recicláveis – as mais variadas, oferecidas e vendidas nos mesmos
supermercados – ou então buscarem outras formas de carregarem as suas compras.
Recentemente, li que em alguns municípios, por uma lei, o prefeito obrigou esses estabelecimentos a darem emba-
lagens para as mercadorias compradas. Fosse de que material fosse, as compras deveriam ser embaladas! Mas em São
Paulo a população, ainda que protestando, teve que recorrer à solução apresentada: comprar embalagens vendidas
nos mesmos supermercados ou utilizar outras adquiridas no comércio. Este deve achar muito interessante tal medida,
pois assim surgiu nova maneira de se aumentarem as vendas.
Acho que em breve teremos que sair das lojas, carregando nas mãos um par de sapatos que acabamos de adquirir ou
ainda com uma dúzia de copos de vidro na sacola que nos lembramos de levar, pois não serão dadas mais embalagens
de tipo algum! Mas se nos lembrarmos que em Paris vemos as pessoas carregando o pão que acabaram de comprar –
uma baguete de uns 30 centímetros ou mais – debaixo do braço, sem nenhum invólucro, nada mais nos espantará...
Mas mesmo assim, quando vejo alguém com uma sacolinha de plástico, branca ou colorida, escrita com os nomes das
lojas ou supermercados de sua origem começo a relembrar como eram antigamente embaladas as nossas compras.
Eu era criança. Morava no bairro do Paraíso e havia o empório ou melhor a vendinha do seu Manuel – português,
é lógico – na esquina de nossa casa. Às vezes minha mãe me mandava comprar algo como um quilo de arroz ou de
açúcar. Tudo o que se pesava era vendido a granel. O Sr. Manuel apanhava uma folha de papel de cor acinzentada,
talvez o dobro de uma folha de sulfite de hoje, punha na balança, pesava a compra e sobre o balcão, dobrava o papel,
6. 6 O BANDEIRANTE - Junho de 2012
SUPLEMENTO LITERÁRIO
com muita prática: enrolava as duas beiradas do papel juntas, compondo um rolinho que fechava o embrulho. Em
cima era dada uma dobra mais marcada para proteger o que estava lá dentro. E eu ainda criança, com os olhos na
altura do balcão acompanhava o seu trabalho de artista! Ai da gente se não chegasse depressa em casa, pois muitas
vezes o pacote se desmanchava e lá se iam o arroz, ou o feijão ou as batatas pelo chão. Era um desastre não levar a
sacola de lona ou de crochê que a nossa mãe, toda vez, recomendava para que não nos esquecêssemos.
Ainda me lembro de quantas vezes comprei 100 gramas de balinhas, nesse mesmo empório, que eram embaladas
dessa maneira. Saquinhos de papel ou celofane só em bomboniére.
Nas padarias, os pãezinhos eram colocados no meio da folha de papel que depois, dobrada, duas pontas do papel
eram torcidas juntas, de cada lado, formando umas orelhinhas bem simpáticas.
Os ovos... ora, os ovos eram colocados em saquinho de papel, intercalados com palha de arroz para não se que-
brarem. Proteção que nem sempre funcionava e corria-se o risco de chegar a casa com algum quebrado.
Na quitanda os legumes e verduras (às vezes um pouco úmidas) vinham enrolados em jornal, o que fazia chegarmos
muitas vezes com o pacote todo molhado, já meio desmanchado!
Ir à cidade fazer pagamentos ou compras era um passeio formidável. Depois da mercadoria paga, íamos ao bal-
cão dos pacotes e o empacotador embrulhava a compra. Usava papel de embrulho rosa, amarelo ou mesmo pardo.
Amarrava com barbante e, para cortá-lo, enrolava várias voltas no dedo e com um puxão o arrebentava. E muitas
vezes ainda, com as pontas do cordel, fazia uma alça para a gente carregar. Tudo o que se comprava era embrulhado
com papel e amarrado com barbante mais fino ou às vezes mais grosseiro.
