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ISCTE - IUL
Engenharia de Telecomunicações e Informática
Engenharia de Informática, 1o
Ano
Cadeira: Análise Matemática II
Caderno : Análise Complexa
Elaborado de: Rosário Laureano, Helena Soares, Diana Mendes
Departamento de Métodos Quantitativos
Maio de 2011
Capítulo 1
Funções analíticas
1.1 Funções complexas de variável complexa
Consideremos uma função f : D → C, onde D é um subconjunto de C. A função f diz-se uma
função complexa de uma variável complexa. Trata-se de uma correspondência que associa a
cada elemento z ∈ D um único elemento w no plano complexo (designado por imagem de z por
f ou valor de f em z):
w = f(z) = f(x + yi) = u(x, y) + v(x, y)i,
onde u(x, y) e v(x, y) são funções reais de duas variáveis reais x e y, designadas por parte real e
parte imaginária de f(z), respectivamente. O conjunto D ⊆ C é designado por domínio de f
e o conjunto das imagens w é designado por contradomínio de f.
Exemplo 1 Consideremos a função f(z) = z2
+ 3. Temos
f(x + yi) = (x + yi)2
+ 3 = x2
+ 2xyi − y2
+ 3
=
¡
x2
− y2
+ 3
¢
+ 2xyi,
e logo u(x, y) = x2
− y2
+ 3 e v(x, y) = 2xy. O domínio de f é todo o conjunto C.
Exemplo 2 A função f(z) = z/
¡
z2
+ 1
¢
tem por domínio o conjunto
D =
©
z ∈ C : z2
+ 1 6= 0
ª
.
Dado que
z2
+ 1 = 0 ⇔ z2
= −1 ⇔ z = i ∨ z = −i,
podemos concluir que D = C {−i, i} .
1
2 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Exemplo 3 Seja f a função definida por f(z) = z2
− 4z + Re(z). Então,
f(x + yi) = (x + yi)2
− 4 (x + yi) + x = (x2
− y2
− 3x) + (2xy − 4y)i,
e logo u(x, y) = x2
− y2
− 3x e v(x, y) = 2xy − 4y. O domínio de f é todo o conjunto C.
Nota 1 Verificamos que a cada função f(z) corresponde um par de funções reais de duas var-
iáveis reais, u(x, y) e v(x, y), e que o recíproco também se verifica, isto é, f(z) fica completamente
determinada pelas respectivas funções u(x, y) e v(x, y).
Exemplo 1 Seja f a função complexa de variável complexa tal que u(x, y) = xy e v(x, y) =
3x2
− y3
. Sem determinar a expressão f(z) de f na variável z é possível determinar a imagem w
de qualquer objecto z. Por exemplo, a imagem de z = 1 − 2i é o número complexo w = −2 + 11i,
visto que
f(1 − 2i) = u(1, −2) + iv(1, −2) = 1 · (−2) + i(3 − (−8)) = −2 + 11i.
Consideremos o número complexo z0 = x0 + y0i. Se z = x + yi, a expressão
|z − z0| =
q
(x − x0)
2
+ (y − y0)
2
representa a distância entre os afixos Z e Z0 de z e z0, respectivamente. Como tal, os pontos do
plano complexo que satisfazem a equação |z − z0| = ε, ε > 0, são os pontos da circunferência de
centro z0 e raio ε.
Eixo real
ε
|z-z0|=ε
z0
•
Eixo
imaginário
Exemplo 4
1 A condição |z| = 1 é a equação da circunferência de centro z0 = 0 e raio ε = 1.
2 A condição |z − 1 + 3i| = 6 é a equação da circunferência de centro z0 = 1 − 3i e raio ε = 6.
3 A condição |z| ≤ 1 caracteriza o círculo de centro z0 = 0 e raio ε = 1, designado por círculo
unitário na origem.
1.1. FUNÇÕES COMPLEXAS DE VARIÁVEL COMPLEXA 3
Exemplo 5 1 Seja A o conjunto definido pela condição Re(z) > 2. Esta condição define um
semiplano direito no plano complexo. O conjunto A é constituído pelos números complexos
z = x + yi com x > 2. Trata-se de um conjunto aberto.
2 l
Re(z)>2
Eixo real
Eixo
imaginário
2 O conjunto A definido pela condição 1 < |z − 2 − 3i| < 2 é um conjunto aberto.
•
2+3i
1 3 4
i
2i
4i
5i
Eixo real
Eixo
imaginário
Trata-se do conjunto dos pontos z do plano complexo cuja distância ao ponto z0 = 2 + 3i é
superior a 1 mas inferior a 2. Um conjunto deste tipo designa-se por coroa circular aberta.
A fronteira de A é
{z ∈ C : |z − 2 − 3i| = 1 ∨ |z − 2 − 3i| = 2} ,
o conjunto dos pontos que pertencem à circunferência de centro z0 = 2 + 3i e raio ε = 2 ou
à circunferência de centro z0 = 2 + 3i e raio ε = 1. O conjunto fechado
B = {z ∈ C : 1 ≤ |z − 2 − 3i| ≤ 2} ,
designado por coroa circular fechada, tem a mesma fronteira que A. O conjunto comple-
mentar de A é definido pela condição |z − 2 − 3i| ≤ 1 ∨ |z − 2 − 3i| ≥ 2.
Exercícios resolvidos
1. Indique o domínio das seguintes funções complexas de variável complexa:
4 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
(a) f(z) =
z
z + 3i
; (b) f(z) =
1
z2 + 2
;
(c) f(z) =
x
x2 + y2
+ ixy; (d) f(z) = ln x + (x − 2y) i.
2. Determine as funções parte real e parte imaginária das seguintes funções complexas de variável
complexa:
(a) f(z) = 2iz + 6z; (b) g(z) = |z|2
; (c) h(z) = z/z.
Calcule f(1 + 3i), g(−3i) e h(2 − 2i).
3. Determine o conjunto dos números complexos que satisfazem as seguintes condições:
(a) Re(z + 1) = 4; (b) |z + 1| − |z − 1| = 4.
4. Averigúe se os conjuntos de números complexos, caracterizados pelas seguintes condições,
são abertos ou fechados, conexos ou não conexos:
(a) |z| < 2; (b) Re(z + 1) ≥ 4; (c) |Im z| > 1 ∧ |z| < 5.
Propostas de resolução
1.
(a) D = {z ∈ C : z + 3i 6= 0} = {z ∈ C : z 6= −3i} = C {−3i} .
(b) O domínio desta função é D =
©
z ∈ C : z2
+ 2 6= 0
ª
.
Dado que
z2
+ 2 = 0 ⇔ z2
= −2 = 2cis(−π)
⇔ z =
p
2cis(−π) =
√
2cis
µ
−π
2
+ kπ
¶
, k = 0, 1
⇔ z0 =
√
2cis
µ
−π
2
¶
= −
√
2i ∨ z1 =
√
2cis
³π
2
´
=
√
2i,
temos D = C
©
−
√
2i,
√
2i
ª
.
(c) O domínio desta função é D =
©
z = x + iy ∈ C : x2
+ y2
6= 0
ª
.
Mas
x2
+ y2
= 0 ⇔ x = 0 ∧ y = 0 ⇔ z = 0.
Logo, D = C {0} .
(d) Recordemos que o domínio da função real de variável real logaritmo neperiano, ln x, é
o conjunto R+
. Logo, o conjunto dos pontos para os quais faz sentido calcular ln x +
(x − 2y) i é
D = {z = x + iy ∈ C : x > 0} ,
ou seja, é o conjunto dos pontos do semiplano direito aberto do plano complexo.
1.1. FUNÇÕES COMPLEXAS DE VARIÁVEL COMPLEXA 5
2. Seja z = x + iy.
(a) Temos f(z) = 2i (x + yi)+6 (x − yi) = −2y +6x+(2x−6y)i. Logo, u(x, y) = −2y +6x
e v(x, y) = 2x − 6y. Como
u(1, 3) = −6 + 6 = 0 e v(x, y) = 2 − 18 = −16,
temos f(1 + 3i) = 0 − 16i = −16i. Alternativamente, podemos calcular directamente
f(1 + 3i) = 2i (1 + 3i) + 6(1 − 3i) = −6 + 6 + (2 − 18)i = −16i.
(b) g(z) = |x + iy|2
= x2
+ y2
.
Então, u(x, y) = x2
+ y2
e v(x, y) = 0 e
g(−3i) = u(0, −3) + iv(0, −3) = 02
+ (−3)
2
+ i0 = 9.
(c) h(z) =
x + iy
x − iy
=
(x + iy) (x + iy)
(x − iy) (x + iy)
=
x2
− y2
x2 + y2
+
2xy
x2 + y2
i.
Logo, u(x, y) =
¡
x2
− y2
¢
/
¡
x2
+ y2
¢
, v(x, y) = 2xy/
¡
x2
+ y2
¢
e
h(2 − 2i) = u(2, −2) + iv(2, −2) =
22
− (−2)
2
22 + (−2)2 +
2 · 2 (−2)
22 + (−2)2 i
= 0 + (−1) i = −i.
3. Seja z = x + yi.
(a) Dado que
Re(z + 1) = 4 ⇔ Re(x − yi + 1) = 4 ⇔ x + 1 = 4 ⇔ x = 3,
a condição Re(z + 1) = 4 representa o conjunto dos pontos do plano complexo na recta
vertical de equação x = 3.
(b) Temos
|z + 1| − |z − 1| = 4 ⇔ |x + 1 + yi| − |x − 1 + yi| = 4
⇔
p
(x + 1)2 + y2 −
p
(x − 1)2 + y2 = 4
⇔
p
(x + 1)2 + y2 = 4 +
p
(x − 1)2 + y2
⇔ (x + 1)2
+ y2
= 16 + (x − 1)2
+ y2
+ 8
p
(x − 1)2 + y2
⇔ x2
+ 2x + 1 = 16 + x2
− 2x + 1 + 8
p
(x − 1)2 + y2
⇔ x − 4 = 2
p
(x − 1)2 + y2
⇔ (x − 4)
2
= 4
£
(x − 1)2
+ y2
¤
∧ x − 4 ≥ 0
⇔ x2
− 8x + 16 = 4x2
− 8x + 4 + 4y2
∧ x ≥ 4
⇔ 3x2
+ 4y2
= 12 ∧ x ≥ 4
⇔
x2
4
+
y2
3
= 1 ∧ x ≥ 4.
6 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Atendendo a que a elipse x2
/4 + y2
/3 = 1 não intersecta o semiplano direito x ≥ 4,
podemos concluir que o conjunto dos números complexos que satisfazem a condição
|z + 1| − |z − 1| = 4 é vazio.
4.
(a) A condição |z| < 2 representa o interior do círculo de centro em z = 0 e raio r = 2.
Trata-se de um conjunto aberto e conexo.
(b) Do exercício 3(a) concluímos que
Re(z + 1) ≥ 4 ⇔ x ≥ 3.
O conjunto de pontos que verifica esta condição é um semiplano fechado e conexo.
(c) Se z = x + iy então
|Im z| > 1 ∧ |z| ≤ 5 ⇔ |y| > 1 ∧ |z| < 5
⇔ (y < −1 ∨ y > 1) ∧ |z| < 5
Trata-se da intersecção de cada semiplano, y < −1 ou y > 1, com o interior do círculo de
centro em z = 0 e raio r = 5. Logo, o conjunto dos pontos caracterizados pela condição
|Im z| > 1 ∧ |z| < 5 é um conjunto aberto e não conexo.
1.2 Limites e continuidade
As definições de limite e continuidade de uma função complexa de variável complexa num ponto
são análogas às conhecidas no cálculo real.
Consideremos uma função f : D → C definida em D ⊂ C. Seja z0 ∈ C tal que f está definida
numa certa vizinhança de z0 (não necessariamente no ponto z0).
Definição 1 Diz-se que f tem limite L no ponto z = z0 (ou que o número complexo L é o
limite de f quando z se aproxima do ponto z0), e denota-se
lim
z→z0
f(z) = L,
se para qualquer δ > 0 existe ε > 0 tal que |f(z) − L| < δ sempre que 0 < |z − z0| < ε. Se existe o
limite de f no ponto z0 então este limite é único.
Proposição 1 Propriedades operacionais do limite Sejam f e g funções complexas de var-
iável complexa. Se existem os limites de f e g no ponto z0, são válidas as seguintes igualdades:
1.2. LIMITES E CONTINUIDADE 7
(a) lim
z→z0
(f(z) ± g(z)) = lim
z→z0
f(z) ± lim
z→z0
g(z);
(b) lim
z→z0
(f(z) · g(z)) = lim
z→z0
f(z) · lim
z→z0
g(z);
(c) lim
z→z0
f(z)/g(z) = lim
z→z0
f(z)/ lim
z→z0
g(z), desde que lim
z→z0
g(z) 6= 0.
Proposição 1 Sejam f : D → C uma função complexa de variável complexa e z0 = x0 + y0i tal
que f está definida numa certa vizinhança de z0. Sendo u(x, y) e v(x, y) as partes real e imaginária
de f demonstra-se (exercício 1) que, para z = x + yi,
(1.1) lim
z→z0
f(z) = lim
(x,y)→(x0,y0)
u(x, y) + i lim
(x,y)→(x0,y0)
v(x, y),
onde os dois últimos limites são de funções reais de duas variáveis reais.
Definição 2 Sejam f : D → C uma função complexa de variável complexa e z0 ∈ D tal que f
está definida numa certa vizinhança de z0. A função f diz-se contínua em z0 se
lim
z→z0
f(z) = f(z0).
A função f diz-se contínua se for contínua em todos os pontos do seu domínio D.
Nota 2 Resulta da proposição anterior que a soma f + g, a diferença f − g e o produto fg de
funções contínuas em z0 é ainda uma função contínua em z0. Se g(z0) 6= 0 o mesmo se verifica
para o quociente f/g.
Além disso, podemos ainda concluir que f é contínua em z0 = x0 + y0i se e só se as funções
reais de variáveis reais u e v são contínuas em (x0, y0). Deste modo, o estudo da continuidade de
funções complexas reduz-se ao estudo da continuidade de funções reais de variáveis reais.
Exercícios resolvidos
1. Seja f : D → C uma função complexa de variável complexa,
f(x + yi) = u(x, y) + v(x, y)i,
e seja z0 um ponto interior a D. Mostre que, para z = x + yi e z0 = x0 + y0i, se tem
lim
z→z0
f(z) = lim
(x,y)→(x0,y0)
u(x, y) + i lim
(x,y)→(x0,y0)
v(x, y).
2. Calcule os seguintes limites:
(a) lim
z→−1+2i
¡
3xy + i(x − y2
)
¢
; (b) lim
z→1+i
z2
− 5
iz
; (c) lim
z→i
z
¡
z2
+ 1
¢
z − i
.
8 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
3. Mostre, recorrendo à definição, que limz→−i 1/z = i.
4. Verifique que a função f(z) = z é contínua em C.
5. Mostre que a função f : C −→ C definida por
f(z) =
⎧
⎨
⎩
z2
|z2|
se z 6= 0
0 se z = 0
não é contínua em z = 0.
Propostas de resolução
1. Assumamos, em primeiro lugar, que existem os limites
lim
(x,y)→(x0,y0)
u(x, y) = u0 e lim
(x,y)→(x0,y0)
v(x, y) = v0.
Para cada δ > 0 existem, então, números positivos ε1 e ε2 tais que
(1.2) |u(x, y) − u0| <
δ
2
sempre que 0 <
q
(x − x0)2
+ (y − y0)2
< ε1
e
(1.3) |v(x, y) − v0| <
δ
2
sempre que 0 <
q
(x − x0)2
+ (y − y0)2
< ε2.
Seja ε = min {ε1, ε2}. Atendendo a que
|u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)| = |u(x, y) − u0 + (v(x, y) − v0) i|
≤ |u(x, y) − u0| + |v(x, y) − v0|
e q
(x − x0)
2
+ (y − y0)
2
= |(x − x0) + (y − y0) i| = |(x + yi) − (x0 + y0i)|
segue de (1.2) e (1.3) que
|u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)| <
δ
2
+
δ
2
= δ
sempre que 0 < |(x + yi) − (x0 + y0i)| < ε. Concluímos, então, que existe o limite limz→z0 f(z) =
u0 + iv0.
Reciprocamente, suponhamos que existe o limite limz→z0 f(z) = w0 com w0 = u0 +iv0. Para
cada δ > 0 sabemos, então, que existe ε > 0 tal que
(1.4) |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)| < δ
1.2. LIMITES E CONTINUIDADE 9
sempre que 0 < |(x + yi) − (x0 + y0i)| < ε. Dado que
|u(x, y) − u0| ≤ |u(x, y) − u0 + (v(x, y) − v0) i|
= |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)| ,
|v(x, y) − v0| ≤ |u(x, y) − u0 + (v(x, y) − v0) i|
= |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)|
e
|(x + yi) − (x0 + y0i)| = |(x − x0) + (y − y0) i|
=
q
(x − x0)
2
+ (y − y0)
2
,
segue de (1.4) que
|u(x, y) − u0| < δ e |v(x, y) − v0| < δ,
sempre que 0 <
q
(x − x0)
2
+ (y − y0)
2
< ε. Isto mostra que existem os limites lim(x,y)→(x0,y0) u(x, y) =
u0 e lim(x,y)→(x0,y0) v(x, y) = v0.
2.
(a) Comecemos por observar que u(x, y) = 3xy e v(x, y) = x − y2
. Atendendo ao exercício
1,
lim
z→−1+2i
¡
3xy + i(x − y2
)
¢
= lim
x→−1
y→2
3xy + i lim
x→−1
y→2
(x − y2
)
=
¡
3 (−1) 2 + i
¡
−1 − 22
¢¢
= −6 − 5i.
(b) Recorrendo às propriedades operacionais dos limites,
lim
z→1+i
z2
− 5
iz
= lim
z→1+i
(1 + i)
2
− 5
i · (1 + i)
=
−5 + 2i
−1 + i
=
7
2
+
3
2
i.
(c) Substituindo z por i, obtemos uma indeterminação do tipo 0/0. No entanto, se obser-
varmos que z2
+ 1 = (z − i) (z + i), podemos calcular facilmente o limite:
lim
z→i
z
¡
z2
+ 1
¢
z − i
= lim
z→i
z (z + i) (z − i)
z − i
= lim
z→i
z (z + i) = −2.
3. É preciso que mostrar que dado δ > 0 existe um ε > 0 tal que
¯
¯
¯
¯
1
z
− i
¯
¯
¯
¯ < δ sempre que |z − (−i)| = |z + i| < ε.
10 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Escrevendo |1/z − i| em função de |z + i|, e usando as propriedades do módulo, obtemos
¯
¯
¯
¯
1
z
− i
¯
¯
¯
¯ =
¯
¯
¯
¯
1 − iz
z
¯
¯
¯
¯ =
¯
¯
¯
¯
−i (z + i)
z
¯
¯
¯
¯ =
¯
¯
¯
¯(z + i)
−i
z
¯
¯
¯
¯
= |z + i|
¯
¯
¯
¯
−i
z
¯
¯
¯
¯ = |z + i|
1
|z|
.
Dado que z → −i, podemos supor que |z| > 1/2. Como tal,
¯
¯
¯
¯
1
z
− i
¯
¯
¯
¯ = |z + i|
1
|z|
< 2 |z + i| .
Mas para que |z| > 1/2 é necessário que |z + i| < ε = 1/2. De facto,
|z| = |z + i − i| = |(−i) + (z + i)| ≥ |−i| − |z + i|
= 1 − |z + i| > 1 − 1/2 = 1/2.
Escolhendo ε = min {δ/2, 1/2}, sempre que |z + i| < ε, garantimos que
¯
¯
¯
¯
1
z
− i
¯
¯
¯
¯ < 2 |z + i| < δ.
4. A função complexa de variável complexa f(z) = z = x − yi tem por domínio o conjunto C.
Dado z0 ∈ C,
lim
z→z0
z = limx→x0
y→y0
(x − yi) = x0 − y0i = z0.
Logo, f é contínua.
5. Analisemos se limz→0 f(z) = f(0). Temos f(0) = 0 e
lim
z→0
f(z) = lim
z→0
z2
|z2|
= lim
x→0
y→0
x2
− y2
+ 2xyi
x2 + y2
= lim
x→0
y→0
x2
− y2
x2 + y2
+ i lim
x→0
y→0
2xy
x2 + y2
.
Relativamente ao 1o
dos limites, calculemos os respectivos limites sucessivos (ou iterados):
lim
y→0
µ
lim
x→0
x2
− y2
x2 + y2
¶
= lim
y→0
−y2
y2
= lim
y→0
(−1) = −1
lim
x→0
µ
lim
y→0
x2
− y2
x2 + y2
¶
= lim
x→0
x2
x2
= lim
y→0
1 = 1.
A obtenção de dois limites diferentes permite concluir que não existe o limx→0,y→0
¡
x2
− y2
¢
/
¡
x2
+ y2
¢
.
Como tal, não existe o limz→0 f(z) e, logo, a função f não é contínua no ponto z = 0.
1.3. DERIVAÇÃO E ANALITICIDADE 11
1.3 Derivação e analiticidade
Definição 3 Seja f uma função complexa de variável complexa definida num conjunto aberto D
e seja z0 ∈ D. Define-se a derivada de f em z0, e denota-se por f0
(z0) (ou df/dz ou dw/dz)
como sendo o limite
f0
(z0) = lim
z→z0
f(z) − f(z0)
z − z0
(caso exista). Se f tem derivada em z0 (i.e., se este limite existe) então f diz-se diferenciável
em z0. Escrevendo ∆z = z − z0, a definição é equivalente à expressão
f0
(z0) = lim
∆z→0
f (z0 + ∆z) − f (z0)
∆z
Exemplo 6 Seja f(z) = 2x + 3yi de domínio C. Vejamos que f não é diferenciável em nenhum
ponto z0 = x0 + iy0. Calculemos o limite respectivo, considerando ∆z = ∆x + i∆y, onde
∆x = x − x0 e ∆y = y − y0:
f0
(z0) = lim
∆z→0
2(x0 + ∆x) + 3(y0 + ∆y)i − (2x0 + 3y0i)
∆x + i∆y
= lim
∆z→0
2∆x + 3i∆y
∆x + i∆y
.
Suponhamos que ∆z → 0 ao longo de uma recta horizontal (caminho I). Então ∆y = 0 e o
valor do limite (direccional) é
lim
∆z→0
2∆x + 3i∆y
∆x + i∆y
= lim
∆x→0
2∆x
∆x
= 2.
Por outro lado, se escolhermos outra direcção, por exemplo que ∆z → 0 ao longo de uma
recta vertical (caminho II), temos ∆x = 0 e o valor do limite (direccional) é
lim
∆z→0
2∆x + 3i∆y
∆x + i∆y
= lim
∆y→0
3i∆y
i∆y
= 3.
I
II
z0+Δz
z0
Δy
Δx
•
•
A obtenção de dois limites direccionais diferentes permite concluir que não existe o limite
pretendido.
12 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Proposição 2 Se a função f : D → C é diferenciável em z0 então f é contínua em z0. Note-
mos que, tal como no cálculo real, o recíproco não é verdadeiro: existem funções contínuas num
determinado ponto do seu domínio que não têm derivada nesse ponto.
A análise complexa estuda essencialmente as funções complexas de variável complexa que são
diferenciáveis nalguma região do seu domínio.
Definição 4 Seja f uma função complexa de variável complexa definida num conjunto aberto D e
seja z0 ∈ D. A função f diz-se analítica em z0 se é diferenciável em z0 e numa certa vizinhança
de z0. Se f é analítica em todos os pontos de D então diz-se analítica (regular ou holomorfa)
em D.
Proposição 3 Seja D ⊆ C um conjunto aberto e sejam f e g funções analíticas em D. São válidas
as seguintes propriedades:
(a) af(z) + bg(z) é analítica em D e
[af(z) + bg(z)]0
= af0
(z) + bg0
(z),
para quaisquer números complexos a e b (linearidade da derivada);
(b) f(z)g(z) é analítica em D e
[f(z)g(z)]
0
= f0
(z)g(z) + f(z)g0
(z);
(c) Se g(z) 6= 0 então f(z)/g(z) é analítica em D e
µ
f(z)
g(z)
¶0
=
f0
(z)g(z) − f(z)g0
(z)
g2(z)
;
(d) Se n ∈ N então fn
(z) é analítica em D e
[fn
(z)]0
= nfn−1
(z)f0
(z).
• Sabemos, por (d), que as potências inteiras não negativas 1, z, z2
, z3
,... são analíticas em C.
Podemos então concluir, por (a), que toda a função polinomial f(z) = cnzn
+ cn−1zn−1
+
... + c2z2
+ c1z + c0 é inteira e a sua derivada é
f0
(z) = ncnzn−1
+ (n − 1)cn−1zn−2
+ ... + 2c2z + c1.
Quanto ao quociente de duas funções polinomiais
f(z) =
anzn
+ ... + a2z2
+ a1z + a0
bmzm + ... + b2z2 + b1z + b0
,
designado por função racional, é analítica em todo o seu domínio, ou seja, no conjunto
aberto
©
z ∈ C : bmzm
+ ... + b2z2
+ b1z + b0 6= 0
ª
.
1.3. DERIVAÇÃO E ANALITICIDADE 13
Proposição 4 Regra da derivação da função composta (ou regra da cadeia) Sejam f :
A → C e g : B → C funções analíticas nos abertos A e B, respectivamente, tais que f(A) ⊆ B.
Então a função g ◦ f : A → C definida por (g ◦ f) (z) = g(f(z)) é analítica em A e
(g ◦ f)0
(z) = g0
(f(z))f0
(z).
Exercícios resolvidos
1. Calcule as derivadas das seguintes funções:
(a) f(z) = 2z4
− z3
+ 10iz; (b) g(z) = (2z + 3)
4
;
(c) h(z) =
1 + (2 − i) z
2z + 9
; (d) j(z) = z + 1/z.
2. Determine o conjunto dos pontos do plano complexo onde a função f(z) = 1/
£¡
z3
− 1
¢ ¡
z2
+ 2
¢¤
é analítica.
3. Averigúe se a função f : C → C definida por
f(z) =
⎧
⎨
⎩
x3
(1 + i) − y3
(1 − i)
x2 + y2
se z 6= 0
0 se z = 0
é diferenciável na origem.
Propostas de resolução
1. As funções f e g são polinomiais e logo, o seu domínio é C. A função h é uma função racional,
cujo domínio é o conjunto dos pontos tais que 2z + 9 6= 0, ou seja, C {−9/2}. Da mesma
forma, a função j (designada usualmente por função de Joukowski) é também racional e
tem por domínio o conjunto C {0}. Mais, estas funções são diferenciáveis nos seus domínios.
Para obter a expressão da derivada podemos simplesmente usar as regras de derivação:
(a) f0
(z) = 2
¡
z4
¢0
−
¡
z3
¢0
+ 10i (z)
0
= 8z3
− 3z2
+ 10i, ∀z ∈ C;
(b) g0
(z) =
h
(2z + 3)4
i0
= 4 (2z + 3)3
2 = 8 (2z + 3)3
, ∀z ∈ C;
(c) h0
(z) =
(1 + (2 − i) z)0
(2z + 9) − (1 + (2 − i) z) (2z + 9)0
(2z + 9)
2
=
(2 − i) (2z + 9) − (1 + (2 − i) z) · 2
(2z + 9)2 =
16 − 9i
(2z + 9)2 , ∀z ∈ C {−9/2} ;
(d) j0
(z) =
£
z + z−1
¤0
= 1 + (−1)z−2
= 1 −
1
z2
, ∀z ∈ C {0} .
2. A função f(z) = 1/
£¡
z3
− 1
¢ ¡
z2
+ 2
¢¤
é racional e tem por domínio o conjunto aberto
D =
©
z ∈ C : z3
− 1 6= 0 ∧ z2
+ 2 6= 0
ª
.
14 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Conforme visto no exemplo 22.1 da secção 1.2, a equação z3
= 1 tem por raízes os pontos
z0 = 1, z1 = −1/2 +
√
3/2i e z2 = −1/2 −
√
3/2i. Quanto à equação z2
= −2 = 2cis(−π),
as suas raízes são dadas pela expressão
z =
√
2cis
µ
−
π
2
+
2kπ
2
¶
, para k = 0, 1,
ou seja,
z0 =
√
2cis
³
−
π
2
´
= −
√
2i ∨ z1 =
√
2cis
³
−
π
2
+ π
´
=
√
2i.
Concluímos, assim, que
D = C
n
1, −1/2 +
√
3/2i, −1/2 −
√
3/2i, −
√
2i,
√
2i
o
.
A função f é analítica em D e, para obter a expressão da derivada podemos simplesmente
usar as regras de derivação,
f0
(z) =
h¡
z3
− 1
¢−1 ¡
z2
+ 2
¢−1
i0
= (−1)
¡
z3
− 1
¢−2
3z2
¡
z2
+ 2
¢−1
+
¡
z3
− 1
¢−1
(−1)
¡
z2
+ 2
¢−2
2z
= −
3z2
(z3 − 1)
2
(z2 + 2)
−
2z
(z3 − 1) (z2 + 2)
2 .
3. Calculando a derivada no ponto z0 = 0 com ∆z = ρ (cos θ + i sin θ), obtemos
lim
∆z→0
f(∆z) − f(0)
∆z
= lim
ρ→0
ρ3
cos3
θ (1 + i) − ρ3
sin3
θ (1 − i)
ρ2 cos2 θ + ρ2 sin2
θ
− 0
ρ (cos θ + i sin θ)
= lim
ρ→0
ρ3
£
cos3
θ (1 + i) − sin3
θ (1 − i)
¤
ρ3 (cos θ + i sin θ)
=
cos3
θ − sin3
θ + i
¡
cos3
θ + sin3
θ
¢
cos θ + i sin θ
,
que depende do ângulo θ tomado. Concluímos então que f não é diferenciável na origem.
1.4 Equações de Cauchy-Riemann
Teorema 1 Cauchy-Riemann Seja f : D −→ C uma função complexa de variável complexa
definida por f(z) = u(x, y) + v(x, y)i num conjunto aberto D e z0 = x0 + y0i ∈ D. A derivada
f0
(z0) existe (ou seja, f é diferenciável em z0) se e só se as funções u e v são contínuas e têm
derivadas de 1a
ordem contínuas numa vizinhança de (x0, y0) e, no ponto (x0, y0), satisfazem as
equações de Cauchy-Riemann
∂u
∂x
(x0, y0) =
∂v
∂y
(x0, y0) e
∂u
∂y
(x0, y0) = −
∂v
∂x
(x0, y0).
1.4. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 15
Assim, se as derivadas parciais de 1a
ordem das funções u e v existem, são contínuas e satisfazem
as equações de Cauchy-Riemann em D então f é analítica em D.
Exemplo 7 Consideremos a função f(z) = 2x + 3yi. Vimos no exemplo 13.1, que f não é
diferenciável em nenhum ponto do seu domínio C. De facto, as equações de Cauchy-Riemann não
são válidas em nenhum ponto (x, y):
∂u
∂x
= 2 6= 3 =
∂v
∂y
embora
∂u
∂y
= 0 = −
∂v
∂x
.
Exemplo 8 Consideremos a função f(z) = 2x2
+ y + (y2
− x)i definida em C. Temos u(x, y) =
2x2
+ y e v(x, y) = y2
− x, donde
∂u
∂x
= 4x,
∂v
∂y
= 2y e
∂u
∂y
= 1 = −
∂v
∂x
.
Verificamos que as funções u e v são contínuas e têm derivadas contínuas em todos os pontos.
Pelo teorema de Cauchy-Riemann, f é diferenciável em todos os pontos em que as equações de
Cauchy-Riemann são satisfeitas, ou seja, em pontos (x, y) tais que
4x = 2y ⇔ y = 2x
Logo f é diferenciável nos pontos da recta y = 2x. No entanto, dado que nenhum ponto desta recta
tem uma vizinhança na qual as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas, f não é analítica em
nenhum ponto do seu domínio C.
