1. O documento discute a Teoria da Relatividade Restrita dos Sonhos e como ela pode explicar o aumento do consumo de arcas de sonhos em Portugal após o 25 de Abril de 1974.
2. A teoria mostra que os sonhos dentro do coração aceleram rapidamente e seu espaço se contrai e tempo se expande, enquanto fora do coração aceleram lentamente com a distância.
3. Isso pode ter levado a um excesso de sonhos dentro dos corações portugueses após a revolução, criando a necessidade de ar
Teoria da Relatividade Restrita dos Sonhos e o 25 de Abril em Portugal
1. A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA DOS SONHOS, AS
ARCAS E O 25 DE ABRIL EM PORTUGAL
Spezielle Relativitätstheorie der Träume und der 25. April in Portugal - Albert Eintraum
Albert Eintraum[1]
Tradução: Renato Roque
[1] Minnesolta University – Hiperphysic Department, USA
Resumo
Em 1999 o Departamento de Hiperfísica da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto convidou-nos para realizar um estudo sobre a realidade
onírica portuguesa e sobre os acontecimentos em Portugal a seguir ao 25 de Abril de
1974. A efervescência de sonhos e de sonhadores nos tempos pós revolução deveria
constituir informação extremamente importante para ser analisada à luz da Teoria
da Relatividade dos Sonhos.
Os objectivos fundamentais do estudo eram compreender o que acontecera aos
sonhos e aos sonhadores em Portugal depois do 25 de Abril e perceber porque
aumentou exponencialmente o consumo das arcas de sonhos a partir dos anos 80. A
resposta a estas questões só foi possível recorrendo à Teoria da Relatividade Restrita
dos Sonhos (TRSS). Só esta teoria revolucionária permite, em contraposição com a
velha e esclorosada Teoria Clássica dos Sonhos (TCS), interpretar os dados oníricos
e perceber o que de facto se passou e está a passar em Portugal e no mundo,
interpretando o comportamento dos sonhos dentro e fora do coração, justificando
porque aceleram e aumentam progressivamente de velocidade e explicando as
consequências desse comportamento.
Este artigo sintetiza as principais conclusões do estudo realizado a pedido da FEUP.
Estas conclusões foram entretanto objecto de algumas actualizações para incluir
dados mais recentes de 1999 a 2006. Alguns resultados relativos a outros estudos
sobre a situação na Europa e no mundo foram também integrados neste artigo para
uma melhor compreensão do contexto onírico global. Faz-se também uma
introdução simples à teoria que serviu de base aos estudos realizados, para melhor
compreender os resultados e porque continua a ser urgente divulgar de uma forma
simples e acessível as principais ideias revolucionárias reveladas pela TRRS.
1
3. 1. Introdução - O 25 de Abril e a TRRS
Quando aconteceu o 25 de Abril a Teoria da Relatividade Restrita dos
Sonhos – a TRRS – e ainda mais a Teoria da Relatividade Generalizada dos
Sonhos – a TRGS - eram quase desconhecidas em Portugal. O sonho era
quase proibido e por isso a TRRS e a TRGS eram teorias revolucionárias
ignoradas, mas ao mesmo tempo inúteis, pois os sonhos que conseguiam
resistir eram poucos e muito pouco acelerados. E os que aceleravam um
pouco mais, bem sabemos o que lhes acontecia. Não foi por isso necessário
ao regime totalitário preocupar-se com a venda das arcas de sonhos. Muito
simplesmente não havia mercado para elas!
A situação modifica-se completamente com o 25 de Abril. Os corações
enchem-se de sonhos. Durante alguns anos os sonhadores guardam-nos aí,
mas nos anos 80 esse músculo pulsante, símbolo de vida, rebenta já pelas
costuras. Aparecem então finalmente no mercado português as arcas de
sonhos. Durante alguns anos ainda timidamente, trazidas do estrangeiro
apenas para elites abastadas, mas, a partir do início da década de 80, estes
electrodomésticos tornam-se, a pouco e pouco, cada vez mais populares.
Hoje, em Portugal, o consumo das arcas do passado e do futuro segue as
tendências de crescimento de toda a Europa.
Mas a que se deveu verdadeiramente esta necessidade crescente de
recorrer às arcas de sonhos, cujo consumo aumentou em flecha nos últimos
anos? Para o compreender é fundamental recorrer à TRRS. Vamos por isso
3
4. começar com uma breve apresentação dessa teoria, pois, apesar de ser uma
teoria comprovada e já com bastantes anos, nunca houve uma preocupação
séria na sua divulgação em Portugal e ela permanece desconhecida para a
maioria das pessoas.
