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Guerra Peninsular




           A GUERRA PENINSULAR

               O mais dramático episódio da
                história do povo português



RI 14 - 2010
A GUERRA PENINSULAR
                sumário
• Antecedentes
   – Origem e causas do fenómeno “Guerra”
   – Portugal e o Exército Português no final do Séc XVIII e início do
      Sec XIX
   – A revolução francesa e o conflito europeu
   – A guerra das Laranjas
   – O ultimato de Napoleão e a transferência da corte para o Brasil
• A 1ª Invasão (Junot)
• A 2ª invasão (Soult)
• A 3ª Invasão (Massena)
• O fim do conflito
• O armamento
• O combate (infantaria, cavalaria, artilharia, comunicações)
• A saúde e o fardamento
• Conclusões
A GUERRA PENINSULAR
    Antecedentes – origem do fenómeno
                “Guerra”




• As sociedades primitivas – nomadização e
  sedentarização
• Os recursos – primeiras disputas
• O início da diversificação das actividades
• O despontar da divisão social
A Guerra Peninsular -
                                           antecedentes




                    Resumo cronológico
•   1789 – Revolução Francesa
•   1793 – Família Real é guilhotinada; guerra do Rossilhão
•   1795 – Tratado de Basileia
•   1799 – 18 de Brumário - Napoleão ascende ao poder
•   1800 – Desmobilização do Exército Português
A Guerra Peninsular -
                                        antecedentes




• O governo e a situação social
  portuguesa
• A economia portuguesa e o
  Tratado de Methuen (1703)
• O Exército Português, em finais
  do Sec XVIII

  A economia portuguesa estava
  depauperada e o aparelho militar
       era quase inexistente
A Guerra peninsular -
         antecedentes




                 Resumo Cronológico
•1795 – Tratado de Basileia
•1796 – 2º tratado de Stº Ildefonso (Espanha declara
guerra a Inglaterra)                                    Castelo de Vide
•1797 – Tratado de paz com a França (Portugal            Portalegre
pagaria 10 M Libras pelo estatuto de neutralidade!!!)   Arronches
•1799 – Napoleão ascende ao poder                       Ouguela
•1800 – Desmobilização do Exército Português            Barbacena
•1800 – 3º Tratado de Stº Ildefonso (ultimatum a        Juromenha
Portugal)                                               Olivença
•1801 – em 20 de Maio a Espanha invade Portugal
•1801 – em 6 de Junho é assinado o tratado de
Badajoz
A Guerra peninsular -
         antecedentes




        A Guerra das laranjas
                                   Castelo de Vide
•Manuel de Godoy e a ocupação do
alto Alentejo                       Portalegre
•As consequências:                 Arronches
  –As fragilidades do sistema      Ouguela
   defensivo português ficaram a   Barbacena
   nu.                             Juromenha
  –Instalou-se o alarme na elite   Olivença
   política.
  –Portugal perde Olivença!
•Tratado de Badajoz
A Guerra Peninsular -
   antecedentes



      Resumo Cronológico
•1804 – Novo tratado de neutralidade
com a França (mais 16 M de francos)
•1805 – Aniquilamento da Armada
Francesa na batalha de Trafalgar
•1806 – Decreto unilateral, pela França,
do Bloqueio Continental
A Guerra Peninsular -
   antecedentes
A Revolução Francesa e o conflito
europeu
•A ambição de Napoleão
•As duas potências europeias
•Advento do liberalismo em Portugal

Portugal estava encurralado entre a
Inglaterra (principal parceiro comercial e
protectora das rotas navais para a
África e Brasil) e a França, potência
expansionista daquele tempo, que
ameaçava a sua soberania…


… e o povo?
A Guerra Peninsular -
                                  antecedentes
                      A posição portuguesa, o ultimatum de Napoleão
                            e a transferência da corte para o Brasil
                      •A tentativa de manutenção da neutralidade
                      •O tratado de Fontainebleau
                      •O início da 1ª invasão
                      •A migração da corte para o Brasil




Com a transferência da corte, Portugal
abria um precedente histórico – era a
primeira vez que um soberano europeu
se deslocava para as colónias do Novo
Mundo…
A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot)
     Resumo cronológico
          (1807)
•27 a 29 OUT – início do movimento a
partir de Bayonne
•27OUT – Tratado de Fontainebleau
•17 NOV – entrada em Portugal
•23 NOV – chegada a Abrantes
•27 NOV – embarque da corte
•30 NOV – chegada a Lisboa
•13 DEZ – início das revoltas
populares
A Guerra Peninsular –
                  A grande marcha
                         17OUT




            17NOV


        23NOV



30NOV
A guerra peninsular – o
          fardamento e equipamento
•   Considerações sobre o fardamento
•   O calçado
•   O equipamento
•   A higiene
A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot)
 •Iniciada em Novembro de 1807
 •Dificuldades encontradas pelos
 franceses
 •A partida da corte
 •A resistência popular
 •Loison, o “maneta”
 O Exército de Junot chegou a
 Lisboa exausto e andrajoso
 Quando Junot substitui a
 bandeira portuguesa pela
 francesa em Lisboa, começam os
 primeiros levantamentos
 populares …
A Guerra Peninsular –
                a 1ª invasão
                 Resumo cronológico
•1807 – (17 de Outubro) Junot sai de Bayonne
•1807 – (27 de Outubro) Tratado de Fontainebleau
•1807 – (17 de Novembro) Franceses entram em Segura
•1807 – (27 a 29 de Novembro) Embarque do Princípe
Regente
•1807 – (30 de Novembro) Junot entra em Lisboa; a
armada real sai à barra do Tejo
•1808 – Sublevação generalizada na Península;
abdicações de Bayonne
A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot)
            Resumo Cronológico (1808)
18MAR – Início dos levantamentos em Espanha (Aranjuez)
05MAI – Abdicações de Bayonne
21JUN – Loison é atacado em Amarante
13 JUL – sublevação de Évora
29JUL – Massacre de Évora
01AGO – Desembarque de Wellington na Figueira da Foz
17AGO – batalha da Roliça
21AGO – batalha do Vimeiro
30AGO – Convenção de Sintra
17SET – embarque dos franceses
30SET – reconstituição oficial do Exército Português
A guerra peninsular – o
• Infantaria   armamento
• Cavalaria
• Artilharia
A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot)
•   A resistência popular
•   O massacre de Évora
•   O desembarque inglês
•   Batalhas da Roliça e
    Vimeiro             01Ago

                                17Ago
                      21Ago


                                    29JUL
A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot)

• A Convenção de
  Sintra
• Situação dos
  Franceses na
  Península
A Guerra peninsular –
 a 2ª Invasão (Soult)
                 •   Marcha pelo Norte de Espanha
                 •   Tentativa de entrada pelo Minho
                 •   A conquista de Chaves
                 •   A tomada do Porto
                 •   A tragédia da ponte das barcas
                 •   A derrota de Soult
A Guerra peninsular –
 a 2ª Invasão (Soult)
                     Resumo cronológico (1809)
           •   16Jan – Moore, antes derrotado em Lugo, na
               Galiza, vence na Corunha, permitindo a
               evacuação dos ingleses
           •   13Fev – Soult tenta entrar por Cerveira
           •   16Fev – tentativa por Caminha
           •   10Mar – entrada por Chaves
           •   29Mar – queda do Porto; tragédia da Ponte das
               Barcas
           •   05Abr – reconquista de Braga
           •   10/11Mai – Batalha de Grijó
           •   12Mai – Loison e Soult são obrigados a recuar
           •   18Mai – Soult abandona Portugal por Montalegre
               (fim da 2ª invasão)
A Guerra peninsular – a
      3ª Invasão (Massena)
•   O cerco e conquista de Ciudad Rodrigo
•   O Cerco de Almeida
•   As milícias de Trant
•   Progressão até ao Bussaco
•   A batalha do Bussaco
•   A marcha sobre as linhas de Torres
•   A iminência da derrota
A guerra peninsular –
        o armamento
• Infantaria
• Artilharia
A guerra peninsular – a saúde
• Medicina incipiente
• Primeiros passos do apoio sanitário de
  campanha
• As doenças infecto-contagiosas
• As doenças de pele
• Os ferimentos devidos ao combate
A Guerra peninsular – a
      3ª Invasão (Massena)

         Resumo cronológico – 1810
• 15Jun – Inicio do cerco de Ciudad Rodrigo
• 24Jul – Combate do Côa
• 26Ago – Explosão do paiol em Almeida
• 18Set – Ocupação de Viseu
• 27Set – Batalha do Buçaco
• 11Out – Chegada à vista das Linhas de Torres
• 15Nov – inicio da retirada dos franceses
(A 3ª invasão viria a terminar em 5 de Abril de 1811)
A Guerra peninsular – a
         perseguição
• A impossibilidade de romper as linhas de
  Torres
• A retirada francesa
• A perseguição
• A 4ª invasão
• A queda de Napoleão – batalha de
  Toulouse
• A “desistência” portuguesa
A guerra peninsular – o
               armamento
• Infantaria
• Artilharia
• Cavalaria
A Guerra Peninsular –
              Conclusão
•   200.000 mortos entre a população
•   Perda definitiva de Olivença
•   Economia arruinada
•   Perda do comércio do Brasil
•   Independência do Brasil
•   Início das Guerras Liberais

        A essência do ser Português
Referências (bibliográficas)
•   História da Guerra Civil – Tomos I e III (Simão José da Luz Soriano; Ed
    Imprensa Nacional, 1879)
•   História de Portugal - Vol V (Coordenação de José Mattoso; ed. Circulo de
    Leitores)
•   Memórias de Junot / Soult / Massena (3 volumes, ed. Livros Horizonte)
•   Ordens do dia (Gen Beresford)
•   Armamento Ligeiro da Guerra Peninsular 1808-1814 (José António Faria e
    Silva / Jaime Regaleiro; Ed Fronteira do Caos)
•   O 14 de Infantaria (ed. Regimento de Infantaria 14, 2009)
•   O Portugal Militar (Carlos Selvagem, ed. Imprensa Nacional de Lisboa,
    1931)
•   Museu Militar do Buçaco 1910 – 2010 (ed. DHCM, 2010)
•   A cavalaria na Guerra Peninsular (Alexandre Sousa Pinto, José Carlos
    Antunes Calçada e Paulo Jorge Lopes da Silva; ed. Tribuna)
•   1808 (Laurentino Gomes)
•   O reino de Portugal em 1766 (Charles Dumouriez; ed. Caleidoscópio)
•   História Geral da Invasão dos Franceses em Portugal e da Restauração
    deste reino – Tomo V (José Acúrcio das Neves; Lisboa 1840; Oficina de
    João Thaddeo Ferreira)
Referências (Internet)
•   http://asinvasoesfrancesas.blogspot.com/
•   http://www.arqnet.pt/exercito/laranjas.html
•   http://berryhillsturgeon.com/NapWar/Generals/Carrol/Carrol.html
•   http://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio_Revolucion%C3%A1rio_Franc%C3%AA
•   http://www.arqnet.pt/exercito/minerva09.html
•   http://pt.wikipedia.org/wiki/Combate_de_%C3%89vora_(29_de_Julho_de_1808)
•   http://debatespoliticos.mforos.com/860753/7462197-los-mitos-de-la-guerra-de-indepen
•   http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=80
•   http://itinerante.pt/invasoes-francesas-na-genese-do-portugal-contemporaneo/
•   http://www.arqnet.pt/exercito/principal.html
•   http://www.arqnet.pt/exercito/principal.html
•   http://www.arqnet.pt/portal/portugal/invasoes/inv1808.html
•   http://www.ospreypublishing.com/text_search.aspx?TextSearch=portuguese+army&Gr
•   http://purl.pt/369/1/ficha-obra-convencao_sintra.html
Tratado de Fontainebleau


