O documento apresenta:
1) Uma reportagem sobre políticos com deficiência física que lutam por espaço e direitos na política e levantam a bandeira da acessibilidade;
2) A história de superação de Taiu Bueno, surfista que se tornou cadeirante após um acidente e se candidatou a vereador para lutar pelos direitos dos deficientes;
3) A importância de estratégias de marketing para candidatos com deficiência, como ir aos locais de campanha e pedir votos pessoalmente.
1. Ano 1 - nº 1 dezembro 2012
Livre Distribuição gratuita
Acess
A beleza está nas diferenças
Informação e Os benefícios
cultura: de se ter um
ferramentas cão-guia
que Pág. 32
colaboram
Pág. 20
Os custos
da deficiência
Pág.26
Maiara Barreto: história que é exemplo de superação
2. SUA DOAÇÃO MUDA A VIDA DE
UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
CONTRIBUA EM ADD.ORG.BR OU PELO 11-5011-6133
ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA PARA DEFICIENTES
3.
4. Editorial Ricardo Borges
rikc_borges@hotmail.com
L
idar com pessoas que não são comuns ao nos- Mas não é preciso levar essa defasagem
so convívio é um verdadeiro desafio. Contudo, muito longe. O método mais fácil de abandonar
diante das novas possibilidades de manifesta- esse fardo é assumir a sua existência e tomar a
ção, os meios de comunicação já começam a falar iniciativa de elucidá-lo com quem o compreende
para uma parcela da sociedade pouco lembrada e melhor, por experiência própria. Os colaboradores
pouco notada, até algum tempo atrás. É fato: as da "Livre Acesso" se propuseram a isso, quando
diferenças existem e precisamos estar prepara- começaram a elaborar reportagens com assuntos
dos, hoje mais do que nunca, para reconhecê-las típicos do cotidiano das pessoas sem deficiência,
e respeitá-las, tanto no social quanto no profissio- imaginando, porém, sua existência entre pessoas
nal. E nada como a informação para auxiliar nesse com deficiência também. Afinal, as diferenças mais
sentido. aparentes não diminuem nem anulam as seme-
Não por acaso, pensando nessas questões, lhanças naturais.
foi idealizado o projeto da revista "Livre Acesso". Alcançar esse objetivo não foi fácil. Inclu-
Como sugere o nome, o objetivo principal é permi- sive, se considerarmos que muita coisa mudou do
tir a acessibilidade livre de uma temática delicada, projeto até sua realização. No entanto, todo o tra-
importante e urgente, a seu modo. E não é só isso! balho se mostrou viável. E a sua realização, por si
O título desse veículo, de edição especial, faz refe- só, representa um sinal de amadurecimento impor-
rência direta ao público-alvo e protagonista de seu tante, além do desejo cada vez mais crescente, de
conteúdo: as pessoas com deficiência física. que a inclusão se torne algo verdadeiro e pleno,
Deficientes? Portadores de deficiência? sem se limitar ou aguardar a mobilização do poder
Surdos-mudos? Cadeirantes? Bastam as dúvidas público.
em saber a forma correta de se referir a eles para Em nome da equipe, agradeço aos colegas
deixar claro o quanto as pessoas comuns são as e mestres conselheiros que colaboraram de algu-
verdadeiras portadoras de uma necessidade espe- ma forma para a existência desse produto e... Boa
cial - a necessidade de conhecer, da forma devida, leitura!
quem tem alguma deficiência.
Expediente lo Fernandes, Priscila Silva, Ricardo Borges
e Vanessa Farias
Editor-chefe: Ricardo Borges Colaboradora nesta edição: Dra. Lilian Fuhr-
Diretor de Arte: Vanessa Farias mann (Terapeuta Ocupacional)
Diretor comercial: Priscila Silva Tiragem: 10000 exemplares
Assistente de edição: Priscila Silva e Ricar- Impressão: Tesouro Laser
do Borges Distribuição gratuita
Revisor: Fabiano Nakashima
Repórteres: Fabiano Nakashima, João Pau-
Livre Acesso 04
5. Sumário 06Acessibilidade na
política
16 Vôlei Paraolímpico
O esporte como fonte de renda e meio de
superação
20 Acesso à cultura
Braille, audiodescrição, Libras e Closed
Caption. Como são utilizadas?
24 Meio Ambiente
Exploração através dos sentidos
10 Capa
Maiara Barreto: História de
superação
26 Quanto custa?
O valor financeiro da deficiência
33 Entenda mais 30 Acessibilidade
Voz do especialista: terapia ocu-
Mundo afora
pacional e tecnologia assistiva
32 Cão-Guia
Liberdade e inclusão social
Livre Acesso 05
6. Política brasileira
Acessibilidade na política
Políticos com deficiência física lutam para conquistar seu es-
paço e seus direitos; iniciantes levantam a bandeira da acessi-
bilidade na busca por novos eleitores
Texto e foto: João Paulo Fernandes
Arte: Vanessa Farias
A
vontade de melhorar a si- no ambiente político? o Estado. Um número que tende a
tuação da população é, em Em 2010, último ano que crescer e traz um novo olhar inclusi-
boa parte, mas nem sempre, houve levantamento de dados, o vo para o parlamento, uma vez que
o grande objetivo dos novatos na Instituto Mara Gabrilli – funda- estes representantes estão conse-
política. Artistas, cantores e joga- do em 1997 por Mara Gabrilli, guindo contemplar para além de suas
dores de futebol são os exemplos deputada federal do PSDB, que dificuldades e ajudar outras pessoas,
mais comuns que tentam conquis- executa projetos que contribuem ultrapassando as barreiras do ir e vir,
tar eleitores e fazer alguma coisa do acesso à saúde, à educação e do
diferente no meio político. próprio mercado de trabalho.
Isso não fica restrito so- As ideias de acessibilidade
mente aos cidadãos “comuns”. são compartilhadas com aqueles que,
Pessoas com deficiência física em 2012, tentaram ingressar no mun-
também fazem e querem fazer par- do da política. Taiu Bueno, que é ca-
te desse mundo. deirante a vinte e um anos e foi candi-
Um dos principais aspec- dato a vereador pelo PRB/PTB de São
tos da democracia representativa Paulo, descobriu que para o deficiente
está associado ao fato de que os físico não há barreiras quando o as-
parlamentos não refletem, tal como sunto é a briga pelos seus direitos.
um espelho, as características ge- “Vivo a questão da acessibi-
rais da sociedade. lidade há muitos anos. Então decidi
Mais da metade do eleito- para melhoria da qualidade de tentar me eleger para um cargo pú-
rado brasileiro é feminino e menos vida às pessoas com deficiên- blico e trabalhar pelas causas que
de 10% dos deputados federais do cia – realizou uma pesquisa para envolvem os deficientes físicos. Outra
país são mulheres. No caso do gê- apurar o número de políticos nos causa pela qual luto é o esporte, que
nero, e de tantos outros aspectos, 645 parlamentos municipais do sempre fez parte da minha vida”, diz.
existem esforços para elevar a pre- Estado de São Paulo. O resulta- Taiu Bueno era surfista pro-
sença das chamadas minorias na do do estudo apontou que deste fissional. Enquanto pegava uma onda
política. Diante desse cenário, fica total, 80 parlamentares possuem no litoral norte de São Paulo sofreu
a pergunta: como funciona a pre- uma deficiência. um grave acidente que o fez perder o
sença da pessoa com deficiência É o equivalente a 1,3% movimento motor do corpo do ombro
dos representantes em todo para baixo (VIDE BOX). Mas o aci-
Livre Acesso 06
7. dente abriu novos horizontes em sua e principalmente ao público jo- nha eleitoral”, avalia o especialista.
mente. vem e nas escolas”. As estratégias de marketing
“Quando eu competia no es- eleitoral são fundamentais na hora
porte, só pensava na minha carreira e Estratégias na candidatura das eleições. Saber quais são as
nas competições, não era sintonizado ações na hora de conquistar o eleitor,
com o mundo político e financeiro. A Preparar um candi- o foco do candidato e uma boa tática
situação em que me encontrei (cadei- dato para concorrer nas elei- de comunicação, são os principais
ra de rodas), me obrigou a redescobrir ções não é tarefa fácil. Ainda requisitos na candidatura.
outras atividades, como é o caso da mais para os que estão con-
política”. correndo pela primeira vez.
Mas resultado da sua primeira De acordo com o especialista Para Carrilho, um staff apropriado
campanha para vereador não foi o es- em marketing eleitoral, Kleber é o essencial. “Cabos eleitorais, co-
perado. O deficiente físico conseguiu Carrilho, nada impede que o mitês, apoio de comunidades e as-
sessorias são os itens
Pesquisa aponta que, no Estado de São Paulo, 80 fundamentais. Não se
parlamentares possuem algum tipo de deficiência. ganha uma eleição sem
isso”, completa.
3.765 votos na última eleição, longe candidato com deficiência físi- O caso de Taiu Bueno não
da marca necessária de 37.000 que ca vá às ruas e peça votos aos foi diferente. Embora não tenha con-
daria direito a uma vaga na câmara eleitores. seguido se eleger a vereador o de-
municipal. “Eles têm totais con- ficiente físico contou com uma boa
Em 2012 um novo contingen- dições de ir aos locais que estrutura na sua candidatura. “Tive o
te de deficientes se destacou nas elei- foram determinados e pedir apoio de vários deputados do partido
ções. As principais responsabilidades seus votos. Acredito que o que me filiei e fui bem recebido por
constitucionais dos municípios em cara a cara é a ferramenta que eles. Disponibilizaram-me espaço
termos de políticas públicas foram: a melhor funciona numa campa- na mídia e contei com ajuda de ami-
educação, sobretudo a infantil; a saú-
de, com ênfase na atenção básica; a Candidato a ve-
preservação do patrimônio histórico e reador em 2012,
cultural; a organização e planejamen- Taiu Bueno acre-
to do território; o transporte coletivo; o dita na luta pela
acessibilidade
trânsito e os serviços ligados ao meio aos deficientes.
ambiente, sobretudo saneamento e
coleta de lixo.