Depois observaremos alguns dados disponíveis sobre os sonhos e o
consumo das arcas em Portugal depois do 25 de Abril, e tentaremos
interpretá-los com base na teoria. Por fim, tentaremos enquadrar a situação
portuguesa no contexto global da Europa e do mundo, a partir de alguns
dados de consumo de arcas em vários países da Europa e noutras regiões.
2. A Teoria Clássica dos Sonhos
Durante muito tempo pensou-se e propagou-se que o espaço e o tempo
dos sonhos eram absolutos, mensuráveis e independentes do sonhador.
Na Teoria Clássica dos Sonhos cada sonho necessita de um espaço
característico próprio para sobreviver. Este espaço é proporcional ao
tamanho do coração do sonhador. Assim, um mesmo sonho ocupará o
dobro do espaço, num sonhador com um coração com o dobro do tamanho.
Define-se espaço-referência de um sonho, como o espaço ocupado por esse
sonho num coração de tamanho unitário. Também o tempo de duração de
um sonho é absoluto e característico de um par sonhador-sonho. Define-se
tempo-referência de um sonho exactamente da mesma maneira, como o
tempo gasto por esse sonho num coração referência, de tamanho unitário.
4
5. Só depois da publicação do tratado ´O sonho e o espaço-tempo´ em 1952,
onde pela primeira vez a Teoria da Relatividade Restrita dos Sonhos foi
apresentada, foi possível estabelecer de forma clara e científica o
comportamento dos sonhos na realidade espaço-tempo e comprovar os
erros grosseiros da TCS.
3. A Teoria da Relatividade dos Sonhos – a TRRS e a TRGS
A Teoria da Relatividade dos Sonhos é constituída por uma versão
Restrita ou simplificada, a TRRS, e por uma versão posterior Generalizada,
a TRGS.
A TRRS analisa o comportamento de um sonho isolado no espaço-tempo,
deduzindo todas as expressões matemáticas que quantificam esse
comportamento, dentro e fora do coração.
A TRRS demonstrou sem ambiguidade que os conceitos clássicos são
apenas válidos enquanto o sonho tem baixas velocidades e não atinge
velocidades próximas da velocidade da loucura. Nesse caso, os efeitos da
relatividade são desprezáveis. Mas a verdade é que os sonhos no interior
do coração são sujeitos a acelerações elevadíssimas, atingindo rapidamente
velocidades para as quais os efeitos relativistas têm de ser considerados.
Essas acelerações são resultantes da pressão sanguínea causada pela
passagem do sangue das aurículas para os ventrículos. Os sonhos não
passam pelos filtros existentes entre as cavidades do coração, e são sujeitos
5
6. a um movimento de redemoinho, aumentando progressivamente de
velocidade.
A TRRS analisa o comportamento de um sonho no espaço-tempo,
quando esse sonho é considerado isoladamente, sem a interferência de
outros sonhos, ou seja, uma situação simplificada, que não reflecte
inteiramente a realidade.
A Teoria da Relatividade Generalizada dos Sonhos, a TRGS, estendeu a
TRRS a condições reais, onde coexistem muitos sonhos interagindo. A
TRGS já considera a influência de outros sonhos e de outros sonhadores.
Essa presença produz uma chamada deformação do espaço-tempo dum
sonho. No entanto, a TRGS, pela sua complexidade e especificidade, não foi
considerada no estudo realizado e não será, por isso, apresentada com
detalhe neste artigo. O estudo teve, por razões de tempo e de recursos, de
recorrer a um modelo simplificado.
Teria sido no entanto muito interessante, alargar o âmbito desse estudo e
analisar a forma como vários sonhos ainda pouco acelerados foram
deformados no espaço-tempo pela presença próxima, dominadora de
alguns sonhos já muito acelerados. Teria sido extraordinário poder
confirmar a teoria defendida por alguns hiperfísicos de que alguns grandes
sonhos no fim da década de 70, princípio da de 80, agregaram à sua volta
miríades de pequenos sonhos, criando buracos negros oníricos. Esses
buracos negros oníricos teriam sugado um grande número de sonhos da
época que misteriosamente desapareceram, sem deixar qualquer rasto. Será
6
7. talvez matéria para um próximo projecto de investigação, se existir vontade
política para o viabilizar.
3.1 A TRRS para os sonhos no coração
De acordo com a TRRS que acontece a um sonho dentro do coração,
quando a sua velocidade aumenta?
A teoria deduziu que o espaço ocupado pelo sonho se contrai, quando a
velocidade cresce, tal como se pode observar na expressão (1), onde v
representa a velocidade de paixão do sonho, e c a velocidade da loucura.
