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Prática Curricular IV: Fontes
 Escritas, visuais e sonoras-
 construindo texto didático



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Prática Curricular IV



                                    FACETE – FACULDADE DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARÁ
                                    CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
                                    DISCIPLINA: PRÁTICA CURRICULAR IV (FONTES ESCRITAS VISUAIS E
                                    SONORAS – CONSTRUINDO TEXTOS DIDÁTICOS)
                                    PROFESSOR:

                                    EMENTA


                                                                     “A História do Historiador”
                                                 Introdução ( ou, sobre o que precisamos considerar ao trabalhar com História)
                                                 Passado e memória dão conteúdo, identidade e espessura a todos os humanos. Por
                                    mais isolado que se encontre um grupo, uma comunidade ou mesmo um só indivíduo, todos
                                    estão imbuídos de um passado, de uma memória e de uma história. A história de si mesmos é
                                    também a história da vinculação com determinado tempo e espaço. A história pessoal de cada
                                    um inevitavelmente terá raízes numa história externa, mais ampla, mais difusa, imbricada com
                                    o social, o econômico, com as estruturas da cultura, nem sempre perceptível no plano da
     2                              consciência individual. É justamente da tradução dessas histórias através de narrativa
                                    coerente, elaborada a partir de elementos concretos, não ficcionais, com bases num múltiplo e
                                    complexo inter-relacionamento entre tempo, espaço e a expressão dos grupos humanos, que
                                    se ocupará o historiador. O historiador não será o guardião da memória individual, ou
                                    memorialista, mas aquele que ao indagar, capta o sentido da construção de uma memória
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                                    social no tempo, criando uma imagem do passado. Neste sentido a memória é documento, não
                                    produto final.
                                                 Assim como o conteúdo da história não é o indivíduo isolado, tampouco o
                                    historiador expressará uma subjetividade ilimitada na sua captação do passado. Pelo simples
                                    fato de participar de um passado realizado no presente, de pertencer ou se projetar num
                                    determinado grupo social, seu trabalho expressará uma historicidade intrínseca na escolha de
                                    temas, na abordagem, na leitura da documentação, no processo de reflexão convertido num
                                    contexto. Paradoxalmente, nesta condenação do historiador ao presente situa-se a eternidade
                                    de um passado que nunca se esgota. Caso contrário, a história da Grécia, por exemplo, teria
                                    sido escrita por Homero e ponto final. No entanto, cada século reelaborou a história da Grécia
                                    dentro de suas perspectivas e possibilidades. Nos limites entre a ―consciência possível‖ e a
                                    ―consciência real‖ próprias e de seu tempo, o historiador busca no passado a consciência de
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                                    seu tempo.
                                                 O historiador, diante da necessidade de organizar seu pensamento, seu
                                    entendimento, cria medidas e categorias de tempo, organiza esse tempo em função de fatos,
                                    de ciclos, de épocas, de estruturas. Dessa forma, acrescenta uma noção de tempo diversa
                                    daquela vivida pelas comunidades, ou seja,, o tempo jamais é único no estudo da história, é
                                    desigual e particular a cada sociedade, a cada momento e a cada espaço.É físico e metafísico.
                                    Pode até mesmo não existir.
                                                 Dependendo de suas crenças, é possível a uma sociedade conceber um mundo
                                    sem passado, num eterno presente em que passado e futuro se fundem. No Egito, na China, há
                                    deuses que significam o próprio tempo, um tempo contínuo, seria um não-tempo divino que
                                    interpreta o cotidiano.
                                                 Na cultura do cristianismo, o tempo existe na esfera do humano, fora da
                                    divindade, que é eterna...
                                                 (QUEIROZ, Tereza Aline P. e IOKOI, Zilda Márcia G. A História do Historiador.
                                    São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 1999. P.07 a 12, Introdução).
Prática Curricular IV



            Um pouco sobre o ensino da História no Brasil
            A partir da constituição do Estado brasileiro a História tem sido um conteúdo
constante do currículo da escola elementar. O texto do decreto revelava que a escola
elementar destinava-se a fornecer conhecimentos políticos rudimentares e uma formação
moral cristã à população. A História a ser ensinada compreendia História Civil articulada à
História Sagrada.
            A constituição da História como disciplina escolar autônoma ocorreu apenas em
1837, com a criação do Colégio Pedro II, o primeiro colégio secundário do país, que apesar de
público era pago e destinado às elites e apenas a História Universal. A História do Brasil foi
introduzida no ensino secundário depois de 1855 e, logo após, foram desenvolvidos
programas para as escolas elementares.
            No final da década de 1870 foram feitas novas reformulações dos currículos das
escolas primárias visando criar um programa de História Profana, mais extenso e eliminar a
História Sagrada.
            Os métodos de ensino estão aplicados nas aulas de História eram baseados na
memorização e na repetição oral dos textos escritos. Os materiais didáticos eram escassos,           3
restringindo-se à fala do professor e aos poucos livros didáticos com perguntas e respostas,
facilitando as argüições. Desse modo, ensinar História era transmitir os pontos estabelecidos
nos livros, dentro do programa oficial, e considerava-se que aprender História reduzia-se a
saber repetir as lições recebidas e prontas.
            Pulando o século XIX, a partir de 1930, o ensino de História era idêntico em todo




                                                                                                 www.facete.com.br
o país, dando ênfase ao estudo de História Geral, sendo o Brasil e a América apêndices da
civilização ocidental.com o processo de industrialização e urbanização se repensou sobre a
inclusão do povo brasileiro na História.
            Nos programas e livros didáticos, a História ensinada incorporou a tese da
democracia racial, da ausência de preconceitos raciais e étnicos. Nessa perspectiva, o povo
brasileiro era formado por brancos descendentes de portugueses, índios e negros, e, a partir
dessa tríade, por mestiços, compondo conjuntos harmônicos de convivência dentro de uma
sociedade multirracial e sem conflitos, cada qual colaborando com seu trabalho para a
grandeza do país.
            Ao longo desse período, poucas mudanças aconteceram em nível metodológico.
Apesar das propostas escolanovistas de substituição de métodos mnemônicos pelos métodos
ativos, com aulas mais dinâmicas, centradas nas atividades do aluno, com a realização de

                                                                                                 Faculdade de Educação Teológica -
trabalhos concretos como fazer maquetes, visitar museus, assistir a filmes, comparar fatos e
épocas, coordenar os conhecimentos históricos aos geográficos.
            Os métodos tradicionais de ensino têm sido questionados com maior ênfase. Os
livros didáticos, difundidos amplamente e enraizados nas práticas escolares, passaram a ser
questionados em relação aos conteúdos e exercícios propostos. A simplificação dos textos, os
conteúdos carregados de ideologias, os testes ou exercícios sem exigência de nenhum
raciocínio são apontados como comprometedores de qualquer avanço que se faça no campo
curricular formal. Dessa forma, o ensino de História atualmente está em processo de
mudanças substantivas em seu conteúdo e método.
            Reafirmar a importância do currículo, não desprezando totalmente os livros
didáticos disponíveis já que alguns são de boa qualidade, mas atentando para a importância do
historiador produzir, a partir de um sólido referencial teórico, novos subsídios nascidos da
observação atenta e crítica dos fatos históricos, textos didáticos novos que contemplem
diversas fontes escritas visuais e sonoras são o que pretende esta disciplina.

           OBJETIVO GERAL: Capacitar aos futuros historiadores construírem, a partir de
um sólido referencial teórico-histórico apreendido durante o curso e se utilizando das fontes
Prática Curricular IV



                                    escritas visuais e sonoras, textos didáticos que possibilitem aos seus alunos a realização de
                                    leituras críticas dos espaços, das culturas e das histórias do seu cotidiano.
                                                  OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
                                                  - Orientar aos professores a construção de um material didático que privilegie a
                                    história crítica, pretendendo desenvolver com os alunos atitudes intelectuais de
                                    desmistificação das ideologias, possibilitando a análise das manipulações dos meios de
                                    comunicação de massas e da sociedade de consumo.
                                                  - Possibilitar a hetero-crítica dos livros didáticos e questioná-los e relação aos
                                    conteúdos e exercícios propostos: a simplificação dos textos, os conteúdos sem nexo, os
                                    exercícios sem exigência de nenhum raciocínio, imprópria iconografia e outros fatores que
                                    denigram o ensino-aprendizagem da História.

                                                CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
                                    1- Conceitos de currículo e de referencial teórico;
                                    2- Prática de produção de texto didático utilizando as normas da ABNT (Associação
                                    Brasileira de Normas Técnicas) e o correto manuseio das fontes escritas visuais e sonoras;
                                    3- Como fazer pesquisa bibliográfica relacionando com o assunto pesquisado.
     4

                                                METODOLOGIA/ATIVIDADES
                                                A disciplina Prática Curricular IV priorizará atividades que possibilitem a
                                    construção de textos didáticos além de atividades em grupo, pesquisas e confecção de painéis
                                    e outros.
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                                                O Ensino e a aprendizagem da História estão voltados, inicialmente, para
                                    atividades em que os alunos possam compreender as semelhanças e as diferenças, as
                                    permanências e as transformações no modo de vida social, cultural e econômico no presente e
                                    no passado, mediante a leitura de diferentes obras humanas.
                                                O trabalho do professor consiste em introduzir o aluno na leitura das diversas
                                    fontes de informação: registros escritos, iconográficos e sonoros, para que adquira, pouco a
                                    pouco, autonomia intelectual. O percurso do trabalho escolar inicia, dentro dessa perspectiva,
                                    com a identificação das especificidades das linguagens dos documentos – textos escritos,
                                    desenhos, filmes -, das simbologias e das formas de construções dessas mensagens.
                                                Para tal tarefa é necessário que ao construir os textos didáticos a utilização de
                                    vários materiais não só de origem canônica (sociais, culturais, artísticos, religiosos), mas
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                                    também requer o estudo de novos materiais (relatos orais, imagens, objetos, danças, músicas,
                                    narrativas) que devem se transformar em instrumentos de construção do saber histórico.
                                                 Privilegiar, portanto, na construção dos textos didáticos de modo geral o trabalho
                                    com fontes documentais – fotografias, entrevistas, pesquisa bibliográfica, formulação de
                                    hipóteses, comparação de informações e perspectivas diferentes sobre um mesmo
                                    acontecimento, teatro, murais, quadros cronológicos, debates, mapas, filmes, depoimentos,
                                    edificações, objetos de uso cotidiano – é necessário desenvolver trabalhos específicos de
                                    levantamento e organização de informações, leitura e formas de registro.
                                                Os documentos são fundamentais como fontes de informações a serem
                                    interpretadas, analisadas e comparadas. São cartas, livros, relatórios, diários, pinturas,
                                    esculturas, fotografias, filmes, músicas, lendas, falas, espaços, construções arquitetônicas ou
                                    paisagísticas, instruções e ferramentas de trabalho, utensílios, vestimentas, restos de
                                    alimentos, habitações, meios de locomoção. São, ainda,os sentidos culturais, os estéticos,
                                    técnicos e históricos que os objetos expressam, organizados por meio de linguagens( escrita,
                                    oralidade, números, gráficos, cartografia, fotografia, arte).
                                                É importante analisar a linguagem escrita, considerada como universo simbólico
                                    que abarca signos simbólicos, conteúdos, mensagens, sentidos, construção argumentativa,
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estrutura lingüística, etc.
             Finalmente, mas não menos importante é preciso que ao se produzir um texto
didático que contemple a história regional, o profissional de história deve fazer recortes e
considerar alguns aspectos relevantes, desenvolver um trabalho de integração dos conteúdos
de História com outras áreas do conhecimento.

REREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANPUH. Memória, História, Historiografia: dossiê ensino de história. Revista Brasileira de
História, São Paulo, v. 13, n. 25/26, set. 2002/ago.2003.
BITTENCOURT, C.M.F. Pátria, civilização e trabalho: ensino de História nas escolas
paulistas. São Paulo: Loyola, 1990.
BLOCH, M, Introdução à história. Lisboa: Presença, s/d.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto/ Secretaria do Ensino Fundamental e médio.
Parâmetros Curriculares Nacionais- História. Vol. 5. Brasília. 1997.
CABRINI, C. ET alii. O ensino de história: revisão urgente. São Paulo: Brasiliense, 1996.
CERTEAU, M. DE. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense. 2002.                              5
COCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz C. A coerência textual. 3. Ed. São Paulo: Contexto,
2001.ão Paulo: Contexto, 2001.
DIAS, M.O.L.da S. Quotidiano e poder. São Paulo: Brasiliense, 1994.
FONSECA, S. G. Caminhos da história ensinada. Campinas: Papirus, 2003.
Guia do livro Didático/ PNLD 2004. Brasília: MEC, 200º.




                                                                                               www.facete.com.br
HELLER, A. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro. 1992.
HOBSBAWM, E. e RANGER, T. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2004.
NADAI, E. A escola pública contemporânea: propostas curriculares e ensino de história.
Revista Brasileira de História, Rio de Janeiro, v. 11, 1996, p. 99-116.
SILVA, M. (ORG.). República em migalhas, História regional e local. Rio de Janeiro: Marco
Zero; MCT/CNPq, 2000.
____________. Repensando a história. Rio de Janeiro: Marco Zero, 2004.




                                                                                               Faculdade de Educação Teológica -
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                                                                           SUMÁRIO



                                    1- Por que há tantas desigualdades sociais no Brasil? Um panorama da riqueza e da pobreza
                                       brasileira.

                                    2- Fazer História: Problemas de método e problemas de sentido.

                                    3- Estrutura da Vida Cotidiana

                                    4- Indivíduo e Comunidade: - Uma contraposição real ou aparente?




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       POR       QUE HÁ TANTAS                      DESIGUALDADES SOCIAIS                                NO   BRASIL?


                        Um panorama da riqueza e da pobreza brasileira
                                                                                                       María Laura Silveira




INTRODUÇÃO
CADA MOMENTO DA HISTÓRIA pode ser reconhecido por uma dada feição do território
ou, em outras palavras, pela existência de um sistema de infra-estruturas e uma dada
organização da vida política, econômica e social. Produto do trabalho, essas bases materiais e                                       7

políticas dão lugar à consecução de um novo trabalho e à sua divisão entre as pessoas e os
lugares.1 Assim, a história de uma nação pode ser contada pela sucessão das infra-estruturas
ligadas à produção e à circulação — que podemos chamar de configurações territoriais —




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mas, ao mesmo tempo, pela sucessão de políticas industriais, financeiras, sociais etc.
            Em cada pedaço do território nacional, a quantidade e qualidade das infra-estruturas e
das políticas possibilitam o exercício, mais ou menos bem-sucedido, de um tipo de trabalho
valorizado no mundo contemporâneo. É por isso que podemos dizer que as regiões dão valor
ao trabalho que nelas se desenvolve, mas, reciprocamente, a chegada de novos objetos e
normas também cria valor nas regiões; Produz-se então uma hierarquia entre as regiões do
país. Essa história paralela das coisas e das ações denota o modo como o território é usado
pela sociedade, e sua análise revelar-nos-ia as respectivas formas de inclusão das pessoas e

                                                                                                                                 Faculdade de Educação Teológica -
das regiões. O que não é incluído nessa repartição do trabalho privilegiada pela política de um
país perde valor e, assim, se empobrece.
            Como o trabalho considerado moderno muda sua natureza e sua localização, as feições
e extensões da modernidade e da pobreza variam no tempo. Incapazes de acompanhar o passo
do processo de modernização material e organizacional, certas pessoas e regiões são excluídas
das benesses da modernização, sem todavia deixarem de ser resultado dela. Assim, a cada
momento certas formas de trabalho são valorizadas e outras não, certas regiões passam a
abrigar o trabalho que se valoriza e outras o perdem. Essa perda de valor é uma das causas
centrais da pobreza e, como esta adquire conteúdos diferentes segundo os contextos regionais,
falamos, conjuntamente, de desigualdades regionais.

1
    Santos, Milton. A natureza do espaço: iécnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
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                                              Apesar de ser vista, amiúde, como um resultado indesejado do processo modernizador,
                                    a pobreza é, tantas vezes, considerada inelutável. Mas ela o é apenas quando estamos diante
                                    de uma ação política que, explícita ou sub-repticiamente, valoriza a velocidade, a fluidez e a
                                    competitividade do trabalho. Ao contrário, a construção de um pro-jeto coletivo de sociedade
                                    aconselharia reconhecer a pobreza menos como um resultado indesejado e mais como uma
                                    dívida social resultante de um processo produtor de formas de exclusão.