Em relação a todos esses
temas, existem interesses especifica-
mente associados à pessoa com defi-
ciência. Isso foi capaz de estimulá-los
a pedirem votos para suas causas.
Taiu compartilha da mesma
ideia. “Já fui atleta profissional e via-
jei o mundo representando o Brasil.
Após o acidente acabei vivenciando
o ambiente dos deficientes físicos.
Na eleição que participei, as minhas
propostas eram melhorar a acessibili-
dade das pessoas, de um modo geral,
Livre Acesso 07
8. gos meus que são empresários na meira vez valeu a pena. Agora ira se multiplicar. Senti que as pesso-
formação de equipes para divulgar ele sonha com voos mais altos as me respeitam por eu ser deficiente
minha candidatura em locais estra- em 2014, para lutar pelos direi- físico e acredito que se houver outras
tégicos”, comenta. tos da pessoa com deficiência fí- oportunidades como essa irei fazer a
Taiu acredita que a experi- sica. “Até as próximas eleições, diferença”, conclui.
ência no mundo da política pela pri- acredito que o meu eleitorado
História de superação
Octaviano Augusto de Campos Bueno, mais conhecido como Taiu Bueno, é considerado um dos
maiores big riders – surfistas que gostam de pegar ondas grandes – consagrados no Brasil.
Começou a surfar com 11 anos de idade e aos 13, viajou pela primeira vez com o avô ao Hawaii,
onde alimentou ainda mais a sua paixão pelo esporte. Aos 20 anos iniciou a carreira profissional, não parando
mais e conseguindo vários patrocínios.
Conquistou vários campeonatos de surf, como o Brasileiro, em 1984, e a etapa paulista em Ubatuba,
em 1986. Em 1991, já competia pela décima vez no Circuito Mundial, quando um acontecimento inesperado
mudou seus planos.
Faltando um mês para Taiu completar seus 29 anos de idade, ele sofreu um grave acidente enquanto
surfava na praia de Paúba, litoral norte de São Paulo. O surfista fraturou a quarta vértebra cervical e trau-
matizou a medula do sistema nervoso. A consequência foi uma paralisia motora do ombro para baixo. Mas
a vontade de se superar e trabalhar com projetos sociais fez Taiu Bueno lançar um livro em 1999, chamado
“Alma Guerreira”, que conta sua história de vida.
Ele também é presidente e membro fundador do “Surfistas Marchando para Frente” (SMF), um movi-
mento que tem como objetivo, unir dentro e fora d’água os surfistas brasileiros.
Em 2012 a SMF virou ONG com o objetivo de lutar por uma sociedade mais forte. Taiu também minis-
tras palestras sobre motivação para varias empresas e escolas.
Em agosto deste ano lançou sua candidatura para vereador pelo partido PRB/PTB de São Paulo.
9. Fique por dentro
T
ornou-se bem comum o uso de algumas palavras para se referir às pessoas com deficiência. Mas será
que elas estão corretas, só porque a maioria das pessoas utilizam? Uma das primeiras e principais lições
aprendidas durante a realização das reportagens para a revista "Livre Acesso" sobre este assuntos estão
descritas a seguir e, em resumo, simbolizam que...
O respeito começa pelo uso dos termos!
Simples, não? Então, aproveite para ampliar e qualificar o seu vocabulário.
“ESPECIAL”, “EXCEPCIONAL”, “DITO-NORMAL” e “ANORMAL” não devem ser utilizados, pois as de-
ficiências são uma manifestação inserida na diversidade humana. Se todos somos diferentes, como designar os
“especiais”?
A expressão “PESSOA COM NECESSIDADES ESPECIAIS” tem origem em necessidades educacionais
especiais (Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de aprendizagem; dificuldades
de comunicação e sinalização diferenciada dos demais alunos; altas habilidades / superdotação, grande facilidade
de aprendizado). Com o tempo, passou a ser usada incorretamente para designar todas as pessoas com defici-
ência, uma vez que absolutamente todas as pessoas, com e sem deficiência, podem ter “necessidades especiais”
em dado momento.
Algumas pessoas ainda relutam em utilizar o termo “DEFICIÊNCIA” acreditando ser algum tipo de ofensa,
quando é apenas uma característica da pessoa, sendo o correto a ser utilizado, simplesmente: pessoa com defi-
ciência.
A palavra “DEFICIENTE” não deve ser utilizada como substantivo, mas pode ser usada como adjetivo.
Quando usada como substantivo, passa a impressão de que a pessoa inteira é deficiente.
SURDEZ e CEGUEIRA são deficiências e não doenças, mas que podem ter sido causadas por doenças.
Por não se tratarem de doenças e não serem contagiosas, não podem ganhar contornos de epidemia.
Não existe SURDO-MUDO, mas apenas surdo. A pessoa que nasce surda tem a capacidade de aprender
uma linguagem oral, mas é mais comum, e mais fácil, que tenha em uma língua de sinais (por exemplo a Língua
Brasileira de Sinais – Libras) como sua primeira opção.
Arte: Vanessa Farias
O adjetivo “INCLUSIVO” se refere a quaisquer ambien- RESPEITO
tes e situações abertos à diversidade humana e não somente
quando se trata de pessoas com deficiência.
Este conteúdo é uma adaptação baseada no Manual da Mídia Legal
desenvolvido pela ONG Escola de Gente
Material distribuído pela Assessoria de Comunicação Institucional da Se-
cretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo
Livre Acesso 09
10. Entrevista A arte da superação
Uma das primeiras lições que se aprende ao fazer jornalismo é que todas as
pessoas têm histórias incríveis de determinação, de coragem, de superação.
Com Maiara Barreto não seria diferente. A bela garota de gestos delicados conta
um pouco sobre sua vida, seus sonhos e vitórias. E mostra para todos que, ape-
sar da pouca idade, deixa o exemplo de quem deu a volta por cima, lutou pelos
seus direitos, e é muito feliz
Texto e foto: Vanessa Farias
L. A.: Maiara, conta um colégio técnico, que eu não L. A.: Você é alta... com outras pessoas que não
pouco da sua história. gostei, aí mudei pro poliedro, M: Sou, tenho 1, 75 m. Aí eram minha família, né...
M: Eu nasci em São José pré-vestibular. Lá eu decidi eu vim pra SP pela agência, Organização... Outro desa-
dos Campos, tenho 25 anos, que queria fazer Farmácia. morar sozinha. Vida diferen- fio era a locomoção aqui em
minha mãe é pesquisado- L. A.: E você tinha quantos te da que eu tinha. SP... pegar ônibus, metrô...
ra na área de física, e meu anos? L. A.: E como foi ter que Era difícil, eu me perdia um
pai trabalha na prefeitura de M: Eu tinha 17. Aí, nessa morar sozinha? pouco (risos)
São José dos Campos. Es- época de vestibular, que me M: Foi difícil, um desafio no L. A.: E como foi sua car-
tudei uma parte no Instituto chamaram pra começar a começo. Tinha só 17, mora- reira como modelo?
São José, que é uma escola trabalhar como modelo aqui va com outras meninas da M: Foi muito bom. Eu apren-
particular, depois fui pra um em São Paulo. agência, foi difícil conviver di muito nesse tempo que
Livre Acesso 10
11. eu fiquei aqui trabalhando. quinhentas meninas, três medular cervical. Aí eu fiquei Acontece mesmo, chama-
Conheci pessoas que não horas no salto esperando, uma semana na UTI, no total -se "hipotensão postural". O
conheceria de outra forma, porque o estilista atrasou... um mês no hospital. Minha sangue não consegue subir,
mas no fundo, eu sabia que Isso era muito chato. mãe precisou praticamente o corpo acostuma a ficar dei-
queria fazer farmácia, ir pra L. A.: Daí você largou a se mudar pra São Paulo, pra tado. A hora de tomar banho
faculdade... Viajei como mo- carreira? ficar comigo no hospital, por- era um drama, eu sentava
delo, morei em Milão... M: Larguei. Fui fazer cursi- que fiquei muito debilitada na cadeira do banho e des-
L. A.: Por quanto tempo? nho por um ano, e entrei na no começo, não conseguia maiava. Foi assim, por uma
M: Dois meses. Um ano de- USP em 2008. E aí me apai- comer sozinha, trocar de semana, desmaiando várias
pois, fui pra Tóquio, fiquei xonei por Farmácia. roupa, banho... vezes, e acostumei, né? É
um mês e meio, e depois, L. A.: Você se descobriu no L. A.: Como foi esse come- isso. Fui me acostumando,
em Hong Kong, por dois me- curso? ço? fui melhorando...
ses e meio. M: Me descobri. Era isso que M: Foi muito difícil, eu cho- L. A.: Quanto tempo durou
L. A.: Como foi a experiên- eu queria mesmo. No come- rava todo dia. Os médicos o processo até a hora de
cia de ir para fora do Brasil ço era muito difícil, que eram não deram um prognóstico, você conseguir se virar
como modelo? disciplinas muito gerais, não "você vai voltar a andar" ou sozinha?