(1)
Para velocidades baixas, a diminuição do espaço é insignificante, mas à
medida que a velocidade se aproxima da velocidade da loucura, o espaço
contrai-se significativamente, criando lugar para outros sonhos dentro do
coração como se pode observar na figura 1.
7
8. Figura 1 – Variação do espaço ocupado por um sonho referência com a velocidade
Em teoria, à velocidade da loucura, o espaço ocupado por cada sonho
seria nulo, cabendo no coração do sonhador um número infinito de sonhos!
E o tempo de duração do sonho? Ao contrário do espaço, a TRRS
demonstrou que o tempo se expande com a velocidade, como se observa na
expressão (2).
(2)
À medida que a velocidade cresce, o tempo de duração do sonho dilata
até se tornar infinito, quando se atinge a velocidade da loucura, como se
observa na figura2.
8
9. t0
v c v = c
Figura 2 - Tempo de duração de um sonho dentro do coração em função da
velocidade
Este fenómeno explica por que razão, quando a velocidade de um sonho
atinge valores significativos, este dura muito tempo, para além da morte do
sonhador.
As expressões (1) e (2) quantificam os conhecidos fenómenos de
contracção do espaço e de dilatação do tempo a velocidades elevadas.
Mas a TRRS provou também que a massa do sonho, e portanto
igualmente o esforço desenvolvido pelo sonhador, se expandem com a
velocidade, de forma idêntica ao tempo, como se observa no expressão (3).
(3)
9
10. Portanto à velocidade da loucura, os sonhos no coração não ocupam
espaço, duram um tempo infinito, e têm uma massa também infinita!
Um sonhador, acelerando os sonhos à velocidade da loucura, poderia
transportar no coração um número infinito de sonhos, que o ocupariam a
todo o tempo e lhe consumiriam toda a energia.
Por isso, a TRRS apresenta esta velocidade como um limite teórico, mas
impossível de atingir por um sonho, pois exigiria do sonho uma energia a
tender para o infinito para continuar a acelerar!
3.2 A TRRS para os sonhos fora do coração
Em nome do rigor científico que norteia este trabalho teremos de
começar por fazer uma observação importante para esta situação. Para os
sonhos fora do coração dever-se-á falar não em velocidade de paixão do
sonho e como seu limite teórico na velocidade da loucura, mas em
velocidade de despaixão do dessonho e velocidade da desloucura. Esta
diferença subtil no comportamento dos sonhos, dentro e fora do coração, só
foi completamente compreendida com o desenvolvimento de uma outra
teoria, a Teoria Quântica dos Sonhos, a TQS de Heisentraum. Heisentraum,
um bom amigo, infelizmente entretanto desaparecido, é conhecido
sobretudo pelo famoso Princípio da Incerteza Onírica de Heisentraum1. Foi
1 1Heisentraum aqueceu um sonho ao rubro e colocou-o a rodar à volta do coração a alta velocidade. Previu com rigor a posição do
sonho passadas 24 horas. Ao tentar confirmar os cálculos efectuados, encontrou sistematicamente um desvio significativo. Esse
desvio variava, dentro de determinados limites, cada vez que fazia uma experiência. Depois de ter confirmado e reconfirmado os
cálculos, pensando tratar-se de um erro de medição, aproximou-se do sonho para o poder observar de mais perto, e surpreendido
constatou que o erro aumentava. Percebeu então que a sua presença afectava os resultados da observação, tendo então formulado o
famoso princípio da incerteza que viria a ter o seu nome. Devido a este princípio Heisentraum é por muitos mal amado, tendo-se
inventado histórias incríveis a seu respeito. Propaga-se por exemplo desavergonhadamente que Heisentraum teria inventado o
10
11. ele quem introduziu o conceito de spin2 aos sonhos. Pela sua complexidade,
também não nos iremos debruçar neste artigo sobre a TQS e sobre a sua
relação com o comportamento singular dos sonhos, quando fora do
coração.
Mas então, o que acontece a um sonho fora do coração? A resposta é-nos
dada mais uma vez pela TRRS: um sonho fora do coração também tem
tendência para acelerar. Curiosamente esta aceleração é tanto maior quanto
maior for a distância ao coração do sonhador, como se pode observar na
expressão (4), onde a é a aceleração do sonho, e d a sua distância ao coração
do sonhador.
(4)3
a=Kd1/2a=kd1/2a=kd1/2a=kd1/2 a=kd1/2
Mas essa aceleração é em condições normais muito pequena e a
velocidade aumenta muito lentamente!
princípio da incerteza para ganhar ao póker de dados, jogo em que seria terrivelmente viciado. Conta-se ainda que eu, num
momento de fúria, estando a perder tudo, teria gritado com fúria “Não volto a jogar os dados com Deus!” (Nota: Heisentraum era
conhecido junto dos colegas por Deus, devido às suas longas barbas brancas inconfundíveis).
