Este documento discute a integração do psicólogo no serviço de apoio domiciliário, destacando a importância da abordagem interdisciplinar e do papel do psicólogo na avaliação psicológica do idoso, intervenção no domicílio e apoio ao cuidador.
psicoterapia breve psicodinâmica no idoso - Rui Grilo peritia 2012
Integração do psicologo no serviço de apoio domiciliário (intervenção com o idoso) - Rui Grilo artigo 2012
1. Integração do Psicólogo
no serviço de Apoio
Domiciliário
(intervenção com o idoso)
Rui Grilo
Psicólogo Clínico
Índice
I – Introdução
II – Envelhecimento psicológico
III – Apoio domiciliário
IV – Interdisciplinaridade e a
importância da Psicologia
V – Avaliação psicológica do idoso e fases
VI – Aspectos relevantes da intervenção
do psicólogo no domicílio
VII – Aspectos sobre o ser Cuidador
VIII – Patologias mais frequentes e
abordagem psicológica
IX – Características do psicólogo
“Tudo nele e
dele era velho, menos os olhos, que eram
X – Estratégias para lidar com a morte da cor do mar, alegres e não vencidos…”
XI – Propostas
XII – Considerações finais Hernest Hemingway
XIII – Referencias bibliográficas O Velho e o Mar
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2. I – Introdução II – Envelhecimento psicológico
A temática da terceira idade reveste-se O envelhecer, “…é uma fase da
de extrema importância, já que na existência dominada por grandes
actualidade existe uma elevada transformações nos planos físico,
percentagem de pessoas idosas em psíquico e social, de origem interna ou
Portugal, e como tal, a elaboração de externa; naturais e esperadas umas,
estratégias e a prevenção da súbitas e imprevistas outras. Tais
institucionalização é o objectivo essencial transformações reflectem-se tanto no
dos técnicos ligados à área do Serviço de comportamento como na experiência
Apoio Domiciliário. subjectiva da pessoa que envelhece,
concorrendo muitas vezes para o
Com o presente trabalho aparecimento de certas formas de
pretende-se discutir alguns aspectos doença psíquica. A fronteira entre o
relacionados com a integração do normal e o anormal é aqui especialmente
psicólogo no S.A.D., percebendo quais as difícil de delimitar.” (Barreto, J., 1988).
limitações e possibilidades da sua
intervenção no domicilio. Perante a ideia anterior, a
incerteza sobre os processos psicológicos
Pretende-se demonstrar a na terceira idade, é algo que ainda
importância do trabalho interdisciplinar, poderá ser bastante explorado e que de
de forma a realçar o papel da psicologia certa forma, o psicólogo poderá assumir
no trabalho com a população idosa. um papel importante.
As características do psicólogo O envelhecimento é um
neste âmbito, são algo de muito fenómeno que pode ser apreendido a
importante a considerar, já que se trata diversos níveis, quer biológico em que
de uma forma de intervenção muito existe um aumento das doenças e das
peculiar, com um grau bastante elevado modificações do aspecto, quer social em
de exigência e flexibilidade por parte do que ocorre uma mudança de estatuto
técnico. provocada pela passagem à reforma, e ao
nível psicológico em que existem
Será meu objectivo também,
modificações das actividades intelectuais
referir quais as patologias mais
e das motivações dos idosos. Daí poderão
frequentes e qual a abordagem
resultar dificuldades de adaptação a
terapêutica a utilizar, nunca descurando
novos papeis; dificuldade em planear o
uma observação global do
futuro, baixa auto – estima e
funcionamento do idoso e da sua história
desvalorização pessoal.
de vida.
Conhecendo algumas noções
Finalmente, gostaria de
sobre a psicologia do idoso, permitirá ao
evidenciar a importância do cuidador na
psicólogo, compreender as necessidades
vida das pessoas idosas, e de que forma,
afectivas da pessoa idosa, criar relações
o psicólogo poderá contribuir para um
humanas de boa qualidade e explicar
aumento da satisfação e
algum comportamento considerado mais
consequentemente, para a prevenção do
confuso.
aparecimento de perturbações psíquicas.
Uma das características essenciais do
envelhecimento psicológico, diz respeito
à dificuldade de capacidade de
adaptação. Acima de tudo, o idoso deseja
manter um ambiente estável, e qualquer
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3. mudança, pode correr o risco de ser De acordo com a definição
rejeitada e originar alterações anterior, torna-se clara a importância do
emocionais. Esta capacidade de Serviço de Apoio Domiciliário, não só ás
adaptação está muito relacionada com os pessoas idosas que acabam por ser a
factores de personalidade construídos população privilegiada neste apoio, bem
pela pessoa ao longo da sua vida. como, pessoas que por algum motivo,
estão incapacitadas de organizar e
Existe igualmente uma diminuição da satisfazer as suas necessidades do dia a
eficiência intelectual, notando-se dia. Assim, os objectivos gerais do
dificuldades na resolução de problemas Serviço de Apoio Domiciliário são:
novos e alterações na aprendizagem,
imaginação e intuição. As funções a) Contribuir para a
intelectuais estão também atingidas melhoria da qualidade de vida
relativamente à visão e audição, levando dos indivíduos e famílias;
ao isolamento e a sentimentos de b) Contribuir para retardar
fragilidade psíquica. ou evitar a institucionalização;
Os objectivos específicos do Serviço de
O envelhecimento da memória é também Apoio Domiciliário são, nomeadamente:
muito frequente nos gerontos, já que
deixa de ser exigida pelo próprio. A a) Assegurar aos indivíduos
dificuldade não consiste na aquisição de e famílias satisfação de
nova informação, mas sim, na necessidades básicas;
recuperação da mesma. b) Prestar cuidados de
ordem física e apoio psico-social
A psicologia deverá então intervir sobre aos indivíduos e famílias, de
todos estes factores, reforçando sempre modo a contribuir para o seu
que possível, os aspectos positivos do equilíbrio e bem-estar;
envelhecimento. c) Colaborar na prestação de
cuidados de saúde.