                                                               DOS T E M P O S VAGAROSOS DA N A T U R E Z A

                                                                       AO BR A S I L   AR Q U I P É L A G O

                                             Uma das características marcantes do território brasileiro é sua grande extensão. Trata-
                                    se de um território com uma enorme variedade de sistemas naturais sobre os quais a história
     8
                                    foi se fazendo de um modo também diferenciado. A conquista desse meio natural por formas
                                    de trabalho modernas, frequentemente conhecida como ciclos da economia, mostra a escolha,
                                    em cada momento, das áreas mais aptas para a implantação das novas atividades. A ocupação
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                                    do litoral é sucedida pela dinâmica das frentes pioneiras, que vagarosamente interiorizam a
                                    exploração européia do território.2
                                             Durante três longos séculos o uso da técnica na ocupação foi bastante limitado e, assim,
                                    as condições naturais eram as respostas a uma ação humana tanto local quanto forânea. No
                                    desafio às condições naturais e no enfrentamento das distâncias, o corpo do homem era o
                                    principal instrumento. Criavam-se, em virtude do tipo de produção, áreas de densidade ou de
                                    rarefação. Homens, plantas e animais de três continentes, sob o império dos europeus,
                                    encontraram-se em pontos privilegiados da terra brasileira e, no seu convívio, tornado
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                                    obrigatório pelo trabalho, criaram uma nova geografia nesta porção dg planeta.
                                             A ocupação primeira do território dá-se com a cultura da cana-de-açúcar, em seguida
                                    do fumo e de produtos alimentícios e depois do algodão nos agrestes nordestinos. A cultura
                                    da cana-de-açúcar, baseada no desmatamento da floresta, permite a criação das primeiras
                                    plan-tations e a floração de uma série de pequenos centros no Recôncavo da Bahia e na Zona
                                    da Mata. As localidades estavam separadas por distâncias que se cumpriam em um dia de
                                    marcha e que presidiam o comércio e o abastecimento das áreas produtoras. Segundo suas
                                    exigências no processo de produção, os diversos produtos conduziram a uma certa
                                    organização do território, vinculada a uma organização do calendário agrícola, à demanda de
                                    mão-de-obra e às necessidades de transformação. Ê o caso da cana-de-açúcar que precisava

                                    2
                                        Andrade, Manuel C. de. A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.
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ser rapidamente levada aos engenhos, o beneficiamento do fumo se dava nas aglomerações e
assim por diante. Dessa forma, a natureza do produto conduzia a uma determinada
organização do território, sobretudo quando se tratava de um produto de exportação.3
          Desde a instalação do Governo Geral em Salvador, em 1549, até a Independência, em
1822, não se criaram fluxos verdadeiramente nacionais no domínio da economia. A máquina
de Estado servia para preservar e ampliar as fronteiras, manter o regime e a ordem, assegurar
a coleta de impostos e, com a ajuda da Igreja, unificar a língua. A unidade política e
linguística era contemporânea da vinculação quase direta entre as diversas regiões e o
mercado externo. A falta de intermediários produziu uma evolução espacial e econômica
caracterizada por "ilhas" de produção. Daí a imagem de um vasto arquipélago, formado, na
verdade, por um conjunto de "penínsulas" da Europa.                                                                  9
          A interiorização do povoamento foi devida à mineração e à criação de gado nas
fazendas. A pecuária era dispersa pelo território dos sertões, enquanto a exploração dos
diamantes e do ouro foi responsável pelo surgimento de inúmeros núcleos de vida urbana no




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interior dos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso. Despontavam nos albores
da interiorização os sertões do Nordeste, que abasteciam as zonas de agricultura comercial do
litoral e as zonas de mineração, e os campos do Sul, que serviam à produção de couro e
charque.4
          Durante séculos, o território brasileiro, sobretudo algumas áreas do Nordeste, conheceu
uma produção fundada muito mais no trabalho direto e concreto do homem do que na
incorporação de grandes sistemas de infra-estrutura à natureza. A pobreza estava ligada
sobretudo à seleção que a natureza fazia das produções e das formas de buscar domesticá-la.


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Coincidindo com as condições dos meios naturais 'ou com as sazonalidades da incipiente
produção, a pobreza não significava verdadeiramente uma exclusão social.


            A MECANIZAÇÃO DA P R O D U Ç Ã O E DO T E R R I T Ó R I O

          Novas geografias desenham-se sobretudo a partir da utilização de novos recursos,
prolongamentos não apenas do corpo do homem, mas do próprio território. Emerge o espaço
mecanizado. São as lógicas e os tempos humanos impondo-se à natureza com a emergência
de sucessivos meios técnicos, todos incompletamente realizados, todos incompletamente
difundidos.
          A partir da segunda metade do século XIX mecaniza-se a produção mediante a
3
    Furtado, Celso. Formação econômica do Brasil. 2a ed. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959.
4
    Prado Jr., Caio. História econômica do Brasil. 23a ed. São Paulo: Brasiliense, 1980 [1945].
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                                    instalação de usinas açucareiras e, mais tarde, o território com a navegação a vapor e as
                                    estradas de ferro. Às técnicas da máquina circunscritas à produção sucedem as técnicas da
                                    máquina incluídas no território. Criam-se interdependências entre os navios, os portos, as
                                    ferrovias, as primeiras estradas de rodagem e as usinas de eletricidade, que permitiram a
                                    constituição dos primeiros sistemas de infra-estruturas, verdadeiros sistemas de engenharia no
                                    território brasileiro. Todavia, em enormes pedaços do território reinava o meio natural,
                                    impondo, como na Amazônia, significativos estorvos à exploração e à posse dos europeus.
                                          Baseados em grande parte no investimento público, a produção e o comércio da
                                    borracha permitiram o crescimento de Belém e de Manaus, assim como São Paulo e Santos
                                    devem ao café o seu desenvolvimento. Na Bahia, sob o comando do porto de Ilhéus, o cacau
                                    ajudou a criar uma rede de cidades. Foram instaladas as primeiras indústrias brasileiras, que
10                                  não eram necessariamente urbanas. Algumas dependiam da proximidade das matérias-primas
                                    — como o algodão, cultivado em áreas da Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e Maranhão —
                                    ou de fontes de energia diretamente utilizáveis, que se encontravam fora das cidades.
                                          Mas, a partir de um certo desenvolvimento técnico que permitiu o deslocamento de
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                                    materiais e fluidos, a localização da produção industrial tornou-se menos dependente da
                                    presença contígua de matérias-primas e de fontes de energia e mais vinculada à oferta de
                                    mão-de-obra e de mercados. Das 636 fábricas existentes no Brasil em 1890, que empregavam
                                    54.169 operários, as mais numerosas e importantes estavam no Rio de Janeiro.
                                          O crescimento das cidades foi, entretanto, desigual, em virtude das oscilações das
                                    economias regionais ou de seu papel político.' Dominando uma vasta extensão do território,
                                    cada cidade desenhava verdadeiros circuitos interiores. O motor fundamental dessa vida de
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                                    relações era o comércio, principalmente orientado para o estrangeiro. Mas, as regiões
                                    organizavam-se com os meios muito limitados de que dispunham as cidades e suas relações
                                    com o exterior eram hierárquicas. A inexistência de transportes interiores rápidos era
                                    responsável por um isolamento, quebrado apenas pelos transportes marítimos. Mesmo na
                                    primeira fase dos transportes mecânicos, com a criação das vias férreas, não mudou muito a
                                    situação, pois a vinculação circunscrevia-se às zonas de produção e aos portos. Não havia
                                    uma integração.
                                          O aparelhamento dos portos, a construção de estradas de ferro e as novas formas de
                                    participação do país na fase industrial do modo de produção capitalista permitiram às cidades
                                    beneficiárias aumentar, pouco a pouco, seu comando sobre o espaço regional, enquanto a
                                    navegação, muito mais importante para o exterior, apenas ensejava um mínimo de contatos
                                    entre as diversas capitais regionais, mas também entre os portos de importância.
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Consolidavam-se as áreas de monocultura de exportação e, paralelamente, o processo de
urbanização aumentava as demandas de eletricidade.
       A introdução da estrada de ferro vai permitir um uso mais dinâmico do território.
Criam-se duas lógicas. A exceção da área hoje nucleada por Rio de Janeiro e São Paulo, a
estrada de ferro reforça os laços privilegiados entre as metrópoles regionais e suas respectivas
hinterlândias, mas sem estabelecer entre tais metrópoles relações outras que não as permitidas
pela navegação marítima. Todavia, no Sudeste criam-se, de um lado, uma rede localizada de
ferrovias e, de outro, um intercâmbio baseado nas formas modernas de dividir territorialmente
o trabalho.
       A expansão do sistema de circulação e das áreas de produção agrícola para exportação
reforçou o crescimento do emprego, sobretudo nas áreas próximas ao litoral. A pobreza, cuja                 11
face era sobretudo rural, vinculava-se mormente a uma estrutura de propriedade injusta. Eram
situações locais, cujas soluções também eram locais por meio da política assistencialista do
Estado ou, por vezes, pela ação social e pontual de uma empresa. Tais soluções não estavam




                                                                                                            www.facete.com.br
ainda permeadas pela lógica do capital financeiro ou de instâncias internacionais. Era uma
"pobreza incluída".5 Embora a riqueza gerada nesse país-conti-nente não conhecesse formas
satisfatórias de distribuição, a inclusão social, a partir do crescimento do emprego, permitia
uma evolução menos brutal das desigualdades.

       DA MECANIZAÇÃO DA CIRCULAÇÃO AO ALVORECER DA INDUSTR IALIZAÇÃO

       Como a economia era fundada em técnicas menos intensivas, o aumento dos volumes
produzidos significava, frequentemente, a criação de empregos. Ao mesmo tempo, a


                                                                                                            Faculdade de Educação Teológica -
industrialização nascente se fez numa fase em que os progressos técnicos eram menos rápidos
e as escalas de produção menos estendidas, de sorte que o tempo de vida de uma fábrica era
maior, e a cada necessidade de aumentar a produção uma outra fábrica era agregada. A massa
salarial, fabril e rural, contribuía para o nascimento de outras fábricas. Paralelamente, uma
certa ociosidade da estrutura de transporte, já que os trens vinham carregados de café para
São Paulo e o litoral e voltavam vazios, permitiu uma diversificação produtiva. Esses fatos,
somados à expansão da capacidade de consumo de uma população que se urbanizava, permi-
tiram um maior desenvolvimento industrial.
       A imigração beneficiou as regiões para onde se dirigia, já que os grupos de imigrantes
eram portadores de uma tecnologia industrial e constituíam uma mão-de-obra qualificada,

5
 Santos, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro:
Record, 2000.
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                                    desejosa de reproduzir no Brasil um modelo de consumo que haviam conhecido ou. almejado
                                    obter nos seus países de origem. Nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná
                                    a política oficial de imigração e colonização determinou a forma de povoamento e de
                                    trabalho. São Paulo foi, certamente, o grande beneficiário desse movimento migratório.
                                          A população brasileira aumentou continuamente no decorrer desses anos. A luta contra
                                    a morte, conjuntamente com o combate menos eficaz contra o analfabetismo, resultou num
                                    enorme aumento dos efetivos demográficos. Desde o início do século XX até a segunda
                                    década, a população passou de 17,4 milhões para 30,6 milhões. O aumento populacional teve
                                    como consequência não somente um aumento das densidades demográficas em cada região,
                                    mas também a sua redistribuição. Se as populações do Nordeste, do Sudeste e do Sul
                                    dobraram nesses vinte anos, o aumento foi ainda mais significativo na Amazônia. Essa
12                                  redistribuição manifestou-se por um novo equilíbrio demográfico regional e um abandono do
                                    campo, com o aumento do número das cidades e de sua população. Em 1940, cerca de um
                                    terço da população brasileira era urbana. Uma grande parte dos brasileiros do Norte e do
                                    Nordeste abandonou essas regiões e dirigiu-se para as cidades do Sul. No final do século XIX
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                                    ambas regiões representavam mais de um terço da população nacional e em 1960 cor-
                                    respondiam a um quarto, ainda que seus índices de natalidade fossem os mais altos do país.
                                          Um aumento de 2,2 vezes na matrícula do ensino fundamental entre 1940 e 1960
                                    revelou-se importante mas não suficiente, ainda que se verificasse uma expansão nas
                                    diferentes regiões do país. Embora evidenciando uma velocidade de crescimento análoga, o
                                    ensino médio mostrava um número de alunos consideravelmente mais baixo. As instituições
                                    de ensino superior, que eram 28 em 1908, aumentaram para cinquenta em 1912 e para 248
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                                    em 1935. O Sudeste, o Nordeste e, mais tarde, o Sul foram as regiões que apresentaram o
                                    maior número de instituições, tanto públicas como particulares. Paralelamente verifica-se
                                    uma explosão no número de matrículas. O principal centro universitário nas primeiras
                                    décadas do século era o Rio de Janeiro, que reunia cerca da metade dos alunos do país.
                                    Alguns anos mais tarde, São Paulo despontou como um centro educacional importante,
                                    sobretudo quando se generalizou uma demanda de cultura industrial orientada à
                                    transformação material do território.
                                          É o primeiro momento de um longo processo de integração nacional, que se
                                    acompanha do início da hegemonia de São Paulo, com o crescimento industrial do país e a
                                    formação de um esboço de mercado territorial no Centro-Sul.
Prática Curricular IV



                             A INTEGRAÇÃO DO MERCADO E DO T E R R I T Ó R I O

             A Segunda Guerra Mundial havia revelado as carências do sistema de transportes e a
necessidade de um planejamento nacional que se preocupasse com os sistemas de infra-
estruturas. Um sólido processo de industrialização pôs-se em marcha, e a cidade de São Paulo
tornou-se a grande metrópole fabril. Nessa cidade estavam presentes todos os tipos de
indústrias e, convocado a acompanhar esse despertar industrial, o país inteiro conheceu uma
quantidade de solicitações e foi impregnado pela necessidade de completar a integração
nacional. Juntou-se à rede de ferrovias um sistema de estradas de rodagem que permitiu, pela
primeira vez, comunicar as diversas regiões do país entre si.
             As necessidades de alimentos e matérias-primas para uma metrópole que aumentava
sua população e suas indústrias e, de certo modo, seu nível de vida demandavam novos                                                        13

patamares de circulação. Os intercâmbios foram favorecidos pela nova base material e por
políticas específicas e, assim, o mercado se unificava ao ritmo da integração do território. O
Brasil-arquipélago cedia lugar a um território mais fluido.




                                                                                                                                            www.facete.com.br
             Em 1950, registravam-se mais de 70 mil estabelecimentos industriais e cerca de 1,3
milhão de pessoas ocupadas. Era uma época em que as micro e pequenas empresas
representavam 96,7% dos estabelecimentos e eram responsáveis por 42,3% dos empregos no
setor. Com 3 milhões de habitantes, São Paulo concentrava mais de um terço dos
estabelecimentos industriais e do emprego industrial do país, o que evidencia também o
crescimento da região do ABC.
             É num Brasil integrado pelos transportes e comunicaçõese pelas necessidades
advindas da industrialização e da criação de um mercado interno que nascem importantes

                                                                                                                                            Faculdade de Educação Teológica -
cidades no interior. Estas decor-rem do crescimento populacional, da elevação dos níveis de
vida, da expansão do consumo e da demanda de serviços em número e fre-qúência maiores
que anteriormente.
             O transporte rodoviário de mercadorias reorganiza as relações entre os centros
regionais e a metrópole econômica do país. Sem dúvida, o traçado das estradas obedecia às
novas exigências da indústria e do comércio, que acabaram por reforçar a posição de São
Paulo como centro produtor e, ao mesmo tempo, centro de distribuição primária. A criação de
uma indústria automobilística e a construção de Brasília j também confluíram para favorecer
São Paulo e ampliar, quantitativa e qualitativamente, as diferenças regionais.6
             As antigas metrópoles costeiras foram, desse modo, tornando-se relativamente menos

6
    Fernandes, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 3a ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981 [1974].
Prática Curricular IV



                                    polarizadoras das respectivas populações regio-nais. Como mencionamos, entre outras razões,
                                    os novos sistemas de transporte induziam os deslocamentos para São Paulo e Rio de Janeiro,
                                    e aquelas antigas metrópoles litorâneas tornaram-se incapazes de fornecer os novos bens e
                                    serviços às suas tradicionais áreas de ínfluência. Por essa razão, os núcleos urbanos mais
                                    recentemente criados ou desenvolvidos ligavam-se diretamente a São Paulo, para obter as
                                    respostas econômicas e técnicas de que necessitavam.
                                           Pouco a pouco, Brasília vai retirando do Rio de Janeiro a centralidade do poder, isto é,
                                    das ordens de natureza pública com as quais o território deveria ser regulado. São Paulo, por
                                    sua vez, vai subtraindo ao Rio de Janeiro o comando da economia, atribuindo-se, por meio de
                                    uma indústria capaz de abastecer e equipar um Brasil relativamente unificado pelos
                                    transportes, a produção das ordens econômicas e da regulação económica do território. O
14                                  desequilíbrio entre a estrutura industrial do Rio e a de São Paulo consolida-se realmente
                                    quando a indústria paulista conhece uma diversificação e a do Rio de Janeiro deixa de seguir
                                    esse caminho. A formação de capital na região de São Paulo é um dos fatores dessa
                                    diversificação. Brasília tende rapidamente a se instalar como metrópole política e São Paulo
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                                    afirma-se ainda mais como metrópole econômica, enquanto ambas essas funções vão
                                    minguando na antiga capital imperial e republicana, Rio de Janeiro.
                                           Estabelecem-se relações entre a metrópole económica e as áreas agrícolas tecnificadas
                                    e dinâmicas bem mais significativas do que com o resto do país, constituindo uma
                                    especificidade da nova divisão territorial do trabalho. Abandonadas por essa repartição do
                                    trabalho, gran-des camadas da população urbana do Nordeste e do Norte conheceram, agora,
                                    o fenômeno da pobreza.
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                                           Essa urbanização recente foi acompanhada de um crescimento da demanda
                                    educacional. A matrícula no ensino fundamental mais que triplicou entre 1960 e 1980 e
                                    resulta significativa em todas as regiões. Todavia, surpreende a situação do ensino médio que,
                                    ao longo dessas duas décadas, cresceu cerca de sete vezes, apesar de estar muito aquém de
                                    uma universalização. Tal retrato completa-se com uma nova explosão da matrícula
                                    universitária entre 1960 e 1970, quando aumentou em cerca de 3,6 vezes. Cursos e
                                    instituições, sobretudo particulares, colonizam as diversas regiões do país.
                                           Criavam-se então as condições de formação do que hoje é a região polarizada do país.
                                    Foi um momento preliminar da integração territorial, marcado por uma integração regional do
                                    Sudeste e do Sul. Mas, de certo modo, permaneciam muitas das velhas estruturas sociais. Em
                                    1960, cerca de 33 mil proprietários possuíam quase a metade da superfície das propriedades
                                    agrícolas brasileiras, enquanto 3,3 milhões dispunham apenas da outra metade. Tal estrutura
Prática Curricular IV



da propriedade favorecia, ao mesmo tempo, a persistência da pobreza e o abandono do
campo. Os excedentes de população, cada ano mais numerosos, encontraram um refúgio nas
cidades. Isso explica um crescimento urbano superior a 10% anuais em vários centros
regionais e de 6% nas grandes metrópoles, enquanto o número de empregados e subempre-
gados aumentava num ritmo ainda maior.
        O deslocamento desses milhares de indivíduos para as cidades respondia quase sempre
a uma busca por melhores condições de vida.
        Os novos meios de comunicação foram em grande parte responsáveis por essa
revolução. Intensificaram-se as migrações para o estado de São Paulo. Bahia, Minas Gerais e
Pernambuco eram os principais estados de origem dos contingentes. Esse período criou as
condições para a reativação do processo de enfraquecimento de todas as periferias, enquanto                15
o país parecia refluir para o seu centro: capitais privados, investimentos públicos, população,
crescimento e pobreza. A pobreza despontava como uma das principais causas das migrações
desses contingentes, que amiúde encontravam uma pobreza de nova qualidade nos seus




                                                                                                           www.facete.com.br
lugares de destino.