2 O conceito de spin de um sonho, tal como quando aplicado a qualquer partícula do Universo, indica o seu aspecto quando visto de
diferentes lados. Um sonho de spin 0 será igual visto de qualquer lado. Pelo contrário, se o spin for 1 será diferente de todos os
lados: Se o rodarmos só voltará a ser o mesmo ao fim de 360 graus. Se se conseguisse um sonho de spin 2, bastaria rodar 180 graus,
de spin 3 120 graus, e assim sucessivamente. Ora, enquanto o sonho acelerado dentro do coração tem um spin 0, fora do coração
adquire um spin 1, chamando-se por isso um dessonho. Ainda não foram descobertos sonhos com outros valores de spin. É por
adquirir um spin 1 que se torna tão difícil recuperar sem deformação o sonho original, a partir do dessonho em que se transformou,
ao guardá-lo fora do coração. Muitas vezes, por simplicidade, a palavra sonho é utilizada num sentido global, designando sonhos e
dessonhos. Ter-se-á no entanto de ter o cuidado de não deixar qualquer dúvida se se fala de sonhos dentro ou fora do coração, pois
têm comportamentos muito diferentes.
3 A constante K é pessoal e intransmissível. Medidas feitas com milhares de sonhadores provaram o resultado que já tinha sido
previsto pela TRRS: K é proporcional à massa do coração do sonhador somada à massa de todos os sonhos, que aí guarda em cada
momento. Esta constante é no entanto em condições normais bastante pequena, pelo que o aumento da velocidade dos sonhos se faz
lentamente, a menos que se utilizem aceleradores artificiais.
11
12. A TRRS mostrou também que à medida que a velocidade da despaixão
de um dessonho fora do coração aumenta, o espaço por ele ocupado se
contrai, de forma idêntica à observada para os sonhos, na expressão (1).
Mas, ao contrário do que acontecia com os sonhos, o tempo de duração e
a massa do dessonho, e consequentemente o esforço desenvolvido pelo
sonhador, contraem-se também, como se observa nas expressões (5) e (6),
onde v representa neste caso a velocidade de despaixão do dessonho, e c a
sua velocidade de desloucura. Tal significa que também a evolução do
tempo e da massa de um dessonho, com a velocidade, é idêntica à que
vimos para o espaço na figura 1.
Para os sonhos fora do coração, o espaço, o tempo e a massa diminuem,
quando o sonho acelera e a velocidade aumenta!
(5)
(6)
Conclusão: À velocidade limite os dessonhos ocupariam um espaço
nulo e teriam uma duração e uma massa também nulas!
As expressões (1) a (6), que apresentámos, quantificam o comportamento
dos sonhos e dos dessonhos no espaço-tempo.
12
13. 4. As arcas de sonhos
É nos resultados apresentados pela TRRS para os dessonhos que se
baseiam as hoje vulgarizadas e populares arcas de sonhos,
electrodomésticos utilizados para guardar os sonhos de um sonhador no
passado ou no futuro.
Como vimos, os dessonhos, ao contrário dos sonhos, quando aceleram, e
isto é muito importante pois constitui a base teórica que justifica a utilidade
das arcas de sonhos, pesam cada vez menos no coração do sonhador, e
ocupam-no cada vez menos em espaço e tempo. Mas, em condições
normais, como referimos, a aceleração dos sonhos fora do coração é muito
pequena e por isso esta evolução é extremamente lenta. Os sonhos
demorariam toda a vida a perder um pouco do espaço e do tempo que
ocupam, o que limita as potencialidades dos velhos baús de sonhos.
As arcas ultrapassam esta limitação:
• recorrendo a aceleradores artificiais num campo de gravitação
muito forte, conseguem tornar os efeitos, resultantes do aumento
da velocidade, muitíssimo mais rápidos, diminuindo assim muito
rapidamente o espaço ocupado, o tempo de duração, e a massa de
um sonho guardado no seu interior;
• simulando as condições de singularidade para a viagem no tempo,
fazem os sonhos viajar para o passado ou para o futuro.
13
14. Os resultados comprovados, obtidos pelas arcas, constituíram mesmo a
primeira e verdadeira confirmação experimental de toda a teoria da
relatividade.
Existem, como se sabe, basicamente dois tipos de arcas:
• arcas do passado, indicadas para sonhos totalmente indesejáveis.
