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Carijó e as Esmeraldas: PREFACIO 12-05-11:

Sentimentos do Autor quarta 25-05-11
É incrível como ao escrevermos uma historia o autor se envolve com os
personagens, seus dramas, suas aflições, suas alegrias e principalmente a eterna
busca pela felicidade. São como filhos, que concebermos e conhecemos tão bem,
cada um deles com sua personalidade própria, suas qualidades e seus defeitos,
suas verdades e inverdades, suas lutas íntimas e a maneira peculiar que cada um
possui de encarar a vida e lidar com os desafios que lhes é permitido.
Foi assim que vim a conhecer e admirar estes personagens tão especiais, uns
concedidos por mim (ficção), outros que faz ou fizeram parte da nossa realidade
(extraídos de fatos reais). Sendo que todos eles descrevam nomes fictícios. Mas
que alguns destes personagens são reais ou foi.



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Bem: Após pesquisas feitas por mim resolvi passar para o papel a saga de uma
jovem extremamente sofrida e massacrada pela desigualdade e injustiça da nossa
cruel sociedade. Porem, uma guerreira persistente e autentica, cujo seu nome
fictício eu a concedi como Elisa.
E ao decorrer das escritas desta história permaneci perplexo pela sua bondade
invés de insurrecionada por tudo o que ela passou. E também fiquei atônito com
a resignação de dona Dolores e Ramon.

Um tanto admirado com a inteligência, dedicação e perseverança do menino
“Carijó”
(é espantoso como gênios são desperdiçados em nossa gananciosa
sociedade).

Gostaria de lembrar também do Carlão, o grande ex-garimpeiro com coração de
ouro. E mais a meretriz que tem uma participação muito pequena na história,
porem importante na nossa narrativa, ao mostrar-nos que às vezes somos
sujeitados a determinados atos considerados ilegítimos ou que nós mesmos ou a
sociedade de um modo geral, não os aceitam até que não necessitamos praticá-
los e que por conseqüência temos que atuarmos, mesmo contra vontade, em prol
da sobrevivência. Você, caro leitor, também irá conviver com estes personagens
e conhecê-los melhor, um a um.
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É um conto emocionante com varias tramas, que tem por objetivo mostrar os
dissabores ou desígnios de todos os personagens. Os ledores mais sensíveis se
emocionam, ou sentirão contrariantes com as injustiças que impõe a nossa atroz
social.
Espero que seja tão envolvente para você quanto o foi para mim e que momentos
de distração e cultura venham a somar e se perpetrar presentes a cada instante de
sua leitura.


                                                      UM forte abraço o autor:




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Agradecimento:

Agradeço com profunda admiração a uma guerreira que carinhosamente nós de
sua família a chamamos de Reina, pois sem a mesma não seria possível à escrita
deste texto. Que foi elaborado com total dedicação, abdicando de suas horas de
descanso, para digitar todas estas paginas. que foram escritas a mão por mim o
“autor”. Pois quando ela voltava de seu trabalho além da mãe dedicada, a jovem
Renata Amaral ainda achou tempo para dedicar-se ao meu projeto.
Por isso minha querida sobrinha, só meu carinho pode demonstrar meu
agradecimento e quero que saiba o quanto você é importante nesta empreitada,
ou melhor, na conclusão deste livro.




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Solidariedade

   Há momentos na vida em que precisamos de uma mão amiga para realizar os nossos-
objetivos.
O que seria de nós simples mortais se não fosse a mão amiga. Eu na minha ansiedade de
ver esta obra concluída, procurei, procurei, procurei,; vários e vários amigos e fui me
deparar com Rosana Ferreira.
Uma pessoa extremamente inteligente e sensível... Tudo que procurei em várias pessoas.
E justamente nessa minha amiga não esperava encontrar Por quê? Porque ela camufla um
tesouro de conhecimento e intelectualidade na sua humildade. Mas com suas geniais
aspirações, ajudou-me a burilar meus textos e acrescendo coisas interessantes sem nada
pedir em troca.
Naturalmente tornou-se minha parceira de escritas nessa tarefa de apresentar esta linda
história baseada em fatos reais, na nossa cruel sociedade tanto em nosso país e também
em relatos e de outros lugares.

NEVAS AMARAL:



Quando encontrares a luz, não as negue aos que ficaram nas trevas: autor desconhecido.



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PARTE I CAPITOLO I


Era maio. O zéfiro do cair da tarde ocasionava o perfume das flores que
dançavam com beleza e graça como que numa coreografia saldando o belíssimo
por -do - sol que maquiava o céu quase sem nuvens com suas cores de raras
tonalidades, que nem mesmo o artífice por mais que talentoso que fosse, cujo
suas obras valem fortunas conseguiria reproduzir em seu esplendor e esmero.
Uma certa quantia de estrelas um tanto tímidas começavam a aparecer no céu e
as aves com seus moldes brincalhões já estavam por mais um dia a roçar as
nuvens com seus aspectos quase angelicais, como os primeiros convidados de
uma festa que às vezes sentem-se um tanto quanto envergonhados por terem
chegado cedo demais, mas cujo brilho que lhes é peculiar, não tarda a enfeitar o
firmamento, como pequenos brilhantes de valor inestimável.
Seriam necessários olhos observadores e sensíveis que atentamente notassem tais
caprichos da natureza com seus requintes de sabedoria onde tudo se harmoniza
na obra prima do inventivo e, graças ao Criador, parece cumprir e realmente
cumpre o seu destino que é a própria vida com toda sua força, onde todos tem a
sua função, e a razão de ser, tudo se completa gerando mais e mais vidas. Só

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mesmo uma Força Superior decorrida de um ser extremante sábio poderia gerar
varias e varias dádivas com tanta generosidade e amor total pela criação, para
colocá-las a disposição do homem que é uma partícula dele mesmo. E que, por
conseguinte também é parte de Sua Magnífica Obra.
Infelizmente nem todos estão preparados para dar o carecido valor às suas
próprias vidas e à de seus semelhantes. Envolvidos que estão em suas próprias
limitações, ganância ou devaneios, então não conseguem erguer-se para enxergar
além do horizonte. Mas a vida ensina e todos, alguns mais cedo, outros mais
tarde, completam seus ciclos e acabam por aprenderem, mais este evento
acontecera quando é chegado o momento de cada um assimilar as lições e seguir
adiante, elevando-se mais e mais rumo às verdades indestrutíveis que nos
aguarda em algum ponto de nossa caminhada física ou metafísica, sempre a
caminho da perfeição.

Portanto...

Em um lugarejo muito distante das grandes cidades...
Joaquim que tal agente tomar uma dose La no boteco?
Só se você pagar Zé.
Vamos lá homem, eu vendi duas galinhas e uns porcos. Por tanto eu tenho dinheiro pra
nós dois tomár um porre!
E lá se foram os dois pela estrada de terra batida rumo ao boteco mais próximo, ansiando
pelos prazeres entre aspas, proporcionados pela bebida que também era uma forma de
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fazê-los esquecer os dissabores e amarguras de uma vida que consideravam duras por
demais.
Chegando ao boteco, Zé já se apressa em fazer o pedido colocando o dinheiro sobre a
mesa.
 Dá uma aí, seu Mané. Tá aqui o dinheiro. Uma prá mim e outra pro meu amigo aqui. E
rápido, por favor, que noz dois está com a goela seca e temos muito dinheiro prá gastar.
Mas rapaz, você tem muito mais do que o dinheiro de duas galinhas. Que dinheirama,
hein! Dá até prá fazer uma festança e tanto, com arrasta-pé e tudo mais. Vamos beber até
cair. ETA coisa boa é a tal da cachaça!
É Joaquim, eu arrumei um bom dinheiro, desta vez.
De que jeito, homem?
Alem das galinhas eu vendi meus seis porco e minha égua.
Uai, então vamos comemorar.
Mas só que eu não posso gastar todo o meu dinheiro de uma só vez, agora,
convenhamos... Que o danado do dinheiro é bom de gastar, ah, isso é... Escuta aqui
Joaquim: Eu tenho uma proposta pra te fazer.
E que proposta é essa? Posso saber?
Vamos então beber depois eu lhe explico direitinho.
Tá bom! Então o negocio é encher a cara e é isso o que importa!
Ô,o,o,o, seu Mané, dá logo uma garrafa dessa danada pra noz dois.
Diga-me uma coisa Joaquim: Faz muito tempo que você está sem a sua mulher?
É rapaz, já faz onze anos. Prá ser mais preciso, desde que Elisa nasceu.



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E afinal de contas, porque ela foi embora? Dolores era tão jovem e bonita! Uma
formosura mesmo, eu me lembro muito bem dela... Tinha uns treze anos, quando ela se
foi. É mesmo Joaquim?
Responde Joaquim: É verdade. Vou te contar o que na verdade aconteceu:

Quando Elisa nasceu fui eu mesmo quem fez o parto, mas pra isto eu tive que ingerirem
umas e outras. E quando eu a tirei da barriga de Dolores e foi exatamente ai quando eu
percebi que ela não se mexia e não chorava, eu acho que de tão fraca que estava. Também
não tinha o que comer em casa. Então eu e minha mulher pensamos que a menina estava
morta. Aí, eu saí pra enterrar a coitadinha na beira do Rio Grande, a uns três quilômetros
pra lá da nossa palhoça.
E aí, homem?
E aí?! Ah deixa pra lá, pois essa história é muito triste e me da um aperto no coração.
Conta rapaz vai lhe fazer bem é bom pra desabafar. Bota pra fora que eu estou deveras
muito curioso.

Bem, já que você está pagando todas, merece escutar a minha história. Afinal não é todo
dia que a gente arruma um par de ouvidos disposto a uma boa prosa. Ainda mais pagando
umas. E por falar nisso, esta cachaça é da boa mesmo, e disso eu sou bom entendedor.
Após uma breve pausa para saborear a cachaça, e também como que para criar coragem,
Joaquim continuou o seu relato.
Quando cheguei próximo ao riacho eu vi que Elisa não estava morta coisa nenhuma, pois
ela se mexia tão devagar que quase não se percebia e logo começou a chorar um chorinho
fraquinho, pois, a coitada, de tão fraca, não tinha força nem prá chorar.

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Então resolvi voltar; Na volta, pedi ajuda prá uma senhora bem velha que morava numa
casinha de barro sozinho lá por perto do tal riacho. Tem que ver que miséria. Muito pior
que nós. A pobre vive lá na maior penúria. Não sei nem como consegue, mas enfim... Ela
começou a tratar da menina e após alimentá-la a senhora começou a rezar uma reza
esquisita, parecia até uma velha dessas tal macumbeira, daquelas que cura tudo quanto é
doença só com o poder da reza.
Eu comecei a ficar meio assustado, pois, não gosto muito dessas coisas, Aí, eu me
mandei, aproveitando a distração da velha que parecia nem estar me vendo e acho que não
estava mesmo, pois seus olhos pareciam estar assim meio que vidrados como se tivesse
vendo algo que não estava ali. Eu, hein... Dei no pé e ao invés de ficar esperando, fui para
um boteco não muito longe dali e comecei a beber umas e outras e aí já viu NE? Esqueci
da vida e da menina também. Nem vi o tempo passar... Só sei que fiquei um tempão ali,
até escurecer.
Após alguns minutos de silêncio e mais alguns goles...

Continua homem!Comenta José: Agora que está ficando interessante. Estou vendo que a
prosa vai longe. Mas não faz mal. Tempo é o que noz temos de sobra aqui neste fim de
mundo, não é mesmo?

Bom, então vê se presta atenção que eu não gosto de ter que ficar repetindo, pois não sou
papagaio. Só voltei lá depois de dois dias pra pegar a menina. Quando eu cheguei a minha
casa após os dois dias, depois da bebedeira, minha mulher não sabendo que a menina
estava viva chorou muito a perda da criança, afinal Elisa era a sua primeira filha. Chorou

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muito, mais ao mesmo tempo se conformara, pois na cabeça dela, Deus apeteceu assim,
então o único jeito era se conformar.

