Análise da relação entre ideologias, discurso, mapas políticos em pequena escala com base no artigo de Rogata Soares Del Gaudio "o mapa do discurso e o discurso do mapa - algumas questões".
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Mapa discurso e o discurso dos mapas: algumas questões.
1. O Mapa do Discurso e o
Discurso dos Mapas: algumas
questões
ROGATA SOARES DEL GAUDIO.
Professora do COLTEC/UFMG, doutora em
Educação - FAE/UFMG, mestre em Ciências Sociais
(ênfase em Ciência Política) - PUC/SP e membro do
NEILS (Núcleo de Estudos sobre Ideologias e Lutas
Sociais – PUC/SP).
Tutora da TABA ELETRÔNICA.
2. MAPAS:
Para Joly (1990) É “uma representação geométrica,
plana, simplificada e convencional do todo ou
parte da superfície terrestre (...). É uma construção
seletiva e representativa e implica o uso de
símbolos e sinais apropriados”;
Linguagem bastante utilizada na geografia escolar;
Um mapa representa uma “síntese” sobre
determinado território em dado momento histórico.
3. Mapas, ideologia, discurso
Para Bakhtin (Marxismo e filosofia da
linguagem, 1992): um produto ideológico faz
parte de uma realidade (natural ou social);
Assim,
Tudo que é ideológico possui significado e
remete a algo situado fora de si mesmo;
Tudo que é ideológico é um símbolo;
O ser, refletido no signo, não apenas nele se
reflete, mas se refrata.
4. Ideologia:
O termo surge no século XIX, atribuído a Destut de
Tracy com a obra Elementos da ideologia. A ideologia
seria, para o grupo de ideólogos franceses, uma nova
ciência de idéias, uma “idéia-logia”, que seria a base
de outras ciências. Esse termo, portanto, tem menos
de 200 anos;
Ao longo do tempo, ideologia foi associada a “falsa
consciência”; construiu-se ainda a oposição entre
“ciência e “ideologia”;
Para MARX: “a vida não é determinada pela
consciência, mas a consciência pela vida” (A
ideologia alemã).
5. Para Bakhtin (1992):
A cada etapa do desenvolvimento
da sociedade, encontram-se grupos
de objetos particulares e limitados
que se tornam objeto de atenção do
corpo social e que por causa disso,
tomam um valor particular.
6. Como se pode determinar esse
grupo de objetos “valorizados”?
De acordo com Bakhtin (1992), primeiro, é
indispensável que ele esteja ligado às
condições sócio-econômicas essenciais do
referido grupo, que concerne, de alguma
maneira, às bases de sua existência
material. Em outras palavras, não pode
entrar no domínio da ideologia, tomar forma
e aí deitar raízes senão aquilo que adquiriu
valor social.
7. QUESTÃO:
Como, ou de que modo os mapas
se constituíram em objetos
valorizados enquanto
representações efetivas e
verdadeiras sobre o real?
8. O poder dos mapas associa-se ao fato
de...
Poucos saberem utilizá-los efetivamente;
Poucos elaborarem-nos;
Serem utilizados apenas determinados
mapas, em determinadas escalas e de
acordo com objetivos previamente
estabelecidos – seja pelo Estado, por
corporações ou técnicos.
9. Nesse caso:
A percepção não é a do mapa (político em
pequena escala) enquanto portador de um
discurso sobre o real, mas dele enquanto O
discurso melhor elaborado sobre o mesmo,
evidenciando seu caráter de convencimento
sobre a realidade, ou mesmo, sua
(in)capacidade em apontar para diferentes
contradições políticas, econômicas e sociais
presentes nessas representações.
Observem os mapas a seguir.
11. Mapa 2: planisfério numa projeção polar
Fonte: adaptado de MAGNOLI & SCALZARETTO. 1996. p.22
12. O que os mapas 1 e 2 revelam?
Os mapas 1 e 2 procuram demonstrar a
organização do mundo em países e regiões;
Considere o período da Guerra Fria: o que eles
dizem sobre a organização do sistema mundo?
Em função da proximidade geográfica e
continental com os EUA, parece “natural” o
alinhamento de todo o continente a esse país e ao
capitalismo.
13. O que os mapas 1 e 2 “escondem”?
A real proximidade entre a América e a Ásia, pois a
separação entre ambos é estabelecida pelo Estreito de
Bering, que possui cerca de 85 km de largura –
considerando que o Alasca é parte integrante do território
estadunidense.
A dimensão política, estratégica e econômica do
alinhamento dos demais países americanos, especialmente
latino-americanos, aos EUA e ao capitalismo.
Em função desse tipo de projeção, parece “natural” que a
América seja capitalista e alinhada aos EUA, até em razão
de sua proximidade geográfica e do distanciamento
(aparente) entre as Américas e a Ásia.
14. Mapa 3: onde está o Havaí?
Fonte: adaptado de CHALIAND & RAGEAU, 1991, p.81
15. Nos mapas 1 e 2, o Havaí mal
representado.
Todavia, quando se observa o mapa 3,
nota-se a posição extremamente estratégica
desse conjunto de ilhas no Pacífico Norte.
Por que o Havaí foi alçado à categoria de
qüinquagésimo estado da federação
estadunidense?
Em grande parte, por sua posição
geoestratégica no Oceano Pacífico.