          OS P R I M Ó R D I O S DA G L O B A L I Z A Ç Ã O NO B R A S I L

        A revolução dos transportes ocorrida nas décadas de 1950 e 1960 segue-sé", nos anos
1970, uma revolução das telecomunicações, com as perspectivas abertas pela revolução
científico-técnica e a incorporação dos satélites brasileiros.7 A ideologia de racionalidade e
modernização a qualquer preço ultrapassa o domínio industrial, impõe-se ao setor público e
invade áreas até então não tocadas ou alcançadas só indiretamente, como, por exemplo, a


                                                                                                           Faculdade de Educação Teológica -
manipulação da mídia, a organi-zacão e o conteúdo do ensino em todos os seus graus, a
profissionalização e as relações de trabalho.
        As transformações das bases materiais e sociais do território brasileiro, graças aos
acréscimos de ciência e de técnica, significam, também, a exigência de novas qualificações
profissionais. O aumento de mais de 220% na matrícula universitária entre 1970 e 1980 é
talvez a melhor evidência da necessidade e do desejo de apropriar-se de uma sofisticada
cultura técnica e organizacional. Como a proporção de instituições particulares aumentou
ao longo desses anos, estaríamos autorizados a falar, ao mesmo tempo, de uma difusão geo-
oráfica do ensino superior e de uma difusão social, agora reguladas pelas leis do mercado.
        Agravam-se o atraso e as disparidades sociais sobretudo a partir da imposição de um

7
 Dias, Leila Christina. "Les enjeux socio-spatiaux du développement des réseaux de télécommunications au
Brésil". Document de Recherche du Credal, nº 204, 1989, pp. 28-41.
Prática Curricular IV



                                    modelo de consumo norte-americano que significa, ao mesmo tempo, um modelo de
                                    produção, tornando mais pobre a nação, pois mesmo que os valores absolutos da renda
                                    pudessem aumentar, crescia o desamparo social produzido pelo poder público e pela
                                    dependência tecnológica, organizacional e financeira.
                                              Tal promessa de consumo, encarnada na publicidade e no crédito, espalha-se na
                                    sociedade e no território, de modo que os pobres já não podiam ser definidos como os
                                    excluídos de tal consumo, nem o fato de consumir era prova de inclusão social. Considerada o
                                    oferta infinita de bens e serviços e a criação científica e permanente de necessidades, a
                                    pobreza torna-se relativa e quantificável, enquanto a carência dos mais elementares bens e
                                    serviços ganha, agora, indicadores e participa de complexas equações. Pobreza e miséria
                                    passam a ser alvo de programas específicos ou da aplicação de ações isoladas inspiradas nos
16                                  países que usufruíam das condições do Estado de bem-estar ou mesmo dos países socialistas.8
                                    De alguma forma é o momento da aplicação de políticas desenvolvimentistas, precedidas por
                                    discursos que denunciavam uma drenagem de regiões pobres para regiões mais ricas.
                                    Testemunha precoce desse debate político, a Superintendência de Desenvolvimento do
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                                    Nordeste (Sudene) havia sido criada já no fim dos anos 1950.
                                              O dinamismo econômico da área Sudeste-Sul e o esvaziamento demográfico e
                                    económico das áreas periféricas perduraram até o final da década de 1970. A diminuição da
                                    atividade econômica que afetava o país como um todo parecia, então, uma ameaça à
                                    continuidade do modelo. Para mantê-lo, era indispensável retomar a atividade, ao preço de
                                    mais investimentos públicos e mais injeção de recursos para promover a exportação, mais
                                    proteção ao grande capital e menor retribuição ao trabalho,9 ao preço de uma política social
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                                    ainda menos generosa e, necessariamente, de uma ordem ainda maior no campo político-
                                    social.
                                              A prédica do crescimento foi razão política suficiente para a realização de grandes
                                    projetos, viabilizados por volumosos empréstimos.
                                              Em decorrência, o endividamento tornou-se — e é até hoje — uma forma onipresente
                                    de distorção da economia e do território, pois todos os demais desejos e realidades deverão
                                    subordinar-se à dívida, que passa a ser o eixo da vida nacional.
                                              Uma nova divisão territorial do trabalho esboça-se no Brasil a partir da necessidade de
                                    transformar minérios e produzir derivados do petróleo. É o momento de implantação de


                                    8
                                     Santos, Milton. Por uma outra globalização, op. cit.
                                    9
                                      Mamigonian, Armen. "Teorias sobre a industrialização". São Paulo: Laboratório de Geografia Política e
                                    Planejamento Territorial e Ambiental, Departamento de Geografia da USP, 1992. (Seleção de Textos nº 4).
Prática Curricular IV



complexos e pólos indus-triais ligados à petroquímica na Bahia, à siderurgia no Maranhão, ao
minério de ferro em Carajás, aos derivados do cloro em Alagoas e à eletrometalurgia em
Tucuruí. Paralelamente, havia a necessidade de substituir o petróleo em alguns setores da
circulação. Daí a institucionalização, em 1975, do Programa Nacional do Álcool (Proálcool),
que, com o ingresso maciço da cultura de cana-de-açúcar, muda a geogra-fia do interior
paulista.
       Os anos 1970 foram, assim, um marco na modernização da agri-cultura, no
desenvolvimento do capitalismo agrário, na expansão das fronteiras agrícolas e na
intensificação dos movimentos dos trabalhadores volantes — os bóias-frias. Novos conflitos
no campo não se fizeram esperar.
       Estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais      e    Bahia    17
apresentam altas taxas de emigração líquida entre 1950 e 1980. Áreas que haviam sido
atrativas em outros momentos transformaram-se, nos anos 1970, em expulsoras de uma
população cujo destino eram as metrópoles ou as novas frentes pioneiras, como a Amazônia.




                                                                                               www.facete.com.br
       Uma produção industrial extrovertida, um maior endividamento, um       aumento    do
número e do poder das firmas estrangeiras, para as quais tudo era facilitado, uma ampliação
das facilidades de circulação dentro do país e para os canais de exportação se conjugaram
com uma tendência à concentração e à centralização da economia, assim como à concentração
geográfica e à concentração da renda.
       Aumentam os intercâmbios, e em decorrência cresce e se diversifica o setor terciário
da economia, pois há maior necessidade de organização, de serviços públicos e privados, de
transportes e de bancos. Gesta-se, a um só tempo, uma grande especialização territorial, com


                                                                                               Faculdade de Educação Teológica -
a tendência à concentração da produção de bens e serviços mais sofisticados em alguns
pontos do Sudeste e do Sul: Apesar da industrialização, as características do
subdesenvolvimento permanecem e muitas vezes se agravam com o crescimento econômico.
Malgrado o aumento do Produto Nacional Bruto e mesmo dg Produto , Nacional Per Capita,
acirram-se as disparidades regionais, as desigualdades da renda e o empobrecimento daqueles
que já eram pobres.
       Como a expansão da indústria dinâmica é acompanhada pela redução absoluta ou
relativa do poder aquisitivo das massas, a economia vê-se forçada a procurar mercados
externos ou a reduzir seu próprio crescimento. Os investimentos dirigem-se aos setores em
que há possibilidade de exportação, isto é, à produção de bens para os quais existem
compradores estrangeiros potenciais. Essa orientação exige uma constante modernização do
equipamento industrial para poder concorrer internacionalmente, que agrava a dependência
Prática Curricular IV



                                    em relação aos centros mais avançados do sistema mundial. Por outro lado, a necessidade de
                                    importação exige uma política de exportação agressiva.
                                           Buscando o crescimento promove-se a produção de bens de capital, para os quais não
                                    existe mercado interno. O Estado é então compelido a adotar uma política de grande potência,
                                    favorecendo as maiores empresas, sem consideração pelas massas, cada vez mais
                                    empobrecidas.
                                           O extraordinário crescimento do capital fixo, revelado pelo aumento do tamanho das
                                    infra-estruturas, fundamenta-se em projetos de planejamento aparentemente isolados, mas
                                    orientados a acelerar a modernização capitalista. As formas têm um poder que convida a
                                    ações como a modernização da agricultura e, no meio urbano, a renovação do meio
                                    construído com o forte papel do capital especulativo. O capital comanda o território e o
18                                  trabalho torna-se, ainda mais, subordinado.
                                           As modernizações mais recentes desintegram a economia e a so-ciedade porque
                                    produzem um desequilíbrio e não criam os empregos suficientes. Como se desintegram as
                                    estruturas no campo, não há migração escalonada na rede urbana, e por isso as grandes
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                                    cidades con-tinuam a crescer. Todavia, é a grande cidade que, pela existência de um mercado
                                    amplo e segmentado, abriga os pobres, nativos ou imigrantes, cujo trabalho, pouco
                                    valorizado, lhes permite, todavia, a sobrevivência.

                                                        O PAÍS GLOBALIZADO: MODERNIZAÇÃO E
                                                                     POBREZA

                                           No período atual, os imperativos de um mercado tornado global passam I a comandar
                                    os acréscimos de ciência e tecnologia que o território brasi- leiro já começara a incorporar
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                                    nos anos 1970. A informação substitui a indústria como variável motora. Não se trata de
                                    menosprezar os dinâmi- cos processos industriais, mas de apontar a relevância de um
                                    fenômeno novo: a produção de informação. Assim, enquanto aumentam as ativi- dades de
                                    serviços a indústria continua a crescer em várias porções do Brasil, como no estado de São
                                    Paulo, ainda que com menor velocidade.
                                           A implantação do sistema básico de telecomunicações permitiu não apenas a
                                    transmissão de dados, mas também a unificação do sistema de televisão. A instalação das
                                    redes possibilitou a difusão da informação gerais do consumo, assim como a financeirização
                                    do território. Mais tarde, a incorporação da fibra óptica nos sistemas técnicos nacionais, a
                                    partir dos projetos de interligação do planeta, ampliou a participação do país na globalização
                                    das telecomunicações.
Prática Curricular IV



       O território ganha novos conteúdos e impõe novos comportamentos, em virtude das
enormes possibilidades da produção e, sobretudo, da circulação de insumos, produtos e
dinheiro, de idéias e informações, das ordens e dos homens. E a constituição de um espaço
moderno, reticular e fluído. Essa premente necessidade de criar condições para uma maior
circulação justifica a ênfase dada na política atual à criação e ao aprimoramento de sistemas
de infra-estrutura que facilitem o movimento.
       Tal unificação técnica ou material do território se perfaz com a unificação do
mercado. A força difusora do consumo que, no período atual, ganha uma velocidade antes
nunca vista, acompanha-se do comportamento territorial das grandes empresas. As firmas
mais poderosas escolhem os pontos que consideram instrumentais para sua existência
produtiva e deixam o resto do território às empresas menos poderosas. É uma modalidade de       19
exercício do seu poder.
       Os dados próprios do período tanto alcançam áreas agrícolas como industriais e de
serviços, que se caracterizam pela sua inserção numa cadeia produtiva global, pelo




                                                                                                www.facete.com.br
predomínio de relações distantes e, frequentemente estrangeiras, e pela sua lógica
extrovertida. O país é cortado por estradas de rodagem que servem mais aos interesses
nacionais e internacionais do que aos regionais e locais. A pavimentação dos principais eixos
rodoviários e a construção de rodovias para os países vizinhos orientam-se a desenvolver
uma maior integração comercial.
       Ainda que o peso dos empréstimos e créditos de organismos financeiros
internacionais nessa modernização do país seja marcante, não podemos deixar de assinalar
que o próprio Estado brasileiro investe pesadamente para dotar certas regiões das condições


                                                                                                Faculdade de Educação Teológica -
de circulação indispensáveis ao comércio externo. Aquelas regiões orientadas a produzir para
a exportação e para um comércio distante têm prioridade nesse equipamento, de modo que se
criam no território áreas com maior densidade viária e infoviária a serviço de um dos
aspectos da economia nacional. Essas densidades não têm, pois, relação direta com o
tamanho e a densidade da população, nem com a antiguidade do povoamento, nem com as
urgências das sociedades locais, mas com certos nexos econômicos, sobretudo os da
economia internacional. Há, todavia, uma permanente insatisfação com o equipamento e com
os custos do seu uso, agravada por frequentes comparações com outros países, que alimenta a
produção de um discurso sobre a necessidade de modernizar o território nacional.
       É uma divisão territorial nova e ampliada no Brasil, que permite, por um lado, ocupar
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                                    áreas até então periféricas e, por outro, remodelar as áreas ocupadas.10 O consumo e o crédito
                                    encontram as bases materiais para sua instalação em quase todo o território. Tornam-se, prati-
                                    camente, ubíquos. Há uma unificação do território pelo mercado, pelos transportes e pela
                                    informação. Num país de grandes disparidades regionais e de renda, o processo de criação de
                                    fluidez é seletivo e não igualitário. A produção de fluidez se realiza não apenas com a
                                    construção de equipamentos, mas também pela alocação de certas profissões e pela oferta de
                                    certos empregos ligados à economia moderna, levando desse modo à desvalorização do resto
                                    das formas de trabalho.
                                           Superpõe-se ao velho tecido um novo tecido de urbanização. O nu-mero de grandes
                                    cidades aumenta consideravelmente: as aglomerações com mais de 500 mil habitantes, que
                                    eram quinze em 1980, passaram a 28 em 1996 e a 31 em 2000. Quanto às cidades com mais
20                                  de um mi- lhão de habitantes, que somavam dez em 1980, passaram a quinze em 2000.
                                    Crescem as metrópoles e, ainda mais, as grandes cidades médias.
                                           Nessas condições, novas fontes de riqueza e novas razões de pobreza se estabelecem
                                    nas grandes cidades. Ao mesmo tempo que os salários dos trabalhadores industriais tendem a
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                                    baixar, verifica-se, ainda que com menor ímpeto, uma imigração de gente pobre proveniente
                                    de áreas rurais modernas e tradicionais e de outras áreas urbanas.
                                           Os processos de valorização da terra por consolidação de frentes pioneiras certamente
                                    tiveram um papel detonador em vários movimentos migratórios do país, como é o caso do
                                    Norte do Paraná ou, mesmo, do Mato Grosso. Por outra parte, o fenômeno de migração
                                    circular já se havia esboçado alguns anos antes. Lembremos que, em 1980, 11,5 milhões de
                                    famílias não dispunham de terra ou já não sobreviviam em pequenas propriedades. Isso
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                                    significa que um terço da população, cerca de 40 milhões de pessoas, estava em permanente
                                    migração, tentando fixar-se no campo mas frequentemente não o conseguindo. E um novo
                                    patamar do êxodo rural, devido à combinação explosiva de uma estrutura fundiária arcaica
                                    em zonas agrícolas tradicionais e da modernização capitalista do campo em zonas dinâmicas
                                    e em áreas de colonização agrícola e de ocupação recente.
                                           Não podemos esquecer que na segunda metade da década de 1990 havia mais de 16
                                    milhões de hectares produtivos não utilizados no Brasil — o equivalente ao total de terras de
                                    Tocantins. Havia no país cerca de 332 milhões de hectares distribuídos em 3,6 milhões de
                                    estabelecimentos, ao passo que cerca de 220 milhões de hectares estavam repartidos entre 1,3
                                    milhão de estabelecimentos trabalhados por arrendatários, parceiros e ocupantes, o que

                                    10
                                      Santos, Milton e Silveira, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de
                                    Janeiro: Record, 2001.
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configurava uma estrutura fundiária apta a expulsar a população rural. Expulsos das áreas
rurais modernas e tradicionais ou de outras cidades, os pobres encontram nas metrópoles
algum tipo de ocupação, mesmo que não constitua propriamente emprego. A variedade de
capitais existente na grande cidade assegura a possibilidade de uma extrema variedade do
trabalho. Entretanto, nas metrópoles ou em outras cidades a presença de pobres e a
correspondente depressão dó mercado de trabalho e dos salários projetam-se no
empobrecimento das respectivas municipalidades. Esse problema, aliás, é agravado com o
crescente desmantelamento do Estado de bem-estar, o que contribui para um empo-
brecimento ainda maior da população. Paralelamente, a implantação da modernidade na
metrópole representa um peso sobre os outros aspectos da vida local, mediante custos
públicos e privados, custos federais, estaduais e municipais. Tais adaptações ao moderno       21
representam lógicas distantes, que incidem sobre subáreas privilegiadas do organismo
urbano, mas cujo custo é verdadeiramente social. Toda a cidade sofre os resultados desse
processo aumentando os graus de pobreza.




                                                                                               www.facete.com.br
       Representando cerca da metade da população desse Brasil de contrastes, a população
economicamente ativa tem aumentado nos setores secundário e terciário. Verifica-se nas
últimas décadas uma verdadeira explosão do setor terciário, sobretudo na região Sudeste e no
estado de São Paulo. Nas regiões metropolitanas, boa parte da população está ocupada em
atividades de serviços, mas o comércio, que não pára de crescer, é também um importante
contratador de mão-de-obra. Observado com mais cuidado, esse fenômeno revela uma
economia pontual de comércios e serviços modernos coexistindo com uma enorme economia
pobre orientada ao comércio e aos serviços mais banais nessas grandes cidades.