Pobre não tem muita escolha, não é mesmo? Ela só sabia como é de costume que tudo o
que eu ia fazer primeiro eu tinha que passar no boteco prá encher a cara, como sempre eu
fiz... Agora me fala homem. Eu tinha que passar no botequim, pra afogar as mágoas? Pois
é. Sei lá... Parece que o diabo atenta. É, moço, pinga é coisa do cão. Não precisa nem de
dinheiro, pois a gente sempre acha alguém disposto a nos oferecer à danada. E aí a gente
bebe porque está contente, ou então por tristeza! Sempre se arruma uma desculpa, pois
motivo é o que não falta, não é mesmo? Estão-se felizes temos que beber pra comemorar
e ficar mais alegre ainda. Mas se infelizes, aí é que a malvada tem ainda mais serventia,
que é pra afogar as mágoas no peito e esquentar o coração...

E aí, homem. Vê se acaba de contar que eu já estou me consumindo todo de tanta
curiosidade e você fica aí dando volta e mais volta. Vê se você desembucha logo, sem
tanto rodeio. Você esta até parecendo fumo de corda de tão enrolado. Pode beber o tanto
que você quiser desde que me conte essa história direitinha. Toma mais um trago, esta
aqui é direta do alambique. É da boa.

Joaquim já sob o efeito da bebida, pois para ele bastavam alguns goles, começou a soltar a
língua aproveitando a ocasião, pois não era sempre que se encontrava alguém disposto a
ouvir suas histórias. Hoje era seu dia de sorte pensou consigo mesmo.

Continuou a narrativa...

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Zé, como você sabe, minha mulher era muito nova. Tinha apenas treze anos quando Eliza
nasceu e era muito bonita mesmo, uma belezoca tinha um corpo perfeito e já formado, a
pele boa, uns dentes que parecia que era fabricado por um doutor. Pra encurtar a história,
quando eu cheguei a minha casa com a menina, cadê a danada da mulher? Ela tinha ido
embora. Dá pra acreditar, homem? Eu procurei a infeliz por toda parte. Só depois é que
me dei conta que ela tinha dado no pé, pois, seus pertence, ou melhor, suas roupas não
estavam mais lá em casa e o armário estava vazio. Eu devia era ter contado logo pra ela
que a menina ainda estava viva, mas também como é que eu ia adivinhar que ela me
abandonaria? E depois, se a menina não estivesse resistida? Ai meu amigo iria ser pior.

Mas Dolores foi embora achando que sua filha estava morta? E eu só fiquei sabendo que
ela deu no pé por dona Norminha, aquela que conhece a vida de todo mundo de Riacho
grande, sabe até dos pulos que a primeira dama da com aquele mulato o tal de Felisberto.
 E como você já sabe meu amigo, eu comprei a virgindade dela, dei um bom dinheiro
para o seu pai. E eu a queria só por uns momentos, mas acabei me apaixonando por ela
então eu trouxe Dolores para a minha tapera na condição de esposa, que para o velho pai
dela fora um grande alivio.

É... Eu senti muito quando Dolores foi embora. É isso que da morar no meio do mato
nesse fim de mundo onde não tem nenhum medico. Pra você ver eu mesmo que tive que
fazer o parto. E Dolores quando percebeu que a menina não chorou e nem respirou, então
nós achamos que a pobrezinha estava morta mesmo, mas também pudera a mulher não
comia quase nada, por isso que a menina nasceu tão fraquinha daquele jeito. Não sei nem
como sobreviveu. Foi um milagre.

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Continua Joaquim.
Dolores só deixou um recado com a dona Norminha: prá eu não procurá-la mais, pois eu
era o culpado. E se não fosse esse maldito vicio que eu tenho “a cachaça”, talvez nós
tivéssemos salvado a nossa filha. Mas sabe de uma coisa? Eu acho até que aquela menina
nem é minha filha. Pois ela é muito branquinha, que nem leite e assim que minha mulher
foi embora o filho do seu Ricardo foi-se embora também. Não é mesmo muita
coincidência?! Quero dizer, coincidência coisa nenhuma, NE? Tá na cara que eles dois
fugiram junto sei la pra onde. Sabe de uma coisa, a menina tem os traços daquela família
se você observar bem. Só cego não vê.

_ É mesmo, Joaquim: Mas você também é bem claro agente percebe pela cor dos seus
olhos e você esta é bronzeado de tomar tanto sol homem de Deus.
_ Sei não! Bem mas se isso aconteceu até que foi bom. Ela implicava muito com as
poucas cachaças que eu tomo, e você vê que eu quase não bebo não é mesmo meu amigo?
E amigo, além do mais onde já se viu mulher querer mandar em homem. Não tem nem
cabimento. O homem é que manda na mulher e a mulher só presta mesmo é pra servir o
seu homem, não é mesmo? Uma coisa eu te digo: Não se pode confiar em mulher, não.
Mulher é bicho ingrato e traiçoeiro. Eu que o diga...
_
É... Mas, a sua filha está uma moça bem bonita, uma mulher e tanto!
_ É mesmo, homem, ela já está quase no ponto de casar e me deixar sossegado. Eu já
estou ficando velho. Quero mais é sombra e água fresca. Tá na hora de ter um pouco de
sossego na vida.

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_ Quantos anos ela tem? Pergunta Zé com certa malicia.
_ Onze anos, rapaz.
_ É... Já está no ponto de ser desfrutada como uma uva.
_ O que você falou? Pergunta Joaquim com a voz exaltada pela bebida e pelo susto que
quase fez engasgar com o gole que havia acabado de tomar e que desta vez desceu como
que queimando a garganta, fazendo com que ele ficasse vermelho também de indignação
com a ousadia do amigo.
_
 Nada, não. Responde Zé meio sem jeito, pois ele havia pensado alto, já sonhando com a
menina, pois há muito tempo havia reparado na sua formosura e meiguice. Mas o que o
atraia mesmo e dava asas à sua imaginação fértil era a inocência e pureza da menina que
era quase uma criança, embora o seu corpo já houvesse tomado formas de menina - moça,
coisa que ela nem se dava conta.

_ Pensei que você tinha dito algo da minha filha. Acho que a danada da cachaça já está
me fazendo ouvir coisas.
_ Não,,não falei nada não, homem. Olha quer saber de uma coisa? Acho que esta garrafa
está é furada. Vamos pedir mais uma que esta aqui não deu nem pro cheiro. E não se
preocupe, pois eu pago toda a despesa. Hoje é tudo por minha conta e você é meu
convidado de honra. Vamos pedir também um tira gosto, senão... Se nós continuar só
bebendo sem comer nada vamos sair daqui carregado que nem dois sacos de batata.



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ETA coisa boa! Vamos aproveitar a vida enquanto a gente pode. Amanhã não se sabe nem
se nós estaremos vivos. ... Traz aí mais uma garrafa de cachaça da boa e alguma coisa pra
nós comermos. Hoje eu quero é comemorar com meu amigo. Só está faltando mesmo é
umas mulheres aqui bonitas e meia gordas. Bem bonitas pra fazer um chamego em nós,
não é mesmo, Joaquim?!
_ E a tal da proposta que você queria me fazer, Zé? Quero saber se vai me render algum
dinheiro, meu amigão.
_ Ah, deixa pra lá. Depois nós falamos sobre isso. Responde Zé percebendo que após de
toda aquela bebedeira, aquele não seria o momento mais propício para fazer a sua
proposta. Esperaria por um momento mais adequado. Ele saberia esperar. Ah! E como
saberia... Afinal de contas, tinha a certeza de que valeria a pena.




Parte 1 capítulo 2



                                                  15
No caminho de volta para casa, Zé e Joaquim mal conseguiam parar em pé, de tão
embriagados que estavam.
Já completamente entorpecidos pelos efeitos do álcool iam a passos trôpegos,
cambaleando aqui e acolá, sendo que um se apoiava no outro da maneira que podiam.
Como marinheiros à deriva num mar revolto em dia de tempestade, parando de vez em
quando e rindo muito, achando a maior graça em tudo, os dois amigos riam até as
lagrimas e sentiam-se bastante relaxados e descontraídos.
Já na casa de Joaquim, bêbados e ainda com fome, pois o que degustaram no bar não foi o
suficiente para saciar o apetite dos dois que agora se sentiam realmente famintos. Joaquim
manda a filha preparar algo para comerem, nem se dando conta de que não havia coisa
alguma na despensa, aliás, o que era muito freqüente, pois o pouco dinheiro que ele
ganhava mal dava para o sustento dos dois e isso sem falar no que ele acabava gastando
com o seu vício nos botecos da redondeza.

_ Elisa, vê se faz alguma coisa pra mim e pro Zé comer, nós estamos com uma fome de
cão. E seja rápida menina! Vê se não fica lerdeando como de costume. Minha barriga está
roncando prá valer. Dá até prá ouvir o barulho.

A menina, cabisbaixa, responde num tom de revolta e medo. Medo da reação de seu pai
que andava muito nervoso ultimamente, descontando nela as suas amarguras e
insatisfação com a vida.

_Não tem nada pra por no fogo, pai. Eu também estou com fome, mas não temos o que
comer, não.

                                                  16
_ Dá um jeito, menina.
_ Mas que jeito? Responde a menina já aflita e quase chorando.
- Vai pegar umas verduras na horta, procura uns ovos nestes ninhos de galinha por ai e vê
se arruma um pouco de farinha de mandioca emprestada com dona Maria ou com dona
Norminha. Vai logo e não fica olhando pra minha cara, sua inútil. Ou você pensa que é só
obrigação minha trazer comida prá esta casa, enquanto você fica aí de papo pro ar o dia
inteiro, completa Joaquim já enfurecido.
_
Só verdura, pai? Nós vamos comer só verdura? Responde a menina já com lágrimas nos
olhos, pois sua barriguinha também estava roncando de fome. Uma fome que às vezes
chegava a doer.

_ Deixa que eu dê um jeito. Responde Zé passando a mão no corpo da menina com certa
malícia, aproveitando-se da distração de Joaquim.
Logo em seguida ele sai e vai até o armazém mais próximo e trazendo ovos, carne, arroz,
feijão, farinha, sal até alguns doces para agradar a menina. Ela, por sua vez, vai até a horta
e colhe um pouco de verdura para o jantar.

_ Mas rapaz sua filha está mesmo uma moça vistosa, muito bonita mesmo. Parece até uma
gazela! Uma flor do campo que acabou de ser colhida.

Após o jantar que, naquele dia fora um verdadeiro banquete os dois, após saciarem a fome
dormiram ali mesmo, roncando profundamente como dois porcos e Elisa quase não


                                                     17
conseguia dormir e ao deitar-se ficou pensando na sua vida, em como ela gostaria que sua
mãe estivesse ali e que eles fossem de fato uma família feliz.
Pensando ela chorou bastante e depois vencida pelo cansaço adormece. No seu sono ela
sonhou que estava em um lugar muito bonito e florido com um lago de águas cristalinas e
borboletas coloridas por toda parte. Logo apareceu um rapaz de túnica branca, de uma
beleza angelical e ela achou que ele fosse mesmo um anjo. Eles começaram a conversar e
Elisa que no início sentia-se triste e sem esperança logo começou a sentir-se bem melhor.
Feliz até. Ele falou-lhe da importância da paciência e resignação e garantiu-lhe que um
dia tudo ia melhorar e ela iria vencer e ser muito feliz. Pediu para que ela confiasse no
futuro e que jamais perdesse a sua fé. Era seu mentor espiritual, ou anjo da guarda que lhe
dava forças enquanto seu corpo refazia-se.

Na manhã seguinte no âmago do amanhecer, Elisa lembrou-se vagamente de seu sonho,
mas mesmo tendo uma vaga lembrança sentiu um bem estar enorme, uma sensação muito
boa de paz e felicidade que ela não sabia explicar, mas que era maravilhoso, tão bom, mas
tão bom que fazia com que ela se sentisse leve como uma pluma flutuando no ar e
analisando o pouco do ela lembrava do seu sonho ela determinou a si mesma que a sua
felicidade seria só uma questão de tempo.

Joaquim e seu amigo Zé finalmente acordaram. Um pouco zonzos ainda da bebedeira do
dia anterior e com a cabeça pesada, mas nada que um bom café forte não curasse, e por
sinal Elisa já estava coando um café bem forte e amargo para os dois na cozinha, de onde
vinha um aroma agradável.