M: Foi difícil. Morar em um eram de fato Farmácia, en- "você nunca mais (vai voltar M: Muitos meses. Fiquei
país que eu não falava a tão era meio chato. Daí, com a andar)", então eu ficava quatro meses nesse hospi-
língua, não entendia nada, o passar dos semestres, foi sem saber o que tava acon- tal, tive algumas complica-
não conseguia nem ler as melhorando. Aí, quando eu tecendo, eu não sabia o que ções... tive pneumonia, tive
coisas pra tentar de alguma estava no final do terceiro era lesão medular, apesar uma trombose... Aí eu voltei
forma porque... o alfabeto semestre, sofri o acidente. de fazer Farmácia. Então eu pra casa dos meus pais, fi-
chinês e o japonês são bem L. A.: Como foi o acidente? fui aos poucos, mas mes- quei duas semanas lá, e fui
difíceis. Mas eu gostei mui- M: Foi acidente de moto. Eu mo no hospital eu já tinha chamada para o hospital Sa-
to, porque conheci cidades tava com meu ex-namorado, pequenas melhoras, Eu via rah (Kubitschek, em Brasília)
que me apaixonei, conheci de reabilitação. Lá que eu
várias pessoas, brasileiros “Foi muito difícil, eu chorava todo comecei a ver as coisas de
que moram lá, fiz amigos... dia. Os médicos não deram um outro jeito. Eu pensava que
Mas depois de um tempo, eu eu só ia viver de novo quan-
cansei. Vida de modelo não
prognóstico.” do eu voltasse a andar. E o
é o glamour que todo mun- que tava tendo um progres- objetivo do hospital é que eu
do pensa. É difícil, cansa. A namorado na época. Es- so, mas eu não sabia o que volte as minhas atividades
gente ouve mais não do que távamos indo para a casa ia acontecer pra frente. Era diárias com as limitações
sim no começo... Então é dele à noite, e ele bateu a desesperador. Você precisar que eu tenho.
frustrante. moto. O acidente de fato, pedir pra sua mãe coçar seu L. A.: O que significou o
L. A.: Quais são as outras eu não lembro. Lembro só nariz, porque não consegue (hospital) Sarah na sua
dificuldades da carreira? depois, no hospital, que a levantar a mão da cama... vida?
M: Eu tinha dificuldade com mãe dele chegou para ficar L. A.: No início então, você M: Foi a melhor coisa. Eu
a alimentação. Não podia comigo. Eu não sabia o que não conseguia mexer os cheguei lá totalmente de-
comer porque engordava, tava acontecendo, eu sen- braços? pendente da minha mãe,
porque afetava a pele, isso tia dor, mas eu não sabia... M: Nada. Aos poucos con- do meu pai... Lá eles me
pra mim era um desafio tam- os médicos diziam que eu segui levantar, fazia fisiote- ensinaram a me alimentar
bém. Pra eles (que fazem estava nervosa, por isso eu rapia duas vezes por dia, aí de novo, a tomar banho, a
a seleção), você é só mais não sentia as pernas, não com o tempo, eu comecei vestir roupa... Além de terem
uma, você é só um cabide, te conseguia mexer. Aí me a levantar um pouquinho me ajudado em tudo, eles
tratam mal, desfiles com um deram calmante pra dormir, os braços, as pernas um ajudaram psicologicamente.
monte de gente... Algumas falavam que ia passar, e não pouquinho... Mas depois Pra ver que com o que eu
vezes eram grossos. Claro, passava. Trocaram de mé- de muito tempo deitada na tenho hoje, sou capaz de
havia aqueles que tratavam dico, de hospital, fui trans- cama, quando eu comecei a continuar a minha vida como
super bem, mas no geral era ferida. E aí, nesse hospital sentar eu desmaiava. Aí eu antes. Mas pra isso foram
isso. Ir no teste com mais eles descobriram uma lesão chorava, não queria sentar. vários meses...
Livre Acesso 11
12. L. A.: E a sua família? você acha que de uma for-
Como eles passaram por Maiara: das passarelas ma geral, há abordagem
para a Faculdade de
este processo? Eles tive- suficiente para promover
Farmácia
ram que aprender muitas uma discussão e reflexão
coisas, né? acerca das dificuldades de
M: No começo, eles acha- uma pessoa com deficiên-
vam que eu tinha que me cia no seu dia-a-dia?
esforçar muito pra voltar M: Acho que precisava
a andar. Mas depois eles abordar mais, de diferentes
foram vendo que eu podia formas, porque são muitas
voltar a faculdade, podia ter pessoas com deficiência no
meus amigos na cadeira de Brasil, com diferentes difi-
rodas. Hoje eu consigo ca- culdades. A novela "Viver a
minhar um pouquinho, mas vida", por exemplo, mostrou
a cadeira me dá total inde- uma pessoa, uma limitação.
pendência. Com o andador Tem muitas outras, que pre-
eu dou uns passinhos, bem cisavam aparecer mais. As
devagar... tenho pouco equi- pessoas precisam se mo-
líbrio, fico com as mãos ocu- bilizar e tentar mudar essa
padas, então eu não tenho realidade.
autonomia. Na cadeira eu L. A.: Quais são seus pla-
consigo... O fato de ser ca- nos, além de se formar?
deirante não me impede de M: Ah, acho que estou tão
fazer nada. focada em me formar, que...
L. A.: Vamos voltar ao as- eu quero continuar traba-
sunto "Faculdade". Você rassem até a biblioteca, ou nhecia ninguém que fosse lhando na área que traba-
voltou a fazer o curso... pra voltar pra faculdade, e as cadeirante. Então, eu não lho, porque gosto muito...
Como foi essa volta? guias não eram rebaixadas, tinha opinião. Só passando sonho em casar um dia, ter
M: A faculdade não tava a calçada era muito irregular. por isso. Hoje, tento ter uma filhos eu não decidi ainda...
preparada pra me receber. Eu acredito que outras pes- vida normal como meus co- Só sei que quero casar um
Prédios não-acessíveis, ba- soas também tenham lu legas, faço natação, que eu dia e... Tenho vontade de
nheiros não-adaptados, e tado por isso. Hoje, todas gosto muito, aqui em São conhecer o mundo, de viajar,
aí, desde o primeiro dia co- as guias na USP são rebai- Paulo, vou pra academia, e gosto muito de viajar... Viajei
mecei a conversar pra pedir na semana passada, fui pra
pra reformar o banheiro, pra “A faculdade não tava prepara- Cancún, pra um congresso.
fazer um elevador... Eu re- Foi minha primeira viagem
cebi muitos 'nãos', mas eu
da pra me receber. Prédios não- pra fora do país (depois do
continuei tentando, e agora, -acessíveis, banheiros não-adap- acidente).
em agosto, eles finalizaram L. A.: E aí você foi sozi-
'meu' elevador. Eu chamo
tados...” nha?
de 'meu' porque (risos) eu xadas, as calçadas tão novi- tenho uma equipe, não só M: Sim, mas encontrei três
batalhei por ele. Consegui nhas, melhorou bastante. um professor. Lá no Sara, colegas lá. Então, meio so-
banheiro adaptado em um L. A.: Que visão você tinha fazia natação no lago, parti- zinha, meio acompanhada!
prédio... Pedi na USP mes- sobre o acesso dos cadei- cipei de duas competições, (risos)
mo, na minha faculdade, aí rantes antes do acidente? dois eventos... gosto muito L. A.: Como foi a viagem?
na na Subprefeitura, eu pedi M: Antes, eu não sabia que de nadar. E acho que me M: Eu confesso que tava
pra rebaixarem as guias, tinha esse problema, eu não ajuda fazer atividade física. muito nervosa no come-
porque tinha muita dificul- reparava se era um degrau, Agora, voltei a fazer muscu- ço, porque o avião não era
dade de ir até a biblioteca... ou se era uma rampa, se ti- lação pra ajudar também. adaptado, o banheiro tam-
Antes ter o carro, às vezes nha guia rebaixada, eu não L. A.: Com relação ao con- bém, uma viagem longa,
eu precisava que me empur- sabia o que era, não co- teúdo veiculado na TV, então eu tava muito preo-
Livre Acesso 12
13. cupada. Mas deu tudo cer- participei de uma palestra gunta pra onde ela quer ir, se sos... Geralmente, pra subir
to, tive ajuda onde precisei. de sensibilização dos fun- ela precisa de ajuda. Não é a calçada, a rampa é o único
Tirando a parte do avião, a cionários, de como abordar em todas as situações que a acesso que tenho disponível
viagem foi maravilhosa, não um cliente com deficiência, gente precisa de ajuda. Eu e a pessoa para o carro na
tive nenhum problema... o como ajudar essa pessoa. falei também sobre coisas frente. É muito frequente
Hotel não era totalmente L. A.: Me conta mais a res- que sei que tenho condições isso, eu tento conversar com
acessível. Não tinha acesso peito dessa experiência... de fazer. Meu tempo é maior quem parou...
pra praia! Mas o resto era, M: Uma profissional que tra- que o tempo de todo mundo, L. A.: E como as pessoas
foi tudo bem, foi uma experi- balha com isso me contratou mas eu sei que dou conta, recebem?