                   A OPÇÃO POR MULTIPLICAR A POBREZA                                           Faculdade de Educação Teológica -


       Quando uma nação privilegia um tipo de produção que não ajuda a população a
subsistir e a se desenvolver, mas obriga à criação permanente de um excedente, ocasionando-
lhe um ônus excessivo, falamos: em produção desnecessária. Haveria também uma
circulação e um intercâmbio desnecessários, que têm um custo social, como as infra-
estruturas de investimento pesado e a respectiva mobilização de veícu-los e serviços que não
contribuem com o bem-estar geral da sociedade nem permitem sua ampliação, em virtude
dos custos que representam.
       Quando a exportação é pregada como solução necessária, em vez de buscar a melhoria
das condições de vida dos mais pobres, ampliam-se a produção e a circulação desnecessárias
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                                    e se aprofunda uma divisão do trabalho igualmente desnecessária. A globalização acelera
                                    esse processo porque faz parte do seu credo a idéia de que sem exportar é
                                    impossível modernizar-se e participar plenamente do mundo "civilizado". De fato, o que
                                    resulta na prática é o triunfo de uma lógica econômica a despeito das distorções de ordem
                                    social que possa causar. A decorrente divisão do trabalho passa a ser comandada sem preocu
                                    pação com o interesse social.
                                           Uma das consequências desse processo é a multiplicação e dis- semínação da pobreza
                                    nas diversas camadas sociais das regiões brasi- leiras. Com a ampliação do poder do sistema
                                    financeiro e de uma informação enviesada que reforça uma única interpretação da socíe-
                                    dade, as políticas públicas, mais do que compensar esse jogo de forças, acabam por inclinar o
                                    fiel da balança para o acirramento dessa situação. Subsídios e créditos do Tesouro para
22                                  auxiliar grandes corporações e bancos são, entre outras, formas legais de violência que, como
                                    vemos cotidianamente, ampliam outras modalidades de violência, amiúde ilegais. A mídia,
                                    frequentemente associada aos interesses hegemónicos, mostra isoladamente os fatos
                                    emergentes de um processo mais complexo e invisível. Não se revelam os mecanismos
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                                    produtores de violência, mas suas manifestações visíveis. A ordem corporativa, criadora de
                                    desordem para o poder público e para toda a sociedade, é dissimulada.
                                           A morte anunciada do sistema previdenciário é mais um mecanismo de comando que
                                    o sistema financeiro exerce sobre a política, reduzindo o debate nacional a uma complexa
                                    contabilidade macroeconômica. Nesse processo, o papel da informação, produzida e
                                    veiculada pela mídia hegemônica, não é menos importante. Forma-se assim a chamada
                                    opinião pública, manifestação do pensamento único, que ampara as ações políticas orientadas
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                                    a erodir o embrionário Estado de bem-estar e a acelerar o empobrecimento das diversas
                                    camadas sociais.
                                           Se a massa da população economicamente ativa foi aumentando desde meados do
                                    século XX até os dias de hoje, não se pode dizer o mesmo da evolução do número de
                                    contribuintes para o Instituto da Previdência. Em 1981, metade de um total de 45,5 milhões
                                    de trabalhadores contribuíam para a Previdência, e em 1995 essa proporção era de apenas
                                    42,8%. Se o volume de trabalhadores cresceu em mais de 24 milhões nesses catorze anos, a
                                    quantidade de contribuintes aumentou em apenas 7,1 milhões. Entre 1995 e 2002 o aumento
                                    foi de pouco mais de 6 milhões de contribuintes. As consequências desse enfraquecimento
                                    das estruturas fiscais são inúmeras, mas todas convergem para o empobrecimento da
                                    população. A evolução negativa da base previdenciária é frequentemente apresentada, ainda
                                    que isolada dos seus respectivos contextos explicativos, como uma das mais importantes
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razões da falência do Estado.
       A regionalização torna-se mais uma vez necessária para a compreensão dos
fenômenos. Em 2002, pouco mais de 20 milhões de contribuintes viviam na região Sudeste,
6,7 milhões no Sul, 5,1 milhões no Nordeste, 2,5 milhões no Centro-Oeste e 1,3 milhão no
Norte. Num estado como Tocantins, apenas 20% dos trabalhadores contribuíam para a
Previdência, enquanto a situação era um pouco melhor no Pará e no Amazonas. O retrato dos
estados do Centro-Oeste não é muito diferente: em Goiás e Mato Grosso, cerca de 32% do
total de trabalhadores são contribuintes. De alguma maneira, as áreas que sediam a expansão
de atividades modernas, como a agricultura das novas frentes pioneiras, são manifestações de
um Estado menos preocupado na contenção social dos trabalhadores e mais prel ocupado na
produção de um território fluido. Novas relações traba-lhistas, mais despojadas dos freios     23
sociais a um processo de forte acu-mulação capitalista, asseguram o crescimento da
economia moderna.
       A situação é um pouco diferente nas regiões Sul e Sudeste. Estados como Rio Grande




                                                                                               www.facete.com.br
do Sul e Santa Catarina têm metade da massa de trabalhadores incluída no sistema
previdenciário, enquanto Rio de Janeiro e São Paulo registram porcentagens superiores a
62%| Não podemos esquecer, na análise dessa questão, o despontar de uma relação de nova
natureza que se difunde no Brasil nos anos noventa. E a previdência privada que, em 2002,
alcançava cerca de 2,1 milhões de contribuintes, dos quais mais da metade pertenciam à
região Sudeste. Se seu número representa pouco menos de 6% do total dos contribuintes da
previdência pública, a soma da sua poupança, agora subtraída do sistema público e universal,
não é todavia desprezível.


                                                                                               Faculdade de Educação Teológica -
       Um mapa semelhante ao da previdência pública é desenhado pela situação dos
trabalhadores com carteira assinada: 68% no Sul e 42% no Nordeste. No entanto, se as
médias nacionais indicavam cerca de 60% dos trabalhadores com carteira assinada no Brasil
ao longo da década de 1980 e início dos anos 1990, diminuíram para cerca de 37% na virada
do século. Consequentemente, o grau de sin-dicalização também diminuiu.
       A precarização dos vínculos empregatícios e o aumento do de-semprego foram
acompanhados de um crescimento do número de tra-balhadores domésticos durante a década
de 1990. Em 1996 o emprego doméstico representava cerca de 10% da população
economicamente ativa do Brasil. Na região Norte a média subia para 11,3% e no Sul caía
para 8,3%. Já em 2002, acompanhando o empobrecimento rela-tivo das classes médias, que
provocou uma queda na procura, eram algo mais de 6 milhões de empregados domésticos,
cerca de 8% da população economicamente ativa do país.
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                                           Durante a década de 1990 o desemprego aumentou em todo o país e, com oscilações,
                                    superou os dois dígitos nas regiões metropolita- nas. Em São Paulo, atingia nos primeiros
                                    meses de 2004 mais de 12% da população economicamente ativa, mas já atingira 20% nos
                                    anos 1990. Recife e Salvador, que haviam alcançado porcentagens em torno de 30%,
                                    registravam cerca de 15%. Mas também Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre registraram
                                    taxas superiores a 10%.
                                           Novas formas técnicas e organizacionais, como a informatização e a automação das
                                    tarefas tanto nas atividades agropecuárias quanto na indústria e nos serviços, os novos modos
                                    de circulação, os atuais tipos de contratação e as políticas trabalhistas levaram entre outros
                                    aspectos, a uma precarização das relações de emprego e a um aumento do desemprego ao
                                    longo dos últimos quinze anos. Por isso, a racionalidade dá ordem econômica atual revela-se
24                                  limitada, ainda mais nas grandes metrópoles, onde o número de pobres é importante. Do
                                    norte ao sul desse Brasil urbano as maiores metrópoles do país têm suporta-' do taxas de
                                    desemprego em torno de 20% da população economicamente ativa. Mas qual é a
                                    racionalidade de uma economia urbana que despreza tamanha quantidade de trabalhadores?
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                                    O fato é que a cada dia há um menor número de atividades e empregos ligados a essa divisão
                                    do trabalho hegemónica, e isso é mais visível nas grandes cidades.
                                           Novas necessidades produtivas e novas formas de dividir social e territorialmente o
                                    trabalho aumentam as necessidades de cooperação, criando novas profissões e rejeitando as
                                    antigas, sobretudo a partir da revolução das telecomunicações, da informática e da
                                    informação, da expansão do sistema bancário e da nova agricultura. Umas profissões cedem
                                    lugar a outras, aptas a manipular os novos objetos técnicos, mas destinadas também a uma
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                                    vida efêmera. O resultado desse ato de império é que em alguns setores como o quaternário
                                    aumenta o emprego, embora discretamente, ao passo que em outros, volumosos contingentes
                                    são condenados ao desemprego.
                                           Se a divisão social do trabalho que acompanha o mundo da informação e das finanças
                                    multiplica as profissões, ao mesmo tempo diminui o número total de empregos. As formas
                                    técnicas e de regulação contemporâneas satisfazem seu apetite com um número menor de
                                    pessoas altamente qualificadas. O emprego tradicional da metrópole industrial esvai-se, de
                                    um lado, ao ritmo das novas acelerações normativas como as formas de contratação
                                    temporária e da terceirização, da interiorização da indústria, que é sinônimo de modernização
                                    e de busca de novas densidades normativas, e, de outro, pelas novas ocupa-ções na produção,
                                    e adaptação das informações externas ao mercado brasileiro, da criação de uma publicidade
                                    que aprofunda os consumos, da produção codificada de formas de fazer e regular, como a
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miríade de instrumentos financeiros em vigor.
       Esse movimento da sociedade contemporânea contribui também para concentrar a
renda. Em 1981 a classe mais rica (com renda de vinte salários mínimos ou mais)
representava 0,7% do total de pessoas com dez anos ou mais e concentrava 15,9% de Uma
renda nacional que beirava US$ 12 bilhões. Em 1997 esse grupo era composto por 1,8% da
população de mais de dez anos de idade (2.293.493) e deti- nha 26,4% do rendimento
nacional, que agora alcançava US$ 34,5 bilhões. Isso significa que em dezesseis anos essa
classe aumentou em mais de dez pontos percentuais a sua participação na distribuição da
renda nacional e conseguiu apropriar-se de um volume de riqueza (US$ 9,1 bilhões) a ser
comparado com o total nacional produzido em 1981(US$ 12 bilhões). Entre 1981 e 1997
aqueles cujos rendimentos superam os vinte salários mínimos ganham um aumento de renda           25
de US$ 7,2 bilhões, enquanto o respectivo contingente cresce em 1.627.585 pessoas.
Enquanto a classe mais rica aumenta 3,4 vezes em número de pessoas, seus rendimentos
multiplicaram-se por 4,8. Já as duas classes mais pobres, com renda entre meio e dois




                                                                                                 www.facete.com.br
salários mínimos aumentaram em 2,4 vezes o seu contingente, mas somente em 1,8 vez a
massa, de sua renda. Em 2002 essas classes pobres já representavam cerca de um terço da
população brasileira.
       Nesse contexto, é visível o empobrecimento relativo de uma região como o Nordeste,
ao passo que se torna receptora de grandes investimentos libados a produções inseridas na
atual divisão internacional do trabalho.
       Ao se considerar as classes de maior renda, é significativa a participação dos estados
das regiões Sudeste e Sul. Quanto à classe com rendimento superior a vinte salários mínimos,


                                                                                                 Faculdade de Educação Teológica -
cabiam à área metropolitana paulistana cerca de 22% do total nacional e 58% do total esta-
dual. Desse modo, mais de 40% das classes paulistas mais ricas moravam no interior do
estado, ligadas a uma agricultura cientificizada e a um processo de desconcentração de
indústrias modernas.
       Em consequência, nos últimos anos aumenta o volume da renda e ao mesmo tempo
multiplica-se o número de excluídos no Brasil. Em outros termos, cresce a riqueza
socialmente gerada, com a produção de excedentes, mas piora sua distribuição social e
territorial. Em função de uma estrutura econômica e política concentrada, esse excedente é
legalmente transformado em lucro, isto é, ele é apropriado privadamente sem uma política
pública que permita, de fato, a ampliação do bem-estar social das maiorias. Na política atual,
as regiões mais pobres são alvo da implantação de grandes empreendimentos cujos lucros
tornam-se remessas para o estrangeiro ou para as classes hegemônicas nacionais, de modo
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                                    que seu poder devastador sobre as formas de trabalho locais não é compensado por uma
                                    reativação da economia regional.
                                           É o paradoxo da nação brasileira.

                                                             FINANÇAS,         CONSUMO EPOBREZA

                                           Todavia, o período atual caracteriza-se, entre outros complexos aspectos, pela
                                    exacerbação da possibilidade de obter dinheiro adiantado. É por isso que coexistem uma
                                    evolução decadente do emprego e do salário com um aumento relativo do consumo. Graças à
                                    proliferação do crédito, que parece não abandonar nenhuma parcela da economia nem do
                                    território, houve uma extraordinária expansão dos consumos materiais e imateriais,
                                    produtivos e das famílias.
                                           Ao contrário da produção, que é seletiva nas escolhas dos lugares, a finança se
26
                                    interessa, direta ou indiretamente, pela totalidade do território vivente. E por isso que mesmo
                                    aquelas atividades caracterizadas por baixo grau de capital fixo tecnológico, são chamadas a
                                    aumentar seu capital de giro por meio do crédito, ainda mais quando muitos dos pequenos
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                                    empresários atuam como pessoa física. Quando o spread bancário para empréstimos às
                                    empresas era de 25% ao ano, para as pessoas físicas gira em torno de 57%. A vulnerabilidade
                                    aumenta com a utilização do cheque especial, do crediário e sobretudo do crédito pessoal,
                                    pois os juros atingem valores extremamente altos (entre 505 160% ao ano). Como é
                                    significativo o número de pessoas sem conta bancária ou incapazes de dispor das necessárias
                                    garantias, o crédito pessoal concedido pelas instituições financeiras encontra um terreno
                                    fértil. Formas de verticalização de uma economia popular que, no período da globalização,
                                    conhecem graus superlativos.
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                                           Em 1999 havia 24 milhões de cartões de crédito no Brasil, nas mãos de pessoas que
                                    recebiam mais de cinco salários mínimos. Dessa forma, amplas camadas da população abaixo
                                    desse limiar e sem aces-so a cheques e cartões despontaram como um novo alvo para bancos,
                                    financeiras e supermercados que decidiam fínanceirizar essas faixas da população. Criou-se
                                    então o cartão de crédito popular, que funcio-na como um crédito pré-aprovado, é
                                    proporcional à renda e pode ser usado numa rede comercial credenciada. Além de conseguir
                                    clientes cativos, essas empresas lucram com os juros decorrentes do parcela-mento das
                                    compras. Em 2003 o número total de cartões de crédito no Brasil havia aumentado para 47,5
                                    milhões.
                                           E uma verdadeira capilaridade das redes financeiras que resulta da coexistência de
                                    filiais de grandes instituições, de todo tipo de agio- tas e da profusão de novos tipos de
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crédito oferecidos pelos bancos públicos e privados. A rentabilidade dos bancos, por
exemplo, passou de 10,6% em 1994 para 15,7% em 1998 e para 24,5% em 2002.
       Nesse contexto, o consumo de eletrodomésticos e eletroeletrôni-cos ganha novas
dimensões. Objetos como fogão, geladeira, televisão e rádio chegam maciçamente aos lares a
partir da década de 1980, e mais recentemente se verifica uma expansão do telefone fixo e do
telefone celular. As novas condições de vida urbana se alastram no território brasileiro num
período relativamente curto. A exceção das áreas rurais modernizadas e povoadas por uma
classe média com poder de consumo, a precariedade de certas formas de vida rural parece
resistir tenazmente em certas ilhas do território.
       Dentre os consumos imateriais, o ramo dos seguros também é objeto dessa formidável
ampliação. Com auxílio de uma publicidade que explora implicitamente as debilidades da            27
nova ordem social, criam-se medos e riscos diversificados que devem ser previstos de forma
crescentemente individualizada. O mercado de seguros, capitalização e previdência privada
cresceu cerca de duas vezes entre 1994 e 1998. Submetidos às lógicas do mercado, certos




                                                                                                  www.facete.com.br
bens e serviços, como a educação e saúde, também passam a fazer parte de uma vocação de
consumo que, graças à informação e aos transportes, se alastra na sociedade e no território.
       Entre 1970 e 1980 foram criadas trezentas instituições do ensino superior, e a relação
de pessoas em idade universitária por aluno passa de 28,6 em 1970 para 12,2 em 1980. Após
o extraordinário crescimento de cerca de quinze vezes no número de alunos do ensino supe-
rior entre 1960 e 1980, há uma desaceleração no intervalo 1980-2002 (o aumento é de 2,5
vezes). Em 2002 havia cerca de 3,5 milhões de alunos, dos quais 70% (2,4 milhões)
estudavam em instituições particulares, e 1.637 instituições de ensino superior, das quais


                                                                                                  Faculdade de Educação Teológica -
88% eram particulares, o que significa que num período de dezessete anos (1985-2002)
praticamente dobrou o número de faculdades, com a criação de 778 novas instituições.
       Uma "fronteira educacional" em expansão desenvolve-se nas regiões Centro-Oeste e
Sul. É nessas áreas novas que o setor privado participa da interiorização do ensino superior.
No Centro-Oeste, 90,9% das instituições são particulares. A presença do mercado privado de
ensino superior no Sudeste também é significativa. Em 2002, cerca de 77% dos ingressos por
vestibular correspondiam às instituições particulares. Apesar de sua extraordinária expansão,
o número de candidatos por vaga no sistema particular foi de 2,5 em 2002. Nesse ano havia
pouco mais de 280 mil vagas públicas, disputadas por 2,6 milhões de alunos, isto é, mais de
nove candidatos por vaga. Eis a extraordinária tensão social decorrente de um sistema
público engessado, que contribui para a produção de exclusão e pobreza.
       Quanto à saúde, os estabelecimentos públicos com internação revelaram um ligeiro
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                                    crescimento entre as décadas de 1980 e 1990, representando pouco menos de 30% do total
                                    nacional. Já o crescimento do número de estabelecimentos de saúde com atendimento a pa-
                                    cientes externos foi significativo. Em face da situação econômica e da desproteção social dos
                                    trabalhadores e desempregados, o aumento do número de consultas em estabelecimentos
                                    públicos foi explosivo. Em 1985 registraram-se 256,4 milhões de consultas públicas e 202,8
                                    milhões de consultas particulares, números que em 1997 saltaram para 676 milhões e 388,9
                                    milhões, respectivamente. Enquanto a demanda por serviços de saúde privados cresceu 1,9
                                    vez, o setor público registrou um aumento de 2,6 vezes. Em 2001 realizaram-se mais de 420
                                    milhões de consultas pelo Sistema Único de Saúde (sus), das quais 361 milhões foram
                                    públicas.
                                           A rede de saúde privada privilegia regiões como o Centro-Oeste e o Sul, mas a
28                                  presença dessa rede não se acompanha de um crescimento do acesso aos seguros de saúde e
                                    convênios. Em 1995, apenas 10,7% da população brasileira (16,8 milhões de pessoas) tinha
                                    acesso à medicina de grupo. Esse mercado se concentra nas regiões Sudeste e Sul, com cerca
                                    de 90% (15,1 milhões de pessoas), e sobretudo no estado de São Paulo, com 58% do total
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                                    nacional dos beneficiários da medicina de grupo. Em 2002 havia no país 16,2 milhões de
                                    beneficiários, isto é, 9,5% da população total.
                                           O alargamento dos sistemas ligados à satisfação de necessidades universais tem sido,
                                    no Brasil, sempre mais lento que o volume da demanda. Mas a questão é ainda mais
                                    complexa, pois essa expansão é fortemente comandada por um verdadeiro processo de
                                    privatização de vários aspectos da vida social. Como a distribuição da sociedade bra-, sileira
                                    confunde-se com a amplitude do seu território, podemos dizer que a vida social constitui um
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                                    enorme mercado com densidades bastante diversas. Daí que as áreas de altas densidades
                                    demográficas e altas rendas relativas, equipadas e dotadas de fluidez, configurem tesouros
                                    disputados pelas empresas.