Exemplo 9 Consideremos a função f(z) = z/ |z|2
definida no conjunto aberto D = C {0}.
Temos
f(z) =
x
x2 + y2
−
y
x2 + y2
i,
logo,
∂u
∂x
=
y2
− x2
(x2 + y2)
2 =
∂v
∂y
e
∂u
∂y
= −
2xy
(x2 + y2)
2 = −
∂v
∂x
.
Portanto, as equações de Cauchy-Riemann são satisfeitas em C {0}. Pelo teorema de Cauchy-
Riemann, f é analítica em C {0}.
Exercícios resolvidos
1. Verifique as equações de Cauchy-Riemann para a função f(z) = z2
+ 3z + 2.
2. Considere a função f(z) = x2
− y2
i. Determine os pontos onde f é diferenciável e mostre
que f não é analítica em nenhum ponto do seu domínio. Determine ainda a expressão da
derivada nos pontos em que ela existe.
16 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
3. Determine os subconjuntos do plano complexo onde as seguintes funções são analíticas e
calcule as suas derivadas:
(a) f(z) = x3
− i(1 − y)3
; (b) f(z) = z − z;
(c) f(z) = ey
(cos x + i sin x); (d) f(z) = x2
+ y2
i.
4. Prove que as funções f(z) = |z| e g(z) = z não são analíticas em nenhum ponto do seu
domínio.
5. Mostre que as equações de Cauchy-Riemann, escritas em coordenadas polares, são dadas por
∂u
∂r
=
1
r
∂v
∂θ
e
∂v
∂r
= −
1
r
∂u
∂θ
.
Propostas de resolução
1. A função f(z) = z2
+ 3z + 2 tem parte real u(x, y) = x2
− y2
+ 3x + 2 e parte imaginária
v(x, y) = 2xy + 3y. Como
∂u
∂x
= 2x + 3,
∂v
∂y
= 2x + 3,
∂u
∂y
= −2y e
∂v
∂x
= 2y,
as equações de Cauchy-Riemann são válidas em todos os pontos do domínio C.
2. Temos u(x, y) = x2
e v(x, y) = −y2
. Logo,
∂u
∂x
= 2x,
∂v
∂y
= −2y e
∂u
∂y
= 0 = −
∂v
∂x
.
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que 2x =
−2y, ou seja, na recta de equação y = −x. Como as funções u, v, ∂u/∂x, ∂u/∂y, ∂v/∂x e
∂v/∂y são contínuas em todos os pontos, concluímos, pelo teorema de Cauchy-Riemann, que
f é diferenciável nos pontos da recta y = −x e a derivada é dada por
f0
(z) = 2x + 0i = 2x = −2y.
No entanto, dado qualquer ponto desta recta, não existe uma vizinhança desse ponto na qual
as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas. Logo, f não é analítica em nenhum ponto
do seu domínio C.
3.
(a) Pretendemos determinar os pontos em que f é diferenciável. Para esta função temos
u(x, y) = x3
e v(x, y) = −(1 − y)3
. Logo,
∂u
∂x
= 3x2
,
∂v
∂y
= 3(1 − y)2
,
∂u
∂y
= 0 e
∂v
∂x
= 0.
1.4. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 17
As funções u e v e as suas derivadas parciais de 1a
ordem são contínuas em todos os
pontos do plano. Então, pelo teorema de Cauchy-Riemann, f é diferenciável em todos
os pontos em que as equações de Cauchy-Riemann sejam satisfeitas, isto é, quando
3x2
= 3(1 − y)2
⇔ x = 1 − y ∨ x = −1 + y,
já que ∂u/∂y = 0 = −∂v/∂x é verificado para qualquer (x, y). As condições x = 1 − y
e x = −1 + y definem analiticamente rectas. A função f é diferenciável em pontos
z = x + yi que pertencem a uma das rectas x = 1 − y ou x = −1 + y. No entanto,
dado qualquer ponto destas rectas, não existe uma vizinhança desse ponto na qual as
equações de Cauchy-Riemann sejam válidas. Concluímos então que f não é analítica
em nenhum ponto do seu domínio C. A derivada de f nos pontos das rectas x = 1 − y
ou x = −1 + y é dada por
f0
(z) = 3x2
+ 0i = 3x2
= 3(1 − y)2
.
(b) À função f(z) = z − z corresponde u(x, y) = 0 e v(x, y) = 2y. Temos
∂u
∂x
= 0 6=
∂v
∂y
= 2 e
∂u
∂y
= 0 =
∂v
∂x
= 0.
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann não são válidas qualquer que seja o
ponto (x, y). Pelo teorema de Cauchy-Riemann concluímos que f não é analítica (nem
diferenciável) em nenhum ponto do seu domínio C.
(c) À função f corresponde u(x, y) = ey
cos x e v(x, y) = ey
sin x. Temos
∂u
∂x
= −ey
sin x,
∂v
∂y
= ey
sin x
∂u
∂y
= ey
cos x e
∂v
∂x
= ey
cos x.
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que
−ey
sin x = ey
sin x e ey
cos x = −ey
cos x, ou seja, tais que sin x = 0 e cos x = 0 (notemos
que ey
6= 0, ∀y ∈ R). Não e
xiste qualquer valor real x tal que sin x = cos x = 0, como tal nenhum ponto do domínio
C de f verifica as equações de Cauchy-Riemann. Pelo teorema de Cauchy-Riemann, f
não é analítica (nem diferenciável) em nenhum ponto do seu domínio.
(d) À função f(z) = x2
+ y2
i corresponde u(x, y) = x2
e v(x, y) = y2
. Temos
∂u
∂x
= 2x,
∂v
∂y
= 2y e
∂u
∂y
= 0 =
∂v
∂x
.
18 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que
2x = 2y, ou seja, na recta de equação y = x. Como as funções u, v, ∂u/∂x, ∂u/∂y,
∂v/∂x e ∂v/∂y são contínuas em todos os pontos, pelo teorema de Cauchy-Riemann, f
é diferenciável nos pontos da recta y = x. A derivada de f nos pontos da recta y = x é
dada por
f0
(z) = 2x + 0i = 2x = 2y.
No entanto, dado qualquer ponto desta recta, não existe uma vi-zinhança desse ponto
na qual as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas. Concluímos então que f não é
analítica em nenhum ponto do seu domínio C.
4. À função f(z) = |z| corresponde u(x, y) =
p
x2 + y2 e v(x, y) = 0. Temos
∂u
∂x
=
x
p
x2 + y2
,
∂v
∂y
= 0,
∂u
∂y
=
y
p
x2 + y2
e
∂v
∂x
= 0.
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que
x/
p
x2 + y2 = 0 e y/
p
x2 + y2 = 0, ou seja, no ponto (0, 0). Como as funções u e v e
as suas derivadas parciais de 1a
ordem são contínuas em todos os pontos, concluímos pelo
teorema de Cauchy-Riemann que f é diferenciável no ponto z = 0. A derivada de f neste
ponto é dada por
f0
(0) =
Ã
x
p
x2 + y2
!
(0,0)
=
Ã
−i
y
p
x2 + y2
!
(0,0)
= 0,
No entanto, não existe uma vizinhança de z = 0 na qual as equações de Cauchy-Riemann
sejam válidas. Logo, f não é analítica em nenhum ponto do seu domínio C.
À função g(z) = z corresponde u(x, y) = x e v(x, y) = −y. Temos
∂u
∂x
= 1,
∂v
∂y
= −1,
∂u
∂y
= 0 e
∂v
∂x
= 0.
Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann não são válidas, qualquer que seja o ponto
(x, y). Pelo teorema de Cauchy-Riemann, concluímos que f não é analítica (nem diferen-
ciável) em nenhum ponto do seu domínio C.
5. Temos a seguinte relação entre as coordenadas rectangulares e polares:
x = r cos θ e y = r sin θ.
Como tal, num ponto z0 = x0 + y0i = r0 cos θ0 + ir0 sin θ0 = r0cisθ0, temos
∂u
∂r
(r0, θ0) =
∂u
∂x
(x0, y0) cos θ0 +
∂u
∂y
(x0, y0) sin θ0,
∂v
∂θ
(r0, θ0) =
∂v
∂x
(x0, y0) (−r0 sin θ0) +
∂v
∂y
(x0, y0)r0 cos θ0.
1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 19
Atendendo às equações de Cauchy-Riemann em coordenadas rectangulares,
∂u
∂r
(r0, θ0) =
∂v
∂y
(x0, y0) cos θ0 −
∂v
∂x
(x0, y0) sin θ0
=
1
r0
µ
∂v
∂y
(x0, y0)r0 cos θ0 −
∂v
∂x
(x0, y0)r0 sin θ0
¶
=
1
r0
·
∂v
∂θ
(r0, θ0) .
De modo análogo, temos
∂u
∂θ
(r0, θ0) =
∂u
∂x
(x0, y0) (−r0 sin θ0) +
∂u
∂y
(x0, y0)r0 cos θ0,
∂v
∂r
(r0, θ0) =
∂v
∂x
(x0, y0) cos θ0 +
∂v
∂y
(x0, y0) sin θ0
donde, atendendo novamente às equações de Cauchy-Riemann em coordenadas rectangulares,
∂v
∂r
(r0, θ0) = −
∂u
∂y
(x0, y0) cos θ0 +
∂u
∂x
(x0, y0) sin θ0
= −
1
r0
µ
−
∂u
∂y
(x0, y0) (−r0) cos θ0 +
∂u
∂x
(x0, y0) (−r0) sin θ0
¶
= −
1
r0
∂u
∂θ
(r0, θ0) .
1.5 Funções harmónicas
Definição 5 Dada uma função u : D −→ R, definida num subconjunto aberto D de R2
, com
derivadas parciais de 2a
ordem contínuas, designa-se por Laplaciano de u a expressão
∂2
u
∂x2
(x, y) +
∂2
u
∂y2
(x, y)
e denota-se por 52
u(x, y). A função u diz-se harmónica se satisfaz a equação 52
u (x, y) = 0,
para todo o (x, y) ∈ D, designada por equação de Laplace.
Temos então o seguinte resultado:
Proposição 5 Seja f(z) = u(x, y) + v(x, y)i uma função complexa de variável complexa. Se f é
analítica num conjunto aberto D então u e v são funções harmónicas em D.
• Verificamos então que as partes real e imaginária de uma função analítica verificam a equação
de Laplace. Esta ligação entre funções analíticas e a equação de Laplace reforça a importância
das funções de variável complexa e abre caminho para numerosas aplicações da matemática.
Definição 6 Se f = u + iv é uma função analítica definida num conjunto aberto D, então as
funções u e v são designadas por harmónicas conjugadas em D.
20 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Exemplo 2 Consideremos a função polinomial f(z) = z2
. Trata-se de uma função analítica em
C a que corresponde u(x, y) = x2
− y2
e v(x, y) = 2xy. Temos
∂u
∂x
= 2x,
∂u
∂y
= −2y,
∂v
∂x
= 2y e
∂v
∂y
= 2x,
pelo que
∂2
u
∂x2
+
∂2
u
∂y2
= 2 + (−2) = 0
∂2
v
∂x2
+
∂2
v
∂y2
= 0 + 0 = 0.
Isto mostra que u e v são funções harmónicas em C. Além disso, são conjugadas harmónicas por
constituírem as partes real e imaginária, respectivamente, da função analítica f(z) = z2
.
Proposição 6 Se u é uma função harmónica num conjunto aberto D e z0 ∈ D, então existe uma
vizinhança de z0 na qual u = Re(f). Por outras palavras, existe uma função harmónica v definida
em D tal que a função definida por f(z) = u(x, y) + v(x, y)i é analítica em D.
Exemplo 3 Seja u(x, y) = x3
− 3xy2
. Trata-se de uma função harmónica em todos os pontos do
plano
∂2
u
∂x2
=
∂
∂x
(3x2
− 3y2
) = 6x
∂2
u
∂y2
=
∂
∂y
(−6xy) = −6x.
Pela proposição 29, existe uma função f analítica em C (trata-se de uma função inteira) tal que
u = Re(f). Determinemos então a função f. Sabemos que f é tal que f(z) =
¡
x3
− 3xy2
¢
+v(x, y)i,
onde a função v(x, y) está por determinar. Pelas equações de Cauchy-Riemann, temos
∂v
∂x
= −
∂u
∂y
= 6xy
o que implica v(x, y) = 3x2
y + c(y). Por outro lado,
∂v
∂y
=
∂u
∂x
= 3x2
− 3y2
ou seja, ∂
¡
3x2
y + c(y)
¢
/∂y = 3x2
− 3y2
. Então,
3x2
+ c0
(y) = 3x2
− 3y2
⇒ c0
(y) = −3y2
⇒ c(y) = −y3
+ K, para qualquer K ∈ R.
Obtemos v(x, y) = 3x2
y − y3
+ K e, como tal, para z = x + yi,
f(z) = x3
− 3xy2
+ (3x2
y − y3
+ K)i.
O exemplo apresentado mostra que a função harmónica conjugada de uma dada função har-
mónica u está univocamente determinada a menos de uma constante aditiva real.
1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 21
Exercícios resolvidos
1. Considere a função u(x, y) = x3
− 3xy2
. Encontre uma função conjugada harmónica v que
verifique v(0, 0) = 2.
2. Determine os conjuntos nos quais as seguintes funções são harmónicas:
(a) u(x, y) = Re(z + 1/z); (b) u(x, y) =
−y − 1
x2 + (y + 1)2 .
3. Encontre, se possível, uma função f inteira tal que Re(f) = x2
− 3x − y2
.
Propostas de resolução
1. Podemos mostrámos que v(x, y) = 3x2
y − y3
+ K para qualquer constante K ∈ R. Para que
v verifique v(0, 0) = 2 a constante real K não pode ser arbitrária. De facto,
v(0, 0) = 2 ⇔ 3 · 0 − 0 + K = 2 ⇔ K = 2.
A função v pedida é v(x, y) = 3x2
y − y3
+ 2.
2.
(a) Notemos que u é parte real da função f(z) = z + 1/z, analítica no conjunto aberto
C {0}. Então, pela proposição 27, a função u é harmónica em C {0}.
(b) A função u não está definida nos pontos para os quais o denominador se anula. Como
x2
+ (y + 1)
2
= 0 se e só se x = 0 e y = −1, o domínio de u é D = C {−i}. Efectuando
os cálculos necessários para z 6= −i, obtemos
∂2
u
∂x2
=
2 (y + 1)
³
x2
+ (y + 1)2
´
− 8x2
(y + 1)
³
x2 + (y + 1)
2
´3 ,
∂2
u
∂y2
=
2 (y + 1)
³
x2
+ (y + 1)
2
´
− 4 (y + 1)
³
(y + 1)
2
− x2
´
³
x2 + (y + 1)2
´3 .
Então,
∂2
u
∂x2
+
∂2
u
∂y2
= 0
⇔ 4 (y + 1)
³
x2
+ (y + 1)2
´
− 4 (y + 1)
³
x2
+ (y + 1)2
´
= 0
⇔ 0 = 0.
Logo, u é harmónica no seu domínio, isto é, em D = C {−i}.
Alternativamente, se observarmos que u(x, y) é parte imaginária da função analítica em
C {−i}, f(z) = 1/ (z + i), concluímos de imediato que u é harmónica neste conjunto.
22 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
3. A função u é harmónica,
∂2
u
∂x2
=
∂
∂x
(2x − 3) = 2
∂2
u
∂y2
=
∂
∂y
(−2y) = −2
e está definida em todo o conjunto C. Pela proposição 29 existe v(x, y) tal que u(x, y)+v(x, y)i
é analítica em C. Pelas equações de Cauchy-Riemann, temos
∂v
∂x
= −
∂u
∂y
= 2y,
que implica v(x, y) = 2xy + c(y). Por outro lado,
∂v
∂y
=
∂u
∂x
= 2x − 3,
ou seja, ∂ (2xy + c(y)) /∂y = 2x − 3. Então,
2x + c0
(y) = 2x − 3 ⇔ c0
(y) = −3
⇒ c(y) = −3y + K, para qualquer constante real K.
Obtemos v(x, y) = 2xy − 3y + K e, escolhendo K = 0, vem v(x, y) = 2xy − 3y e f(z) =
x2
− 3x − y2
+ (2xy − 3y) i.
Exercícios propostos
1. Determine as funções parte real e parte imaginária de cada uma das seguintes funções com-
plexas de variável complexa:
(a) f(z) = z2
+ 3z − 2i; (b) f(z) =
z + 2
z − 1
;
(c) f(z) = 3iz + 4(i + z); (d) f(z) =
z − i
|z − i|
.
2. Caracterize geometricamente os conjuntos definidos pelas seguintes condições e indique quais
os que são regiões:
(a) |z + 4| > 2; (b) (Im z)
2
≤ 4;
(c) 1 < |Re z| ≤ 2; (d) 3π/4 < arg z < π.
3. Estude as seguintes funções definidas em C quanto à continuidade na origem:
(a) f(z) =
⎧
⎨
⎩
Im z
|z|
se z 6= 0
0 se z = 0
; (b) f(z) =
⎧
⎨
⎩
Re z
1 + |z|
se z 6= 0
0 se z = 0
.
4. Mostre que a função f(z) = − (2xy + 5x) +
¡
x2
− 5y − y2
¢
i é inteira e calcule f0
(z).
5. Mostre que as funções f(z) = Re z, g(z) = y + xi e h(z) = z2
não são analíticas em nenhum
ponto do plano complexo.
1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 23
6. Determine em que pontos as seguintes funções são diferenciáveis. Mostre que não são analíti-
cas em nenhum ponto do plano complexo.
(a) f(z) = 3x2
y2
− 6x2
y2
i; ; (b) f(z) = x2
− x + y +
¡
y2
− 5y − x
¢
i.
7. Determine o valor da derivada de f no ponto indicado
(a) f(z) = (z − i) / (z + i) em i; (b) f(z) =
¡
z4
+ 1
¢
/z4
em − 1 − i.
8. Determine a imagem das funções
(a) f(z) = x2
− y +
¡
y2
− x
¢
i, para z na recta x = 1;
(b) f(z) = z3
, para z no 1o
quadrante ( Re z ≥ 0 e Im z ≥ 0);
(c) f(z) =
1
z
, para |z| ≥ 1.
9. Determine os valores reais de a e b para os quais a função f(z) = 3x − y + 5 + (ax + by − 3) i
é inteira.
10. Mostre que a função u(x, y) = x3
− 3xy2
− 5y é harmónica em R2
e determine uma função
conjugada harmónica v.
11. Determine a função analítica f(z) = u(x, y) + v(x, y)i tal que
(a) u(x, y) = x2
− y2
; (b) v(x, y) = 2y(x − 1);
(c) u(x, y) = x3
− 3xy2
; (d) u(x, y) = ln
¡
x2
+ y2
¢
.
12. Determine os valores reais de a e b para os quais as seguintes funções são harmónicas em R2
e determine as funções conjugadas harmónicas.
(a) u(x, y) = ax3
+ by3
; (b) u(x, y) = eax
cos 5y.
13. Determine, caso existam, os seguintes limites
(a) limz→i
¡
4z3
− 5z2
+ 4z + 1 − 5i
¢
;
(b) limz→i
¡
z4
− 1
¢
/ (z − i) ;
(c) limz→0 z/z.
14. Mostre que, dada uma função analítica f, são válidas as seguintes expressões para cálculo da
derivada
f0
=
∂u
∂x
− i
∂u
∂y
e f0
=
∂v
∂y
+ i
∂v
∂x
.
15. Para x > 0 considere a função
f(z) =
1
2
ln(x2
+ y2
) + i arctan
y
x
.
24 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
(a) Use as equações de Cauchy-Riemann para mostrar que f é diferenciável em todo o seu
domínio;
(b) Mostre que f0
(z) = 1/z;
(c) Mostre que a função conjugada f não é diferenciável em nenhum ponto do seu domínio.
Soluções
1. (a) u(x, y) = x2
− y2
+ 3x − 5, v(x, y) = 2xy + 3y; (b) u(x, y) =
x2
+ y2
+ x − 2
(x − 1)
2
+ y2
, v(x, y) =
−
3y
(x − 1)2
+ y2
; (c) u(x, y) = 4x + 3y, v(x, y) = 3x + 4y + 4; (d) u(x, y) =
x
x2 + (y − 1)2 ,
v(x, y) =
y − 1
x2 + (y − 1)
2 .
2. (a) Todo o plano complexo excepto o círculo de centro (−4, 0) e raio
√
2; (b) união de dois
semiplanos fechados: y ≥ 2 e y ≤ −2; (c) união de duas faixas ilimitadas verticais, definidas
pelas condições −2 ≤ x < −1 e 1 < x ≤ 2; (d) porção do plano complexo no 2o
quadrante
delimitada pelas rectas y = −x e x = 0, excluindo-as. São regiões os conjuntos definidos em
(a) e (d).
3. (a) É contínua; (b)
4. f0
(z) = −2y − 5 + 2xi.
5. Usar teorema de Cauchy-Riemann.
6. (a) É diferenciável ao longo dos eixos coordenados; (b) é diferenciável ao longo da recta de
equação y = x + 2.
7. (a) −i/2; (b) 15 (1 − i) /2.
8. (a) A parábola de equação v = u2
−2u; (b) os três primeiros quadrantes, incluindo a semirecta
y = 0 e x ≥ 0, e a semirecta x = 0 e y ≤ 0; (c) o círculo de centro em z = 0 e raio 1, excluindo
o ponto z = 0.
9. a = 1, b = 3.
10. v(x, y) = 3x2
y − y3
+ 5x + 3.
11. (a) f(z) = x2
− y2
+ (2xy + K) i = z2
+ Ki, K ∈ R; (b) f(z) = z2
− 2z + 1 + K, K ∈ R;
(c) f(z) = z3
+ K, K ∈ R; (d) f(z) = ln
¡
x2
+ y2
¢
+ (2 arctan (y/x) + K) i, K ∈ R.
12. (a) a = b = 0, v(x, y) = K, K ∈ R; (b) a = ±5, v(x, y) = ±e±5x
sin 5y + K, K ∈ R.
1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 25
13. (a) 6 − 5i; (b) −4i; (c) não existe.
26 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
Capítulo 2
Funções elementares
2.1 A função exponencial
Definição 7 Para qualquer z = x + yi ∈ C, define-se a função exponencial de z por
ez
= ex+yi
= ex
eyi
= ex
(cos y + i sin y),
que pode também ser denotada por exp z.
Nota 3 Quando tomamos z como número real, z = x + 0i, a definição de ez
coincide com a
definição já conhecida em R:
ez
= ex+0i
= ex
(cos 0 + i sin 0) = ex
(1 + 0i) = ex
.
Deste modo, a função exponencial de variável complexa é um prolongamento da função exponencial
de variável real.
Proposição 7 Propriedades da exponencial Sejam z, w ∈ C. São válidas as seguintes pro-
priedades:
(a) ez+w
= ez
· ew
;
(b) ez
nunca se anula;
(c)
¯
¯ex+iy
¯
¯ = ex
;
(d) ez
é uma função periódica, com período 2πi;
(e) ez
= 1 ⇔ z = 2nπi, para algum n ∈ Z;
(f) (ez
)n
= enz
, com n ∈ Z.
27
28 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
Proposição 8 A função exponencial
f (z) = ez
= ex
(cos y + i sin y)
é analítica em C e a sua derivada é
f0
(z) = ez
(ez
)0
= ez
Exercícios resolvidos
1. Escreva na forma algébrica os números complexos e3+i
, e− π
4 i
e e2±3πi
.
2. Mostre, usando a definição de derivada, que f(z) = ez
é uma função inteira (analítica).
3. Resolva a equação ez
= −1.
4. Determine o domínio de analiticidade da função g(z) = z2
/ (ez
− 1).
Propostas de resolução
1. Relembramos que
z = x + iy ⇔ z = r (cos θ + i sin θ) = r eθi
onde r = |z| =
p
x2 + y2 e θ = arctan
³y
x
´
Então temos:
e3+i
= e3
(cos 1 + i sin 1) = e3
cos 1 +
¡
e3
sin 1
¢
i;
e− π
4 i
= e0
³
cos
³
−
π
4
´
+ i sin
³
−
π
4
´´
= −
√
2
2
−
√
2
2
i:
e2±3πi
= e2
(cos (±3π) + i sin (±3π)) = e2
(−1 + 0i) = −e2
+ 0i = −e2
.
2. Dado um complexo arbitrário z0 procedamos ao cálculo, pela definição, da derivada de f em
z0 :
f0
(z0) = f0
(z0) = lim
∆z→0
f(z0 + ∆z) − f(z0)
∆z
= lim
∆z→0
ez0+∆z
− ez0
∆z
= lim
∆z→0
ez0
(e∆z
− 1)
∆z
= ez0
lim
∆z→0
e∆z
− 1
∆z
= ez0
visto que lim∆z→0
¡
e∆z
− 1
¢
/∆z = 1, logo a derivada existe para qualquer z0, logo a função
é analítica.
2.2. AS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 29
3. Temos
ez
= −1 ⇔ ex
(cos y + i sin y) = −1
⇔ ex
cos y + (ex
sin y) i = −1
⇔ ex
cos y = −1 ∧ sin y = 0
⇔ ex
cos y = −1 ∧ y = kπ, k ∈ Z
Se k é par então cos y = 1 e logo,
ex
cos y = −1 ⇒ ex
= −1,
o que sabemos ser impossível. Se k é ímpar, dado que cos y = −1, temos
ex
cos y = −1 ⇒ ex
= 1 ⇒ x = 0.
Então,
ez
= −1 ⇔ x = 0 ∧ y = (2n + 1)π,
com n ∈ Z. O conjunto S das soluções da equação ez
= −1 é dado por
S = {(2n + 1)πi : n ∈ Z} .
4. A função g(z) = z2
/ (ez
− 1) tem por domínio o conjunto
D = {z ∈ C : ez
− 1 6= 0} .
Tratando-se do quociente de duas funções inteiras, a função g(z) é analítica em todos os
pontos tais que ez
− 1 6= 0, ou seja, em todos os pontos do domínio D. Mas, pela alínea (e)
da proposição 3,
ez
− 1 6= 0 ⇔ ez
6= 1 ⇔ z 6= 2nπi, n ∈ Z.
Logo, o domínio de analiticidade da função dada é
D = C {z ∈ C : z = 2nπi, n ∈ Z} .
2.2 As funções trigonométricas
Definição 8 Para qualquer z ∈ C, definem-se as funções seno e coseno de z por
sin z =
ezi
− e−zi
2i
e cos z =
ezi
+ e−zi
2
.
Nota 4 Vejamos que se mantêm as propriedades já conhecidas em R.
Proposição 9 Propriedades do seno e do coseno Sejam z, w ∈ C. São válidas as seguintes
propriedades:
30 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
(a) sin(−z) = − sin z;
(b) cos(−z) = cos z;
(c) sin2
z + cos2
z = 1;
(d) sin(z ± w) = sin z cos w ± cos z sin w;
(e) cos(z ± w) = cos z cos w ∓ sin z sin w;
(f) sin z e cos z são funções periódicas, com período 2π.
Proposição 10 As funções sin z e cos z são analíticas em C e tem lugar as seguintes regras de
derivação:
(sin z)0
= cos z e (cos z)0
= − sin z
Nota 5 Outras funções trigonométricas de variável complexa e as suas derivadas
tan z =
sin z
cos z
, onde (tan z)
0
=
1
cos2 z
, cos z 6= 0
cot z =
cos z
sin z
, onde (cot z)0
= −
1
sin2
z
, sin z 6= 0
sec z =
1
cos z
, onde (sec z)
0
= sec z tan z, cos z 6= 0
csc z =
1
sin z
, onde (csc z)0
= − csc z cot z, sin z 6= 0
Exercícios resolvidos
1. Mostre que cos z não é analítica em nenhum ponto do seu domínio.
2. Determine as partes real e imaginária das funções seno e coseno.
3. Mostre que |sin z| ≥ |sin x| .
4. Resolva a equação cos z = 2.
5. Mostre que sin(2z) = 2 sin z cos z e cos(2z) = cos2
z − sin2
z.
6. Mostre que ainda é válida em C a fórmula de Euler
eiz
= cos z + i sin z.
2.2. AS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 31
Propostas de resolução
1. Dado z = x + yi,
cos z =
ezi
+ e−zi
2
=
e(x−yi)i
+ e−(x−yi)i
2
=
ey+xi
+ e−y−xi
2
=
ey
(cos x + i sin x) + e−y
(cos x − i sin x)
2
=
(ey
+ e−y
) cos x + i(ey
− e−y
) sin x
2
.
A esta função correspondem as partes real e imaginária
u(x, y) = (ey
+ e−y
) cos
x
2
e v(x, y) = (ey
− e−y
) sin
x
2
,
respectivamente. As funções u e v não verificam as equações de Cauchy-Riemann. Por
exemplo,
∂u
∂x
=
∂v
∂y
⇔ −
ey
+ e−y
2
sin
x
2
= (ey
+ e−y
) sin
x
2
⇔ −
ey
+ e−y
2
= ey
+ e−y
⇔ ey
+ e−y
= 0,
trata-se de uma equação impossível.
2. Atendendo às expressões de seno e coseno hiperbólicos conhecidas em R, podemos escrever
sin z =
ezi
− e−zi
2i
=
e−y+xi
− ey−xi
2i
=
e−y
(cos x + i sin x) − ey
(cos x − i sin x)
2i
=
(e−y
− ey
) cos x + i (e−y
+ ey
) sin x
2i
=
e−y
+ ey
2
sin x + i
ey
− e−y
2
cos x
= sin x cosh y + i cos x sinh y.
Logo, u(x, y) = sin x cosh y e v(x, y) = cos x sinh y. Analogamente,
cos z =
ezi
+ e−zi
2
=
e−y+xi
+ ey−xi
2
=
e−y
(cos x + i sin x) + ey
(cos x − i sin x)
2
=
(e−y
+ ey
) cos x + i (e−y
− ey
) sin x
2
=
e−y
+ ey
2
cos x − i
ey
− e−y
2
sin x
= cos x cosh y − i sin x sinh y,
donde u(x, y) = cos x cosh y e v(x, y) = sin x sinh y.
32 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
3. Notemos que, dado y ∈ R, temos
cosh2
y − sinh2
y =
µ
e−y
+ ey
2
¶2
−
µ
ey
− e−y
2
¶2
=
e−2y
+ 2e−y
ey
+ e2y
−
¡
e2y
− 2ey
e−y
+ e−2y
¢
4
=
4e−y+y
4
= 1.
Atendendo ao exercício 2, podemos escrever
|sin z|
2
= |sin x cosh y + i cos x sinh y|
2
= (sin x cosh y)2
+ (cos x sinh y)2
= sin2
x(1 + sinh2
y) + cos2
x sinh2
y
= sin2
x +
¡
sin2
x + cos2
x
¢
sinh2
y
= sin2
x + sinh2
y =
¯
¯sin2
x
¯
¯ + sinh2
y.
Logo,
|sin z|2
≥ |sin x|2
e, dado que |sin z| e |sin x| representam números reais positivos, concluímos que |sin z| ≥
|sin x|. De modo análogo prova-se que
|cos z|
2
= cos2
x + sinh2
y,
o que permite concluir que |cos z| ≥ |cos x|, para z = x + yi.
4. Temos
cos z = 2 ⇔
ezi
+ e−zi
2
= 2 ⇔ ezi
+ e−zi
= 4.
Multiplicando por ezi
6= 0, obtemos a equação quadrática
cos z = 2 ⇔
¡
ezi
¢2
− 4ezi
+ 1 = 0
⇔ ezi
=
4 ±
√
16 − 4
2
= 2 ±
√
3.
