3. A palavra “filosofia”, de origem grega, é
composta de duas outras: philo e sophía.
Philo quer dizer “aquele ou aquela que tem um
sentimento amigável”, pois deriva de philía, que
significa “amizade e amor fraterno”. Sophía quer
dizer “sabedoria”.
Filosofia, portanto, é somente o desejo, a
procura dessa sofia (sabedoria).
4. A filosofia não determina,
questiona, e está aberta aos
questionamentos de valores sociais,
éticos, políticos, da ciência, arte e
cultura, ou seja, da vida humana.
5. A filosofia não aceita uma afirmação do
tipo “porque sim”, pois qualquer
afirmação é questionada criticamente.
Repensar é retomar por nossa própria
conta os pensamentos já pensados por
outros, ou seja, é renovar.
6. A filosofia é uma forma de conhecer e
analisar a realidade, com o objetivo de
compreender a significação da própria
existência”.
Quem pode filosofar?
Todo indivíduo que busca compreender o
homem.
7. O filósofo é aquele que
ama a sabedoria, sendo a
filosofia explicada como a
busca incessante pelo
conhecimento.
8. Na Antiguidade, a
filosofia era entendida
como a disposição
interior de quem estima,
respeita e procura o
conhecimento.
9. No decorrer da Idade Medieval, por
exemplo, a filosofia esteve atrelada ao
poder ideológico da Igreja. Na Idade
Moderna, movimentos de contestação da
doutrina e da autoridade católica, como o
Humanismo, o Renascimento, as
Revoluções Burguesas etc., reavivaram o
caráter autônomo e racional da filosofia,
buscando uma compreensão de mundo
menos teocêntrica.
10. Já na atualidade, é comum
conceber a filosofia como um
movimento de pensamento que
investiga a relação entre a
sociedade, a cultura, e os
conhecimentos científicos, a fim
de depreender as influências
políticas, econômicas e culturais
que sustentam os interesses das
classes dominantes.
11. O ato de filosofar só pode ser empreendido
por aqueles que assumem uma atitude
diferenciada perante a vida, negando-se a
aceitar, previamente, aquilo que é transmitido
e imposto como algo natural e imutável. Ao
desenvolver a atitude filosófica, o sujeito
transforma a recusa em aceitar as crenças, pré-
juízos e pré-conceitos cotidianos em
movimento de análise.
12. O verdadeiro filósofo nunca esmorece na arte de
conhecer.
Esse movimento de investigação da vida, da
natureza e da sociedade requer o entendimento
da relação histórica existente entre os conceitos
de homem, cultura, linguagem e trabalho,
imprescindível à compreensão da evolução e do
desenvolvimento do pensamento humano e da
própria sociedade, como evidencia o tópico
seguinte.
15. O conceito do que
é ser homem varia
em cada cultura.
16. A busca, resultante da incerteza,
expressa-se nas máximas de Sócrates,
“Só sei que nada sei” e “Conhece-te a
ti mesmo”, que, em última análise,
representam o projeto da razão
nascente de estabelecer critérios para
a compreensão do homem.
17. Na Idade Moderna, assim como na Idade
Contemporânea, prevalece a explicação
antropocêntrica: o homem constitui o ponto de
partida de onde se origina.
A existência dessa natureza exclusivamente
humana tem sido atestada, no decorrer da
história, com base em determinadas
características, tais como: liberdade; raciocínio;
presença de alma ou espírito; valores morais;
cultura; linguagem etc.
18. O homem primitivo distingue-se dos animais
na medida em que passa a viver em grupo.
Esse agrupamento ocorre instintivamente,
tendo como finalidade a sobrevivência e a
conservação da espécie, já que a coletividade
fortalece a reprodução, a proteção contra
possíveis predadores e a procura por alimentos
(caça, pesca e coleta de vegetais).
19. O convívio social produz a linguagem, a
qual exigiu do homem muito mais que a
criação de sons particulares.
A sistematização da linguagem oral e
escrita é um fenômeno social, que
possibilita a difusão da cultura, ou seja, a
propagação de valores, normas, saberes e
práticas.
20.
21. Simultânea e gradativamente, o homem cria
instrumentos de trabalho: utiliza a pedra (lascada,
polida) como utensílio de corte; aprende a desenvolver
e utilizar o fogo; cria o arco e a flecha e outros
instrumentos; domestica animais e inicia o cultivo da
terra (agricultura), etc. Contudo, tal evolução do
trabalho humano, vinculada à vida social e ao
desenvolvimento da linguagem, só pode ser explicada
mediante o desenvolvimento do pensamento.