                                                              NEOLIBERALISMO,          TERRITÓRIO

                                                                   EPOBREZA ESTRUTURAL


                                           Trata-se de um uso seletivo do território nacional, que pune as populações mais
                                    pobres, mais isoladas, mais dispersas e mais distantes dos grandes centros e dos centros
                                    produtivos. Enquanto o setor público pode se instalar nos lugares e esperar pela demanda, o
                                    setor privado tende a alojar-se nas regiões onde a demanda já existe ou tem uma perspectiva
                                    de desenvolver-se, sob a cadência de uma nova oferta. Por isso, o neoliberalismo conduz a
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  • 1. Prática Curricular IV: Fontes Escritas, visuais e sonoras- construindo texto didático Faculdade de Educação Teológica - www.facete.com.br
  • 2. Prática Curricular IV FACETE – FACULDADE DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARÁ CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DISCIPLINA: PRÁTICA CURRICULAR IV (FONTES ESCRITAS VISUAIS E SONORAS – CONSTRUINDO TEXTOS DIDÁTICOS) PROFESSOR: EMENTA “A História do Historiador” Introdução ( ou, sobre o que precisamos considerar ao trabalhar com História) Passado e memória dão conteúdo, identidade e espessura a todos os humanos. Por mais isolado que se encontre um grupo, uma comunidade ou mesmo um só indivíduo, todos estão imbuídos de um passado, de uma memória e de uma história. A história de si mesmos é também a história da vinculação com determinado tempo e espaço. A história pessoal de cada um inevitavelmente terá raízes numa história externa, mais ampla, mais difusa, imbricada com o social, o econômico, com as estruturas da cultura, nem sempre perceptível no plano da 2 consciência individual. É justamente da tradução dessas histórias através de narrativa coerente, elaborada a partir de elementos concretos, não ficcionais, com bases num múltiplo e complexo inter-relacionamento entre tempo, espaço e a expressão dos grupos humanos, que se ocupará o historiador. O historiador não será o guardião da memória individual, ou memorialista, mas aquele que ao indagar, capta o sentido da construção de uma memória www.facete.com.br social no tempo, criando uma imagem do passado. Neste sentido a memória é documento, não produto final. Assim como o conteúdo da história não é o indivíduo isolado, tampouco o historiador expressará uma subjetividade ilimitada na sua captação do passado. Pelo simples fato de participar de um passado realizado no presente, de pertencer ou se projetar num determinado grupo social, seu trabalho expressará uma historicidade intrínseca na escolha de temas, na abordagem, na leitura da documentação, no processo de reflexão convertido num contexto. Paradoxalmente, nesta condenação do historiador ao presente situa-se a eternidade de um passado que nunca se esgota. Caso contrário, a história da Grécia, por exemplo, teria sido escrita por Homero e ponto final. No entanto, cada século reelaborou a história da Grécia dentro de suas perspectivas e possibilidades. Nos limites entre a ―consciência possível‖ e a ―consciência real‖ próprias e de seu tempo, o historiador busca no passado a consciência de Faculdade de Educação Teológica - seu tempo. O historiador, diante da necessidade de organizar seu pensamento, seu entendimento, cria medidas e categorias de tempo, organiza esse tempo em função de fatos, de ciclos, de épocas, de estruturas. Dessa forma, acrescenta uma noção de tempo diversa daquela vivida pelas comunidades, ou seja,, o tempo jamais é único no estudo da história, é desigual e particular a cada sociedade, a cada momento e a cada espaço.É físico e metafísico. Pode até mesmo não existir. Dependendo de suas crenças, é possível a uma sociedade conceber um mundo sem passado, num eterno presente em que passado e futuro se fundem. No Egito, na China, há deuses que significam o próprio tempo, um tempo contínuo, seria um não-tempo divino que interpreta o cotidiano. Na cultura do cristianismo, o tempo existe na esfera do humano, fora da divindade, que é eterna... (QUEIROZ, Tereza Aline P. e IOKOI, Zilda Márcia G. A História do Historiador. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 1999. P.07 a 12, Introdução).
  • 3. Prática Curricular IV Um pouco sobre o ensino da História no Brasil A partir da constituição do Estado brasileiro a História tem sido um conteúdo constante do currículo da escola elementar. O texto do decreto revelava que a escola elementar destinava-se a fornecer conhecimentos políticos rudimentares e uma formação moral cristã à população. A História a ser ensinada compreendia História Civil articulada à História Sagrada. A constituição da História como disciplina escolar autônoma ocorreu apenas em 1837, com a criação do Colégio Pedro II, o primeiro colégio secundário do país, que apesar de público era pago e destinado às elites e apenas a História Universal. A História do Brasil foi introduzida no ensino secundário depois de 1855 e, logo após, foram desenvolvidos programas para as escolas elementares. No final da década de 1870 foram feitas novas reformulações dos currículos das escolas primárias visando criar um programa de História Profana, mais extenso e eliminar a História Sagrada. Os métodos de ensino estão aplicados nas aulas de História eram baseados na memorização e na repetição oral dos textos escritos. Os materiais didáticos eram escassos, 3 restringindo-se à fala do professor e aos poucos livros didáticos com perguntas e respostas, facilitando as argüições. Desse modo, ensinar História era transmitir os pontos estabelecidos nos livros, dentro do programa oficial, e considerava-se que aprender História reduzia-se a saber repetir as lições recebidas e prontas. Pulando o século XIX, a partir de 1930, o ensino de História era idêntico em todo www.facete.com.br o país, dando ênfase ao estudo de História Geral, sendo o Brasil e a América apêndices da civilização ocidental.com o processo de industrialização e urbanização se repensou sobre a inclusão do povo brasileiro na História. Nos programas e livros didáticos, a História ensinada incorporou a tese da democracia racial, da ausência de preconceitos raciais e étnicos. Nessa perspectiva, o povo brasileiro era formado por brancos descendentes de portugueses, índios e negros, e, a partir dessa tríade, por mestiços, compondo conjuntos harmônicos de convivência dentro de uma sociedade multirracial e sem conflitos, cada qual colaborando com seu trabalho para a grandeza do país. Ao longo desse período, poucas mudanças aconteceram em nível metodológico. Apesar das propostas escolanovistas de substituição de métodos mnemônicos pelos métodos ativos, com aulas mais dinâmicas, centradas nas atividades do aluno, com a realização de Faculdade de Educação Teológica - trabalhos concretos como fazer maquetes, visitar museus, assistir a filmes, comparar fatos e épocas, coordenar os conhecimentos históricos aos geográficos. Os métodos tradicionais de ensino têm sido questionados com maior ênfase. Os livros didáticos, difundidos amplamente e enraizados nas práticas escolares, passaram a ser questionados em relação aos conteúdos e exercícios propostos. A simplificação dos textos, os conteúdos carregados de ideologias, os testes ou exercícios sem exigência de nenhum raciocínio são apontados como comprometedores de qualquer avanço que se faça no campo curricular formal. Dessa forma, o ensino de História atualmente está em processo de mudanças substantivas em seu conteúdo e método. Reafirmar a importância do currículo, não desprezando totalmente os livros didáticos disponíveis já que alguns são de boa qualidade, mas atentando para a importância do historiador produzir, a partir de um sólido referencial teórico, novos subsídios nascidos da observação atenta e crítica dos fatos históricos, textos didáticos novos que contemplem diversas fontes escritas visuais e sonoras são o que pretende esta disciplina. OBJETIVO GERAL: Capacitar aos futuros historiadores construírem, a partir de um sólido referencial teórico-histórico apreendido durante o curso e se utilizando das fontes
  • 4. Prática Curricular IV escritas visuais e sonoras, textos didáticos que possibilitem aos seus alunos a realização de leituras críticas dos espaços, das culturas e das histórias do seu cotidiano. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: - Orientar aos professores a construção de um material didático que privilegie a história crítica, pretendendo desenvolver com os alunos atitudes intelectuais de desmistificação das ideologias, possibilitando a análise das manipulações dos meios de comunicação de massas e da sociedade de consumo. - Possibilitar a hetero-crítica dos livros didáticos e questioná-los e relação aos conteúdos e exercícios propostos: a simplificação dos textos, os conteúdos sem nexo, os exercícios sem exigência de nenhum raciocínio, imprópria iconografia e outros fatores que denigram o ensino-aprendizagem da História. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1- Conceitos de currículo e de referencial teórico; 2- Prática de produção de texto didático utilizando as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e o correto manuseio das fontes escritas visuais e sonoras; 3- Como fazer pesquisa bibliográfica relacionando com o assunto pesquisado. 4 METODOLOGIA/ATIVIDADES A disciplina Prática Curricular IV priorizará atividades que possibilitem a construção de textos didáticos além de atividades em grupo, pesquisas e confecção de painéis e outros. www.facete.com.br O Ensino e a aprendizagem da História estão voltados, inicialmente, para atividades em que os alunos possam compreender as semelhanças e as diferenças, as permanências e as transformações no modo de vida social, cultural e econômico no presente e no passado, mediante a leitura de diferentes obras humanas. O trabalho do professor consiste em introduzir o aluno na leitura das diversas fontes de informação: registros escritos, iconográficos e sonoros, para que adquira, pouco a pouco, autonomia intelectual. O percurso do trabalho escolar inicia, dentro dessa perspectiva, com a identificação das especificidades das linguagens dos documentos – textos escritos, desenhos, filmes -, das simbologias e das formas de construções dessas mensagens. Para tal tarefa é necessário que ao construir os textos didáticos a utilização de vários materiais não só de origem canônica (sociais, culturais, artísticos, religiosos), mas Faculdade de Educação Teológica - também requer o estudo de novos materiais (relatos orais, imagens, objetos, danças, músicas, narrativas) que devem se transformar em instrumentos de construção do saber histórico. Privilegiar, portanto, na construção dos textos didáticos de modo geral o trabalho com fontes documentais – fotografias, entrevistas, pesquisa bibliográfica, formulação de hipóteses, comparação de informações e perspectivas diferentes sobre um mesmo acontecimento, teatro, murais, quadros cronológicos, debates, mapas, filmes, depoimentos, edificações, objetos de uso cotidiano – é necessário desenvolver trabalhos específicos de levantamento e organização de informações, leitura e formas de registro. Os documentos são fundamentais como fontes de informações a serem interpretadas, analisadas e comparadas. São cartas, livros, relatórios, diários, pinturas, esculturas, fotografias, filmes, músicas, lendas, falas, espaços, construções arquitetônicas ou paisagísticas, instruções e ferramentas de trabalho, utensílios, vestimentas, restos de alimentos, habitações, meios de locomoção. São, ainda,os sentidos culturais, os estéticos, técnicos e históricos que os objetos expressam, organizados por meio de linguagens( escrita, oralidade, números, gráficos, cartografia, fotografia, arte). É importante analisar a linguagem escrita, considerada como universo simbólico que abarca signos simbólicos, conteúdos, mensagens, sentidos, construção argumentativa,
  • 5. Prática Curricular IV estrutura lingüística, etc. Finalmente, mas não menos importante é preciso que ao se produzir um texto didático que contemple a história regional, o profissional de história deve fazer recortes e considerar alguns aspectos relevantes, desenvolver um trabalho de integração dos conteúdos de História com outras áreas do conhecimento. REREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANPUH. Memória, História, Historiografia: dossiê ensino de história. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 13, n. 25/26, set. 2002/ago.2003. BITTENCOURT, C.M.F. Pátria, civilização e trabalho: ensino de História nas escolas paulistas. São Paulo: Loyola, 1990. BLOCH, M, Introdução à história. Lisboa: Presença, s/d. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto/ Secretaria do Ensino Fundamental e médio. Parâmetros Curriculares Nacionais- História. Vol. 5. Brasília. 1997. CABRINI, C. ET alii. O ensino de história: revisão urgente. São Paulo: Brasiliense, 1996. CERTEAU, M. DE. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense. 2002. 5 COCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz C. A coerência textual. 3. Ed. São Paulo: Contexto, 2001.ão Paulo: Contexto, 2001. DIAS, M.O.L.da S. Quotidiano e poder. São Paulo: Brasiliense, 1994. FONSECA, S. G. Caminhos da história ensinada. Campinas: Papirus, 2003. Guia do livro Didático/ PNLD 2004. Brasília: MEC, 200º. www.facete.com.br HELLER, A. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro. 1992. HOBSBAWM, E. e RANGER, T. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004. NADAI, E. A escola pública contemporânea: propostas curriculares e ensino de história. Revista Brasileira de História, Rio de Janeiro, v. 11, 1996, p. 99-116. SILVA, M. (ORG.). República em migalhas, História regional e local. Rio de Janeiro: Marco Zero; MCT/CNPq, 2000. ____________. Repensando a história. Rio de Janeiro: Marco Zero, 2004. Faculdade de Educação Teológica -
  • 6. Prática Curricular IV SUMÁRIO 1- Por que há tantas desigualdades sociais no Brasil? Um panorama da riqueza e da pobreza brasileira. 2- Fazer História: Problemas de método e problemas de sentido. 3- Estrutura da Vida Cotidiana 4- Indivíduo e Comunidade: - Uma contraposição real ou aparente? 6 www.facete.com.br Faculdade de Educação Teológica -
  • 7. Prática Curricular IV POR QUE HÁ TANTAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL? Um panorama da riqueza e da pobreza brasileira María Laura Silveira INTRODUÇÃO CADA MOMENTO DA HISTÓRIA pode ser reconhecido por uma dada feição do território ou, em outras palavras, pela existência de um sistema de infra-estruturas e uma dada organização da vida política, econômica e social. Produto do trabalho, essas bases materiais e 7 políticas dão lugar à consecução de um novo trabalho e à sua divisão entre as pessoas e os lugares.1 Assim, a história de uma nação pode ser contada pela sucessão das infra-estruturas ligadas à produção e à circulação — que podemos chamar de configurações territoriais — www.facete.com.br mas, ao mesmo tempo, pela sucessão de políticas industriais, financeiras, sociais etc. Em cada pedaço do território nacional, a quantidade e qualidade das infra-estruturas e das políticas possibilitam o exercício, mais ou menos bem-sucedido, de um tipo de trabalho valorizado no mundo contemporâneo. É por isso que podemos dizer que as regiões dão valor ao trabalho que nelas se desenvolve, mas, reciprocamente, a chegada de novos objetos e normas também cria valor nas regiões; Produz-se então uma hierarquia entre as regiões do país. Essa história paralela das coisas e das ações denota o modo como o território é usado pela sociedade, e sua análise revelar-nos-ia as respectivas formas de inclusão das pessoas e Faculdade de Educação Teológica - das regiões. O que não é incluído nessa repartição do trabalho privilegiada pela política de um país perde valor e, assim, se empobrece. Como o trabalho considerado moderno muda sua natureza e sua localização, as feições e extensões da modernidade e da pobreza variam no tempo. Incapazes de acompanhar o passo do processo de modernização material e organizacional, certas pessoas e regiões são excluídas das benesses da modernização, sem todavia deixarem de ser resultado dela. Assim, a cada momento certas formas de trabalho são valorizadas e outras não, certas regiões passam a abrigar o trabalho que se valoriza e outras o perdem. Essa perda de valor é uma das causas centrais da pobreza e, como esta adquire conteúdos diferentes segundo os contextos regionais, falamos, conjuntamente, de desigualdades regionais. 1 Santos, Milton. A natureza do espaço: iécnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
  • 8. Prática Curricular IV Apesar de ser vista, amiúde, como um resultado indesejado do processo modernizador, a pobreza é, tantas vezes, considerada inelutável. Mas ela o é apenas quando estamos diante de uma ação política que, explícita ou sub-repticiamente, valoriza a velocidade, a fluidez e a competitividade do trabalho. Ao contrário, a construção de um pro-jeto coletivo de sociedade aconselharia reconhecer a pobreza menos como um resultado indesejado e mais como uma dívida social resultante de um processo produtor de formas de exclusão. DOS T E M P O S VAGAROSOS DA N A T U R E Z A AO BR A S I L AR Q U I P É L A G O Uma das características marcantes do território brasileiro é sua grande extensão. Trata- se de um território com uma enorme variedade de sistemas naturais sobre os quais a história 8 foi se fazendo de um modo também diferenciado. A conquista desse meio natural por formas de trabalho modernas, frequentemente conhecida como ciclos da economia, mostra a escolha, em cada momento, das áreas mais aptas para a implantação das novas atividades. A ocupação www.facete.com.br do litoral é sucedida pela dinâmica das frentes pioneiras, que vagarosamente interiorizam a exploração européia do território.2 Durante três longos séculos o uso da técnica na ocupação foi bastante limitado e, assim, as condições naturais eram as respostas a uma ação humana tanto local quanto forânea. No desafio às condições naturais e no enfrentamento das distâncias, o corpo do homem era o principal instrumento. Criavam-se, em virtude do tipo de produção, áreas de densidade ou de rarefação. Homens, plantas e animais de três continentes, sob o império dos europeus, encontraram-se em pontos privilegiados da terra brasileira e, no seu convívio, tornado Faculdade de Educação Teológica - obrigatório pelo trabalho, criaram uma nova geografia nesta porção dg planeta. A ocupação primeira do território dá-se com a cultura da cana-de-açúcar, em seguida do fumo e de produtos alimentícios e depois do algodão nos agrestes nordestinos. A cultura da cana-de-açúcar, baseada no desmatamento da floresta, permite a criação das primeiras plan-tations e a floração de uma série de pequenos centros no Recôncavo da Bahia e na Zona da Mata. As localidades estavam separadas por distâncias que se cumpriam em um dia de marcha e que presidiam o comércio e o abastecimento das áreas produtoras. Segundo suas exigências no processo de produção, os diversos produtos conduziram a uma certa organização do território, vinculada a uma organização do calendário agrícola, à demanda de mão-de-obra e às necessidades de transformação. Ê o caso da cana-de-açúcar que precisava 2 Andrade, Manuel C. de. A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.