Então,
e(x+yi)i
= e−y+xi
= e−y
(cos x + i sin x) = 2 ±
√
3,
o que permite concluir que
e−y
cos x = 2 ±
√
3 ∧ e−y
sin x = 0.
2.3. AS FUNÇÕES HIPERBÓLICAS 33
De e−y
sin x = 0 concluímos que sin x = 0, ou seja, que x = nπ, para n ∈ Z. Se n ímpar
então cos x = −1 e logo
−e−y
= 2 ±
√
3 ⇔ e−y
= −2 ±
√
3,
o que sabemos ser impossível, visto que −2 ±
√
3 < 0. Se n par, cos x = 1 e logo,
e−y
= 2 ±
√
3 ⇔ −y = ln
³
2 ±
√
3
´
⇔ y = − ln
³
2 ±
√
3
´
.
Atendendo a que ln
¡
2 −
√
3
¢
= − ln
¡
2 +
√
3
¢
, podemos concluir que as soluções da equação
são z = 2kπ ± i ln
¡
2 +
√
3
¢
. Notemos que esta equação é impossível em R.
5. sin(2z) = sin(z + z) = sin z cos z + cos z sin z = 2 sin z cos z;
cos(2z) = cos(z + z) = cos z cos z − sin z sin z = cos2
z − sin2
z.
6. cos z + i sin z =
ezi
+ e−zi
2
+ i
ezi
− e−zi
2i
=
2ezi
2
= ezi
.
2.3 As funções hiperbólicas
Recordemos que para x ∈ R, as funções hiperbólicas seno e coseno são definidas através da função
exponencial de variável real por
(2.1) sinh x =
ex
− e−x
2
e cosh x =
ex
+ e−x
2
.
As respectivas funções de variável complexa definem-se de modo análogo.
Definição 9 Para qualquer z ∈ C, definem-se as funções seno hiperbólico e coseno hiperbólico
de z por
sinh z =
ez
− e−z
2
e cosh z =
ez
+ e−z
2
.
Proposição 11 As funções seno e coseno hiperbólico são analíticas em C e são válidas as seguintes
fórmulas de derivação:
(sinh z)0
=
ez
+ e−z
2
= cosh z e (cosh z)0
=
ez
− e−z
2
= sinh z.
• Também se podem definir as funções tangente e cotangente hiperbólicas de variável complexa,
a saber
tanh z =
sinh z
cosh z
, coth z =
cosh z
sinh z
=
1
tanh z
,
assim como a função secante hiperbólica, 1/ cosh z, e a função cosecante hiperbólica, 1/ sinh z.
Proposição 12 As funções hiperbólicas tem asa seguintes propriedades
34 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
1. As funções seno e coseno hiperbólico são periódicas de período 2πi
2. sinh (iz) = i sin (z) , cosh (iz) = cos z
3. sin (iz) = i sinh (z) , cos (iz) = cosh (z)
4. sinh (z) = sinh (x) cos (y) + i cosh (x) sin (y)
5. cosh (z) = cosh (x) cos (y) + i sinh (x) sin (y)
6. sinh (z) = 0 ⇔ z = −nπi, n ∈ N
7. cosh (z) = 0 ⇔ z = − (2n + 1) π
2 i, n ∈ N
Exercícios resolvidos
1. Determine, às relações entre as funções trigonométricas e as funções hiperbólicas, as partes
real e imaginária das funções seno e coseno.
2. Mostre que cos z = cosh(iz).
3. Mostre que cosh2
z − sinh2
z = 1.
4. Mostre que 2πi é o período das funções seno e coseno hiperbólicos.
Propostas de resolução
1. sin z = sin(x + yi) = sin x cos(yi) + cos x sin(yi) = sin x cosh y + i cos x sinh y
cos z = cos(x + yi) = cos x cos(yi) − sin x sin(yi) = cos x cosh y − i sin x sinh y.
2. cos(iz) =
e(iz)i
+ e−(iz)i
2
=
e−z
+ ez
2
= cosh z.
3. cosh2
z − sinh2
z =
(ez
+ e−z
)
2
4
−
(ez
− e−z
)
2
4
=
e2z
+ 2ez−z
+ e−2z
− e2z
+ 2ez−z
− e−2z
4
= 1.
4. Temos
sinh(z + 2πi) = sinh(x + (2π + y)i)
= sinh x cos(2π + y) + i cosh x sin(2π + y)
= sinh x cos y + i cosh x sin y = sinh z,
2.4. A FUNÇÃO LOGARITMO 35
assim como
cosh(z + 2πi) = cosh(x + (2π + y)i)
= cosh x cos(2π + y) + i sinh x sin(2π + y)
= cosh x cos y + i sinh x sin y = cosh z.
Não seria de esperar outro valor para o período, dado que estas funções são definidas através
da função exponencial.
2.4 A função logaritmo
No caso das funções reais, a função logaritmo neperiano é simplesmente a função inversa da função
exponencial neperiana. Dados x, y ∈ R temos x = ln y se e só se ex
= y.
O caso complexo é mais delicado. A função exponencial é periódica de período 2πi e, como tal,
não é invertível em todo o seu domínio C. No entanto, pretende-se que a relação
(2.2) log z = w se e só se z = ew
se mantenha válida em C. Se (2.2) se verificar para w = u + vi então
eu+vi
= z ⇔ eu
(cos v + i sin v) = z
⇔ |z| = eu
∧ arg z = v
⇔ u = ln |z| ∧ v = arg z.
Deste modo, para z 6= 0 (visto que ew
6= 0 para todo o w ∈ C), é natural definir
(2.3) log z = ln |z| + i arg z.
Existem, no entanto, infinitos valores para log z, um para cada argumento de z. A diferença
entre quaisquer dois destes valores é um múltiplo inteiro de 2πi. Assim, a expressão (2.3) não
define uma função.
Observemos que, se z = |z| ei arg z
= x + yi,
elog z
= eln|z|+i arg z
= eln|z|
ei arg z
= |z| ei arg z
= z.
Mas,
log(ez
) = ln |ez
| + i arg ez
= ln ex
+ i(y + 2kπ)
= x + (y + 2kπ)i = (x + yi) + 2kπi = z + 2kπi,
para k ∈ Z. No entanto, se considerarmos para argumento de z o seu argumento principal, caso
em que tomamos k = 0, é possível definir a função logaritmo.
36 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
Definição 10 Para qualquer z = x+yi ∈ C, com z 6= 0, define-se a função logaritmo principal
de z por
log z = ln |z| + i arg z,
com arg z ∈ [−π, π[.
Podemos agora afirmar que a função logaritmo principal, log z, é a função inversa da re-
strição da função exponencial de variável complexa à região fundamental {x + yi : −π ≤ y < π}.
Ou seja, verifica-se (2.2).
Nota 6 Podemos definir a função logaritmo mais geralmente da seguinte forma: a função loga-
ritmo relativa ao intervalo [θ0, θ0 + 2π[ é a função
log z = ln |z| + i arg z, arg z ∈ [θ0, θ0 + 2π[ .
Esta função designa-se muitas vezes por ramo do logaritmo correspondente ao intervalo [θ0, θ0 + 2π[;
quando θ0 = −π, obtém-se o ramo principal do logaritmo. A função logaritmo relativa ao inter-
valo [θ0, θ0 + 2π[ é a função inversa da restrição da função exponencial à região fundamental
{x + yi : θ0 ≤ y < θ0 + 2π} .
Nota 7 Quando z é um número real positivo, z = x + 0i com x > 0, a definição de log z coincide
com a definição já conhecida em R
log z = log x = ln |x| + i arg x = ln x.
Salvo indicação em contrário, em tudo o que se segue, quando nos referimos à
função log z referimo-nos à função logaritmo principal.
Nota 8 No cálculo real, não está definido o logaritmo de números negativos. Em C tal não é
verdade. Por exemplo,
log(−1) = ln |−1| + i arg(−1) = ln 1 + i (−π) = −πi.
Este é um dos motivos que nos leva a considerar notações diferentes para o logaritmo de um número
complexo e para o logaritmo neperiano de um número real.
A parte real da função logaritmo, u(x, y) = ln |z| = ln
p
x2 + y2, é contínua em C {0}. Con-
tudo, a parte imaginária v(x, y) = arg(x+yi) é descontínua nos pontos de coordenadas (x, 0), com
x < 0 (exercício 5). Como tal, a função logaritmo não é contínua no eixo real negativo, ou
seja, em complexos z da forma z = x + 0i, com x ≤ 0.
As propriedades do logaritmo que se verificam no cálculo real continuam válidas em C, desde
que correctamente interpretadas. Vejamos os seguintes exemplos.
2.4. A FUNÇÃO LOGARITMO 37
Exemplo 4 Consideremos os números complexos z = −1 e w = i e escolham-se os argumentos
no intervalo [0, 2π[. Temos |z| = 1, arg z = π, |w| = 1 e arg w = π/2. Como tal,
log z + log w = (ln 1 + iπ) +
³
ln 1 + i
π
2
´
=
3π
2
i.
Por outro lado,
zw = cis
³
π +
π
2
´
= cis
3π
2
,
pelo que
log (zw) = ln 1 + i
µ
3π
2
¶
=
3π
2
i.
Logo, neste caso, verifica-se a igualdade log z + log w = log (zw).
Escolha-se agora o intervalo [−2π, 0[ para os argumentos de z e w. Então, arg z = −π, arg w =
−3π/2 e arg (zw) = −π/2, donde
log z + log w = (ln 1 − iπ) +
µ
ln 1 − i
3π
2
¶
= −
5π
2
i,
log (zw) = ln 1 + i
³
−
π
2
´
= −
π
2
i.
Neste caso, verificamos que a diferença (log z + log w) − log (zw) é de −2πi.
Proposição 13 Propriedades do logaritmo Sejam z, w ∈ C {0}. São válidas as seguintes
propriedades:
(a) log(zw) = log z + log w (mod 2πi);
(b) log(z/w) = log z − log w (mod 2πi).
(c) log (z) é analítica no conjunto C {x + iy : x ≤ 0 e y = 0} e a sua derivada é dada por
(log z)0
=
1
z
Exercícios resolvidos
1. Determine os valores de log(−2), log i, log(−1 − i) e log
¡√
3 + i
¢
.
2. Resolva a equação ez
=
√
3 + i.
3. Calcule o valor principal de log(−3).
4. Considere os números complexos z = −i e w = −1 + i. Mostre que log (z/w) = log z − log w
(mod 2πi).
38 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
5. Mostre que a função v(x, y) = arg(x + yi) é descontínua nos pontos de coordenadas (x, 0) ,
com x < 0.
6. Mostre que a função f(z) = log z verifica as condições de Cauchy-Riemann para z = x + yi,
com z 6= 0 e z 6= x < 0.
7. Derive a função
f(z) = log(ez
+ 1),
indicando a região em que é analítica.
Propostas de resolução
1. log(−2) = ln 2 + i arg (−2) = ln 2 + i(π + 2kπ),
log i = ln 1 + i arg i = i
³π
2
+ 2kπ
´
,
log (−1 − i) = ln
√
2 + i arg(−1 − i) = ln
√
2 + i
µ
−
3π
4
+ 2kπ
¶
,
log
¡√
3 + i
¢
= ln 2 + i arg
¡√
3 + i
¢
= ln 2 + i
³π
6
+ 2kπ
´
, k ∈ Z.
2. Temos
ez
=
√
3 + i ⇔ z = log
³√
3 + i
´
.
Pelo exercício 1, o conjunto solução da equação é
S =
n
ln 2 + i
³π
6
+ 2kπ
´
: k ∈ Z
o
.
3. Dado que −3 = 3cis (−π), o valor principal do logaritmo de −3 é
log(−3) = ln 3 + i(−π) = ln 3 − πi.
4. Consideremos os números complexos z = −i e w = −1 + i e escolham-se os argumentos no
intervalo [−π, π[. Temos |z| = 1, arg z = −π/2, |w| =
√
2 e arg w = 3π/4. Como tal,
log z − log w =
³
ln 1 + i
³
−
π
2
´´
−
µ
ln
√
2 + i
3π
4
¶
= ln
√
2 + i
µ
−
π
2
−
3π
4
¶
= ln
√
2 − i
5π
4
.
Por outro lado,
z
w
=
1
√
2
cis
µ
−
π
2
−
3π
4
¶
=
1
√
2
cis
µ
−
5π
4
¶
=
√
2cis
3π
4
,
pelo que
log
z
w
= ln
√
2 + i
3π
4
.
Verificamos então que a diferença (log z − log w) − log (z/w) é de −2πi.
2.4. A FUNÇÃO LOGARITMO 39
5. Seja (x0, 0) ∈ R2
tal que x0 < 0. Então,
lim
(x,y)→(x0,0)
y>0
arg(x + yi) = π,
enquanto que
lim
(x,y)→(x0,0)
y<0
arg(x + yi) = −π.
Podemos assim concluir que, para x0 < 0, não existe lim(x,y)→(x0,0) v(x, y).
6. Para z = x + yi = reiθ
temos u(r, θ) = ln r e v(r, θ) = θ. Assim,
∂u
∂r
=
1
r
e
∂u
∂θ
= 0
∂v
∂r
= 0 e
∂v
∂θ
= 1,
o que mostra serem válidas as equações de Cauchy-Riemann estabelecidas para coordenadas
polares,
∂u
∂r
=
1
r
∂v
∂θ
e
∂v
∂r
= −
1
r
∂u
∂θ
.
7. A função ez
+ 1 é analítica em C. Logo, log (ez
+ 1) é analítica em todos os pontos tais
que ez
+ 1 pertence ao domínio de analiticidade da função logaritmo, ou seja, é analítica no
conjunto
C {z ∈ C : Im (ez
+ 1) = 0 ∧ Re (ez
+ 1) ≤ 0} .
Escrevendo z = x + yi,
Im (ez
+ 1) = 0 ⇔ ex
sin y = 0 ⇔ sin y = 0 ⇔ y = nπ, para n ∈ Z.
Por outro lado,
Re (ez
+ 1) ≤ 0 ⇔ ex
cos y + 1 ≤ 0 ⇔ ex
cos y ≤ −1.
Como y = nπ, n ∈ Z, temos cos y = 1, se n é par, e cos y = −1, se n é ímpar. Se n for par
então ex
≤ −1, o que é impossível. Se n for ímpar então ex
≥ 1, ou seja, x ≥ 0. Concluímos
que f é analítica no conjunto
C {z = x + yi : x ≥ 0 ∧ y = 2(k + 1)π, k ∈ Z} .
Utilizando o teorema da função composta,
f0
(z) =
ez
ez + 1
.
40 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
Exercícios propostos
1. Calcule todos os valores de ei
, log(−2i), e3 log(1−i)
.
2. Resolva, em C, as seguintes equações:
(a) cos z = 10; (b) cos z = sin z; (c) sin z = 2;
(d) sinh z = −i; (e) eiz
= −3; (d) ez
+ 6e−z
= 5.
3. Apresente as seguintes funções na forma f(z) = u + vi:
(a) f(z) = e−iz
; (b) f(z) = ez2
.
4. Determine as regiões onde as seguintes funções são analíticas e calcule f0
(z):
(a) f(z) = eπz3
−1
; (b) f(z) = cos (1/z) + e
1
z2+1 ;
(c) f(z) = sin
¡
log z2
¢
; (d) f(z) =
√
z2 − 2.
5. Determine para que valores de z é válida a igualdade log z2
= 2 log z, quando se considera o
ramo principal do logaritmo.
6. Mostre que a função f(z) = ez
não é analítica em nenhum ponto do seu domínio.
7. Mostre que e2πi
= 1, eπ/2i
= i, eπi
= −1, e−π/2i
= −i e e−πi
= −1.
8. Mostre que
¯
¯eiy
¯
¯ = 1, para todo o y ∈ R.
9. Mostre que u(x, y) = Re
³
ez2
´
é uma função harmónica.
10. Mostre que tan z = u+vi onde u(x, y) = sin 2x/ (cos 2x + cosh 2y) e v(x, y) = sinh 2x/ (cos 2x + cosh 2y) .
11. Prove que a função tan z é periódica de período π.
12. Mostre que, para quaisquer z, w ∈ C, são válidas as seguintes igualdades
(a) cosh (z + w) = cosh z cosh w + sinh z sinh w;
(b) sinh (z + w) = sinh z cosh w + cosh z sinh w;
(c) cosh2
z + sinh2
z = 1.
13. Mostre que cos z = cos z.
2.4. A FUNÇÃO LOGARITMO 41
Soluções
1. cos 1 + i sin 1; ln 2 + i (−π + 2kπ), k ∈ Z; −2 − 2i.
2. (a) z = 2nπ ± i ln
¡
10 + 3
√
11
¢
; (b) z = π/4 + nπ; (c) z = π/2 + 2nπ − i ln
¡
2 ±
√
3
¢
; (d)
z = (−π/2 + 2nπ) i; (e) (−π + 2nπ) − (ln 3) i; (f) z = ln 3 + 2nπi ∨ z = ln 2 + 2nπi.
3. (a) ey
cos x − iey
sin x; (b) ex2
−y2
cos (2xy) + iex2
−y2
sin (2xy).
4. (a) f0
(z) = 3πz2
eπz3
−1
, ∀z ∈ C; (b) f0
(z) =
1
z2
sin
µ
1
z
¶
−
2z
(z2 + 1)
2 e
1
z2+1 , ∀z ∈ C {−i, 0, i};(c)
f0
(z) =
2
z
cos
¡
log z2
¢
, ∀z ∈ C {z = yi : y ∈ R}; (d)
z
√
z2 − 2
, ∀z ∈ C
©
z = yi ∨ z = x, −
√
2 ≤ x ≤
√
2
ª
.
5. z = reiθ
, com r > 0 e θ ∈ [−π/2, π/2[.
42 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
Capítulo 3
Integração no plano complexo
O estudo da integração no plano complexo é importante por duas razões essenciais. Por um
lado, podem ocorrer integrais de variável real cujo cálculo não é imediato pelos métodos usuais de
integração real mas que a integração complexa permite resolver facilmente. Por exemplo, o cálculo
do integral
Z ∞
0
sin2
x
x2
dx.
Por outro lado, algumas propriedades básicas das funções analíticas podem ser estabelecidas com
base na integração complexa não sendo as abordagens alternativas imediatas. O teorema de
Cauchy-Goursat, por exemplo, permite concluir que as funções analíticas possuem derivadas de
todas as ordens.
3.1 Integrais curvilíneos
Os integrais curvilíneos, integrais de uma função f(z) ao longo de uma certa curva no plano
complexo, são definidos de forma análoga à usada para definir integrais curvilíneos no plano bidi-
mensional R2
.
Definição 11 Sejam a, b ∈ R, com a ≤ b. Uma curva em C é o contradomínio de uma função
contínua γ : [a, b] → C. A função γ é designada por parametrização da curva (de parâmetro
real t) e
γ(t) = x(t) + iy(t), t ∈ [a, b]
por equação paramétrica da curva.1
1 Podemos pensar numa curva como a trajectória de um ponto material (x(t), y(t)) = x(t) + iy(t) ∈ C, em cada
instante t, com t a variar num intervalo de tempo [a, b].
43
44 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Dada uma curva parametrizada por γ(t) = x(t) + y(t)i, t ∈ [a, b], e t0 ∈ [a, b], o vector
γ0
(t0) = x0
(t0) + iy0
(t0)
designa-se por vector tangente à curva no ponto t = t0.2
Sempre que não haja ambiguidade, referimo-nos à curva γ para mencionar a curva parame-
trizada por γ.
Definição 12 Uma curva γ diz-se suave (ou regular) quando as funções x(t) e y(t) têm derivadas
contínuas no intervalo [a, b] e o vector γ0
(t) = x0
(t) + iy0
(t) não se anula em [a, b].
Se existir uma partição do intervalo [a, b], ou seja, um número finito de valores reais a0, a1, . . . , an,
com a0 = a < a1 < · · · < an = b, tal que as restrições γj = γ|]aj−1,aj [, j = 1, 2, . . . , n, são curvas
suaves então a curva γ diz-se seccionalmente suave (ou seccionalmente regular). Neste caso,
γ diz-se a soma (ou união) das curvas γj, j = 1, 2, . . . , n, e denota-se por γ1+γ2+ · · · + γn.
a bt
γ
•
•
•
γ(t)
γ(a)
γ(b)
x
y
A suavidade de uma curva significa geometricamente que ela tem vector tangente γ0
(t) = x0
(t) +
iy0
(t) único em cada ponto e que este varia continuamente em t.
Exemplo 10 A função γ(t) = x(t) + iy(t) tal que
½
x(t) = t
y(t) = t2 , t ∈ R
define a parábola dada, em coordenadas rectangulares, pela equação y = x2
. Consideremos a
função γ : [−1, 2] → C definida por γ(t) = t + it2
. Dado que x(t) e y(t) são funções contínuas com
derivadas contínuas no intervalo [−1, 2], γ é uma curva suave que corresponde ao arco da parábola
2 Note-se que γ é uma aplicação de variável real. Como tal, a existência da derivada γ0(t) implica que existam as
derivadas x0(t) e y0(t) enquanto derivadas de funções reais de variável real.
Em cada instante t, o vector tangente (x0(t), y0(t)) = x0(t)+iy0(t) pode ser interpretado como o vector velocidade
de um ponto material, com posição (x(t), y(t)).
3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 45
y = x2
compreendido entre os pontos z1 = γ(−1) = −1 + i e z2 = γ(2) = 2 + 4i. Note-se que
γ0
(t) = 1 + 2ti 6= 0 para −1 ≤ t ≤ 2. Geometricamente,
γ
x
y •
•
-1 2 -1 2
Exemplo 11 A circunferência de centro na origem e de raio 1 pode ser parametrizada por γ(t) =
cos t + i sin t = eit
, t ∈ [0, 2π]. De facto,
x2
(t) + y2
(t) = cos2
t + sin2
t = 1.
Trata-se de uma curva suave visto que x(t) = cos t e y(t) = sin t são funções contínuas com
derivadas contínuas no intervalo [0, 2π] e γ0
(t) = − sin t + i cos t 6= 0 para 0 ≤ t ≤ 2π (as funções
seno e coseno não têm zeros coincidentes).
Exemplo 12 A elipse de centro na origem e de semi-eixos horizontal e vertical com medidas a 6= 0
e b 6= 0, respectivamente, tem parametrização γ(t) = a cos t + ib sin t, t ∈ [0, 2π]. Com efeito,
x2
(t)
a2
+
y2
(t)
b2
= cos2
t + sin2
t = 1.
Trata-se, tal como a circunferência, de uma curva suave.
Exemplo 13 A curva γ parametrizada por
γ(t) =
½
t + it2
se − 1 ≤ t ≤ 2
t + 4i se 2 ≤ t ≤ 3
é seccionalmente suave. Dado que γ1(2) = γ2(2), γ é a união da curva γ1(t) = γ|]−1,2[(t) = t + it2
com a curva γ2(t) = γ|]2,3[(t) = t + 4i. Além disso, γ1 é uma curva suave dado que as funções
x(t) = t e y(t) = t2
têm derivadas contínuas e γ0
1(t) = 1 + 2ti 6= 0. Analogamente, a restrição γ2
é uma curva suave. Observamos que γ não é suave pois γ0
1 (2) = 1 + 4i enquanto que γ0
2 (2) = 1.
No que segue todas as curvas consideradas são seccionalmente suaves, salvo indicação em con-
trário.
46 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Definição 13 A orientação ou sentido de uma curva γ : [a, b] → C, a ≤ b, é de γ(a) para
γ(b). A curva −γ parametrizada por
(−γ)(t) = γ(a + b − t), t ∈ [a, b] ,
corresponde ao mesmo conjunto de pontos mas orientada no sentido inverso ao de γ.
Quando o ponto final coincide com o ponto inicial, γ(a) = γ(b), a curva γ diz-se fechada. A
orientação de uma curva fechada diz-se positiva (ou directa) se é contrária à dos ponteiros do
relógio e diz-se negativa (ou indirecta) no caso contrário.
Se γ(t1) 6= γ(t2) sempre que t1 6= t2, com t1, t2 ∈ ]a, b[, então a curva diz-se simples. Uma
curva simples e fechada é designada por curva de Jordan3
.
Exemplo 14 A curva γ(t) = z0 + reit
, com t ∈ [α, β] e β ≤ α + 2π, define um arco da circun-
ferência de centro z0 e de raio r, com extremidades inicial e final γ (α) e γ (β), respectivamente.
Trata-se de uma curva suave dado que x(t) = x0 + r cos t e y(t) = y0 + r sin t têm derivadas con-
tínuas e γ0
(t) = ireit
6= 0 em todos os pontos. Quando β = α+2π, temos γ (α) = γ (β) e a curva é
fechada e descrita no sentido positivo. Atendendo a que se trata de uma circunferência, é imediato
que se trata de uma curva simples. A curva (−γ) (t) = z0 + re−it
, t ∈ [α, α + 2π], representa a
mesma circunferência, mas orientada no sentido negativo.
Comecemos por definir o integral curvilíneo de uma função complexa de variável real.
Definição 14 Seja h : [a, b] → C uma função complexa de variável real definida por h(t) =
u(t) + iv(t), para funções u e v contínuas em [a, b]. Define-se o integral curvilíneo da função
h no intervalo [a, b] como sendo o número complexo
Z b
a
h(t)dt =
Z b
a
u(t)dt + i
Z b
a
v(t)dt,
onde os integrais de u e v são integrais usuais de funções reais de uma variável real.
Exemplo 5 Pretendemos determinar o integral curvilíneo da função h(t) = t2
+1+t3
i no intervalo
[0, 1]. Dado que u(t) = t2
+ 1 e v(t) = t3
são as partes real e imaginária de h, respectivamente,
temos
Z 1
0
¡
t2
+ 1 + it3
¢
dt =
Z 1
0
(t2
+ 1)dt + i
Z 1
0
t3
dt =
4
3
+
1
4
i.
Segue-se a definição de integrais curvilíneos para funções complexas de variável complexa.
3 Em referência a Camille Jordan (1838-1922).
3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 47
Definição 15 Sejam f uma função contínua definida num aberto A ⊆ C e γ : [a, b] → C uma curva
seccionalmente suave tal que γ ([a, b]) ⊂ A. Define-se o integral curvilíneo (ou simplesmente
integral) ao longo de γ, que se denota por
R
γ
f(z)dz (ou simplesmente por
R
γ
f), como sendo o
número complexo
Z
γ
f(z)dz =
nX
j=1
Z aj
aj−1
f
¡
γj (t)
¢
· γ0
j(t)dt,
onde a0 = a < a1 < · · · < an = b é uma partição do intervalo [a, b] tal que as restrições γj =
γ|]aj−1,aj [, para j = 1, . . . , n, parametrizam curvas suaves. A função f é designada por função
integranda. Quando a curva é fechada é usual a notação
H
γ
f.
A continuidade da função f em todos os pontos da curva e a continuidade das restrições γ0
j,
para j = 1, ..., n, garantem a existência do integral. O valor do integral corresponde, assim, à
soma (finita) dos n integrais curvilíneos das funções complexas de variável real f
¡
γj (t)
¢
· γ0
j(t) em
cada um dos intervalos [aj−1, aj], conforme a definição 6. No caso particular de f ser uma função
contínua em todos os pontos de uma curva suave γ : [a, b] → C, temos o caso mais simples em que
Z
γ
f(z)dz =
Z b
a
f (γ (t)) · γ0
(t)dt.
Exemplo 15 Consideremos a circunferência de centro na origem e de raio 2. Uma parametrização
para esta curva suave pode ser definida por
γ(t) = 2 cos t + i2 sin t = 2eit
, t ∈ [0, 2π] .
Pretendemos calcular o valor do integral de f(z) = 1/z ao longo da curva γ. A função f está
definida e é contínua em todos os pontos da curva γ (f tem por domínio C {0} mas a origem não
pertence à curva). Então, dado que γ0
(t) = −2 sin t + i2 cos t,
I
γ
f(z)dz =
Z 2π
0
f(2 cos t + i2 sin t) (−2 sin t + i2 cos t) dt
=
Z 2π
0
1
2 cos t + i2 sin t
(−2 sin t + i2 cos t) dt
=
Z 2π
0
2 cos t − i2 sin t
4 cos2 t + 4 sin2
t
(−2 sin t + i2 cos t) dt
=
Z 2π
0
−4 cos t sin t + 4i cos2
t + i4 sin2
t + 4 sin t cos t
4
dt
=
Z 2π
0
4i
4
dt = i
Z 2π
0
dt = 2πi.
Em alternativa, podemos usar a forma γ(t) = 2eit
. Temos então γ0
(t) = 2ieit
e o integral é dado
48 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
por
I
γ
f(z)dz =
Z 2π
0
f
¡
2eit
¢
2ieit
dt
=
Z 2π
0
1
2eit
2ieit
dt =
Z 2π
0
idt = i
Z 2π
0
dt = 2πi.
Exemplo 6 Consideremos a curva representada na figura e a função f(z) = z definida em todo o
plano complexo.
x
y
2+2i
0
Trata-se de uma curva seccionalmente suave, união de duas curvas suaves: o segmento de recta
que une z = 0 a z = 2 parametrizado por γ1(t) = t, t ∈ [0, 2] , e o segmento de recta que une z = 2
a z = 2 + 2i parametrizado por γ2(t) = 2 + (t − 2) i, t ∈ [2, 4]. Dado que a função f(z) = z é
contínua em C (em particular, na curva) e γ0
1(t) = 1 e γ0
2(t) = i, o integral curvilíneo é obtido
como soma de dois integrais na variável real t,
Z
γ
f(z)dz =
Z 2
0
f(t)dt +
Z 4
2
f (2 + (t − 2) i) i dt
=
Z 2
0
tdt +
Z 4
2
(2 + (t − 2) i) i dt
=
Z 2
0
tdt + i
Z 4
2
2dt −
Z 4
2
(t − 2) dt = 4i.
Exemplo 16 Consideremos a função f(z) = z, de domínio C, e o arco da circunferência de centro
na origem e de raio 1 situado no 1o
quadrante, parametrizado por γ(t) = cos t+i sin t, t ∈ [0, π/2].
Temos γ0
(t) = − sin t + i cos t e, sendo f(z) = x − yi uma função contínua em todos os pontos da
curva, obtemos
Z
γ
f(z)dz =
Z π/2
0
f (cos t + i sin t) (− sin t + i cos t)dt
=
Z π/2
0
(cos t − i sin t) (− sin t + i cos t)dt
=
Z π/2
0
i
¡
cos2
t + sin2
t
¢
dt = i
Z π/2
0
dt =
π
2
i.
3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 49
Exemplo 17 Dada a função f(z) = z2
contínua em todo o plano complexo, pretendemos calcular
o valor do seu integral ao longo do segmento de recta definido, em coordenadas rectangulares, pela
equação y = 5x, entre os pontos z1 = 0 e z2 = 2 + 10i. Podemos considerar a própria variável x
como parâmetro e usar a parametrização γ(x) = x + 5xi, com x ∈ [0, 2]. Temos γ0
(x) = 1 + 5i e o
integral é então dado por
Z
γ
f(z)dz =
Z 2
0
f (x + 5xi) (1 + 5i)dx =
Z 2
0
(x + 5xi)2
(1 + 5i)dx
=
Z 2
0
¡
10x2
i − 24x2
¢
(1 + 5i)dx =
Z 2
0
¡
−74x2
− 110x2
i
¢
dx
=
Z 2
0
−74x2
dx − i
Z 2
0
110x2
dx = −
592
3
−
880
3
i.
Nota 9 Seja f(z) = u(x, y) + v(x, y)i e γ (t) = x(t) + iy(t) a parametrização de uma curva. Sem
perda de generalidade, podemos supor que γ é suave4
. Temos
Re
Z
γ
f(z)dz =
Z
γ
[u(x, y)dx − v(x, y)dy] ,
e
Im
Z
γ
f(z)dz =
Z
γ
[u(x, y)dy + v(x, y)dx] .