ência muito boa mesmo. junto a outras pessoas com então não preciso sempre M: As pessoas não recebem
L. A.: Vamos falar sobre variadas deficiências, e daí de ajuda. bem, respondem 'é só um
acesso ao mercado de tra- cada um de nós falou sobre L. A.: Você sente que há segundinho', e saem corren-
balho. Você relatou antes a deficiência, de como gosta preconceito em relação do do carro. Mas é esse se-
da entrevista que ouviu gundinho que preciso da
um 'não' ou outro de al- “As pessoas precisam aprender vaga, e daí paro o carro
gumas empresas, não com suas deficiências.” super longe, às vezes em
por causa de capacidade, ruas esburacadas, sem a
mas porque não teriam rampa perto. No banheiro
acesso. O que você tem a também, né? O adaptado
dizer a esse respeito? não é respeitado, você
M: As empresas não tão fica na fila esperando, e
preparadas pra receber geralmente quem está
profissionais de diversos ocupando é quem não
tipos de deficiência. Têm precisa...
deficiências que precisam L. A.: Você gostaria de
de menos adaptação, tal- deixar algum recado
vez. Mas eu não consegui para as pessoas, aque-
usar o banheiro em algu- las que possuem algum
mas empresas, lugar para tipo de deficiência, e
parar meu carro. Tem essa também para aquelas
lei que os lugares são obri- que não possuem?
gados a contratar, a gente M: Pra pessoa com defici-
sabe que tem empresa ência, queria falar que dá
que não tá cumprindo essa pra ter uma vida normal,
lei... mas eu acho que mui- dá pra ser completamen-
tas empresas, como a que te feliz, como eu... eu sou
eu tô hoje estão abertas feliz, faço tudo que eu
a novas possibilidades. Eu de ser tratado, contou sua aos cadeirantes? quero, a cadeira de rodas
consegui estágio, não pela história, de como gosta de M: De uma forma geral, as não é uma limitação pra
vaga reservada pra pessoa ser ajudado, como gosta de pessoas entendem minha mim. As pessoas precisam
com deficiência, mas com- ser abordado... Por exem- situação. O que acontece aprender com suas defici-
petindo com outros colegas plo, gosto de ser chamada com mais frequência é das ências e aproveitar o que
sem nenhuma deficiência, e pelo meu nome, não gosto pessoas olharem, mas é só. dá pra fazer, porque dá pra
a empresa se adequou, se que saiam empurrando mi- L. A.: Você disse que diri- fazer muita coisa. E para as
preparou pra me receber. nha cadeira, eu tenho opi- ge. As pessoas respeitam pessoas que não tem defici-
L. A.: Deveria ser uma pre- nião, tem que perguntar pra o estacionamento direcio- ência, pra aceitarem a dife-
ocupação de todas as em- mim... era pra isso, pra mos- nado a pessoas com defi- rença e aprender. Acho que
presas, né? trar pros funcionarios como ciência? dá pra aprender muito com o
M: Mas tem outras empre- abordar. Você não pega uma M: Não. As pessoas não diferente.
sas que estão muito preo- pessoa na cadeira de rodas respeitam a vaga, não res-
cupadas com isso, inclusive e sai empurrando, você per- peitam as rampas, os aces-
Livre Acesso 13
14.
15.
16. Esporte
Vôlei Paraolímpico:
superação e sustento
Pessoas com diferentes tipos de deficiências físicas
encaram o esporte como fonte de renda
Texto e foto: Priscila Silva
E
ngana-se quem acredita res em cada equipe – o que di- esporte está presente no desloca-
que o vôlei seja um es- ferencia a modalidade do olím- mento. Ao tocar na bola o atleta
porte apenas para pes- pico é o tamanho da quadra e a não pode retirar o glúteo do chão.
soas altas, com longas pernas altura da rede. No esporte pa- Todo o deslocamento deve ser fei-
e braços. O vôlei adaptado, raolímpico a quadra mede 6m to com as mãos, no voleibol sen-
modalidade que surgiu a partir de largura por 10m de compri- tado você transforma o tornozelo
da combinação entre o vôlei mento, enquanto a convencio- em punho, e os joelhos seriam os
olímpico e o Sitzbal – esporte nal mede 18m x 9m, a altura da cotovelo e ombros.
alemão que não utiliza a rede rede é de 1.15m para homens Como todas as modalida-
e é praticado por pessoas com
dificuldades para se locomover “Deficiente bom é aquele que tem uma boa his-
-, é a modalidade paraolímpi- tória e aquele que tem sucesso. A gente vende
ca que mais cresce no Brasil e deficiente que se supera.” Ronaldo Oliveira, técnico da
pode ser praticada por atletas seleção brasileira paraolímpica
com amputações nos membros
inferiores e superiores, parali- e 1.05m para mulheres, na ou- des paraolímpicas, o comprome-
sias cerebrais, lesões na coluna tra modalidade é de 2.43 para timento e dedicação são exigidos
vertebral e outras diferentes de- homens e 2.24 para mulheres. para aqueles que buscam ter uma
ficiências de locomoção. Há também a possibilidade do carreira de sucesso dentro do
Com regras de jogo pra- saque ser bloqueado, o que é esporte. Para o Técnico da Sele-
ticamente iguais a do vôlei em proibido na modalidade conven- ção Brasileira Feminina de Vôlei
pé – melhor de 3 sets, sets com cional. Paraolímpico e Orientador de Es-
25 pontos, tie-break, 6 jogado- O grau de dificuldade do porte de Rendimento Paraolímpi-
Centros de treinamento dos times do SESI e Barueri: confrontro entre
equipes no Campeonato Paulista de Volei adaptado
17. Ronaldo: Instituto Barueri Paraolímpico,
conquista pela localizado na cidade de Barueri,
1“ vez vaga
paraolímpica
na grande São Paulo. Em 2000,
enquanto estava no hospital se
recuperando do acidente que o
fez perder uma das pernas, as-
sistiu uma entrevista de um me-
dalhista das paraolimpíadas de
Prof. Carlinhos
Sidney. Silva conheceu o vôlei criou o 1‘ Centro
adaptado e percebeu que a prá- paraolímpico de
tica esportiva poderia ajudá-lo a Barueri
co do Sesi/SP, Ronaldo Oliveira: encarar a nova forma de vida.
Atualmente o Instituto ter participado de competição
“um bom deficiente é aquele que no ano anterior àquele em que
a gente consegue vender bem. conta com 21 atletas paraolím-
picos, sendo 17 do vôlei, 3 da está pleiteando a bolsa.
Deficiente bom é aquele que tem O presidente do Instituto
uma boa história e aquele que tem natação e 1 da Bocha. Todos os
atletas são moradores de Ba- Barueri, Prof. Carlinhos, é titular
sucesso. A gente vende deficiente e capitão do time de vôlei mas-
que se supera. Se for um deficien- rueri e, através de uma parce-
ria com a Prefeitura Municipal e culino, mas não consegue se
te que não se supera, nunca va- manter apenas com a renda do
mos conseguir fazer com que ele algumas empresas, cada atleta
recebe uma bolsa auxílio. esporte. “Na época que eu co-
seja reconhecido. Ele tem que ser mecei era uma terapia pra mim,
um produto como qualquer outro hoje já tem uma ajudinha, mas,
atleta”. Fonte de Renda
não supre as minhas necessida-
A maior dificuldade enfren- des. Me formei como professor
tada pelos atletas que buscam se O Governo Federal pos-
sui programas de incentivo para e ganho mais”, conta Carlinhos.
profissionalizar é encontrar cen- Tanto no time do Sesi
tros de treinamentos paraolímpi- atletas de alto rendimento, o
Bolsa-Atleta, que oferece entre quanto no de Barueri há exem-
cos. Na cidade de São Paulo será plos de atletas que conseguem
iniciada a construção do primei- R$300,00 à R$2.500,00, varia
de acordo com a modalidade tirar o sustento do esporte e
ro centro apenas em 2013, com outros não. Daniel Yoshizawa,
inauguração programada para o e rendimento. Para conquistar
essa bolsa o atleta precisa es- atleta do Sesi, conta com o
segundo semestre de 2015. apoio da namorada e também
Insatisfeito com essa re- tar matriculado em instituição
de ensino público ou privado, atleta paraolímpica Nathalie
alidade, Carlos Roberto da Silva, Filomena, que já participou de
40, mais conhecido como Prof. estar vinculado a alguma en-
tidade de prática desportiva e competições internacionais e
Carlinhos, idealizou em 2008 o acredita no talento do compa-
18. nheiro. “Através da minha defici- que o treinador Ronaldo Olivei- se adaptar às novas regras. “O
ência eu conheci o esporte. Hoje ra a convidou para entrar para Ronaldo ligou lá em casa e fa-
só fica parado quem quer”, afir- a equipe do Sesi. Mas não foi lou com os meus pais. Quando
ma animado o atleta que aos 19 fácil essa migração das moda- ele falou vôlei sentado eu pen-
anos precisou amputar as duas lidades. “A primeira barreira foi sei que fosse sentado na cadei-
pernas e 5 dedos por conta de o preconceito mesmo, o meu ra de rodas”. Nathalie acredita
uma meningite. preconceito comigo mesma. Eu que por ter deficiência nos bra-
No time de Barueri Fe- achava que, como eu já joguei ços, o vôlei sentado se torna um
lipe dos Santos, 23, Júnior Oli- profissional então, eu tinha ver- pouco mais difícil que o olímpi-
gonha né. Mas depois meu ma- co, mas garante não voltar para
rido e a minha família me deram a outra modalidade e que está
a maior força e eu estou aqui satisfeita, pois, consegue tirar o
hoje, tranquila”, conta Janaína. seu sustento do esporte.