•   Artigo 1. — A província de Entre Douro e Minho, com a cidade do Porto, se trespassará em plena propriedade e soberania
    para Sua Majestade o Rei da Etrúria, com o título de Rei da Lusitânia Setentrional.
•   Artigo 2. — A província do Alentejo e o reino dos Algarves se trespassarão em plena propriedade e soberania para o
    Príncipe da Paz, para serem por ele gozados, debaixo do título de Príncipe dos Algarves.
•   Artigo 3. — As províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura portuguesa, ficarão por dispor até que haja uma paz, e
    então se disporá delas segundo as circunstâncias, e segundo o que se concordar entre as duas partes contratantes.
•   Artigo 4. — O Reino da Lusitânia Setentrional será tido pelos descendentes de Sua Majestade o Rei da Etrúria,
    hereditariamente e conforme as leis da sucessão, estabelecidas na família que ocupa o trono da Espanha.
•   Artigo 5. — O Principado dos Algarves será tido pelos descendentes do Príncipe da Paz hereditariamente e conforme as leis
    de sucessão estabelecidas na família que ocupa o trono da Espanha.
•   Artigo 6. — Se não houver descendentes ou herdeiros legítimos do Rei da Lusitânia Setentrional ou do Príncipe dos Algarves,
    se disporá por investidura do Rei de Espanha, de maneira que nunca se unirão debaixo de uma só cabeça, nem se anexarão
    à coroa de Espanha.
•   Artigo 7. — O Reino da Lusitânia Setentrional e o Principado dos Algarves reconhecerão como protector Sua Majestade
    Católica o Rei de Espanha, e em nenhum caso os soberanos destes países farão paz ou guerra sem o seu consentimento.
•   Artigo 8. — No caso de que as províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura portuguesa, tidas em sequestro, se
    devolvam na paz geral à Casa de Bragança, em troca de Gibraltar, Trindade e outras colónias, que os ingleses têm
    conquistado à Espanha e seus aliados, o novo soberano destas províncias terá, relativamente a Sua Majestade Católica o Rei
    de Espanha, as mesmas obrigações que tem o Rei da Lusitânia Setentrional e o Príncipe dos Algarves, e as terá debaixo das
    mesmas condições.
•   Artigo 9. — Sua Majestade o Rei da Etrúria, cede o Reino da Etrúria em plena propriedade e soberania a Sua Majestade o
    Imperador dos Franceses e Rei da Itália.
•   Artigo 10. — Assim que as províncias de Portugal forem definitivamente ocupadas, os diferentes príncipes que as devem
    possuir nomearão mutuamente comissários para verificar os seus limites naturais.
•   Artigo 11. — Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália, garante a Sua Majestade Católica o Rei de Espanha,
    a posse dos seus domínios no continente da Europa, situados ao sul dos Pirenéus.
•   Artigo 12. — Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália obriga-se a reconhecer a Sua Majestade Católica o Rei
    da Espanha como Imperador das Duas Américas, quando tudo estiver pronto para Sua Majestade assumir este título, que
    pode ser, ou ao tempo da paz geral, ou o mais tardar três anos depois daquela época.
•   Artigo 13. — As duas altas partes contratantes concordam mutuamente em uma igual divisão das ilhas, colónias e outras
    possessões ultramarinas de Portugal.
•   Artigo 14. — O presente tratado será tido em segredo. Será ratificado e trocado em Madrid dentro de vinte dias, o mais tardar,
    da data da sua assinatura.
Calendário revolucionário francês
O calendário revolucionário francês ou calendário republicano foi criado pela
Convenção Internacional em 1792, durante a Revolução (1789) para simbolizar a
quebra com a ordem antiga e o início de uma nova era na história da humanidade
mundial e vigorou de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805, quando
Napoleão Bonaparte ordenou o restabelecimento do Calendário Gregoriano .
•No outono:
    – Vindimiário (vendémiaire): 22 de setembro a 21 de outubro
    – Brumário (brumaire): 22 de outubro a 20 de novembro
    – Frimário (frimaire): 21 de novembro a 20 de dezembro
•No inverno:
    – Nivoso (nivôse): 21 de dezembro a 19 de janeiro
    – Pluvioso (pluviôse): 20 de janeiro a 18 de fevereiro
    – Ventoso (ventôse): 19 de fevereiro a 20 de março
•Na primavera:
    – Germinal: 21 de março a 19 de abril
    – Florial (floréal): 20 de abril a 19 de maio
    – Pradial (prairial): 20 de maio a 18 de junho
•No verão:
    – Messidor: 19 de junho a 18 de julho
    – Termidor (thermidor): 19 de julho a 17 de agosto
    – Fructidor: 18 de agosto a 20 de setembro.
Neste calendário faltavam cinco dias, (todos os meses tinham 30) – eram feriados
nacionais (os dias dos sans-culottes)
Versos ao maneta
Entre os títeres generais    Que generais é que devem
entrou um génio altivo       morrer ao som da trombeta?
que ou era o Diabo vivo      Os três meninos da ordem:
ou tinha os mesmos sinais…   Jinot, Laborde e Maneta.

Aos alheios cabedais
                             O Jinot mai-lo Maneta
lançava-se como seta,
                             julgam Portugal já seu:
namorava branca ou preta,
                             É do demo que os carregue
toda a idade lhe convinha.
Consigo três Emes tinha:     e também a quem lho deu.
Manhoso, Mau e Maneta.
O soldado francês
    Um homem com cabeça de donato,
      tendo por barretina uma caneca,
     olhos gázeos, boca de alforreca,
    e pescoço estendido como um gato.

      Burjaca suja e rota por ornato,
   calça de brim na perna nua e seca,
 uma espada que andou por Seca e Meca,
     os dedos quasi fora do sapato.

   Uma pele de cabra (1) sobre o lombo,
    cabacinha (2), panela e caçarola,
    espingarda que leva muito tombo:
                                              Notas:

   Eis um guerreiro da francesa escola,       (1) – a mochila

    agudo em manhas, em juízo rombo,          (2) – o cantil
Que outro Deus não tem que a passarola! (3)   (3) – a águia de Napoleão
Tratado de Methuen – também referido como Tratado dos Panos e
     Vinhos, foi um diploma assinado entre a Grã-Bretanha e Portugal, em
     27 de dezembro de 1703. Foram seus negociadores o embaixador
     extraordinário britânico John Methuen, e D. Manuel Teles da Silva,
     marquês de Alegrete
•   "I. Sua Majestade ElRey de Portugal promete tanto em Seu proprio Nome, como no
    de Seus Sucessores, de admitir para sempre daqui em diante no Reyno de Portugal
    os Panos de lãa, e mais fábricas de lanificio de Inglaterra, como era costume até o
    tempo que forão proibidos pelas Leys, não obstante qualquer condição em contrário.
•   II. He estipulado que Sua Sagrada e Real Magestade Britanica, em seu proprio
    Nome e no de Seus Sucessores será obrigada para sempre daqui em diante, de
    admitir na Grã Bretanha os Vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo
    algum (haja Paz ou Guerra entre os Reynos de Inglaterra e de França), não se
    poderá exigir de Direitos de Alfândega nestes Vinhos, ou debaixo de qualquer outro
    título, directa ou indirectamente, ou sejam transportados para Inglaterra em Pipas,
    Toneis ou qualquer outra vasilha que seja mais o que se costuma pedir para igual
    quantidade, ou de medida de Vinho de França, diminuindo ou abatendo uma terça
    parte do Doreito do costume. Porem, se em qualquer tempo esta dedução, ou
    abatimento de direitos, que será feito, como acima he declarado, for por algum modo
    infringido e prejudicado, Sua Sagrada Magestade Portugueza poderá, justa e
    legitimamente, proibir os Panos de lã e todas as demais fabricas de lanificios de
    Inglaterra.
•   III. Os Exmos. Senhores Plenipotenciários prometem, e tomão sobre si, que seus
    Amos acima mencionados ratificarão este Tratado, e que dentro do termo de dois
    meses se passarão as Ratificações."

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Guerra Peninsular - O mais dramático episódio da história portuguesa