  • 9. Prática Curricular IV ser rapidamente levada aos engenhos, o beneficiamento do fumo se dava nas aglomerações e assim por diante. Dessa forma, a natureza do produto conduzia a uma determinada organização do território, sobretudo quando se tratava de um produto de exportação.3 Desde a instalação do Governo Geral em Salvador, em 1549, até a Independência, em 1822, não se criaram fluxos verdadeiramente nacionais no domínio da economia. A máquina de Estado servia para preservar e ampliar as fronteiras, manter o regime e a ordem, assegurar a coleta de impostos e, com a ajuda da Igreja, unificar a língua. A unidade política e linguística era contemporânea da vinculação quase direta entre as diversas regiões e o mercado externo. A falta de intermediários produziu uma evolução espacial e econômica caracterizada por "ilhas" de produção. Daí a imagem de um vasto arquipélago, formado, na verdade, por um conjunto de "penínsulas" da Europa. 9 A interiorização do povoamento foi devida à mineração e à criação de gado nas fazendas. A pecuária era dispersa pelo território dos sertões, enquanto a exploração dos diamantes e do ouro foi responsável pelo surgimento de inúmeros núcleos de vida urbana no www.facete.com.br interior dos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso. Despontavam nos albores da interiorização os sertões do Nordeste, que abasteciam as zonas de agricultura comercial do litoral e as zonas de mineração, e os campos do Sul, que serviam à produção de couro e charque.4 Durante séculos, o território brasileiro, sobretudo algumas áreas do Nordeste, conheceu uma produção fundada muito mais no trabalho direto e concreto do homem do que na incorporação de grandes sistemas de infra-estrutura à natureza. A pobreza estava ligada sobretudo à seleção que a natureza fazia das produções e das formas de buscar domesticá-la. Faculdade de Educação Teológica - Coincidindo com as condições dos meios naturais 'ou com as sazonalidades da incipiente produção, a pobreza não significava verdadeiramente uma exclusão social. A MECANIZAÇÃO DA P R O D U Ç Ã O E DO T E R R I T Ó R I O Novas geografias desenham-se sobretudo a partir da utilização de novos recursos, prolongamentos não apenas do corpo do homem, mas do próprio território. Emerge o espaço mecanizado. São as lógicas e os tempos humanos impondo-se à natureza com a emergência de sucessivos meios técnicos, todos incompletamente realizados, todos incompletamente difundidos. A partir da segunda metade do século XIX mecaniza-se a produção mediante a 3 Furtado, Celso. Formação econômica do Brasil. 2a ed. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959. 4 Prado Jr., Caio. História econômica do Brasil. 23a ed. São Paulo: Brasiliense, 1980 [1945].
  • 10. Prática Curricular IV instalação de usinas açucareiras e, mais tarde, o território com a navegação a vapor e as estradas de ferro. Às técnicas da máquina circunscritas à produção sucedem as técnicas da máquina incluídas no território. Criam-se interdependências entre os navios, os portos, as ferrovias, as primeiras estradas de rodagem e as usinas de eletricidade, que permitiram a constituição dos primeiros sistemas de infra-estruturas, verdadeiros sistemas de engenharia no território brasileiro. Todavia, em enormes pedaços do território reinava o meio natural, impondo, como na Amazônia, significativos estorvos à exploração e à posse dos europeus. Baseados em grande parte no investimento público, a produção e o comércio da borracha permitiram o crescimento de Belém e de Manaus, assim como São Paulo e Santos devem ao café o seu desenvolvimento. Na Bahia, sob o comando do porto de Ilhéus, o cacau ajudou a criar uma rede de cidades. Foram instaladas as primeiras indústrias brasileiras, que 10 não eram necessariamente urbanas. Algumas dependiam da proximidade das matérias-primas — como o algodão, cultivado em áreas da Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e Maranhão — ou de fontes de energia diretamente utilizáveis, que se encontravam fora das cidades. Mas, a partir de um certo desenvolvimento técnico que permitiu o deslocamento de www.facete.com.br materiais e fluidos, a localização da produção industrial tornou-se menos dependente da presença contígua de matérias-primas e de fontes de energia e mais vinculada à oferta de mão-de-obra e de mercados. Das 636 fábricas existentes no Brasil em 1890, que empregavam 54.169 operários, as mais numerosas e importantes estavam no Rio de Janeiro. O crescimento das cidades foi, entretanto, desigual, em virtude das oscilações das economias regionais ou de seu papel político.' Dominando uma vasta extensão do território, cada cidade desenhava verdadeiros circuitos interiores. O motor fundamental dessa vida de Faculdade de Educação Teológica - relações era o comércio, principalmente orientado para o estrangeiro. Mas, as regiões organizavam-se com os meios muito limitados de que dispunham as cidades e suas relações com o exterior eram hierárquicas. A inexistência de transportes interiores rápidos era responsável por um isolamento, quebrado apenas pelos transportes marítimos. Mesmo na primeira fase dos transportes mecânicos, com a criação das vias férreas, não mudou muito a situação, pois a vinculação circunscrevia-se às zonas de produção e aos portos. Não havia uma integração. O aparelhamento dos portos, a construção de estradas de ferro e as novas formas de participação do país na fase industrial do modo de produção capitalista permitiram às cidades beneficiárias aumentar, pouco a pouco, seu comando sobre o espaço regional, enquanto a navegação, muito mais importante para o exterior, apenas ensejava um mínimo de contatos entre as diversas capitais regionais, mas também entre os portos de importância.
  • 11. Prática Curricular IV Consolidavam-se as áreas de monocultura de exportação e, paralelamente, o processo de urbanização aumentava as demandas de eletricidade. A introdução da estrada de ferro vai permitir um uso mais dinâmico do território. Criam-se duas lógicas. A exceção da área hoje nucleada por Rio de Janeiro e São Paulo, a estrada de ferro reforça os laços privilegiados entre as metrópoles regionais e suas respectivas hinterlândias, mas sem estabelecer entre tais metrópoles relações outras que não as permitidas pela navegação marítima. Todavia, no Sudeste criam-se, de um lado, uma rede localizada de ferrovias e, de outro, um intercâmbio baseado nas formas modernas de dividir territorialmente o trabalho. A expansão do sistema de circulação e das áreas de produção agrícola para exportação reforçou o crescimento do emprego, sobretudo nas áreas próximas ao litoral. A pobreza, cuja 11 face era sobretudo rural, vinculava-se mormente a uma estrutura de propriedade injusta. Eram situações locais, cujas soluções também eram locais por meio da política assistencialista do Estado ou, por vezes, pela ação social e pontual de uma empresa. Tais soluções não estavam www.facete.com.br ainda permeadas pela lógica do capital financeiro ou de instâncias internacionais. Era uma "pobreza incluída".5 Embora a riqueza gerada nesse país-conti-nente não conhecesse formas satisfatórias de distribuição, a inclusão social, a partir do crescimento do emprego, permitia uma evolução menos brutal das desigualdades. DA MECANIZAÇÃO DA CIRCULAÇÃO AO ALVORECER DA INDUSTR IALIZAÇÃO Como a economia era fundada em técnicas menos intensivas, o aumento dos volumes produzidos significava, frequentemente, a criação de empregos. Ao mesmo tempo, a Faculdade de Educação Teológica - industrialização nascente se fez numa fase em que os progressos técnicos eram menos rápidos e as escalas de produção menos estendidas, de sorte que o tempo de vida de uma fábrica era maior, e a cada necessidade de aumentar a produção uma outra fábrica era agregada. A massa salarial, fabril e rural, contribuía para o nascimento de outras fábricas. Paralelamente, uma certa ociosidade da estrutura de transporte, já que os trens vinham carregados de café para São Paulo e o litoral e voltavam vazios, permitiu uma diversificação produtiva. Esses fatos, somados à expansão da capacidade de consumo de uma população que se urbanizava, permi- tiram um maior desenvolvimento industrial. A imigração beneficiou as regiões para onde se dirigia, já que os grupos de imigrantes eram portadores de uma tecnologia industrial e constituíam uma mão-de-obra qualificada, 5 Santos, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.
  • 12. Prática Curricular IV desejosa de reproduzir no Brasil um modelo de consumo que haviam conhecido ou. almejado obter nos seus países de origem. Nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná a política oficial de imigração e colonização determinou a forma de povoamento e de trabalho. São Paulo foi, certamente, o grande beneficiário desse movimento migratório. A população brasileira aumentou continuamente no decorrer desses anos. A luta contra a morte, conjuntamente com o combate menos eficaz contra o analfabetismo, resultou num enorme aumento dos efetivos demográficos. Desde o início do século XX até a segunda década, a população passou de 17,4 milhões para 30,6 milhões. O aumento populacional teve como consequência não somente um aumento das densidades demográficas em cada região, mas também a sua redistribuição. Se as populações do Nordeste, do Sudeste e do Sul dobraram nesses vinte anos, o aumento foi ainda mais significativo na Amazônia. Essa 12 redistribuição manifestou-se por um novo equilíbrio demográfico regional e um abandono do campo, com o aumento do número das cidades e de sua população. Em 1940, cerca de um terço da população brasileira era urbana. Uma grande parte dos brasileiros do Norte e do Nordeste abandonou essas regiões e dirigiu-se para as cidades do Sul. No final do século XIX www.facete.com.br ambas regiões representavam mais de um terço da população nacional e em 1960 cor- respondiam a um quarto, ainda que seus índices de natalidade fossem os mais altos do país. Um aumento de 2,2 vezes na matrícula do ensino fundamental entre 1940 e 1960 revelou-se importante mas não suficiente, ainda que se verificasse uma expansão nas diferentes regiões do país. Embora evidenciando uma velocidade de crescimento análoga, o ensino médio mostrava um número de alunos consideravelmente mais baixo. As instituições de ensino superior, que eram 28 em 1908, aumentaram para cinquenta em 1912 e para 248 Faculdade de Educação Teológica - em 1935. O Sudeste, o Nordeste e, mais tarde, o Sul foram as regiões que apresentaram o maior número de instituições, tanto públicas como particulares. Paralelamente verifica-se uma explosão no número de matrículas. O principal centro universitário nas primeiras décadas do século era o Rio de Janeiro, que reunia cerca da metade dos alunos do país. Alguns anos mais tarde, São Paulo despontou como um centro educacional importante, sobretudo quando se generalizou uma demanda de cultura industrial orientada à transformação material do território. É o primeiro momento de um longo processo de integração nacional, que se acompanha do início da hegemonia de São Paulo, com o crescimento industrial do país e a formação de um esboço de mercado territorial no Centro-Sul.
  • 13. Prática Curricular IV A INTEGRAÇÃO DO MERCADO E DO T E R R I T Ó R I O A Segunda Guerra Mundial havia revelado as carências do sistema de transportes e a necessidade de um planejamento nacional que se preocupasse com os sistemas de infra- estruturas. Um sólido processo de industrialização pôs-se em marcha, e a cidade de São Paulo tornou-se a grande metrópole fabril. Nessa cidade estavam presentes todos os tipos de indústrias e, convocado a acompanhar esse despertar industrial, o país inteiro conheceu uma quantidade de solicitações e foi impregnado pela necessidade de completar a integração nacional. Juntou-se à rede de ferrovias um sistema de estradas de rodagem que permitiu, pela primeira vez, comunicar as diversas regiões do país entre si. As necessidades de alimentos e matérias-primas para uma metrópole que aumentava sua população e suas indústrias e, de certo modo, seu nível de vida demandavam novos 13 patamares de circulação. Os intercâmbios foram favorecidos pela nova base material e por políticas específicas e, assim, o mercado se unificava ao ritmo da integração do território. O Brasil-arquipélago cedia lugar a um território mais fluido. www.facete.com.br Em 1950, registravam-se mais de 70 mil estabelecimentos industriais e cerca de 1,3 milhão de pessoas ocupadas. Era uma época em que as micro e pequenas empresas representavam 96,7% dos estabelecimentos e eram responsáveis por 42,3% dos empregos no setor. Com 3 milhões de habitantes, São Paulo concentrava mais de um terço dos estabelecimentos industriais e do emprego industrial do país, o que evidencia também o crescimento da região do ABC. É num Brasil integrado pelos transportes e comunicaçõese pelas necessidades advindas da industrialização e da criação de um mercado interno que nascem importantes Faculdade de Educação Teológica - cidades no interior. Estas decor-rem do crescimento populacional, da elevação dos níveis de vida, da expansão do consumo e da demanda de serviços em número e fre-qúência maiores que anteriormente. O transporte rodoviário de mercadorias reorganiza as relações entre os centros regionais e a metrópole econômica do país. Sem dúvida, o traçado das estradas obedecia às novas exigências da indústria e do comércio, que acabaram por reforçar a posição de São Paulo como centro produtor e, ao mesmo tempo, centro de distribuição primária. A criação de uma indústria automobilística e a construção de Brasília j também confluíram para favorecer São Paulo e ampliar, quantitativa e qualitativamente, as diferenças regionais.6 As antigas metrópoles costeiras foram, desse modo, tornando-se relativamente menos 6 Fernandes, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 3a ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981 [1974].
  • 14. Prática Curricular IV polarizadoras das respectivas populações regio-nais. Como mencionamos, entre outras razões, os novos sistemas de transporte induziam os deslocamentos para São Paulo e Rio de Janeiro, e aquelas antigas metrópoles litorâneas tornaram-se incapazes de fornecer os novos bens e serviços às suas tradicionais áreas de ínfluência. Por essa razão, os núcleos urbanos mais recentemente criados ou desenvolvidos ligavam-se diretamente a São Paulo, para obter as respostas econômicas e técnicas de que necessitavam. Pouco a pouco, Brasília vai retirando do Rio de Janeiro a centralidade do poder, isto é, das ordens de natureza pública com as quais o território deveria ser regulado. São Paulo, por sua vez, vai subtraindo ao Rio de Janeiro o comando da economia, atribuindo-se, por meio de uma indústria capaz de abastecer e equipar um Brasil relativamente unificado pelos transportes, a produção das ordens econômicas e da regulação económica do território. O 14 desequilíbrio entre a estrutura industrial do Rio e a de São Paulo consolida-se realmente quando a indústria paulista conhece uma diversificação e a do Rio de Janeiro deixa de seguir esse caminho. A formação de capital na região de São Paulo é um dos fatores dessa diversificação. Brasília tende rapidamente a se instalar como metrópole política e São Paulo www.facete.com.br afirma-se ainda mais como metrópole econômica, enquanto ambas essas funções vão minguando na antiga capital imperial e republicana, Rio de Janeiro. Estabelecem-se relações entre a metrópole económica e as áreas agrícolas tecnificadas e dinâmicas bem mais significativas do que com o resto do país, constituindo uma especificidade da nova divisão territorial do trabalho. Abandonadas por essa repartição do trabalho, gran-des camadas da população urbana do Nordeste e do Norte conheceram, agora, o fenômeno da pobreza. Faculdade de Educação Teológica - Essa urbanização recente foi acompanhada de um crescimento da demanda educacional. A matrícula no ensino fundamental mais que triplicou entre 1960 e 1980 e resulta significativa em todas as regiões. Todavia, surpreende a situação do ensino médio que, ao longo dessas duas décadas, cresceu cerca de sete vezes, apesar de estar muito aquém de uma universalização. Tal retrato completa-se com uma nova explosão da matrícula universitária entre 1960 e 1970, quando aumentou em cerca de 3,6 vezes. Cursos e instituições, sobretudo particulares, colonizam as diversas regiões do país. Criavam-se então as condições de formação do que hoje é a região polarizada do país. Foi um momento preliminar da integração territorial, marcado por uma integração regional do Sudeste e do Sul. Mas, de certo modo, permaneciam muitas das velhas estruturas sociais. Em 1960, cerca de 33 mil proprietários possuíam quase a metade da superfície das propriedades agrícolas brasileiras, enquanto 3,3 milhões dispunham apenas da outra metade. Tal estrutura