III – Apoio domiciliário
O Serviço de Apoio Domiciliário deve
ainda proporcionar os seguintes
serviços:
“O serviço de apoio domiciliário (S.A.D) é
uma resposta social que consiste na a) Prestação de cuidados de
prestação de cuidados individualizados e higiene e conforto
personalizados no domicilio, a indivíduos b) Arrumação e pequenas
e famílias quando, por motivo de doença, limpezas no domicilio
deficiência ou outro impedimento, não c) Confecção, transporte
possam assegurar temporária ou e/ou distribuição de refeições
permanentemente, a satisfação das suas d) Tratamento de roupas
necessidades básicas e/ou actividades da
vida diária.”
IV – Interdisciplinaridade e a
importância da psicologia
Núcleo de documentação técnica e
divulgação
A psicologia integrada no Serviço de
(Bonfim, C; Veiga, S; 1998) Apoio Domiciliário (S.A.D.), pretende
como objectivo geral, intervir
maioritariamente com a população idosa
em situações de risco e de perda,
prevenindo-as ou trabalhando-as quando
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4. são um facto e já estão instaladas. Assim, tomada de decisões quanto ao
para se intervir de uma forma eficaz com direcionamento dos tratamentos. Isso
o idoso, o psicólogo não deverá centrar- não significa que a responsabilidade de
se apenas na patologia e nos aspectos cada profissional diminua em relação ao
relativos à personalidade, mas sim, ter paciente, mas sim que várias pessoas,
uma visão global e abrangente da pessoa pensando sobre os casos a partir de
e das redes de suporte social e familiar, pontos de vista diferentes, têm maiores
de forma a poder salientar e trabalhar os hipóteses de levar em conta as
aspectos positivos. implicações existentes antes de
decidirem condutas.” (Laham, C; 2000).
No fundo, será importante o psicólogo
averiguar as situações, no sentido de Penso que a ideia anterior explícita
adequar uma resposta às necessidades adequadamente o conceito de
do indivíduo, aumentando com isso, a interdisciplinaridade, contudo será
sua autonomia e independência. relevante não descurar as diferenças
óbvias entre as diversas disciplinas
Até então, as áreas respeitantes à enumeradas, já que o que nos interessa
gerontologia, privilegiaram os aspectos principalmente, será reforçar a ideia de
cognitivos, salientando as perdas e os complementaridade estando as tarefas
défices, hoje em dia com a inclusão da na linha umas das outras.
psicologia neste panorama, contemplam-
se aspectos como os: “…problemas sócio Assim, a comunicação entre os diversos
– familiares, as condições de profissionais deverá fluir, e para tal, é
‘ajustamento ’ da pessoa nas suas importante que cada um dos
relações com o meio que a rodeia e o profissionais entenda os objectivos de
debater temas ligados à personalidade, cada uma das áreas, e não apenas da sua.
sexualidade, etc.” (Jerónimo, L; 2000).
Seguindo esta perspectiva, deixamo-nos
de nos centrar nos défices, para
Geralmente, os profissionais de saúde
privilegiar as competências psicossociais.
tendem a perceber o paciente de uma
forma muito objectiva, sempre associada
à sua área de intervenção, contudo, o
Desta forma, a interdisciplinaridade é psicólogo poderá trazer alguma
extremamente importante, já que subjectividade do próprio paciente aos
“…constitui um número (variável) de outros elementos da equipa, aos
profissionais com competências cuidadores e à família. Seria importante,
complementares mas unidos por um que o psicólogo fosse igualmente um
objectivo comum: contribuir para o bem- facilitador na comunicação entre a
estar e melhoria da qualidade de vida dos equipa e os pacientes / familiares.
idosos.” (Jerónimo, L; 2000)
Acima de tudo, o trabalho em equipa
De entre os vários profissionais que favorece os profissionais, na medida que
poderão coexistir no modelo de poderão partilhar informação sobre o
interdisciplinaridade, destaca-se o mesmo utente e arranjar estratégias de
médico, técnico de serviço social, intervenção em conjunto, como também
psicólogo, fisioterapeuta, terapeuta o idoso, que terá ao seu dispôr uma série
ocupacional, nutricionista, enfermeiro, de técnicos habilitados na área da
monitores, pessoal auxiliar, entre outros. gerontologia.
Então, “ … o trabalho em equipa permite
a divisão de responsabilidades na
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5. V – Avaliação psicológica do idoso e enquadramento na realidade familiar e
fases social em que vive.
Após a integração do psicólogo no
Serviço de Apoio domiciliário, terá de
existir por parte do mesmo, um
conhecimento dos casos sinalizados pela
Assim, torna-se relevante, o psicólogo
técnica de serviço social como os que
elaborar:
poderão necessitar de apoio psicológico.
