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Consenso
• Mais uma vez não foi diferente. O governo federal reagiu com
desdém aos relatórios divulgados na última semana pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional) e pela OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), carregados
de advertências sobre a equivocada condução da política
econômica em vigência no país, como já vinham apontando as
agências internacionais de risco.
• Essas análises, delineando um cenário de dificuldades e
incertezas à frente, apenas reproduzem os alertas de muitos
brasileiros -e não apenas das oposições. Sem respostas para os
problemas, a estratégia oficial é a de sempre: desqualificar a
crítica e o interlocutor, como se estivesse em curso um
verdadeiro complô contra o governo.
• Trata-se da contumaz terceirização de responsabilidade pelos
problemas, que parecem nunca estar na órbita de quem tem o
dever de decidir e governar. A verdade é que o discurso
otimista das autoridades econômicas não corresponde aos
fatos descritos com riqueza de detalhes nos relatórios e muito
menos nos indicadores da economia brasileira.
• A principal e mais grave conclusão é a crescente deterioração
das contas públicas e a utilização de recursos que ficaram
conhecidos como "contabilidade criativa", cuja face mais visível
é a promiscuidade das relações entre Tesouro Nacional, bancos
públicos e empresas estatais, no processo de fechamento de
resultados fiscais sem transparência e descolados da realidade.

• Em vez de imaginar conspirações fantasiosas e inimigos
invisíveis, melhor seria que se reconhecesse a existência dos
problemas. Afinal, não haverá solução para distorções e falhas
graves como as atuais se, na órbita do governo, elas
simplesmente não existem.
• A responsabilidade pela crônica falta de planejamento
governamental ou disfarçada leniência com a farra dos gastos
públicos e os desperdícios em série são intransferíveis.

• Não há como tapar o sol com a peneira -há um indiscutível
consenso formado entre especialistas brasileiros e
estrangeiros em relação às fragilidades do cenário econômico
e as desconfianças geradas pela ação do governo em áreas
diversas.
• A má gestão dos recursos públicos tem impacto importante
nos males que afligem a economia do Brasil, como inflação
elevada, a escalada das taxas de juros, o baixo nível de
investimentos, o fracasso do programa de concessões de
obras de infraestrutura e, como consequência desta sinergia, o
baixo crescimento.
• É fundamental que tenhamos a compreensão do momento
delicado porque passa o país e das decisões que estão
sendo tomadas, tanto quanto daquelas que estão sendo
adiadas. Ambas terão papel decisivo na vida dos
brasileiros, nos próximos anos.

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  • 1. Consenso • Mais uma vez não foi diferente. O governo federal reagiu com desdém aos relatórios divulgados na última semana pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), carregados de advertências sobre a equivocada condução da política econômica em vigência no país, como já vinham apontando as agências internacionais de risco.
  • 2. • Essas análises, delineando um cenário de dificuldades e incertezas à frente, apenas reproduzem os alertas de muitos brasileiros -e não apenas das oposições. Sem respostas para os problemas, a estratégia oficial é a de sempre: desqualificar a crítica e o interlocutor, como se estivesse em curso um verdadeiro complô contra o governo. • Trata-se da contumaz terceirização de responsabilidade pelos problemas, que parecem nunca estar na órbita de quem tem o dever de decidir e governar. A verdade é que o discurso otimista das autoridades econômicas não corresponde aos fatos descritos com riqueza de detalhes nos relatórios e muito menos nos indicadores da economia brasileira.
  • 3. • A principal e mais grave conclusão é a crescente deterioração das contas públicas e a utilização de recursos que ficaram conhecidos como "contabilidade criativa", cuja face mais visível é a promiscuidade das relações entre Tesouro Nacional, bancos públicos e empresas estatais, no processo de fechamento de resultados fiscais sem transparência e descolados da realidade. • Em vez de imaginar conspirações fantasiosas e inimigos invisíveis, melhor seria que se reconhecesse a existência dos problemas. Afinal, não haverá solução para distorções e falhas graves como as atuais se, na órbita do governo, elas simplesmente não existem.
  • 4. • A responsabilidade pela crônica falta de planejamento governamental ou disfarçada leniência com a farra dos gastos públicos e os desperdícios em série são intransferíveis. • Não há como tapar o sol com a peneira -há um indiscutível consenso formado entre especialistas brasileiros e estrangeiros em relação às fragilidades do cenário econômico e as desconfianças geradas pela ação do governo em áreas diversas. • A má gestão dos recursos públicos tem impacto importante nos males que afligem a economia do Brasil, como inflação elevada, a escalada das taxas de juros, o baixo nível de investimentos, o fracasso do programa de concessões de obras de infraestrutura e, como consequência desta sinergia, o baixo crescimento.
  • 5. • É fundamental que tenhamos a compreensão do momento delicado porque passa o país e das decisões que estão sendo tomadas, tanto quanto daquelas que estão sendo adiadas. Ambas terão papel decisivo na vida dos brasileiros, nos próximos anos.