  • 1. Guerra Peninsular A GUERRA PENINSULAR O mais dramático episódio da história do povo português RI 14 - 2010
  • 2. A GUERRA PENINSULAR sumário • Antecedentes – Origem e causas do fenómeno “Guerra” – Portugal e o Exército Português no final do Séc XVIII e início do Sec XIX – A revolução francesa e o conflito europeu – A guerra das Laranjas – O ultimato de Napoleão e a transferência da corte para o Brasil • A 1ª Invasão (Junot) • A 2ª invasão (Soult) • A 3ª Invasão (Massena) • O fim do conflito • O armamento • O combate (infantaria, cavalaria, artilharia, comunicações) • A saúde e o fardamento • Conclusões
  • 3. A GUERRA PENINSULAR Antecedentes – origem do fenómeno “Guerra” • As sociedades primitivas – nomadização e sedentarização • Os recursos – primeiras disputas • O início da diversificação das actividades • O despontar da divisão social
  • 4. A Guerra Peninsular - antecedentes Resumo cronológico • 1789 – Revolução Francesa • 1793 – Família Real é guilhotinada; guerra do Rossilhão • 1795 – Tratado de Basileia • 1799 – 18 de Brumário - Napoleão ascende ao poder • 1800 – Desmobilização do Exército Português
  • 5. A Guerra Peninsular - antecedentes • O governo e a situação social portuguesa • A economia portuguesa e o Tratado de Methuen (1703) • O Exército Português, em finais do Sec XVIII A economia portuguesa estava depauperada e o aparelho militar era quase inexistente
  • 6. A Guerra peninsular - antecedentes Resumo Cronológico •1795 – Tratado de Basileia •1796 – 2º tratado de Stº Ildefonso (Espanha declara guerra a Inglaterra) Castelo de Vide •1797 – Tratado de paz com a França (Portugal Portalegre pagaria 10 M Libras pelo estatuto de neutralidade!!!) Arronches •1799 – Napoleão ascende ao poder Ouguela •1800 – Desmobilização do Exército Português Barbacena •1800 – 3º Tratado de Stº Ildefonso (ultimatum a Juromenha Portugal) Olivença •1801 – em 20 de Maio a Espanha invade Portugal •1801 – em 6 de Junho é assinado o tratado de Badajoz
  • 7. A Guerra peninsular - antecedentes A Guerra das laranjas Castelo de Vide •Manuel de Godoy e a ocupação do alto Alentejo Portalegre •As consequências: Arronches –As fragilidades do sistema Ouguela defensivo português ficaram a Barbacena nu. Juromenha –Instalou-se o alarme na elite Olivença política. –Portugal perde Olivença! •Tratado de Badajoz
  • 8. A Guerra Peninsular - antecedentes Resumo Cronológico •1804 – Novo tratado de neutralidade com a França (mais 16 M de francos) •1805 – Aniquilamento da Armada Francesa na batalha de Trafalgar •1806 – Decreto unilateral, pela França, do Bloqueio Continental
  • 9. A Guerra Peninsular - antecedentes A Revolução Francesa e o conflito europeu •A ambição de Napoleão •As duas potências europeias •Advento do liberalismo em Portugal Portugal estava encurralado entre a Inglaterra (principal parceiro comercial e protectora das rotas navais para a África e Brasil) e a França, potência expansionista daquele tempo, que ameaçava a sua soberania… … e o povo?
  • 10. A Guerra Peninsular - antecedentes A posição portuguesa, o ultimatum de Napoleão e a transferência da corte para o Brasil •A tentativa de manutenção da neutralidade •O tratado de Fontainebleau •O início da 1ª invasão •A migração da corte para o Brasil Com a transferência da corte, Portugal abria um precedente histórico – era a primeira vez que um soberano europeu se deslocava para as colónias do Novo Mundo…
  • 11. A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot) Resumo cronológico (1807) •27 a 29 OUT – início do movimento a partir de Bayonne •27OUT – Tratado de Fontainebleau •17 NOV – entrada em Portugal •23 NOV – chegada a Abrantes •27 NOV – embarque da corte •30 NOV – chegada a Lisboa •13 DEZ – início das revoltas populares
  • 12. A Guerra Peninsular – A grande marcha 17OUT 17NOV 23NOV 30NOV
  • 13. A guerra peninsular – o fardamento e equipamento • Considerações sobre o fardamento • O calçado • O equipamento • A higiene
  • 14. A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot) •Iniciada em Novembro de 1807 •Dificuldades encontradas pelos franceses •A partida da corte •A resistência popular •Loison, o “maneta” O Exército de Junot chegou a Lisboa exausto e andrajoso Quando Junot substitui a bandeira portuguesa pela francesa em Lisboa, começam os primeiros levantamentos populares …
  • 15. A Guerra Peninsular – a 1ª invasão Resumo cronológico •1807 – (17 de Outubro) Junot sai de Bayonne •1807 – (27 de Outubro) Tratado de Fontainebleau •1807 – (17 de Novembro) Franceses entram em Segura •1807 – (27 a 29 de Novembro) Embarque do Princípe Regente •1807 – (30 de Novembro) Junot entra em Lisboa; a armada real sai à barra do Tejo •1808 – Sublevação generalizada na Península; abdicações de Bayonne
  • 16. A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot) Resumo Cronológico (1808) 18MAR – Início dos levantamentos em Espanha (Aranjuez) 05MAI – Abdicações de Bayonne 21JUN – Loison é atacado em Amarante 13 JUL – sublevação de Évora 29JUL – Massacre de Évora 01AGO – Desembarque de Wellington na Figueira da Foz 17AGO – batalha da Roliça 21AGO – batalha do Vimeiro 30AGO – Convenção de Sintra 17SET – embarque dos franceses 30SET – reconstituição oficial do Exército Português
  • 17. A guerra peninsular – o • Infantaria armamento • Cavalaria • Artilharia
  • 18. A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot) • A resistência popular • O massacre de Évora • O desembarque inglês • Batalhas da Roliça e Vimeiro 01Ago 17Ago 21Ago 29JUL
  • 19. A Guerra peninsular – a 1ª Invasão (Junot) • A Convenção de Sintra • Situação dos Franceses na Península
  • 20. A Guerra peninsular – a 2ª Invasão (Soult) • Marcha pelo Norte de Espanha • Tentativa de entrada pelo Minho • A conquista de Chaves • A tomada do Porto • A tragédia da ponte das barcas • A derrota de Soult
  • 21. A Guerra peninsular – a 2ª Invasão (Soult) Resumo cronológico (1809) • 16Jan – Moore, antes derrotado em Lugo, na Galiza, vence na Corunha, permitindo a evacuação dos ingleses • 13Fev – Soult tenta entrar por Cerveira • 16Fev – tentativa por Caminha • 10Mar – entrada por Chaves • 29Mar – queda do Porto; tragédia da Ponte das Barcas • 05Abr – reconquista de Braga • 10/11Mai – Batalha de Grijó • 12Mai – Loison e Soult são obrigados a recuar • 18Mai – Soult abandona Portugal por Montalegre (fim da 2ª invasão)
  • 22. A Guerra peninsular – a 3ª Invasão (Massena) • O cerco e conquista de Ciudad Rodrigo • O Cerco de Almeida • As milícias de Trant • Progressão até ao Bussaco • A batalha do Bussaco • A marcha sobre as linhas de Torres • A iminência da derrota
  • 23. A guerra peninsular – o armamento • Infantaria • Artilharia
  • 24. A guerra peninsular – a saúde • Medicina incipiente • Primeiros passos do apoio sanitário de campanha • As doenças infecto-contagiosas • As doenças de pele • Os ferimentos devidos ao combate
  • 25. A Guerra peninsular – a 3ª Invasão (Massena) Resumo cronológico – 1810 • 15Jun – Inicio do cerco de Ciudad Rodrigo • 24Jul – Combate do Côa • 26Ago – Explosão do paiol em Almeida • 18Set – Ocupação de Viseu • 27Set – Batalha do Buçaco • 11Out – Chegada à vista das Linhas de Torres • 15Nov – inicio da retirada dos franceses (A 3ª invasão viria a terminar em 5 de Abril de 1811)
  • 26. A Guerra peninsular – a perseguição • A impossibilidade de romper as linhas de Torres • A retirada francesa • A perseguição • A 4ª invasão • A queda de Napoleão – batalha de Toulouse • A “desistência” portuguesa
  • 27. A guerra peninsular – o armamento • Infantaria • Artilharia • Cavalaria
  • 28. A Guerra Peninsular – Conclusão • 200.000 mortos entre a população • Perda definitiva de Olivença • Economia arruinada • Perda do comércio do Brasil • Independência do Brasil • Início das Guerras Liberais A essência do ser Português
  • 29. Referências (bibliográficas) • História da Guerra Civil – Tomos I e III (Simão José da Luz Soriano; Ed Imprensa Nacional, 1879) • História de Portugal - Vol V (Coordenação de José Mattoso; ed. Circulo de Leitores) • Memórias de Junot / Soult / Massena (3 volumes, ed. Livros Horizonte) • Ordens do dia (Gen Beresford) • Armamento Ligeiro da Guerra Peninsular 1808-1814 (José António Faria e Silva / Jaime Regaleiro; Ed Fronteira do Caos) • O 14 de Infantaria (ed. Regimento de Infantaria 14, 2009) • O Portugal Militar (Carlos Selvagem, ed. Imprensa Nacional de Lisboa, 1931) • Museu Militar do Buçaco 1910 – 2010 (ed. DHCM, 2010) • A cavalaria na Guerra Peninsular (Alexandre Sousa Pinto, José Carlos Antunes Calçada e Paulo Jorge Lopes da Silva; ed. Tribuna) • 1808 (Laurentino Gomes) • O reino de Portugal em 1766 (Charles Dumouriez; ed. Caleidoscópio) • História Geral da Invasão dos Franceses em Portugal e da Restauração deste reino – Tomo V (José Acúrcio das Neves; Lisboa 1840; Oficina de João Thaddeo Ferreira)