Será então, que o técnico irá fazer uma
avaliação da situação, no sentido de
perceber se existe realmente indicação 1. Anamnese: Através desta metodologia,
para iniciar um tratamento. o psicólogo centra-se numa entrevista ao
idoso, aos familiares e às pessoas com
Contudo, terá que ter em atenção alguns quem vive, sendo que, a recolha desta
aspectos relevantes para que possa história de vida nem sempre se torna
efectuar essa avaliação, e José Ermida, fácil ou credível devido às diminuições
descreve alguns itens que contribuem do idoso.
para a compreensão da importância da
avaliação nos cuidados do idoso: 2. Exame físico: Aqui é extremamente
importante uma colaboração dos
familiares ou pessoas mais próximas, no
1. “ O idoso é um individuo física, sentido de esclarecer o psicólogo das
psíquica e socialmente diminuído e cuja alterações físicas que ocorreram devido
capacidade de recuperar e repor o seu ao envelhecimento, bem como, quais as
equilíbrio é mais lenta e difícil.” doenças orgânicas existentes e que
medicação é utilizada.
2. “ O padrão de doença de um idoso 3. Exame mental: O psicólogo deverá
decorre de um terreno diminuído, de avaliar o estado psíquico e mental do
uma patologia múltipla e frequentemente idoso. Não se trata de um exame mental
pouca expressiva, e tem uma relação com muito profundo, mas sim, do estado
o social.” afectivo e cognitivo. Além de um
conhecimento acerca das alterações
sobre o envelhecimento psicológico,
3. “As soluções para os problemas do deverá igualmente estar atento às
idoso têm quase sempre um carácter mudanças comportamentais e
multidisciplinar e interdisciplinar, e deterioração mental.
envolvem profissionais de sectores
diversos.” 4. Avaliação funcional: Obviamente que
nas deslocações à casa do idoso, o
psicólogo deverá ter em atenção todos os
(Ermida, J; 1994)
aspectos referidos anteriormente, como
também todos os aspectos que
condicionam a autonomia e que retiram
qualidade de vida ao geronto. Assim, é
muito importante que o psicólogo
De certa forma, pretende-se fazer uma percebe quais as tarefas que a pessoa
avaliação que compreenda o estado de idosa consegue executar sozinha ou com
saúde do idoso nos planos físico, mental ajuda, a que José Ermida chama de
e funcional, bem como, um
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6. Actividades de Vida Diária (A.V.D.) e que competências psicossociais. Obviamente
são: que posteriormente será importante
perceber o diagnóstico, até porque nos
- Tomar banho, vestir-se, vai ajudar na complementaridade da
alimentar-se, andar e comunicar nossa intervenção, sendo que as
patologias predominantes, centram-se na
depressão e nas demências. Então, será
Além das anteriores descritas, existem importante o psicólogo ter um
ainda as conhecimento profundo e saber por que
é que estas patologias estão associadas à
pessoa idosa.
Actividades Instrumentais de Vida Diária
(A.I.V.D.) e que são:
Planeamento de intervenção – Aqui é
extremamente pertinente elaborar
objectivos terapêuticos individuais para
- Escrever, ler, telefonar, cada uma das situações, planeando quais
cozinhar, arrumar a casa, fazer as os aspectos em que se devem centrar a
compras, utilizar transportes, intervenção do psicólogo. No fundo,
lidar com dinheiro e tomar pretende-se individualizar o idoso como
medicação pessoa e adequar o melhor tratamento
para ela. Deve-se igualmente estipular a
Luís Jerónimo define algumas fases planificação das visitas domiciliárias,
acerca da intervenção do psicólogo ao sendo que numa primeira fase, é
nível do apoio domiciliário, fases essas importante fazer visitas semanalmente.
que espero poder complementar com Contudo, nem sempre isso é possível,
base na minha prática profissional. passando as visitas a ter um intervalo
quinzenal. Os registos sistemáticos das
visitas domiciliárias, são igualmente
Avaliação / Diagnóstico – Será importantes.
importante procedermos a uma primeira
avaliação da situação com base nos 4
aspectos definidos anteriormente,
contudo, a primeira avaliação nunca será
efectuada pelo psicólogo, já que será (Re) avaliação e (re) definição de
primordialmente a técnica de serviço estratégias do plano de intervenção – No
social que estará à frente da instituição, decorrer do apoio, o técnico vai
que fará uma primeira sinalização e que estabelecendo uma relação com utente e
encaminhará ao psicólogo. De qualquer conseguindo perceber as problemáticas
forma, cabe sempre ao psicólogo avaliar associadas ao sofrimento. Geralmente,
em termos psíquicos o idoso e efectuar o após um espaço de 6 meses, deverá
seu parecer final. È também muito fazer-se uma reavaliação da estrutura
importante, que na primeira vista psiquica do individuo, alterando se
domiciliária, o psicólogo possa ser necessário, os objectivos e as estratégias
acompanhado da técnica responsável deliniadas incialmente. Contudo, penso
pela instituição, no sentido do idoso não que nunca será de mais, o psicólogo ir
percepcionar o profissional como um fazendo constantes avaliações, no
intruso. No que diz respeito ao sentido de ir percebendo os avanços e
diagnóstico, penso que não será num retrocessos.
primeiro instante relevante definir, mas
sim, perceber o estado afectivo,
relacional, familiar e cognitivo do idoso,
bem como, a rede de suporte social e as
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7. Recuperação e reposição do equilíbrio forma mais precisa, bem como, todos os
mental, melhorando a qualidade de vida – aspectos que possam parecer
Esta será a fase mais desejada mas mais insignificantes mas que poderão ter um
complexa de alcançar. Acima de tudo, elevado grau de importância, e que
podemos verificar uma redução na raramente acontecem no meio
sintomatologia depressiva e ansiogénica, institucional.
mas quase sempre, acompanhada de uma
instabilidade emocional acentuada.