Os sonhos acelerados entram rapidamente no passado, destruindo
a recordação no sonhador, e acabando por não deixar quaisquer
resíduos não recicláveis;
• arcas do futuro. Graças a elas, livramo-nos facilmente de sonhos
inoportunos, mas mantendo no entanto viva a ilusão de estarem
disponíveis no futuro, se viermos a precisar deles.
Não é por acaso que as arcas do futuro, ao manterem a ilusão de
disponibilidade de um sonho, são toleradas, mesmo populares, entre
alguns intelectuais da chamada esquerda, em especial duma esquerda
moderna e pós-moderna, ao contrário dos mais ortodoxos que rejeitam
qualquer tipo de arca e contrapõem os corações ou, quando muito, os
velhos baús de sonhos.
5. As Arcas de Sonhos e o 25 de Abril em Portugal
Após esta breve visita à TRRS talvez possamos compreender em parte o
que aconteceu em Portugal após o 25 de Abril.
Antes de tudo é interessante realçar uma vez mais que ainda não foi feito
um estudo científico aprofundado, baseado na TRRS e TRGS, para a
14
15. experiência portuguesa pós 25 de Abril. Os poucos dados que conseguimos
reunir aqui e ali, no entanto, são extremamente interessantes e permitem-
nos observar alguns fenómenos significativos.
Figura 3 - Evolução do número de arcas em Portugal
ANO n.arcas passado / 100 hab. n.arcas futuro / 100 hab.
1980 0,02 0,08
1982 1 2
1984 2 4
1986 5 7
1988 8 8
1990 17 10
1992 19 12
1994 24 16
1996 24 15
1998 27 18
2000 31 22
2002 42 31
2004 80 62
2006 99 80
Tabela 1 - Evolução do número de arcas em Portugal4
4 Dados oficiais da AVAP – Associação dos Vendedores de Arcas em Portugal. O valor para 2006 constitui uma estimativa.
15
16. Comecemos por atentar nos dados relativos à evolução do consumo de
arcas em Portugal, representados na figura 3 e listados na tabela 1.
Como se observa, até 1980, apesar de a TRRS ser conhecida em Portugal e
os artigos e revistas da especialidade serem discutidos entre os académicos,
as arcas não são comercializadas. Há apenas alguns exemplares trazidos do
estrangeiro por algumas pessoas curiosas e ávidas de conhecer tudo o que
fosse moda na Europa. E as arcas já eram um artigo popular em muitos
países europeus.
Mas na década de 80 os sonhos, já demasiado acelerados, tornam-se
insuportáveis e o consumo aparece e aumenta durante toda a década. De
início, o consumo das arcas do futuro, apesar de mais caras e menos
eficientes, aumenta mais rapidamente do que o consumo de arcas do
passado. Isto dever-se-á, em particular, ao facto de a princípio serem
sobretudo os intelectuais que compram as arcas, que são uma novidade, e,
porventura, por de início se recusarem a lançar definitivamente no passado
os sonhos que carregaram durante anos. Mas a situação logo se inverte com
a massificação do consumo e com o desalento dos intelectuais.
Um outro aspecto importante a analisar tem a ver com as características
dos sonhos. Como se observa na figura 4 e na tabela 2, após o 25 de Abril
predominavam os sonhos de grande dimensão espaço-temporal. Eram por
isso sonhos que tinham tempo para ser muito acelerados, reforçando todos
os fenómenos descritos atrás.
16
17. Figura 4 – Evolução da duração media de um sonho em Portugal
Ano Duração média de um sonho em meses
1980 140,1
1982 96,2
1984 48,3
1986 24,5
1988 12,7
1990 6,6
1992 4,5
1994 2,0
1996 2,5
1998 1,5
2000 1,3
Tabela 2 – Evolução da duração media de um sonho em Portugal5
5 Dados disponibilizados pelo Departamento de Hiperfísica da FEUP.
17
18. Esta situação tornou-se insustentável a partir dos anos 80 e o mercado
das arcas floresceu, para guardar estes sonhos de grande velocidade, como
vimos.
Mas os sonhadores necessitam de sonhos, pois o coração vazio mirra e
definha, sendo a origem de um conjunto vasto de doenças, bem conhecidas
dos médicos oniritologistas. Houve por isso necessidade de criar sonhos de
pequena dimensão e de pequena duração. Sonhos para usar e deitar fora.
Floresce então uma nova indústria produtora de sonhos de consumo: um
novo automóvel, umas férias nos mares do sul, um microondas, uma casa
de praia em Vila Moura, um lugar de administrador de uma qualquer
empresa pública ou privada, uma reforma na CGD, um lugar de consultor,
ministro, secretário de estado, deputado, presidente de câmara ou de junta,
de vereador, etc..