22. Há, portanto, diferenças significativas entre
um animal que utiliza um pedaço de madeira
para alcançar uma fruta (ação não planejada)
e um ser humano que planeja a melhor
forma de colher o mesmo alimento. O
animal utiliza os instrumentos disponíveis na
natureza; o homem cria os próprios
instrumentos, e isso requer intenção e
racionalidade.
23. Daí a afirmação de que o pensamento humano
surge na medida em que o homem, vivendo em
comunidade, desenvolve a linguagem e,
concomitantemente, o trabalho - ação planejada
que requer a criação e o aperfeiçoamento de
instrumentos para alcançar uma finalidade
previamente estabelecida.
Envolvendo raciocínio, planejamento e
organização.
25. Em antropologia, cultura significa tudo que o
homem produz ao construir sua existência: as
práticas, as teorias, as instituições, os valores
materiais e espirituais.
A cultura caracteriza o homem como um ser
em constante mutação, um ser que
transforma.
26. Ao nascer, a criança encontra o
mundo de valores dados, no qual vai
se situar. Por exemplo, a língua que
aprende, a maneira de se alimentar, o
jeito de sentar, andar, correr, brincar,
as relações familiares; tudo, enfim,
encontra-se codificado.
27.
28. CULTURA DE MASSA: indústria cultura. A
produção de um tipo de cultura voltado
predominantemente ao entretenimento. Isso
explica o seu caráter mercadológico, por meio da
imposição velada de valores e atitudes, que
tornam as pessoas mais passivas, acríticas e
propensas ao consumo exacerbado. Seu principal
instrumento de propagação são os Meios de
Comunicação Social.
29. CULTURA POPULAR: conhecimento
espontâneo (senso comum), ou seja, aos
conhecimentos transmitidos entre as
gerações, por meio de narrativas (contos,
lendas, folclore) e experiências acumuladas
histórica e socialmente. É o conjunto de
saberes e práticas que não se aprende nas
instituições de ensino.
30. CULTURA ERUDITA: refere-se ao saber
institucionalizado, derivado do pensamento
científico, ou seja, do estudo sistematizado nos
meios acadêmicos. Produzida pela elite
intelectual, social, política e econômica. Seu
domínio limita-se às universidades e demais
instituições de ensino, conservatórios musicais,
bibliotecas, escolas de arte, dança, teatro etc.
31. Geralmente, na cultura erudita implica em
desvalorização das outras formas de cultura,
especialmente a cultura popular.
X X
33. A denominação homo faber é usada quando nos
referimos à capacidade de fabricar utensílios,
com os quais o homem se torna capaz de
transformar a natureza. Homo sapiens e homo
faber são dois aspectos da mesma realidade
humana. Pensar e agir são inseparáveis, isto é, o
homem é um ser técnico, porque tem
consciência; e tem consciência, porque é capaz
de agir e de transformar a realidade.
34.
35. O telefone, fotografia,
cinema, rádio,
televisão,
comunicação via
satélite, Internet
certamente “influiu e
influi” na estrutura do
pensamento.
36. A influência da técnica na ciência e na
sociedade.
Os escravos e servos no exercício das atividades
manuais sempre levou à desvalorização desse
tipo de trabalho, enquanto apenas as atividades
intelectuais eram consideradas
verdadeiramente dignas do homem.
37. Ligados ao artesanato e comércio, os
burgueses valorizavam o trabalho e
tinham espírito empreendedor.
Para a ampliação dos negócios: houve a
construção de navios mais ágeis, utilização
da bússola para a orientação nos mares
em busca de novos portos,
aperfeiçoamento dos relógios etc.
38. O auge do desenvolvimento do sistema fabril
ocorre no século XIX. O setor secundário
(indústria) sobrepõe-se em importância ao setor
primário (agricultura)/
Características dos países industrializados:
urbanização, utilização de várias formas de
energia, organização hierarquizada da empresa,
técnico especializado versus operário
semiqualificado.
39. O setor secundário (industrial) sofreu
alterações decorrentes da informatização.
41. Através do trabalho o “homem” coloca suas teorias
em prática.
Trabalho: atividade coletiva.
Além de transformar a natureza, humanizando-a, o
trabalho transforma o próprio homem.
Por meio do trabalho, o homem se autoproduz, isto é,
desenvolve habilidades e imaginação; aprende a
conhecer as forças da natureza e a desafiá-las;
conhece as próprias forças e limitações; pois
relaciona-se com os companheiros; impõe-se uma
disciplina.
42. Curiosidade - trabalho:
aparelho de tortura, formado por três paus, ao qual
eram atados os condenados; também servia para
manter presos os animais difíceis de ferrar. Daí a
associação do trabalho com tortura, sofrimento,
pena, labuta
43. Na antiguidade grega, todo trabalho manual era
desvalorizado por ser feito por escravos, enquanto a
atividade teórica, considerada a mais digna do
homem, representava a essência fundamental de
todo o ser racional. Na Idade Média, Santo Tomás de
Aquino procura reabilitar o trabalho manual, dizendo
que todos os trabalhos se equivalem.