Importante, será podermos contribuir
Não poderemos partir do pressuposto
para um aumento da qualidade de vida.
que todos os idosos dependentes e com
doenças crónicas, ou que os seus
familiares, necessitem de apoio
psicológico, já que alguns deles utilizam
Os testes de avaliação psicológica mecanismos de defesa eficazes para
também poderão ser utilizados, mas lidarem com a situação. (Laham, C;
talvez mais ao nivel da definição do 2000). A religião, acaba por
diagnóstico. desempenhar um papel muito
importante na vida destas pessoas, sendo
raras as situações em que o idoso não
demonstre um apego extraordinário pela
Acima de tudo, o psicólogo deverá avaliar
temática da Fé. Ainda assim, existem
como o paciente está a enfrentar a sua
inúmeros casos em que esse mesmo
situação de doença, se em negação ou
apego é evidente, mas não suficiente.
aceitação, e quais os recursos psíquicos
Recordo uma paciente, Sra. I. de 76 anos,
que estão disponíveis no utente.
que adere bastante bem ao tratamento
no que diz respeito à psicologia, contudo,
afirma que é a temática da Fé que a faz
VI – Aspectos relevantes da sobreviver ao sofrimento em que vive
intervenção do psicólogo no domicílio diariamente, e dedica todo o seu tempo a
rezar e a contemplar o divino, sendo o
seu quarto muito similar a um templo.
Obviamente, que nem todas as pessoas
idosas possuem mecanismos de defesa
A casa da pessoa idosa – domicílio – é o que as façam suportar o sofrimento e a
contexto e o local privilegiado para o dor, sendo a psicologia uma óptima
psicólogo intervir, já que fornece várias estratégia para reduzir esses
indicações que poderão levar à sentimentos angustiantes.
compreensão dos sintomas e do
sofrimento do idoso. Assim, ao contrário
do modelo hospitalar que até aqui tem
subsistido, “…o domicílio do paciente Assim, existem algumas situações
tende a tornar-se o foco e a possibilidade importantes a ter em conta, aquando das
de uma intervenção e assistência mais deslocações do psicólogo aos domicílios.
humanizada…” (Leite, E; 2002), onde o
idoso passa a ter uma participação activa
– Empowerment – no seu processo de
O profissional terá de ter algum cuidado,
reabilitação, bem como no planeamento
no sentido de não tentar impor as suas
e na execução dos cuidados. Este
ideias e valores, sobretudo porque
contexto sugere acima de tudo, uma
falamos de uma faixa etária com ideais e
fonte de segurança e uma possibilidade
crenças muito próprias, com a sua forma
de autonomia, de mudança e de auto
de viver em família, com horários de
estima. No domicílio, consegue-se
refeições diferentes e com gostos
perceber a dinâmica familiar de uma
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8. pessoais de arrumação de casa. Em das visitas domiciliárias, vão-se criando
qualquer circunstância, o psicólogo alguns rituais por parte dos idosos, já que
deverá respeitar as ideias do utente, por vezes, a cadeira do psicólogo já está
nunca esquecendo que numa fase inicial, no sítio da última visita, os pertences do
poderá ser considerado como um intruso técnico já tem local onde ficar, etc.
num espaço que não é seu.
Torna-se muito difícil para o
psicólogo controlar todas as variáveis
que circundam o ambiente, já que
Outro aspecto deveras importante, é poderão ocorrer inúmeras interferências
transmitir uma imagem de como o telefone ou a campaínha a tocar,
profissionalismo tanto ao idoso como à a televisão poderá estar ligada no
família, já que a ida do psicólogo ao momento do atendimento, poderão estar
domicílio não constitui uma visita social, presentes no domicílio mais que uma
e se necessário, este deverá colocar pessoa, etc.
limites se perceber que a família
pretende que o relacionamento Nem sempre o técnico pode seguir o que
ultrapasse o campo profissional. Neste estava previsto inicialmente em termos
contexto em específico em que existe um do número de sessões a efectuar, o
nível elevado de intrusão como horário e o tempo de cada sessão. Muitas
anteriormente foi referido, existe uma vezes, acontece que se tem de desmarcar
tendência natural para que o vínculo sessões à última da hora, e isso, terá que
paciente/idoso seja mais conseguido, ser explicado atempadamente.
mas que também necessita de um maior Geralmente os contactos são feitos por
controlo por parte do profissional. via telefone numa fase inicial, por
Obviamente, que não se deverá rejeitar motivos que dizem respeito a questões
um café ou um chá, já que isso poderia de memória dos utentes, mas numa fase
ser considerado como uma falta de posterior, esses contactos deixam de
respeito na nossa cultura, mas deverá em acontecer porque já se criou e
todos os momentos, adequar uma estabeleceu uma relação com o técnico.
postura séria e profissional.
O estabelecimento da relação é um dos
factores mais importantes no trabalho do
psicólogo, contudo, com o decorrer do
Ao contrário do contexto apoio, essa relação pode transformar-se
psicoterapêutico, em que o setting está em dependência por parte do idoso, daí o
claramente definido à priori e em que técnico ter que ter alguma perspicácia
existem uma série de regras, ao nível do em perceber essa situação, e a
apoio domiciliar isso é imprevisível, já capacidade para a anular.
que está repleto de limitações, quer em
termos de lugar, tempo, constância.