É também neste panorama de sonhos curtos, quando a tendência inicial
se inverte e as arcas do passado em vez das arcas do futuro já dominam
claramente o consumo, que surgem os primeiros movimentos eco-oníricos
em Portugal, procurando recuperar sonhos de grande dimensão espaço-
temporal. Manter um sonho acelerado nos corações durante muito tempo
tornara-se a partir de determinada altura – na década de 80 - um projecto
demodé para a maioria das pessoas e claramente indesejável para o poder.
Na origem destes movimentos está uma tentativa de oposição ao
consumo cada vez mais massificado das arcas, sobretudo de arcas do
passado, mas teremos de ver aqui, porventura também, alguma influência
18
19. de movimentos idênticos, já com alguma expressão noutros países da
Europa. Em Portugal alguns grupos muito restritos de pessoas escolheram
alguns sonhos de pequeno formato, em tons de azul. Os sonhos em tom
azul mar são os que aceleram mais rapidamente; o comprimento de onda
do azul mar está em ressonância com as dimensões médias do coração de
um sonhador português. Os poetas perceberam-no há muito, sem precisar
da TRRS. Esses eco-oniristas pegaram em pequenos sonhos em tons de
azul, mas de grande dimensão espaço-temporal potencial, e aceleraram-
nos, procurando reparti-los pelos seus corações, pensando que a aceleração
de um sonho dividido seria mais fácil de suportar. Mas o sonho sempre
acelerou de forma diversa nos vários corações, se desequilibrou, pesou
demasiado nalguns e hoje temos esses sonhos recuperados repartidos, não
só por corações, mas também em arcas do passado, arcas do futuro e velhos
baús.
Voltando à evolução das tendências no consumo em Portugal, que
observámos, será também curioso observar a forma como evolui o consumo
em Portugal durante a década de 90, com um crescimento inicial a ritmo
constante, mas com uma estabilização inesperada entre 94 e 96, que pode
ser confirmada nas figuras 3 e 4, mas que rapidamente retoma o índice de
crescimento anterior. Se nos lembramos, durante esses dois anos, velhos
sonhos adormecidos foram despertados pelos Estados Gerais de
Sonhadores. Foram, como sabemos, rapidamente postos a dormir
novamente. E os que não queriam adormecer, arcas com eles!
Transformaram mesmo, numa operação de grande envergadura e de
19
20. tecnologia muito avançada, um grande pavilhão numa arca de sonhos
gigante. Por isso, esse Pavilhão Multi-Usos passou a ser conhecido pelos
sonhadores como o Pavilhão-Arca!
Depois desta pequena perturbação o consumo voltou a crescer
regularmente ao ritmo anterior, até ao ano 2002, ano em que surge uma
outra perturbação. De 2002 a 2004 a procura foi tão grande que provocou
sérias rupturas de stocks. Curiosamente durante este período houve apenas
uma pequena inversão na tendência de procura, durante duas semanas de
Junho de 2004, coincidentes com a 2ª fase do Euro 2004. A procura
desenfreada das arcas de 2002 a 2004 originou uma alta de preços nunca
vista. As arcas eram vendidas no mercado negro. Não havia fiscalização.
Foram vendidas arcas do passado por arcas do futuro. Os números oficiais
de que dispomos podem portanto não traduzir toda a verdade. Época de
crise, mas de grandes negócios para a banca e para os construtores e
vendedores de arcas. Curiosamente quase sempre os mesmos!
Por último, analisando os dados relativos às vendas mensais de arcas,
disponibilizados pela AVAP, Associação dos Vendedores de Arcas em
Portugal, mas que ainda não foram publicados, será curioso observar uma
ligeira tendência de abrandamento no consumo em Fevereiro de 2005. Esta
tendência durou 3 meses. A partir de Junho de 2005 assiste-se de novo ao
crescimento do consumo a ritmos anteriores. Nem o período de férias de
verão, que costuma provocar um ligeiro decréscimo neste ritmo, se fez
20
21. sentir em 2005! Os valores estimados para o final de 2006 pela AVAP
reflectem os ritmos de crescimento anteriores a 2002.
6. As arcas no resto do mundo
É também muito interessante observar alguns dados públicos sobre o
consumo das arcas e as tendências de evolução na Europa e noutras partes
do mundo e tentar comparar com a realidade portuguesa.
6.1 Portugal e a Europa
Como se constata na figura 5, em Portugal em 1975 não havia arcas, mas
no ano 2000 a tendência de consumo de arcas segue o padrão dos países
europeus mais ricos, ainda que atrasada alguns anos.