                                                   18
Após tomarem o café silenciosamente eles continuaram a prosa do dia anterior.
_ O que você vai fazer hoje, Joaquim?
_ Sei não, Zé.
_ Vamos tomar uma, homem? Precisamos conversar. Contrapõe Zé, já disposto a levar o
amigo para o botequim mais próximo onde finalmente faria a sua proposta.
_ E a conversa será sobre o que Zé? Pergunta Joaquim meio desconfiado.
_ Lembra da proposta que eu queria lhe fazer? Pois bem, ainda está de pé.
_ Fale então homem! Do que se trata? Não carece de tanto rodeio. Desembucha logo.
Afinal de contas, nós somos amigos ou não?! Tá me deixando já com a pulga atrás da
orelha, de tanto mistério.
_
Vamos lá pro bar que eu lhe falo. Já estou até com a garganta seca, precisando de uns
goles pra criar coragem.

Os dois chegaram ao boteco e logo após alguns goles de cachaça continuam a prosa.
Ainda é cedo e o sol mal acabava de apontar no horizonte para mais um dia de jornada,
mas para eles não havia mesmo hora para começar a beber, pois todo dia era dia e toda
hora era hora. Pouco importava... Zé pigarreando e com um tom um tanto solene disse ao
amigo com a voz entrecortada.

_ Joaquim meu grande amigão, como você sabe, eu sou muito só. Neste mundão já há um
bom tempo, eu estou me sentindo muito desamparado necessitando de uma mulher do
meu lado. Acho até que preciso- me casar para começar uma nova vida e constituir minha


                                                19
própria família, quem sabe... Você sabe um homem sozinho não progride, não tem futuro
e eu... Bem eu não quero envelhecer só, pois é muito triste. Ah, deixa pra lá...
_
 Fala homem, não fica aí enrolando mais do que sucuri quando se enrosca com a presa.
_ Pois bem você está precisando de dinheiro e eu tenho o dinheiro que você precisa. Tá
me entendendo?
_ Pois é Zé eu estava até pensando em te pedir um pouco emprestado. Só não sei quando
posso te pagar, pois você sabe muito bem a minha situação é muito difícil e a minha
saúde não anda lá essas coisa e ainda por cima essa minha perna inchada que não ajuda
muito por isso é que eu nem consigo trabalhar.
Zé esperou pacientemente que o amigo acabasse com a sua costumeira lamúria e arriscou.

_ Pois é Joaquim: Eu posso fazer melhor. Posso te dar de presente esse dinheiro que você
tanto precisa.
_ Como assim?! Surpreende-se Joaquim com tanta generosidade do amigo para com sua
pessoa, mas na verdade ele ja sabia de antemão qual era a proposta de seu amigo Zé. Aí
tem coisa, pensou ele agora ainda mais desconfiado.

_ Pois é... Se você conseguir convencer a sua filha Elisa de se casar comigo, essa
dinheirama toda será sua. Eu prometo.
_ Você está falando que eu devo vender minha filha pra você, homem de Deus? E ter o
mesmo destino da mãe dela.



                                                 20
_ Veja bem, Joaquim; Não é vender não! Não é bem assim... E além do mais você mesmo
disse que a menina nem é parecida com você e talvez nem seja sua filha de fato. Então
qual é o problema?

_ Mais se não é vender, é o que então? Você esta me chamando de burro? Eu posso não
ter estudo, mas burro eu não sou não. E além do mais, minha filha é moça virgem ainda,
ninguém tocou nela ainda. Por isso eu boto minha mão no fogo.
Zé sente-se ainda mais digamos, entusiasmado com a revelação, mas procura disfarçar.
Seus olhos brilham de desejo, pois já percebeu que o amigo apesar de fazer-se de
ofendido vai acabar não resistindo á sua proposta. Então responde, mal podendo conter-
se:
_ Entenda do jeito que você quiser Joaquim, eu só sei que eu estou doido por aquela
formosura que é a sua filha Elisa. Penso nela dia e noite; e quando durmo até sonho com
ela. Acho que estou endoidando de paixão. Além do mais, ela já está na hora de se casar,
de ser feliz e ter um bom marido feito eu, você não acha, não? Coisa melhor do que eu ela
não vai arrumar, por estas bandas, pode crer.

Joaquim entre um gole e outro parece refletir começando a achar que o amigo tem razão.
Zé continua, percebendo que o Joaquim está quase cedendo.
_ Veja bem homem, daqui a pouco ela acaba se engraçando com algum frangote aqui da
redondeza que vai desvirginá-la e aí então é que ela não irá valer muita coisa. Isso sem
falar que ela pode até acabar engravidando e aí é que eu quero ver. Você é que vai ter que
criar a criança. Já pensou, mais uma boca prá você sustentar? Eu já sou homem feito, já
tenho trinta e oito anos. Vou poder sustentar a sua filha e a prole toda que vier e te garanto

                                                     21
que vai ser grande, pois eu sei que sou um bom reprodutor, praticamente um garanhão.
Sem querer me “gabá”.

_ Sei não... Responde Joaquim quase convencido.
Zé dá sua cartada final, blefando é claro, mas arrisca:
_Quer saber de uma coisa Joaquim? Se você não me quiser como genro eu entendo,afinal
das contas Elisa é a sua única filha, mas fique sabendo que está cheio de pai por estas
redondezas doidinho prá vender as filhas donzela e virgem como vieram ao mundo e
aceitam até muito menos do que eu estou te oferecendo. Então se você não quiser, eu não
pretendo mais perder meu tempo. Vou é sair por aí em busca de uma noiva quem sabe até
mais formosa que a sua filha, Ela não é a única moça destas redondezas.

Zé já ia levantando, se fazendo de ofendido quando Joaquim olhando em seus olhos com
um olhar de cumplicidade e cobiça coloca a mão em seu ombro e pergunta baixinho como
que selando o pacto entre os dois:
_ Quanto é que você tem prá me oferecer pela virgindade da minha filha, por ser o
primeiro homem com quem ela ira se deitar.

_ Tenho uns duzentos reais.
_ Mas só?! Responde Joaquim querendo mais, apesar de Zé ter oferecido mais do que ele
esperava.
_



                                                 22
Essa quantia é só um agrado, depois eu arrumo muito mais prá nós. Eu te dou a minha
palavra, homem! Pode confiar. Ou você não confia mais nesse seu amigo aqui? Responde
Zé já vitorioso.
_ Vamos ver... Eu vou conversar com Elisa. Tentar convencê-la de que você é um bom
partido, o marido ideal prá ela. Sei não... Mas vê se você toma ao menos um bom banho
prá tirar essa catinga de bode velho, viu? Responde Joaquim já matutando como iria
convencer a filha a aceitar o Zé como marido, pois ele sabia previamente que ela não
gostava dele, principalmente por causa do seu bafo de cachaça. Não seria fácil mais ele
iria tentar. E se não fosse por bem então seria por mal.

Joaquim despediu-se de seu futuro genro e foi para casa pensando naquela conversa toda e
resolveu que sua filha teria que lhe obedecer, afinal de contas ele era seu pai. Teria que se
casar com o Zé de qualquer jeito, quer ela queira, quer não. Seria um bom negócio,
pensava Joaquim, e ele finalmente ficaria livre da responsabilidade, pois uma vez casada,
ela não seria mais problema seu, e sim de seu futuro marido, o Zé.
Afinal, arrazoava ele, já pensou se ela acaba se deitando aí pelos matos com algum
aproveitador e além de ficar desonrada ao perder seu bem mais precioso, a virgindade, ela
poderia acabar até caindo na vida e virando mulher da vida tendo que se deitar com tudo
que é homem.

Ou se pior, ela engravidasse, ele é que teria que arcar com as responsabilidades e além de
ter que sustentá-la, teria que sustentar a criança também. Definitivamente o Zé estava
certo. Joaquim chegou a esta conclusão visando é claro, apenas os seus próprios interesses


                                                    23
e querendo livrar-se de uma vez por todas do estorvo que Elisa representa em sua vida,
pois cada vez que olhava para a menina, ele achava que ela não podia ser sua filha.

A dúvida o atormentava dia e noite e a simples presença da menina o incomodava, pois
ele jamais aceitaria a possibilidade de um dia ter sido traído. Já até pensara em ele próprio
desvirginar a menina e viver com ela não como pai, mas como amante. Iria fazer isso em
nome de sua honra e antes que outro qualquer o fizesse. Mas sempre lhe faltava coragem,
pois havia a dúvida e afinal, se ela fosse mesmo sua filha? Esse remorso ele não
suportaria carregar até o fim dos seus dias. Mesmo sendo uma pessoa sem escrúpulos,
Joaquim não desejava correr esse risco e do outro lado havia uma boa quantia nas mãos de
Zé que poderia ser seu bastava ele dizer sim.
Com a cabeça fervendo de tanto pensar, Joaquim está quase chegando a sua humilde casa
quando avista Elisa correndo e brincando com Pingo, seu cachorro de estimação. Ela
corria de um lado para o outro, risonha e alegre tendo um raro momento de diversão com
seu melhor amigo e como a criança que ainda ela era de fato. Ao ver a cena Joaquim
chegou a se emocionar. Coisa rara de acontecer, pois em seu coração endurecido e
amargurado pelo o abandono de Dolores, raramente havia espaço para as emoções
sinceras. Seu conflito íntimo era visível naquele momento, que pena! Ele não saber que
Elisa realmente era sua filha e que era sangue do seu sangue.




                                                    24
Parte 1 Capítulo III


Elisa ao avistar o pai acenou-lhe sem nem ao menos imaginar o que o destino lhe
reservava. Destino este já traçado sem que ela tivesse qualquer chance de optar e decidir
por si própria. Seu pai já havia decidido seu futuro.

Chegando a casa, Joaquim chamou a filha para conversar dizendo num tom meio meloso
o que não era seu costume, pois quase sempre a tratava de uma maneira um tanto rude.
_ Elisa, venha cá, minha filha. Eu quero falar com você: Já está na hora de noz dois ter
uma conversa de pai pra filha. É, está sim! É um assunto de muita importância e é sobre o
seu futuro.


                                                  25
A pobre menina estranhou o tom de voz do pai e ficou muito curiosa a respeito, mas o que
ela nunca podia imaginar era o que viria a seguir, pois Elisa era ainda praticamente uma
criança tal era a sua ingenuidade.
_ Elisa, minha filha, já está na hora de você pensar em se casar e ser feliz, com um bom
marido que possa te dar uma vida melhor que essa que você leva aqui com seu velho pai.
Diz Joaquim como que querendo açucarar as palavras para torná-las doces aos ouvidos da
menina.
Elisa assustou-se e com os olhos arregalados fitava o pai com incredulidade. Por alguns
instantes não sabia o que dizer, sendo que ela mesmo nem sabia a dimensão da palavra
casamento. Não sabia o seu significado em toda sua amplitude. Depois respondeu um
pouco assustada:
_ Não pai, eu sou muito nova prá pensar nisso. Eu ainda nem penso nessas coisas. Deus
me livre e guarde.
Mal ela sabia que o pai queria mesmo era livra-se dela de uma vez por todas e ganhar o
que seria para ele um bom dinheiro.

_ Mas minha filha, você já está prometida. Revela Joaquim finalmente.
_ Como assim? Não entendi, pai.
_ Você nunca saiu desse lugar. Já está na hora de ter sua própria vida, sua própria casa. Eu
já até arrumei um noivo prá você. Eu tive conversando com o Zé e ele quer que você se
case com ele. Ele é um sujeito bonzinho. Zé vai ser muito bom prá você menina. Pode
acreditar em seu pai. Eu só quero o melhor prá você minha filha, Elisa... Não duvide de
seu pai.


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Eu te criei até agora e está mais do que na hora de você pensar no seu futuro. Pronto está
resolvido! Afinal eu sou seu benfeitor e quem da às ordens aqui sou eu!
_ Bonzinho, o Zé? Admira-se Elisa. O senhor acha isso porque ele vive pagando pinga
pro senhor lá no bar. Responde Elisa, perplexa com as idéias de seu pai, mal podendo
acreditar no que acabara de ouvir.
_ Escuta minha filha, ele gosta muito de nós. Você viu ontem a compra boa que ele fez?
Tinha de tudo que carecia pra nós comer até uns doces ele comprou para você, deixa de
ser ingrata. Se não fosse o Zé não sei o que seria de nós. Além do mais ele é meu amigo e
é de confiança. Ele prometeu que ira nos ajudar. Isto é... Se você se casar com ele.