Contudo será importante nunca perder o
foco pretendido, que é o apoio O sigilo profissional é também
psicológico daquele paciente. Outro relevante, não sendo raro ser quebrado,
exemplo desta imprevisibilidade, é o já que determinados atendimentos
facto do psicólogo raramente saber em podem acontecer num determinado
que local da casa se vai fazer o espaço do domicílio, e em que poderá
atendimento, já que vai depender da estar presente um familiar ou uma visita
vontade do idoso. Aqui, será a pessoa do paciente.
idosa ou os familiares que darão as
directrizes de como o psicólogo se
deverá comportar na sua casa, onde se No que diz respeito à farmacologia, o
senta, se pode ou não utilizar a casa de psicólogo depara-se nas visitas
banho, entrar no quarto, enfim, na domiciliárias com frequentes solicitações
intimidade da família. Com o decorrer
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9. da pessoa idosa, no sentido de auxílio na VII – Aspectos sobre o ser Cuidador
compreensão da medicação. Então,
independentemente das doenças
orgânicas ou psíquicas, o técnico deverá
Segundo Liliana Sousa et al., o conceito
possuir um conhecimento dos fármacos
de cuidador refere-se a elementos da
mais utilizados pelos idosos, e perante o
rede social do idoso (familiares, amigos,
surgimento de dúvidas, deverá ler em
vizinhos, …) que lhes prestam cuidados
voz alta as indicações terapêuticas do
regulares, mas que não são remunerados.
fármaco, esclarecendo quais os efeitos
Contudo, perante a população idosa que
secundários, e quais os intervalos diários
temos actualmente, existe um maior
que devem decorrer entre a toma do
número de cuidadores, mas que são
mesmo.
familiares e que assumem este papel
Relembro o Sr. A de 86 anos, que durante um longo período de tempo.
insistentemente revela extrema Usualmente, o papel de cuidador é
ansiedade e nervosismo após consulta assumido pelo próprio de uma forma
com a médica de família, em que lhe é inesperada e livre de poder decidir sobre
receitado nova medicação. De certa esse mesmo papel, apesar da progressiva
forma, este idoso não lida bem com perda de autonomia do idoso. No fundo,
situações que alterem o seu dia a dia e a o familiar inicia a prestação de cuidados
sua rotina, assim um conhecimento sem se dar conta, e sem tomar
profundo da farmacologia por parte do consciência do encargo e da dedicação
profissional, ajuda a clarificar e de certa que terá de ter, independentemente dos
forma a evitar que ocorram alterações de anos que a situação se mantenha.
humor que poderão originar situações
Todavia, existem situações em que o
bem mais graves.
cuidador poderá tomar consciência da
possível prestação dos cuidados, caso
ocorram no idoso incapacidades súbitas,
Como podemos perceber pelo que foi viuvez, etc. Perante isso, o familiar
referido anteriormente, a psicologia não parece ter algumas motivações
terá apenas a função de apoiar subjacentes no assumir este papel tão
psicologicamente o idoso, mas também difícil, tais como o dever moral e/ ou
poderá auxiliá-lo nas actividades social em que o cuidador sente que deve
instrumentais da vida diária referidas dar em troca para não se sentir culpado;
anteriormente, bem como nas solidariedade conjugal, filial ou familiar
competências sociais. Possíveis que assenta sobretudo no sentimento de
encaminhamentos para unidades de gratidão para com o cuidado; questões
saúde, também serão aspectos a relacionadas com o cristianismo;
considerar pelo técnico caso sejam sentimentos de amor e piedade;
necessárias, já que ele terá uma relação recompensa material e evitamento de
privilegiada com o utente e poderá institucionalização.
actuar de uma forma mais rápida e
efectiva. De certa forma, a prestação de cuidados é
frequente ser realizada pelo conjuje
feminino, contudo, hoje verifica-se
muitos cuidadores do sexo masculino. Na
maioria dos casos, os filhos também
participam activamente nesta prestação
de cuidados, sendo mais usuais serem do
sexo feminino.
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10. Geralmente, a duração dos cuidados por um papel de valorizar e apreciar o
parte do cuidador tende a ser bastante trabalho que é concretizado pelos
longa, e isso poderá gerar impactos familiares, no sentido de sentirem que
negativos, mesmo apesar dos mesmos são úteis e que estão realmente a
considerarem ser uma função muito desempenhar bem a sua função.
gratificante e uma oportunidade de
enriquecimento pessoal. O psicólogo também deverá
avaliar a forma como o cuidador está a
Alguns desses impactos poderão ser a enfrentar a doença do idoso, e se acima
sobrecarga, que no fundo caracteriza-se de tudo, tem tido cuidado consigo, e os
por um conjunto de problemas físicos, efeitos que o exercício de cuidar tem tido
psicológicos e sócio económicos que na sua vida. Cabe também ao psicólogo a
decorrem da tarefa de cuidar, tarefa de orientar este cuidador para
nomeadamente ao nível das relações possíveis reacções emocionais do
familiares e sociais, a carreira paciente, tornando-os mais conscientes
profissional, intimidade, liberdade e das suas possibilidades e limites.
equilíbrio emocional. Outro aspecto
relevante, é a saúde física e mental, em Com os familiares, o psicólogo
que esta tarefa pode ser física e terá de promover boas relações, através
psicologicamente esgotante. Muito do envolvimento, colaboração e
frequentemente os cuidadores referem- capacitação. De certa forma, o
se ao cansaço físico e sensação de profissional através do envolvimento
deterioração gradual do estado de saúde. terá como função a criação de laços
A depressão e ansiedade são também afectivos, promover a compreensão e o
dois problemas significativos para a respeito mútuo e canais de comunicação.
maioria dos cuidadores, associados a Relativamente à colaboração, deverá
sentimentos de tristeza, desespero, instituir-se uma parceria vincada no
frustração e inquietação. reconhecomento de objectivos e
estratégias comuns. Finalmente, a
Aspectos como a actividade profissional capacitação envolve a partilha de poder e
e o tempo livre são igualmente afectados, responsabilidade, existindo um clima de
já que o familiar acaba por ter muito confiança. (Sousa, L. et al, 2004).
menos tempo para dedicar ás coisas que
gosta de fazer, já no trabalho, poderá
existir um desgaste já que existe um
VIII – Patologias mais frequentes e
acumular de horas e consequentemente
abordagem psicológica
uma diminuíção no rendimento laboral.