Tempos mais tarde surgiu então a fita adesiva, transparente, que como muitos outros produtos popularizou-se com
o nome do seu fabricante: Durex. Era uma grande invenção; dispensava-se o barbante e com facilidade um pacote
era feito, bem fechado e com as dobras do papel bem assentadas. Já era um progresso.
Pacotes bem embrulhados para presente, com fitas, etiquetas, só nas lojas mais finas, sempre no centro da cidade
e que geralmente eram entregues em casa. Como iríamos transportar aqueles pacotes no bonde ou ônibus!
A era do nylon, do plástico, do pós-guerra por volta de meados do século XX trouxe muitas novidades. Foi o come-
ço da americanização da nossa vida. Surgiram os supermercados e com eles mais tarde os sacos de plásticos, sacolas
para carregar os mantimentos, frutas etc. Era uma alegria para as donas de casa, que passaram a usar a criatividade
no aproveitamento das sacolas. Ainda não se pensava nos problemas da poluição ambiental.
Aos poucos foram substituindo o papel. Surgiu a preocupação de que o fabrico do papel causava devastação nas
florestas. Mas hoje sabemos que grandes firmas plantam matas de eucaliptos, até em sítios ou fazendas, que frequen-
temente são arrendados para essa finalidade. Mas enquanto isso nas lojas e nos supermercados – estes no lugar dos
pequenos empórios de bairro – foram aparecendo as sacolas plásticas coloridas, impressas com nome e endereço das
firmas, notícias de crianças desaparecidas, recomendações de saúde ou mesmo propagandas de produtos.
Hoje, ao receber uma sacolinha internacional, de plástico, penso como a vida mudou. Volta-me à lembrança que
no passado nossas mães e avós, quando iam à feira, carregavam as compras em sacolas de lona. E se iam ao empório,
quitanda ou açougue levavam sempre sacolinhas feitas de crochê ou de tecido, coloridas, bem criativas. Mas mesmo
assim eram felizes e não reclamavam.
“O milagre da vida”
Alcione Alcântara Gonçalves
O mundo surge do nada, Assim, a vida continua neste planeta,
E não se entende esse segredo. Tido como de provas e expiações,
As estrelas do nosso Universo, Palco de grandes e importantes encenações,
Nascem, crescem e morrem, Da grande peça teatral, chamada VIDA!
E não se sabe esse segredo. Escrita pelo Senhor do Universo, a nós endereçada.
A existência dos seres humanos, Vida e segredo, um binômio a ser compreendido;
É um fato que não admite controvérsia, O segredo da eternidade, grande busca da humanidade;
Mas, a sua gênese, é um segredo, O segredo da vida, ainda não nos foi revelado,
Que a ciência ainda tropeça, O ser e existir, já são para nós o grande milagre,
Na busca da explicação que nos interessa. Milagre da contemplação do outro, da natureza e de DEUS!
Tudo na vida é um grande mistério,
Que ao ser compreendido, deixa de ser
Um grande segredo visto e aceito sem medo
Pelo homem, que não sabe de onde veio,
Mas, desvenda os segredos que encontra pelo meio.
7. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Junho de 2012 7
Concerto
Ligia Terezinha Pezzuto
Mil manhas
nas manhãs
mágicas.
Matreiros sonhos
engrandecem o amanhã.
Minha morosa melodia
embala o ninho.
Musical momento.
Maestro.
Mão.
Diálogos virtuais
Hélio José Déstro
As essências dos gênios mundiais nos dedos de um maníaco virtual que ficam 20 ou mais horas em frente ao com-
putador fazem com que novidades para o bem ou para o mal sejam criadas. Qualquer que seja o ramo da humanidade,
pode transformar verdades em meias verdades e inverdades. Tal ação é lançada em twiters que devido à facilidade
de outros receptores aquilo se propaga em alta velocidade. É atração porque atinge o visual com sua facilidade de
penetração no gênero humano, transformando seus pensamentos em ramos alternados.