Atualmente, Janaína faz Janaína e Nathalie fo-
parte das equipes do Sesi e da ram para as olimpíadas de
Seleção Brasileira Paraolímpi- Londres deste ano. O grupo fi-
Nathalie e Daniel: atletas do SESI
e namorados ca, e ganha bolsa atleta do Sesi cou em 5º lugar, pois pegaram
e do governo, mas julga não ser a chave mais difícil da compe-
veira, 25 e Diego Alcântara, 22, o suficiente para sobreviver. “Eu tição. Mas as atletas garantem
conseguem tirar o sustento ape- não me sinto totalmente profis- que foi um ótimo resultado pelo
nas com a bolsa-atleta. Ambos sional porque eu preciso traba- fato de ser a primeira vez que
encontraram no esporte, além lhar, eu não posso viver só do o Brasil foi representado pela
da fonte de renda, uma forma de esporte.” equipe feminina paraolímpica.
interação social. Janaína na foi a única Conseguir um centro de
que migrou do vôlei olímpico treinamento, adaptar-se as re-
“A primeira barreira foi o preconceito mesmo, o gras do jogo, associar trabalho
com a vida de atleta ou conse-
meu preconceito comigo mesma.” Janaína Petit,
guir tirar o sustento do esporte
Jogadora de Vôlei adaptado
são realidades dos esportistas
Adaptação para o paraolímpico. Nathalie olímpicos e paraolímpicos. O rit-
Filomena, 22, nasceu com a mo de treinamento e a intensi-
Janaína Petit, 35, já jo- Lesão do Plexo Braquial, com- dade da dedicação são iguais
gou em grandes times como plicação ocorrida no momento em ambas modalidades. O que
Pinheiros, São Caetano e na Se- do parto, mas desde criança garante o sucesso de um profis-
leção Brasileira Infanto-Juvenil, praticava natação e aos 8 anos sional, independentemente da
mas em 1993, no caminho para começou a jogar o vôlei olímpi- área em que pretende atuar, é a
o centro de treinamento foi atro- co. Em 2006 Ronaldo Oliveira força que surge de dentro de
pelada por um ônibus. Por esse também a convidou para o Sesi, cada um. Um sonho pode ser
acidente, Janaína perdeu parte alegando que as expectativas algo mais próximo se visto como
dos músculos na perna e preci- de crescimento profissional se- um objetivo, traçado como uma
sou fazer implantes de pele. Ela riam melhores no vôlei sentado. meta e alcançado com garra e
tentou continuar no vôlei em pé, Nathalie não conhecia a moda- d e t e r m i n a ç ã o .
mas não teve sucesso. Foi aí lidade e demorou um ano para
Livre Acesso 18
19. Artigo João Paulo Fernandes
jpfc84@gmail.com
Ambientes culturais e suas estratégias
para atender as pessoas com deficiência
A
acessibilidade essa lei.
Foto: João Paulo Fernandes
em recintos cul- Quanto mais um
turais tem como ambiente se ajusta as
característica principal necessidades do usuário,
que seu ambiente, progra- mais confortável ele é. To-
mação, informação, estra- davia, se ocorre o inverso,
tégias de comunicação e quando o ambiente cons-
ação educativa estejam ao truído não leva em conta
alcance de todos os indi- as necessidades ou limi-
víduos. Ou seja, para que tações humanas, ele pode
um espaço cultural possa chegar a ser mais inóspito
ser realmente acessível, do que o meio natural.
precisa de requisitos para Uma instituição Teatro Tuca, em São Paulo, abriga diversas condições de
que sua programação se cultural que realmente acessibilidade aos deficientes, como física, visual e auditiva.
torne usufruída por todos, tenha o desejo de ser já as pessoas surdas, que ção, percepção e comu-
independente da condição acessível deve garantir a tem como primeira língua nicação inerentes ao ser
física, sensorial ou comu- autonomia do indivíduo a Libras (Língua Brasilei- humano. Porque mesmo
nicacional das pessoas. em todos seus serviços, ra de Sinais) precisam da que não tenhamos uma
A cidade de São sejam eles básicos (ba- comunicação em Libras, deficiência, um dia sere-
Paulo foi uma das primei- nheiros, bebedouros e diferente da verbal ou mos todos idosos e isso
ras na implantação da cafeterias), permanentes gráfica; as pessoas com impactará definitivamente
acessibilidade no Brasil. (circulação no edifício, deficiência intelectual pre- na nossa mobilidade, vi-
Em 1993, surgiu a pri- exposições permanentes cisam de respeito às suas são e audição.
meira lei em São Paulo e midiatecas) e temporá- diferenças cognitivas, com Se por um lado
que dava o prazo de três rios (exposições, projetos relações humanas livres as pessoas com defici-
anos para que edificações e oficinas). de preconceitos e textos ência são recebidas nos
existentes com mais de As pessoas com mais objetivos. espaços culturais de for-
600 pessoas (cinemas, deficiência visual, por Garantir os di- ma desconfiada, por outro
teatros, locais de reunião exemplo, precisam rece- reitos das pessoas com isso que o não acesso a
como restaurantes com ber as informações dos es- deficiência traz benefícios elas é uma preocupação
mais de 100 pessoas) se paços de cultura por meio não apenas a essa popu- significativa, e que isso é
adaptassem. Infelizmente, de seus sentidos, como o lação, mas para todos os um sinal de mudança ime-
não foi tão rápido assim, tato e a audição, pois tem indivíduos pelo respeito diata.
mas a cidade já possui sérios comprometimentos às diferenças de locomo-
vários locais atendendo visuais ou cegueira total;
Livre Acesso 19
20. Arte e cultura
As várias ferramentas no acesso à
cultura e informação
Braille, audiodescrição, Closed Caption, Libras. A cada
dia que passa, novas - e antigas - formas de acesso
a materiais culturais se desenvolvem, e readaptam-se
para diferentes meios.
Texto e foto: Vanessa Farias
M
ãos que leem, e que ções, e algumas já são velhas décadas através de doações e do
contam histórias. Narra- conhecidas do público com de- apoio de inúmeras pessoas físicas
ção de livros para serem ficiência. e empresas, em prol das pessoas
ouvidos. A opção das legendas com deficiência visual. O prédio é
nos programas prediletos da TV. Livros para ler com as mãos enorme, totalmente voltado para
Descrição em áudio detalhada e ouvidos facilitar a vida do público atendi-
dos acontecimentos dentro de do pelos trabalhos realizados lá.
um filme. Há tempos, as mais A Fundação Dorina No- “Temos tudo aqui: estúdio de gra-
variadas formas de comunica- will funciona há mais de seis vação, gráfica de livros em Braille,
ção voltadas para pessoas com
deficiência física e auditiva vem
se desenvolvendo, e integrando- Direitos garantidos por lei
Várias leis garantem o acesso das pessoas com defici-
-se a ambientes que até então, ência a bens culturais. O Decreto-lei 5296 de 2 de dezembro de
eram considerados exclusivos 2004, por exemplo, regulamenta e especifica normas gerais e
de pessoas sem deficiência. critérios básicos de acessibilidade. Entre as determinações,há
Hoje, leis específicas de direito regras gerais para o acesso de pessoas com deficiência a aten-
à acessibilidade garantem esse dimento diferencial e adaptado pelas normas da ABNT, dentre
elas, adaptação de edificações públicas e coletivas, reserva de
direito (vide box). É obrigatória a
vagas destinadas a pessoa com deficiência em espaços volta-
veiculação de material acessível dos à cultura, intérpretes de Libras, Além das regulamentações
de boa porcentagem do conteú- Exigidas pela ANATEL em relação a utilização de Closed Cap-
do cultural, e isso envolve tele- tion, Libras e Audiodescrição.
visão, vídeos, livros, revistas e Ainda, o Ministro das Comunicações Hélio Costa re-
espaços como museus e biblio- gulamenta, através da Portaria 188, de 24 de março de 2010,
porcentagem específica de transmissão obrigatória de conteúdo
tecas. televisivo com audiodescrição.Para o Closed Caption, o Projeto
Nessa implementação de Lei 3979/00 do Senado tornou obrigatória a utilização da
de conteúdo acessível, entram legenda oculta em boa parte da programação televisiva.
muitas empresas e organiza-
Livre Acesso 20
21. “Ledor” em ação: livros para
Fundação Dorina: arquivos serem ouvidos
de chapas para prensagem
em Braille
Cleide Severiano: conferindo
o material prensado
estrutura para prensagem e envio solicitam alguns títulos”. Os visuais ao conteúdo transforma-
do material. Tudo voltado para a números são impressionantes. do em Braille e áudio, mas tam-
realização, promoção e disponibi- Mais de 90 mil livros em Brail- bém prepara as pessoas com
lização de livros, revistas e afins le, 60 mil livros falados, 1943 deficiência visual para o mercado
para o público com deficiência organizações, bibliotecas e de trabalho, além de ensiná-las a
visual”, revela Caroline Grava, escolas atendidas em todo o se virarem sozinhas. Ademilson
responsável pela Comunicação país. Conceição, que está trabalhando
Interna da Fundação. A gravação dos livros há cinco anos como revisor, re-
Basta se cadastrar na ins- e impressão em Braille é re- vela que perdeu a visão total em
tituição, para ter acesso a todo alizada dentro da própria ins- 2001, e através do processo de
conteúdo produzido. reabilitação fornecido pela
Além da transforma- “Sempre tivemos um feedback po- Dorina, cresceu o desejo de
ção dos livros em sitivo da comunidade surda, que trabalhar lá. “Por todo esse
Braille, a Fundação sempre foi muito importante para apoio, cresceu a vontade
Dorina conta também de trabalhar aqui, Daí, fui
com um acervo de o desenvolvimento de nosso pa- chamado em 2008, e adoro
mais de 2.100 títulos drão”. Marcelo Couto, CPL o que faço”.
de livros falados, e faz
empréstimos para organizações tituição. Caroline revela que Lendo o que foi falado
e pessoas físicas de todo o país. muitos funcionários com defi-
Ezequiel Mariano, auxiliar admi- ciências visuais trabalham na O desenvolvimento de
nistrativo da biblioteca, conta que Dorina. Cleide Severiano, por novas tecnologias possibilitou
através de uma parceria com os exemplo, trabalha na revisão e o closed caption – ou legenda
correios chamada Cecograma, paginação dos livros em Brail- oculta – que está no Brasil desde
o usuário do serviço pode pegar le. “trabalho com um voluntá- 1997. É um sistema de transmis-
emprestado e devolver o arquivo rio, que lê o livro em tinta pra são de legendas que possibilita
digital em qualquer parte do país mim, enquanto confiro se há o acesso à informação veiculada
gratuitamente. “Os temas são algum erro. Os que encontro, na televisão, que pode funcio-
variados. Desde romances, pas- peço que ele anote, para pos- nar de duas formas: online, que
sando por clássicos da literatura. terior correção”, explica Cleide. acontece em tempo real, e offli-
Temos toda uma pesquisa de A Fundação não só via- ne, que ocorre através de uma
mercado, além das pessoas que biliza o acesso aos deficientes pós-produção com programas
Livre Acesso 21
22. específicos de computador.