As patologias e as sintomatologias
Concerteza que existirão também
disruptivas que se verificam nas pessoas
aspectos positivos a salientar, todavia
idosas, passam maioritariamente por
será aqui importante especificar e
situações com uma componente
centrarmo-nos no que o psicólogo
depressiva e ansiogénica demarcada,
poderá fazer para apoiar os familiares.
bem como, situações associadas a
Estes cuidadores apresentam psicoses de inicio tardio e demências.
necessidades de apoio emocional e
“A depressão major é a forma mais grave
aconselhamento, logo será importante o
de perturbação do humor no idoso.
profissional ser alguém com quem o
Ocorre em cerca de 1% dos indivíduos
cuidador poderá falar acerca das suas
com mais de 65 anos (…) e é a razão de
experiências, dificuldades e
quase 50% das admissões de pessoas
preocupações, no fundo, alguém que as
idosas em hospitais psiquiátricos em
compreenda e com quem possam
geral e está presente em cerca de 30%
desabafar. Aqui o psicólogo também terá
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11. dos idosos com doenças agudas e No que diz respeito à abordagem
crónicas do foro médico.” (Spar, J; Rue, A; psicoterapêutica a utilizar, fará mais
1998). sentido a integracionista, tendo em conta
o funcionamento global e as várias
Normalmente, a depressão não é vertentes relacionadas com o sujeito.
diagnosticada nem tratada, já que é Através desta perspectiva, pretende-se
considerada “normal” no idoso. Por autonomizar o idoso, reforçar a auto
vezes, esta depressão pode ser uma estima e valorização pessoal tendo como
resposta pouco adequada às perdas base a complementaridade de várias
sucessivas do envelhecimento, ou poderá vertentes psicoterapêuticas.
ser o resultado da incapacidade do
indivíduo em fazer os lutos do seu longo Contudo, defendo igualmente a utilização
historial de vida. Muitas vezes, esta da abordagem psicodinâmica, apelando à
depressão está mascarada por sintomas escuta activa do indivíduo. É importante
físicos, e pode assumir a forma de escutarmos e estarmos disponíveis para
comportamentos parasuicidários (não ouvir a história de vida do idoso, aos
comer ou beber). aspectos mais ligados ao inconsciente e a
situações traumáticas não ultrapassadas
Outra das patologias predominantes na anteriormente. Então se “ na memória
terceira idade, são as demências que reconstruímos o equilíbrio e a
“…caracterizam-se pelo desenvolvimento identidade, não se tratará de explicar,
de défices cognitivos múltiplos mas permitir a todos os intervenientes,
(incluindo diminuição de memória) …”, idosos e não só, compreender o que se
(D.S.M. IV, 1994.), sendo a mais passa.” (Jerónimo, L; 1997). Desta forma,
frequente, a doença de Alzheimer. Esta o apelar ás recordações pode ser
demência é irreversível, não existido extremamente terapêutico, e apenas o
regressão dos sintomas, e geralmente a facto do idoso poder falar sobre a sua
evolução dá-se continuamente ao longo vida, ajuda-o a integrar com a ajuda do
do tempo. Existe uma deterioração psicólogo, determinados aspectos na sua
progressiva principalmente da parte vida que forma mal resolvidos.
intelectual e cognitiva. A idade de
instalação é normalmente acima dos 40 Obviamente, que estamos a falar de uma
anos, mais frequentemente acima dos 50 geração idosa com uma série de ideias
anos. Muito resumidamente, podemos preconcebidas no que diz respeito à
falar de 4 fases. Na primeira, psicologia, sendo ainda vista como uma
esquecimento, ocorrem defeitos de ciência muito direccionada para os
memória, ansiedade e depressão. Os “malucos”. O psicólogo depara-se por
doentes sentem as suas falhas e vezes com enormes resistências do idoso
esquecem informação do dia a dia. A na adesão ao tratamento, porque
segunda fase, denominada de confusão, segundo eles, se até então “nunca
existe um agravamento do defeito da tiveram este tipo de apoio e
memória e desorientação espacial e sobreviveram, também não será agora
temporal. Na terceira fase, a demência, os que vão necessitar”.
doentes já têm um comportamento
invulgar, perdendo-se frequentemente, Outra situação que o profissional muitas
não reconhecendo familiares ou amigos. vezes se depara, é com o facto de ser
A depressão vai desaparecendo, e o considerado muito jovem pelo idoso, não
doente vai negando as dificuldades, lhe atribuindo a credibilidade que
perdem autonomia, discurso repetitivo e realmente merece, podendo afirmar que
pobre e por vezes têm alucinações. Por o mesmo não tem a experiência de vida
último, temos a fase de estado vegetativo, necessária para o ajudar. Então, cabe ao
em que o doente fica confinado à cama, psicólogo demonstrar todo o seu
apático e entubado. Finalmente dá-se profissionalismo, e esclarecer ao idoso,
infecção respiratória e morte. que independentemente da idade, está
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12. preparado técnica e relacionalmente escassas ou menos visíveis,
para lidar e intervir com a população principalmente pelos outros técnicos
idosa e com este tipo de situações. integrados na equipa.