O CELULAR com tão pouco de tempo de ser lançado no mercado hoje se faz presente em tudo, por tudo e sobre
tudo. Captando músicas em comunicação e fotografias que servem tanto para desvendar como para ocultar infor-
mes.
O COMPUTADOR e o celular transformaram-se em armas poderosas para o bem e o mal em mãos de pessoas
principalmente os rackers que penetram em intimidades e em fontes financeiras, transferindo para si propriedades.
Como são novidades ainda não há leis para intimidar, nem modo eficiente para brecar e com isto está havendo a mu-
dança de pertences e os malandros agem impunemente. Jogos, imagens, sons, literatura com poucos toques digitais
e quem conhece usufrui de criações ao seu bel-prazer. Músicas já não conseguem ter a venda de tantos CDs porque o
meio de pirataria nem bem o produto é lançado já está duplicado, triplicado, multiplicado e entra no mercado porque
sem impostos, ideias e criação. O criador é mero instrumento para os malandros de plantão.
A geração antiga que foi criada com métodos arcaicos não tem a facilidade que as crianças de hoje têm de usar
o computador que inunda os países, os estados e o mundo em frações de tempo pequeno. Países e suas leis arcaicas
não estão preparados para esta inundação de novidades da parte do mal e ficam tateando; assim, a malandragem
impera.
O CELULAR em mãos criminosas dos prisioneiros de penitenciárias que os usam para contos do vigário fazem
com que pessoas pretendendo ganhos imerecidos depositem valores aos malandros. Contos de variedades e tipos que
a pessoa ganhou tal valor e que tenha que depositar um x, em tal conta; assim, perde pensando em ganhar.
Nossos netos já não fazem o que fazíamos e vivem seu tempo de infância em frente aos computadores e com seus
celulares não se dedicam em aprender e sim em usar. Faz-se de tiranos desejando tudo o que a mídia impõe com suas
propagandas enganosas. Um simples buscar num dedo de uma criança faz de estudos prolongados de geração anterior
virem à tela pra resolver perguntas que eram procuradas em livros, livros e dicionários. De pesquisar e de estudos.
Também um enorme perigo é a facilidade de encontrar drogas, que está acabando com gerações e gerações, de-
pendentes que estragam famílias.
Jamais o corpo humano esteve tão fácil de ser estudado assim como problemas de alma. Os de meia e máxima
idade estão inferiorizados em relação às novas gerações. O que parece ser bom pra eles é um mal para nós.
8. 8 O BANDEIRANTE - Junho de 2012
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Quem é? Quem é?
(Resposta na edição de julho)
Mulher culta e inteligente,
Simples como as coisas belas,
Escreve versos inspirados
No cotidiano da vida dela.
Amorosa e muito simpática,
Grande poeta... Não há quem conteste!
É uma sobramista dedicada,
A querida amiga chamada _ _ _ _ _ _ _ _!
Lembretes e notas de rodapé
Nossas Pizzas Literárias: terceiras 5as feiras do mês, Rua Oscar Freire, 1.597, piso superior da Pizzaria Bonde
Paulista, a partir das 19h30.
Nosso blog: http://sobramespaulista.blogspot.com
Nosso e-mail: escritoressobramespaulista@gmail.com
Endereços eletrônicos da diretoria: josyannerita@gmail.com (presidente).
marciaetelli@ig.com.br (secretária).
jafmvieira@hotmail.com (tesoureiro).
Eventos da Sociedade no calendário 2012
• Próxima Pizza Literária: dia 19 de julho.
• Eleições SOBRAMES-SP Biênio 2013-2014: setembro
• Congresso SOBRAMES em Curitiba-PR: outubro Errata
• Coletânea SOBRAMES-SP (Décima Segunda Fornada): novembro
Em O Bandeirante de maio/2012 (no
• Posse da nova diretoria SOBRAMES-SP: dezembro 234), na página 1, considerar o título
Paraíso Cibernético. E na página 2 do
mesmo informativo, desconsiderar o
título Sobrames Paulista nos 40 Anos de
Fundação da Sobrames Pernambuco.
Dr. Carlos Augusto Galvão
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