  • 30. Referências (Internet) • http://asinvasoesfrancesas.blogspot.com/ • http://www.arqnet.pt/exercito/laranjas.html • http://berryhillsturgeon.com/NapWar/Generals/Carrol/Carrol.html • http://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio_Revolucion%C3%A1rio_Franc%C3%AA • http://www.arqnet.pt/exercito/minerva09.html • http://pt.wikipedia.org/wiki/Combate_de_%C3%89vora_(29_de_Julho_de_1808) • http://debatespoliticos.mforos.com/860753/7462197-los-mitos-de-la-guerra-de-indepen • http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=80 • http://itinerante.pt/invasoes-francesas-na-genese-do-portugal-contemporaneo/ • http://www.arqnet.pt/exercito/principal.html • http://www.arqnet.pt/exercito/principal.html • http://www.arqnet.pt/portal/portugal/invasoes/inv1808.html • http://www.ospreypublishing.com/text_search.aspx?TextSearch=portuguese+army&Gr • http://purl.pt/369/1/ficha-obra-convencao_sintra.html
  • 31. Tratado de Fontainebleau • Artigo 1. — A província de Entre Douro e Minho, com a cidade do Porto, se trespassará em plena propriedade e soberania para Sua Majestade o Rei da Etrúria, com o título de Rei da Lusitânia Setentrional. • Artigo 2. — A província do Alentejo e o reino dos Algarves se trespassarão em plena propriedade e soberania para o Príncipe da Paz, para serem por ele gozados, debaixo do título de Príncipe dos Algarves. • Artigo 3. — As províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura portuguesa, ficarão por dispor até que haja uma paz, e então se disporá delas segundo as circunstâncias, e segundo o que se concordar entre as duas partes contratantes. • Artigo 4. — O Reino da Lusitânia Setentrional será tido pelos descendentes de Sua Majestade o Rei da Etrúria, hereditariamente e conforme as leis da sucessão, estabelecidas na família que ocupa o trono da Espanha. • Artigo 5. — O Principado dos Algarves será tido pelos descendentes do Príncipe da Paz hereditariamente e conforme as leis de sucessão estabelecidas na família que ocupa o trono da Espanha. • Artigo 6. — Se não houver descendentes ou herdeiros legítimos do Rei da Lusitânia Setentrional ou do Príncipe dos Algarves, se disporá por investidura do Rei de Espanha, de maneira que nunca se unirão debaixo de uma só cabeça, nem se anexarão à coroa de Espanha. • Artigo 7. — O Reino da Lusitânia Setentrional e o Principado dos Algarves reconhecerão como protector Sua Majestade Católica o Rei de Espanha, e em nenhum caso os soberanos destes países farão paz ou guerra sem o seu consentimento. • Artigo 8. — No caso de que as províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura portuguesa, tidas em sequestro, se devolvam na paz geral à Casa de Bragança, em troca de Gibraltar, Trindade e outras colónias, que os ingleses têm conquistado à Espanha e seus aliados, o novo soberano destas províncias terá, relativamente a Sua Majestade Católica o Rei de Espanha, as mesmas obrigações que tem o Rei da Lusitânia Setentrional e o Príncipe dos Algarves, e as terá debaixo das mesmas condições. • Artigo 9. — Sua Majestade o Rei da Etrúria, cede o Reino da Etrúria em plena propriedade e soberania a Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália. • Artigo 10. — Assim que as províncias de Portugal forem definitivamente ocupadas, os diferentes príncipes que as devem possuir nomearão mutuamente comissários para verificar os seus limites naturais. • Artigo 11. — Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália, garante a Sua Majestade Católica o Rei de Espanha, a posse dos seus domínios no continente da Europa, situados ao sul dos Pirenéus. • Artigo 12. — Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália obriga-se a reconhecer a Sua Majestade Católica o Rei da Espanha como Imperador das Duas Américas, quando tudo estiver pronto para Sua Majestade assumir este título, que pode ser, ou ao tempo da paz geral, ou o mais tardar três anos depois daquela época. • Artigo 13. — As duas altas partes contratantes concordam mutuamente em uma igual divisão das ilhas, colónias e outras possessões ultramarinas de Portugal. • Artigo 14. — O presente tratado será tido em segredo. Será ratificado e trocado em Madrid dentro de vinte dias, o mais tardar, da data da sua assinatura.
  • 32. Calendário revolucionário francês O calendário revolucionário francês ou calendário republicano foi criado pela Convenção Internacional em 1792, durante a Revolução (1789) para simbolizar a quebra com a ordem antiga e o início de uma nova era na história da humanidade mundial e vigorou de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805, quando Napoleão Bonaparte ordenou o restabelecimento do Calendário Gregoriano . •No outono: – Vindimiário (vendémiaire): 22 de setembro a 21 de outubro – Brumário (brumaire): 22 de outubro a 20 de novembro – Frimário (frimaire): 21 de novembro a 20 de dezembro •No inverno: – Nivoso (nivôse): 21 de dezembro a 19 de janeiro – Pluvioso (pluviôse): 20 de janeiro a 18 de fevereiro – Ventoso (ventôse): 19 de fevereiro a 20 de março •Na primavera: – Germinal: 21 de março a 19 de abril – Florial (floréal): 20 de abril a 19 de maio – Pradial (prairial): 20 de maio a 18 de junho •No verão: – Messidor: 19 de junho a 18 de julho – Termidor (thermidor): 19 de julho a 17 de agosto – Fructidor: 18 de agosto a 20 de setembro. Neste calendário faltavam cinco dias, (todos os meses tinham 30) – eram feriados nacionais (os dias dos sans-culottes)
  • 33. Versos ao maneta Entre os títeres generais Que generais é que devem entrou um génio altivo morrer ao som da trombeta? que ou era o Diabo vivo Os três meninos da ordem: ou tinha os mesmos sinais… Jinot, Laborde e Maneta. Aos alheios cabedais O Jinot mai-lo Maneta lançava-se como seta, julgam Portugal já seu: namorava branca ou preta, É do demo que os carregue toda a idade lhe convinha. Consigo três Emes tinha: e também a quem lho deu. Manhoso, Mau e Maneta.
  • 34. O soldado francês Um homem com cabeça de donato, tendo por barretina uma caneca, olhos gázeos, boca de alforreca, e pescoço estendido como um gato. Burjaca suja e rota por ornato, calça de brim na perna nua e seca, uma espada que andou por Seca e Meca, os dedos quasi fora do sapato. Uma pele de cabra (1) sobre o lombo, cabacinha (2), panela e caçarola, espingarda que leva muito tombo: Notas: Eis um guerreiro da francesa escola, (1) – a mochila agudo em manhas, em juízo rombo, (2) – o cantil Que outro Deus não tem que a passarola! (3) (3) – a águia de Napoleão
  • 35. Tratado de Methuen – também referido como Tratado dos Panos e Vinhos, foi um diploma assinado entre a Grã-Bretanha e Portugal, em 27 de dezembro de 1703. Foram seus negociadores o embaixador extraordinário britânico John Methuen, e D. Manuel Teles da Silva, marquês de Alegrete • "I. Sua Majestade ElRey de Portugal promete tanto em Seu proprio Nome, como no de Seus Sucessores, de admitir para sempre daqui em diante no Reyno de Portugal os Panos de lãa, e mais fábricas de lanificio de Inglaterra, como era costume até o tempo que forão proibidos pelas Leys, não obstante qualquer condição em contrário. • II. He estipulado que Sua Sagrada e Real Magestade Britanica, em seu proprio Nome e no de Seus Sucessores será obrigada para sempre daqui em diante, de admitir na Grã Bretanha os Vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo algum (haja Paz ou Guerra entre os Reynos de Inglaterra e de França), não se poderá exigir de Direitos de Alfândega nestes Vinhos, ou debaixo de qualquer outro título, directa ou indirectamente, ou sejam transportados para Inglaterra em Pipas, Toneis ou qualquer outra vasilha que seja mais o que se costuma pedir para igual quantidade, ou de medida de Vinho de França, diminuindo ou abatendo uma terça parte do Doreito do costume. Porem, se em qualquer tempo esta dedução, ou abatimento de direitos, que será feito, como acima he declarado, for por algum modo infringido e prejudicado, Sua Sagrada Magestade Portugueza poderá, justa e legitimamente, proibir os Panos de lã e todas as demais fabricas de lanificios de Inglaterra. • III. Os Exmos. Senhores Plenipotenciários prometem, e tomão sobre si, que seus Amos acima mencionados ratificarão este Tratado, e que dentro do termo de dois meses se passarão as Ratificações."