No que diz respeito ao número de
sessões, julgo ser indicadas sessões
semanais numa fase inicial. Após uma IX – Características do psicólogo
avaliação e observando-se algumas
melhorias na pessoa idosa, penso que se
poderão alargar as sessões para uma O psicólogo deverá conhecer acima de
situação quinzenal. Seguindo a tudo, as características do
abordagem psicodinâmica, e ao contrário envelhecimento normal: modificações
da abordagem cognitiva – biológicas, psicológicas e sociais. Assim,
comportamental em que existe um será mais fácil o profissional perceber
número mínimo de sessões para a quais as perturbações predominantes da
resolução dos problemas, não poderemos 3ª idade e os efeitos da idade sobre as
especificar quantas sessões decorrerão perturbações do humor e ansiedade. É
ao longo do acompanhamento. Não nos também extremamente importante, que
poderemos esquecer, que estamos a falar entenda quais os problemas sociais e
de uma população idosa com histórias de físicos subjacentes à terceira idade, como
vida bastante longas, e que as o luto, perda de papeis, dor, perturbações
resistências à mudança não se devem do sono, etc.
apenas a factores de personalidade, mas
acima de tudo, a factores respeitantes à Deverá sem dúvida alguma, estar
idade, e em que uma série de faculdades disponível para trabalhar em equipa, já
intelectuais foram sendo diminuídas. que actuando isoladamente sem
Relativamente ao tempo, cada sessão contemplar aspectos como o social e o
poderá demorar entre 60m a 90m, familiar, não terá resultados
consoante o decorrer da mesma. significativos.
Importante será nunca quebrar o
raciocínio do idoso com base no factor No contacto com os idosos, o psicólogo
tempo, à semelhança do que deverá ter a capacidade para transmitir
eventualmente poderá ocorrer no informação, tendo para isso que adoptar
contexto psicoterapêutico tradicional. uma postura empática e ser paciente.
Essa informação deverá ser concretizada
Existe uma enorme probabilidade de com frases curtas e com linguagem
ocorrer o fenómeno de transferência ou adaptada ao idoso, elevando se
contratransferência. Será extremamente necessário, o tom de voz.
importante estar atento a estas questões,
sendo muito frequente o psicólogo ser O técnico deverá aceitar e não
encarado ou tratado como marido/ desencorajar com objectivos
mulher; filho/ filha, neto/ neta do idoso, terapêuticos nem muito limitados, nem
bem como, o psicólogo encarar o idoso muito abrangentes, tendo a capacidade
como pai/ mãe; avó/ avô, podendo de manter o optimismo terapêutico.
originar uma reactivação dos problemas
relacionais. O psicólogo deverá também, estar
disponível para explorar os seus afectos
Como último factor que acho relevante acerca do envelhecimento, e a discutir
mencionar, diz respeito à frustração que com o idoso, as dúvidas quer os mesmos
o terapeuta poderá vir a sentir no têm em relação aos profissionais mais
decorrer das sessões, já que estamos a jovens e à sua sabedoria.
falar de um processo moroso, rodeado de
extrema angustia e dor, em que as Acima de tudo, o psicólogo deverá evitar
melhorias no individuo poderão ser implementar soluções na vida dos idosos
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13. que não correspondam à sua história de como um facilitador no processo de
vida e ao seu grupo etário. morrer, facilitando a expressão dos
afectos, possibilitando a resolução de
conflitos existentes através da
comunicação.
No contexto de apoio domiciliário, o
psicólogo deverá evidenciar alguma Apesar da morte ser considerada pelos
flexibilidade, não só na forma de intervir familiares com um processo normal no
com a população idosa, como também ao idoso, esta origina sempre desiquilibrios
nível da mobilidade. Ao contrário do que e um enorme sofrimento humano, daí ser
descreve Claudia Laham acerca do importante trabalhar a crise e a
psicólogo deslocar-se de carro para a inaptidão que evidenciam perante a
casa dos utentes, em Portugal isso ainda realidade que lhes é imposta. (Leite, E.
não acontece devido à escassez de 2002)
recursos e pelo facto deste serviço ser
muito recente, logo, o psicólogo não tem
disponíveis meios de transporte que o
ajudem a deslocar-se para a casa dos XI – Propostas
utentes de uma forma mais rápida.
Devido a esse factor, poderá existir o
inconveniente de possíveis atrasos e De seguida, gostaria de referir algumas
desgaste físico psicólogo. propostas que venham no sentido de
uma consequente melhoraria na
Por fim, é relevante que o psicólogo
comunicação e nas relações interpessoais
consiga conviver com situações
entre familiares – cuidadores/ técnicos, e
dolorosas, como o sofrimento intenso e
técnicos/ técnicos
diário, e todos os aspectos que envolvem
a morte.
X – Estratégias para lidar com a morte Grupos de Apoio aos Familiares
(cuidadores)
Intervir com doentes crónicos
que já não respondem ao apoio, e com Como falámos anteriormente, os
um elevado grau de detioração fisica e familiares, quando existem, são as
mental, significa o vivenciar de um pessoas com um contacto mais próximo
processo de luto por parte dos do idoso, e como tal, estão sujeitos a uma
cuidadores e da própria pessoa. enorme pressão ao nível emocional e
De certa forma, vivencia-se uma situação afectivo.
emocional intensa e desgastante, e o
psicólogo terá que de adequar a melhor Várias são as dúvidas que os avassalam,
conduta a seguir junto da família e do no que diz respeito aos sentimentos
paciente. provocados pela situação que estão a
Numa primeira instância, deverá vivenciar, e na minha perspectiva, penso
rever e esclarecer se todas as ser benéfico a criação de grupos de apoio
alternativas terapêuticas foram aos familiares de forma a poderem
esgotadas. partilhar as suas experiências, os seus
sucessos e fracassos. É importante que os
Posteriormente, os medos e as familiares sintam que têm disponível um
incertezas do paciente e dos familiares espaço e um técnico que os compreenda
deverão ser escutados atentamente, e os e que lhes possa oferecer um apoio
seus desejos devem sempre ser diferente.