O integral curvilíneo
R
γ
f(z)dz pode assim ser escrito em termos de dois integrais de linha no plano
bidimensional.
Algumas propriedades dos integrais curvilíneos são enunciadas a seguir.
Proposição 14 Seja γ uma curva em C seccionalmente suave. Sejam f e g funções definidas e
contínuas na curva γ. São válidas as seguintes propriedades:
(a)
R
γ
[C1f(z) + C2g(z)] dz = C1
R
γ
f(z)dz+C2
R
γ
g(z)dz para constantes C1, C2 ∈ C (linearidade
do integral curvilíneo);
(b)
R
−γ
f(z)dz = −
R
γ
f(z)dz (integral curvilíneo na orientação inversa);
(c) Se γ = γ1 + · · · + γn
5
então
R
γ1+···+γn
f(z)dz =
R
γ1
f(z)dz + · · · +
R
γn
f(z)dz (integral
curvilíneo ao longo da união de curvas).
4 No caso em que γ é uma curva seccionalmente suave basta, atendendo à definição 8, usar o mesmo raciocínio
em cada subintervalo [aj−1, aj] da partição do intervalo [a, b].
5 Escrevemos γ = γ1+γ2 para denotar que γ é a união ou soma das curvas seccionalmente suaves γ1 e γ2:
dadas curvas γ1 : [a, b] → C e γ2 : [b, c] → C com γ1(b) = γ2(b), define-se γ1 + γ2 : [a, c] → C por
(γ1 + γ2) (t) =
γ1 (t) se a ≤ t ≤ b
γ2 (t) se b ≤ t ≤ c
.
A soma geral γ = γ1+ · · · + γn define-se de forma análoga.
50 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Exemplo 7 Considerando a curva apresentada na figura,
•
•
1+2i
1+i
Eixo real
Eixo
imaginário
•
pretendemos calcular o valor do integral curvilíneo da função f(z) = x2
+ y2
i ao longo desta
curva seccionalmente suave. Esta curva é a união de duas curvas suaves, uma parametrizada por
γ1(t) = t + ti com t ∈ [0, 1] e outra parametrizada por γ2(t) = 1 + ti, com t ∈ [1, 2]. Então
γ = γ1 + γ2 e logo
Z
γ
f(z)dz =
Z
γ1
f(z)dz +
Z
γ2
f(z)dz
=
Z 1
0
f(γ1(t)) · γ0
1(t)dt +
Z 2
1
f(γ2(t)) · γ0
2(t)dt
=
Z 1
0
¡
t2
+ t2
i
¢
(1 + i) dt +
Z 2
1
¡
1 + t2
i
¢
i dt
= (1 + i)
Z 1
0
t2
(1 + i)dt +
Z 2
1
¡
i − t2
¢
dt
= (1 + i)
2
Z 1
0
t2
dt + i
Z 2
1
dt −
Z 2
1
t2
dt
= (1 + i)
2 1
3
+ i −
7
3
= −
7
3
+
5
3
i.
A mesma curva pode ser parametrizada por diferentes funções. Põe-se a questão de saber se o
valor do integral curvilíneo
R
γ
f(z)dz é independente da parametrização usada. Para responder a
esta questão necessitamos da seguinte definição.
Definição 16 Dada uma curva seccionalmente suave parametrizada por γ : [a, b] → C, uma nova
função eγ :
h
ea,eb
i
→ C diz-se uma reparametrização de γ se existe uma função α : [a, b] →
h
ea,eb
i
tal que α0
(t) > 0, α(a) = ea, α(b) = eb e γ (t) = eγ (α (t)).
As condições impostas a α, α0
(t) > 0, α(a) = ea e α(b) = eb, garantem que a curva parametrizada
por eγ tem a mesma orientação que a curva parametrizada por γ.
Proposição 15 Se eγ :
h
ea,eb
i
→ C é uma reparametrização de γ : [a, b] → C então
Z
γ
f(z)dz =
Z
γ
f(z)dz.
3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 51
Exemplo 8 Pretendemos calcular
R
γ
Re(z)dz ao longo do segmento de recta que une z1 = 0 a
z2 = 1 + i. Escolha-se a parametrização γ : [0, 1] → C dada por γ(t) = t + it. A função integranda
é contínua nos pontos da curva. Dado que γ0
(t) = 1 + i, temos
Z
γ
Re(z)dz =
Z 1
0
Re (γ(t)) · γ0
(t)dt =
Z 1
0
Re (t + it) (1 + i)dt
=
Z 1
0
t(1 + i)dt = (1 + i)
Z 1
0
t dt =
1
2
+
1
2
i.
Para a mesma curva podemos considerar outras parametrizações, por exemplo, eγ : [1, 2] → C
definida por eγ(t) = (t − 1) + i (t − 1) . Verificamos que o integral é dado pelo mesmo valor,
Z
γ
Re(z)dz =
Z 2
1
Re (eγ(t)) · eγ0
(t)dt =
Z 2
1
Re [t − 1 + i (t − 1)] (1 + i)dt
=
Z 2
1
(t − 1) (1 + i)dt = (1 + i)
Z 2
1
(t − 1) dt =
1
2
+
1
2
i.
Frequentemente, é útil obter uma estimativa superior do módulo de um integral. Dada uma
curva parametrizada por γ(t) = x(t)+y(t)i, com t ∈ [a, b], o comprimento da curva γ é definido
por
l (γ) =
Z b
a
p
x0(t)2 + y0(t)2dt =
Z b
a
|γ0
(t)| dt.
Nota-se que, o comprimento de uma curva é independente da parametrização considerada.
Proposição 16 Seja f uma função complexa de variável complexa definida e contínua num aberto
A ⊆ C e seja γ : [a, b] → A uma curva seccionalmente suave em A. Se f for limitada sobre a
curva, isto é, se existir M ≥ 0 tal que |f(z)| ≤ M, para todo o z ∈ γ ([a, b]), então
¯
¯
¯
¯
Z
γ
f(z)dz
¯
¯
¯
¯ ≤ M · l(γ).
Exemplo 9 Consideremos a função complexa f(z) = ez
/ (z + 1) de domínio C {−1}. Pre-
tendemos obter uma estimativa superior do módulo do integral de f ao longo da circunferên-
cia de centro na origem e de raio 4, definida por |z| = 4. Considerando a parametrização
γ(t) = 4 cos t + 4 sin t, 0 ≤ t ≤ 2π, o comprimento desta curva é dado pelo integral
l (γ) =
Z 2π
0
q
(−4 sin t)
2
+ (4 cos t)
2
dt =
Z 2π
0
4 dt = 8π
(como seria de esperar pela fórmula do perímetro de uma circunferência). Quanto à limitação da
função f ao longo desta circunferência, podemos escrever
¯
¯
¯
¯
ez
z + 1
¯
¯
¯
¯ =
|ez
|
|z + 1|
≤
|ez
|
|z| − 1
=
|ez
|
4 − 1
=
|ez
|
3
=
ex
3
≤
e4
3
,
52 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
já que o valor máximo que x = Re(z) pode tomar ao longo da circunferência é 4. Então, pela
proposição 16, obtemos a estimativa pedida,
¯
¯
¯
¯
I
γ
ez
z + 1
dz
¯
¯
¯
¯ ≤
e4
3
8π =
8πe4
3
.
Exercícios resolvidos
1. Dada a função complexa f(z) = z calcule o valor do integral curvilíneo
R
γ
f(z)dz onde γ é a
curva definida por x(t) = 3t e y(t) = t2
, com t ∈ [1, 4].
2. Calcule o valor do integral curvilíneo
R
γ
f(z)dz para
(a) f(z) = y − x − 3x2
i sobre a curva que é a união do segmento de recta que une z = 0 a
z = i com o segmento de recta que une z = i a z = 1 + i;
(b) f(z) = (z + 2)/z sobre a semicircunferência parametrizada por γ(θ) = 2eiθ
, com 0 ≤
θ ≤ −π;
(c) f(z) = 1/z sobre os pontos da semicircunferência de centro 2 e de raio 1 com parte real
superior a 2 e percorrida no sentido negativo.
3. Considere o caminho γ(t) = eit
, para t ∈ [0, 2π]. Prove que são nulos os integrais curvilíneos
I
γ
1
|z|
dz e
I
γ
1
|z2|
dz.
4. Calcule o valor do integral curvilíneo
R
γ
f(z)dz onde γ é a curva de equação dada, em coor-
denadas rectangulares, por y = x3
entre os pontos z = −1−i e z = 1+i, e onde f é a função
definida por
f(z) =
½
1 se y < 0
4y se y > 0
.
5. Considere a curva γ(t) = eit
, com t ∈ [0, π]. Mostre que
¯
¯
¯
¯
Z
γ
ez
z
dz
¯
¯
¯
¯ ≤ eπ.
6. Escrevendo o integral curvilíneo em termos de integrais reais, prove que
Z
γ
dz = B − A
quando a integração é feita ao longo de uma curva seccionalmente suave que una o ponto A
ao ponto B.
3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 53
Propostas de resolução
1. Dada a curva γ(t) = 3t + it2
, com t ∈ [−1, 4], temos γ0
(t) = 3 + 2ti. Sendo x(t) = 3t e
y(t) = t2
funções contínuas com derivadas contínuas no intervalo [−1, 4], a curva γ é suave.
Corresponde ao arco da parábola definida, em coordenadas rectangulares, pela equação y =
x2
/9 entre os pontos z = γ(−1) = −3 + i e z = γ(4) = 12 + 16i. Sendo a função f(z) = z
contínua em todos os pontos da curva γ, o integral curvilíneo é dado por
Z
γ
zdz =
Z 4
−1
3t + it2(3 + 2ti)dt =
Z 4
−1
¡
3t − t2
i
¢
(3 + 2ti)dt
=
Z 4
−1
¡
9t + 2t3
+ 3t2
i
¢
dt =
Z 4
−1
¡
9t + 2t3
¢
dt + 3i
Z 4
−1
t2
dt
=
9
2
15 +
1
2
255 + 3i
1
3
63 = 195 + 63i.
2. (a) O segmento de recta que une z = 0 a z = i pode ser parametrizado por γ1(t) = ti, com
0 ≤ t ≤ 1, e o segmento de recta que une z = i a z = 1 + i por γ2(t) = t + i, com
0 ≤ t ≤ 1.
Eixo real
Eixo
imaginário
1+i
i• •
•
Dado que a função f(z) = y − x − 3x2
i está definida e é contínua ao longo de cada uma
das curvas suaves consideradas, temos
Z
γ
f(z)dz =
Z 1
0
f(ti)i dt +
Z 1
0
f(t + i)1 dt =
Z 1
0
ti dt +
Z 1
0
¡
1 − t − 3t2
i
¢
dt
= i
Z 1
0
t dt +
Z 1
0
(1 − t) dt − 3i
Z 1
0
t2
dt = i +
1
2
− 3i
1
3
=
1
2
.
(b) A semicircunferência parametrizado por γ(θ) = 2eiθ
, com −π ≤ θ ≤ 0, centrada na
origem e com raio 2 situada nos 3o
e 4o
quadrantes, é uma curva suave com γ0
(θ) = 2ieiθ
.
A função f(z) = (z +2)/z está definida (o seu domínio é C {0} e a origem não pertence
54 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
a γ) e é contínua na semicircunferência γ. Temos, então
Z
γ
f(z)dz =
Z 0
−π
f
¡
2eiθ
¢
2ieiθ
dθ =
Z 0
−π
2eiθ
+ 2
2eiθ
2ieiθ
dθ
= i
Z 0
−π
¡
2eiθ
+ 2
¢
dθ = i
Z 0
−π
(2 (cos θ + i sin θ) + 2) dθ
= i
∙Z 0
−π
(2 cos θ + 2) dθ + 2i
Z 0
−π
sin θdθ
¸
= i [2π + 2i (−1 − 1)] = i(2π − 4i) = 4 + 2πi.
(c) Os pontos da semicircunferência de centro 2 e de raio 1 com parte real superior a 2,
percorrida no sentido negativo,.podem ser parametrizados por γ(t) = 2 + cos t − i sin t
com −
π
2
≤ t ≤
π
2
.
21 3 Eixo real
Eixo
imaginário
Trata-se de uma curva suave onde a função f(z) = 1/z está definida (o seu domínio é
C {0}) e é contínua. O integral curvilíneo é dado por
I
γ
f(z)dz =
Z π/2
−π/2
f(2 + cos t − i sin t)(− sin t − i cos t)dt
=
Z π/2
−π/2
1
2 + cos t − i sin t
(− sin t − i cos t)dt
=
Z π/2
−π/2
(2 + cos t + i sin t) (− sin t − i cos t)
(2 + cos t − i sin t) (2 + cos t + i sin t)
dt
=
Z π/2
−π/2
−2 sin t − 2i cos t − i
(2 + cos t)2
+ sin2
t
dt
=
Z π/2
−π/2
−2 sin t − i (2 cos t − 1)
4 + 4 cos t
dt
=
1
2
Z π/2
−π/2
− sin t
1 + cos t
dt −
i
4
Z π/2
−π/2
2 cos t − 1
1 + cos t
dt.
Efectuando a mudança de variável no 2o
integral simples tan t/2 = s, temos cos t =
3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 55
¡
1 − s2
¢
/
¡
1 + s2
¢
e t0
= 2/
¡
1 + s2
¢
. Obtemos, então,
I
γ
f(z)dz =
1
2
Z π/2
−π/2
− sin t
1 + cos t
dt −
i
4
Z 1
−1
2
1 − s2
1 + s2
− 1
1 +
1 − s2
1 + s2
2
1 + s2
ds
=
1
2
[ln |1 + cos t|]
π/2
−π/2 −
i
2
Z 1
−1
2 − 2s2
− 1 − s2
1 + s2 + 1 − s2
1
1 + s2
ds
=
1
2
(ln 1 − ln 1) −
i
2
Z 1
−1
1 − 3s2
2
1
1 + s2
ds
= 0 +
i
4
Z 1
−1
3s2
− 1
1 + s2
ds =
i
4
Z 1
−1
µ
3 −
4
1 + s2
¶
ds
=
i
4
[3s − 4 arctan s]
1
−1 =
i
4
³
3 − 4
π
4
+ 3 + 4
³
−
π
4
´´
=
i
4
(6 − 2π) =
3 − π
2
i.
3. Dada a curva γ(t) = eit
, para t ∈ [0, 2π] temos γ0
(t) = ieit
. Trata-se da circunferência de
centro na origem e de raio 1, onde as funções f(z) = 1/ |z| e g(z) = 1/
¯
¯z2
¯
¯, de domínio
C {0}, estão definidas e são contínuas. Para esta curva suave os integrais curvilíneos são
dados por
I
γ
1
|z|
dz =
Z 2π
0
1
|eit|
· ieit
dt =
Z 2π
0
ieit
dt =
£
eit
¤2π
0
= e2πi
− 1 = 0
I
γ
1
|z2|
dz =
Z 2π
0
1
|e2it|
· ieit
dt =
Z 2π
0
1
e2
· ieit
dt =
1
e2
Z 2π
0
ieit
dt = 0.
4. A curva pode ser parametrizada por γ(t) = t + t3
i, com −1 ≤ t ≤ 1. Trata-se de uma curva
suave com γ0
(t) = 1 + 3t2
i. A função f, de domínio C, é contínua em todos os ponto da
curva. Temos
Z
γ
f(z)dz =
Z 1
−1
f(γ(t)) · γ0
(t)dt =
Z 1
−1
f(t + t3
i)
¡
1 + 3t2
i
¢
dt
=
Z 0
−1
¡
1 + 3t2
i
¢
dt +
Z 1
0
4t3
·
¡
1 + 3t2
i
¢
dt
=
Z 0
−1
dt + 3i
Z 0
−1
t2
dt + 4
Z 1
0
t3
dt + 12i
Z 1
0
t5
dt
= 1 −
3i
3
+
4
4
+
12i
6
= 2 + i.
5. A curva γ(t) = eit
, para t ∈ [0, π], é a semicircunferência de centro na origem e de raio 1
situada nos 1o
e 2o
quadrantes. Trata-se de uma curva suave onde a função f(z) = ez
/z,
de domínio C {0}, está definida e é contínua. Pretendemos obter uma estimativa superior
56 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
do módulo do integral curvilíneo de f ao longo da semicircunferência. O comprimento da
semicircunferência é π,
l (γ) =
Z π
0
q
(− sin t)
2
+ (cos t)
2
dt =
Z π
0
dt = π,
e todos os seus pontos verificam |z| =
¯
¯eit
¯
¯ = 1. Quanto à limitação da função f ao longo
desta semicircunferência, podemos escrever
¯
¯
¯
¯
ez
z
¯
¯
¯
¯ =
|ez
|
|z|
≤
|ez
|
1
= ex
≤ e,
já que o valor máximo que x pode tomar ao longo da circunferência é 1. Então, por (5.2),
temos a estimativa pedida ¯
¯
¯
¯
I
γ
ez
z
dz
¯
¯
¯
¯ ≤ eπ.
6. Consideremos a parametrização γ(t) com t ∈ [a, b] para uma curva seccionalmente suave que
una o ponto A ao ponto B. Temos a função f(z) = 1 que é contínua ao longo de qualquer
curva seccionalmente suave. Como tal,
Z
γ
dz =
Z b
a
f(γ(t)) · γ0
(t)dt =
Z b
a
γ0
(t)dt = γ (b) − γ(a) = B − A.
3.2 Primitivação complexa
O teorema fundamental do cálculo integral para funções reais de variável real afirma que o integral
da derivada de uma função é a diferença dos valores da função nos extremos do intervalo de
integração e que o integral indefinido de uma função é uma primitiva para a função. Vejamos um
resultado análogo para integrais curvilíneos complexos.
Definição 17 Dada uma função complexa f definida e contínua numa região A ⊆ C, a função F
tal que F0
(z) = f (z), para todo z ∈ A, diz-se uma primitiva de f (ou uma antiderivada de f).
Notemos que esta definição implica que F é analítica em A (e, portanto, também contínua em
A) por ter derivada em todos os pontos do aberto A.
Exemplo 10 A função F(z) = − cos z é uma primitiva de f(z) = sin z visto que (− cos z)
0
= sin z.
Dado que (− cos z + C)
0
= sin z, qualquer que seja C ∈ C, − cos z + C é a expressão geral das
primitivas de f(z) = sin z.
Sejam f uma função complexa definida e contínua numa região A ⊆ C e F = u + iv uma
primitiva de f em A. Se γ : [a, b] → C é uma curva contida em A parametrizada por γ(t) =
3.2. PRIMITIVAÇÃO COMPLEXA 57
x(t) + y(t)i então
Z
γ
f(z)dz =
Z b
a
f(γ(t)) · γ0
(t)dt =
Z b
a
d
dt
F(γ(t))dt = F(γ(b)) − F(γ(a)).
Está assim provado o seguinte resultado.
Teorema 2 Teorema fundamental do cálculo integral Sejam γ : [a, b] → C uma curva e f
uma função contínua numa região A ⊆ C contendo a curva γ. Se F é uma primitiva de f em A
então Z
γ
f(z)dz = F(γ(a)) − F(γ(b)).
Em particular, se γ(a) = γ(b), I
γ
f(z)dz = 0.
Se γ(a) = z1 e γ(b) = z2 é usual escrever
Z
γ
f(z)dz = [F(z)]z2
z1
= F(z2) − F(z1).
Notemos ainda que, nas condições do teorema anterior, o valor do integral
R
γ
f(z)dz depende
apenas dos extremos da curva γ. Assim, se α for outra curva com as mesmas extremidades, o valor
do integral é o mesmo. Diz-se que o integral é independente da curva considerada e pode
denotar-se simplesmente por
R z2
z1
f(z)dz.
Teorema 3 Seja f uma função contínua numa região A ⊆ C. Então são equivalentes as seguintes
afirmações:
(i) f tem uma primitiva em A;
(ii) o valor do integral curvilíneo de f é o mesmo ao longo de qualquer curva contida em A ligando
pontos z1 e z2 fixos;
(iii) o valor do integral curvilíneo de f é zero ao longo de qualquer curva fechada contida em A.
Exercícios resolvidos
1. Mostre que não existe uma função analítica f definida em C {0} tal que f0
(z) = 1/z.
2. Calcule
R
γ
z2
dz, para a curva γ(t) = eit
sin3
t, com t ∈ [0, π/2].
3. Calcule
R
γ
ez
dz sobre o contorno do triângulo de vértices z = 0, z = 1 e z = πi.
4. Calcule o valor de cada um dos seguintes integrais curvilíneos:
58 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
(a)
R π+2i
0
cos (z/2) dz;
(b)
R i/2
i
eπz
dz;
(c)
R 3
1
(z − 2)3
dz.
5. Seja γ a parametrização de uma curva contida no conjunto C {z ∈ C : Re z ≤ 0} que una o
ponto z = −i ao ponto z = i. Calcule o valor do integral curvilíneo
R
γ
1/z dz.
6. Calcule
R
γ
log z dz, onde γ é o arco da circunferência de centro na origem e de raio r situado
no 1o
quadrante.
7. Demonstre as implicações (i) ⇒ (ii) e (ii) ⇒ (iii) do teorema 2.
Propostas de resolução
1. Suponhamos, por absurdo, que existe uma função f analítica definida em C {0} tal que
f0
(z) = 1/z. Vimos que a função logaritmo principal log z verificava (log z)0
= 1/z. Contudo,
a função logaritmo, embora definida em C {0}, não é analítica no eixo real negativo.
2. A função f(z) = z2
é contínua em C e F(z) = z3
/3 é uma primitiva de f. A curva γ(t) =
eit
sin3
t, para t ∈ [0, π/2], une o ponto z = γ(0) = 0 ao ponto z = eπi/2
= i. Então, pelo
teorema 1,
Z
γ
f(z)dz =
∙
z3
3
¸i
0
=
i3
3
− 0 = −
i
3
.
3. O contorno do triângulo de vértices 0, 1 e πi é seccionalmente suave.
••
•
Eixo real
Eixo
imaginário
1
πi
Consideremos as parametrizações γ1(t) = t + 0i, com 0 ≤ t ≤ 1, γ2(t) = 1 − t/π + ti. com
0 ≤ t ≤ π e γ3(t) = 0 − ti,com −π ≤ t ≤ 0. A função f(z) = ez
é contínua no contorno do
3.2. PRIMITIVAÇÃO COMPLEXA 59
triângulo γ. Temos então
Z
γ
f(z)dz =
Z 1
0
f(t) dt +
Z π
0
f(1 −
t
π
+ ti)
µ
−
1
π
+ i
¶
dt +
Z 0
−π
f(−ti)(−i)dt
=
Z 1
0
et
dt +
Z π
0
e1− t
π +ti
µ
−
1
π
+ i
¶
dt +
Z 0
−π
e−ti
(−i)dt
=
£
et
¤1
0
+
h
e1− t
π +ti
iπ
0
+
£
e−ti
¤0
−π
= e + eπi
− e + e − eπi
= e.
4. (a) A função f(z) = cos (z/2) é contínua em todos os pontos do seu domínio C e F(z) =
2 sin (z/2) é uma primitiva de f. Então, pelo teorema 1,
Z
γ
f(z)dz =
h
2 sin
z
2
iπ+2i
0
= 2 sin
³π
2
+ i
´
− 0 =
e(π/2+i)i
− e−(π/2+i)i
2i
=
e−1+π/2i
− e1−π/2i
2i
=
e−1
(0 + i) − e1
(0 − i)
2i
=
e−1
− e
2
=
1 − e2
2e
.
(b) A função f(z) = eπz
é contínua em todos os pontos do seu domínio C e F(z) = 1/πeπz
é uma primitiva de f. Então, pelo teorema 1,
Z
γ
f(z)dz =
∙
1
π
eπz
¸i/2
i
=
1
π
³
eπ/2i
− eπi
´
=
1
π
(i − 1) .
(c) A função f(z) = (z − 2)3
é contínua em todos os pontos do seu domínio C e F(z) =
(z − 2)4
/4 é uma primitiva de f. Então, pelo teorema 1,
Z
γ
f(z)dz =
∙
(z − 2)4
4
¸3
1
=
1
4
(1 − 1) = 0.
5. A função f(z) = 1/z é contínua em todos os pontos do seu domínio C{0}, ao qual pertencem
todos os pontos da curva, e F(z) = log z é uma primitiva de f. Então, pelo teorema 1, temos
Z
γ
f(z)dz = [log z]
i
−i = log(−i) − log i = ln 1 + i
³
−
π
2
´
−
³
ln 1 + i
π
2
´
= −πi.
6. A função f(z) = log z é analítica em todos os pontos do conjunto C  {z ∈ C : Re z ≤ 0}, ao
qual pertencem todos os pontos da curva, e F(z) = z log z − z é uma primitiva de f. A função
F tem derivada contínua em todos os pontos do conjunto C {z ∈ C : Re z ≤ 0} ao qual pertencem todos
os pontos da curva. Então, pelo teorema 1, temos
Z
γ
f(z)dz = [z log z − z]
ri
i = ri log(ri) − ri − (i log i − i)
= ri
³
ln r + i
π
2
´
− ri − i
³
ln 1 + i
π
2
´
+ i
=
π (1 − r)
2
+ r (ln r − 1) i.
60 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
3.3 Teorema de Cauchy-Goursat
Em 1825, o matemático francês Louis-Augustin Cauchy provou um dos mais importantes teoremas
da análise complexa: se γ parametriza uma curva simples e fechada (i.e., uma curva de Jordan)
no plano complexo e f é uma função analítica em todos os pontos da curva e do seu interior então
I
γ
f(z)dz = 0.
Se f não for analítica em toda a região do interior da curva então o valor do integral poderá ou
não ser nulo. Consideremos o seguinte exemplo.
Exemplo 11 A função f(z) = 1/z analítica em C  {0}. Se a curva de Jordan considerada for a
circunferência de centro na origem e de raio r,
I
γ
f(z)dz =
Z 2π
0
f
¡
reiθ
¢
reiθ
dθ =
Z 2π
0
1
r
e−iθ
ireiθ
dθ
= i
Z 2π
0
dθ = i [θ]2π
0 = 2πi.
Não era esperado um resultado nulo dado que a função f não é analítica no círculo de centro na
origem e de raio r. No entanto, para a função f(z) = 1/z2
temos
I
γ
f(z)dz =
Z 2π
0
f
¡
reiθ
¢
reiθ
dθ =
Z 2π
0
1
r2
e−i2θ
ireiθ
dθ
= −
1
r
£
e−iθ
¤2π
0
= −
1
r
¡
e−i2π
− e0
¢
= 0,
mas tal não ocorre por consequência do teorema de Cauchy. De facto, f é analítica em C  {0},
não sendo, portanto, analítica na curva e no seu interior.
Definição 18 Um conjunto D diz-se simplesmente conexo se toda a curva de Jordan em D pode
ser deformada num ponto de D, sem sair do conjunto D. Dito de outro modo, num conjunto
simplesmente conexo D, cada curva simples fechada inteiramente contida em D delimita apenas
pontos do conjunto D. Num conjunto simplesmente conexo não é admitida a existência de ”bura-
cos”. Todo o plano complexo é um exemplo de conjunto simplesmente conexo. O interior de uma
curva de Jordan é uma região simplesmente conexa. No entanto, o exterior de uma curva
fechada não o é, assim como também não o é a região entre duas circunferências. Uma região que
3.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 61
não é simplesmente conexa designa-se por região multiplamente conexa.
Região multiplamente conexa
Região multiplamente conexa
Região simplesmente conexa
Teorema 4 Sejam f uma função analítica e com derivada contínua em todos os pontos de uma
região simplesmente conexa D e γ a parametrização de uma curva de Jordan contida em D. Então
I
γ
f(z)dz = 0.
Uma versão mais precisa do teorema de Cauchy foi desenvolvida pelo matemático francês
Edouard Goursat em 1883. Ele provou que a hipótese de continuidade de f0
pode ser omitida. A
reformulação do teorema é a seguinte.
Teorema 5 Teorema de Cauchy-Goursat Sejam f é uma função analítica numa região sim-
plesmente conexa D e γ a parametrização de uma curva de Jordan contida em D. Então
I
γ
f(z)dz = 0.
Visto que o interior de uma curva de Jordan é uma região simplesmente conexa, o teorema de
Cauchy-Goursat pode ter a seguinte reformulação mais simples.
Teorema 6 Se f é uma função analítica numa região simplesmente conexa D então, para cada
curva de Jordan γ contida em D, é válido que
I
γ
f(z)dz = 0.
Exemplo 18 Consideremos a função inteira f(z) = sin(ez
). Em particular, é analítica nos pontos
da circunferência de centro na origem e raio 1 bem como no seu interior. Sendo γ uma parame-
trização desta curva de Jordan temos, pelo teorema 4,
I
γ
sin(ez
)dz = 0.
62 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO
Exemplo 19 Pretendemos determinar o valor do integral curvilíneo de f(z) = ez
ao longo de
qualquer curva de Jordan γ. Trata-se de uma função inteira que, em particular, é analítica em
todos os pontos da curva e do seu interior. Temos então, pelo teorema 4,
I
γ
ez
dz = 0.
Exemplo 20 Consideremos a função racional f(z) = 1/z2
e a elipse definida, em coordenadas
rectangulares, por (x − 2)2
+ (y − 5)2
/4 = 1. A função é analítica em C  {0} mas a origem não é
ponto da elipse nem do seu interior. Podemos então, pelo teorema 4, concluir que
I
γ
1
z2
dz = 0.
Exemplo 12 Pretendemos calcular o valor do integral curvilíneo
R
γ
1/
¡
z2
+ 1
¢
dz = 0 ao longo
da circunferência γ definida por |z| = 3. A função f(z) = 1/
¡
z2
+ 1
¢
é analítica em CÂ {−i, i}
visto que z2
+ 1 = (z − i) (z + i). Ambos os complexos z = −i e z = i estão no interior da curva
γ. Atendendo a que
1
z2 + 1
=
1
2i
z − i
−
1
2i
z + i
temos I
γ
1
z2 + 1
dz =
1
2i
I
γ
µ
1
z − i
−
1
z + i
¶
dz.
Consideremos as curvas de Jordan γ1 e γ2 definidas por |z − i| = 1/2 e |z + i| = 1/2, respectiva-
mente. Temos, então, pelo teorema 8,
I
γ
1
z2 + 1
dz =
1
2i
I
γ1
µ
1
z − i
−
1
z + i
¶
dz +
1
2i
I
γ2
µ
1
z − i
−
1
z + i
¶
dz
=
1
2i
I
γ1
1
z − i
dz −
1
2i
I
γ1
1
z + i
dz +
1
2i
I
γ2
1
z − i
dz −
1
2i
I
γ2
1
z + i
dz.
Visto que a função 1/ (z + i) é analítica na circunferência γ1 e no seu interior, assim como a função
1/ (z − i) é analítica na circunferência γ2 e no seu interior temos, pelo teorema 4,
H
γ1
1/(z+i)dz =
H
γ2
1/(z − i)dz = 0. Quanto aos restantes integrais curvilíneos, consideremos as parametrizações
γ1(θ) = i +
1
2
eiθ
e γ2(θ) = −i +
1
2
eiθ
com 0 ≤ θ ≤ 2π. Temos, então,
I
γ1
1
z − i
dz =
Z 2π
0
1
γ1(θ) − i
γ0
1(θ)dθ =
Z 2π
0
1
1
2 eiθ
1
2
ieiθ
dθ = i
Z 2π
0
dθ = 2πi
e I
γ2
1
z + i
dz =
Z 2π
0
1
γ2(θ) + i
γ0
2(θ)dθ =
Z 2π
0
1
1
2 eiθ
1
2
ieiθ
dθ = i
Z 2π
0
dθ = 2πi.