_ Pai! Retruca Elisa indignada... Por favor, pensa um pouco. Ele não é nosso amigo e eu
não gosto dele. O senhor bem sabe disto.
_ Você já está de olho em alguém, é? Será algum moleque da maldita fazenda do seu
Ricardo, ou então algum vagabundo? Veja bem, porque se for eu não respondo por mim.
Vê lá, hein, menina desavergonhada. Responde Joaquim em tom ameaçador e pegando
Elisa pelo braço, sacudindo-a, já cego de raiva continua:

_ Fala, menina. Confessa! Será que você está com cachorrada comigo, é? Você não pode
me dar esse prejuízo, não. É o Zé que vai tirar a sua virgindade. Eu até já prometi prá ele
que ele vai ser o primeiro e agora não posso dar prá trais. Filha ingrata que você é! Eu te
criei sem mãe, dediquei toda minha vida por você! Por tanto eu sou seu pai e sua mãe e
sei muito bem o que estou fazendo e o que é melhor pra você.

Joaquim não se conformava.

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Elisa já chorando e sem entender do que o pai estava falando, muito assustada com o seu
acesso de raiva pergunta:
_ O que o senhor falou pai?
_ Nada, nada. Não interessa. Na hora você vai saber. Você terá que se casar com o Zé e
pronto. Não se fala mais nisso. Ele é um homem bom e já está decidido. Vê se tem
cabimento... Eu sou seu pai e sou eu é que mando e você tem que me obedecer. Ora essa...

_ Pai, pelo amor de Deus, não faz isso comigo. Implora Elisa já chorando. Eu sou muito
nova e aquele seu amigo fede e eu não quero me casar agora.
 Elisa aos prantos tentando entender porque teria que receber tamanho castigo, pois era
exatamente o que aquela união com Zé representava para ela, destruindo todos os seus
sonhos de adolescente.
_ Já está feito, e o que tá feito não tem contorno. Não tente me desobedecer e fazer igual à
vagabunda da sua mãe, aquela cadela vadia que foi embora com outro só porque pensou
que você tinha morrido... Aquela ingrata! Responde Joaquim cheio de mágoa. Mágoa que
corroia o seu coração desde que ele fora abandonado e que só a cachaça parecia amenizar.

_ Pai, que mal eu fiz pro senhor? Que fiz eu prá receber tamanha punição? Pergunta a
menina já em prantos como uma última tentativa de revogar a atitude de seu pai e fazer
com que seu pai mudasse de idéia.
_ Você é igual sua mãe... O comportamento, a mesma cara. E nós estamos é passando
fome. Será que você não vê isso? Pensa bem, o Zé ira te dar as coisas prá você, do bom e
do melhor e eu... Eu pego o dinhei... Joaquim quase ia revelando o seu plano, sem querer,
mas interrompeu-se a tempo.

                                                    28
_ O que, pai? Indaga Elisa, sem compreender _ Nada, menina. Prepara-se, pois você vai
se casar com ele amanhã a noite. E chega de conversa. Eu sou seu pai e decido o que é
melhor prá você.
Elisa abaixa a cabeça e sente as lágrimas rolarem em seu rosto em brasas, mas sabe que só
lhe resta obedecer e se conformar, pois o que mais ela poderia fazer? ... Inexperiente e
indefesa não podia contar com a ajuda de ninguém. Não havia saída para ela. Por mais
que não quisesse teria que submeter-se às ordens de seu pai.
Como a vida lhe era cruel, pensava Elisa com o olhar perdido no horizonte. Neste instante
uma brisa suave tocou seu rosto e seus cabelos macios como que a acariciando com um
carinho imenso e ela lembrou-se do sonho que tivera com o rapaz de branco que mais
parecia um anjo e que lhe pedira para que ela fosse forte e tivesse fé, pois um dia tudo iria
melhorar.

Naquele momento era como se o rapaz em sua beleza angelical estivesse ali ao seu lado
dando-lhe apoio e sustentação. Ela chegou até mesmo a sentir um agradável e suave
perfume que era diferente de quaisquer outro que já sentira antes. Um perfume
inigualável. Fechou seus olhos e aproveitou aquela deliciosa sensação de frescor e
confiança que experimentava sentindo-se leve e de certa maneira até mesmo resignada
com o que o destino lhe reservara.

Aquela sensação de bem estar fez com que todo o seu ser se sentisse revigorado e ela
ficou a observar o lindo pôr - do - sol que contornava o céu alaranjado e transmitia-lhe
uma grande paz interior fazendo com que ela esquecesse por algum tempo do seu drama

                                                    29
íntimo. Pingo, seu melhor amigo a olhava com um olhar triste e com muito carinho foi ao
seu encontro e colocou a cabeça em seu colo suspirando, como que desejando consolá-la
pelo seu infortúnio. Se ele pudesse falar diria: Coragem, minha amiga, coragem! Era o
que seu olhar canino expressava com todo seu amor por aquela fiel companheira.


Parte 1 Capítulo IV

Naquela noite Elisa não conseguia dormir e sentindo-se acuada como uma presa fácil
diante de um terrível predador, tenta preparar-se para uma fuga, mas pela sua
inexperiência, não sabia como fugir. Não sabia nem para onde ir, se sentia em um
labirinto e não tinha tempo para pensar em algum plano que desse resultado. Queria sumir
se pudesse, mas para onde e como?

Sem dinheiro e naquele fim de mundo a menina nem tinha idéia de como sair daquele
lugar onde passara toda sua vida sem dar um único passo adiante e como não tinha a
quem recorrer sentiu que o jeito era resignar-se com a situação, pois não havia o que ela
pudesse fazer. Se ao menos sua mãe estivesse ali para defendê-la e protegê-la ou até
mesmo ajudá-la fugir daquele destino cruel...

Mas ela nem se quer a conhecera. Ficava tentando imaginar como ela seria. Seu rosto o
som da sua voz, e até o gosto que teria a sua comida ela tentava adivinhar. Em vão... Às
vezes sentia tanta falta de um carinho de mãe que muitas e muitas vezes, chorava


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escondida num canto qualquer, mas sempre escondida de seu pai que não suportava
aquelas lamuria, como ele próprio dizia.

E agora o destino mais uma vez estava sendo duro com ela. Por quê?
Ela não conseguia encontrar uma explicação por mais que tentasse. Nada fazia sentido...
Sua mãe a abandonara quando ela nasceu, pois pensava que ela havia morrido. Mas como
isso aconteceu? Elisa não compreendia... O fato de saber que sua mãe fora embora só
porque pensava que ela estivesse morta até que lhe servia de consolo às vezes. Ela até
conseguia entender o porquê de sua mãe, que ela nem conhecera, não querer mais
continuar vivendo com seu pai. Homem rude que era deve tê-la feito sofrer muito e ela
com certeza foi tentar ser feliz e levar uma vida mais digna com outro, o filho do senhor
Ricardo um fazendeiro próximo daquelas redondezas. Será que sua mãe era feliz com seu
atual marido? Assim pensando em sua genitora Elisa acabou adormecendo, pois se sentia
exausta, emocionalmente falando.

 No dia seguinte Zé sentiu - se radiante. Tomou até um banho caprichado, barbeou - se e
vestiu a sua melhor roupa para a grande ocasião. Mal podia esperar para ter a menina nos
seus braços e transformá-la em mulher. Não que a amasse, mas desejava-a ardentemente.
Desejava possuí-la de qualquer maneira e só de imaginar o frescor e a maciez da sua pele,
a doçura de seus lábios que nunca haviam sido beijados ele já ficava quase louco de
paixão. Sempre quisera desfrutar de uma virgem, ter a sensação de ser o primeiro homem
a deitar-se com ela e fazê-la mulher. E na sua fantasia, ela se apaixonaria por ele no
primeiro contato e estaria sempre pronta a servi-lo a qualquer hora do dia ou da noite, pois


                                                    31
essa era a obrigação da mulher no seu modo de pensar. A doce e meiga Elisa, que logo
seria sua...

Ele iria possuí-la e dominá-la totalmente. Ela seria finalmente toda sua. Além disso, Elisa
iria cozinhar lavar e cuidar das suas coisas. E é claro eles iriam ter muitos filhos, uma
família bem grande. Ela era jovem e saudável e com certeza seria uma boa parideira.
Afinal de contas, pensava Zé, mulher foi feita para isso mesmo. Ele já até sentia-se
orgulhoso da fama que teria na região futuramente, pelo número de filhos. Teria um filho
por ano e aqueles que vingassem, assim que estivesse crescidinhos, ele iria por para
trabalhar na roça para ajudá-lo. Não iria ficar sustentando vagabundos, não. Se quisessem
comer teriam que trabalhar. Pois assim ele fora criado.
Seu pai também colocava os filhos, que eram muitos, para trabalhar desde a mais tenra
idade. E era trabalho duro, de sol a sol, mas se quisessem comer seria assim. Sua mãe
morreu cedo, acho que de tanto parir, pensava Zé... Mas afinal, mulher era feita prá isso
mesmo e com Elisa não seria diferente.

Todo orgulhoso e muito ansioso seguia Zé seu caminho para a casa de sua noiva e futura
esposa. Ia cantarolando todo feliz da vida.
Logo ele, pensava todo contente, que até agora só se deitara com meretrizes que só lhe
davam amor, ou melhor, prazer, em troca de algumas moedas. O que era bom, ele não
podia negar, mas com Elisa seria o Maximo, pois as mulheres de programa apesar de
serem lindas elas se deitavam com todo mundo, qualquer um mesmo, desde que pagassem
é claro.


                                                   32
Elisa não! Ela seria só sua: Jamais conheceria outro homem, afinal ele jamais admitiria e
caso isso acontecesse e ele descobrisse a mataria, assim como tabém o cabra safado que
ousasse seduzi-la, lavaria sua honra com o sangue dos dois, isso sim, pois ele era o Zé e
nunca admitiria ser passado para trás.
Foi com a cabeça fervilhando de idéias e já com muito ciúme que ele chegou à casa de sua
noiva.


Conforme combinado antecipadamente, Joaquim havia saído sem Elisa perceber,
deixando-a sós.
Ao vê-lo se aproximando Elisa teve vontade de sair correndo e fugir para bem longe, mas
para onde? Ele com toda certeza a alcançaria rapidamente e talvez fosse até pior pensava
Elisa. Nem adiantaria tentar...
Zé cumprimenta-a todo solene dando-lhe um pequeno buquê de flores do campo que ele
mesmo colhera e amarrara com uma fita de cetim branca, pois queria agradar sua noiva
pura como uma rosa em botão que era, e que ele faria desabrochar com muito orgulho.

_ Boa noite, minha noiva! Diz Zé com uma voz melosa, querendo agradar.
_ Eu não sou sua noiva, vá embora ou eu vou chamar meu pai! Responde Elisa rudemente
e nem sequer pegou as flores que Joaquim lhe ofertara.
Ele nem se abalou. Sorriu ironicamente e disse com um tom de deboche:
_ Bobinha! Você não sabe que teu pai me vendeu por duzentos reais?! Eu até bebi umas
hoje prá comemorar o nosso consórcio. Veja: Eu até tomei um banho completo! Sente só!
Estou até perfumado só pra você, minha noiva. Vem cá, dá um abraço e um beijo no teu

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homem... Diz ele já agarrando a menina e tentando beijá-la, mas seu hálito de bebida era
insuportável para ela.

Elisa tinha que prender a respiração para poder agüentar ao mesmo tempo em que tentava
desvencilhar-se dele. Em vão, pois ele era muito mais forte e quase já a dominava por
completo. Estava muito perto de realizar seu sonho...
Ainda como ultima tentativa e bastante assustada Elisa disse já aos prantos:
_ Seu Zé, por favor, não faça isso. Deixe-me em paz! Eu não quero... Vê se arruma outra
noiva.

Zé já ofegante pelo esforço em dominar a menina que não parava de espernear ainda
disse:
_ Elisa, minha cabritinha, desde que você era pequena eu já pensava em ser seu homem,
seu marido e pai dos seus filhos. Vem cá, não tenta fugir não, que vai ser pior prá você.
Eu vou te fazer feliz, pode ter certeza de que você vai gostar...

Então ele pega a menina no colo e joga-a na cama, e ela pela sua pouca idade, ainda
indefesa que era acaba cedendo e entregando-se àquele ato forçado.
Pronto! Estava consumado. Zé afoito que estava não tomou os devidos cuidados com a
menina no sentido de ser mais carinhoso e cuidadoso. Praticamente a violentou, não se
importou com suas dores físicas e muito menos morais.