Marcelo Couto, Diretor
comercial do Centro de Produ-
ção de Legendas – CPL, empre-
sa pioneira na implementação de
closed caption no Brasil, explica
que a concepção da empresa no
país se deu através de um grupo
de pessoas com deficiência audi-
tiva, além de contar com outras Closed Caption: opção também para
de fora do grupo que dão o retor- ambientes ruidosos
no para os profissionais. “sempre
tivemos um feedback positivo da
Audiodescrição: imagem fa- retora de dublagem que agora di-
comunidade surda, que sempre
lada rige e cria roteiros para essa mo-
foi muito importante para o desen-
dalidade de acesso, conta como
volvimento de nosso padrão. Afi-
A audiodescrição vem é o processo de inserir a audio-
nal, o closed caption foi desenvol-
também através do desenvol- descrição: “É uma narração dos
vido para esse público”, comenta.
vimento da tecnologia. Tem fatos acontecidos no decorrer do
A legenda ainda é criada tanto em
sido disponibilizada através filme entre os diálogos dublados.
português, quanto em inglês.
das transmissões televisivas, Se os atores estão em silêncio,
Aliás, assim como a Fun-
dação Dorina, a CPL disponibiliza “Audiodescrição: narração dos fatos aconte-
inúmeros serviços voltados para cidos no decorrer do filme entre os diálogos
a acessibilidade e inclusão. Além dublados.” Maíra góes, diretora de audiodescrição
dos cursos fornecidos, A empresa
realiza, além do closed caption,
salas de cinema com fones de entra o narrador contando, com
Libras e a audiodescrição.
ouvido, DVD’s. Maíra Góes, di- ajuda de um roteiro previamente
escrito, o que está acontecendo
na tela”. Maíra completa dizendo
Livros infantis em Braille: que a narração precisa ser neu-
literatura para ser sentida tra, pois a pessoa com deficiência
visual tem que distinguir o que é
descrição de cena e o que é inter-
pretação de um personagem.
No entanto, a opção ain-
da é inviável para transmissões
ao vivo e novelas. “Os capítulos
de uma novela ficam prontos com
pouca antecedência, o que dificul-
taria a confecção do roteiro de áu-
dio descrição. Há a possibilidade
de se fazer ao vivo, mas o grau de
dificuldade é infinitamente maior”,
Livre Acesso 22
23. Carol Dias: “a mão é o Libras na TV: “seria perfei-
ouvido da pessoa com ta, se houvesse opção de
deficiência auditiva” dividir a tela”
revela Maíra. leira que se tem notícia foi cria- ças de teatro e exibição de filmes
A diretora narra também da em 1957 no Rio de Janeiro. sobre o assunto. Fora da institui-
episódios em que obteve a res- Carol Dias, coordena- ção, Carol dá exemplos de como
posta direta do significado da dora do Instituto Seli de ensino a língua de sinais pode ser intro-
audiodescrição no cotidiano das e pesquisa voltado para Libras, duzida na vida cultural das pes-
pessoas com deficiência visual. conta que a principal preocu- soas com deficiência auditiva: “O
No primeiro filme que ela realizou pação é fazer que todas as pes- Museu de Arte Moderna de São
na sua empresa, a Beck Studios, soas envolvidas no processo Paulo tem um exemplo perfeito de
a emissora Globo convidou três de aprendizado entendam que como as Libras podem integrar-
pessoas com deficiência auditi- a língua de sinais é primordial -se a ambientes culturais. Guias
va para conferirem o resultado. para a convivência da pessoa especializados fazem grupos e os
”O mais marcante foi o de uma
senhora presente: ‘Que Deus “No Museu de Arte Moderna, guias que sa-
abençoe as pessoas que estão bem Libras fazem grupos e os levam pelo
fazendo isso por nós. Eu voltei Museu.” Carol Dias, Instituto Seli
a enxergar. Vi o filme todinho’,”
conta Maíra.
com deficiência auditiva com levam pelo museu, e essa comu-
Mãos que falam o mundo que o cerca.“A mão é nicação dá muito certo”. Porém,
o ouvido do surdo. O processo ela completa dizendo que o uso
A língua brasileira de si- é visual. Ainda há muita desin- das Libras na TV poderia ser me-
nais, popularmente conhecidas formação dessa importância, lhor, se houvesse a opção de co-
como Libras, é a mais antiga inclusive da classe médica, que locar a imagem do profissional de
das alternativas de comunica- muitas vezes, não incentiva as Libras em tamanho maior.
ção para a comunidade com Libras como forma de comu- Ainda virão novas leis, no-
deficiência auditiva. Originou-se nicação do surdo, fazendo-o vas plataformas, novas maneiras
no século XVI, e desde então, pensar que é sua obrigação de de pessoas com deficiência visual
desenvolveu-se, até chegar na aprender a se expressar falan- e auditiva terem acesso aos bens
configuração que existe hoje, in- do”. culturais. O que há hoje ainda não
fluenciada pelos sinais utilizados A escola promove en- é o ideal. Um dia a gente chega
na França e nos Estados Unidos. contros culturais da comunida- lá.
A primeira escola de Libras brasi- de surda, em que ocorrem pe-
Livre Acesso 23
24. Meio Ambiente
Sensibilidade e bem-estar por trás
da natureza
Como passeios ecológicos podem trazer sensações
prazerosas aos deficientes
Texto e foto: Fabiano Nakashima
Arte: Vanessa Farias
A
deficiência, sem dúvida, da Cachoeira Bonita, que fica em
(PIB) Nacional, segundo os dados de
não é barreira para o Colinas do Sul, na Chapada dos2011 apresentados pelo Ministério do
contato com a natureza, Veadeiros, em Goiás, pertencen-
Turismo, e que não poderia deixar de
algumas iniciativas estimulam a in- te à Fazenda São José dos Pal-abranger uma camada tão considerá-
clusão, mostrando que as belezas mares e detentora de uma bela vel da população mundial. Cada vez
naturais além de apreciadas com área serrana. O município de mais agências de viagens tendem a
os olhos, podem ser também um Socorro, localizada no interior do
oferecer aos seus clientes opções de
deleite para os outros sentidos. Estado de São Paulo é famosa passeios acessíveis e direcionados
Opções de passeios ecológicos destinados às pesso- aos deficientes físicos e
visuais, com todo o tipo
as com necessidades especiais são importantes para de assistência e apoio
o desenvolvimento de seus sentidos necessários para a total
segurança e conforto du-
O Brasil é sinônimo de um meio pelos seus roteiros de aventura, rante a sua estadia.
ambiente rico em espécies, uma também se destaca como opção A agência de turismo EcoA-
flora de opções para se ver e de ao deficiente. ção, localizada em Brotas no interior
inúmeras quantidades de ani- Opções de passeios de São Paulo, utiliza-se de passeios
mais existentes pelo país a fora. ecológicos destinados às pesso-
Para as pessoas com deficiência as com necessidades especiais
a oportunidade de interagir com são importantes para o desenvol-
este panorama significa conhecer vimento de seus sentidos, além
o que de mais belo pode existir. de evidenciar a importância deste
Exemplos em territórios contato com a natureza e a liber-
brasileiros destinados aos defi- dade sentida pelos participantes.
cientes são tidos como uma for- O turismo é uma área
ma de vivenciar o contato com a que movimentou 2,5 milhões de
natureza, sem que a deficiência empregos formais, e que teve R$
se torne um empecilho. Um dos 6,7 bilhões em investimentos con-
exemplos é a RPPN (Reserva cedidos ao setor, o que represen-
Particular do Patrimônio Natural) ta 3,6% do Produto Interno Bruto
Livre Acesso 24
25. Natureza: a cada dia que passa, pessoas com
deficiência ingressam cada vez mais no turismo
ecológico
adaptáveis para a inclusão das pes- George Oliveira, um dos adeptos (galhos, cascos, flores, etc.). Es-
soas com deficiência. “Tentamos aos passeios. ses passeios acontecem espora-
que os condutores vivenciem a di- Toda pessoa quando quer dicamente e exploram a sensibi-
ficuldade para entenderem melhor viajar e conhecer uma nova locali- lidade dos clientes e alunos”, diz
a orientação dos profissionais que dade, quer vivenciar aquilo que tal Daniela Santos Coutelle, gerente
estão treinando os mesmos. Exem- região possui de melhor. O Brasil, de comunicação da fundação.
plo, para atender deficientes visu- com localidades detentoras de be- Ter contato com a nature-
ais durante nossos treinamentos os lezas naturais incomparáveis, se za não é apenas se importar espo-
condutores usam vendas nos olhos”, torna um prato cheio para aquele radicamente pelo meio ambiente,
explica Giovana Guedes, diretora que quer passar os seus dias dis- há a necessidade de vivenciar tudo
comercial da empresa. poníveis na maior paz e tranquili- que ela possui de bom a oferecer.