3.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 63
Como tal, I
γ
1
z2 + 1
dz =
1
2i
2πi − 0 − 0 −
1
2i
2πi = 0.
Exercícios resolvidos
1. Determine o domínio de analiticidade das seguintes funções e aplique o teorema 4 para
mostrar que
H
γ
f(z)dz = 0, onde γ é uma parametrização da circunferência definida por
|z| = 1.
(a) f(z) = ze−z
;
(b) f(z) = 1/
¡
z2
+ 2z + 2
¢
;
(c) f(z) = log(z + 2).
2. Calcule
H
γ
e3z
/ (z − iπ) dz, onde γ é a elipse de equação |z − 2| + |z + 2| = 6 descrita no
sentido positivo.
3. Sejam f(z) = u +iv uma função analítica numa região D e γ(t) = x(t)+y(t)i, com t ∈ [a, b],
uma curva de Jordan contida e D.
Mostre que I
γ
∂u
∂x
dx =
I
γ
∂v
∂x
dy e
I
γ
∂u
∂x
dy = −
I
γ
∂v
∂x
dx.
4. Sejam γ e η parametrizações de curvas que unam z = −i a z = i definidas por γ(t) = eit
,
para t ∈ [−π/2, π/2] , e η(t) = (−1 + 2t) i, para t ∈ [0, 1].
Z
γ
µ
z2
2
+ |z|2
¶
dz e
Z
η
µ
z2
2
+ |z|2
¶
dz
e determine os seus valores. Justifique que não é possível utilizar o teorema 4.
5. Sejam z1, z2 ∈ C  {0}, z1 6= z2. Se γ é um caminho de z1 para z2 no interior de uma região
simplesmente conexa que não contenha a origem, mostre que
Z
γ
1
z2
dz =
Z z2
z1
1
z2
dz =
1
z1
−
1
z2
.
6. Use um integral indefinido para calcular o valor do integral curvilíneo
Z 2i
−2i
1
z
dz
ao longo de qualquer curva que une z = −2i a z = 2i, contida no semiplano direito.
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  • 1. ISCTE - IUL Engenharia de Telecomunicações e Informática Engenharia de Informática, 1o Ano Cadeira: Análise Matemática II Caderno : Análise Complexa Elaborado de: Rosário Laureano, Helena Soares, Diana Mendes Departamento de Métodos Quantitativos Maio de 2011
  • 2. Capítulo 1 Funções analíticas 1.1 Funções complexas de variável complexa Consideremos uma função f : D → C, onde D é um subconjunto de C. A função f diz-se uma função complexa de uma variável complexa. Trata-se de uma correspondência que associa a cada elemento z ∈ D um único elemento w no plano complexo (designado por imagem de z por f ou valor de f em z): w = f(z) = f(x + yi) = u(x, y) + v(x, y)i, onde u(x, y) e v(x, y) são funções reais de duas variáveis reais x e y, designadas por parte real e parte imaginária de f(z), respectivamente. O conjunto D ⊆ C é designado por domínio de f e o conjunto das imagens w é designado por contradomínio de f. Exemplo 1 Consideremos a função f(z) = z2 + 3. Temos f(x + yi) = (x + yi)2 + 3 = x2 + 2xyi − y2 + 3 = ¡ x2 − y2 + 3 ¢ + 2xyi, e logo u(x, y) = x2 − y2 + 3 e v(x, y) = 2xy. O domínio de f é todo o conjunto C. Exemplo 2 A função f(z) = z/ ¡ z2 + 1 ¢ tem por domínio o conjunto D = © z ∈ C : z2 + 1 6= 0 ª . Dado que z2 + 1 = 0 ⇔ z2 = −1 ⇔ z = i ∨ z = −i, podemos concluir que D = C {−i, i} . 1
  • 3. 2 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS Exemplo 3 Seja f a função definida por f(z) = z2 − 4z + Re(z). Então, f(x + yi) = (x + yi)2 − 4 (x + yi) + x = (x2 − y2 − 3x) + (2xy − 4y)i, e logo u(x, y) = x2 − y2 − 3x e v(x, y) = 2xy − 4y. O domínio de f é todo o conjunto C. Nota 1 Verificamos que a cada função f(z) corresponde um par de funções reais de duas var- iáveis reais, u(x, y) e v(x, y), e que o recíproco também se verifica, isto é, f(z) fica completamente determinada pelas respectivas funções u(x, y) e v(x, y). Exemplo 1 Seja f a função complexa de variável complexa tal que u(x, y) = xy e v(x, y) = 3x2 − y3 . Sem determinar a expressão f(z) de f na variável z é possível determinar a imagem w de qualquer objecto z. Por exemplo, a imagem de z = 1 − 2i é o número complexo w = −2 + 11i, visto que f(1 − 2i) = u(1, −2) + iv(1, −2) = 1 · (−2) + i(3 − (−8)) = −2 + 11i. Consideremos o número complexo z0 = x0 + y0i. Se z = x + yi, a expressão |z − z0| = q (x − x0) 2 + (y − y0) 2 representa a distância entre os afixos Z e Z0 de z e z0, respectivamente. Como tal, os pontos do plano complexo que satisfazem a equação |z − z0| = ε, ε > 0, são os pontos da circunferência de centro z0 e raio ε. Eixo real ε |z-z0|=ε z0 • Eixo imaginário Exemplo 4 1 A condição |z| = 1 é a equação da circunferência de centro z0 = 0 e raio ε = 1. 2 A condição |z − 1 + 3i| = 6 é a equação da circunferência de centro z0 = 1 − 3i e raio ε = 6. 3 A condição |z| ≤ 1 caracteriza o círculo de centro z0 = 0 e raio ε = 1, designado por círculo unitário na origem.
  • 4. 1.1. FUNÇÕES COMPLEXAS DE VARIÁVEL COMPLEXA 3 Exemplo 5 1 Seja A o conjunto definido pela condição Re(z) > 2. Esta condição define um semiplano direito no plano complexo. O conjunto A é constituído pelos números complexos z = x + yi com x > 2. Trata-se de um conjunto aberto. 2 l Re(z)>2 Eixo real Eixo imaginário 2 O conjunto A definido pela condição 1 < |z − 2 − 3i| < 2 é um conjunto aberto. • 2+3i 1 3 4 i 2i 4i 5i Eixo real Eixo imaginário Trata-se do conjunto dos pontos z do plano complexo cuja distância ao ponto z0 = 2 + 3i é superior a 1 mas inferior a 2. Um conjunto deste tipo designa-se por coroa circular aberta. A fronteira de A é {z ∈ C : |z − 2 − 3i| = 1 ∨ |z − 2 − 3i| = 2} , o conjunto dos pontos que pertencem à circunferência de centro z0 = 2 + 3i e raio ε = 2 ou à circunferência de centro z0 = 2 + 3i e raio ε = 1. O conjunto fechado B = {z ∈ C : 1 ≤ |z − 2 − 3i| ≤ 2} , designado por coroa circular fechada, tem a mesma fronteira que A. O conjunto comple- mentar de A é definido pela condição |z − 2 − 3i| ≤ 1 ∨ |z − 2 − 3i| ≥ 2. Exercícios resolvidos 1. Indique o domínio das seguintes funções complexas de variável complexa:
  • 5. 4 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS (a) f(z) = z z + 3i ; (b) f(z) = 1 z2 + 2 ; (c) f(z) = x x2 + y2 + ixy; (d) f(z) = ln x + (x − 2y) i. 2. Determine as funções parte real e parte imaginária das seguintes funções complexas de variável complexa: (a) f(z) = 2iz + 6z; (b) g(z) = |z|2 ; (c) h(z) = z/z. Calcule f(1 + 3i), g(−3i) e h(2 − 2i). 3. Determine o conjunto dos números complexos que satisfazem as seguintes condições: (a) Re(z + 1) = 4; (b) |z + 1| − |z − 1| = 4. 4. Averigúe se os conjuntos de números complexos, caracterizados pelas seguintes condições, são abertos ou fechados, conexos ou não conexos: (a) |z| < 2; (b) Re(z + 1) ≥ 4; (c) |Im z| > 1 ∧ |z| < 5. Propostas de resolução 1. (a) D = {z ∈ C : z + 3i 6= 0} = {z ∈ C : z 6= −3i} = C {−3i} . (b) O domínio desta função é D = © z ∈ C : z2 + 2 6= 0 ª . Dado que z2 + 2 = 0 ⇔ z2 = −2 = 2cis(−π) ⇔ z = p 2cis(−π) = √ 2cis µ −π 2 + kπ ¶ , k = 0, 1 ⇔ z0 = √ 2cis µ −π 2 ¶ = − √ 2i ∨ z1 = √ 2cis ³π 2 ´ = √ 2i, temos D = C © − √ 2i, √ 2i ª . (c) O domínio desta função é D = © z = x + iy ∈ C : x2 + y2 6= 0 ª . Mas x2 + y2 = 0 ⇔ x = 0 ∧ y = 0 ⇔ z = 0. Logo, D = C {0} . (d) Recordemos que o domínio da função real de variável real logaritmo neperiano, ln x, é o conjunto R+ . Logo, o conjunto dos pontos para os quais faz sentido calcular ln x + (x − 2y) i é D = {z = x + iy ∈ C : x > 0} , ou seja, é o conjunto dos pontos do semiplano direito aberto do plano complexo.
  • 6. 1.1. FUNÇÕES COMPLEXAS DE VARIÁVEL COMPLEXA 5 2. Seja z = x + iy. (a) Temos f(z) = 2i (x + yi)+6 (x − yi) = −2y +6x+(2x−6y)i. Logo, u(x, y) = −2y +6x e v(x, y) = 2x − 6y. Como u(1, 3) = −6 + 6 = 0 e v(x, y) = 2 − 18 = −16, temos f(1 + 3i) = 0 − 16i = −16i. Alternativamente, podemos calcular directamente f(1 + 3i) = 2i (1 + 3i) + 6(1 − 3i) = −6 + 6 + (2 − 18)i = −16i. (b) g(z) = |x + iy|2 = x2 + y2 . Então, u(x, y) = x2 + y2 e v(x, y) = 0 e g(−3i) = u(0, −3) + iv(0, −3) = 02 + (−3) 2 + i0 = 9. (c) h(z) = x + iy x − iy = (x + iy) (x + iy) (x − iy) (x + iy) = x2 − y2 x2 + y2 + 2xy x2 + y2 i. Logo, u(x, y) = ¡ x2 − y2 ¢ / ¡ x2 + y2 ¢ , v(x, y) = 2xy/ ¡ x2 + y2 ¢ e h(2 − 2i) = u(2, −2) + iv(2, −2) = 22 − (−2) 2 22 + (−2)2 + 2 · 2 (−2) 22 + (−2)2 i = 0 + (−1) i = −i. 3. Seja z = x + yi. (a) Dado que Re(z + 1) = 4 ⇔ Re(x − yi + 1) = 4 ⇔ x + 1 = 4 ⇔ x = 3, a condição Re(z + 1) = 4 representa o conjunto dos pontos do plano complexo na recta vertical de equação x = 3. (b) Temos |z + 1| − |z − 1| = 4 ⇔ |x + 1 + yi| − |x − 1 + yi| = 4 ⇔ p (x + 1)2 + y2 − p (x − 1)2 + y2 = 4 ⇔ p (x + 1)2 + y2 = 4 + p (x − 1)2 + y2 ⇔ (x + 1)2 + y2 = 16 + (x − 1)2 + y2 + 8 p (x − 1)2 + y2 ⇔ x2 + 2x + 1 = 16 + x2 − 2x + 1 + 8 p (x − 1)2 + y2 ⇔ x − 4 = 2 p (x − 1)2 + y2 ⇔ (x − 4) 2 = 4 £ (x − 1)2 + y2 ¤ ∧ x − 4 ≥ 0 ⇔ x2 − 8x + 16 = 4x2 − 8x + 4 + 4y2 ∧ x ≥ 4 ⇔ 3x2 + 4y2 = 12 ∧ x ≥ 4 ⇔ x2 4 + y2 3 = 1 ∧ x ≥ 4.
  • 7. 6 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS Atendendo a que a elipse x2 /4 + y2 /3 = 1 não intersecta o semiplano direito x ≥ 4, podemos concluir que o conjunto dos números complexos que satisfazem a condição |z + 1| − |z − 1| = 4 é vazio. 4. (a) A condição |z| < 2 representa o interior do círculo de centro em z = 0 e raio r = 2. Trata-se de um conjunto aberto e conexo. (b) Do exercício 3(a) concluímos que Re(z + 1) ≥ 4 ⇔ x ≥ 3. O conjunto de pontos que verifica esta condição é um semiplano fechado e conexo. (c) Se z = x + iy então |Im z| > 1 ∧ |z| ≤ 5 ⇔ |y| > 1 ∧ |z| < 5 ⇔ (y < −1 ∨ y > 1) ∧ |z| < 5 Trata-se da intersecção de cada semiplano, y < −1 ou y > 1, com o interior do círculo de centro em z = 0 e raio r = 5. Logo, o conjunto dos pontos caracterizados pela condição |Im z| > 1 ∧ |z| < 5 é um conjunto aberto e não conexo. 1.2 Limites e continuidade As definições de limite e continuidade de uma função complexa de variável complexa num ponto são análogas às conhecidas no cálculo real. Consideremos uma função f : D → C definida em D ⊂ C. Seja z0 ∈ C tal que f está definida numa certa vizinhança de z0 (não necessariamente no ponto z0). Definição 1 Diz-se que f tem limite L no ponto z = z0 (ou que o número complexo L é o limite de f quando z se aproxima do ponto z0), e denota-se lim z→z0 f(z) = L, se para qualquer δ > 0 existe ε > 0 tal que |f(z) − L| < δ sempre que 0 < |z − z0| < ε. Se existe o limite de f no ponto z0 então este limite é único. Proposição 1 Propriedades operacionais do limite Sejam f e g funções complexas de var- iável complexa. Se existem os limites de f e g no ponto z0, são válidas as seguintes igualdades:
  • 8. 1.2. LIMITES E CONTINUIDADE 7 (a) lim z→z0 (f(z) ± g(z)) = lim z→z0 f(z) ± lim z→z0 g(z); (b) lim z→z0 (f(z) · g(z)) = lim z→z0 f(z) · lim z→z0 g(z); (c) lim z→z0 f(z)/g(z) = lim z→z0 f(z)/ lim z→z0 g(z), desde que lim z→z0 g(z) 6= 0. Proposição 1 Sejam f : D → C uma função complexa de variável complexa e z0 = x0 + y0i tal que f está definida numa certa vizinhança de z0. Sendo u(x, y) e v(x, y) as partes real e imaginária de f demonstra-se (exercício 1) que, para z = x + yi, (1.1) lim z→z0 f(z) = lim (x,y)→(x0,y0) u(x, y) + i lim (x,y)→(x0,y0) v(x, y), onde os dois últimos limites são de funções reais de duas variáveis reais. Definição 2 Sejam f : D → C uma função complexa de variável complexa e z0 ∈ D tal que f está definida numa certa vizinhança de z0. A função f diz-se contínua em z0 se lim z→z0 f(z) = f(z0). A função f diz-se contínua se for contínua em todos os pontos do seu domínio D. Nota 2 Resulta da proposição anterior que a soma f + g, a diferença f − g e o produto fg de funções contínuas em z0 é ainda uma função contínua em z0. Se g(z0) 6= 0 o mesmo se verifica para o quociente f/g. Além disso, podemos ainda concluir que f é contínua em z0 = x0 + y0i se e só se as funções reais de variáveis reais u e v são contínuas em (x0, y0). Deste modo, o estudo da continuidade de funções complexas reduz-se ao estudo da continuidade de funções reais de variáveis reais. Exercícios resolvidos 1. Seja f : D → C uma função complexa de variável complexa, f(x + yi) = u(x, y) + v(x, y)i, e seja z0 um ponto interior a D. Mostre que, para z = x + yi e z0 = x0 + y0i, se tem lim z→z0 f(z) = lim (x,y)→(x0,y0) u(x, y) + i lim (x,y)→(x0,y0) v(x, y). 2. Calcule os seguintes limites: (a) lim z→−1+2i ¡ 3xy + i(x − y2 ) ¢ ; (b) lim z→1+i z2 − 5 iz ; (c) lim z→i z ¡ z2 + 1 ¢ z − i .
  • 9. 8 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS 3. Mostre, recorrendo à definição, que limz→−i 1/z = i. 4. Verifique que a função f(z) = z é contínua em C. 5. Mostre que a função f : C −→ C definida por f(z) = ⎧ ⎨ ⎩ z2 |z2| se z 6= 0 0 se z = 0 não é contínua em z = 0. Propostas de resolução 1. Assumamos, em primeiro lugar, que existem os limites lim (x,y)→(x0,y0) u(x, y) = u0 e lim (x,y)→(x0,y0) v(x, y) = v0. Para cada δ > 0 existem, então, números positivos ε1 e ε2 tais que (1.2) |u(x, y) − u0| < δ 2 sempre que 0 < q (x − x0)2 + (y − y0)2 < ε1 e (1.3) |v(x, y) − v0| < δ 2 sempre que 0 < q (x − x0)2 + (y − y0)2 < ε2. Seja ε = min {ε1, ε2}. Atendendo a que |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)| = |u(x, y) − u0 + (v(x, y) − v0) i| ≤ |u(x, y) − u0| + |v(x, y) − v0| e q (x − x0) 2 + (y − y0) 2 = |(x − x0) + (y − y0) i| = |(x + yi) − (x0 + y0i)| segue de (1.2) e (1.3) que |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)| < δ 2 + δ 2 = δ sempre que 0 < |(x + yi) − (x0 + y0i)| < ε. Concluímos, então, que existe o limite limz→z0 f(z) = u0 + iv0. Reciprocamente, suponhamos que existe o limite limz→z0 f(z) = w0 com w0 = u0 +iv0. Para cada δ > 0 sabemos, então, que existe ε > 0 tal que (1.4) |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)| < δ
  • 10. 1.2. LIMITES E CONTINUIDADE 9 sempre que 0 < |(x + yi) − (x0 + y0i)| < ε. Dado que |u(x, y) − u0| ≤ |u(x, y) − u0 + (v(x, y) − v0) i| = |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)| , |v(x, y) − v0| ≤ |u(x, y) − u0 + (v(x, y) − v0) i| = |u(x, y) + v(x, y)i − (u0 + v0i)| e |(x + yi) − (x0 + y0i)| = |(x − x0) + (y − y0) i| = q (x − x0) 2 + (y − y0) 2 , segue de (1.4) que |u(x, y) − u0| < δ e |v(x, y) − v0| < δ, sempre que 0 < q (x − x0) 2 + (y − y0) 2 < ε. Isto mostra que existem os limites lim(x,y)→(x0,y0) u(x, y) = u0 e lim(x,y)→(x0,y0) v(x, y) = v0. 2. (a) Comecemos por observar que u(x, y) = 3xy e v(x, y) = x − y2 . Atendendo ao exercício 1, lim z→−1+2i ¡ 3xy + i(x − y2 ) ¢ = lim x→−1 y→2 3xy + i lim x→−1 y→2 (x − y2 ) = ¡ 3 (−1) 2 + i ¡ −1 − 22 ¢¢ = −6 − 5i. (b) Recorrendo às propriedades operacionais dos limites, lim z→1+i z2 − 5 iz = lim z→1+i (1 + i) 2 − 5 i · (1 + i) = −5 + 2i −1 + i = 7 2 + 3 2 i. (c) Substituindo z por i, obtemos uma indeterminação do tipo 0/0. No entanto, se obser- varmos que z2 + 1 = (z − i) (z + i), podemos calcular facilmente o limite: lim z→i z ¡ z2 + 1 ¢ z − i = lim z→i z (z + i) (z − i) z − i = lim z→i z (z + i) = −2. 3. É preciso que mostrar que dado δ > 0 existe um ε > 0 tal que ¯ ¯ ¯ ¯ 1 z − i ¯ ¯ ¯ ¯ < δ sempre que |z − (−i)| = |z + i| < ε.
  • 11. 10 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS Escrevendo |1/z − i| em função de |z + i|, e usando as propriedades do módulo, obtemos ¯ ¯ ¯ ¯ 1 z − i ¯ ¯ ¯ ¯ = ¯ ¯ ¯ ¯ 1 − iz z ¯ ¯ ¯ ¯ = ¯ ¯ ¯ ¯ −i (z + i) z ¯ ¯ ¯ ¯ = ¯ ¯ ¯ ¯(z + i) −i z ¯ ¯ ¯ ¯ = |z + i| ¯ ¯ ¯ ¯ −i z ¯ ¯ ¯ ¯ = |z + i| 1 |z| . Dado que z → −i, podemos supor que |z| > 1/2. Como tal, ¯ ¯ ¯ ¯ 1 z − i ¯ ¯ ¯ ¯ = |z + i| 1 |z| < 2 |z + i| . Mas para que |z| > 1/2 é necessário que |z + i| < ε = 1/2. De facto, |z| = |z + i − i| = |(−i) + (z + i)| ≥ |−i| − |z + i| = 1 − |z + i| > 1 − 1/2 = 1/2. Escolhendo ε = min {δ/2, 1/2}, sempre que |z + i| < ε, garantimos que ¯ ¯ ¯ ¯ 1 z − i ¯ ¯ ¯ ¯ < 2 |z + i| < δ. 4. A função complexa de variável complexa f(z) = z = x − yi tem por domínio o conjunto C. Dado z0 ∈ C, lim z→z0 z = limx→x0 y→y0 (x − yi) = x0 − y0i = z0. Logo, f é contínua. 5. Analisemos se limz→0 f(z) = f(0). Temos f(0) = 0 e lim z→0 f(z) = lim z→0 z2 |z2| = lim x→0 y→0 x2 − y2 + 2xyi x2 + y2 = lim x→0 y→0 x2 − y2 x2 + y2 + i lim x→0 y→0 2xy x2 + y2 . Relativamente ao 1o dos limites, calculemos os respectivos limites sucessivos (ou iterados): lim y→0 µ lim x→0 x2 − y2 x2 + y2 ¶ = lim y→0 −y2 y2 = lim y→0 (−1) = −1 lim x→0 µ lim y→0 x2 − y2 x2 + y2 ¶ = lim x→0 x2 x2 = lim y→0 1 = 1. A obtenção de dois limites diferentes permite concluir que não existe o limx→0,y→0 ¡ x2 − y2 ¢ / ¡ x2 + y2 ¢ . Como tal, não existe o limz→0 f(z) e, logo, a função f não é contínua no ponto z = 0.
  • 12. 1.3. DERIVAÇÃO E ANALITICIDADE 11 1.3 Derivação e analiticidade Definição 3 Seja f uma função complexa de variável complexa definida num conjunto aberto D e seja z0 ∈ D. Define-se a derivada de f em z0, e denota-se por f0 (z0) (ou df/dz ou dw/dz) como sendo o limite f0 (z0) = lim z→z0 f(z) − f(z0) z − z0 (caso exista). Se f tem derivada em z0 (i.e., se este limite existe) então f diz-se diferenciável em z0. Escrevendo ∆z = z − z0, a definição é equivalente à expressão f0 (z0) = lim ∆z→0 f (z0 + ∆z) − f (z0) ∆z Exemplo 6 Seja f(z) = 2x + 3yi de domínio C. Vejamos que f não é diferenciável em nenhum ponto z0 = x0 + iy0. Calculemos o limite respectivo, considerando ∆z = ∆x + i∆y, onde ∆x = x − x0 e ∆y = y − y0: f0 (z0) = lim ∆z→0 2(x0 + ∆x) + 3(y0 + ∆y)i − (2x0 + 3y0i) ∆x + i∆y = lim ∆z→0 2∆x + 3i∆y ∆x + i∆y . Suponhamos que ∆z → 0 ao longo de uma recta horizontal (caminho I). Então ∆y = 0 e o valor do limite (direccional) é lim ∆z→0 2∆x + 3i∆y ∆x + i∆y = lim ∆x→0 2∆x ∆x = 2. Por outro lado, se escolhermos outra direcção, por exemplo que ∆z → 0 ao longo de uma recta vertical (caminho II), temos ∆x = 0 e o valor do limite (direccional) é lim ∆z→0 2∆x + 3i∆y ∆x + i∆y = lim ∆y→0 3i∆y i∆y = 3. I II z0+Δz z0 Δy Δx • • A obtenção de dois limites direccionais diferentes permite concluir que não existe o limite pretendido.
  • 13. 12 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS Proposição 2 Se a função f : D → C é diferenciável em z0 então f é contínua em z0. Note- mos que, tal como no cálculo real, o recíproco não é verdadeiro: existem funções contínuas num determinado ponto do seu domínio que não têm derivada nesse ponto. A análise complexa estuda essencialmente as funções complexas de variável complexa que são diferenciáveis nalguma região do seu domínio. Definição 4 Seja f uma função complexa de variável complexa definida num conjunto aberto D e seja z0 ∈ D. A função f diz-se analítica em z0 se é diferenciável em z0 e numa certa vizinhança de z0. Se f é analítica em todos os pontos de D então diz-se analítica (regular ou holomorfa) em D. Proposição 3 Seja D ⊆ C um conjunto aberto e sejam f e g funções analíticas em D. São válidas as seguintes propriedades: (a) af(z) + bg(z) é analítica em D e [af(z) + bg(z)]0 = af0 (z) + bg0 (z), para quaisquer números complexos a e b (linearidade da derivada); (b) f(z)g(z) é analítica em D e [f(z)g(z)] 0 = f0 (z)g(z) + f(z)g0 (z); (c) Se g(z) 6= 0 então f(z)/g(z) é analítica em D e µ f(z) g(z) ¶0 = f0 (z)g(z) − f(z)g0 (z) g2(z) ; (d) Se n ∈ N então fn (z) é analítica em D e [fn (z)]0 = nfn−1 (z)f0 (z). • Sabemos, por (d), que as potências inteiras não negativas 1, z, z2 , z3 ,... são analíticas em C. Podemos então concluir, por (a), que toda a função polinomial f(z) = cnzn + cn−1zn−1 + ... + c2z2 + c1z + c0 é inteira e a sua derivada é f0 (z) = ncnzn−1 + (n − 1)cn−1zn−2 + ... + 2c2z + c1. Quanto ao quociente de duas funções polinomiais f(z) = anzn + ... + a2z2 + a1z + a0 bmzm + ... + b2z2 + b1z + b0 , designado por função racional, é analítica em todo o seu domínio, ou seja, no conjunto aberto © z ∈ C : bmzm + ... + b2z2 + b1z + b0 6= 0 ª .
  • 14. 1.3. DERIVAÇÃO E ANALITICIDADE 13 Proposição 4 Regra da derivação da função composta (ou regra da cadeia) Sejam f : A → C e g : B → C funções analíticas nos abertos A e B, respectivamente, tais que f(A) ⊆ B. Então a função g ◦ f : A → C definida por (g ◦ f) (z) = g(f(z)) é analítica em A e (g ◦ f)0 (z) = g0 (f(z))f0 (z). Exercícios resolvidos 1. Calcule as derivadas das seguintes funções: (a) f(z) = 2z4 − z3 + 10iz; (b) g(z) = (2z + 3) 4 ; (c) h(z) = 1 + (2 − i) z 2z + 9 ; (d) j(z) = z + 1/z. 2. Determine o conjunto dos pontos do plano complexo onde a função f(z) = 1/ £¡ z3 − 1 ¢ ¡ z2 + 2 ¢¤ é analítica. 3. Averigúe se a função f : C → C definida por f(z) = ⎧ ⎨ ⎩ x3 (1 + i) − y3 (1 − i) x2 + y2 se z 6= 0 0 se z = 0 é diferenciável na origem. Propostas de resolução 1. As funções f e g são polinomiais e logo, o seu domínio é C. A função h é uma função racional, cujo domínio é o conjunto dos pontos tais que 2z + 9 6= 0, ou seja, C {−9/2}. Da mesma forma, a função j (designada usualmente por função de Joukowski) é também racional e tem por domínio o conjunto C {0}. Mais, estas funções são diferenciáveis nos seus domínios. Para obter a expressão da derivada podemos simplesmente usar as regras de derivação: (a) f0 (z) = 2 ¡ z4 ¢0 − ¡ z3 ¢0 + 10i (z) 0 = 8z3 − 3z2 + 10i, ∀z ∈ C; (b) g0 (z) = h (2z + 3)4 i0 = 4 (2z + 3)3 2 = 8 (2z + 3)3 , ∀z ∈ C; (c) h0 (z) = (1 + (2 − i) z)0 (2z + 9) − (1 + (2 − i) z) (2z + 9)0 (2z + 9) 2 = (2 − i) (2z + 9) − (1 + (2 − i) z) · 2 (2z + 9)2 = 16 − 9i (2z + 9)2 , ∀z ∈ C {−9/2} ; (d) j0 (z) = £ z + z−1 ¤0 = 1 + (−1)z−2 = 1 − 1 z2 , ∀z ∈ C {0} . 2. A função f(z) = 1/ £¡ z3 − 1 ¢ ¡ z2 + 2 ¢¤ é racional e tem por domínio o conjunto aberto D = © z ∈ C : z3 − 1 6= 0 ∧ z2 + 2 6= 0 ª .
  • 15. 14 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS Conforme visto no exemplo 22.1 da secção 1.2, a equação z3 = 1 tem por raízes os pontos z0 = 1, z1 = −1/2 + √ 3/2i e z2 = −1/2 − √ 3/2i. Quanto à equação z2 = −2 = 2cis(−π), as suas raízes são dadas pela expressão z = √ 2cis µ − π 2 + 2kπ 2 ¶ , para k = 0, 1, ou seja, z0 = √ 2cis ³ − π 2 ´ = − √ 2i ∨ z1 = √ 2cis ³ − π 2 + π ´ = √ 2i. Concluímos, assim, que D = C n 1, −1/2 + √ 3/2i, −1/2 − √ 3/2i, − √ 2i, √ 2i o . A função f é analítica em D e, para obter a expressão da derivada podemos simplesmente usar as regras de derivação, f0 (z) = h¡ z3 − 1 ¢−1 ¡ z2 + 2 ¢−1 i0 = (−1) ¡ z3 − 1 ¢−2 3z2 ¡ z2 + 2 ¢−1 + ¡ z3 − 1 ¢−1 (−1) ¡ z2 + 2 ¢−2 2z = − 3z2 (z3 − 1) 2 (z2 + 2) − 2z (z3 − 1) (z2 + 2) 2 . 3. Calculando a derivada no ponto z0 = 0 com ∆z = ρ (cos θ + i sin θ), obtemos lim ∆z→0 f(∆z) − f(0) ∆z = lim ρ→0 ρ3 cos3 θ (1 + i) − ρ3 sin3 θ (1 − i) ρ2 cos2 θ + ρ2 sin2 θ − 0 ρ (cos θ + i sin θ) = lim ρ→0 ρ3 £ cos3 θ (1 + i) − sin3 θ (1 − i) ¤ ρ3 (cos θ + i sin θ) = cos3 θ − sin3 θ + i ¡ cos3 θ + sin3 θ ¢ cos θ + i sin θ , que depende do ângulo θ tomado. Concluímos então que f não é diferenciável na origem. 1.4 Equações de Cauchy-Riemann Teorema 1 Cauchy-Riemann Seja f : D −→ C uma função complexa de variável complexa definida por f(z) = u(x, y) + v(x, y)i num conjunto aberto D e z0 = x0 + y0i ∈ D. A derivada f0 (z0) existe (ou seja, f é diferenciável em z0) se e só se as funções u e v são contínuas e têm derivadas de 1a ordem contínuas numa vizinhança de (x0, y0) e, no ponto (x0, y0), satisfazem as equações de Cauchy-Riemann ∂u ∂x (x0, y0) = ∂v ∂y (x0, y0) e ∂u ∂y (x0, y0) = − ∂v ∂x (x0, y0).