                                                  34
Agora ela era sua, toda sua, sua propriedade pensava ele satisfeito. A primeira vez era
assim mesmo, depois ela acabaria se acostumando e gostando. Dali a pouco seria ela
quem iria pedir, pensava Zé todo orgulhoso.
Orgulhoso e egoísta do jeito que era pensando em si próprio, somente em si ele nem se
dava conta de que as mulheres da vida com quem estava acostumado a deitar-se nem de
longe sentiam o prazer que ele imaginava.

Apenas fingiam para agradar o cliente. Não que também ele se preocupasse com isso, pois
para ele pouco importava desde que ele satisfizesse os seus mais primitivos instintos. Às
vezes até mesmo humilhando-as quando não o agradavam.

Sendo que o exagero com a bebida é que muitas vezes impedia que conseguisse consumar
o ato intimo e sagrado que nos traz prazer e colabora com a continuação da humanidade,
quando praticado sem a aberração.

Mas ele ignorante e agressivo que o era colocava a culpa nas próprias criaturas que
tinham a infelicidade de atendê-lo prestando um serviço sexual para o seu bel prazer e que
só o faziam por ser a única maneira que conheciam de sobrevivência para se sustentarem
entre outros clientes afoitos e que dependiam do fruto de seu trabalho tropeço ou não.
Mas poucos homens compreendem isso e as julgam muito mal.

Apesar de usufruírem e serem coniventes usa e abusa constantemente de seus serviços, as
tratam cruelmente como se fossem animais ou pior até... Para eles não existe o respeito
nem a dignidade que devem ser atribuídos a qualquer ser humano, independentemente de

                                                   35
raça, sexo, cor ou credo. A ignorância de Zé aquele homem matuto não percebia o quanto
aquelas damas da noite sofria em busca de seu sustento e ao mesmo tempo colaborando
de forma marginalizada com a sociedade no sentido de atender aqueles clientes incapazes
de conquistar uma boa companheira para seu convívio conjugal e intimo, muitos
freqüentava aquela casa de prostituição em busca de saciar suas fantasia a maioria deles
praticavam aberrações em seus atos sexuais e cruéis.

Quanto a Elisa só resta conformar-se com sua nova condição que lhe fora imposta contra
sua vontade. Sendo assim ela, que agora era uma mulher e não mais uma inocente menina,
pois já havia sido deflorada e destituída de sua pureza só lhe restava conviver com sua
nova vida.
Ela tinha esperança de mesmo sem gostar do Zé, agora seu marido, conseguir viver com
ele maritalmente. Apesar da repugnância que ele lhe causava, não tinha outro jeito
mesmo.

Haveria de se conformar, pois revoltar-se seria muito pior. Zé já lhe mostrara suas garras
e do que ele era capaz e Elisa não queria de modo algum contrariá-lo para não sofrer as
conseqüências.
A menina sentia que agora pertencia a ele, e ele poderia fazer dela o que bem entendesse,
portanto seria muito melhor para ela que não o aborrecesse e nem o contrariasse.
Mesmo com a sua pouca maturidade ela conseguia perceber o que era melhor para si,
quase que como um instinto de sobrevivência. Seu pai fora capaz de vendê-la, sua mãe a
abandonara. Agora seu destino estava nas mãos daquele estranho que agora era seu
marido. Até quando? Só o tempo diria.

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Capítulo1 parte V

Assim os anos foram passando. Lentamente, sem pressa alguma naquele lugarejo onde as
pessoas não tinham grande afã de tocar a vida, pois nada era urgente, nada era tão
importante que não pudesse ser adiado por dias, meses ou até anos. Sim, pois o tempo é
muito relativo, para as pessoas que vivem nas grandes cidades, nas metrópoles e são
muito ocupadas com muitos afazeres, as vinte e quatro horas do dia parecem pouco ou
pelo ao menos é essa a sensação que elas têm; mas para quem vivem no campo sem a
agitação e correria típicas das cidades, os dias parecem passar muito lentamente; entre o
nascer e o pôr - do -sol há tempo mais que suficiente para que as pessoas cumpram com
suas poucas obrigações cotidianas.

É assim que vamos encontrar Elisa. A viver um dia de cada vez. E já bem adaptada a sua
nova vida ela agora finalmente esperava seu primeiro filho. Zé realmente a assistia não
deixando lhes faltar o necessário, somente o necessario. Nem pra ela nem para seu pai,
conforme o prometido. Não passavam mais fome e isso já era uma grande coisa. Não que
ele fosse um sujeito agradável, muito pelo contrário, mas a menina acostumara-se com
seus modos rudes e grosseiros. Ela demorara a engravidar, pois quando se casou, ou

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melhor, quando se juntou ao Zé seu corpo de menina - moça ainda em formação não
estava preparado para ser a progenitora com maturidade. Sua vida sexual começara muito
cedo, mas seus órgãos ainda não estavam suficientemente maduros para a procriação.

Zé não se conformava com o fato de ela não engravidar logo, pois tinha pressa em iniciar
sua prole. Na sua ignorância não compreendia que a natureza feminina precisa estar no
ponto para gerar bebês sadios. Ele começava até duvidar se fora um bom negócio investir
naquela união, quando finalmente e inconsciente o semblante de Elisa denúncia seu
estado de gestação com enjôos e a transformação de seu corpo agora de mulher; Enjôos
principalmente pela manhã o que não deixava dúvidas quanto a uma gravidez. Ela agora
mais saudável, pois se alimentava bem estava apta a ter uma boa gravidez, apesar da
pouca idade.

Zé estava orgulhoso, mal cabia em si. E que fosse homem o seu primeiro rebento, pensava
ele sem nem sequer cogitar a possibilidade de nascer uma menina. Ao menos o primeiro
tinha que ser homem. Depois não importava, pois a prole seria grande..Por Elisa demorar
para engravidar, Zé quase o matara de impaciência., Zé tinha vontade de gritar e, sumir.
Não conseguia compreender sendo que chegava até a pensar que ela não engravidava de
propósito, como que para castigá-lo por saber que ele queria tanto, para ele era questão de
honra.
Sua virilidade estava em jogo. O que diriam seus amigos, companheiros de farra e de
bebedeira? Ele que se dizia um verdadeiro garanhão não podia dar esse vexame. Isso era
demais...


                                                   38
No dia em que soube que Elisa estava grávida, Zé tomou o maior porre de sua vida. Pagou
bebida para todos lá no botequim e bebeu tanto que teve de ser carregado até sua casa
quase matando Elisa de susto quando o viu chegar naquele estado deplorável.

Um belo dia, Zé resolveu vender sua chácara. Abandonou seu sogro já doente a própria
sorte e foi viver com sua adolescente esposa, em um lugar ainda bem mais isolado que
aquele lugarejo, ele trocou o seu pequeno sitio e adquiriu na barganha uma extensão de
terra infinitamente maior, mas sem valor nenhum onde havia um grande rio que passava
dentro daquela propriedade. Porem, nesta troca lhe sobraria algum dinheiro, pois aquelas
terras que agora comprara era bem mais barata por ser totalmente afastada da cidade.

Elisa não se conformava, mas o que ela poderia fazer a não ser acompanhá-lo? O terreno
era maior, mas a casa estava em condições precárias, feita de barro, sem portas, sendo que
a passagem era um buraco onde tinham que abaixar para entrar. Ele comprara uma
propriedade de menor valor e sem vizinhos por perto, pois assim sobraria dinheiro para
suas orgias, ainda mais agora que Elisa estava grávida e com o corpo alterado em sua
formosura pela gravidez precoce ele não tinha mais vontade de deitar-se com ela, pois
agora para ele não havia mais graça, ao menos enquanto ela estivesse naquele estado.
Segundo Zé Ele aproveitara o melhor de seu corpo e de sua inocência e agora já um pouco
cansado daquela rotina conjugal voltava à sua antiga vida de noitadas, bebedeiras e
mulheres para saciar os seus mais desvairados desejos que aumentavam cada vez mais,
como um vício, tal qual a cachaça, a qual ele já não podia viver sem.



                                                  39
Ele pensava consigo mesmo: _Não suporto mais essa situação, mas tenho que pensar
nessa criança que está prá chegar afinal de contas é meu filho. Mas ao mesmo tempo se
deixava levar pelos vícios e pelo ciúme que demonstrava ter por Elisa e que aumentava
cada vez mais, pois a julgava sua propriedade e não queria nem que ela tivesse amizade
com outras mulheres do povoado e por isso usou como argumento que mudara-se para tão
isolado lugar.

Assim nenhum homem poria os olhos na menina e ele sabia que seu corpo após a gravidez
tomaria formas de mulher e com isto atrairia a cobiça masculina e poderiam até querer
roubá-la dele. Ah, isso ele não iria permitir. Era melhor mesmo precaver-se, na sua
maneira romanesca de pensar.

Finalmente a criança nasceu. Um lindo menino que apesar das condições precárias
nascera forte e saudável e quando sentia fome chorava com força até que sua mãe saciasse
sua fome com os seios fartos de leite. No início Elisa teve muita dificuldade em aprender
a lidar com o bebê.
Inexperiente e isolada do jeito que estava não podia contar com a ajuda de ninguém.
Somente a parteira que Zé arrumou no povoado quando ela começou as sentir a dores lhe
deu algumas orientações sobre como cuidar do seu bebê, o restante Elisa foi aprendendo
por si própria com seu instinto maternal.

E assim o tempo foi passando e o menino crescendo forte como um touro e também
crescendo cada vez mais o ciúme que Zé tinha do próprio filho, achando que ele
desfrutava mais da intimidade de Elisa do que ele próprio, que era o marido. Todas as

                                                  40
atenções e todo carinho dela eram somente para o menino, não sobrando nada para ele que
se sentia preferido.
À vezes ele fica observando-a amamentar de longe e quase não agüentando de ciúmes saía
para o povoado buscando o consolo nos braços das prostitutas que lhe consolavam como
podiam. Ele nunca imaginou que seu próprio filho, motivo de muito orgulho e alegria
também seria causador daquele ciúme que o torturava dia e noite. Um ciúme doentio que
lhe tirava o sossego.

Zé tinha sentimentos contraditórios e somente duas coisas o aliviavam: mulherada e
cachaça. Já nem tinha vontade de trabalhar mais como antes. Suas terras já não produzem
como outrora. E o que ele conseguia ganhar gastava a maior parte para alimentar seu
pernicioso vício aos quais estava cada vez mais entregue.

Certo dia, ele chegou a sua casa meio bêbada e ordenou como era de costume:
_ Elisa, faz alguma coisa aí pra eu comer, mulher, que eu estou com uma fome de cão !
_ Não tem nada, Zé. Responde ela temerosa por sua reação, pois ele não gostava nem um
pouco de ser contrariado.

_ E o menino está comendo o que? Indaga-o, já com raiva.
_ Hoje ele comeu fubá com água, temperado com coentro. É só o que tem Zé.
_ E onde é que você arrumou fubá, sua vadia? Será que você andou vadiando por aí, prá
conseguir? Pergunta Zé já cheio de desconfiança e imaginando um monte de besteiras em
sua mente doentia.


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_ Zé, aqui nós vivemos isolados, não tem nem vizinho, homem! Ela responde mal
acreditando nas insinuações do marido. Mesmo conhecendo bem o homem que tinha não
pensava que ele pudesse ir tão longe, mas suas suspeitas já eram praticamente delírios de
uma mente perturbada.
Ele retruca não se dando por vencido:
_ Quer dizer que se tivesse homem aqui por perto...? Diz Zé já colérico, só em pensar na
possibilidade de ser traído.

Era um sentimento que o dominava completamente. Bem lá no seu subconsciente, ele
sabia que não havia motivos para tal desconfiança, mas não conseguia se controlar,
principalmente quando estava embriagado como naquele momento.
Talvez porque ele sabia que ela não se unira a ele por amor, mas sim porque fora forçada
pelo seu pai, e isso o atormentava dia e noite e às vezes até mesmo roubava-lhe o sono
quando sua consciência falava mais alto.

E Elisa reagia da maneira que podia:
_ Para com isso, Zé! Que prosa é essa agora, homem de Deus? Você está ficando louco.
Acho que é a cachaça que está te deixando assim, só pode ser.
_ Mais você não gosta de mim nem nunca gostou. Ou pensa que eu não sei? Responde Zé
magoado.