Figura 5 – Evolução do consumo na Europa (1975/2000)
21
22. Arcas Passado Arcas Futuro Arcas Passado Arcas Futuro
Ano Portugal % Portugal % França França
2000 31 32,0 22 23,9 97 92
2002 42 42,4 31 32,6 99 95
2004 80 79,2 62 63,9 101 97
2006 99 95,2 80 80,0 104 100
Tabela 3 – Comparação da evolução do consumo em Portugal e em França6
A partir dos dados publicados em diversos países da comunidade
europeia é muito fácil concluir que desde o ano 2000 todos os parâmetros
de consumo de arcas em Portugal têm tido uma aproximação progressiva
aos padrões europeus, como se observa na tabela 3, para o caso da
comparação com a França. Em 2004 o consumo de arcas do passado em
Portugal teve um valor de cerca de 80% do valor francês, e o valor esperado
para 2006 será já de 95%, isto quando no ano 2000 o consumo português era
de apenas 32% do consumo francês. Este facto ainda é mais relevante pois
esta convergência contraria o que acontece com muitos outros indicadores
padrão em que, como se sabe, o atraso português se tem mantido ou
acentuado. Esta discrepância parece demonstrar a importância que os
portugueses dão à posse das arcas, um bem a que dão prioridade
relativamente a quase todos os outros bens de consumo!
6 Os dados relativos a França foram fornecidos pela congénere da AVAP em França.
22
23. 6.2 A América e o 3º mundo7
Como compreender a situação nos EUA, onde em média cada americano
tem várias arcas, espalhadas pelos compartimentos da casa, quando
olhamos para o que se passa em África?
Figura 6 – Consumo na América e África
E como se constata na figura 7 também os afegãos, os palestinos, tal como
os tchetchenos, os curdos, os sarauhis não têm arcas. São obrigados a
carregar todos os muitos sonhos ultra-acelerados dentro do coração, até ao
coração rebentar e os sonhos serem cuspidos em todas as direcções.
7 Os dados relativos à América e a vários países do 3º mundo têm procedências diversas.
23
24. Figura 7 – Consumo no Afeganistão e Palestina
6.3 O consumo de arcas como indicador de crise social
É interessante verificar a forma como perturbações dos índices de
consumo de arcas parecem estar correlacionadas com situações de crise
social, podendo constituir um critério para as detectar e melhor as
compreender.
Os dados relativos à evolução do índice de consumo8 na Alemanha ao
longo do ano de 2001 permitem evidenciar essa correlação. Observando a
figura 8 e a tabela 4 (dados fornecidos pela DTVG - Deutsche
Truhenverkaufsgemeinschaft), apercebemo-nos de que o consumo na
Alemanha se manteve estável de Janeiro a Junho mas que, à semelhança do
que acontece todos os anos, desceu muito durante os meses de Verão, que
coincidem com férias. Mas nesse ano, por razões facilmente identificadas,
8 O índice de consumo nestes dados divulgados pela DTVG mede em percentagem a relação entre o consumo real e a previsão do
consumo médio mensal, feita no ano anterior pela DTVG.
24
25. cresceu abruptamente nos meses após Setembro 2001, em vez de regressar
aos patamares da Primavera, como em anos anteriores, só estabilizando e
regressando aos valores normais no ano seguinte.
Figura 8 – Índice de consumo de arcas ao longo do ano 2001 na Alemanha
Mês Índice consumo arcas passado Índice consumo arcas futuro
Jan 100 110
Fev 102 111
Mar 101 109
Abr 99 106
Mai 102 108
Jun 100 107
Jul 88 95
Ag 60 80
Set 140 120
Out 155 130
Nov 180 150
Dez 200 170
Tabela 4 - Índice de consumo de arcas ao longo do ano 2001 na Alemanha9
6.4 A situação na Alemanha
A Alemanha é por várias razões também um caso interessante para
análise. Por um lado é um dos países europeus onde há movimentos eco-
9 Dados fornecidos pela DTVG - Deutsche Truhenverkaufsgemeinschaft.
25
26. oníricos mais fortes e há mais tempo. Por outro lado sofreu um processo de
reunificação recente, juntando duas realidades sociais muito diferentes.
A figura seguinte e a tabela 5 permitem-nos analisar a influência
crescente na Alemanha, como noutros países da Europa, de organizações
onírico-ecologistas. Em particular na Alemanha a influência da organização
internacional “O Baú Verde” (DGK – Der Grüne Kasten).