  • 15. Prática Curricular IV da propriedade favorecia, ao mesmo tempo, a persistência da pobreza e o abandono do campo. Os excedentes de população, cada ano mais numerosos, encontraram um refúgio nas cidades. Isso explica um crescimento urbano superior a 10% anuais em vários centros regionais e de 6% nas grandes metrópoles, enquanto o número de empregados e subempre- gados aumentava num ritmo ainda maior. O deslocamento desses milhares de indivíduos para as cidades respondia quase sempre a uma busca por melhores condições de vida. Os novos meios de comunicação foram em grande parte responsáveis por essa revolução. Intensificaram-se as migrações para o estado de São Paulo. Bahia, Minas Gerais e Pernambuco eram os principais estados de origem dos contingentes. Esse período criou as condições para a reativação do processo de enfraquecimento de todas as periferias, enquanto 15 o país parecia refluir para o seu centro: capitais privados, investimentos públicos, população, crescimento e pobreza. A pobreza despontava como uma das principais causas das migrações desses contingentes, que amiúde encontravam uma pobreza de nova qualidade nos seus www.facete.com.br lugares de destino. OS P R I M Ó R D I O S DA G L O B A L I Z A Ç Ã O NO B R A S I L A revolução dos transportes ocorrida nas décadas de 1950 e 1960 segue-sé", nos anos 1970, uma revolução das telecomunicações, com as perspectivas abertas pela revolução científico-técnica e a incorporação dos satélites brasileiros.7 A ideologia de racionalidade e modernização a qualquer preço ultrapassa o domínio industrial, impõe-se ao setor público e invade áreas até então não tocadas ou alcançadas só indiretamente, como, por exemplo, a Faculdade de Educação Teológica - manipulação da mídia, a organi-zacão e o conteúdo do ensino em todos os seus graus, a profissionalização e as relações de trabalho. As transformações das bases materiais e sociais do território brasileiro, graças aos acréscimos de ciência e de técnica, significam, também, a exigência de novas qualificações profissionais. O aumento de mais de 220% na matrícula universitária entre 1970 e 1980 é talvez a melhor evidência da necessidade e do desejo de apropriar-se de uma sofisticada cultura técnica e organizacional. Como a proporção de instituições particulares aumentou ao longo desses anos, estaríamos autorizados a falar, ao mesmo tempo, de uma difusão geo- oráfica do ensino superior e de uma difusão social, agora reguladas pelas leis do mercado. Agravam-se o atraso e as disparidades sociais sobretudo a partir da imposição de um 7 Dias, Leila Christina. "Les enjeux socio-spatiaux du développement des réseaux de télécommunications au Brésil". Document de Recherche du Credal, nº 204, 1989, pp. 28-41.
  • 16. Prática Curricular IV modelo de consumo norte-americano que significa, ao mesmo tempo, um modelo de produção, tornando mais pobre a nação, pois mesmo que os valores absolutos da renda pudessem aumentar, crescia o desamparo social produzido pelo poder público e pela dependência tecnológica, organizacional e financeira. Tal promessa de consumo, encarnada na publicidade e no crédito, espalha-se na sociedade e no território, de modo que os pobres já não podiam ser definidos como os excluídos de tal consumo, nem o fato de consumir era prova de inclusão social. Considerada o oferta infinita de bens e serviços e a criação científica e permanente de necessidades, a pobreza torna-se relativa e quantificável, enquanto a carência dos mais elementares bens e serviços ganha, agora, indicadores e participa de complexas equações. Pobreza e miséria passam a ser alvo de programas específicos ou da aplicação de ações isoladas inspiradas nos 16 países que usufruíam das condições do Estado de bem-estar ou mesmo dos países socialistas.8 De alguma forma é o momento da aplicação de políticas desenvolvimentistas, precedidas por discursos que denunciavam uma drenagem de regiões pobres para regiões mais ricas. Testemunha precoce desse debate político, a Superintendência de Desenvolvimento do www.facete.com.br Nordeste (Sudene) havia sido criada já no fim dos anos 1950. O dinamismo econômico da área Sudeste-Sul e o esvaziamento demográfico e económico das áreas periféricas perduraram até o final da década de 1970. A diminuição da atividade econômica que afetava o país como um todo parecia, então, uma ameaça à continuidade do modelo. Para mantê-lo, era indispensável retomar a atividade, ao preço de mais investimentos públicos e mais injeção de recursos para promover a exportação, mais proteção ao grande capital e menor retribuição ao trabalho,9 ao preço de uma política social Faculdade de Educação Teológica - ainda menos generosa e, necessariamente, de uma ordem ainda maior no campo político- social. A prédica do crescimento foi razão política suficiente para a realização de grandes projetos, viabilizados por volumosos empréstimos. Em decorrência, o endividamento tornou-se — e é até hoje — uma forma onipresente de distorção da economia e do território, pois todos os demais desejos e realidades deverão subordinar-se à dívida, que passa a ser o eixo da vida nacional. Uma nova divisão territorial do trabalho esboça-se no Brasil a partir da necessidade de transformar minérios e produzir derivados do petróleo. É o momento de implantação de 8 Santos, Milton. Por uma outra globalização, op. cit. 9 Mamigonian, Armen. "Teorias sobre a industrialização". São Paulo: Laboratório de Geografia Política e Planejamento Territorial e Ambiental, Departamento de Geografia da USP, 1992. (Seleção de Textos nº 4).
  • 17. Prática Curricular IV complexos e pólos indus-triais ligados à petroquímica na Bahia, à siderurgia no Maranhão, ao minério de ferro em Carajás, aos derivados do cloro em Alagoas e à eletrometalurgia em Tucuruí. Paralelamente, havia a necessidade de substituir o petróleo em alguns setores da circulação. Daí a institucionalização, em 1975, do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), que, com o ingresso maciço da cultura de cana-de-açúcar, muda a geogra-fia do interior paulista. Os anos 1970 foram, assim, um marco na modernização da agri-cultura, no desenvolvimento do capitalismo agrário, na expansão das fronteiras agrícolas e na intensificação dos movimentos dos trabalhadores volantes — os bóias-frias. Novos conflitos no campo não se fizeram esperar. Estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia 17 apresentam altas taxas de emigração líquida entre 1950 e 1980. Áreas que haviam sido atrativas em outros momentos transformaram-se, nos anos 1970, em expulsoras de uma população cujo destino eram as metrópoles ou as novas frentes pioneiras, como a Amazônia. www.facete.com.br Uma produção industrial extrovertida, um maior endividamento, um aumento do número e do poder das firmas estrangeiras, para as quais tudo era facilitado, uma ampliação das facilidades de circulação dentro do país e para os canais de exportação se conjugaram com uma tendência à concentração e à centralização da economia, assim como à concentração geográfica e à concentração da renda. Aumentam os intercâmbios, e em decorrência cresce e se diversifica o setor terciário da economia, pois há maior necessidade de organização, de serviços públicos e privados, de transportes e de bancos. Gesta-se, a um só tempo, uma grande especialização territorial, com Faculdade de Educação Teológica - a tendência à concentração da produção de bens e serviços mais sofisticados em alguns pontos do Sudeste e do Sul: Apesar da industrialização, as características do subdesenvolvimento permanecem e muitas vezes se agravam com o crescimento econômico. Malgrado o aumento do Produto Nacional Bruto e mesmo dg Produto , Nacional Per Capita, acirram-se as disparidades regionais, as desigualdades da renda e o empobrecimento daqueles que já eram pobres. Como a expansão da indústria dinâmica é acompanhada pela redução absoluta ou relativa do poder aquisitivo das massas, a economia vê-se forçada a procurar mercados externos ou a reduzir seu próprio crescimento. Os investimentos dirigem-se aos setores em que há possibilidade de exportação, isto é, à produção de bens para os quais existem compradores estrangeiros potenciais. Essa orientação exige uma constante modernização do equipamento industrial para poder concorrer internacionalmente, que agrava a dependência
  • 18. Prática Curricular IV em relação aos centros mais avançados do sistema mundial. Por outro lado, a necessidade de importação exige uma política de exportação agressiva. Buscando o crescimento promove-se a produção de bens de capital, para os quais não existe mercado interno. O Estado é então compelido a adotar uma política de grande potência, favorecendo as maiores empresas, sem consideração pelas massas, cada vez mais empobrecidas. O extraordinário crescimento do capital fixo, revelado pelo aumento do tamanho das infra-estruturas, fundamenta-se em projetos de planejamento aparentemente isolados, mas orientados a acelerar a modernização capitalista. As formas têm um poder que convida a ações como a modernização da agricultura e, no meio urbano, a renovação do meio construído com o forte papel do capital especulativo. O capital comanda o território e o 18 trabalho torna-se, ainda mais, subordinado. As modernizações mais recentes desintegram a economia e a so-ciedade porque produzem um desequilíbrio e não criam os empregos suficientes. Como se desintegram as estruturas no campo, não há migração escalonada na rede urbana, e por isso as grandes www.facete.com.br cidades con-tinuam a crescer. Todavia, é a grande cidade que, pela existência de um mercado amplo e segmentado, abriga os pobres, nativos ou imigrantes, cujo trabalho, pouco valorizado, lhes permite, todavia, a sobrevivência. O PAÍS GLOBALIZADO: MODERNIZAÇÃO E POBREZA No período atual, os imperativos de um mercado tornado global passam I a comandar os acréscimos de ciência e tecnologia que o território brasi- leiro já começara a incorporar Faculdade de Educação Teológica - nos anos 1970. A informação substitui a indústria como variável motora. Não se trata de menosprezar os dinâmi- cos processos industriais, mas de apontar a relevância de um fenômeno novo: a produção de informação. Assim, enquanto aumentam as ativi- dades de serviços a indústria continua a crescer em várias porções do Brasil, como no estado de São Paulo, ainda que com menor velocidade. A implantação do sistema básico de telecomunicações permitiu não apenas a transmissão de dados, mas também a unificação do sistema de televisão. A instalação das redes possibilitou a difusão da informação gerais do consumo, assim como a financeirização do território. Mais tarde, a incorporação da fibra óptica nos sistemas técnicos nacionais, a partir dos projetos de interligação do planeta, ampliou a participação do país na globalização das telecomunicações.
  • 19. Prática Curricular IV O território ganha novos conteúdos e impõe novos comportamentos, em virtude das enormes possibilidades da produção e, sobretudo, da circulação de insumos, produtos e dinheiro, de idéias e informações, das ordens e dos homens. E a constituição de um espaço moderno, reticular e fluído. Essa premente necessidade de criar condições para uma maior circulação justifica a ênfase dada na política atual à criação e ao aprimoramento de sistemas de infra-estrutura que facilitem o movimento. Tal unificação técnica ou material do território se perfaz com a unificação do mercado. A força difusora do consumo que, no período atual, ganha uma velocidade antes nunca vista, acompanha-se do comportamento territorial das grandes empresas. As firmas mais poderosas escolhem os pontos que consideram instrumentais para sua existência produtiva e deixam o resto do território às empresas menos poderosas. É uma modalidade de 19 exercício do seu poder. Os dados próprios do período tanto alcançam áreas agrícolas como industriais e de serviços, que se caracterizam pela sua inserção numa cadeia produtiva global, pelo www.facete.com.br predomínio de relações distantes e, frequentemente estrangeiras, e pela sua lógica extrovertida. O país é cortado por estradas de rodagem que servem mais aos interesses nacionais e internacionais do que aos regionais e locais. A pavimentação dos principais eixos rodoviários e a construção de rodovias para os países vizinhos orientam-se a desenvolver uma maior integração comercial. Ainda que o peso dos empréstimos e créditos de organismos financeiros internacionais nessa modernização do país seja marcante, não podemos deixar de assinalar que o próprio Estado brasileiro investe pesadamente para dotar certas regiões das condições Faculdade de Educação Teológica - de circulação indispensáveis ao comércio externo. Aquelas regiões orientadas a produzir para a exportação e para um comércio distante têm prioridade nesse equipamento, de modo que se criam no território áreas com maior densidade viária e infoviária a serviço de um dos aspectos da economia nacional. Essas densidades não têm, pois, relação direta com o tamanho e a densidade da população, nem com a antiguidade do povoamento, nem com as urgências das sociedades locais, mas com certos nexos econômicos, sobretudo os da economia internacional. Há, todavia, uma permanente insatisfação com o equipamento e com os custos do seu uso, agravada por frequentes comparações com outros países, que alimenta a produção de um discurso sobre a necessidade de modernizar o território nacional. É uma divisão territorial nova e ampliada no Brasil, que permite, por um lado, ocupar
  • 20. Prática Curricular IV áreas até então periféricas e, por outro, remodelar as áreas ocupadas.10 O consumo e o crédito encontram as bases materiais para sua instalação em quase todo o território. Tornam-se, prati- camente, ubíquos. Há uma unificação do território pelo mercado, pelos transportes e pela informação. Num país de grandes disparidades regionais e de renda, o processo de criação de fluidez é seletivo e não igualitário. A produção de fluidez se realiza não apenas com a construção de equipamentos, mas também pela alocação de certas profissões e pela oferta de certos empregos ligados à economia moderna, levando desse modo à desvalorização do resto das formas de trabalho. Superpõe-se ao velho tecido um novo tecido de urbanização. O nu-mero de grandes cidades aumenta consideravelmente: as aglomerações com mais de 500 mil habitantes, que eram quinze em 1980, passaram a 28 em 1996 e a 31 em 2000. Quanto às cidades com mais 20 de um mi- lhão de habitantes, que somavam dez em 1980, passaram a quinze em 2000. Crescem as metrópoles e, ainda mais, as grandes cidades médias. Nessas condições, novas fontes de riqueza e novas razões de pobreza se estabelecem nas grandes cidades. Ao mesmo tempo que os salários dos trabalhadores industriais tendem a www.facete.com.br baixar, verifica-se, ainda que com menor ímpeto, uma imigração de gente pobre proveniente de áreas rurais modernas e tradicionais e de outras áreas urbanas. Os processos de valorização da terra por consolidação de frentes pioneiras certamente tiveram um papel detonador em vários movimentos migratórios do país, como é o caso do Norte do Paraná ou, mesmo, do Mato Grosso. Por outra parte, o fenômeno de migração circular já se havia esboçado alguns anos antes. Lembremos que, em 1980, 11,5 milhões de famílias não dispunham de terra ou já não sobreviviam em pequenas propriedades. Isso Faculdade de Educação Teológica - significa que um terço da população, cerca de 40 milhões de pessoas, estava em permanente migração, tentando fixar-se no campo mas frequentemente não o conseguindo. E um novo patamar do êxodo rural, devido à combinação explosiva de uma estrutura fundiária arcaica em zonas agrícolas tradicionais e da modernização capitalista do campo em zonas dinâmicas e em áreas de colonização agrícola e de ocupação recente. Não podemos esquecer que na segunda metade da década de 1990 havia mais de 16 milhões de hectares produtivos não utilizados no Brasil — o equivalente ao total de terras de Tocantins. Havia no país cerca de 332 milhões de hectares distribuídos em 3,6 milhões de estabelecimentos, ao passo que cerca de 220 milhões de hectares estavam repartidos entre 1,3 milhão de estabelecimentos trabalhados por arrendatários, parceiros e ocupantes, o que 10 Santos, Milton e Silveira, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.
  • 21. Prática Curricular IV configurava uma estrutura fundiária apta a expulsar a população rural. Expulsos das áreas rurais modernas e tradicionais ou de outras cidades, os pobres encontram nas metrópoles algum tipo de ocupação, mesmo que não constitua propriamente emprego. A variedade de capitais existente na grande cidade assegura a possibilidade de uma extrema variedade do trabalho. Entretanto, nas metrópoles ou em outras cidades a presença de pobres e a correspondente depressão dó mercado de trabalho e dos salários projetam-se no empobrecimento das respectivas municipalidades. Esse problema, aliás, é agravado com o crescente desmantelamento do Estado de bem-estar, o que contribui para um empo- brecimento ainda maior da população. Paralelamente, a implantação da modernidade na metrópole representa um peso sobre os outros aspectos da vida local, mediante custos públicos e privados, custos federais, estaduais e municipais. Tais adaptações ao moderno 21 representam lógicas distantes, que incidem sobre subáreas privilegiadas do organismo urbano, mas cujo custo é verdadeiramente social. Toda a cidade sofre os resultados desse processo aumentando os graus de pobreza. www.facete.com.br Representando cerca da metade da população desse Brasil de contrastes, a população economicamente ativa tem aumentado nos setores secundário e terciário. Verifica-se nas últimas décadas uma verdadeira explosão do setor terciário, sobretudo na região Sudeste e no estado de São Paulo. Nas regiões metropolitanas, boa parte da população está ocupada em atividades de serviços, mas o comércio, que não pára de crescer, é também um importante contratador de mão-de-obra. Observado com mais cuidado, esse fenômeno revela uma economia pontual de comércios e serviços modernos coexistindo com uma enorme economia pobre orientada ao comércio e aos serviços mais banais nessas grandes cidades. A OPÇÃO POR MULTIPLICAR A POBREZA Faculdade de Educação Teológica - Quando uma nação privilegia um tipo de produção que não ajuda a população a subsistir e a se desenvolver, mas obriga à criação permanente de um excedente, ocasionando- lhe um ônus excessivo, falamos: em produção desnecessária. Haveria também uma circulação e um intercâmbio desnecessários, que têm um custo social, como as infra- estruturas de investimento pesado e a respectiva mobilização de veícu-los e serviços que não contribuem com o bem-estar geral da sociedade nem permitem sua ampliação, em virtude dos custos que representam. Quando a exportação é pregada como solução necessária, em vez de buscar a melhoria das condições de vida dos mais pobres, ampliam-se a produção e a circulação desnecessárias