  • 16. 1.4. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 15 Assim, se as derivadas parciais de 1a ordem das funções u e v existem, são contínuas e satisfazem as equações de Cauchy-Riemann em D então f é analítica em D. Exemplo 7 Consideremos a função f(z) = 2x + 3yi. Vimos no exemplo 13.1, que f não é diferenciável em nenhum ponto do seu domínio C. De facto, as equações de Cauchy-Riemann não são válidas em nenhum ponto (x, y): ∂u ∂x = 2 6= 3 = ∂v ∂y embora ∂u ∂y = 0 = − ∂v ∂x . Exemplo 8 Consideremos a função f(z) = 2x2 + y + (y2 − x)i definida em C. Temos u(x, y) = 2x2 + y e v(x, y) = y2 − x, donde ∂u ∂x = 4x, ∂v ∂y = 2y e ∂u ∂y = 1 = − ∂v ∂x . Verificamos que as funções u e v são contínuas e têm derivadas contínuas em todos os pontos. Pelo teorema de Cauchy-Riemann, f é diferenciável em todos os pontos em que as equações de Cauchy-Riemann são satisfeitas, ou seja, em pontos (x, y) tais que 4x = 2y ⇔ y = 2x Logo f é diferenciável nos pontos da recta y = 2x. No entanto, dado que nenhum ponto desta recta tem uma vizinhança na qual as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas, f não é analítica em nenhum ponto do seu domínio C. Exemplo 9 Consideremos a função f(z) = z/ |z|2 definida no conjunto aberto D = C {0}. Temos f(z) = x x2 + y2 − y x2 + y2 i, logo, ∂u ∂x = y2 − x2 (x2 + y2) 2 = ∂v ∂y e ∂u ∂y = − 2xy (x2 + y2) 2 = − ∂v ∂x . Portanto, as equações de Cauchy-Riemann são satisfeitas em C {0}. Pelo teorema de Cauchy- Riemann, f é analítica em C {0}. Exercícios resolvidos 1. Verifique as equações de Cauchy-Riemann para a função f(z) = z2 + 3z + 2. 2. Considere a função f(z) = x2 − y2 i. Determine os pontos onde f é diferenciável e mostre que f não é analítica em nenhum ponto do seu domínio. Determine ainda a expressão da derivada nos pontos em que ela existe.
  • 17. 16 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS 3. Determine os subconjuntos do plano complexo onde as seguintes funções são analíticas e calcule as suas derivadas: (a) f(z) = x3 − i(1 − y)3 ; (b) f(z) = z − z; (c) f(z) = ey (cos x + i sin x); (d) f(z) = x2 + y2 i. 4. Prove que as funções f(z) = |z| e g(z) = z não são analíticas em nenhum ponto do seu domínio. 5. Mostre que as equações de Cauchy-Riemann, escritas em coordenadas polares, são dadas por ∂u ∂r = 1 r ∂v ∂θ e ∂v ∂r = − 1 r ∂u ∂θ . Propostas de resolução 1. A função f(z) = z2 + 3z + 2 tem parte real u(x, y) = x2 − y2 + 3x + 2 e parte imaginária v(x, y) = 2xy + 3y. Como ∂u ∂x = 2x + 3, ∂v ∂y = 2x + 3, ∂u ∂y = −2y e ∂v ∂x = 2y, as equações de Cauchy-Riemann são válidas em todos os pontos do domínio C. 2. Temos u(x, y) = x2 e v(x, y) = −y2 . Logo, ∂u ∂x = 2x, ∂v ∂y = −2y e ∂u ∂y = 0 = − ∂v ∂x . Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que 2x = −2y, ou seja, na recta de equação y = −x. Como as funções u, v, ∂u/∂x, ∂u/∂y, ∂v/∂x e ∂v/∂y são contínuas em todos os pontos, concluímos, pelo teorema de Cauchy-Riemann, que f é diferenciável nos pontos da recta y = −x e a derivada é dada por f0 (z) = 2x + 0i = 2x = −2y. No entanto, dado qualquer ponto desta recta, não existe uma vizinhança desse ponto na qual as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas. Logo, f não é analítica em nenhum ponto do seu domínio C. 3. (a) Pretendemos determinar os pontos em que f é diferenciável. Para esta função temos u(x, y) = x3 e v(x, y) = −(1 − y)3 . Logo, ∂u ∂x = 3x2 , ∂v ∂y = 3(1 − y)2 , ∂u ∂y = 0 e ∂v ∂x = 0.
  • 18. 1.4. EQUAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 17 As funções u e v e as suas derivadas parciais de 1a ordem são contínuas em todos os pontos do plano. Então, pelo teorema de Cauchy-Riemann, f é diferenciável em todos os pontos em que as equações de Cauchy-Riemann sejam satisfeitas, isto é, quando 3x2 = 3(1 − y)2 ⇔ x = 1 − y ∨ x = −1 + y, já que ∂u/∂y = 0 = −∂v/∂x é verificado para qualquer (x, y). As condições x = 1 − y e x = −1 + y definem analiticamente rectas. A função f é diferenciável em pontos z = x + yi que pertencem a uma das rectas x = 1 − y ou x = −1 + y. No entanto, dado qualquer ponto destas rectas, não existe uma vizinhança desse ponto na qual as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas. Concluímos então que f não é analítica em nenhum ponto do seu domínio C. A derivada de f nos pontos das rectas x = 1 − y ou x = −1 + y é dada por f0 (z) = 3x2 + 0i = 3x2 = 3(1 − y)2 . (b) À função f(z) = z − z corresponde u(x, y) = 0 e v(x, y) = 2y. Temos ∂u ∂x = 0 6= ∂v ∂y = 2 e ∂u ∂y = 0 = ∂v ∂x = 0. Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann não são válidas qualquer que seja o ponto (x, y). Pelo teorema de Cauchy-Riemann concluímos que f não é analítica (nem diferenciável) em nenhum ponto do seu domínio C. (c) À função f corresponde u(x, y) = ey cos x e v(x, y) = ey sin x. Temos ∂u ∂x = −ey sin x, ∂v ∂y = ey sin x ∂u ∂y = ey cos x e ∂v ∂x = ey cos x. Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que −ey sin x = ey sin x e ey cos x = −ey cos x, ou seja, tais que sin x = 0 e cos x = 0 (notemos que ey 6= 0, ∀y ∈ R). Não e xiste qualquer valor real x tal que sin x = cos x = 0, como tal nenhum ponto do domínio C de f verifica as equações de Cauchy-Riemann. Pelo teorema de Cauchy-Riemann, f não é analítica (nem diferenciável) em nenhum ponto do seu domínio. (d) À função f(z) = x2 + y2 i corresponde u(x, y) = x2 e v(x, y) = y2 . Temos ∂u ∂x = 2x, ∂v ∂y = 2y e ∂u ∂y = 0 = ∂v ∂x .
  • 19. 18 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que 2x = 2y, ou seja, na recta de equação y = x. Como as funções u, v, ∂u/∂x, ∂u/∂y, ∂v/∂x e ∂v/∂y são contínuas em todos os pontos, pelo teorema de Cauchy-Riemann, f é diferenciável nos pontos da recta y = x. A derivada de f nos pontos da recta y = x é dada por f0 (z) = 2x + 0i = 2x = 2y. No entanto, dado qualquer ponto desta recta, não existe uma vi-zinhança desse ponto na qual as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas. Concluímos então que f não é analítica em nenhum ponto do seu domínio C. 4. À função f(z) = |z| corresponde u(x, y) = p x2 + y2 e v(x, y) = 0. Temos ∂u ∂x = x p x2 + y2 , ∂v ∂y = 0, ∂u ∂y = y p x2 + y2 e ∂v ∂x = 0. Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann são válidas em pontos (x, y) tais que x/ p x2 + y2 = 0 e y/ p x2 + y2 = 0, ou seja, no ponto (0, 0). Como as funções u e v e as suas derivadas parciais de 1a ordem são contínuas em todos os pontos, concluímos pelo teorema de Cauchy-Riemann que f é diferenciável no ponto z = 0. A derivada de f neste ponto é dada por f0 (0) = Ã x p x2 + y2 ! (0,0) = Ã −i y p x2 + y2 ! (0,0) = 0, No entanto, não existe uma vizinhança de z = 0 na qual as equações de Cauchy-Riemann sejam válidas. Logo, f não é analítica em nenhum ponto do seu domínio C. À função g(z) = z corresponde u(x, y) = x e v(x, y) = −y. Temos ∂u ∂x = 1, ∂v ∂y = −1, ∂u ∂y = 0 e ∂v ∂x = 0. Verificamos que as equações de Cauchy-Riemann não são válidas, qualquer que seja o ponto (x, y). Pelo teorema de Cauchy-Riemann, concluímos que f não é analítica (nem diferen- ciável) em nenhum ponto do seu domínio C. 5. Temos a seguinte relação entre as coordenadas rectangulares e polares: x = r cos θ e y = r sin θ. Como tal, num ponto z0 = x0 + y0i = r0 cos θ0 + ir0 sin θ0 = r0cisθ0, temos ∂u ∂r (r0, θ0) = ∂u ∂x (x0, y0) cos θ0 + ∂u ∂y (x0, y0) sin θ0, ∂v ∂θ (r0, θ0) = ∂v ∂x (x0, y0) (−r0 sin θ0) + ∂v ∂y (x0, y0)r0 cos θ0.
  • 20. 1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 19 Atendendo às equações de Cauchy-Riemann em coordenadas rectangulares, ∂u ∂r (r0, θ0) = ∂v ∂y (x0, y0) cos θ0 − ∂v ∂x (x0, y0) sin θ0 = 1 r0 µ ∂v ∂y (x0, y0)r0 cos θ0 − ∂v ∂x (x0, y0)r0 sin θ0 ¶ = 1 r0 · ∂v ∂θ (r0, θ0) . De modo análogo, temos ∂u ∂θ (r0, θ0) = ∂u ∂x (x0, y0) (−r0 sin θ0) + ∂u ∂y (x0, y0)r0 cos θ0, ∂v ∂r (r0, θ0) = ∂v ∂x (x0, y0) cos θ0 + ∂v ∂y (x0, y0) sin θ0 donde, atendendo novamente às equações de Cauchy-Riemann em coordenadas rectangulares, ∂v ∂r (r0, θ0) = − ∂u ∂y (x0, y0) cos θ0 + ∂u ∂x (x0, y0) sin θ0 = − 1 r0 µ − ∂u ∂y (x0, y0) (−r0) cos θ0 + ∂u ∂x (x0, y0) (−r0) sin θ0 ¶ = − 1 r0 ∂u ∂θ (r0, θ0) . 1.5 Funções harmónicas Definição 5 Dada uma função u : D −→ R, definida num subconjunto aberto D de R2 , com derivadas parciais de 2a ordem contínuas, designa-se por Laplaciano de u a expressão ∂2 u ∂x2 (x, y) + ∂2 u ∂y2 (x, y) e denota-se por 52 u(x, y). A função u diz-se harmónica se satisfaz a equação 52 u (x, y) = 0, para todo o (x, y) ∈ D, designada por equação de Laplace. Temos então o seguinte resultado: Proposição 5 Seja f(z) = u(x, y) + v(x, y)i uma função complexa de variável complexa. Se f é analítica num conjunto aberto D então u e v são funções harmónicas em D. • Verificamos então que as partes real e imaginária de uma função analítica verificam a equação de Laplace. Esta ligação entre funções analíticas e a equação de Laplace reforça a importância das funções de variável complexa e abre caminho para numerosas aplicações da matemática. Definição 6 Se f = u + iv é uma função analítica definida num conjunto aberto D, então as funções u e v são designadas por harmónicas conjugadas em D.
  • 21. 20 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS Exemplo 2 Consideremos a função polinomial f(z) = z2 . Trata-se de uma função analítica em C a que corresponde u(x, y) = x2 − y2 e v(x, y) = 2xy. Temos ∂u ∂x = 2x, ∂u ∂y = −2y, ∂v ∂x = 2y e ∂v ∂y = 2x, pelo que ∂2 u ∂x2 + ∂2 u ∂y2 = 2 + (−2) = 0 ∂2 v ∂x2 + ∂2 v ∂y2 = 0 + 0 = 0. Isto mostra que u e v são funções harmónicas em C. Além disso, são conjugadas harmónicas por constituírem as partes real e imaginária, respectivamente, da função analítica f(z) = z2 . Proposição 6 Se u é uma função harmónica num conjunto aberto D e z0 ∈ D, então existe uma vizinhança de z0 na qual u = Re(f). Por outras palavras, existe uma função harmónica v definida em D tal que a função definida por f(z) = u(x, y) + v(x, y)i é analítica em D. Exemplo 3 Seja u(x, y) = x3 − 3xy2 . Trata-se de uma função harmónica em todos os pontos do plano ∂2 u ∂x2 = ∂ ∂x (3x2 − 3y2 ) = 6x ∂2 u ∂y2 = ∂ ∂y (−6xy) = −6x. Pela proposição 29, existe uma função f analítica em C (trata-se de uma função inteira) tal que u = Re(f). Determinemos então a função f. Sabemos que f é tal que f(z) = ¡ x3 − 3xy2 ¢ +v(x, y)i, onde a função v(x, y) está por determinar. Pelas equações de Cauchy-Riemann, temos ∂v ∂x = − ∂u ∂y = 6xy o que implica v(x, y) = 3x2 y + c(y). Por outro lado, ∂v ∂y = ∂u ∂x = 3x2 − 3y2 ou seja, ∂ ¡ 3x2 y + c(y) ¢ /∂y = 3x2 − 3y2 . Então, 3x2 + c0 (y) = 3x2 − 3y2 ⇒ c0 (y) = −3y2 ⇒ c(y) = −y3 + K, para qualquer K ∈ R. Obtemos v(x, y) = 3x2 y − y3 + K e, como tal, para z = x + yi, f(z) = x3 − 3xy2 + (3x2 y − y3 + K)i. O exemplo apresentado mostra que a função harmónica conjugada de uma dada função har- mónica u está univocamente determinada a menos de uma constante aditiva real.
  • 22. 1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 21 Exercícios resolvidos 1. Considere a função u(x, y) = x3 − 3xy2 . Encontre uma função conjugada harmónica v que verifique v(0, 0) = 2. 2. Determine os conjuntos nos quais as seguintes funções são harmónicas: (a) u(x, y) = Re(z + 1/z); (b) u(x, y) = −y − 1 x2 + (y + 1)2 . 3. Encontre, se possível, uma função f inteira tal que Re(f) = x2 − 3x − y2 . Propostas de resolução 1. Podemos mostrámos que v(x, y) = 3x2 y − y3 + K para qualquer constante K ∈ R. Para que v verifique v(0, 0) = 2 a constante real K não pode ser arbitrária. De facto, v(0, 0) = 2 ⇔ 3 · 0 − 0 + K = 2 ⇔ K = 2. A função v pedida é v(x, y) = 3x2 y − y3 + 2. 2. (a) Notemos que u é parte real da função f(z) = z + 1/z, analítica no conjunto aberto C {0}. Então, pela proposição 27, a função u é harmónica em C {0}. (b) A função u não está definida nos pontos para os quais o denominador se anula. Como x2 + (y + 1) 2 = 0 se e só se x = 0 e y = −1, o domínio de u é D = C {−i}. Efectuando os cálculos necessários para z 6= −i, obtemos ∂2 u ∂x2 = 2 (y + 1) ³ x2 + (y + 1)2 ´ − 8x2 (y + 1) ³ x2 + (y + 1) 2 ´3 , ∂2 u ∂y2 = 2 (y + 1) ³ x2 + (y + 1) 2 ´ − 4 (y + 1) ³ (y + 1) 2 − x2 ´ ³ x2 + (y + 1)2 ´3 . Então, ∂2 u ∂x2 + ∂2 u ∂y2 = 0 ⇔ 4 (y + 1) ³ x2 + (y + 1)2 ´ − 4 (y + 1) ³ x2 + (y + 1)2 ´ = 0 ⇔ 0 = 0. Logo, u é harmónica no seu domínio, isto é, em D = C {−i}. Alternativamente, se observarmos que u(x, y) é parte imaginária da função analítica em C {−i}, f(z) = 1/ (z + i), concluímos de imediato que u é harmónica neste conjunto.
  • 23. 22 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS 3. A função u é harmónica, ∂2 u ∂x2 = ∂ ∂x (2x − 3) = 2 ∂2 u ∂y2 = ∂ ∂y (−2y) = −2 e está definida em todo o conjunto C. Pela proposição 29 existe v(x, y) tal que u(x, y)+v(x, y)i é analítica em C. Pelas equações de Cauchy-Riemann, temos ∂v ∂x = − ∂u ∂y = 2y, que implica v(x, y) = 2xy + c(y). Por outro lado, ∂v ∂y = ∂u ∂x = 2x − 3, ou seja, ∂ (2xy + c(y)) /∂y = 2x − 3. Então, 2x + c0 (y) = 2x − 3 ⇔ c0 (y) = −3 ⇒ c(y) = −3y + K, para qualquer constante real K. Obtemos v(x, y) = 2xy − 3y + K e, escolhendo K = 0, vem v(x, y) = 2xy − 3y e f(z) = x2 − 3x − y2 + (2xy − 3y) i. Exercícios propostos 1. Determine as funções parte real e parte imaginária de cada uma das seguintes funções com- plexas de variável complexa: (a) f(z) = z2 + 3z − 2i; (b) f(z) = z + 2 z − 1 ; (c) f(z) = 3iz + 4(i + z); (d) f(z) = z − i |z − i| . 2. Caracterize geometricamente os conjuntos definidos pelas seguintes condições e indique quais os que são regiões: (a) |z + 4| > 2; (b) (Im z) 2 ≤ 4; (c) 1 < |Re z| ≤ 2; (d) 3π/4 < arg z < π. 3. Estude as seguintes funções definidas em C quanto à continuidade na origem: (a) f(z) = ⎧ ⎨ ⎩ Im z |z| se z 6= 0 0 se z = 0 ; (b) f(z) = ⎧ ⎨ ⎩ Re z 1 + |z| se z 6= 0 0 se z = 0 . 4. Mostre que a função f(z) = − (2xy + 5x) + ¡ x2 − 5y − y2 ¢ i é inteira e calcule f0 (z). 5. Mostre que as funções f(z) = Re z, g(z) = y + xi e h(z) = z2 não são analíticas em nenhum ponto do plano complexo.
  • 24. 1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 23 6. Determine em que pontos as seguintes funções são diferenciáveis. Mostre que não são analíti- cas em nenhum ponto do plano complexo. (a) f(z) = 3x2 y2 − 6x2 y2 i; ; (b) f(z) = x2 − x + y + ¡ y2 − 5y − x ¢ i. 7. Determine o valor da derivada de f no ponto indicado (a) f(z) = (z − i) / (z + i) em i; (b) f(z) = ¡ z4 + 1 ¢ /z4 em − 1 − i. 8. Determine a imagem das funções (a) f(z) = x2 − y + ¡ y2 − x ¢ i, para z na recta x = 1; (b) f(z) = z3 , para z no 1o quadrante ( Re z ≥ 0 e Im z ≥ 0); (c) f(z) = 1 z , para |z| ≥ 1. 9. Determine os valores reais de a e b para os quais a função f(z) = 3x − y + 5 + (ax + by − 3) i é inteira. 10. Mostre que a função u(x, y) = x3 − 3xy2 − 5y é harmónica em R2 e determine uma função conjugada harmónica v. 11. Determine a função analítica f(z) = u(x, y) + v(x, y)i tal que (a) u(x, y) = x2 − y2 ; (b) v(x, y) = 2y(x − 1); (c) u(x, y) = x3 − 3xy2 ; (d) u(x, y) = ln ¡ x2 + y2 ¢ . 12. Determine os valores reais de a e b para os quais as seguintes funções são harmónicas em R2 e determine as funções conjugadas harmónicas. (a) u(x, y) = ax3 + by3 ; (b) u(x, y) = eax cos 5y. 13. Determine, caso existam, os seguintes limites (a) limz→i ¡ 4z3 − 5z2 + 4z + 1 − 5i ¢ ; (b) limz→i ¡ z4 − 1 ¢ / (z − i) ; (c) limz→0 z/z. 14. Mostre que, dada uma função analítica f, são válidas as seguintes expressões para cálculo da derivada f0 = ∂u ∂x − i ∂u ∂y e f0 = ∂v ∂y + i ∂v ∂x . 15. Para x > 0 considere a função f(z) = 1 2 ln(x2 + y2 ) + i arctan y x .
  • 25. 24 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS (a) Use as equações de Cauchy-Riemann para mostrar que f é diferenciável em todo o seu domínio; (b) Mostre que f0 (z) = 1/z; (c) Mostre que a função conjugada f não é diferenciável em nenhum ponto do seu domínio. Soluções 1. (a) u(x, y) = x2 − y2 + 3x − 5, v(x, y) = 2xy + 3y; (b) u(x, y) = x2 + y2 + x − 2 (x − 1) 2 + y2 , v(x, y) = − 3y (x − 1)2 + y2 ; (c) u(x, y) = 4x + 3y, v(x, y) = 3x + 4y + 4; (d) u(x, y) = x x2 + (y − 1)2 , v(x, y) = y − 1 x2 + (y − 1) 2 . 2. (a) Todo o plano complexo excepto o círculo de centro (−4, 0) e raio √ 2; (b) união de dois semiplanos fechados: y ≥ 2 e y ≤ −2; (c) união de duas faixas ilimitadas verticais, definidas pelas condições −2 ≤ x < −1 e 1 < x ≤ 2; (d) porção do plano complexo no 2o quadrante delimitada pelas rectas y = −x e x = 0, excluindo-as. São regiões os conjuntos definidos em (a) e (d). 3. (a) É contínua; (b) 4. f0 (z) = −2y − 5 + 2xi. 5. Usar teorema de Cauchy-Riemann. 6. (a) É diferenciável ao longo dos eixos coordenados; (b) é diferenciável ao longo da recta de equação y = x + 2. 7. (a) −i/2; (b) 15 (1 − i) /2. 8. (a) A parábola de equação v = u2 −2u; (b) os três primeiros quadrantes, incluindo a semirecta y = 0 e x ≥ 0, e a semirecta x = 0 e y ≤ 0; (c) o círculo de centro em z = 0 e raio 1, excluindo o ponto z = 0. 9. a = 1, b = 3. 10. v(x, y) = 3x2 y − y3 + 5x + 3. 11. (a) f(z) = x2 − y2 + (2xy + K) i = z2 + Ki, K ∈ R; (b) f(z) = z2 − 2z + 1 + K, K ∈ R; (c) f(z) = z3 + K, K ∈ R; (d) f(z) = ln ¡ x2 + y2 ¢ + (2 arctan (y/x) + K) i, K ∈ R. 12. (a) a = b = 0, v(x, y) = K, K ∈ R; (b) a = ±5, v(x, y) = ±e±5x sin 5y + K, K ∈ R.
  • 26. 1.5. FUNÇÕES HARMÓNICAS 25 13. (a) 6 − 5i; (b) −4i; (c) não existe.
  • 27. 26 CAPÍTULO 1. FUNÇÕES ANALÍTICAS
  • 28. Capítulo 2 Funções elementares 2.1 A função exponencial Definição 7 Para qualquer z = x + yi ∈ C, define-se a função exponencial de z por ez = ex+yi = ex eyi = ex (cos y + i sin y), que pode também ser denotada por exp z. Nota 3 Quando tomamos z como número real, z = x + 0i, a definição de ez coincide com a definição já conhecida em R: ez = ex+0i = ex (cos 0 + i sin 0) = ex (1 + 0i) = ex . Deste modo, a função exponencial de variável complexa é um prolongamento da função exponencial de variável real. Proposição 7 Propriedades da exponencial Sejam z, w ∈ C. São válidas as seguintes pro- priedades: (a) ez+w = ez · ew ; (b) ez nunca se anula; (c) ¯ ¯ex+iy ¯ ¯ = ex ; (d) ez é uma função periódica, com período 2πi; (e) ez = 1 ⇔ z = 2nπi, para algum n ∈ Z; (f) (ez )n = enz , com n ∈ Z. 27
  • 29. 28 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES Proposição 8 A função exponencial f (z) = ez = ex (cos y + i sin y) é analítica em C e a sua derivada é f0 (z) = ez (ez )0 = ez Exercícios resolvidos 1. Escreva na forma algébrica os números complexos e3+i , e− π 4 i e e2±3πi . 2. Mostre, usando a definição de derivada, que f(z) = ez é uma função inteira (analítica). 3. Resolva a equação ez = −1. 4. Determine o domínio de analiticidade da função g(z) = z2 / (ez − 1). Propostas de resolução 1. Relembramos que z = x + iy ⇔ z = r (cos θ + i sin θ) = r eθi onde r = |z| = p x2 + y2 e θ = arctan ³y x ´ Então temos: e3+i = e3 (cos 1 + i sin 1) = e3 cos 1 + ¡ e3 sin 1 ¢ i; e− π 4 i = e0 ³ cos ³ − π 4 ´ + i sin ³ − π 4 ´´ = − √ 2 2 − √ 2 2 i: e2±3πi = e2 (cos (±3π) + i sin (±3π)) = e2 (−1 + 0i) = −e2 + 0i = −e2 . 2. Dado um complexo arbitrário z0 procedamos ao cálculo, pela definição, da derivada de f em z0 : f0 (z0) = f0 (z0) = lim ∆z→0 f(z0 + ∆z) − f(z0) ∆z = lim ∆z→0 ez0+∆z − ez0 ∆z = lim ∆z→0 ez0 (e∆z − 1) ∆z = ez0 lim ∆z→0 e∆z − 1 ∆z = ez0 visto que lim∆z→0 ¡ e∆z − 1 ¢ /∆z = 1, logo a derivada existe para qualquer z0, logo a função é analítica.
  • 30. 2.2. AS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 29 3. Temos ez = −1 ⇔ ex (cos y + i sin y) = −1 ⇔ ex cos y + (ex sin y) i = −1 ⇔ ex cos y = −1 ∧ sin y = 0 ⇔ ex cos y = −1 ∧ y = kπ, k ∈ Z Se k é par então cos y = 1 e logo, ex cos y = −1 ⇒ ex = −1, o que sabemos ser impossível. Se k é ímpar, dado que cos y = −1, temos ex cos y = −1 ⇒ ex = 1 ⇒ x = 0. Então, ez = −1 ⇔ x = 0 ∧ y = (2n + 1)π, com n ∈ Z. O conjunto S das soluções da equação ez = −1 é dado por S = {(2n + 1)πi : n ∈ Z} . 4. A função g(z) = z2 / (ez − 1) tem por domínio o conjunto D = {z ∈ C : ez − 1 6= 0} . Tratando-se do quociente de duas funções inteiras, a função g(z) é analítica em todos os pontos tais que ez − 1 6= 0, ou seja, em todos os pontos do domínio D. Mas, pela alínea (e) da proposição 3, ez − 1 6= 0 ⇔ ez 6= 1 ⇔ z 6= 2nπi, n ∈ Z. Logo, o domínio de analiticidade da função dada é D = C {z ∈ C : z = 2nπi, n ∈ Z} . 2.2 As funções trigonométricas Definição 8 Para qualquer z ∈ C, definem-se as funções seno e coseno de z por sin z = ezi − e−zi 2i e cos z = ezi + e−zi 2 . Nota 4 Vejamos que se mantêm as propriedades já conhecidas em R. Proposição 9 Propriedades do seno e do coseno Sejam z, w ∈ C. São válidas as seguintes propriedades:
  • 31. 30 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES (a) sin(−z) = − sin z; (b) cos(−z) = cos z; (c) sin2 z + cos2 z = 1; (d) sin(z ± w) = sin z cos w ± cos z sin w; (e) cos(z ± w) = cos z cos w ∓ sin z sin w; (f) sin z e cos z são funções periódicas, com período 2π. Proposição 10 As funções sin z e cos z são analíticas em C e tem lugar as seguintes regras de derivação: (sin z)0 = cos z e (cos z)0 = − sin z Nota 5 Outras funções trigonométricas de variável complexa e as suas derivadas tan z = sin z cos z , onde (tan z) 0 = 1 cos2 z , cos z 6= 0 cot z = cos z sin z , onde (cot z)0 = − 1 sin2 z , sin z 6= 0 sec z = 1 cos z , onde (sec z) 0 = sec z tan z, cos z 6= 0 csc z = 1 sin z , onde (csc z)0 = − csc z cot z, sin z 6= 0 Exercícios resolvidos 1. Mostre que cos z não é analítica em nenhum ponto do seu domínio. 2. Determine as partes real e imaginária das funções seno e coseno. 3. Mostre que |sin z| ≥ |sin x| . 4. Resolva a equação cos z = 2. 5. Mostre que sin(2z) = 2 sin z cos z e cos(2z) = cos2 z − sin2 z. 6. Mostre que ainda é válida em C a fórmula de Euler eiz = cos z + i sin z.
  • 32. 2.2. AS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS 31 Propostas de resolução 1. Dado z = x + yi, cos z = ezi + e−zi 2 = e(x−yi)i + e−(x−yi)i 2 = ey+xi + e−y−xi 2 = ey (cos x + i sin x) + e−y (cos x − i sin x) 2 = (ey + e−y ) cos x + i(ey − e−y ) sin x 2 . A esta função correspondem as partes real e imaginária u(x, y) = (ey + e−y ) cos x 2 e v(x, y) = (ey − e−y ) sin x 2 , respectivamente. As funções u e v não verificam as equações de Cauchy-Riemann. Por exemplo, ∂u ∂x = ∂v ∂y ⇔ − ey + e−y 2 sin x 2 = (ey + e−y ) sin x 2 ⇔ − ey + e−y 2 = ey + e−y ⇔ ey + e−y = 0, trata-se de uma equação impossível. 2. Atendendo às expressões de seno e coseno hiperbólicos conhecidas em R, podemos escrever sin z = ezi − e−zi 2i = e−y+xi − ey−xi 2i = e−y (cos x + i sin x) − ey (cos x − i sin x) 2i = (e−y − ey ) cos x + i (e−y + ey ) sin x 2i = e−y + ey 2 sin x + i ey − e−y 2 cos x = sin x cosh y + i cos x sinh y. Logo, u(x, y) = sin x cosh y e v(x, y) = cos x sinh y. Analogamente, cos z = ezi + e−zi 2 = e−y+xi + ey−xi 2 = e−y (cos x + i sin x) + ey (cos x − i sin x) 2 = (e−y + ey ) cos x + i (e−y − ey ) sin x 2 = e−y + ey 2 cos x − i ey − e−y 2 sin x = cos x cosh y − i sin x sinh y, donde u(x, y) = cos x cosh y e v(x, y) = sin x sinh y.
  • 33. 32 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES 3. Notemos que, dado y ∈ R, temos cosh2 y − sinh2 y = µ e−y + ey 2 ¶2 − µ ey − e−y 2 ¶2 = e−2y + 2e−y ey + e2y − ¡ e2y − 2ey e−y + e−2y ¢ 4 = 4e−y+y 4 = 1. Atendendo ao exercício 2, podemos escrever |sin z| 2 = |sin x cosh y + i cos x sinh y| 2 = (sin x cosh y)2 + (cos x sinh y)2 = sin2 x(1 + sinh2 y) + cos2 x sinh2 y = sin2 x + ¡ sin2 x + cos2 x ¢ sinh2 y = sin2 x + sinh2 y = ¯ ¯sin2 x ¯ ¯ + sinh2 y. Logo, |sin z|2 ≥ |sin x|2 e, dado que |sin z| e |sin x| representam números reais positivos, concluímos que |sin z| ≥ |sin x|. De modo análogo prova-se que |cos z| 2 = cos2 x + sinh2 y, o que permite concluir que |cos z| ≥ |cos x|, para z = x + yi. 4. Temos cos z = 2 ⇔ ezi + e−zi 2 = 2 ⇔ ezi + e−zi = 4. Multiplicando por ezi 6= 0, obtemos a equação quadrática cos z = 2 ⇔ ¡ ezi ¢2 − 4ezi + 1 = 0 ⇔ ezi = 4 ± √ 16 − 4 2 = 2 ± √ 3. Então, e(x+yi)i = e−y+xi = e−y (cos x + i sin x) = 2 ± √ 3, o que permite concluir que e−y cos x = 2 ± √ 3 ∧ e−y sin x = 0.