Figura 9 – Evolução do consumo de arcas na Alemanha
n.arcas passado ex-RFA/ n.arcas futuro ex-RFA/ n.arcas passado ex-RDA/ n.arcas futuro ex-RDA/
ANO 100 hab. 100 hab. 100 hab. 100 hab.
1988 72 72 - -
1990 96 105 0,5 0
1992 108 110 5 2
1994 115 112 30 8
1996 112 112 65 12
1998 100 112 104 16
2000 100 112 125 18
Tabela 5 – Evolução do consumo de arcas na Alemanha10
10 Dados fornecidos pela DTVG - Deutsche Truhenverkaufsgemeinschaft.
26
27. Os dados são muito curiosos. No final dos anos 80 o consumo de arcas do
passado nas zonas fazendo parte da ex-RFA começava a descer de uma
forma acentuada e o consumo de arcas de futuro ultrapassava o das arcas
do passado. “Reciclar sonhos” é uma das palavras de ordem mais
populares da facção menos fundamentalista de “O Baú Verde”. Ao
contrário, nas zonas integradas na ex-RDA, o consumo das arcas do
passado cresce ainda rapidamente, ultrapassando mesmo os valores para as
populações da ex-RFA no final dos anos 90, enquanto as arcas do futuro
têm ainda índices de consumo incipientes.
7. Algumas conclusões
Não há ainda hoje um estudo alargado e fundamentado, aplicando a
TRRS à experiência revolucionária em Portugal após o 25 de Abril.
Poder-nos-emos questionar porquê.
Talvez porque as velhas ideias acerca dos sonhos e a Teoria Onírica
Clássica ainda têm tanta força.
Talvez porque cada um de nós tem dificuldade em aceitar que não sabe
gerir os seus sonhos, ora agarrado aos velhos baús, ora atraído pela
modernidade das arcas do futuro, ou pelo consumo fácil das arcas do
passado.
Talvez porque não há interesse por parte do poder político em admitir
que hoje quase não há sonhos de grande dimensão/duração, mas apenas
pequenos sonhos de consumo mais ou menos fácil, de sonhar e deitar fora.
27
28. Talvez porque os políticos, por mecanismos inconscientes de autodefesa,
pretendam prolongar esta situação de obscurantismo onírico, receando
uma sensação generalizada de frustração e de desconforto em vez da
euforia do consumo, ou ainda pior, uma necessidade de mudança profunda
em vez desta sensação de destino incontrolável.
Talvez tudo isso explique por que razão também nos restantes países da
Europa e do mundo, e não só em Portugal, esses estudos quase se não
realizem.
Talvez pela mesma razão haja cada vez mais gente no mundo, ou talvez
melhor, do outro lado do mundo, com sonhos ultra-acelerados, mas sem
arcas, nem sequer velhos baús onde os guardar.
Continua por isso a ser pertinente propor, tal como fizemos em 1999
quando iniciámos este estudo sobre a situação onírica em Portugal, a
pedido do Departamento de Hiperfísica da Universidade do Porto:
• A realização em Portugal de um estudo aprofundado sobre o
sonho, os sonhadores e a sua história no pós 25 de Abril,
completando o estudo iniciado em 1999;
• Avaliar com base na TRGS a deformação espaço-temporal de
pequenos sonhos, provocada por sonhos de grande dimensão e
comprovar a criação de buracos negros oníricos em Porugal nas
décadas de 70 e 80;
28
29. • O lançamento pela Universidade Portuguesa de um grande
projecto de investigação sobre o microsonho a altas velocidades e a
hiperfísica do microsonho;
• A aquisição pelo Ministério da Ciência de um ultra-acelerador de
sonhos no âmbito desse projecto. As verbas envolvidas são
insignificantes comparadas com um só quilómetro de auto-estrada
ou de um viaduto, para não falar da OTA ou do TGV. Feitos os
cálculos, um quarto do custo de uma carruagem de um comboio
TGV seria mais do que suficiente;
• A aceleração de um grande sonho nacional de elevado potencial
espaço-temporal;
• A criação de mestrados e de vários projectos de doutoramento
associados ao projecto;
• Propor aos Ministérios da Cultura, da Educação e da Ciência, às
autarquias a organização de cursos científicos de Gestão Total de
Sonhos - GES-TO-S – para sonhadores desorganizados.
REFERÊNCIAS
Albert Eintraum(1952), ´O sonho e o espaço-tempo´, onde há cinquenta e três anos se apresentou pela primeira vez a
Teoria da Relatividade Restrita dos Sonhos
Albert Eintraum (1958), ´O sonho acelerado’, onde se apresentou a Teoria da Relatividade Generalizada dos Sonhos.
Werner Heisentraum (1962), “ A Teoria Quântica do Sonho”
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