Hinweis der Redaktion

  1. Este é o capítulo mais dramático de toda a história de Portugal, pelo sofrimento infligido ao povo português e pelas mostras de coragem e de tenacidade que ele foi capaz de demonstrar. Num período de cerca de 4 anos, o povo foi deixado ao abandono pela elite dominante, vendo o país ser ocupado e depredado por potências estrangeiras, e assistindo faminto, desabrigado e sem direcção à destruição e pilhagem dos haveres e património. Sofrendo 3 invasões daquela que era a maior potência militar na época, por 3 vezes se sublevou e por 3 vezes saiu vencedor.
  2. Nesta apresentação será efectuado o enquadramento que conduziu às invasões francesas e feita a descrição dos factos mais marcantes de cada uma. Será igualmente descrito o que era o combate à época, e como viviam, e morriam os combatentes, militares ou civis. A exposição termina com as conclusões extraídas desta página da nossa história e encerra com um período de perguntas (caso existam)
  3. Desde a origem, a espécie humana sempre teve um comportamento gregário. Do hominídeo ao homo sapiens, essa atitude manteve-se, enquanto que as actividades desenvolvidas pelos bandos se foram diversificando e aumentando de complexidade, deixando de ser exclusivamente a caça – única fonte de subsistência – para passar à criação de gado (ainda nómada) e à agricultura (com a sedentarização das primeiras sociedades). Esta transição não foi uniforme nem simultânea em todos os bandos. Durante séculos, as primeiras tribos sedentárias terão combinado caça e agricultura, e até mesmo a pastorícia, sem serem grandemente incomodadas pelos nómadas. Os nómadas viviam, inicialmente, em exclusivo da caça e mais tarde, combinando a caça e a pastorícia. A agricultura começa a ocupar superfícies progressivamente maiores, o que, por um lado, reduzia a área de pastagens enquanto por outro lado propiciava um apetecível recurso para os nómadas e para o seu gado. Isto, naturalmente, originou disputas violentas entre os que trabalhavam a terra, e os que simplesmente se queriam aproveitar do produto desse trabalho. Os nómadas, não tendo abrigos nem tendo desenvolvido as aptidões para os construir, mantinham intactas as aptidões guerreiras. Os sedentários, fruto do muito tempo despendido na actividade agrícola e de terem começado a construir abrigos, iam perdendo essas aptidões. Desta situação, a necessidade de defesa levou a uma primeira divisão social entre os sedentários, em que parte era dedicada à actividade agrícola, e parte dedicada à guerra – assim surgem os embriões dos primeiros exércitos e se deu o primeiro passo para aquilo que viria a ser o feudalismo, milénios antes de ele ser conhecido como tal. A guerra surgiu, portanto, antes da existência de exércitos e na sua génese está a disputa de recursos…
  4. No último quartel do Sec XVIII, a coroa francesa debatia-se com uma grave crise financeira. Não obstante, enquanto o povo passava fome, a corte vivia no maior fausto. Os comentários sucediam-se à boca pequena e teriam chegado à corte. A rainha Maria Antoniete, conhecida e mal amada pelo sue gosto pelo luxo e pela sua frivolidade teria (diz-se) respondido aos comentários com a célebre frase “Não têm pão? Mas porque não comem croissants?”… NÃO É DE AGORA, o distanciamento entre as bases e as elites. Em 1789, a situação social em França era tão grave e o descontentamento popular tão grande, que o povo foi às ruas com o objectivo de tomar o poder e derrubar a monarquia liderada pelo rei Luís XVI. A tomada da Bastilha, símbolo do poder absolutista, marca o início de um processo revolucionário sob o mote “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Em Agosto desse ano, uma nova Assembleia Constituinte aboliu os direitos feudais até então vigentes e promulgou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – um documento que trazia significativos avanços sociais ao garantir direitos iguais aos cidadãos e uma maior participação do povo nas decisões políticas. Durante o processo revolucionário, surgem partidos com visões diversificadas: de entre estes, sobressaem os girondinos, representando a alta burguesia e pretendendo moderar a participação dos trabalhadores urbanos e rurais na política e os jacobinos, mais radicais que pretendiam mudanças mais profundas na sociedade que protegessem os mais pobres – estes eram liderados por Robespierre e Saint-Just. Ainda durante este processo, grande parte da antiga nobreza deixou a França, a qual, ainda reconhecia o Rei. Contudo, a ascensão da facção jacobina ao poder, libertou o radicalismo e nem a família real escapou à sua perseguição – foi capturada ao tentar fugir do país, acabando na guilhotina em 1793; o clero, viu igualmente os bens da igreja serem confiscados. A execução do casal real leva a uma coligação das monarquias europeias de direito divino contra a França revolucionária, que se revelava uma ameaça para elas, dando origem à Guerra do Rossilhão. Portugal, não se querendo envolver directamente, envia o Exército Auxiliar à Coroa Espanhola com um efectivo de 5400 homens, sob comando do General inglês Jonh Forbes Skellater, combater junto da coligação, mas sem declarar guerra à França. Na iminência de uma derrota militar, a Espanha assina o tratado de Basileia, passando de inimigo a aliado da França, e de aliado a inimigo da Inglaterra. Naturalmente, Portugal passou a ser considerado inimigo da França e por consequência, fortemente pressionado pela Espanha. A França, então governada por um directório, impõe severas sanções a Portugal para a assinatura da paz, ou então, com o auxilio da Espanha, invadiria o país. Em 1799, na sequência do golpe de estado do 18 de Brumário, Napoleão assume definitivamente o poder em França com o título de 1º cônsul. Em Portugal, continuava a política errática e sem objectivos, quer no plano externo, quer no plano interno – a elite dominante, entre os custos com a defesa, ou a distribuição do erário, opta pela segunda e é determinada a desmobilização de boa parte do exército existente, sob, entre outros, o pretexto de faltarem braços para o cultivo dos campos.
  5. Em 1795, entre avanços e recuos, os girondinos sobem ao poder, instalando um novo governo burguês na França e redigindo uma nova constituição que lhes ampliava o poder e os direitos políticos e económicos. Napoleão, não obstante as suas anteriores ligações aos jacobinos, tinha já um capital de prestígio que levou a que fosse colocado no poder para controlar a instabilidade social e apoiar a implantação do governo burguês, numa França que começava a estar cansada de instabilidade. Nesta altura, Portugal estava totalmente dependente dos produtos do Brasil (particularmente, o ouro) e era esta a principal fonte de rendimento que custeava as importações. O grande produto de exportação (o vinho do Porto) mal contrabalançava a importação de lanifícios que vinham de Inglaterra nos termos do tratado de Methuen. Tudo o resto, ou era total ou parcialmente importado e Portugal não era auto-suficiente em coisa nenhuma. NÃO É DE AGORA, o país consumir mais do que produz, através de uma economia não sustentada na geração de riqueza. Politicamente, estava entregue à regência do Príncipe D. João VI, na sequência da rainha D. Maria I, sua mãe, ter enlouquecido. O jovem príncipe era fraco e indeciso, pelo que na prática, o governo estava nas mãos de uma elite corrupta e perdulária, composta pela nobreza e pela alta burguesia. O povo, esse, vivia na miséria, mas mantinha-se fiel à regência e à Fé, devoto e pio. A defesa assentava numa marinha que não tinha recuperado do desastre da governação filipina e num exército que vinha caindo sistematicamente em declínio – a classe dominante entendia que os elevados custos da manutenção de um aparelho militar não encontravam justificação porque, acreditava esta classe, Portugal não tinha inimigos credíveis, logo, não necessitava de um sistema de defesa. Em 1 de Janeiro de 1800, com a ordem para desmobilizar boa parte do Exército que existia até então, pouco ficou e o que ficou, era fraco, estava mal equipado, e os soldados nem recebiam, nem tinham que comer… NÃO É DE AGORA o desinvestimento na defesa, quando a manutenção do status quo está em risco.
  6. A França, desejosa de romper a aliança anglo-lusa pressionava a Espanha para invadir Portugal. Pelo 2º tratado de Sto Ildefonso, assinado em segredo pela França e Espanha, em Agosto de 1796, a Espanha declara guerra à Inglaterra em 08 de Outubro. Entretanto, Portugal, literalmente, comprava à França o reconhecimento do estatuto de neutralidade. O nosso representante em Haia, António de Araújo de Azevedo, negociou com o Directório de Paris e conseguiu um tratado de paz, muito desfavorável a Portugal, e que se realizou a 10 de Agosto de 1797. Com a assinatura deste tratado Portugal ficava obrigado a pagar a França dez milhões de libras tornesas, ficando impedido de auxiliar o governo de Londres na guerra e a não permitir “a entrada nos nossos portos a mais de seis navios dessa nacionalidade.” A pressão sobre Portugal aumentou, devido ao envolvimento na destruição da armada espanhola ao largo do cabo de S. Vicente e, posteriormente, pela participação no bloqueio a Alexandria ao lado dos ingleses (Julho de 1798). Em 1800, com o 3º tratado de Sto Ildefonso, a França obtém novas concessões da Espanha. Em consequência, em Janeiro de 1801 ambos os países assinam uma nova convenção, pela qual um ultimatum é apresentado a Portugal, nos termos do qual, Portugal tinha que abandonar a aliança com a Inglaterra e fechar-lhe os portos (abrindo-os à França e a Espanha, naturalmente), entregar território equivalente a ¼ da população como garantia da devolução ou cessão das ilhas espanholas em mãos inglesas (Trinidad, Minorca e Malta), pagar reparações de guerra à França e à Espanha e rever as fronteiras com Espanha – em caso de recusa, Portugal seria invadido pela Espanha, com o apoio de mais 15.000 franceses.
  7. A 20 de maio de 1801, o exército espanhol entrava em Portugal pelo Alentejo, ocupando, quase sem resistência, a praça de Olivença, seguida de Juromenha, Arronches, Portalegre Castelo de Vide, Barbacena e Ouguela. A praça-forte de Campo Maior resistiu 18 dias, antes de cair com honras militares, e Elvas resistiu com êxito. No espaço de 18 dias, o Exército espanhol era senhor do Alto Alentejo. Manuel de Godoy, tomou dois ramos de laranjeiras com frutos e enviou-os à esposa do rei Carlos IV de Espanha, a rainha Maria Luísa de Parma, de quem se dizia ser amante, com a mensagem: “Eu careço de tudo, mas mesmo sem nada ter irei até Lisboa” – graças a este episódio, esta ficou conhecida como a Guerra das Laranjas. Surpreendido e em desvantagem, Portugal assina o Tratado de Badajoz (6 de Junho de 1801), que estabelecia o seguinte: A paz entre os dois países, em todos os seus domínios na terra e no mar O encerramento dos portos de Portugal e todos os seus domínios à navegação inglesa A restituição, por Espanha, das praças ocupadas, excepto a de Olivença, que era conservada na qualidade de conquista, ficando a nova fronteira naquela zona definida pelo rio Guadiana Proibição do contrabando nas fronteiras entre os 2 países Pagamento por Portugal, das despesas de guerra incorridas pela Espanha O Tratado era ratificado pelo Príncipe Regente, e pelo Rei de Espanha, mas seria rejeitado por Napoleão – por consequência, um novo tratado seria assinado em Setembro, que, se por um lado impunha sanções mais severas a Portugal, por outro lado evitava uma nova invasão.
  8. Na sua posição permanentemente ambígua, Portugal insistia nas boas relações com Deus e com o diabo e não cumpria com tudo o que estava estipulado no tratado de Badajoz, nomeadamente no que se referia às restrições à navegação inglesa. A sangria de dinheiros para a manutenção do estatuto de neutralidade não parava e em 1804 é negociado um novo tratado com a França que impunha mais uma pagamento de 16 milhões de francos pelo reconhecimento de tal estatuto. O insucesso da marinha napoleónica, primeiro no mediterrâneo, depois, na célebre batalha de Trafalgar (onde ficou praticamente aniquilada) em Outubro de 1805, convenceu Napoleão que a única solução para o problema inglês teria que ser encontrada em terra, decretando, por consequência, o “Bloqueio Continental”, em Novembro de 1806, segundo o qual, todos os países europeus costeiros deveriam interditar o acesso de navios ingleses aos seus portos e mesmo o arresto de todas as embarcações e navios sob pavilhão inglês.