  • 34. 2.3. AS FUNÇÕES HIPERBÓLICAS 33 De e−y sin x = 0 concluímos que sin x = 0, ou seja, que x = nπ, para n ∈ Z. Se n ímpar então cos x = −1 e logo −e−y = 2 ± √ 3 ⇔ e−y = −2 ± √ 3, o que sabemos ser impossível, visto que −2 ± √ 3 < 0. Se n par, cos x = 1 e logo, e−y = 2 ± √ 3 ⇔ −y = ln ³ 2 ± √ 3 ´ ⇔ y = − ln ³ 2 ± √ 3 ´ . Atendendo a que ln ¡ 2 − √ 3 ¢ = − ln ¡ 2 + √ 3 ¢ , podemos concluir que as soluções da equação são z = 2kπ ± i ln ¡ 2 + √ 3 ¢ . Notemos que esta equação é impossível em R. 5. sin(2z) = sin(z + z) = sin z cos z + cos z sin z = 2 sin z cos z; cos(2z) = cos(z + z) = cos z cos z − sin z sin z = cos2 z − sin2 z. 6. cos z + i sin z = ezi + e−zi 2 + i ezi − e−zi 2i = 2ezi 2 = ezi . 2.3 As funções hiperbólicas Recordemos que para x ∈ R, as funções hiperbólicas seno e coseno são definidas através da função exponencial de variável real por (2.1) sinh x = ex − e−x 2 e cosh x = ex + e−x 2 . As respectivas funções de variável complexa definem-se de modo análogo. Definição 9 Para qualquer z ∈ C, definem-se as funções seno hiperbólico e coseno hiperbólico de z por sinh z = ez − e−z 2 e cosh z = ez + e−z 2 . Proposição 11 As funções seno e coseno hiperbólico são analíticas em C e são válidas as seguintes fórmulas de derivação: (sinh z)0 = ez + e−z 2 = cosh z e (cosh z)0 = ez − e−z 2 = sinh z. • Também se podem definir as funções tangente e cotangente hiperbólicas de variável complexa, a saber tanh z = sinh z cosh z , coth z = cosh z sinh z = 1 tanh z , assim como a função secante hiperbólica, 1/ cosh z, e a função cosecante hiperbólica, 1/ sinh z. Proposição 12 As funções hiperbólicas tem asa seguintes propriedades
  • 35. 34 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES 1. As funções seno e coseno hiperbólico são periódicas de período 2πi 2. sinh (iz) = i sin (z) , cosh (iz) = cos z 3. sin (iz) = i sinh (z) , cos (iz) = cosh (z) 4. sinh (z) = sinh (x) cos (y) + i cosh (x) sin (y) 5. cosh (z) = cosh (x) cos (y) + i sinh (x) sin (y) 6. sinh (z) = 0 ⇔ z = −nπi, n ∈ N 7. cosh (z) = 0 ⇔ z = − (2n + 1) π 2 i, n ∈ N Exercícios resolvidos 1. Determine, às relações entre as funções trigonométricas e as funções hiperbólicas, as partes real e imaginária das funções seno e coseno. 2. Mostre que cos z = cosh(iz). 3. Mostre que cosh2 z − sinh2 z = 1. 4. Mostre que 2πi é o período das funções seno e coseno hiperbólicos. Propostas de resolução 1. sin z = sin(x + yi) = sin x cos(yi) + cos x sin(yi) = sin x cosh y + i cos x sinh y cos z = cos(x + yi) = cos x cos(yi) − sin x sin(yi) = cos x cosh y − i sin x sinh y. 2. cos(iz) = e(iz)i + e−(iz)i 2 = e−z + ez 2 = cosh z. 3. cosh2 z − sinh2 z = (ez + e−z ) 2 4 − (ez − e−z ) 2 4 = e2z + 2ez−z + e−2z − e2z + 2ez−z − e−2z 4 = 1. 4. Temos sinh(z + 2πi) = sinh(x + (2π + y)i) = sinh x cos(2π + y) + i cosh x sin(2π + y) = sinh x cos y + i cosh x sin y = sinh z,
  • 36. 2.4. A FUNÇÃO LOGARITMO 35 assim como cosh(z + 2πi) = cosh(x + (2π + y)i) = cosh x cos(2π + y) + i sinh x sin(2π + y) = cosh x cos y + i sinh x sin y = cosh z. Não seria de esperar outro valor para o período, dado que estas funções são definidas através da função exponencial. 2.4 A função logaritmo No caso das funções reais, a função logaritmo neperiano é simplesmente a função inversa da função exponencial neperiana. Dados x, y ∈ R temos x = ln y se e só se ex = y. O caso complexo é mais delicado. A função exponencial é periódica de período 2πi e, como tal, não é invertível em todo o seu domínio C. No entanto, pretende-se que a relação (2.2) log z = w se e só se z = ew se mantenha válida em C. Se (2.2) se verificar para w = u + vi então eu+vi = z ⇔ eu (cos v + i sin v) = z ⇔ |z| = eu ∧ arg z = v ⇔ u = ln |z| ∧ v = arg z. Deste modo, para z 6= 0 (visto que ew 6= 0 para todo o w ∈ C), é natural definir (2.3) log z = ln |z| + i arg z. Existem, no entanto, infinitos valores para log z, um para cada argumento de z. A diferença entre quaisquer dois destes valores é um múltiplo inteiro de 2πi. Assim, a expressão (2.3) não define uma função. Observemos que, se z = |z| ei arg z = x + yi, elog z = eln|z|+i arg z = eln|z| ei arg z = |z| ei arg z = z. Mas, log(ez ) = ln |ez | + i arg ez = ln ex + i(y + 2kπ) = x + (y + 2kπ)i = (x + yi) + 2kπi = z + 2kπi, para k ∈ Z. No entanto, se considerarmos para argumento de z o seu argumento principal, caso em que tomamos k = 0, é possível definir a função logaritmo.
  • 37. 36 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES Definição 10 Para qualquer z = x+yi ∈ C, com z 6= 0, define-se a função logaritmo principal de z por log z = ln |z| + i arg z, com arg z ∈ [−π, π[. Podemos agora afirmar que a função logaritmo principal, log z, é a função inversa da re- strição da função exponencial de variável complexa à região fundamental {x + yi : −π ≤ y < π}. Ou seja, verifica-se (2.2). Nota 6 Podemos definir a função logaritmo mais geralmente da seguinte forma: a função loga- ritmo relativa ao intervalo [θ0, θ0 + 2π[ é a função log z = ln |z| + i arg z, arg z ∈ [θ0, θ0 + 2π[ . Esta função designa-se muitas vezes por ramo do logaritmo correspondente ao intervalo [θ0, θ0 + 2π[; quando θ0 = −π, obtém-se o ramo principal do logaritmo. A função logaritmo relativa ao inter- valo [θ0, θ0 + 2π[ é a função inversa da restrição da função exponencial à região fundamental {x + yi : θ0 ≤ y < θ0 + 2π} . Nota 7 Quando z é um número real positivo, z = x + 0i com x > 0, a definição de log z coincide com a definição já conhecida em R log z = log x = ln |x| + i arg x = ln x. Salvo indicação em contrário, em tudo o que se segue, quando nos referimos à função log z referimo-nos à função logaritmo principal. Nota 8 No cálculo real, não está definido o logaritmo de números negativos. Em C tal não é verdade. Por exemplo, log(−1) = ln |−1| + i arg(−1) = ln 1 + i (−π) = −πi. Este é um dos motivos que nos leva a considerar notações diferentes para o logaritmo de um número complexo e para o logaritmo neperiano de um número real. A parte real da função logaritmo, u(x, y) = ln |z| = ln p x2 + y2, é contínua em C {0}. Con- tudo, a parte imaginária v(x, y) = arg(x+yi) é descontínua nos pontos de coordenadas (x, 0), com x < 0 (exercício 5). Como tal, a função logaritmo não é contínua no eixo real negativo, ou seja, em complexos z da forma z = x + 0i, com x ≤ 0. As propriedades do logaritmo que se verificam no cálculo real continuam válidas em C, desde que correctamente interpretadas. Vejamos os seguintes exemplos.
  • 38. 2.4. A FUNÇÃO LOGARITMO 37 Exemplo 4 Consideremos os números complexos z = −1 e w = i e escolham-se os argumentos no intervalo [0, 2π[. Temos |z| = 1, arg z = π, |w| = 1 e arg w = π/2. Como tal, log z + log w = (ln 1 + iπ) + ³ ln 1 + i π 2 ´ = 3π 2 i. Por outro lado, zw = cis ³ π + π 2 ´ = cis 3π 2 , pelo que log (zw) = ln 1 + i µ 3π 2 ¶ = 3π 2 i. Logo, neste caso, verifica-se a igualdade log z + log w = log (zw). Escolha-se agora o intervalo [−2π, 0[ para os argumentos de z e w. Então, arg z = −π, arg w = −3π/2 e arg (zw) = −π/2, donde log z + log w = (ln 1 − iπ) + µ ln 1 − i 3π 2 ¶ = − 5π 2 i, log (zw) = ln 1 + i ³ − π 2 ´ = − π 2 i. Neste caso, verificamos que a diferença (log z + log w) − log (zw) é de −2πi. Proposição 13 Propriedades do logaritmo Sejam z, w ∈ C {0}. São válidas as seguintes propriedades: (a) log(zw) = log z + log w (mod 2πi); (b) log(z/w) = log z − log w (mod 2πi). (c) log (z) é analítica no conjunto C {x + iy : x ≤ 0 e y = 0} e a sua derivada é dada por (log z)0 = 1 z Exercícios resolvidos 1. Determine os valores de log(−2), log i, log(−1 − i) e log ¡√ 3 + i ¢ . 2. Resolva a equação ez = √ 3 + i. 3. Calcule o valor principal de log(−3). 4. Considere os números complexos z = −i e w = −1 + i. Mostre que log (z/w) = log z − log w (mod 2πi).
  • 39. 38 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES 5. Mostre que a função v(x, y) = arg(x + yi) é descontínua nos pontos de coordenadas (x, 0) , com x < 0. 6. Mostre que a função f(z) = log z verifica as condições de Cauchy-Riemann para z = x + yi, com z 6= 0 e z 6= x < 0. 7. Derive a função f(z) = log(ez + 1), indicando a região em que é analítica. Propostas de resolução 1. log(−2) = ln 2 + i arg (−2) = ln 2 + i(π + 2kπ), log i = ln 1 + i arg i = i ³π 2 + 2kπ ´ , log (−1 − i) = ln √ 2 + i arg(−1 − i) = ln √ 2 + i µ − 3π 4 + 2kπ ¶ , log ¡√ 3 + i ¢ = ln 2 + i arg ¡√ 3 + i ¢ = ln 2 + i ³π 6 + 2kπ ´ , k ∈ Z. 2. Temos ez = √ 3 + i ⇔ z = log ³√ 3 + i ´ . Pelo exercício 1, o conjunto solução da equação é S = n ln 2 + i ³π 6 + 2kπ ´ : k ∈ Z o . 3. Dado que −3 = 3cis (−π), o valor principal do logaritmo de −3 é log(−3) = ln 3 + i(−π) = ln 3 − πi. 4. Consideremos os números complexos z = −i e w = −1 + i e escolham-se os argumentos no intervalo [−π, π[. Temos |z| = 1, arg z = −π/2, |w| = √ 2 e arg w = 3π/4. Como tal, log z − log w = ³ ln 1 + i ³ − π 2 ´´ − µ ln √ 2 + i 3π 4 ¶ = ln √ 2 + i µ − π 2 − 3π 4 ¶ = ln √ 2 − i 5π 4 . Por outro lado, z w = 1 √ 2 cis µ − π 2 − 3π 4 ¶ = 1 √ 2 cis µ − 5π 4 ¶ = √ 2cis 3π 4 , pelo que log z w = ln √ 2 + i 3π 4 . Verificamos então que a diferença (log z − log w) − log (z/w) é de −2πi.
  • 40. 2.4. A FUNÇÃO LOGARITMO 39 5. Seja (x0, 0) ∈ R2 tal que x0 < 0. Então, lim (x,y)→(x0,0) y>0 arg(x + yi) = π, enquanto que lim (x,y)→(x0,0) y<0 arg(x + yi) = −π. Podemos assim concluir que, para x0 < 0, não existe lim(x,y)→(x0,0) v(x, y). 6. Para z = x + yi = reiθ temos u(r, θ) = ln r e v(r, θ) = θ. Assim, ∂u ∂r = 1 r e ∂u ∂θ = 0 ∂v ∂r = 0 e ∂v ∂θ = 1, o que mostra serem válidas as equações de Cauchy-Riemann estabelecidas para coordenadas polares, ∂u ∂r = 1 r ∂v ∂θ e ∂v ∂r = − 1 r ∂u ∂θ . 7. A função ez + 1 é analítica em C. Logo, log (ez + 1) é analítica em todos os pontos tais que ez + 1 pertence ao domínio de analiticidade da função logaritmo, ou seja, é analítica no conjunto C {z ∈ C : Im (ez + 1) = 0 ∧ Re (ez + 1) ≤ 0} . Escrevendo z = x + yi, Im (ez + 1) = 0 ⇔ ex sin y = 0 ⇔ sin y = 0 ⇔ y = nπ, para n ∈ Z. Por outro lado, Re (ez + 1) ≤ 0 ⇔ ex cos y + 1 ≤ 0 ⇔ ex cos y ≤ −1. Como y = nπ, n ∈ Z, temos cos y = 1, se n é par, e cos y = −1, se n é ímpar. Se n for par então ex ≤ −1, o que é impossível. Se n for ímpar então ex ≥ 1, ou seja, x ≥ 0. Concluímos que f é analítica no conjunto C {z = x + yi : x ≥ 0 ∧ y = 2(k + 1)π, k ∈ Z} . Utilizando o teorema da função composta, f0 (z) = ez ez + 1 .
  • 41. 40 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES Exercícios propostos 1. Calcule todos os valores de ei , log(−2i), e3 log(1−i) . 2. Resolva, em C, as seguintes equações: (a) cos z = 10; (b) cos z = sin z; (c) sin z = 2; (d) sinh z = −i; (e) eiz = −3; (d) ez + 6e−z = 5. 3. Apresente as seguintes funções na forma f(z) = u + vi: (a) f(z) = e−iz ; (b) f(z) = ez2 . 4. Determine as regiões onde as seguintes funções são analíticas e calcule f0 (z): (a) f(z) = eπz3 −1 ; (b) f(z) = cos (1/z) + e 1 z2+1 ; (c) f(z) = sin ¡ log z2 ¢ ; (d) f(z) = √ z2 − 2. 5. Determine para que valores de z é válida a igualdade log z2 = 2 log z, quando se considera o ramo principal do logaritmo. 6. Mostre que a função f(z) = ez não é analítica em nenhum ponto do seu domínio. 7. Mostre que e2πi = 1, eπ/2i = i, eπi = −1, e−π/2i = −i e e−πi = −1. 8. Mostre que ¯ ¯eiy ¯ ¯ = 1, para todo o y ∈ R. 9. Mostre que u(x, y) = Re ³ ez2 ´ é uma função harmónica. 10. Mostre que tan z = u+vi onde u(x, y) = sin 2x/ (cos 2x + cosh 2y) e v(x, y) = sinh 2x/ (cos 2x + cosh 2y) . 11. Prove que a função tan z é periódica de período π. 12. Mostre que, para quaisquer z, w ∈ C, são válidas as seguintes igualdades (a) cosh (z + w) = cosh z cosh w + sinh z sinh w; (b) sinh (z + w) = sinh z cosh w + cosh z sinh w; (c) cosh2 z + sinh2 z = 1. 13. Mostre que cos z = cos z.
  • 42. 2.4. A FUNÇÃO LOGARITMO 41 Soluções 1. cos 1 + i sin 1; ln 2 + i (−π + 2kπ), k ∈ Z; −2 − 2i. 2. (a) z = 2nπ ± i ln ¡ 10 + 3 √ 11 ¢ ; (b) z = π/4 + nπ; (c) z = π/2 + 2nπ − i ln ¡ 2 ± √ 3 ¢ ; (d) z = (−π/2 + 2nπ) i; (e) (−π + 2nπ) − (ln 3) i; (f) z = ln 3 + 2nπi ∨ z = ln 2 + 2nπi. 3. (a) ey cos x − iey sin x; (b) ex2 −y2 cos (2xy) + iex2 −y2 sin (2xy). 4. (a) f0 (z) = 3πz2 eπz3 −1 , ∀z ∈ C; (b) f0 (z) = 1 z2 sin µ 1 z ¶ − 2z (z2 + 1) 2 e 1 z2+1 , ∀z ∈ C {−i, 0, i};(c) f0 (z) = 2 z cos ¡ log z2 ¢ , ∀z ∈ C {z = yi : y ∈ R}; (d) z √ z2 − 2 , ∀z ∈ C © z = yi ∨ z = x, − √ 2 ≤ x ≤ √ 2 ª . 5. z = reiθ , com r > 0 e θ ∈ [−π/2, π/2[.
  • 43. 42 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES ELEMENTARES
  • 44. Capítulo 3 Integração no plano complexo O estudo da integração no plano complexo é importante por duas razões essenciais. Por um lado, podem ocorrer integrais de variável real cujo cálculo não é imediato pelos métodos usuais de integração real mas que a integração complexa permite resolver facilmente. Por exemplo, o cálculo do integral Z ∞ 0 sin2 x x2 dx. Por outro lado, algumas propriedades básicas das funções analíticas podem ser estabelecidas com base na integração complexa não sendo as abordagens alternativas imediatas. O teorema de Cauchy-Goursat, por exemplo, permite concluir que as funções analíticas possuem derivadas de todas as ordens. 3.1 Integrais curvilíneos Os integrais curvilíneos, integrais de uma função f(z) ao longo de uma certa curva no plano complexo, são definidos de forma análoga à usada para definir integrais curvilíneos no plano bidi- mensional R2 . Definição 11 Sejam a, b ∈ R, com a ≤ b. Uma curva em C é o contradomínio de uma função contínua γ : [a, b] → C. A função γ é designada por parametrização da curva (de parâmetro real t) e γ(t) = x(t) + iy(t), t ∈ [a, b] por equação paramétrica da curva.1 1 Podemos pensar numa curva como a trajectória de um ponto material (x(t), y(t)) = x(t) + iy(t) ∈ C, em cada instante t, com t a variar num intervalo de tempo [a, b]. 43
  • 45. 44 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO Dada uma curva parametrizada por γ(t) = x(t) + y(t)i, t ∈ [a, b], e t0 ∈ [a, b], o vector γ0 (t0) = x0 (t0) + iy0 (t0) designa-se por vector tangente à curva no ponto t = t0.2 Sempre que não haja ambiguidade, referimo-nos à curva γ para mencionar a curva parame- trizada por γ. Definição 12 Uma curva γ diz-se suave (ou regular) quando as funções x(t) e y(t) têm derivadas contínuas no intervalo [a, b] e o vector γ0 (t) = x0 (t) + iy0 (t) não se anula em [a, b]. Se existir uma partição do intervalo [a, b], ou seja, um número finito de valores reais a0, a1, . . . , an, com a0 = a < a1 < · · · < an = b, tal que as restrições γj = γ|]aj−1,aj [, j = 1, 2, . . . , n, são curvas suaves então a curva γ diz-se seccionalmente suave (ou seccionalmente regular). Neste caso, γ diz-se a soma (ou união) das curvas γj, j = 1, 2, . . . , n, e denota-se por γ1+γ2+ · · · + γn. a bt γ • • • γ(t) γ(a) γ(b) x y A suavidade de uma curva significa geometricamente que ela tem vector tangente γ0 (t) = x0 (t) + iy0 (t) único em cada ponto e que este varia continuamente em t. Exemplo 10 A função γ(t) = x(t) + iy(t) tal que ½ x(t) = t y(t) = t2 , t ∈ R define a parábola dada, em coordenadas rectangulares, pela equação y = x2 . Consideremos a função γ : [−1, 2] → C definida por γ(t) = t + it2 . Dado que x(t) e y(t) são funções contínuas com derivadas contínuas no intervalo [−1, 2], γ é uma curva suave que corresponde ao arco da parábola 2 Note-se que γ é uma aplicação de variável real. Como tal, a existência da derivada γ0(t) implica que existam as derivadas x0(t) e y0(t) enquanto derivadas de funções reais de variável real. Em cada instante t, o vector tangente (x0(t), y0(t)) = x0(t)+iy0(t) pode ser interpretado como o vector velocidade de um ponto material, com posição (x(t), y(t)).
  • 46. 3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 45 y = x2 compreendido entre os pontos z1 = γ(−1) = −1 + i e z2 = γ(2) = 2 + 4i. Note-se que γ0 (t) = 1 + 2ti 6= 0 para −1 ≤ t ≤ 2. Geometricamente, γ x y • • -1 2 -1 2 Exemplo 11 A circunferência de centro na origem e de raio 1 pode ser parametrizada por γ(t) = cos t + i sin t = eit , t ∈ [0, 2π]. De facto, x2 (t) + y2 (t) = cos2 t + sin2 t = 1. Trata-se de uma curva suave visto que x(t) = cos t e y(t) = sin t são funções contínuas com derivadas contínuas no intervalo [0, 2π] e γ0 (t) = − sin t + i cos t 6= 0 para 0 ≤ t ≤ 2π (as funções seno e coseno não têm zeros coincidentes). Exemplo 12 A elipse de centro na origem e de semi-eixos horizontal e vertical com medidas a 6= 0 e b 6= 0, respectivamente, tem parametrização γ(t) = a cos t + ib sin t, t ∈ [0, 2π]. Com efeito, x2 (t) a2 + y2 (t) b2 = cos2 t + sin2 t = 1. Trata-se, tal como a circunferência, de uma curva suave. Exemplo 13 A curva γ parametrizada por γ(t) = ½ t + it2 se − 1 ≤ t ≤ 2 t + 4i se 2 ≤ t ≤ 3 é seccionalmente suave. Dado que γ1(2) = γ2(2), γ é a união da curva γ1(t) = γ|]−1,2[(t) = t + it2 com a curva γ2(t) = γ|]2,3[(t) = t + 4i. Além disso, γ1 é uma curva suave dado que as funções x(t) = t e y(t) = t2 têm derivadas contínuas e γ0 1(t) = 1 + 2ti 6= 0. Analogamente, a restrição γ2 é uma curva suave. Observamos que γ não é suave pois γ0 1 (2) = 1 + 4i enquanto que γ0 2 (2) = 1. No que segue todas as curvas consideradas são seccionalmente suaves, salvo indicação em con- trário.
  • 47. 46 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO Definição 13 A orientação ou sentido de uma curva γ : [a, b] → C, a ≤ b, é de γ(a) para γ(b). A curva −γ parametrizada por (−γ)(t) = γ(a + b − t), t ∈ [a, b] , corresponde ao mesmo conjunto de pontos mas orientada no sentido inverso ao de γ. Quando o ponto final coincide com o ponto inicial, γ(a) = γ(b), a curva γ diz-se fechada. A orientação de uma curva fechada diz-se positiva (ou directa) se é contrária à dos ponteiros do relógio e diz-se negativa (ou indirecta) no caso contrário. Se γ(t1) 6= γ(t2) sempre que t1 6= t2, com t1, t2 ∈ ]a, b[, então a curva diz-se simples. Uma curva simples e fechada é designada por curva de Jordan3 . Exemplo 14 A curva γ(t) = z0 + reit , com t ∈ [α, β] e β ≤ α + 2π, define um arco da circun- ferência de centro z0 e de raio r, com extremidades inicial e final γ (α) e γ (β), respectivamente. Trata-se de uma curva suave dado que x(t) = x0 + r cos t e y(t) = y0 + r sin t têm derivadas con- tínuas e γ0 (t) = ireit 6= 0 em todos os pontos. Quando β = α+2π, temos γ (α) = γ (β) e a curva é fechada e descrita no sentido positivo. Atendendo a que se trata de uma circunferência, é imediato que se trata de uma curva simples. A curva (−γ) (t) = z0 + re−it , t ∈ [α, α + 2π], representa a mesma circunferência, mas orientada no sentido negativo. Comecemos por definir o integral curvilíneo de uma função complexa de variável real. Definição 14 Seja h : [a, b] → C uma função complexa de variável real definida por h(t) = u(t) + iv(t), para funções u e v contínuas em [a, b]. Define-se o integral curvilíneo da função h no intervalo [a, b] como sendo o número complexo Z b a h(t)dt = Z b a u(t)dt + i Z b a v(t)dt, onde os integrais de u e v são integrais usuais de funções reais de uma variável real. Exemplo 5 Pretendemos determinar o integral curvilíneo da função h(t) = t2 +1+t3 i no intervalo [0, 1]. Dado que u(t) = t2 + 1 e v(t) = t3 são as partes real e imaginária de h, respectivamente, temos Z 1 0 ¡ t2 + 1 + it3 ¢ dt = Z 1 0 (t2 + 1)dt + i Z 1 0 t3 dt = 4 3 + 1 4 i. Segue-se a definição de integrais curvilíneos para funções complexas de variável complexa. 3 Em referência a Camille Jordan (1838-1922).
  • 48. 3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 47 Definição 15 Sejam f uma função contínua definida num aberto A ⊆ C e γ : [a, b] → C uma curva seccionalmente suave tal que γ ([a, b]) ⊂ A. Define-se o integral curvilíneo (ou simplesmente integral) ao longo de γ, que se denota por R γ f(z)dz (ou simplesmente por R γ f), como sendo o número complexo Z γ f(z)dz = nX j=1 Z aj aj−1 f ¡ γj (t) ¢ · γ0 j(t)dt, onde a0 = a < a1 < · · · < an = b é uma partição do intervalo [a, b] tal que as restrições γj = γ|]aj−1,aj [, para j = 1, . . . , n, parametrizam curvas suaves. A função f é designada por função integranda. Quando a curva é fechada é usual a notação H γ f. A continuidade da função f em todos os pontos da curva e a continuidade das restrições γ0 j, para j = 1, ..., n, garantem a existência do integral. O valor do integral corresponde, assim, à soma (finita) dos n integrais curvilíneos das funções complexas de variável real f ¡ γj (t) ¢ · γ0 j(t) em cada um dos intervalos [aj−1, aj], conforme a definição 6. No caso particular de f ser uma função contínua em todos os pontos de uma curva suave γ : [a, b] → C, temos o caso mais simples em que Z γ f(z)dz = Z b a f (γ (t)) · γ0 (t)dt. Exemplo 15 Consideremos a circunferência de centro na origem e de raio 2. Uma parametrização para esta curva suave pode ser definida por γ(t) = 2 cos t + i2 sin t = 2eit , t ∈ [0, 2π] . Pretendemos calcular o valor do integral de f(z) = 1/z ao longo da curva γ. A função f está definida e é contínua em todos os pontos da curva γ (f tem por domínio C {0} mas a origem não pertence à curva). Então, dado que γ0 (t) = −2 sin t + i2 cos t, I γ f(z)dz = Z 2π 0 f(2 cos t + i2 sin t) (−2 sin t + i2 cos t) dt = Z 2π 0 1 2 cos t + i2 sin t (−2 sin t + i2 cos t) dt = Z 2π 0 2 cos t − i2 sin t 4 cos2 t + 4 sin2 t (−2 sin t + i2 cos t) dt = Z 2π 0 −4 cos t sin t + 4i cos2 t + i4 sin2 t + 4 sin t cos t 4 dt = Z 2π 0 4i 4 dt = i Z 2π 0 dt = 2πi. Em alternativa, podemos usar a forma γ(t) = 2eit . Temos então γ0 (t) = 2ieit e o integral é dado
  • 49. 48 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO por I γ f(z)dz = Z 2π 0 f ¡ 2eit ¢ 2ieit dt = Z 2π 0 1 2eit 2ieit dt = Z 2π 0 idt = i Z 2π 0 dt = 2πi. Exemplo 6 Consideremos a curva representada na figura e a função f(z) = z definida em todo o plano complexo. x y 2+2i 0 Trata-se de uma curva seccionalmente suave, união de duas curvas suaves: o segmento de recta que une z = 0 a z = 2 parametrizado por γ1(t) = t, t ∈ [0, 2] , e o segmento de recta que une z = 2 a z = 2 + 2i parametrizado por γ2(t) = 2 + (t − 2) i, t ∈ [2, 4]. Dado que a função f(z) = z é contínua em C (em particular, na curva) e γ0 1(t) = 1 e γ0 2(t) = i, o integral curvilíneo é obtido como soma de dois integrais na variável real t, Z γ f(z)dz = Z 2 0 f(t)dt + Z 4 2 f (2 + (t − 2) i) i dt = Z 2 0 tdt + Z 4 2 (2 + (t − 2) i) i dt = Z 2 0 tdt + i Z 4 2 2dt − Z 4 2 (t − 2) dt = 4i. Exemplo 16 Consideremos a função f(z) = z, de domínio C, e o arco da circunferência de centro na origem e de raio 1 situado no 1o quadrante, parametrizado por γ(t) = cos t+i sin t, t ∈ [0, π/2]. Temos γ0 (t) = − sin t + i cos t e, sendo f(z) = x − yi uma função contínua em todos os pontos da curva, obtemos Z γ f(z)dz = Z π/2 0 f (cos t + i sin t) (− sin t + i cos t)dt = Z π/2 0 (cos t − i sin t) (− sin t + i cos t)dt = Z π/2 0 i ¡ cos2 t + sin2 t ¢ dt = i Z π/2 0 dt = π 2 i.
  • 50. 3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 49 Exemplo 17 Dada a função f(z) = z2 contínua em todo o plano complexo, pretendemos calcular o valor do seu integral ao longo do segmento de recta definido, em coordenadas rectangulares, pela equação y = 5x, entre os pontos z1 = 0 e z2 = 2 + 10i. Podemos considerar a própria variável x como parâmetro e usar a parametrização γ(x) = x + 5xi, com x ∈ [0, 2]. Temos γ0 (x) = 1 + 5i e o integral é então dado por Z γ f(z)dz = Z 2 0 f (x + 5xi) (1 + 5i)dx = Z 2 0 (x + 5xi)2 (1 + 5i)dx = Z 2 0 ¡ 10x2 i − 24x2 ¢ (1 + 5i)dx = Z 2 0 ¡ −74x2 − 110x2 i ¢ dx = Z 2 0 −74x2 dx − i Z 2 0 110x2 dx = − 592 3 − 880 3 i. Nota 9 Seja f(z) = u(x, y) + v(x, y)i e γ (t) = x(t) + iy(t) a parametrização de uma curva. Sem perda de generalidade, podemos supor que γ é suave4 . Temos Re Z γ f(z)dz = Z γ [u(x, y)dx − v(x, y)dy] , e Im Z γ f(z)dz = Z γ [u(x, y)dy + v(x, y)dx] . O integral curvilíneo R γ f(z)dz pode assim ser escrito em termos de dois integrais de linha no plano bidimensional. Algumas propriedades dos integrais curvilíneos são enunciadas a seguir. Proposição 14 Seja γ uma curva em C seccionalmente suave. Sejam f e g funções definidas e contínuas na curva γ. São válidas as seguintes propriedades: (a) R γ [C1f(z) + C2g(z)] dz = C1 R γ f(z)dz+C2 R γ g(z)dz para constantes C1, C2 ∈ C (linearidade do integral curvilíneo); (b) R −γ f(z)dz = − R γ f(z)dz (integral curvilíneo na orientação inversa); (c) Se γ = γ1 + · · · + γn 5 então R γ1+···+γn f(z)dz = R γ1 f(z)dz + · · · + R γn f(z)dz (integral curvilíneo ao longo da união de curvas). 4 No caso em que γ é uma curva seccionalmente suave basta, atendendo à definição 8, usar o mesmo raciocínio em cada subintervalo [aj−1, aj] da partição do intervalo [a, b]. 5 Escrevemos γ = γ1+γ2 para denotar que γ é a união ou soma das curvas seccionalmente suaves γ1 e γ2: dadas curvas γ1 : [a, b] → C e γ2 : [b, c] → C com γ1(b) = γ2(b), define-se γ1 + γ2 : [a, c] → C por (γ1 + γ2) (t) = γ1 (t) se a ≤ t ≤ b γ2 (t) se b ≤ t ≤ c . A soma geral γ = γ1+ · · · + γn define-se de forma análoga.