Outra agência de turismo dade das regiões brasileiras. Ficar em contato com esta maravi-
que realiza este tipo de serviço es- A Fundação Dorina Nowill, lha natural é ter a oportunidade de
pecífico é a Freeway, localizada na famosa pelo seu trabalho em aju- viver bem e adequadamente, com
capital paulista, que disponibiliza aos da aos deficientes visuais também o bem-estar característico de ár-
seus clientes dois diferentes desti- possui ações de incentivo focada a vores, cachoeiras, campos, mon-
nos. “O prazer de viajar é particular adaptação com o meio ambiente. tanhas, mares, praias e demais
de cada um, ao fazer uma viagem “Temos duas excursões acessíveis opções que temos.
para Bonito (MS) ou Itacaré (BA), o destinadas às pessoas com defici- Seja para ter um contato
contato com a natureza, a leveza do ência visual, uma é parte integran- maior com a natureza, sentir o ar
ar, a pureza da água e as paisagens te do curso de Avaliação Olfativa e puro das montanhas, ou a maciez
perfeitas fazem um cenário propício retrata um passeio pelo Mercadão da areia da praia aos seus pés,
de um dia inesquecível. Uma viagem para sentirem sabores e aromas todo lugar a se visitar é válido, ain-
pode provocar em cada participan- e a outra é pelo Parque do Ibira- da mais quando a sensação pro-
te paz, liberdade e uma felicidade puera, com direito a tocar e sentir porcionada é de uma importância
imensa”, comenta o administrador as diferentes texturas da natureza imencionável.
Saiba Mais:
EcoAção Turismo - Av. Mario Pinotti, 205 – Brotas-SP - (14) 3653-9140 – www.ecoa-
cao.com.br
Freeway Ecoturismo – Rua Capitão Cavalcante, 322, São Paulo-SP - (011) 5088-0999
– www.freeway.tur.br
Fundação Dorina Nowill – Rua Doutor Diogo de Faria, 558, São Paulo-SP - (11) 5087-
0999 - www.fundacaodorina.org.br
Livre Acesso 25
26. Economia
Quanto vale a deficiência?
Mal se imagina que a condição estabelecida pela deficiência
possa ser medida em valores. Mas, aos poucos, o mercado e o
governo descobrem o preço que ela pode cobrar de uma pessoa
Texto e foto: Ricardo Borges
“M
anter o cão-guia, tro- sas Econômicas da USP)”. Daniel Monteiro:
gastos com defici-
car o pneu da cadei- O principal objetivo do pro- ência são muitos
ra de rodas, ajeitar a jeto é “levantar o quanto
prótese...” Como bem enumerou custa a mais para pessoa
o advogado, especializado em com deficiência ter a defici-
questões previdenciárias, Daniel ência”, explica o advogado.
Monteiro, não são poucos os Enquanto isso, alternativas
detalhes que geram na pessoa paralelas são colocadas a
com deficiência uma preocupa- disposição, para que essas
ção a mais, quanto aos gastos pessoas possam custear al-
financeiros. E o tempo? Se pen- gumas necessidades. pelo governo federal. Segundo
sarmos nas necessidades de Kely Silva é casada. Seu relatório desenvolvido pelo pro-
um paraplégico para se levan- marido vive em uma cadeira de grama MODEM (Monitoramento
tar, tomar banho, se colocar na rodas há 10, quando levou “um da Inserção de Pessoas com
cadeira ou carregar sua bateria, tiro na coluna, separando a bri- Deficiência no Mercado de Tra-
sendo ela elétrica, fica fácil ima- ga de um amigo”. Desde que o balho) e divulgado pela SEDPcD
ginar as horas gastas a mais, casal se encontrou nessa nova (Secretária de Estado dos Direi-
se comparadas com as de uma condição, ela admite que chegou tos da Pessoa com Deficiência
pessoa comum. E tempo tam- a recorrer ao benefício assisten- do Estado de São Paulo), em
bém é dinheiro! cial fornecido pelo governo, mas parceria com a Fipe, foram cria-
De acordo com Mon- ele não era suficiente para cobrir das 96 vagas para pessoas com
teiro, ainda não existe alguma os gastos adicionais de seu com- deficiência física no estado de
medição sobre os custos adicio- panheiro. Por isso, eles mantêm São Paulo, no terceiro trimestre
nais gerados a partir de alguma um bomboniere para ajudar nas de 2012. Dezesseis a mais, em
deficiência. No entanto, a ini- despesas mensais. comparação ao segundo trimes-
ciativa para contabilizá-lo já foi O marido de Kely faz tre deste mesmo ano. Os mais
idealizada. É o “projeto ‘Custo parte de um grupo que ainda beneficiados neste último perío-
Adicional da Deficiência’ da Se- tem pouco oportunidade de se do foram os trabalhadores com
cretária (dos Direitos da Pessoa recolocar no mercado de tra- deficiência intelectual que tive-
com Deficiência) com a FIPE balho e incrementar o valor de ram 262 novas vagas ocupadas
(Fundação Instituto de Pesqui- um salário mínimo concedido entre julho e setembro de 2012.
Livre Acesso 26
27. Paralelamente a este ce- ajudá-las a encontrar uma cargo que ele está oferecendo
nário, o governo dispõe de alguns oportunidade de trabalho de faz jus a deficiência”, segundo
estímulos que poderiam alavan- qualidade. A Fundação Dori- a assessora. Se for o caso, na
car esses números. Em 1991, por na Nowill, mais conhecida por Dorina também é oferecido ca-
exemplo, foi criada a Lei 8213/91. fornecer livros transcritos em pacitação profissional. Porém,
Nela se estabelece um percentual braile para aquele que tem defi- a pessoa não precisa passar
de 2 a 5% de pessoas com defici- ciência visual, também procura por esta etapa para ser enca-
ência de acordo com o quadro total atender os interessados em se minhada.
de funcionários da empresa. No ano recolocar profissionalmente. Apesar de tudo, não se
de 2011, o governo federal
viabilizou a concessão de “Precisa ser mais disseminado do que já é, a
benefício a micro empre- cultura da inclusão, do espaço para todo mun-
endedores ou funcionários
na condição de aprendiz do.” Daniel Monteiro, Advogado
com deficiência, compro-
vada a necessidade de tal situação, Daniela Santos, assessora de pode esquecer dos números:
de acordo com as leis 12435/11 e comunicação da Fundação por um lado, eles se referem
12470/11. Existem também a isen- explica que como eles atuam: as vagas divulgados pela SE-
ção de impostos para os interessa- “A gente indica, as empresas DPcD, que ainda oscilam mui-
dos em adquirir carros adaptados e procuram a gente também. A to, e por outro se referem aos
a utilização livre de transportes co- gente tem um departamento gastos mantidos para que uma
letivos. Tais medidas reunidas cons- que cuida disso, encaminha pessoa com deficiência tenha
tituem o que pode ser chamado de para entrevista”. Muitas em- garantido o direito de viver. E
Ação Afirmativa. Iniciativas bastan- presas procuram funcionários todos esses valores esbarram
te valorizadas, na visão de Daniel na Dorina Nowill para cumprir em um só obstáculo, lembrado
Monteiro: “Ação afirmativa é uma a cota estabelecida por lei, pelo advogado Daniel Montei-
reparação que tem que ter”. segundo Daniela. Mas eles se ro: “Precisa ser mais dissemi-
Em muitos casos, as pró- organizam bem para averiguar nado, do que já é, a cultura da
prias organização sem fins lu- as condições do cargo ofereci- inclusão, do espaço para todo
crativos de auxílio a pessoa com do. “Uma pessoa da fundação mundo”.
deficiência fornecem meios para vai até essa empresa e vê se o
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30. Internacional
Acessibilidade mundo
afora
Cidades estrangeiras dão exemplo de como adaptar-se
para receber as pessoas com deficiência
Texto: Fabiano Nakashima
Foto: Priscila Silva
G
rande parte da população E não é só o que se diz Por exemplo, o seu Departamento
detentora de alguma de- respeito às ruas uma das gran- de Saúde, funciona como apoio as
ficiência, física ou visual, des dificuldades, as leis de apoio questões envolvendo a deficiência
sofre com a má conservação das aos deficientes também estão e o turismo local que se mostra
ruas em nosso país. As dificulda- acessíveis à população em vá- acessível para o viajante com qual-
des de locomoção são um dos rios países. Este é o caso da quer tipo de necessidade maior.
principais desafios para as pes- Austrália que possui leis próprias “A Irlanda tem uma forte
soas com deficiência se adapta- de benefícios aos portadores de reputação de sensibilização para
rem normalmente em seu cotidia- deficiência, além de ruas plena- a deficiência e para atender às ne-
no. Mas tais problemas são vistos mente indicadas e com acesso a cessidades da população e para os
com outros olhos em cidades de rampas e outras facilidades. visitantes deficientes”, explica a se-
fora, exemplos de cidadania são Saindo da Oceania, gunda secretária da Embaixada da
percebidos em locais de fácil existem bons exemplos também Irlanda no Brasil, Sharon Lennon.
acesso para toda a população, e na Europa. A Irlanda possui em Já em Portugal, a maioria
principalmente, aos que mais ne- seus semáforos de trânsito indi- das agências e escritórios públicos
cessitam. são obrigados, por lei, a
Que tal poder andar por “A Irlanda tem uma forte reputa- terem acessibilidades para
qualquer que seja o lugar ção de sensibilização para aten- deficientes, igualmente
sem se preocupar com o
der os visitantes deficientes.” com o que acontece em
buraco presente no meio seus aeroportos e hotéis.
Sharon Lennon, Secretária da Embaixada
da rua, ou os comuns obs- Não nos esforçamos tan-
da Irlanda
táculos, tão normais ao to para verificar como ou-
nosso cotidiano? Esta cena pare- cadores sonoros destinados aos tras grandes metrópoles mundiais
ce algo muito longe de se acon- deficientes visuais, ao simples veem os deficientes e como as
tecer, quando falamos na reali- toque de um aviso sonoro a pes- suas infraestruturas urbanas estão
dade brasileira. Será que ver as soa sabe a hora certa e segura preparadas para recebê-los. O Bra-
necessidades de uma parcela tão em se atravessar as movimen- sil, sede de grandes eventos espor-
importante da população é tão di- tadas ruas do país. Além disso, tivos nos próximos anos, pode se
fícil, e que a melhoria do dia-a-dia o governo irlandês possui leis basear nestes bons exemplos para
de todos não vale os merecidos próprias e de incentivo como não fazer vexame no quesito aces-
esforços? ferramentas de inclusão social. sibilidade.