Na Idade Moderna, a situação começou a se alterar,
houve o crescente interesse pelas artes mecânicas e
pelo trabalho em geral.
44. No século XIX, a exploração do trabalho e das condições
subumanas de vida: extensas jornadas de trabalho, de
dezesseis horas a dezoito horas, sem direito a férias, sem
garantia para a velhice, doença ou invalidez;
arregimentação de crianças e mulheres, mão-de-obra mais
barata; condições insalubres de trabalho em locais mal-
iluminados e sem higiene; mal pagos, os trabalhadores
também viviam mal-alojados e em promiscuidade. No
século XIX, surgiram os movimentos socialistas e
anarquistas, que pretendiam denunciar e alterar a situação
vigente naquele momento.
46. O desenvolvimento acelerado da técnica cria o mito
do progresso. Se tudo evolui para melhor, o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia faria só
acelerar esse processo.
É natural a necessidade do aumento crescente da
produção (ideal de produtividade); para tanto é
estimulada a competitividade (a fim de que cada
empresa seja melhor naquilo que produz), bem
como a especialização (para garantir a qualidade e
eficiência da produção).
47. As formas de controle de produção e divisão do
trabalho tornaram-se mais rigorosas, com a
“racionalização” do trabalho, e objetivos de
produtividade, competitividade e especialização. O
mundo da produção, assim configurado, leva
fatalmente à tecnocracia.
49. Karl Marx e Friedrich Engels escreveram juntos o
Manifesto comunista e A Ideologia Alemã. Entre
outras obras, Marx e Engels formularam suas ideias a
partir da realidade social por eles observada: de um
lado, o avanço técnico, o aumento do poder do
homem sobre a natureza, o enriquecimento e o
progresso; de outro, e contraditório, a escravização
crescente da classe operária, cada vez mais
empobrecida.
50. Marx ao analisar o ser social do homem: não
existe uma “natureza humana” idêntica em
todo tempo e lugar. Para esse filósofo, o
existir humano decorre do agir, pois o
homem se autoproduz à medida que
transforma a natureza pelo trabalho. Sendo o
trabalho uma ação coletiva, a condição
humana depende de sua existência social.
51. Marx chama de práxis a ação humana de
transformar a realidade. Nesse contexto, o
conceito de práxis, que significa a união da
teoria e da prática. A filosofia marxista é
também conhecida como filosofia da práxis.
53. Ideologia: exploração econômica, a
desigualdade social e a dominação política.
Ideias e valores, de normas ou regras (de
conduta) que indicam e prescrevem aos
membros da sociedade o que devem pensar e
como devem pensar, o que devem sentir, o
que devem fazer e como devem fazer.
(ver conceito de ideologia na página 30)
54. Na Idade antiga, a educação serviu à formação de
guerreiros e, posteriormente, à formação de
indivíduos capazes de administrar as cidades
(polis). Na Idade Medieval, tornou-se instrumento
de legitimação dos dogmas cristãos. Na Idade
Moderna, assumiu-se a premissa da escola pública
e laica, mas o que se concretizou foi a polarização
de modelos educativos distintos para ricos e
pobres, contradição que permanece até os dias
atuais.
55. Na medida em que o indivíduo apropria-se da
cultura por meio da educação, corre-se o risco de
perpetuar tais interesses. Nisto também reside a
importância da filosofia como suporte teórico-
reflexivo: possibilitar ao sujeito a compreensão
desse processo de alienação.
56. Para ser capaz de empreender a reflexão
filosófica na esfera educacional, é preciso
entender que o desenvolvimento humano
está atrelado à vida em sociedade e,
consequentemente, ao processo de
formação da cultura, de assimilação da
linguagem e de aperfeiçoamento do
trabalho.
57. Os conceitos de ideologia e alienação só podem ser
compreendidos profundamente quando se consideram
as relações produtivas que caracterizam o trabalho na
atualidade.
Se na sociedade primitiva, a evolução do trabalho
favorecia o desenvolvimento do pensamento, na
sociedade capitalista, a divisão do trabalho entre
aqueles que pensam e organizam os processos
produtivos e aqueles que executam o trabalho já não
contribui para esse processo.
58. Ou a educação cumpre esse papel ou
fatalmente legitimará os interesses das
classes dominantes, oferecendo uma
educação alinhada às necessidades do
mercado e, portanto, incapaz de promover
o desenvolvimento do pensamento.