  • 51. 50 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO Exemplo 7 Considerando a curva apresentada na figura, • • 1+2i 1+i Eixo real Eixo imaginário • pretendemos calcular o valor do integral curvilíneo da função f(z) = x2 + y2 i ao longo desta curva seccionalmente suave. Esta curva é a união de duas curvas suaves, uma parametrizada por γ1(t) = t + ti com t ∈ [0, 1] e outra parametrizada por γ2(t) = 1 + ti, com t ∈ [1, 2]. Então γ = γ1 + γ2 e logo Z γ f(z)dz = Z γ1 f(z)dz + Z γ2 f(z)dz = Z 1 0 f(γ1(t)) · γ0 1(t)dt + Z 2 1 f(γ2(t)) · γ0 2(t)dt = Z 1 0 ¡ t2 + t2 i ¢ (1 + i) dt + Z 2 1 ¡ 1 + t2 i ¢ i dt = (1 + i) Z 1 0 t2 (1 + i)dt + Z 2 1 ¡ i − t2 ¢ dt = (1 + i) 2 Z 1 0 t2 dt + i Z 2 1 dt − Z 2 1 t2 dt = (1 + i) 2 1 3 + i − 7 3 = − 7 3 + 5 3 i. A mesma curva pode ser parametrizada por diferentes funções. Põe-se a questão de saber se o valor do integral curvilíneo R γ f(z)dz é independente da parametrização usada. Para responder a esta questão necessitamos da seguinte definição. Definição 16 Dada uma curva seccionalmente suave parametrizada por γ : [a, b] → C, uma nova função eγ : h ea,eb i → C diz-se uma reparametrização de γ se existe uma função α : [a, b] → h ea,eb i tal que α0 (t) > 0, α(a) = ea, α(b) = eb e γ (t) = eγ (α (t)). As condições impostas a α, α0 (t) > 0, α(a) = ea e α(b) = eb, garantem que a curva parametrizada por eγ tem a mesma orientação que a curva parametrizada por γ. Proposição 15 Se eγ : h ea,eb i → C é uma reparametrização de γ : [a, b] → C então Z γ f(z)dz = Z γ f(z)dz.
  • 52. 3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 51 Exemplo 8 Pretendemos calcular R γ Re(z)dz ao longo do segmento de recta que une z1 = 0 a z2 = 1 + i. Escolha-se a parametrização γ : [0, 1] → C dada por γ(t) = t + it. A função integranda é contínua nos pontos da curva. Dado que γ0 (t) = 1 + i, temos Z γ Re(z)dz = Z 1 0 Re (γ(t)) · γ0 (t)dt = Z 1 0 Re (t + it) (1 + i)dt = Z 1 0 t(1 + i)dt = (1 + i) Z 1 0 t dt = 1 2 + 1 2 i. Para a mesma curva podemos considerar outras parametrizações, por exemplo, eγ : [1, 2] → C definida por eγ(t) = (t − 1) + i (t − 1) . Verificamos que o integral é dado pelo mesmo valor, Z γ Re(z)dz = Z 2 1 Re (eγ(t)) · eγ0 (t)dt = Z 2 1 Re [t − 1 + i (t − 1)] (1 + i)dt = Z 2 1 (t − 1) (1 + i)dt = (1 + i) Z 2 1 (t − 1) dt = 1 2 + 1 2 i. Frequentemente, é útil obter uma estimativa superior do módulo de um integral. Dada uma curva parametrizada por γ(t) = x(t)+y(t)i, com t ∈ [a, b], o comprimento da curva γ é definido por l (γ) = Z b a p x0(t)2 + y0(t)2dt = Z b a |γ0 (t)| dt. Nota-se que, o comprimento de uma curva é independente da parametrização considerada. Proposição 16 Seja f uma função complexa de variável complexa definida e contínua num aberto A ⊆ C e seja γ : [a, b] → A uma curva seccionalmente suave em A. Se f for limitada sobre a curva, isto é, se existir M ≥ 0 tal que |f(z)| ≤ M, para todo o z ∈ γ ([a, b]), então ¯ ¯ ¯ ¯ Z γ f(z)dz ¯ ¯ ¯ ¯ ≤ M · l(γ). Exemplo 9 Consideremos a função complexa f(z) = ez / (z + 1) de domínio C {−1}. Pre- tendemos obter uma estimativa superior do módulo do integral de f ao longo da circunferên- cia de centro na origem e de raio 4, definida por |z| = 4. Considerando a parametrização γ(t) = 4 cos t + 4 sin t, 0 ≤ t ≤ 2π, o comprimento desta curva é dado pelo integral l (γ) = Z 2π 0 q (−4 sin t) 2 + (4 cos t) 2 dt = Z 2π 0 4 dt = 8π (como seria de esperar pela fórmula do perímetro de uma circunferência). Quanto à limitação da função f ao longo desta circunferência, podemos escrever ¯ ¯ ¯ ¯ ez z + 1 ¯ ¯ ¯ ¯ = |ez | |z + 1| ≤ |ez | |z| − 1 = |ez | 4 − 1 = |ez | 3 = ex 3 ≤ e4 3 ,
  • 53. 52 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO já que o valor máximo que x = Re(z) pode tomar ao longo da circunferência é 4. Então, pela proposição 16, obtemos a estimativa pedida, ¯ ¯ ¯ ¯ I γ ez z + 1 dz ¯ ¯ ¯ ¯ ≤ e4 3 8π = 8πe4 3 . Exercícios resolvidos 1. Dada a função complexa f(z) = z calcule o valor do integral curvilíneo R γ f(z)dz onde γ é a curva definida por x(t) = 3t e y(t) = t2 , com t ∈ [1, 4]. 2. Calcule o valor do integral curvilíneo R γ f(z)dz para (a) f(z) = y − x − 3x2 i sobre a curva que é a união do segmento de recta que une z = 0 a z = i com o segmento de recta que une z = i a z = 1 + i; (b) f(z) = (z + 2)/z sobre a semicircunferência parametrizada por γ(θ) = 2eiθ , com 0 ≤ θ ≤ −π; (c) f(z) = 1/z sobre os pontos da semicircunferência de centro 2 e de raio 1 com parte real superior a 2 e percorrida no sentido negativo. 3. Considere o caminho γ(t) = eit , para t ∈ [0, 2π]. Prove que são nulos os integrais curvilíneos I γ 1 |z| dz e I γ 1 |z2| dz. 4. Calcule o valor do integral curvilíneo R γ f(z)dz onde γ é a curva de equação dada, em coor- denadas rectangulares, por y = x3 entre os pontos z = −1−i e z = 1+i, e onde f é a função definida por f(z) = ½ 1 se y < 0 4y se y > 0 . 5. Considere a curva γ(t) = eit , com t ∈ [0, π]. Mostre que ¯ ¯ ¯ ¯ Z γ ez z dz ¯ ¯ ¯ ¯ ≤ eπ. 6. Escrevendo o integral curvilíneo em termos de integrais reais, prove que Z γ dz = B − A quando a integração é feita ao longo de uma curva seccionalmente suave que una o ponto A ao ponto B.
  • 54. 3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 53 Propostas de resolução 1. Dada a curva γ(t) = 3t + it2 , com t ∈ [−1, 4], temos γ0 (t) = 3 + 2ti. Sendo x(t) = 3t e y(t) = t2 funções contínuas com derivadas contínuas no intervalo [−1, 4], a curva γ é suave. Corresponde ao arco da parábola definida, em coordenadas rectangulares, pela equação y = x2 /9 entre os pontos z = γ(−1) = −3 + i e z = γ(4) = 12 + 16i. Sendo a função f(z) = z contínua em todos os pontos da curva γ, o integral curvilíneo é dado por Z γ zdz = Z 4 −1 3t + it2(3 + 2ti)dt = Z 4 −1 ¡ 3t − t2 i ¢ (3 + 2ti)dt = Z 4 −1 ¡ 9t + 2t3 + 3t2 i ¢ dt = Z 4 −1 ¡ 9t + 2t3 ¢ dt + 3i Z 4 −1 t2 dt = 9 2 15 + 1 2 255 + 3i 1 3 63 = 195 + 63i. 2. (a) O segmento de recta que une z = 0 a z = i pode ser parametrizado por γ1(t) = ti, com 0 ≤ t ≤ 1, e o segmento de recta que une z = i a z = 1 + i por γ2(t) = t + i, com 0 ≤ t ≤ 1. Eixo real Eixo imaginário 1+i i• • • Dado que a função f(z) = y − x − 3x2 i está definida e é contínua ao longo de cada uma das curvas suaves consideradas, temos Z γ f(z)dz = Z 1 0 f(ti)i dt + Z 1 0 f(t + i)1 dt = Z 1 0 ti dt + Z 1 0 ¡ 1 − t − 3t2 i ¢ dt = i Z 1 0 t dt + Z 1 0 (1 − t) dt − 3i Z 1 0 t2 dt = i + 1 2 − 3i 1 3 = 1 2 . (b) A semicircunferência parametrizado por γ(θ) = 2eiθ , com −π ≤ θ ≤ 0, centrada na origem e com raio 2 situada nos 3o e 4o quadrantes, é uma curva suave com γ0 (θ) = 2ieiθ . A função f(z) = (z +2)/z está definida (o seu domínio é C {0} e a origem não pertence
  • 55. 54 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO a γ) e é contínua na semicircunferência γ. Temos, então Z γ f(z)dz = Z 0 −π f ¡ 2eiθ ¢ 2ieiθ dθ = Z 0 −π 2eiθ + 2 2eiθ 2ieiθ dθ = i Z 0 −π ¡ 2eiθ + 2 ¢ dθ = i Z 0 −π (2 (cos θ + i sin θ) + 2) dθ = i ∙Z 0 −π (2 cos θ + 2) dθ + 2i Z 0 −π sin θdθ ¸ = i [2π + 2i (−1 − 1)] = i(2π − 4i) = 4 + 2πi. (c) Os pontos da semicircunferência de centro 2 e de raio 1 com parte real superior a 2, percorrida no sentido negativo,.podem ser parametrizados por γ(t) = 2 + cos t − i sin t com − π 2 ≤ t ≤ π 2 . 21 3 Eixo real Eixo imaginário Trata-se de uma curva suave onde a função f(z) = 1/z está definida (o seu domínio é C {0}) e é contínua. O integral curvilíneo é dado por I γ f(z)dz = Z π/2 −π/2 f(2 + cos t − i sin t)(− sin t − i cos t)dt = Z π/2 −π/2 1 2 + cos t − i sin t (− sin t − i cos t)dt = Z π/2 −π/2 (2 + cos t + i sin t) (− sin t − i cos t) (2 + cos t − i sin t) (2 + cos t + i sin t) dt = Z π/2 −π/2 −2 sin t − 2i cos t − i (2 + cos t)2 + sin2 t dt = Z π/2 −π/2 −2 sin t − i (2 cos t − 1) 4 + 4 cos t dt = 1 2 Z π/2 −π/2 − sin t 1 + cos t dt − i 4 Z π/2 −π/2 2 cos t − 1 1 + cos t dt. Efectuando a mudança de variável no 2o integral simples tan t/2 = s, temos cos t =
  • 56. 3.1. INTEGRAIS CURVILÍNEOS 55 ¡ 1 − s2 ¢ / ¡ 1 + s2 ¢ e t0 = 2/ ¡ 1 + s2 ¢ . Obtemos, então, I γ f(z)dz = 1 2 Z π/2 −π/2 − sin t 1 + cos t dt − i 4 Z 1 −1 2 1 − s2 1 + s2 − 1 1 + 1 − s2 1 + s2 2 1 + s2 ds = 1 2 [ln |1 + cos t|] π/2 −π/2 − i 2 Z 1 −1 2 − 2s2 − 1 − s2 1 + s2 + 1 − s2 1 1 + s2 ds = 1 2 (ln 1 − ln 1) − i 2 Z 1 −1 1 − 3s2 2 1 1 + s2 ds = 0 + i 4 Z 1 −1 3s2 − 1 1 + s2 ds = i 4 Z 1 −1 µ 3 − 4 1 + s2 ¶ ds = i 4 [3s − 4 arctan s] 1 −1 = i 4 ³ 3 − 4 π 4 + 3 + 4 ³ − π 4 ´´ = i 4 (6 − 2π) = 3 − π 2 i. 3. Dada a curva γ(t) = eit , para t ∈ [0, 2π] temos γ0 (t) = ieit . Trata-se da circunferência de centro na origem e de raio 1, onde as funções f(z) = 1/ |z| e g(z) = 1/ ¯ ¯z2 ¯ ¯, de domínio C {0}, estão definidas e são contínuas. Para esta curva suave os integrais curvilíneos são dados por I γ 1 |z| dz = Z 2π 0 1 |eit| · ieit dt = Z 2π 0 ieit dt = £ eit ¤2π 0 = e2πi − 1 = 0 I γ 1 |z2| dz = Z 2π 0 1 |e2it| · ieit dt = Z 2π 0 1 e2 · ieit dt = 1 e2 Z 2π 0 ieit dt = 0. 4. A curva pode ser parametrizada por γ(t) = t + t3 i, com −1 ≤ t ≤ 1. Trata-se de uma curva suave com γ0 (t) = 1 + 3t2 i. A função f, de domínio C, é contínua em todos os ponto da curva. Temos Z γ f(z)dz = Z 1 −1 f(γ(t)) · γ0 (t)dt = Z 1 −1 f(t + t3 i) ¡ 1 + 3t2 i ¢ dt = Z 0 −1 ¡ 1 + 3t2 i ¢ dt + Z 1 0 4t3 · ¡ 1 + 3t2 i ¢ dt = Z 0 −1 dt + 3i Z 0 −1 t2 dt + 4 Z 1 0 t3 dt + 12i Z 1 0 t5 dt = 1 − 3i 3 + 4 4 + 12i 6 = 2 + i. 5. A curva γ(t) = eit , para t ∈ [0, π], é a semicircunferência de centro na origem e de raio 1 situada nos 1o e 2o quadrantes. Trata-se de uma curva suave onde a função f(z) = ez /z, de domínio C {0}, está definida e é contínua. Pretendemos obter uma estimativa superior
  • 57. 56 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO do módulo do integral curvilíneo de f ao longo da semicircunferência. O comprimento da semicircunferência é π, l (γ) = Z π 0 q (− sin t) 2 + (cos t) 2 dt = Z π 0 dt = π, e todos os seus pontos verificam |z| = ¯ ¯eit ¯ ¯ = 1. Quanto à limitação da função f ao longo desta semicircunferência, podemos escrever ¯ ¯ ¯ ¯ ez z ¯ ¯ ¯ ¯ = |ez | |z| ≤ |ez | 1 = ex ≤ e, já que o valor máximo que x pode tomar ao longo da circunferência é 1. Então, por (5.2), temos a estimativa pedida ¯ ¯ ¯ ¯ I γ ez z dz ¯ ¯ ¯ ¯ ≤ eπ. 6. Consideremos a parametrização γ(t) com t ∈ [a, b] para uma curva seccionalmente suave que una o ponto A ao ponto B. Temos a função f(z) = 1 que é contínua ao longo de qualquer curva seccionalmente suave. Como tal, Z γ dz = Z b a f(γ(t)) · γ0 (t)dt = Z b a γ0 (t)dt = γ (b) − γ(a) = B − A. 3.2 Primitivação complexa O teorema fundamental do cálculo integral para funções reais de variável real afirma que o integral da derivada de uma função é a diferença dos valores da função nos extremos do intervalo de integração e que o integral indefinido de uma função é uma primitiva para a função. Vejamos um resultado análogo para integrais curvilíneos complexos. Definição 17 Dada uma função complexa f definida e contínua numa região A ⊆ C, a função F tal que F0 (z) = f (z), para todo z ∈ A, diz-se uma primitiva de f (ou uma antiderivada de f). Notemos que esta definição implica que F é analítica em A (e, portanto, também contínua em A) por ter derivada em todos os pontos do aberto A. Exemplo 10 A função F(z) = − cos z é uma primitiva de f(z) = sin z visto que (− cos z) 0 = sin z. Dado que (− cos z + C) 0 = sin z, qualquer que seja C ∈ C, − cos z + C é a expressão geral das primitivas de f(z) = sin z. Sejam f uma função complexa definida e contínua numa região A ⊆ C e F = u + iv uma primitiva de f em A. Se γ : [a, b] → C é uma curva contida em A parametrizada por γ(t) =
  • 58. 3.2. PRIMITIVAÇÃO COMPLEXA 57 x(t) + y(t)i então Z γ f(z)dz = Z b a f(γ(t)) · γ0 (t)dt = Z b a d dt F(γ(t))dt = F(γ(b)) − F(γ(a)). Está assim provado o seguinte resultado. Teorema 2 Teorema fundamental do cálculo integral Sejam γ : [a, b] → C uma curva e f uma função contínua numa região A ⊆ C contendo a curva γ. Se F é uma primitiva de f em A então Z γ f(z)dz = F(γ(a)) − F(γ(b)). Em particular, se γ(a) = γ(b), I γ f(z)dz = 0. Se γ(a) = z1 e γ(b) = z2 é usual escrever Z γ f(z)dz = [F(z)]z2 z1 = F(z2) − F(z1). Notemos ainda que, nas condições do teorema anterior, o valor do integral R γ f(z)dz depende apenas dos extremos da curva γ. Assim, se α for outra curva com as mesmas extremidades, o valor do integral é o mesmo. Diz-se que o integral é independente da curva considerada e pode denotar-se simplesmente por R z2 z1 f(z)dz. Teorema 3 Seja f uma função contínua numa região A ⊆ C. Então são equivalentes as seguintes afirmações: (i) f tem uma primitiva em A; (ii) o valor do integral curvilíneo de f é o mesmo ao longo de qualquer curva contida em A ligando pontos z1 e z2 fixos; (iii) o valor do integral curvilíneo de f é zero ao longo de qualquer curva fechada contida em A. Exercícios resolvidos 1. Mostre que não existe uma função analítica f definida em C {0} tal que f0 (z) = 1/z. 2. Calcule R γ z2 dz, para a curva γ(t) = eit sin3 t, com t ∈ [0, π/2]. 3. Calcule R γ ez dz sobre o contorno do triângulo de vértices z = 0, z = 1 e z = πi. 4. Calcule o valor de cada um dos seguintes integrais curvilíneos:
  • 59. 58 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO (a) R π+2i 0 cos (z/2) dz; (b) R i/2 i eπz dz; (c) R 3 1 (z − 2)3 dz. 5. Seja γ a parametrização de uma curva contida no conjunto C {z ∈ C : Re z ≤ 0} que una o ponto z = −i ao ponto z = i. Calcule o valor do integral curvilíneo R γ 1/z dz. 6. Calcule R γ log z dz, onde γ é o arco da circunferência de centro na origem e de raio r situado no 1o quadrante. 7. Demonstre as implicações (i) ⇒ (ii) e (ii) ⇒ (iii) do teorema 2. Propostas de resolução 1. Suponhamos, por absurdo, que existe uma função f analítica definida em C {0} tal que f0 (z) = 1/z. Vimos que a função logaritmo principal log z verificava (log z)0 = 1/z. Contudo, a função logaritmo, embora definida em C {0}, não é analítica no eixo real negativo. 2. A função f(z) = z2 é contínua em C e F(z) = z3 /3 é uma primitiva de f. A curva γ(t) = eit sin3 t, para t ∈ [0, π/2], une o ponto z = γ(0) = 0 ao ponto z = eπi/2 = i. Então, pelo teorema 1, Z γ f(z)dz = ∙ z3 3 ¸i 0 = i3 3 − 0 = − i 3 . 3. O contorno do triângulo de vértices 0, 1 e πi é seccionalmente suave. •• • Eixo real Eixo imaginário 1 πi Consideremos as parametrizações γ1(t) = t + 0i, com 0 ≤ t ≤ 1, γ2(t) = 1 − t/π + ti. com 0 ≤ t ≤ π e γ3(t) = 0 − ti,com −π ≤ t ≤ 0. A função f(z) = ez é contínua no contorno do
  • 60. 3.2. PRIMITIVAÇÃO COMPLEXA 59 triângulo γ. Temos então Z γ f(z)dz = Z 1 0 f(t) dt + Z π 0 f(1 − t π + ti) µ − 1 π + i ¶ dt + Z 0 −π f(−ti)(−i)dt = Z 1 0 et dt + Z π 0 e1− t π +ti µ − 1 π + i ¶ dt + Z 0 −π e−ti (−i)dt = £ et ¤1 0 + h e1− t π +ti iπ 0 + £ e−ti ¤0 −π = e + eπi − e + e − eπi = e. 4. (a) A função f(z) = cos (z/2) é contínua em todos os pontos do seu domínio C e F(z) = 2 sin (z/2) é uma primitiva de f. Então, pelo teorema 1, Z γ f(z)dz = h 2 sin z 2 iπ+2i 0 = 2 sin ³π 2 + i ´ − 0 = e(π/2+i)i − e−(π/2+i)i 2i = e−1+π/2i − e1−π/2i 2i = e−1 (0 + i) − e1 (0 − i) 2i = e−1 − e 2 = 1 − e2 2e . (b) A função f(z) = eπz é contínua em todos os pontos do seu domínio C e F(z) = 1/πeπz é uma primitiva de f. Então, pelo teorema 1, Z γ f(z)dz = ∙ 1 π eπz ¸i/2 i = 1 π ³ eπ/2i − eπi ´ = 1 π (i − 1) . (c) A função f(z) = (z − 2)3 é contínua em todos os pontos do seu domínio C e F(z) = (z − 2)4 /4 é uma primitiva de f. Então, pelo teorema 1, Z γ f(z)dz = ∙ (z − 2)4 4 ¸3 1 = 1 4 (1 − 1) = 0. 5. A função f(z) = 1/z é contínua em todos os pontos do seu domínio C{0}, ao qual pertencem todos os pontos da curva, e F(z) = log z é uma primitiva de f. Então, pelo teorema 1, temos Z γ f(z)dz = [log z] i −i = log(−i) − log i = ln 1 + i ³ − π 2 ´ − ³ ln 1 + i π 2 ´ = −πi. 6. A função f(z) = log z é analítica em todos os pontos do conjunto C {z ∈ C : Re z ≤ 0}, ao qual pertencem todos os pontos da curva, e F(z) = z log z − z é uma primitiva de f. A função F tem derivada contínua em todos os pontos do conjunto C {z ∈ C : Re z ≤ 0} ao qual pertencem todos os pontos da curva. Então, pelo teorema 1, temos Z γ f(z)dz = [z log z − z] ri i = ri log(ri) − ri − (i log i − i) = ri ³ ln r + i π 2 ´ − ri − i ³ ln 1 + i π 2 ´ + i = π (1 − r) 2 + r (ln r − 1) i.
  • 61. 60 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO 3.3 Teorema de Cauchy-Goursat Em 1825, o matemático francês Louis-Augustin Cauchy provou um dos mais importantes teoremas da análise complexa: se γ parametriza uma curva simples e fechada (i.e., uma curva de Jordan) no plano complexo e f é uma função analítica em todos os pontos da curva e do seu interior então I γ f(z)dz = 0. Se f não for analítica em toda a região do interior da curva então o valor do integral poderá ou não ser nulo. Consideremos o seguinte exemplo. Exemplo 11 A função f(z) = 1/z analítica em C {0}. Se a curva de Jordan considerada for a circunferência de centro na origem e de raio r, I γ f(z)dz = Z 2π 0 f ¡ reiθ ¢ reiθ dθ = Z 2π 0 1 r e−iθ ireiθ dθ = i Z 2π 0 dθ = i [θ]2π 0 = 2πi. Não era esperado um resultado nulo dado que a função f não é analítica no círculo de centro na origem e de raio r. No entanto, para a função f(z) = 1/z2 temos I γ f(z)dz = Z 2π 0 f ¡ reiθ ¢ reiθ dθ = Z 2π 0 1 r2 e−i2θ ireiθ dθ = − 1 r £ e−iθ ¤2π 0 = − 1 r ¡ e−i2π − e0 ¢ = 0, mas tal não ocorre por consequência do teorema de Cauchy. De facto, f é analítica em C {0}, não sendo, portanto, analítica na curva e no seu interior. Definição 18 Um conjunto D diz-se simplesmente conexo se toda a curva de Jordan em D pode ser deformada num ponto de D, sem sair do conjunto D. Dito de outro modo, num conjunto simplesmente conexo D, cada curva simples fechada inteiramente contida em D delimita apenas pontos do conjunto D. Num conjunto simplesmente conexo não é admitida a existência de ”bura- cos”. Todo o plano complexo é um exemplo de conjunto simplesmente conexo. O interior de uma curva de Jordan é uma região simplesmente conexa. No entanto, o exterior de uma curva fechada não o é, assim como também não o é a região entre duas circunferências. Uma região que
  • 62. 3.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 61 não é simplesmente conexa designa-se por região multiplamente conexa. Região multiplamente conexa Região multiplamente conexa Região simplesmente conexa Teorema 4 Sejam f uma função analítica e com derivada contínua em todos os pontos de uma região simplesmente conexa D e γ a parametrização de uma curva de Jordan contida em D. Então I γ f(z)dz = 0. Uma versão mais precisa do teorema de Cauchy foi desenvolvida pelo matemático francês Edouard Goursat em 1883. Ele provou que a hipótese de continuidade de f0 pode ser omitida. A reformulação do teorema é a seguinte. Teorema 5 Teorema de Cauchy-Goursat Sejam f é uma função analítica numa região sim- plesmente conexa D e γ a parametrização de uma curva de Jordan contida em D. Então I γ f(z)dz = 0. Visto que o interior de uma curva de Jordan é uma região simplesmente conexa, o teorema de Cauchy-Goursat pode ter a seguinte reformulação mais simples. Teorema 6 Se f é uma função analítica numa região simplesmente conexa D então, para cada curva de Jordan γ contida em D, é válido que I γ f(z)dz = 0. Exemplo 18 Consideremos a função inteira f(z) = sin(ez ). Em particular, é analítica nos pontos da circunferência de centro na origem e raio 1 bem como no seu interior. Sendo γ uma parame- trização desta curva de Jordan temos, pelo teorema 4, I γ sin(ez )dz = 0.
  • 63. 62 CAPÍTULO 3. INTEGRAÇÃO NO PLANO COMPLEXO Exemplo 19 Pretendemos determinar o valor do integral curvilíneo de f(z) = ez ao longo de qualquer curva de Jordan γ. Trata-se de uma função inteira que, em particular, é analítica em todos os pontos da curva e do seu interior. Temos então, pelo teorema 4, I γ ez dz = 0. Exemplo 20 Consideremos a função racional f(z) = 1/z2 e a elipse definida, em coordenadas rectangulares, por (x − 2)2 + (y − 5)2 /4 = 1. A função é analítica em C {0} mas a origem não é ponto da elipse nem do seu interior. Podemos então, pelo teorema 4, concluir que I γ 1 z2 dz = 0. Exemplo 12 Pretendemos calcular o valor do integral curvilíneo R γ 1/ ¡ z2 + 1 ¢ dz = 0 ao longo da circunferência γ definida por |z| = 3. A função f(z) = 1/ ¡ z2 + 1 ¢ é analítica em CÂ {−i, i} visto que z2 + 1 = (z − i) (z + i). Ambos os complexos z = −i e z = i estão no interior da curva γ. Atendendo a que 1 z2 + 1 = 1 2i z − i − 1 2i z + i temos I γ 1 z2 + 1 dz = 1 2i I γ µ 1 z − i − 1 z + i ¶ dz. Consideremos as curvas de Jordan γ1 e γ2 definidas por |z − i| = 1/2 e |z + i| = 1/2, respectiva- mente. Temos, então, pelo teorema 8, I γ 1 z2 + 1 dz = 1 2i I γ1 µ 1 z − i − 1 z + i ¶ dz + 1 2i I γ2 µ 1 z − i − 1 z + i ¶ dz = 1 2i I γ1 1 z − i dz − 1 2i I γ1 1 z + i dz + 1 2i I γ2 1 z − i dz − 1 2i I γ2 1 z + i dz. Visto que a função 1/ (z + i) é analítica na circunferência γ1 e no seu interior, assim como a função 1/ (z − i) é analítica na circunferência γ2 e no seu interior temos, pelo teorema 4, H γ1 1/(z+i)dz = H γ2 1/(z − i)dz = 0. Quanto aos restantes integrais curvilíneos, consideremos as parametrizações γ1(θ) = i + 1 2 eiθ e γ2(θ) = −i + 1 2 eiθ com 0 ≤ θ ≤ 2π. Temos, então, I γ1 1 z − i dz = Z 2π 0 1 γ1(θ) − i γ0 1(θ)dθ = Z 2π 0 1 1 2 eiθ 1 2 ieiθ dθ = i Z 2π 0 dθ = 2πi e I γ2 1 z + i dz = Z 2π 0 1 γ2(θ) + i γ0 2(θ)dθ = Z 2π 0 1 1 2 eiθ 1 2 ieiθ dθ = i Z 2π 0 dθ = 2πi.
  • 64. 3.3. TEOREMA DE CAUCHY-GOURSAT 63 Como tal, I γ 1 z2 + 1 dz = 1 2i 2πi − 0 − 0 − 1 2i 2πi = 0. Exercícios resolvidos 1. Determine o domínio de analiticidade das seguintes funções e aplique o teorema 4 para mostrar que H γ f(z)dz = 0, onde γ é uma parametrização da circunferência definida por |z| = 1. (a) f(z) = ze−z ; (b) f(z) = 1/ ¡ z2 + 2z + 2 ¢ ; (c) f(z) = log(z + 2). 2. Calcule H γ e3z / (z − iπ) dz, onde γ é a elipse de equação |z − 2| + |z + 2| = 6 descrita no sentido positivo. 3. Sejam f(z) = u +iv uma função analítica numa região D e γ(t) = x(t)+y(t)i, com t ∈ [a, b], uma curva de Jordan contida e D. Mostre que I γ ∂u ∂x dx = I γ ∂v ∂x dy e I γ ∂u ∂x dy = − I γ ∂v ∂x dx. 4. Sejam γ e η parametrizações de curvas que unam z = −i a z = i definidas por γ(t) = eit , para t ∈ [−π/2, π/2] , e η(t) = (−1 + 2t) i, para t ∈ [0, 1]. Z γ µ z2 2 + |z|2 ¶ dz e Z η µ z2 2 + |z|2 ¶ dz e determine os seus valores. Justifique que não é possível utilizar o teorema 4. 5. Sejam z1, z2 ∈ C {0}, z1 6= z2. Se γ é um caminho de z1 para z2 no interior de uma região simplesmente conexa que não contenha a origem, mostre que Z γ 1 z2 dz = Z z2 z1 1 z2 dz = 1 z1 − 1 z2 . 6. Use um integral indefinido para calcular o valor do integral curvilíneo Z 2i −2i 1 z dz ao longo de qualquer curva que une z = −2i a z = 2i, contida no semiplano direito.