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31. Ambulift: acessibilidade nos aeroportos é o primeiro passo para a pessoa com deficiência conhecer o mundo
A Associação Salvador, O caminho a ser feito O blog “A cadeira voadora”
sediada em Portugal utiliza-se de para se fazer uma viagem não mostra-se não apenas como um di-
projetos online, como por exemplo se restringe apenas, na hora ário pessoal de conhecimentos pelo
o “Portal Acessível”, disponibiliza- em se chegar ao seu destino, mundo afora, mas também como
do em grande parte da Europa, no próprio aeroporto deve ha- um espelho para encorajar outras
com o objetivo de contribuir para ver técnicas próprias e seguras pessoas a praticarem novas experi-
a integração das pessoas com de locomoção aos deficientes, ências sem medo. “O blog foi criado
deficiência motora, ou mobilidade especialmente cadeirantes. para incentivar cadeirantes a sair de
reduzida, na sociedade e melhorar Para a realização do trajeto até casa para fazer turismo e passear.
a sua qualidade de vida. a aeronave e vice-versa, utiliza- Grande parte se sente insegura para
“Disponibilizamos informa- -se o ambulift - para transportar fazer isso. Muitas pessoas me escre-
ções sobre a acessibilidade física portadores de deficiência mo- vem para contar como o blog as aju-
em diferentes tipos de espaços, tora das aeronaves – mas a dou a fazer determinada viagem, que
permitimos a troca de ideias e ex- escassez deste equipamento antes não se consideravam capazes
periências entre pessoas frequen- junto com a falta de cuidados de fazer. O fato de um cadeirante
tadoras destes espaços, além de dos operadores se torna mais mostrar como superou os desafios
sensibilizar as entidades públicas um quesito a se redobrar as motiva outros a fazerem o mesmo”,
e privadas para a importância da atenções. finaliza Laura.
acessibilidade, alertando para a di- A cadeirante e autora Para o país sede de eventos
mensão e potencialidades do seg- do blog “A cadeira voadora”, tão importantes para os próximos
mento de pessoas com deficiência Laura Martins, sabe o quanto a anos parece que se preocupar com a
motora ou mobilidade reduzida em acessibilidade traz segurança realização de eventos é uma manei-
Portugal e no estrangeiro”, explica e incentiva a pessoa com defi- ra mais fácil de chamar a atenção, ao
Mariana Lopes da Costa, gestora ciência em querer se aventurar. invés de investir na melhoria de suas
de projetos da associação. “No Brasil, João Pessoa, capi- cidades para o bem-estar de todas
Já no Brasil, a história é tal da Paraíba, é um destino de as classes da população. Será que
bem diferente. Os aeroportos, ro- praia bastante acessível. Fora olhar para fora do país e começar a
doviárias, hotéis, ruas e demais do Brasil, indico Paris, capital ter em quem se basear não é uma
localidades públicas, que deveriam da França, e Genebra, na Su- das opções das mais aconselhá-
estar plenamente preparados para íça, como destinos acessíveis. veis? Infelizmente, parece que para
receber todo o tipo de visitante, es- Mas é preciso dizer que esses muitos a resposta é não.
tão, em sua maioria, muito longe três lugares ainda têm muito no
deste panorama. que se adaptar”, explica Laura.
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32. Cidade
Meus olhos têm quatro patas
Cães-guias oferecem segurança e liberdade às pesso-
as com deficiências visuais
Texto e foto: Priscila Silva
C
ompanheiro, cen- esses profissionais atu-
trado e amigo, am de forma diferente
essas são as ca- do adestrador do cão. O
racterísticas do animal adestrador é aquele que
que é treinado para ser ensina comportamento
os olhos do deficiente ao cão. O instrutor tem
visual. Porém, ser con- o entendimento da guia
templado com um cão é para o deficiente visual
privilégio de poucos. De e por isso ele entende
acordo com o Instituto muito dessa deficiên-
Iris, entidade filantró- cia, da dificuldade que
pica responsável pela Cão-guia e cego precisam ter personalidades a pessoa cega tem e
distribuição de 30% dos compatíveis de como o cão pode
cães-guias no Brasil, há ajudá-lo, e isso faz toda
12.000 cegos cadas- para tornar os guias acessíveis é diferença no treinamen-
trados à espera de um guia, e o falta de verba. Um cão custa apro- to. Há também o cuidado em entre-
número de cães guiando no país é ximadamente R$30.000, há tam- gar um cão compatível com quem irá
de apenas 71. bém a escassez de treinadores recebê-lo, os cadastros das pessoas
A falta de centros de trei- qualificados. “No Brasil eu tenho que esperam por um cão-guia é muito
namentos para os cães no Brasil é conhecimento que tenham ape- detalhado, com entrevistas, filmagens,
o principal motivo que inviabiliza a nas 4 instrutores de cães-guias. relatos, para que a compatibilidade
maior distribuição de animais para Cada instrutor não consegue trei- aconteça.
quem espera. Com o objetivo de nar mais de 5 cães por vez, en- Através do Instituto Iris, esses
mudar essa realidade surgem as tão se a gente for pelo máximo: dados são enviados aos EUA, para
instituições filantrópicas que tra- 4 treinadores, vezes 5 cães, nós que lá eles encontrem o cão mais pró-
balham com os cães-guias. Atra- treinaríamos em 2 anos, cerca de ximo e apto à cada pessoa. Com a ve-
vés de uma parceria - que já dura 20 cães. Então a conta começa a rificação dessas informações a escola
10 anos - com a escola america- ficar difícil e o resultado é demora- pode associar, o mais próximo possí-
na Leader Dogs, que há 80 anos do”, afirma Panico. vel, o cão ao cego. São avaliados, por
treina cães-guias, o Instituto Iris O trabalho com o cão- exemplo, o tamanho do beneficiado,
já ofereceu 24 animais prepara- -guia é algo extremamente mi- forma de caminhar, comportamento no
dos para guiar no país. Segundo nucioso. O treinamento, com du- ambiente de trabalho e em casa, ritmo
o presidente do Instituto Iris, Mar- ração média de 2 anos, deve ser ao andar. Há quem ande rápido, o que
celo Panico, a maior dificuldade feito por instrutores capacitados, requisita cães mais velozes. Pessoas
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33. que andam mais devagar precisam lhidos pelo Instituto Marcelo Panico e
de cães que andem no mesmo rit- Iris são enviados Harley: parceiros há
mo, quem trabalha em escritórios para a escola par- 5 anos
precisa de cães que estejam acos- ceira da instituição
tumados a ficar nesse ambiente, ao nos EUA. Por 3
passo que outras pessoas que pre- semanas o cão e
ferem andar nas ruas ou parques, o contemplado trei-
necessitam de cães que atendam narão juntos. Aco-
essas características. E assim é fei- modação, viagem
ta a compatibilidade. e cão são custea-
dos pela escola, a
Treinamento começa no primeiro pessoa cega esco-
dia de vida lhida para ter um
cão-guia não tem
Para garantir uma ninhada nenhuma despesa.
com bons cães-guias, são sepa- O cão é doado e
rados os sêmens dos animais que será exigida ape-
tiverem excelência na guia. Uma nas a manutenção
seleção é feita entre os cães recém- do animal, que é a
-nascidos. No primeiro dia de vida compra de rações
é colocado um despertador pró- e vacinas. O Ins-
ximo aos bichinhos, o cão que se tituto acompanha,
assustar ou procurar pelo barulho pelo menos uma
é descartado do treinamento, com vez por ano, para
a justificativa de que o guia precisa avaliar se o cão está sendo bem dicionada a isso.
ser centrado e não pode se disper- tratado, com cuidados veterinários,
sar em locais barulhentos. Após o 3º e é pedido um laudo médico que Segurança ao caminhar
mês de vida a escola envia os cães é traduzido para a língua inglesa.
para famílias socializadoras, esses Esse procedimento é exigido para Diferentemente da benga-
voluntários deverão treinar o cão por que, se caso um cão adoecer, seja la, que exige ao cego a identifica-
um ano e meio, aproximadamente, identificado e tratado a doença ção de obstáculos através do to-
para socializar o cão, apresentando para evitar que outros cães iguais que, o cão-guia é quem reconhece
a ele os locais que futuramente fre- adoeçam também. Há situações o perigo. O único trabalho do guia-
quentará, como por exemplo; shop- em que o cão pode perder a no- do é saber onde precisa chegar e
pings, cinemas, ônibus, metrô. Essa ção de guiar, e aí é necessário um passar os comandos curtos ao ani-
família ensinará bons modos ao novo treinamento intensivo com o mal como, esquerda, direita, segue,
cachorro além de escolher o nome
do cãozinho. Em seguida o animal “Ele é um cachorro, ele não é um GPS.”
é devolvido à escola e passará por Andrea Queiroz
um treinamento intensivo durante
dois anos, nesse período ele será cão e a pessoa, pode acontecer ache a escada rolante, ache o ele-
preparado para atender as pessoas também de chegar ao extremo do vador, entre outros.
portadoras de necessidades visu- cão se aposentar, principalmente A Revisora de Braile, An-
ais. O último estágio do treinamento quando fica idoso, então o defi- drea Queiroz, 33, recebeu há um
acontece quando o futuro dono co- ciente que teve esse cão guia tem mês seu primeiro cão-guia, mas o
nhece seu cão-guia. uma certa prerrogativa para ter o processo não foi fácil. Durante 3
Os deficientes visuais esco- próximo, pois a sua vida está con- anos diferentes empecilhos dificul-
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