_ Eu nunca lhe neguei isso. Realmente eu não gosto de você, e você sempre soube, eu
nunca escondi! O que é que eu posso fazer? Não tive outra escolha na vida. O meu destino
já estava traçado... Se eu pudesse escolher, nunca que eu ia escolher você. Pronto ta

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falado. É isso que você queria ouvir?Mas pensa bem o que você fala por que eu não sou
vulgar, se você e meu marido é com você que tenho que viver.
_ Ah! Eu vou te matar, sua ingrata! Esbraveja Zé, completamente fora de si depois do que
ouvira.
Respirando fundo prá não cometer uma loucura ele completa enfurecido:
_ Se você quer saber, Elisa, eu até acho que esse filho não é meu.
Elisa, perplexa, responde:

_ Por que essa conversa mole agora, Zé? Você é que sai toda noite, vai prá suas orgias e
agora desconfia de mim, é?
 Eu é que tenho motivo de sobra prá estar com bronca de você, ou você pensa que eu não
sei prá onde você vai quando dá suas sumidas por aí. Mas se você quer mesmo saber, eu
estou pouco me importando, prá falar a verdade você bem que podia ir aí prá suas
noitadas e nunca mais voltar, que eu iria achar era bom.

Elisa não sabia onde encontrava tanta coragem para enfrentar Zé daquela maneira, mas
continuou falando o que lhe seria em sua alma, sem se importar com as conseqüências,
mas seus protetores estavam ali lhes encorajando, pois era necessário que ela se
defendesse das calunias

_ Se você não voltasse mais, homem seria muito bom, pois eu não precisaria te agüentar e
nem ouvir tanto desaforo Zé.
Àquela altura Elisa já chorava copiosamente. Sensível como era ela não aceitava as
imparciais acusações de Zé sobre a sua conduta.

                                                 43
Os ânimos estavam se exaltando cada vez mais. Elisa já não suportava mais aquelas crises
de ciúmes de Zé, acusando-a injustamente de um adultério que ela jamais cometera.
Ainda mais que ele não tinha decência nem moral para sequer pensar tais coisas a seu
respeito.
Logo ele que chegava a sua casa tarde da noite, bêbado e cheirando a perfume e pensava
que Elisa não percebia.
De repente Zé disse algo que a deixou mais perplexa ainda.
_ Sei não... Já tive varias mulheres nessa vida e nunca consegui ser pai. Por isso eu te
pergunto Elisa, será que esse filho é mesmo meu?

_ Claro que é Zé! Eu bem que gostaria que não fosse, pois acho que meu filho merecia ter
um pai melhor. Responde Elisa não conseguindo mais esconder sua revolta.
_ Sei não, logo que casei com você sempre tinha homem perto de casa.
_ Zé, ali onde nós morávamos era passagem de um povoado pro outro, é por isso que
sempre tinha gente por lá. Tanto homem como mulheres e criança também. Deixe de ser
maldoso. Você vê maldade em tudo, mas a malícia está é na sua cabeça e nessa maldita
mania que você tem de falar do que não sabe. Tenha dó e vê se não me enche mais com
essa prosa. Vê se não me amola!

_ Eu bem que notei umas duas vezes você conversando com uns estranhos, ou você pensa
que eu sou cego. Eu vi bem com esses olhos que a terra há de comer. Zé continua com as
acusações sem fundamento, é claro, mas que para ele, representavam a mais pura
realidade.


                                                 44
_ Zé, era só algumas pessoas que paravam ali prá pedir água prá eles e pros cavalos. E
água a gente não deve negar prá ninguém,
_ Não sei não, essa história tá mal contada, mulher. Não adiantava, pois nada que Elisa
dizia Zé acreditava. O ciúme e a desconfiança já havia tomado totalmente a sua razão. O
que ele não via e nem poderia ver eram os vultos escuros que o abraçavam envolvendo-o
e incutindo em sua mente perturbada cada vez mais idéias absurdas, aproveitando-se de
seu ciúme, desconfiança e principalmente da sua má conduta moral, esses espíritos
inferiores, de energia pesada e com idéias nefastas faziam com que Zé até mesmo
visualizasse em sua mente doentia cenas de sexo entre Elisa e outros homens.

 Eles emitiam essas imagens e Zé em sua ignorância e baixa vibração as captavam como
se fossem reais. Isso só acontecia porque Zé se encontrava em plena sintonia com esses
irmãos inferiores, espíritos vampiricos que sugava suas energias devido a sua freqüência
vibratória que eram semelhantes.
E como neste mundo os que são afins se atraem... É a lei da causa e efeito. Zé os atraia
para si, mesmo inconscientemente e eles o acompanhavam sempre e com enorme prazer
participavam de seu desespero e do sofrimento que aquelas desconfianças lhe causavam.
Eram na realidade, inimigos de outras vidas que havia jurado vingança e que agora
executavam seu plano sendo que Zé através de sua má conduta e vícios abriam a guarda,
um enorme espaço para que essa vingança se tornasse plenamente possível.

Se a conduta moral de Zé fosse outra ele não estaria na mesma faixa vibratória daqueles
seres sedentos de vingança que desejavam acertar contas do passado e, portanto ele não
entraria em sintonia com aqueles espíritos, mas Zé não tinha Deus em seu coração, aliás,

                                                 45
ele nem se lembrava do Criador e jamais se lembrava de rezar; nem para pedir proteção e
muito menos para agradecer.
 Do outro lado Eliza precisaria passar por aquele sofrimento para ajustar erros de vidas
passadas, onde ela mesma condicionou o seu histórico de vida ainda quando habitava no
plano espiritual, mas pela sua boa conduta, ela mesma sem saber atraia os seus protetores
que estavam sempre atentos e assim sendo ela estava em um bom estagio a caminho da
perfeição.

E ao contrario Zé levando uma vida totalmente desregrada estaria em, mas lençóis, pois
ele apenas pensava nos prazeres materiais com total egoísmo e mais nada.
No auge da discussão, Elisa defendia-se como podia.

_ Zé, para com isto: Só essa me faltava! Você desconfiar de mim... Mas isso acontece
com todo homem que é mulherengo e safado. Não confia no que tem em casa e acha que a
gente faz as mesmas cachorradas que eles.
Mas bem: eu deveria ter fugido com um daqueles hómens. Como é que eu não pensei
nisso antes... ? Você bem que merecia que eu te largasse e levasse o nosso filho junto. Aí
quem sabe você iria dar o devido valor.

_ Esse menino não é meu mesmo! Toda vez que eu vou pegar ele no colo ele começa a
chorar e berrar. Conta-me essa história direito Elisa, sua ordinária, vagabunda! Ou eu lhe
encho de pancada e faço você confessar de uma vez por todas, sua cadela vadia. E aqui
você pode gritar a vontade que ninguém vai ouvir, ninguém vai te acudir. Aliais, porque é
que você acha que eu te trouxe prá esse fim de mundo?

                                                   46
Parece que Zé queria que Elisa confessasse para que ele tivesse então um bom motivo
para espancá-la até a morte e assim ele se livraria de uma vez por todas daquele pesadelo
que o atormentava.
_ Então muito bem! Disse Elisa._ Eu vou lhe dizer uma coisa,..Você, Zé, tem um cheiro
nojento, uma catinga de bode. Além disso, você fede a cachaça. A criança, ou melhor, o
Carlinhos tem nojo do teu cheiro, do teu bafo de pinga velha. Ele também vive com fome,
pois você gasta o que ganha com bebedeira e com suas noitadas com as mulheres da vida
e deixa seu filho e sua mulher, que sou eu, passar fome. Se o pobrezinho fica quieto na
cama, tudo bem, mas se você pega ele no colo, a barriga dele dói de fome e aí, é claro que
ele vai começar a chorar. Entendeu agora? Vê se entende de uma vez por todas, pelo amor
de Deus.

_ Que conversa fiada é essa agora, mulher? Isso é conversa prá boi dormir. Você está é
arrumando tudo quanto é desculpa prá se safar, sua vagabundinha! Mas você não perde
por esperar, pois eu vou dar um jeito nessa situação. É só esperar prá ver.

Elisa já estava exausta daquela conversa. Não podia mais suportar aquela situação, mas
conformava-se e resignava-se com seu destino. Pensava somente no seu filho que
dependia totalmente ou unicamente dela, a criança era tão inocente e indefeso, tão alheio a
toda aquela sujeira e miséria. Carlinhos era um anjo em sua vida de amarguras onde a
alegria e a paz não existiam, Muito pior que a miséria em que viviam as necessidades
matérias, a fome que passavam; em fim: A falta de amor de compreensão e respeito. Mas
ela enxergava naquela criança o seu porto seguro, seu único alento.

                                                   47
Zé não acreditava mesmo em Elisa, e ela decidiu que não perderia mais tempo tentando
convencê-lo com seus argumentos que era a mais pura verdade, pois ele era mais teimoso
que uma mula quando empaca. Enfim, era essa a sua cruz e ela iria agüentar firme até
quando pudesse. Ela sabia que lá no céu alguém olhava por ela, com certeza. O mesmo
Ser que criou a natureza e tudo o que há nela.

Elisa tinha a intuição de olhar e ver observando nos mínimos detalhes a beleza que se
apresentava todas as manhãs quando o sol despontava no horizonte até ao cair da noite
quando o espetáculo continuava com o céu repleto de estrelas e a lua majestosa que mais
parecia uma mãe amorosa a velar pelo sono de seus filhos.
Ela analisava com admiração a obra do criador em seu todo: O sol, as estrela, chuva,
vegetações e tudo mais em sua volta, então ela mesmo sem um único dia de escolaridade
conseguia enxergar com profundidade todo aquele complexo agradecendo a Deus por
mais um dia de vida, onde muitos com um bom nível de escolaridade não conseguiam
enxergar na mesma profundidade com que Elisa a via e então ela dizia com sigo mesma,
Deus existe sim: Sem duvida ele existe, pois uma obra tão perfeita só mesmo sendo criada
pelo pai que esta no céu.

E com este modo de pensar ela cada vez mais adquiria forças para continuar.
O que Elisa não sabia, é que por sua bondade, resignação e pureza de sentimentos ela
estava sempre em sintonia com os bons espíritos designados pelo o criador que a
amparavam nos momentos mais difíceis. Ela não os podia ver, mas se pudesse, veria
quanta luz eles emitiam iluminando o seu árduo caminho.

                                                 48
Muito ainda estava por vir, mas ela seria forte e com seu espírito elevado. O tempo, só o
tempo poderia dizer o quanto ela era especial.



Parte II Capítulo I

Em Belo Horizonte, a bela capital mineira onde vivem Dolores e Ricardo, um simpático
casal que, como tantos acalentam o sonho de ter filhos sem no entanto conseguir realizar
seu intento, porém não perdem a esperança, pois sabem que para Deus nada é impossível.

E com os avanços da medicina nesta área, muitos desses sonhos acabam tornando-se
realidade. Avanços esses que são alcançados graças à bondade do Pai, pois tais conceitos
da ciência são permitidos pela Espiritualidade Maior para o benefício das pessoas de uma
maneira geral, para que elas tornem-se mais felizes, mais realizadas.

 É uma pena que muitas vezes a maioria dos empresários desta área manipule estes
progressos de acordo com os seus interesses que muitas vezes atendem não à humanidade
como um todo, mas apenas a alguns da elite, que por terem bem mais recursos financeiros
conseguem ter acesso as mais novas descobertas da medicina. Tais conquistas deveriam
estar ao alcance de todos, sem distinção. Ah, que bom seria...
Obviamente é importante que para alcançar seus objetivos essas pessoas necessitem de
muita paciência e uma boa dose de perseverança. De consultório em consultório estes
casais tentam novos tratamentos e sempre os médicos lhes dão muitas esperanças

                                                  49
fortalecendo seus ânimos; mas não são esperanças vazias, carentes de fundamento, pois é
bem verdade que as pesquisas, especialmente nesta área de reprodução humana, estão
evoluindo a cada dia e ajudando muitos casais a concretizar um sonho.
Porém, não é tão simples como parece. Às vezes leva-se um bom tempo para acertar o
tratamento mais adequado, dependendo, é claro, não só da disponibilidade financeira,
visto que esses tratamentos dependem muito do estado psicológico da futura mamãe alem
de serem caros, infelizmente.