  9. A ambição de Napoleão, a par do sentimento de força e superioridade que se apossou do povo francês (induzido pela vitória recente sobre o temido regime absolutista) arrastaram a França para uma aventura expansionista com consequências trágicas para toda a Europa. Entenda-se que a França estava desesperada por recursos, saída, também ela, de uma economia depauperada pela monarquia dos Luíses e ainda mais desgastada pelas guerrilhas internas e pela guerra do Rossilhão e para que Napoleão se mantivesse no poder tinha que assegurar tais recursos. A Europa continental foi rapidamente subjugada pelo poder e génio militar de Napoleão. Ficou de fora a Inglaterra, para cuja submissão se impunha a estrangulação económica, apenas atingível por duas vias: derrota-la no mar, ou negar-lhe o acesso a terra. Nos avanços e recuos diplomáticos, Portugal insistia numa neutralidade que não estava em condições de manter, dada a sua debilidade económica e militar. Hostilizar a Inglaterra implicava a perda da protecção das rotas navais para o Brazil e África, ganhando um inimigo temível nos mares, e perder o seu principal parceiro comercial para o maior produto de exportação portuguesa (praticamente o único), o vinho do Porto. Não obedecer às imposições francesas expunha-o à agressão da maior potência militar da época, ficando exposto a uma invasão, para a qual não estava minimamente preparado. No período entre a revolução francesa e o decreto do bloqueio, as ideias liberais chegaram também a Portugal, dividindo os poucos letrados que a elas tiveram acesso – como sempre, havia os conservadores que as rejeitavam (estes, eram os que receavam a mais que garantida perda de privilégios e regalias) e os progressistas que as abraçavam (os que acreditavam que estas trariam benefícios, se não para todos, pelo menos para os próprios). Por outro lado, as elites estavam igualmente divididas entre os maçons de obediência às lojas inglesas e os de obediência às lojas francesas, criando cisões na unidade politica do Estado e tantas vezes dificultando quer a tomada de decisões, quer a sua implementação. A maior parte do povo, mantinha-se alheia a todo o drama que se estava a desenhar. A quase totalidade, não sabia ler nem escrever e os novos ideais não tinham qualquer significado – apenas lutava para garantir um magro sustento, trabalhando de sol a sol, dando vivas a el-rei sempre que os arautos vinham trazer a sua palavra, e assistindo devotadamente aos ofícios religiosos. Não existiam escolas nem escolaridade obrigatória. NÃO É DE AGORA o baixo nível de instrução do povo português, que lhe condiciona a capacidade de compreender em profundidade a realidade que o rodeia.
  10. Numa jogada diplomática desesperada, Portugal chega a declarar aderir ao bloqueio, por carta enviada aos franceses em Setembro, confirmada por diploma régio em Outubro, mas sem nunca ter sido levado à prática. Isto era observável pelos embaixadores de Espanha e da França em Lisboa, que se retiram do País em Outubro. Em 27 de Outubro, a França e a Espanha (através de Manuel de Godoy) assinam o Tratado de Fontainebleau, acordando dividir Portugal em 3 parcelas. Destas, o Reino da Lusitânia Setentrional era destinada ao Rei da Etrúria, o Reino dos Algarves seria para manuel de Godoy e a Lusitânia ficaria para decidir após a paz, podendo vir a ser devolvido à casa de Bragança, sob algumas condições. Entretanto, o chamado Exército do 1º Corpo de Observação da Gironda, comandado por Junot, tinha já saído de Baiona (10 dias antes), marchando cerca de 600 km em trinta dias, vindo a reunir às portas de Salamanca em 12 de Novembro um efectivo próximo dos 24.000 homens, e entrando em Portugal pela fronteira de Segura, a Este de Castelo Branco, no dia 17 de Novembro de 1807. A entrada dos franceses em Portugal desencadeou a partida da corte para o Brasil, num movimento que estava já concertado entre Portugal e Inglaterra. O embarque durou dois dias e, não obstante o planeamento anterior, decorreu de forma, no mínimo, pouco organizada (o riquíssimo acervo da biblioteca real ficou “esquecido” em caixotes no cais das colunas. Embarcaram a família real e mais um séquito num total de cerca de 15000 pessoas, entre corte, alta burguesia e alguns serviçais, em navios da marinha portuguesa e inglesa, que também escoltava a frota.
  11. A 1ª invasão ficará marcada por 4 erros de Junot que contribuíram definitivamente para a sua perdição: Substituição da bandeira portuguesa pela francesa no castelo de S. Jorge Desmobilização e desarmamento do exército português e constituição da legião portuguesa que foi enviada para França Lançamento de um imposto de 100M Decisão de saque das igrejas Possivelmente, entre as ordens recebidas de Napoleão e a situação que vivia, não lhe restavam grandes alternativas: a sua tropa vinha faminta, exausta, rota e com soldos em atraso. Não obstante as indicações difundidas (reiteradas em todas as invasões, diga-se) no sentido de tratarem os autóctones com cortesia e as ameaças de punição severa a todo o autor de abusos, os soldados, fisicamente longe da vista dos oficiais quando não em combate, rapidamente se entregaram a todo o tipo de crimes, desde a pilhagem, à violência gratuita e à própria violação das mulheres.
  12. Não há dados precisos sobre o itinerário seguido pelos franceses, mas não diferirá substancialmente do assinalado neste mapa e naquela época a distância terá sido bastante superior a 1000 km (cerca de 980, nos dias de hoje, em auto-estrada). Este trajecto foi percorrido em 6 semanas, com o armamento e equipamento (cerca de 30 kg), envergando um uniforme que seria, no mínimo, desconfortável, com um calçado torturante e tantas vezes sob um clima inclemente – não surpreende que Junot tenha entrado em Lisboa com uns míseros e miseráveis 1500 soldados (dos quase 25000 que saíram de Bayone) e que todo o seu exército tenha chegado num estado deplorável, roçando o ridículo.
  13. Não se encontram dados disponíveis sobre as dotações individuais de fardamento atribuídas aos portugueses e ingleses. Das notas de Junot para Napoleão, quando governador militar de Paris, aparecem várias referências sobre a constituição apressada de regimentos para alimentar as frentes de guerra, em que se deduz que os soldados recebiam conforme as disponibilidades (chegando às 2 calças e a 4 pares de sapatos, ou ficando-se por um de cada, ou por vezes nem isso, e apenas pela promessa de envio, quando houvesse disponibilidade). Segundo alguns autores, a regra, entre os franceses seria a de disporem de umas calças para as marchas, complementadas por uns safões de protecção, e umas calças “cerimoniosas” para os combates. Os relatos sobre a entrada das tropas (das 3 invasões, diga-se) relatam uma realidade andrajosa, que é facilmente compreensível – não havia hábitos, nem condições de higiene, no Inverno marchavam na lama e no Verão, no pó e no suor e todos os corpos franceses aqui entrados vinham com centenas de quilómetros de marcha forçada nos dias anteriores, ou depois de várias batalhas e combates já travados. No caso anglo-luso, tudo leva a crer que a realidade não fosse muito mais brilhante. O calçado, deveria ser (face ao padrão actual) extremamente desconfortável, já que não havia distinção entre o pé direito e o pé esquerdo, mais quadrado ou mais arredondado. Diz-se inclusivamente que os militares portugueses, saídos do povo que naquele tempo andava descalço, nas marchas entre combates penduravam os sapatos ao pescoço, só os calçando pouco antes de assumir a formação de combate. Não havendo viaturas, tudo tinha que ser transportado pelo próprio – o peso do equipamento, munições, arma e demais objectos pessoais de um combatente rondaria os 30 kg. E com tudo às costas faziam as marchas e os combates. Também, ao tempo, não existiam hábitos de higiene e a prática de tomar banho era uma raridade, mesmo entre as elites. Isto encontra também explicação na mentalidade religiosa da época, segundo a qual, o tomar banho era um acto de purificação, logo, desencorajado – porque precisaria alguém de se lavar se não estava impuro?! No entanto, os exércitos já tinham preocupações com alguma higiene, acima de tudo por medida profilática. Assim, os militares eram obrigados à higiene diária dos pés, mãos e cara e aos sargentos era incumbida a verificação do respeito por esta imposição.
  14. Conforme referido, a 1ª invasão cruzou a fronteira portuguesa em 17 de Novembro de 1807 e trazia como missão a captura da armada portuguesa, aprisionar a corte e depor o rei, para permitir a nomeação de um homem da confiança de Napoleão como regente e assim, fazer cumprir o bloqueio naval à navegação inglesa. Em seguida, o exército francês deveria prender todos os cidadãos ingleses em Portugal e confiscar-lhes os bens. Os franceses entraram pela fronteira de Segura, a Este de Castelo Branco, dirigindo-se ao longo do Tejo, pelo eixo Abrantes, Santarém até Lisboa, marchando sem qualquer oposição militar. Contudo, o mau estado (ou inexistência) de vias de comunicação terrestres, a par de uma sucessão de temporais de que não havia memória dificultaram grandemente a progressão em direcção a Lisboa e a completa falta de abastecimentos levaram a que os soldados franceses tenham chegado num estado lastimável, exaustos, famintos e esfarrapados, ao ponto de muitos deles pedirem ajuda a populares para lhes carregar a própria espingarda, o que originou que fossem alvo da chacota popular. Riachos transformados em torrentes impediram que a artilharia acompanhasse a infantaria, e que os próprios carros de munições se separassem das armas – muitos soldados morreram afogados, arrastados pelas enxurradas. Segundo o próprio Junot teria escrito a Napoleão em 25 de Novembro, um bom numero de baixas ficou a dever-se ao facto de lhe terem faltado todos os mantimentos, excepto o vinho “o que causou muito mal, pois sem ter nada para comer e bebendo vinho forte, os soldados foram vitimados por uma terrível embriaguez que matou vários deles” (presume-se que de coma alcoólico)… Foi com uns escassos 1500 homens que Junot chegou a Lisboa. Junot, com algum apoio de algumas autoridades deixadas na administração do território, teria procurado passar a imagem de que os franceses vinham como protectores – contudo, os soldados franceses saqueavam e pilhavam os bens que lhes fossem de interesse, violavam mulheres, e contrariavam constantemente esta pretensa protecção. Assim que Junot substitui a bandeira portuguesa pela francesa em Lisboa, começam os primeiros sinais de levantamento popular. A cumprimento da ordem de Napoleão para Junot desarmar e licenciar o Exército, embora reunindo os melhores chefes e regimentos para marcharem para França destinados a combater às ordens de Napoleão fez aumentar a desconfiança popular. Porque entendia Napoleão que “a guerra sustenta a guerra”, Junot estava obrigado a recolher os recursos da região ocupada para alimentar e pagar ao seu Exército, tendo lançado sobre Portugal um imposto de guerra no valor de 100 milhões de francos - astronómico, para a época e para as possibilidades do país e, na impossibilidade de o colectar, determinou a confiscação dos bens em ouro e prata das igrejas que Portugal, evidentemente, não tinha com que pagar (o rei e a comitiva tinham levado todo o dinheiro e muitos dos valores), levou à decisão de apreender o ouro e prata das igrejas, o que fez estalar a revolta.
  15. Junot trazia a missão de depor o rei, aprisionar a corte, capturar e arrestar a armada real e prender todos os cidadãos britânicos e confiscar-lhes os bens. Este exército chega a Abrantes nos dias 23 e 24, levando à reunião de emergência do conselho real, que decide pela partida para o Brasil. A família real e boa parte da corte, das chefias militares, da alta burguesia e nobreza (a elite do país) embarcam entre os dias 27 e 29, data oficial da largada da armada real e da sua escolta britânica – contudo, a falta de ventos ainda reteve a armada junto à foz do tejo. A vanguarda do exército de Junot chega à vista de Lisboa na manhã do dia 30, assistindo ao cruzar da barra do Tejo pela armada real, falhando por pouco o objectivo principal de Napoleão - “ficaram a ver navios”. Já em Março de 1808, começam os primeiros tumultos em Espanha. Manuel de Godoy, defensor da partida da familia real espanhola para fora do país, é demitido e, em consequência, o Rei Carlos IV abdica em favor de seu filho, Fernando VII. Napoleão chamará ambos a Bayonne para lhes anunciar a sua deposição e substituição por um novo Rei que ele designaria (o escolhido, acabaria por ser o seu irmão, José Bonaparte) Este acto ficaria conhecido como as “Abdicações de Bayonne”.
  16. Chamado a reforçar os espanhóis no Porto, Loison deixa Almeida, mas ao chegar aos Padrões da Teixeira (próximo de Amarante) as milícias populares obrigam-no a retroceder. Os acontecimentos, a partir desta data, multiplicam-se em catadupa e 20 dias mais tarde dá-se a sublevação de Évora, selvaticamente reprimida pelas tropas do mesmo Loison. O dia 1 de Agosto de 1808 traz o renascer da esperança, ao serem anunciados os primeiros desembarques ingleses na costa de Lavos, junto à Figueira da Foz.