  • 22. Prática Curricular IV e se aprofunda uma divisão do trabalho igualmente desnecessária. A globalização acelera esse processo porque faz parte do seu credo a idéia de que sem exportar é impossível modernizar-se e participar plenamente do mundo "civilizado". De fato, o que resulta na prática é o triunfo de uma lógica econômica a despeito das distorções de ordem social que possa causar. A decorrente divisão do trabalho passa a ser comandada sem preocu pação com o interesse social. Uma das consequências desse processo é a multiplicação e dis- semínação da pobreza nas diversas camadas sociais das regiões brasi- leiras. Com a ampliação do poder do sistema financeiro e de uma informação enviesada que reforça uma única interpretação da socíe- dade, as políticas públicas, mais do que compensar esse jogo de forças, acabam por inclinar o fiel da balança para o acirramento dessa situação. Subsídios e créditos do Tesouro para 22 auxiliar grandes corporações e bancos são, entre outras, formas legais de violência que, como vemos cotidianamente, ampliam outras modalidades de violência, amiúde ilegais. A mídia, frequentemente associada aos interesses hegemónicos, mostra isoladamente os fatos emergentes de um processo mais complexo e invisível. Não se revelam os mecanismos www.facete.com.br produtores de violência, mas suas manifestações visíveis. A ordem corporativa, criadora de desordem para o poder público e para toda a sociedade, é dissimulada. A morte anunciada do sistema previdenciário é mais um mecanismo de comando que o sistema financeiro exerce sobre a política, reduzindo o debate nacional a uma complexa contabilidade macroeconômica. Nesse processo, o papel da informação, produzida e veiculada pela mídia hegemônica, não é menos importante. Forma-se assim a chamada opinião pública, manifestação do pensamento único, que ampara as ações políticas orientadas Faculdade de Educação Teológica - a erodir o embrionário Estado de bem-estar e a acelerar o empobrecimento das diversas camadas sociais. Se a massa da população economicamente ativa foi aumentando desde meados do século XX até os dias de hoje, não se pode dizer o mesmo da evolução do número de contribuintes para o Instituto da Previdência. Em 1981, metade de um total de 45,5 milhões de trabalhadores contribuíam para a Previdência, e em 1995 essa proporção era de apenas 42,8%. Se o volume de trabalhadores cresceu em mais de 24 milhões nesses catorze anos, a quantidade de contribuintes aumentou em apenas 7,1 milhões. Entre 1995 e 2002 o aumento foi de pouco mais de 6 milhões de contribuintes. As consequências desse enfraquecimento das estruturas fiscais são inúmeras, mas todas convergem para o empobrecimento da população. A evolução negativa da base previdenciária é frequentemente apresentada, ainda que isolada dos seus respectivos contextos explicativos, como uma das mais importantes
  • 23. Prática Curricular IV razões da falência do Estado. A regionalização torna-se mais uma vez necessária para a compreensão dos fenômenos. Em 2002, pouco mais de 20 milhões de contribuintes viviam na região Sudeste, 6,7 milhões no Sul, 5,1 milhões no Nordeste, 2,5 milhões no Centro-Oeste e 1,3 milhão no Norte. Num estado como Tocantins, apenas 20% dos trabalhadores contribuíam para a Previdência, enquanto a situação era um pouco melhor no Pará e no Amazonas. O retrato dos estados do Centro-Oeste não é muito diferente: em Goiás e Mato Grosso, cerca de 32% do total de trabalhadores são contribuintes. De alguma maneira, as áreas que sediam a expansão de atividades modernas, como a agricultura das novas frentes pioneiras, são manifestações de um Estado menos preocupado na contenção social dos trabalhadores e mais prel ocupado na produção de um território fluido. Novas relações traba-lhistas, mais despojadas dos freios 23 sociais a um processo de forte acu-mulação capitalista, asseguram o crescimento da economia moderna. A situação é um pouco diferente nas regiões Sul e Sudeste. Estados como Rio Grande www.facete.com.br do Sul e Santa Catarina têm metade da massa de trabalhadores incluída no sistema previdenciário, enquanto Rio de Janeiro e São Paulo registram porcentagens superiores a 62%| Não podemos esquecer, na análise dessa questão, o despontar de uma relação de nova natureza que se difunde no Brasil nos anos noventa. E a previdência privada que, em 2002, alcançava cerca de 2,1 milhões de contribuintes, dos quais mais da metade pertenciam à região Sudeste. Se seu número representa pouco menos de 6% do total dos contribuintes da previdência pública, a soma da sua poupança, agora subtraída do sistema público e universal, não é todavia desprezível. Faculdade de Educação Teológica - Um mapa semelhante ao da previdência pública é desenhado pela situação dos trabalhadores com carteira assinada: 68% no Sul e 42% no Nordeste. No entanto, se as médias nacionais indicavam cerca de 60% dos trabalhadores com carteira assinada no Brasil ao longo da década de 1980 e início dos anos 1990, diminuíram para cerca de 37% na virada do século. Consequentemente, o grau de sin-dicalização também diminuiu. A precarização dos vínculos empregatícios e o aumento do de-semprego foram acompanhados de um crescimento do número de tra-balhadores domésticos durante a década de 1990. Em 1996 o emprego doméstico representava cerca de 10% da população economicamente ativa do Brasil. Na região Norte a média subia para 11,3% e no Sul caía para 8,3%. Já em 2002, acompanhando o empobrecimento rela-tivo das classes médias, que provocou uma queda na procura, eram algo mais de 6 milhões de empregados domésticos, cerca de 8% da população economicamente ativa do país.
  • 24. Prática Curricular IV Durante a década de 1990 o desemprego aumentou em todo o país e, com oscilações, superou os dois dígitos nas regiões metropolita- nas. Em São Paulo, atingia nos primeiros meses de 2004 mais de 12% da população economicamente ativa, mas já atingira 20% nos anos 1990. Recife e Salvador, que haviam alcançado porcentagens em torno de 30%, registravam cerca de 15%. Mas também Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre registraram taxas superiores a 10%. Novas formas técnicas e organizacionais, como a informatização e a automação das tarefas tanto nas atividades agropecuárias quanto na indústria e nos serviços, os novos modos de circulação, os atuais tipos de contratação e as políticas trabalhistas levaram entre outros aspectos, a uma precarização das relações de emprego e a um aumento do desemprego ao longo dos últimos quinze anos. Por isso, a racionalidade dá ordem econômica atual revela-se 24 limitada, ainda mais nas grandes metrópoles, onde o número de pobres é importante. Do norte ao sul desse Brasil urbano as maiores metrópoles do país têm suporta-' do taxas de desemprego em torno de 20% da população economicamente ativa. Mas qual é a racionalidade de uma economia urbana que despreza tamanha quantidade de trabalhadores? www.facete.com.br O fato é que a cada dia há um menor número de atividades e empregos ligados a essa divisão do trabalho hegemónica, e isso é mais visível nas grandes cidades. Novas necessidades produtivas e novas formas de dividir social e territorialmente o trabalho aumentam as necessidades de cooperação, criando novas profissões e rejeitando as antigas, sobretudo a partir da revolução das telecomunicações, da informática e da informação, da expansão do sistema bancário e da nova agricultura. Umas profissões cedem lugar a outras, aptas a manipular os novos objetos técnicos, mas destinadas também a uma Faculdade de Educação Teológica - vida efêmera. O resultado desse ato de império é que em alguns setores como o quaternário aumenta o emprego, embora discretamente, ao passo que em outros, volumosos contingentes são condenados ao desemprego. Se a divisão social do trabalho que acompanha o mundo da informação e das finanças multiplica as profissões, ao mesmo tempo diminui o número total de empregos. As formas técnicas e de regulação contemporâneas satisfazem seu apetite com um número menor de pessoas altamente qualificadas. O emprego tradicional da metrópole industrial esvai-se, de um lado, ao ritmo das novas acelerações normativas como as formas de contratação temporária e da terceirização, da interiorização da indústria, que é sinônimo de modernização e de busca de novas densidades normativas, e, de outro, pelas novas ocupa-ções na produção, e adaptação das informações externas ao mercado brasileiro, da criação de uma publicidade que aprofunda os consumos, da produção codificada de formas de fazer e regular, como a
  • 25. Prática Curricular IV miríade de instrumentos financeiros em vigor. Esse movimento da sociedade contemporânea contribui também para concentrar a renda. Em 1981 a classe mais rica (com renda de vinte salários mínimos ou mais) representava 0,7% do total de pessoas com dez anos ou mais e concentrava 15,9% de Uma renda nacional que beirava US$ 12 bilhões. Em 1997 esse grupo era composto por 1,8% da população de mais de dez anos de idade (2.293.493) e deti- nha 26,4% do rendimento nacional, que agora alcançava US$ 34,5 bilhões. Isso significa que em dezesseis anos essa classe aumentou em mais de dez pontos percentuais a sua participação na distribuição da renda nacional e conseguiu apropriar-se de um volume de riqueza (US$ 9,1 bilhões) a ser comparado com o total nacional produzido em 1981(US$ 12 bilhões). Entre 1981 e 1997 aqueles cujos rendimentos superam os vinte salários mínimos ganham um aumento de renda 25 de US$ 7,2 bilhões, enquanto o respectivo contingente cresce em 1.627.585 pessoas. Enquanto a classe mais rica aumenta 3,4 vezes em número de pessoas, seus rendimentos multiplicaram-se por 4,8. Já as duas classes mais pobres, com renda entre meio e dois www.facete.com.br salários mínimos aumentaram em 2,4 vezes o seu contingente, mas somente em 1,8 vez a massa, de sua renda. Em 2002 essas classes pobres já representavam cerca de um terço da população brasileira. Nesse contexto, é visível o empobrecimento relativo de uma região como o Nordeste, ao passo que se torna receptora de grandes investimentos libados a produções inseridas na atual divisão internacional do trabalho. Ao se considerar as classes de maior renda, é significativa a participação dos estados das regiões Sudeste e Sul. Quanto à classe com rendimento superior a vinte salários mínimos, Faculdade de Educação Teológica - cabiam à área metropolitana paulistana cerca de 22% do total nacional e 58% do total esta- dual. Desse modo, mais de 40% das classes paulistas mais ricas moravam no interior do estado, ligadas a uma agricultura cientificizada e a um processo de desconcentração de indústrias modernas. Em consequência, nos últimos anos aumenta o volume da renda e ao mesmo tempo multiplica-se o número de excluídos no Brasil. Em outros termos, cresce a riqueza socialmente gerada, com a produção de excedentes, mas piora sua distribuição social e territorial. Em função de uma estrutura econômica e política concentrada, esse excedente é legalmente transformado em lucro, isto é, ele é apropriado privadamente sem uma política pública que permita, de fato, a ampliação do bem-estar social das maiorias. Na política atual, as regiões mais pobres são alvo da implantação de grandes empreendimentos cujos lucros tornam-se remessas para o estrangeiro ou para as classes hegemônicas nacionais, de modo
  • 26. Prática Curricular IV que seu poder devastador sobre as formas de trabalho locais não é compensado por uma reativação da economia regional. É o paradoxo da nação brasileira. FINANÇAS, CONSUMO EPOBREZA Todavia, o período atual caracteriza-se, entre outros complexos aspectos, pela exacerbação da possibilidade de obter dinheiro adiantado. É por isso que coexistem uma evolução decadente do emprego e do salário com um aumento relativo do consumo. Graças à proliferação do crédito, que parece não abandonar nenhuma parcela da economia nem do território, houve uma extraordinária expansão dos consumos materiais e imateriais, produtivos e das famílias. Ao contrário da produção, que é seletiva nas escolhas dos lugares, a finança se 26 interessa, direta ou indiretamente, pela totalidade do território vivente. E por isso que mesmo aquelas atividades caracterizadas por baixo grau de capital fixo tecnológico, são chamadas a aumentar seu capital de giro por meio do crédito, ainda mais quando muitos dos pequenos www.facete.com.br empresários atuam como pessoa física. Quando o spread bancário para empréstimos às empresas era de 25% ao ano, para as pessoas físicas gira em torno de 57%. A vulnerabilidade aumenta com a utilização do cheque especial, do crediário e sobretudo do crédito pessoal, pois os juros atingem valores extremamente altos (entre 505 160% ao ano). Como é significativo o número de pessoas sem conta bancária ou incapazes de dispor das necessárias garantias, o crédito pessoal concedido pelas instituições financeiras encontra um terreno fértil. Formas de verticalização de uma economia popular que, no período da globalização, conhecem graus superlativos. Faculdade de Educação Teológica - Em 1999 havia 24 milhões de cartões de crédito no Brasil, nas mãos de pessoas que recebiam mais de cinco salários mínimos. Dessa forma, amplas camadas da população abaixo desse limiar e sem aces-so a cheques e cartões despontaram como um novo alvo para bancos, financeiras e supermercados que decidiam fínanceirizar essas faixas da população. Criou-se então o cartão de crédito popular, que funcio-na como um crédito pré-aprovado, é proporcional à renda e pode ser usado numa rede comercial credenciada. Além de conseguir clientes cativos, essas empresas lucram com os juros decorrentes do parcela-mento das compras. Em 2003 o número total de cartões de crédito no Brasil havia aumentado para 47,5 milhões. E uma verdadeira capilaridade das redes financeiras que resulta da coexistência de filiais de grandes instituições, de todo tipo de agio- tas e da profusão de novos tipos de
  • 27. Prática Curricular IV crédito oferecidos pelos bancos públicos e privados. A rentabilidade dos bancos, por exemplo, passou de 10,6% em 1994 para 15,7% em 1998 e para 24,5% em 2002. Nesse contexto, o consumo de eletrodomésticos e eletroeletrôni-cos ganha novas dimensões. Objetos como fogão, geladeira, televisão e rádio chegam maciçamente aos lares a partir da década de 1980, e mais recentemente se verifica uma expansão do telefone fixo e do telefone celular. As novas condições de vida urbana se alastram no território brasileiro num período relativamente curto. A exceção das áreas rurais modernizadas e povoadas por uma classe média com poder de consumo, a precariedade de certas formas de vida rural parece resistir tenazmente em certas ilhas do território. Dentre os consumos imateriais, o ramo dos seguros também é objeto dessa formidável ampliação. Com auxílio de uma publicidade que explora implicitamente as debilidades da 27 nova ordem social, criam-se medos e riscos diversificados que devem ser previstos de forma crescentemente individualizada. O mercado de seguros, capitalização e previdência privada cresceu cerca de duas vezes entre 1994 e 1998. Submetidos às lógicas do mercado, certos www.facete.com.br bens e serviços, como a educação e saúde, também passam a fazer parte de uma vocação de consumo que, graças à informação e aos transportes, se alastra na sociedade e no território. Entre 1970 e 1980 foram criadas trezentas instituições do ensino superior, e a relação de pessoas em idade universitária por aluno passa de 28,6 em 1970 para 12,2 em 1980. Após o extraordinário crescimento de cerca de quinze vezes no número de alunos do ensino supe- rior entre 1960 e 1980, há uma desaceleração no intervalo 1980-2002 (o aumento é de 2,5 vezes). Em 2002 havia cerca de 3,5 milhões de alunos, dos quais 70% (2,4 milhões) estudavam em instituições particulares, e 1.637 instituições de ensino superior, das quais Faculdade de Educação Teológica - 88% eram particulares, o que significa que num período de dezessete anos (1985-2002) praticamente dobrou o número de faculdades, com a criação de 778 novas instituições. Uma "fronteira educacional" em expansão desenvolve-se nas regiões Centro-Oeste e Sul. É nessas áreas novas que o setor privado participa da interiorização do ensino superior. No Centro-Oeste, 90,9% das instituições são particulares. A presença do mercado privado de ensino superior no Sudeste também é significativa. Em 2002, cerca de 77% dos ingressos por vestibular correspondiam às instituições particulares. Apesar de sua extraordinária expansão, o número de candidatos por vaga no sistema particular foi de 2,5 em 2002. Nesse ano havia pouco mais de 280 mil vagas públicas, disputadas por 2,6 milhões de alunos, isto é, mais de nove candidatos por vaga. Eis a extraordinária tensão social decorrente de um sistema público engessado, que contribui para a produção de exclusão e pobreza. Quanto à saúde, os estabelecimentos públicos com internação revelaram um ligeiro
  • 28. Prática Curricular IV crescimento entre as décadas de 1980 e 1990, representando pouco menos de 30% do total nacional. Já o crescimento do número de estabelecimentos de saúde com atendimento a pa- cientes externos foi significativo. Em face da situação econômica e da desproteção social dos trabalhadores e desempregados, o aumento do número de consultas em estabelecimentos públicos foi explosivo. Em 1985 registraram-se 256,4 milhões de consultas públicas e 202,8 milhões de consultas particulares, números que em 1997 saltaram para 676 milhões e 388,9 milhões, respectivamente. Enquanto a demanda por serviços de saúde privados cresceu 1,9 vez, o setor público registrou um aumento de 2,6 vezes. Em 2001 realizaram-se mais de 420 milhões de consultas pelo Sistema Único de Saúde (sus), das quais 361 milhões foram públicas. A rede de saúde privada privilegia regiões como o Centro-Oeste e o Sul, mas a 28 presença dessa rede não se acompanha de um crescimento do acesso aos seguros de saúde e convênios. Em 1995, apenas 10,7% da população brasileira (16,8 milhões de pessoas) tinha acesso à medicina de grupo. Esse mercado se concentra nas regiões Sudeste e Sul, com cerca de 90% (15,1 milhões de pessoas), e sobretudo no estado de São Paulo, com 58% do total www.facete.com.br nacional dos beneficiários da medicina de grupo. Em 2002 havia no país 16,2 milhões de beneficiários, isto é, 9,5% da população total. O alargamento dos sistemas ligados à satisfação de necessidades universais tem sido, no Brasil, sempre mais lento que o volume da demanda. Mas a questão é ainda mais complexa, pois essa expansão é fortemente comandada por um verdadeiro processo de privatização de vários aspectos da vida social. Como a distribuição da sociedade bra-, sileira confunde-se com a amplitude do seu território, podemos dizer que a vida social constitui um Faculdade de Educação Teológica - enorme mercado com densidades bastante diversas. Daí que as áreas de altas densidades demográficas e altas rendas relativas, equipadas e dotadas de fluidez, configurem tesouros disputados pelas empresas. NEOLIBERALISMO, TERRITÓRIO EPOBREZA ESTRUTURAL Trata-se de um uso seletivo do território nacional, que pune as populações mais pobres, mais isoladas, mais dispersas e mais distantes dos grandes centros e dos centros produtivos. Enquanto o setor público pode se instalar nos lugares e esperar pela demanda, o setor privado tende a alojar-se nas regiões onde a demanda já existe ou tem uma perspectiva de desenvolver-se, sob a cadência de uma nova oferta. Por isso, o neoliberalismo conduz a