Quando ha uma possibilidade em clinicas gratuito às filas é longo assim como as listas de
espera e então o processo todo é muito demorado e exaustivo. Às vezes acaba até
desgastando o bom relacionamento do casal, por mais que o mesmo seja bem estruturado,
com bases no amor, paciência e tolerância mutuas.

Mas enfim, Dolores e Ricardo conversavam mais uma vez sobre o assunto como tantas
outras vezes, só que desta vez já desanimados, pois haviam varias vezes tentadas sem
resultado; e o sonho de ter um filho tinha que ser mais uma vez adiado, eles sabiam que
não deviam se deixar abater pelo desânimo, mas estava cada vez mais difícil.
Ricardo não tinha como prioridade um filho e sim a sua esposa que lhe completava
plenamente, mas Dolores pelo contrario um filho iria lhe preencher o vazio que a sua filha
a deixou ao vir ao mundo já morta alegava Dolores.

Em alguns casos isso se torna uma obsessão, uma idéia fixa chegando a interferir no
relacionamento do casal e levando até mesmo, às vezes, à separação, pois um sente-se em


                                                   50
dívida com o outro não podendo conviver com esse sentimento de culpa, que por sua vez
gera conflitos desnecessários e muito sofrimento para ambas as partes.

O que as pessoas em geral não compreendem na maioria dos casos, é que não cai uma
folha de uma árvore sem o consentimento de nosso Pai Celestial e que muitas vezes
precisamos passar por certas provações, não como um castigo, mas sim provações que nos
mesmos indicamos para as nossas vidas carnais antes de reencarnarmos, para o nosso
aprimoramento espiritual, agora, a maneira como vamos passar por isso é escolha nossa é
o nosso livre arbítrio que determinara e que dependera exclusivamente de nós.

- Dolores, querida, diz Ricardo a sua esposa: Você já fez vários tratamentos e nada de
engravidar...
- É, Ricardo, o maior sonho da minha vida, como você sabe é acalentar o nosso bebê,
trocar suas roupinhas, alimentá-lo, educá-lo e amá-lo.
- Você Dolores vivia com o Joaquim, aquele infeliz, numa situação paupérrima e acabou
perdendo a sua filha no parto, acho que isso a traumatizou, querida. Considerou Ricardo.
Pensativo ele se lembra de quando conheceu Dolores. Há uns doze anos atrás e quanto a
almejou assim que avistou pela primeira vez, seu desejo de estar junto a ela e sabendo de
sua situação planejou rapidamente como livrar aquela mulher tão bonita e tão jovem ainda
uma menina que lhe pareceu tão especial, apesar de estar mal tratada, daquela miséria em
que vivia com um bêbado que maltratando-a deixou a deriva.

Foi assim que o respeito e gratidão em formato de amor nasceram no coração de Dolores;
Será que foi amor a primeira vista e que foi aumentando cada vez mais e quando Dolores

                                                  51
estava no auge de seu desespero, ao pensar que sua filhinha havia morrido logo após o
nascimento foi ai que Ricardo apareceu na porta de sua casa e a convidou para se casar e
morar com ele em Belo Horizonte, alegando que a amava muito e que Joaquim era um
irresponsável, deixando-a só naquela situação, ela relutou a principio, mas acabou
aceitando, pois já estava cansada daquela vida de amarguras e privações. Ricardo parecia
um bom homem, de uma boa família e parecia sincero e respeitador. Dolores vislumbrava
a oportunidade, a chance de uma nova vida ao lado de quem realmente a amasse e
cuidasse dela, já que com Joaquim ela não podia contar.

Então ela e Ricardo decidiram irem juntos para a capital mineira para começar uma vida
nova, pois para Dolores não havia mais sentido em continuar levando aquela vida
miserável, com tantas privações e principalmente sem dignidade.

A pobreza, a miséria em si já é difícil, e quando não há amor, respeito, compreensão e
principalmente dignidade tudo se torna muito mais difícil de suportar. Joaquim nunca a
respeitara nem como mulher, nem como ser humano, pois a união de ambos foi
conseqüência de uma pequena negociação financeira entre Joaquim e o pai de Dolores.

Joaquim tratava-a como um objeto de sua propriedade e ainda a culpava da situação
precária em que viviam, sendo que não enxergava que, ele sim com o vício da bebida
deixava de cumprir suas responsabilidades de chefe de família, deixando de proporcionar
uma vida melhor para sua esposa e si própria, pois gastava quase tudo o que ganhava no
boteco mais próximo.


                                                 52
Dolores padeceu de uma desnutrição quase profunda durante a gravidez, quando a
gestante tem que alimentar-se bem e de maneira balanceada, incluindo em suas refeições
diárias todos os grupos de alimentos, para que assim o feto possa desenvolver-se de uma
maneira saudável. Porém isto não ocorreu então esta desnutrição de Dolores fez com que
sua filha nascesse muito fraquinha, embora saudável, porém não tendo forças para chorar,
mal podendo respirar e por isso fora dado como morta pelo seu pai na hora do parto, pois
parecia mesmo estar sem vida.

Dolores por alguns instantes recordou-se daqueles momentos difíceis de sua vida,
momentos que ela nem gostava de lembrar-se, mas as tristes lembranças vinham, quase
todos os dias lhe torturar, mesmo contra a sua vontade e ela não conseguia evitá-las.
Então, com lágrimas nos olhos disse olhando para Ricardo.

- Eu não gostaria de falar nesse assunto, se você não se importa. Hoje sou uma mulher
feliz em sua companhia, Ricardo e espero nunca me decepcinar. Eu até rejuvenesci, pois
você me trata como uma rainha e me faz feliz e realizada pode acreditar. Eu aprendi até a
falar direito e a me comportar em sociedade. Tudo graças a Deus e a você. Eu devo-lhe
tudo que sou hoje, Ricardo. Você me salvou e devolveu-me a dignidade, por isso eu quero
retribuir-lhe, dando-lhe um filho, com o qual você tanto sonha, não é mesmo?

- Eu também sou feliz, minha querida, porque tenho você, mas posso afirmar que
podemos ser mais felizes ainda, por você com um filho me fará mais feliz ainda.



                                                  53
- Já sei que para a nossa felicidade seja completa falta uma criança aqui em casa, rindo,
correndo, brincando, enchendo nossos corações de alegria. É verdade, às vezes eu fico
muito deprimida...
- Dolores, ouça bem, nós não somos ricos, mas temos uma situação financeira bem
equilibrada; temos algumas economias guardadas, não é mesmo? Pois eu quero lhe fazer
uma proposta.

- Qual é Ricardo? Surpreende-se Dolores já bastante curiosa.
- Lógico, meu amor, que você hoje e uma mulher bem informada, pois conseguiu
freqüentar uma boa escola, estes anos todos, por tanto você já ouviu falar em inseminação
artificial. Não é mesmo?

- É claro que sim, é um procedimento para casais com dificuldades em conceber. Fala-se
muito a respeito, mas esta realidade só será possível daqui a uns dez anos, digo: A
inseminação será possível aqui no nosso país. E eu não sei se conseguiria esperar por
tanto tempo assim...

- Mas podemos ir aos Estados Unidos e tentar esse procedimento, lá onde a medicina já
está muito mais avançada nessa área. O que você acha?
- Ricardo eu não gostaria de servir de cobaia, pois mesmo lá, os médicos ainda estão em
fase de experiência com essa tal inseminação artificial, mais conhecida como “bebê de
proveta”.



                                                  54
Acho que não seria prudente, afinal de contas trata-se da vida de uma criança, ou melhor,
dizendo, o nosso filho! Sinceramente acho melhor esperar mais um pouco e tenho certeza
que encontraremos uma solução. Não vamos nos precipitar, querido. Eu sei que é tudo o
que você mais deseja na vida, mas temos que ter paciência. Acredite em mim, quando
menos esperarmos essa criança estará a caminho para completar a nossa felicidade e
transformar as nossas vidas.

Ricardo refletiu melhor e acabou concordando com sua esposa. Como sempre ela estava
certa. Era incrível como Dolores era uma pessoa ponderada e sensata e, além disso, tinha
o dom de acalmá-lo e fazer com que ele se sentisse mais confiante e otimista. Talvez por
todo sofrimento que ela havia passado afinal o sofrimento nos proporciona um bom
aprendizado e por isso ela tornara-se uma pessoa tão especial. Como esposa então, ela era
incrível. Administrava tudo com eficiência e capricho. E como mulher uma amante
excepcional e carinhosa, sempre disposta a lhe dar amor e satisfazer seus desejos de
homem.

Ao contrário de seus amigos, ele não precisava ter encontros amorosos fora do casamento
para sentir-se satisfeito. Pelo contrario, Dolores o completava plenamente e ele não se
arrependia de ter escolhido-a para partilhar sua vida. Ele costumava dizer que ela o
salvara, dando um sentido para a vida monótona e sem graça que ele levava, só vivendo
para os estudos na época em que eles se conheceram.

Mas agora, como era bom! Pensava ele, voltar para casa após um exaustivo dia de
trabalho e ter aquela mulher bonita e cheirosa, sempre muito bem arrumada esperando-o

                                                   55
com um jantar especial e sempre disposta a agradá-lo na intimidade, suas “armadilhas” de
sedução. Ah, ela nem de leve lembrava aquela jovem mal-tratada que morava com
Joaquim e era tão espezinhada e humilhada por ele.

 Ricardo conseguiu perceber em Dolores na época que ela vivia com Joaquim que era uma
mulher atraente e sensual. Apenas precisava de uma vida melhor e alivies cuidados. Um
bom tratamento a fez desabrochar como mulher, esbanjando beleza e feminilidade por
onde quer que passe, seus amigos o invejavam e ele orgulhava-se disso. Só faltava mesmo
o tão sonhado filho para completar a felicidade de sua esposa, mas era só uma questão de
tempo.

Aí sim ele iria sentir-se totalmente realizado presenteando a sua bela esposa com um
filho.
Ricardo era um homem acostumando a conseguir tudo o que queria e não poupava
esforços para alcançar seus objetivos, sentia-se extremamente frustrado quando alguma
coisa não saia como ele planejava, porém era persistente e não desistia facilmente de seus
intentos. Foi assim com Dolores, pois não foi tão fácil conseguir conquistá-la, mas quanto
mais difícil, mais prazer lhe dava, pois ele adorava desafios. Aprendera com seu pai que o
que era muito fácil não tinha valor, não proporcionava o sabor da vitória.

Dolores, apesar das dificuldades que enfrentava e da vida dura que levava ao lado de
Joaquim, era uma mulher honesta e não cedeu facilmente aos apelos de Ricardo. Só
mesmo quando perdeu sua filha ela desiludiu-se totalmente da vida e resolveu largar tudo
para traz e partir para uma vida nova, quem sabe bem melhor, mesmo sem ter muita noção

                                                  56
do que provocava em Ricardo, pois ela não o fazia de propósito, mas foi justamente essa
ingenuidade e falta até de malícia que ascendeu de vez os desejos do jovem Ricardo. Ele
queria essa mulher, ah, como queria... E nada iria impedi-lo de conseguir seu intento. Era
só uma questão de paciência e perseverança. E agora mais uma vez essas duas virtudes se
faziam necessárias em sua vida.


Parte 2 Capítulo II

Mais um belo dia nascera no lugarejo abandonado onde vivem Elisa e seu filho. A
natureza exuberante com seus encantos em sua explosão de cores e diversificações de
espécies parece alheia aos dramas de cada ser humano; pois para ela basta ser o que é e
seguir o seu curso que é sempre harmonioso desde que é claro, não seja agredida pela mão
insensata do homem.

Assim como na natureza, os seres humanos, cada qual possui as suas características
próprias, sua individualidade, sua maneira de ser e todos precisam respeitar-se
mutuamente para que se viva em harmonia e equilíbrio; cada um na sua função,
cumprindo o papel que lhe cabe na sociedade para que todos possam ter felicidade e paz.
Não é bem num ambiente de paz, infelizmente que vamos encontrar Elisa. Perdida em
seus adágios, ela recorda-se de seu pai e de como era a sua vida antes de juntar-se ao Zé.
Pensava consigo mesma em voz alta, pois a solidão e o isolamento eram imensos e
inúmeras vezes ela falava sozinha, como se estivesse conversando com alguém, só para
sentir-se menos só.