  17. As armas de fogo da época eram de operação morosa, complexa e incerta. Sendo o propulsor comum a pólvora negra – ineficaz, quando molhada – bastava uma chuvada para silenciar a maioria destas armas e os soldados tinham grandes cuidados para as manterem secas, bem como à pólvora, ainda que tal, nem sempre fosse conseguido. As armas eram todas do tipo de carregar pela boca, ainda que já apresentassem melhoramentos significativos relativamente às versões do Sec XVIII. As operações de carregamento exigiam despejar alguma pólvora no mecanismo de disparar e fechar o dito mecanismo. Em seguida, introduzir o resto da carga e o projectil. Calcar o conjunto (esta operação requeria algum cuidado, pois a pólvora é sensível à compressão e ao choque) – um grande melhoramento verificado, foi que as dosagens de pólvora vinham já num cartucho de papel, juntamente com o projéctil (ou o polvorinho continha um doseador incorporado), se bem que o cartucho de papel tinha o inconveniente sério de depositar significativas quantidades de fuligem nas paredes do cano. Finalmente, era necessário guardar a vareta de calcamento novamente, pois caso se extraviasse a arma ficava inutilizada. Depois, bastava apontar e disparar. Ainda que a generalidade das armas fosse de alma lisa, existiam já no exército inglês armas com o cano estriado, normalmente, apenas distribuídas à infantaria ligeira, a qual actuava disseminada pelo campo de batalha, em parelhas, e agia contra alvos seleccionados a distâncias superiores à infantaria de linha (normalmente, os oficiais e comandantes das formações adversárias), tirando partido do maior alcance e da superior precisão de tiro propiciadas por esta inovação. Contudo, o carregamento destas armas era muito mais demorado, porque os projecteis tinham um calibre ligeiramente superior ao calibre do cano, para garantir o travamento e forçar a adesão às estrias. Diz-se que os soldados franceses conseguiam uma cadência de tiro de 3 tpm, enquanto que os ingleses e portugueses se ficavam pelos 2 a 2,5 tpm. Isto devia-se ao facto do superior treino dos franceses, por um lado, enquanto que a cadência mais baixa era a da infantaria ligeira, devido à maior morosidade do calcamento. Os projecteis eram bolas de chumbo toscas e os alcances iam até aos 400 metros com as armas estriadas. Com armas de alma lisa, raramente se iniciava o tiro a distâncias superiores a 150 m, devido à imprecisão dos projecteis e porque as armas tinham deficiências de travamento (ao contrário das armas estriadas, o calibre do projéctil era inferior ao do cano), e a eficácia a distâncias superiores era menor. As operações de carregamento eram treinadas exaustivamente, para conseguir bons resultados debaixo do stress do combate e apenas executadas à ordem. Os disparos produziam fumo intenso. Como as batalhas eram travadas por imensas massas de combatentes, ombro a ombro, chegaram a interromper-se alguns combates para possibilitar a dissipação do fumo e recuperar a visibilidade. Normalmente, as batalhas travavam-se entre um defensor e um atacante que se aproximava até atingir o combate corpo-a-corpo. Nesta situação, tornava-se impraticável continuar as operações de carregamento, e a espingarda passava a ser utilizada como arma de estocada, através da baioneta.
  18. O último dos 4 erros de Junot levou à propagação da revolta a partir dos púlpitos. O confisco dos valores das igrejas, provocou a mudança de atitude do clero, que até aí até via os franceses como benfeitores, e daí à insurreição generalizada foi um passo. Os levantamentos populares eram cada vez mais frequentes e geográficamente dispersos de Norte a Sul. A resistência de Évora à Divisão de Loison, foi heróica, mas inútil – saldou-se em mais de 1000 mortos (os números são os mais díspares, chegando ao ponto de haver quem fale em 8000, ainda que o número mais consensual fale em cerca de 1300), a maioria, vítimas de execuções sumárias às mãos dos franceses, depois do Tenente General Francisco da Paula Leite, 1º Visconde de Veiros e Comandante das forças defensoras, ter ordenado a retirada para Badajoz. Este dia ficou para a história como o Massacre de Évora (29 de Julho de 1808) e em 1 de Agosto espalhava-se a notícia do início do desembarque do primeiro contingente inglês na Figueira da Foz (segundo os diferentes autores, o efectivo desembarcado era de entre 9000 e 14000 homens em armas), inicialmente sob comando de Sir Arthur Wellesley, futuro Marechal e Duque de Wellington. Além dos homens, Wellesley trazia consigo armas, dinheiro e mantimentos, com os quais começou a reorganizar e equipar o Exército Português. Loison, conhecido pela sua impiedade e já alcunhado de “o maneta”, condenava à morte a torto e a direito todo o suspeito de atentar contra os franceses, deixando para a história a expressão “ir para o maneta”… Decidindo marchar sobre Lisboa, apoiado pelo mar (garantindo o fluxo de reabastecimentos pela frota britânica que acompanhava o movimento), trava o primeiro combate com forças francesas do general Delaborde, na Roliça, próximo de Óbidos, conseguindo o seu primeiro e moralizador triunfo – ainda que a missão de Delaborde fosse de vigilância e, se possível, retardamento. Foi no dia 17 de Agosto. Continuando o movimento para Lisboa, Wellesley acampa junto ao Vimeiro, protegendo a foz do Alcabrichel onde iriam desembarcar mais reforços Britânicos (2 Brigadas), enquanto Junot tinha decidido abandonar Lisboa, reunir as suas tropas com as do maneta e forçar os ingleses ao combate, numa tentativa de evitar o reforço oportuno destes. Assim, no dia 21 de Agosto, os franceses, mesmo em inferioridade numérica, vão ao encontro dos ingleses (devido ao mau tempo, o desembarque da 2ª brigada estava longe de concluído) forçando a batalha do Vimeiro. Mais uma vez, a “sorte das armas” favoreceu o exército anglo-luso e Junot assumia a sua derrota – com um exército maltrapilho e esfarrapado, esfomeado, sem pagamentos nem dinheiro e com as linhas de comunicações cortadas, Junot vê-se obrigado a assinar a Convenção de Sintra em 30 de Agosto de 1808, convenção essa bastante vantajosa para os Franceses e vergonhosa para os Portugueses e ingleses.
  19. A convenção era um tratado em 25 pontos, dos quais, apenas dois mencionavam Portugal, assinada entre ingleses e franceses. Para agravar, os franceses eram autorizados a manter todo o espólio saqueado durante a ocupação, sendo repatriados com armas e bagagens em navios ingleses – o escândalo foi tal que, os generais ingleses que estiveram implicados na redacção e assinatura deste tratado foram chamados a conselho de guerra em Inglaterra (sem surpresas, não sofreram qualquer condenação – na verdade, os interesses ingleses estavam salvaguardados e a missão tinha sido cumprida; os ingleses ganhavam uma base de operações na península e assumiam o controlo da capital sem mais riscos nem baixas). Quem vem de fora, nunca é para resolver o nosso problema – é para resolver o próprio! Entretanto, em 24 de Março de 1808, o Rei Carlos IV é forçado a abdicar a favor de seu filho, Fernando VII e pouco depois, ambos seriam chamados a Bayonne, onde Napoleão forçaria os dois a abdicar em favor de seu irmão, José Bonaparte. Apesar do desaire no território Português, os franceses mantinham, ainda assim, um exército formidável em Espanha, só que excessivamente disperso pela vastidão do território espanhol e constantemente acossado pelas milícias espanholas e sem recursos para alimentar a sua logística. Além disso, tinham que garantir o controlo dos principais portos mediterrânicos a cantábricos para impedir novos desembarques ingleses. Isto obrigou Napoleão a mandar mais tropas para a península, designando o Marechal Soult, duque da Dalmácia, para Comandar o Exército encarregue de executar a 2ª Invasão…
  20. Em Janeiro de 1809, as forças britânicas sob comando do Gen Moore são derrotadas por Soult, conseguindo, no entanto, embarcar na Corunha e regressar a Inglaterra. Entretanto, Napoleão encarregara Soult de comandar uma nova expedição a Portugal, com vista à expulsão dos ingleses da península – o plano consistia em chegar rapidamente a Lisboa e forçar os ingleses a retirar. Assim, Soult, encontrando-se junto à Galiza, resolve invadir o país por Norte, tomar o Porto e seguir a estrada Porto – Lisboa. Em 13 de Fevereiro, a primeira tentativa de atravessar o Minho, em Vila Nova de Cerveira é frustrada pelas milícias populares. Uma segunda tentativa no dia 16, é igualmente frustrada em Caminha. Finalmente, em 10 de Março, o Exército Francês consegue forçar a passagem na brecha de Chaves, dando início à 2ª Invasão Francesa. A defesa do Norte do país estava, sobretudo, nas mãos dos populares e a insurreição era generalizada. O povo combatia aproveitando a surpresa, atacando militares isolados, montando emboscadas, atraindo os invasores a armadilhas e utilizavam tudo o que pudessem lançar mão para matar ou ferir – os velhos arcabuzes e escopetas, armas artesanais, utensílios agrícolas e ferramentas, o que houvesse. Isto era uma forma de combater para a qual o exército francês não tinha sido treinado e à qual não conseguia reagir de forma eficaz. As milícias organizadas e os poucos chefes militares que tinham ficado da primeira invasão deram também um forte contributo. Chaves caiu a 12 de Março, mas a 21 é retomada pelas milícias do Brigadeiro Silveira, levando ao isolamento do Exército de Soult que marchava em direcção ao Porto. O cenário do Minho e de Trás os Montes era dantesco – os sinos repicavam e as aldeias ardiam. A pedido dos ingleses, a regência determinava que todo o cidadão válido se armasse como pudesse e combatesse os franceses. O povo tentava proteger-se e proteger os parcos haveres e é desta altura a invenção do “vinho dos mortos” – na tentativa de salvar o vinho da pilhagem dos franceses, os camponeses de Boticas esconderam todas as vasilhas de vinho enterradas no chão das lojas, debaixo das pipas e dos lagares. Soult toma Braga em 20 de Março (o General freire de Andrade e o seu ajudante de campo tinham sido entretanto assassinados pela populaça, quando saiam a caminho do Porto para coordenar a defesa da cidade – o boato de traição, evidentemente falso, tinha encontrado terreno fértil, numa população descontrolada, tão crédula quanto irascível e impulsiva).
  21. A tomada do Porto deu-se entre os dias 27 a 29, contra uma defesa encarniçada que em alguns bairros foi um autentico combate de porta em porta – naturalmente, isto conduziu os soldados franceses a uma pilhagem indiscriminada. A junta de defesa do Porto, então a cargo do Bispo, D. António de Castro – que ficou conhecido como o General Mitra - tinha retirado para Gaia no dia 28 através da única passagem que então existia – a Ponte das Barcas. No dia seguinte 29, a população do Porto, em pânico, debaixo do fogo francês, tentou fugir pela ponte que colapsou (uns dizem que pelo peso, outros que por a guarda do Bispo ter inutilizado alguns dos pranchões para impedir a sua utilização pelos franceses) – nesta tragédia, os da frente eram empurrados pelos de trás cujo pavor impedia de ver o drama em curso e este episódio saldou-se em cerca de 4000 populares mortos, ficando conhecido como a Tragédia da Ponte das Barcas. Diz-se também que muitos populares teriam sido salvos pelos próprios franceses, entre os quais, a célebre Luísa Tody. Ocupado o Porto, Soult foi obrigado a um compasso de espera para reorganizar as suas forças e cuidar da logística. Isto permitiu que as milícias e ordenanças entretanto organizadas se reorganizassem igualmente e começassem a acossar os franceses. Braga, é reocupada no dia 5 de Abril, seguindo-se os combates por Penafiel e pela ponte de Amarante. Os reforços britânicos, começam entretanto a chegar ao Norte, impedindo a retirada do exército francês pelas Beiras, deixando-o isolado. A 12 de Maio, as forças do General Silveira empurram a Divisão Loison para Amarante, enquanto o General Wellington obrigava Soult a deixar o Porto. Debaixo de uma pressão contínua, Loison deixa Amarante no dia 13 e o Exército de Soult acaba por retirar de Portugal por Montalegre no dia 18 de Maio. A 2ª invasão francesa tinha durado cerca de 2 meses e meio e dos quase 30000 homens que acompanhavam Soult no início, pouco mais de 15000 o acompanhavam na retirada.
  22. Face ao desaire sofrido com a 2ª invasão, decide Napoleão por uma 3ª invasão, designando o Marechal Massena (a quem já tinha designado como o “enfant gatté de la victoire” – o filho querido da vitória) como o seu comandante. Esta decisão, não agradou ao próprio Massena, o qual sabia de antemão que teria dificuldade em garantir a lealdade e obediência dos seus generais, receios que vieram a confirmar-se bem fundados. Para agravar, dos 100.000 homens em armas prometidos por Napoleão, Massena conseguiu trazer não mais que 65000 – ainda assim, a mais numerosa das 3 invasões. Entretanto, já o Exército anglo-luso estava bem treinado, organizado e equipado, sempre à custa dos ingleses, mas também do povo português. Tendo assistido ao que tinha sucedido ao Corpo de Exército de Moore na Corunha, que empurrado e pressionado pelo exército Francês, fora obrigado a uma retirada apressada e a um embarque atabalhoado, sofrendo elevadas perdas, Wellington decidiu garantir uma defesa sólida (a ser efectuada por portugueses) que lhe possibilitasse uma retirada organizada e segura, caso as coisas corressem mal. Assim, e com a anuência da regência, inicia as obras de construção do mais formidável complexo defensivo até então visto, que ficou para a história como “As linhas de Torres” e que seriam determinantes no desfecho da 3ª invasão. Esta organização defensiva assentava em 5 linhas, 3 a Norte do tejo e duas a Sul: A primeira linha, desde a foz do Sizandro, passando por Torres Vedras até à região de Alhandra A segunda linha desde a foz do S. Lourenço, passando por Mafra, Bucelas até à Póvoa de Sta Iria A 3 linha, destinada exclusivamente a garantir um embarcadouro seguro para a retirada dos ingleses, formava um hemiciclo em torno de S. Julião da Barra As 4ª e 5ª linhas, raramente referidas, protegiam o estuário do Sado, garantindo um embarcadouro de alternativa A 3ª invasão inicia-se ainda em território espanhol com o cerco e conquista de Ciudad Rodrigo, a qual era fulcral para os franceses conseguirem uma primeira sólida base de apoio para as operações em Portugal. Seguiu-se o cerco e conquista de Almeida, a qual cai após resistência tenaz, na sequência da brutal explosão do paiol da pólvora, no dia 28 de Agosto de 1810. Wellington, decide esperar os franceses no alto da serra do Buçaco e, contra os pareceres dos seus generais, Massena opta por aí aceitar o combate. É assim que, em 27 de Setembro se dá aquela que, ainda hoje, foi a maior batalha de sempre em território Pátrio – a batalha do Buçaco. A juntar à indisciplina dos generais franceses, as dificuldades do terreno e o cansaço das tropas tornavam mais que previsível o desfecho da batalha, que custou aos franceses cerca de 5000 mortos.