respeitados. No fundo, o psicólogo actua
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14. Reuniões de Equipa Formação dirigida ás auxiliares de acção
directa
Julgo ser extremamente Formações e sessões de
importante a partilha de informação e esclarecimento nas mais diversas áreas,
uma comunicação persistente entre os são também muito importantes, já que
diversos técnicos que compõem a equipa poderão esclarecer algumas dúvidas que
interdisciplinar. A eficiência no as profissionais tenham na relação entre
tratamento do paciente nos mais si e com os idosos. A psicofarmacologia e
variados níveis, depende da comunicação os efeitos dos mesmos, a gestão de
que os técnicos têm, bem como, um conflitos, a assertividade e questões
conhecimento profundo sobre o idoso. ligadas com a morte, são exemplos de
Estas reuniões deveriam ser quinzenais, possíveis temáticas a debater.
contudo, perante situações mais graves,
essas reuniões poderão ser com mais
frequência.
XII – Considerações finais
Acima de tudo, e não querendo
minimizar a importância das outras
áreas, teremos de adequar a nossa
A psicologia é uma ciência
intervenção à realidade actual. Nas
relativamente recente ao nível do apoio
instituições não temos ainda acesso a
domiciliário, contudo, penso estar-se a
este tipo de equipas, então será
caminhar a passos largos para uma
importante que o psicólogo e a técnica de
efectividade da sua integração neste
serviço social, que é quem está
contexto tão específico. A população
geralmente na linha da frente do apoio
idosa é sem dúvida uma aposta a
domiciliário, possam partilhar da
considerar por parte dos psicólogos, já
informação sobre o mesmo utente.
que poderão desempenhar e ter uma
função extremamente útil, contribuindo
claramente para proporcionar aos idosos
uma melhor satisfação e qualidade de
vida, minimizando o isolamento social.
Reuniões com as auxiliares de acção
directa O psicólogo integrado nas
equipas interdisciplinares do apoio
domiciliário, deverá ser encarado como
Estas reuniões são extremamente um técnico especializado na
importantes, já que permitem às compreensão da história de vida dos
auxiliares de acção directa, que estão idosos, na intervenção perante situações
sujeitas a um desgaste intenso, poderem de crise e perda, nas relações
partilhar das suas angustias e as suas interpessoais, e acima de tudo, como um
duvidas no que diz respeito à relação que “colaborador” disposto a reduzir
estabelecem com os idosos que cuidam. situações demarcadas por uma
Além disso, a temática da morte é sempre componente ansiogénica e depressiva.
algo de difícil verbalização por parte das
mesmas, já que criam laços afectivos Tal como foi descrito ao longo do
muito fortes com os utentes. trabalho, a intervenção do psicólogo ao
nível do domicílio terá concerteza
O psicólogo, podere ter aqui uma desvantagens, contudo, penso que as
função de suporte emocional, e mais vantagens as superam em larga medida
importante ainda, estar disponivel para já que, se “a montanha não vai a Maomé,
escutar. vai Maomé à montanha”, ou seja, se o
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15. utente não pode ir até ao serviço, irá o Laham, C., F., (2000). As Peculiaridades
serviço até ao utente. do Atendimento Psicológico em
Acima de tudo, o psicólogo deverá fazer Domicílio e o Trabalho em Equipe,
ver aos demais (técnicos e utentes) a http://www.cepsic.org.br/revista/Artigo
importância do seu trabalho, tendo como s
resistências, não só uma população
geriátrica pouco habituada a lidar com Leite, É., P; (2202). Atendimento
esta ciência, como também, a obtenção psicológico Domiciliar:
de resultados ao nível de melhorias Interdisciplinaridade e Cuidados
visíveis nos idosos. Paliativos.
Finalmente, julgo ser Sousa, L; Figueiredo, D; Cerqueira, M;
extremamente importante capacitar o (2004). Envelhecer em Família
idoso de forma a que ele participe
- Os cuidados familiares na velhice, 1ª
activamente no seu processo de
edição, Porto, Âmbar.
reabilitação, e tal como na frase descrita
anteriormente por Hernest Hemingway, Spar, J; Rue, A. (1998). Guia de
a pessoa idosa não se deve considerar psiquiatria geriátrica, 1ª edição, Lisboa.
vencida pela doença orgânica ou
psíquica. A psicologia poderá ajudar a
reforçar a auto-estima, o auto-conceito, a
valorizar, a compreender, a escutar, estar
disponível, enfim, a relação.
XIII – Referências Bibliográficas
American Psychiatric Association,
(1996). DSM-IV, Manual de Diagnóstico e
Estatística das Perturbações Mentais,
4ªedição, Lisboa, Climepsi Editores.
Barreto, J; (1988). Aspectos psicológicos
do envelhecimento, VI, 2: 159- 170,
Porto.
Bonfim, C.J; Veiga, S; (1998). Serviços de
Apoio Domiciliário – Núcleo de
documentação técnica e divulgação, 2ª
edição, Lisboa.
Ermida, J.G; (1994). Avaliação Geriátrica
Compreensiva, pp. 42-52, Lisboa.
Jerónimo, L; (2000). O Trabalho
interdisciplinar com idosos: Da avaliação
à intervenção. O papel do psicólogo nas
equipas de apoio domiciliário. Estudo de
um caso, 13, 123 (17-25) 00, Lisboa.
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