16. Mapa 4: qual seria esse estado brasileiro?
Fonte: adaptado de LONGHI (DEL GAUDIO). (1997)
17. Mapa 5: o estado brasileiro “revelado”
Fonte: adaptado de LONGHI (DEL GAUDIO). (1997)
18. Os discursos expressos em mapas
O mapa 4, representa Minas Gerais sem a região
do Triângulo Mineiro, que torna-se reconhecido
no mapa 5.
Nos acostumamos tanto com o “nariz” de Minas
Gerais que não reconhecemos esse estado sem
seu “nariz”.
Mas como podem os territórios apresentarem
atributos humanos, sejam do corpo, sejam dos
sentimentos e idéias das sociedades?
19. Mapa 6: a Antropomorfização dos territórios
pelos mapas
Fonte: adaptado de LONGHI (DEL GAUDIO). (1997)
20. Através da Antropomorfização dos
territórios, pois
Os mapas passam a expressar sentimentos, características,
discursos e ideologias de diferentes grupos, uma vez que a
ANTROPOMORFIZAÇÃO DOS TERRITÓRIOS:
Corresponde à estratégia de conferir atributos humanos às
representações, para defender idéias, opor-se a elas,
construir concepções sobre os territórios, as sociedades,
os diferentes espaços. Assim, observa-se a
correspondência entre os atributos físicos, sentimentos,
desejos, expressões e ações humanas aos mapas que
representam territórios. (LONGHI [DEL GAUDIO]
1997).
21. Mapa 7: a antropomorfização dos territórios pelos
mapas
Fonte: adaptado de LONGHI (DEL GAUDIO). (1997)
22. Referências
ANDERSON, B. ação e consciência nacional. Ed. Ática, São Paulo, SP, 1989.
ALTHUSSER, L. Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado. In: ZIZEK, S. Um mapa da
ideologia. Contraponto editora, Rio de Janeiro, RJ, 1996.
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem . Hucitec, São Paulo, SP, 6a edição, 1992.
CHALIAND, G. e RAGEAU, J.P. Atlas Strategique. Paris: editions Complexe, pág.81,
1991.
DEL GAUDIO, R. “O mapa enquanto discurso e o discurso do mapa: algumas questões.” Revista
Ensaio. Vol 5, no. 2, out. 2003, pp. 48-64. Disponível também na Revista Espaço Acadêmico -
publicação on line.
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso - aula inaugural no Collège de France, pronunciada
em 02 de dezembro de 1970. Edições Loyola, São Paulo, SP, 6a edição, 2000.
IBGE. Atlas Geográfico digital. 2004.
JOLY, F. A Cartografia. Papirus Editora, Campinas, SP, 1990.
LACOSTE, Y. A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Papirus Editora,
Campinas, SP, 4a edição, 1997.
LONGHI, R.S.D.G (DEL GAUDIO, R. S.). Unidade e Fragmentação: o movimento separatista do
Triângulo Mineiro. Dissertação de mestrado (1997). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Ciência Política). 1997. 425 pp.
MAGNOLI, D. O corpo da pátria: imaginação geográfica e política externa no Brasil (1808 -
1912). Editora da Universidade Estadual Paulista (Unesp)/Moderna Editora, São Paulo, SP, 1997.
MAGNOLI, D e SCALZARETTO, R. Atlas Geopolítica. Editora Scipione. São Paulo, SP, 1996.
MARTIN, A. R. Fronteiras e nações. Ed. Contexto, São Paulo, SP, 2a edição, 1994.
PÊCHEUX, M. O mecanismo do (des)conhecimento ideológico”. In: ZIZEK, S. Um mapa da
ideologia. Contraponto Editora, Rio De Janeiro, RJ, 1996.
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Ed. Ática, São Paulo, SP, 1993.
23. Projeção cilíndrica
O Geóide, que é o planeta Terra, é representado como se o
planeta fosse envolvido por “um cilindro tangente a partir
do centro da esfera.” (JOLY, 199050). Um exemplo
bastante conhecido corresponde ao planisfério de
Mercator.
“É uma forma de projeção cartográfica (mapa) desenhada
sobre um plano que pode ser comparado a um cilindro
envolvendo o globo terrestre (como se você coloca-se
uma folha de papel envolta do globo, como um cilindro, e
desenhasse sobre ela). E eqüidistante, significa “mesma
distância” ou “igual distância” (eqüi + distante).”
(Disponível em:
http://www.infoescola.com/cartografia/projecao-
cilindrica-equidistante/ Acesso em 02 nov.2010)
24. Projeção polar
“Quando tomamos a superfície a ser projetada
com centro no pólo ou paralela ao plano do
equador dizemos que é uma projeção polar ou
equatorial; se ela está centrada num ponto do
Equador ou é paralela a um plano meridiano, ela
é tranversa ou meridiana; se está centrada num
ponto ou círculo qualquer da esfera, ela é
oblíqua.” (Disponível em:
http://mathematikos.psico.ufrgs.br/disciplinas/ufr
gs/mat010392k2/ens22k2/xyz/projecao.htm
Acesso em 02 nov.2010)
25. Guerra Fria
Disputa econômica e política entre as
superpotências: EUA e URSS – União
Soviética
Disputa ideológica: EUA (capitalista) e
URSS (socialista);
Para as Américas: proximidade com os
EUA e distanciamento com a URSS;