  23. Ao contrário do que se possa pensar, o efeito da artilharia era mais sobre o moral do que propriamente do ponto de vista físico. Quando comparada com a artilharia moderna, os efeitos físicos da artilharia daquela época eram insignificantes e os alcances quase ridículos. Por outro lado, as concentrações de armas eram da ordem das unidades, até algumas dezenas enquanto num campo de batalha moderno se contam por muitas dezenas até às centenas. Os projecteis mais comuns eram bolas inertes de chumbo (existiam também vários calibres) ou mesmo em pedra, ainda que os ingleses já tenham introduzido as granadas de fragmentação, mas, relembra-se, longe do poder destrutivo das de hoje. A função da artilharia era fundamentalmente bater as formações adversárias e induzir nelas o pânico que levava à desorganização. As armas eram fixas e não tinham dispositivos de regulação de alcance (nomeadamente, variando a inclinação do cano), pelo que as posições de tiro tinham que ser judiciosamente escolhidas para tirar o máximo partido do seu potencial e a maior limitação que apresentavam era a relativa à sua mobilidade. Os franceses tiveram grandes dificuldades de a empregar em tempo oportuno devido à falta de caminhos transitáveis para que ela pudesse acompanhar o grosso das colunas.
  24. Atendendo às condições de higiene, às insuficiências alimentares, à fadiga em que andariam estes homens e à permanente exposição às agruras do clima, o milagre era não haver mais baixas por doença. É bom recordar que neste tempo não existiam ainda desinfectantes, nem antibióticos, nem analgésicos ou anestésicos. E também não se faziam ainda transfusões de sangue. Não admira que, conforme é comum às memórias dos 3 comandantes das 3 invasões francesas, estes tivessem o cuidado de contornar as regiões onde houvesse a confirmação de epidemias contagiosas. É nos exércitos napoleónicos que são dados os primeiros passos no sentido da existência de um apoio sanitário militar próximo das frentes de combate – ele surge por recomendação do cirurgião chefe, Dr Dominique-Jean Larrey, o qual convence Napoleão de que muitas das baixas devidas a doença ou a ferimentos menores poderiam ser recuperadas para a frente de combate, se dispusessem de apoio sanitário junto deles. Dada a extensão das linhas de comunicações, não teria sido difícil fazer valer tais argumentos. Assim surgem os primeiros centros de primeiros socorros de campanha e as primeiras ambulâncias de evacuação. Dadas as condições de higiene da época, também não é ilícito especular sobre a incidência das doenças de pele – contudo, não sendo consideradas incapacitantes, era algo com que tinham que viver… e combater. Como ainda hoje, os ferimentos poderiam ser letais (quando atingiam órgãos vitais) ou não letais… pelo menos, no imediato. Com sorte, um ferimento em tecido muscular, significava a incapacidade para o combate e para acompanhar o movimento do Exército – muito provavelmente, isto implicava a separação do serviço (sempre era menos uma boca para alimentar, menos um peso morto, mesmo que vivo) e o regresso às terras ou ofícios de origem. Já quando era atingido tecido ósseo, a história era outra – é que estes projecteis de chumbo, ao invés de perfurarem, estilhaçam o osso, deixando várias esquírolas que por sua vez agravavam o ferimento, quais lâminas a lacerar os tecidos moles circundantes. Isto era extremamente doloroso e a única cura era a amputação (quando esta fosse possível). Sabendo que o instrumento cirúrgico da época era um serrote, é fácil adivinhar que um paciente intervencionado naquelas condições médicas, a que já se devia adicionar as condições de debilidade (por cansaço e má nutrição) em que se encontrava, após submetido a tal cirurgia as suas hipóteses de sobrevivência eram mínimas – a maioria, morreria alguns dias depois, na maior parte dos casos pela gangrena que se seguia ao tratamento.
  25. A queda de Almeida origina a mais dramática saga de resistência de que o povo português daria provas – a pedido de Wellington, a regência determina a política de terra queimada e que todo cidadão válido se arme contra o invasor “da forma que puder e conseguir”. Isto levou a que os cidadãos fossem retirando à frente dos franceses, queimando víveres e colheitas, matando o gado e animais que não pudessem acompanha-los, em suma, negando aos franceses quaisquer recursos que lhes pudessem alimentar a máquina de guerra. Os franceses decidem progredir na direcção de Coimbra, com o intuito de daí progredirem na direcção de Lisboa, adoptando a margem direita do Dão como eixo de progressão – à passagem por Viseu, a cidade estava deserta. As linhas de Torres foram uma das mais formidáveis obras da engenharia militar até então, compreendendo mais de 150 fortes e um assombroso numero de peças de artilharia para a época (mais de 600) e estendiam-se por mais de 60 km no seu conjunto – foram construídas em segredo, durante um ano, com o concurso da mão de obra gratuita de cerca de 150000 portugueses. Alguns autores defendem que, ironicamente, as linhas foram construídas com base em esboços da autoria de um oficial francês, ainda que assentes em trabalhos topográficos de um oficial português (Major Neves Costa) e sob a direcção de um inglês (Tem Cor Fletcher). A maior parte do povo procurou refugio á retaguarda destas linhas, numa Lisboa já de is esfomeada – estima-se em creca de 50000 o numero de mortos por desnutrição e doença. Massena decide contornar a serra do Buçaco e Wellington, ao invés de explorar o sucesso, prosseguindo a política britânica de desgaste do aparelho militar francês, ruma a Lisboa, vindo a ocupar as linhas de Torres antes dos franceses as avistarem. Diz-se que Massena entrou em fúria à vista da região, segundo se afirma, porque ninguém o teria prevenido da natureza do terreno que teria que ali enfrentar...
  26. As poucas tentativas de penetração naquele dispositivo não foram mais que pequenas escaramuças e Massena, privado de recursos, com uma tropa faminta e esgotada, e com o Inverno à porta, assume a impossibilidade de romper as linhas de Torres e opta então por retirar, movimento iniciado a 14 de Novembro, mas apenas descoberto a 15 (os franceses tinham deixado bonecos de palha junto às fogueiras dos acampamentos, para encobrirem a sua fuga). O que a história conta depois disto é a perseguição iniciada pelo Exército anglo-luso (a partir de Espanha também apoiado pelo exército espanhol), através da Península Ibérica, até Toulouse, ultima batalha das campanhas peninsulares travada pelo Exército Português, já em 1814. Teria havido ainda uma 4ª invasão da qual pouco se fala, comandada pelo Marechal Marmont, iniciada em 03 de Abril de 1812, a qual não penetrou além da Guarda e teria assediado Castelo Branco a partir do Sabugal, tendo terminado 20 dias depois, abandonando o território nacional no dia 24 de Abril. Esta invasão foi o canto do cisne dos exércitos napoleónicos na península, que a partir daí iniciam uma marcha retrógrada sempre sob a pressão conjunta de portugueses, ingleses e espanhóis.. Nesta perseguição, as tropas portuguesas participaram com distinção em vários combates em território espanhol e francês até à batalha de Toulouse onde Soult foi derrotado em 12 de Abril de 1814, e que levou à consequente capitulação de Napoleão, que seria desterrado para a ilha de Elba. O regresso de Napoleão em 1815, levaria ao desfecho que se conhece na batalha de Waterloo – a recusa de Portugal em participar na batalha, levaria os ingleses a negar o apoio diplomático para a recuperação de Olivença
  27. O armamento da cavalaria era mais diversificado, mas o mais comum era o sabre (ou espada) e a pistola. No entanto, unidades específicas poderiam utilizar um meio termo entre a pistola e a espingarda (a clavina) e outras a lança, a alabarda ou o pique. As missões mais comuns, de acordo com o tipo de força, podiam ser a de força de cobertura, o reconhecimento, ou as guardas de flanco. Contudo, as missões “mais nobres” consistiam em abrir o combate, forçando a infantaria adversária a romper a frente para formar em quadrados (única formação que permitia conter um assalto de cavalaria, mas que tinha o inconveniente de lhe reduzir o potencial de fogo), ou, a exploração do sucesso, que consistia em conduzir as famosas cargas de cavalaria sobre a infantaria adversária, depois de esta dar mostras de estar em colapso. Apesar de tudo, a cavalaria tinha sérias limitações, exigindo terreno aberto e com inclinações não pronunciadas para ser eficaz.
  28. Este capítulo da nossa história teve consequências que influenciaram o país em definitivo. Nem todos imediatas, mas das expostas, todas tiveram a sua génese neste período e nos acontecimentos que nele se deram. A história fica completa com um pequeno episódio, talvez apenas lenda, mas, diz-se, baseado em factos reais. Este episódio foi pela primeira vez escrito por Júlio Dantas no seu conto “O Joanico” incluído na sua obra “A Pátria Portuguesa”. Há quem o conte como a história do bobo Eustáquio. Havia em Lisboa um anão desengonçado e meio disforme, que era o alvo das brincadeiras da miudagem, a quem ele tolerava tudo – era mais ou menos o palerma da cidade, mas entre o inofensivo e o divertido, vivia da caridade e do que aparecesse. A certa altura, diz-se, teria passado a circular com uma casaca militar francesa, tornando-se ainda mais ridículo, pois as abas da dita arrastavam pelo chão. Sempre há, nos períodos de crise, os sem-escrúpulos a quem tudo serve, se daí virem oportunidade de recolher benefícios – assim, alguém foi denunciar ao Comissário da Polícia que Junot tinha nomeado, (Lagarde, de seu nome), o pobre pateta, acusando-o de ser um espião ao serviço dos ingleses. Detido e levado à presença de Lagarde, o pobre anão, não fazia ideia do que lhe queriam nem do que o esperava. Atónito ao ver a triste figura que lhe traziam à frente, Lagarde lhe disse algo do género: - Vieste aqui, porque estás acusado de ser um espião dos ingleses, coisa de que duvido; vou-te deixar em liberdade e até vamos fazer um brinde! Dito isto, mandou um serviçal trazer vinho e copos que depois de encher para ambos e demais circunstantes, continuou: - Ora vamos lá brindar, com um viva ao grande Napoleão: Viva o Imperador! Perante a estupefacção geral, o herói desta narrativa respondeu, erguendo o copo, timidamente: - Viva a Pátria! Irado, Lagarde voltou em tom ameaçador: - Estou a querer tratar-te como amigo. Se não mostrares a tua lealdade à França e ao Imperador, serei levado a concluir que a acusação de espionagem é verdadeira e serás imediatamente fuzilado. Vamos lá outra vez: Viva o Imperador! O povo português é um povo de paradoxos: É o povo que se lamenta das dificuldades nos tempos de abundância, mas que arranja sempre algum consolo nos tempos de escassez. É o povo que é extremamente humilde e servil quando se sente perante alguém a quem reconheça superioridade, mas que assume a mais arrogante das posturas logo que se sinta com um bocadinho de poder. É o povo que, na pobreza, arranja sempre mais um lugar à mesa e forma de dividir o pão por mais um, mas que quando tem um pouco mais já acha que todos lho querem tirar e aproveitar-se disso, não conseguindo mais repartir com ninguém. Mas é o povo que na sua pequenez derrotou a maior potência militar do século XIX e expulsou os seus exércitos, é o povo que desbaratou mais de 30.000 castelhanos com menos que 7000 homens e uma padeira, que levou de vencida os muçulmanos, na altura, o maior império do mundo conhecido e foi o povo que já tinha corrido com os romanos, que na altura eram o império do ocidente. O povo português é o povo que entre o pior pai ou o melhor orfanato do mundo, escolheu sempre o primeiro e isto ficou bem espelhado na célebre frase atribuída ao Governador da Ibéria, General Galba, que 300 anos antes de Cristo já dizia que “lá nos confins da Ibéria existe um pequeno povo que não se governa, nem se deixa governar”. Pois o nosso Eustáquio, ou Joanico, ou o que quer que fosse o nome dele, consciente da morte certa que o esperava, gritou ao segundo brinde, para Lagarde e para todos os Lagardes deste mundo que nos quiseram subjugar como se da sua garganta de anão saísse a voz de todo o povo de Lisboa e de todo o povo português: - Viva Portugal!