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_ É meu pai morreu de tanto beber e eu agora estou sozinha nesse mundo. O que vai ser
de mim e do meu filho? Com todos os defeitos de meu pai ele tinha seu lado bom porem
ruim com ele mesmo, bem: Ruim com o meu pai, pior agora sem ele. Eu, praticamente
sosinha com esta criança no mundo para criar, não posso contar com o Zé, que é só orgia
e cachaça. Se pelo ao menos ele se preocupasse um pouco com o menino... Mas ele
cismou que o filho não é dele e ninguém tira isso da sua cabeça que só vê maldade em
tudo, ninguém presta pra ele, como pode!.

Elisa tenta encontrar uma solução para seus problemas, mas como? Com uma criança
pequena nos braços tudo se torna ainda mais difícil, pois não pode arriscar a vida de seu
filhinho adorado. Perdida num turbilhão de pensamentos ela nem percebe quando Zé
chega e já vai logo dizendo ironicamente, aliás, como de costume.

_ Elisa,, vê se melhora essa cara, pois eu arrumei um emprego pra você, e posso lhe
afirmar que é do jeito que você gosta...
Elisa, tentando se remanejar do susto, pois ela não havia visto Zé entrar, pergunta com
humildade:
_ Aonde, Zé? Se dé pra levar o Carlinhos comigo eu vou sim, homem de Deus. Tenho
muita disposição e vontade de trabalhar pra vêr se melhora a nossa situação. Pelo ao
menos pra gente ter o que comer...

_ Você deixa o menino comigo, que lá não pode levar criança não. Aonde já se viu? Você
não desgruda desse menino o dia inteiro e isso não está certo não! Parece até carrapato. Tá
aqui o endereço, é só você procurar a dona Dondoca e diga a ele que fui eu que mandei

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você, entendeu? Se não entendeu é porque e burra mesmo e nesse caso não tem jeito, eu
vou ter que explicar tudo de novo, mas vê se desta vez presta bem atenção, mulher, por
que eu não sou papagaio pra ficar repetindo. Ou quem sabe se eu te der uma sova você
não entende rapidinho. Aliais faz tempo que eu tenho vontade de di dar uma surra bem
dada, Eu acho até que você deve estar sentindo falta disso. Quando eu te bater e depois de
nós irmos pra cama fazer safadeza ficara até mais gostoso, você não acha? Ah deixa isso
pra lá, vamos direto ao que interessa.

Elisa ouviu as observações de Zé, indignada. Sim, foram muitas ameaças que ele fazia e
sem motivo. Sempre que algo dava errado para Zé ele ia pra casa e descontava em Elisa a
sua raiva, a sua ira. Depois ainda por cima tomava-a a força como um animal.
Geralmente nesses momentos ele estava sempre embriagado e em péssimas companhias
espirituais, verdadeiros vultos negros que o envolviam e abraçados e ele desfrutava
também dos prazeres sexuais que no seu caso eram baseados em puro sadismo. Esses
espíritos de vibração inferior estavam sempre com ele vibrando para que tudo desse
errado com aquela família.

Era desta forma que supostamente Zé se vingava de Elisa com seus vícios: o álcool e a
perversidade sexual. E seus oponentes espirituais queriam cada vez mais e com mais
intensidade, portanto instigavam-no a ser violento, principalmente com as mulheres.
Assim era também com as prostitutas que eram obrigadas a deitar-se com ele, pois eram
raras às vezes em que elas não eram humilhadas antes de servi-lo. Quando ele chegava,
todas tinham vontade de se esconder para escapar de tamanha ignorância e mau cheiro e


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ele cada vez mais parecia só chegar a uma plena satisfação sexual após cometer tais
barbarias. Algumas diziam que ele parecia ficar possuído quando começava o coito.
Ouve uma vez em que ele por não conseguir atingir o ápice de prazer tentou espancar
uma das moças que ele contratou para a sua orgia, só não chegou a batê-la por que ela era
forte, mas mesmo assim, só depois de uns dois meses é que ela se recuperou do susto.
Janete esse era o seu nome, deixou de atendê-lo como cliente assim que pode por medo de
ter que servir o “Demônio” novamente.

Este era o apelido de Zé no bordel e ele fazia jus ao mesmo. De tão mal educado que era.
E assim Zé ia levando a sua vida e nada parecia detê-lo. Seus “comparsas” espirituais
estavam sempre com ele, pois havia tamanha sintonia entre eles que era como se fossem
duas pessoas no mesmo corpo. Zé tomava como seus, os pensamentos daquela legião de
espíritos perdidos em seus devaneios, facilmente registrava tais pensamentos como se
fossem seus próprios.

Ele era também uma vitima e a única maneira de livrar-se de tal obsessão seria mudar a
sua conduta moral, abandonando os vícios perniciosos e voltando-se a Deus. Mas isso não
seria nada fácil e exigiria muito esforço e força de vontade o que não era bem uma
característica da sua personalidade ou índole do seu espírito que trazia em seu
subconsciente ou egocentrismo o objetivo de vingança de uma vida passada.

Pelo contrário, ele só pensava nos prazeres imediatos o que contribuía e alimentava em
suas obsessões vampirescas e sedentos de vingança de algo que nem ele mesmo sabia
decifrar e ávidos de prazer de toda espécie. Caso Zé resolvesse mudar de vida e se

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empenhasse muito para isso, tais obsessões estariam sempre na espreita para que ao
menor vacile de sua parte eles pudessem arrastá-lo novamente para aquele redemoinho de
perdição.
Portanto ele teria que cometer um esforço enorme para não cair em tentação novamente,
pois qualquer vacilo seu seria fatal. Por isso que muitos, ou melhor, a maioria não
consegue se livrar tão facilmente. Só mesmo com muita fé e força de vontade. O melhor
mesmo é não envolver-se em tais processos destrutivo, pois uma vez dentro, torna-se
difícil a recuperação, porem se tivermos fé acima de tudo, pois para Deus nada é
impossível e cada caso é um caso a ser considerado. No que se refere ao Zé, ele estava
cada vez mais comprometido com o astral inferior, infelizmente.

Elisa, já amedrontada, pois é claro, não queria apanhar, porque se assim fosse perderia
toda sua dignidade, mas também não tinha como defender-se então ela responde com a
voz tremula: _ Eu entendi, sim, Zé, não carece de repetir e te agradeço muito por ter
arrumado um emprego pra mim. Mas...

_ Mas o que, Elisa? Não me venha com desculpa, pois está tudo arranjado. Você não vai
me fazer essa desfeita, sua cadela vadia! Está tudo combinado com sua futura patroa!
_ É que eu não queria deixar o nosso filho aqui. Ele ainda é muito pequeno e precisa de
mim. Responde Elisa com o coração apertado de dor.
Pode deixar você ira se dar bem. Vai por mim. Agora vem cá, vamos deitar que eu quero-
te ensinar umas coisinhas novas. E vai ser de muita utilidade no seu trabalho novo.



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Você tem que aprender de uma vez por todas a agradar um homem na cama. Está mais do
que na hora. Vem cá que eu vou-te ensinar tudo que uma mulher deve saber. E riu como
satisfação.

Elisa ficou contente com a notícia, mas ao mesmo tempo receosa por causa de seu filho;
mas se era para ter uma vida melhor, pensou, valia a pena o sacrifício.
Embora muito preocupada por causa da criança, ela não podia perder essa chance de
arrumar um trabalho, pois afinal de contas não era sempre que aparecia uma oportunidade
de emprego, ainda mais naquele fim de mundo onde tudo era tão difícil.


No dia seguinte, logo cedo, ela arrumou-se da melhor maneira que pode e foi até o
endereço que Zé lhe dera. Um tanto quanto insegura, mas esperançosa ela ao chegar ao
destino procura pela pessoa que Zé indicara.
_ Por favor, eu quero falar com a dona Dondoca. Pede ela humildemente a mulher de
aparência estranha que atende a porta e a mede da cabeça aos pés com um ar de desdém.
_ Mais uma prá concorrer conosco. Aqui já tem mulher demais, meu bem! Responde a
moça com uma voz nada amistosa.

_ Você é a mulher do Zé? Pergunta outra moça com o rosto tão pintado que mais parecia
uma boneca.
_ Sim, sou eu. Meu nome é Elisa. O Zé me mandou aqui pra eu arrumar um emprego.
Sabe moça eu estou precisando muito de um trabalho pra vê se melhora a nossa situação


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que vai de mal a pior. Tem dia que nós não temos o que comer; E, além disso, eu tenho
um filho pequeno pra criar.
_ Vai embora, menina. Você é quase uma criança ainda. E aqui é uma casa de
prostituição, casa de mulher dama, ou mulher da vida, um prostíbulo, se é que você está
me entendendo...

_ O que é um prostíbulo? Eu acho que não entendi muito bem. Desculpe-me dona, mas é
que eu estou um pouco confusa. Elisa dentro da sua ingenuidade de menina-moça ainda
não consegue entender do que se tratava.
Uma das moças após dar uma sonora gargalhada responde séria:
_ Aqui nós vendemos o corpo prá sobreviver, prá não morrer de fome. Temos que se
sujeitar a estas humilhações noz que aqui vivemos somos prostitutas, Mas o nome não
importa. O que realmente importa é que a gente é obrigada a ir prá cama com todo tipo de
homem que aparece, não temos o direito de escolher é questão de sobrevivência menina,
vai embora, pois aqui não serve pra você. E se você quer saber: Até mesmo com o
desgraçado do seu marido agente tem que se deitar. Aliás, mocinha, sabe qual é o apelido
dele aqui? Pois bem: Eu vou lhe dizer...Demonio!

De repente dona Dondoca aparece e ao escutar a outra falando com Elisa daquela
maneira, ela fica furiosa. Bate duas vezes na cara daquela que falou demais e retruca:
- Não se meta nos meus negócios ou eu lhe corto a língua da próxima vez! Quantas vezes
eu preciso repetir que quem manda aqui sou eu, sua linguaruda? Agora vê se some daqui e
vai procurar alguma coisa pra fazer. Serviço é o que não falta por aqui. Olha esse chão
como está sujo! Quer que eu esfregue a tua cara nele? ...

                                                 63
Virando-se para Elisa que assustada com a cena, estava boquiaberta, diz com uma voz
toda amável, pois percebe que a menina estava muito impressionada com tudo que
presenciara. Tentou tirar essa má impressão da menina e como era muito experiente ela
convida a menina para entrar...
_ Entra, minha filha, fique a vontade, sinta-se como se estivesse em sua casa. Você vai se
sair muito bem aqui, ainda mais sendo assim tão novinha. Você é muito bonita, sabia?
Bem que o Zé falou...

Essa vagabunda está é com uma baita inveja da sua formosura e juventude. De uma
voltinha, filha. Deixa ver como você está bem servida de carnes. Sabe como é homem
gosta é disso, principalmente no traseiro... É, acho que tá tudo certo. Pele boa, dentes
bons, seios razoavelmente que da par encher uma taça, mas cabem numa mão, ancas
largas e... O principal é essa carinha de menina inocente. Sabe menina, os homens adoram
uma carinha de anjo num corpo de mulher, eles pagam até mais, sabia? Você poderá
ganhar muito dinheiro aqui e estou pronta para lhe ajudar.

Dizem que dá mais prazer. Se ainda for virgem então... Bem, não é o seu caso, mas não
faz mal. Você vai me render um bom dinheiro. E se algum homem endinheirado gostar de
você até pode estar disposto a pagar pela exclusividade, ou seja, tu só irás pra cama com
ele e na hora que ele quiser e é claro tem que fazer tudo que ele exigir. Acho que eu vou
ter que te ensinar muita coisa a você... Mas quando chegar na hora “H” você se faz de
ingênua com os homens, isso deixa eles doido. Sabe, certa vez apareceu aqui um coronel
que gostou tanto de uma menina que tinha o rosto todo pintadinho. Uma cara de sapeca

                                                  64
que só ela... Chamava-se Laudenice, mas o apelido era Lalá. Pois bem esse tal coronel que
era pra lá de rico quis levá-la com ele e pagou um bom preço pela danadinha. Ele dizia
que ela era uma diabinha na cama, um verdadeiro furacão e deixava o coronel doido com
aquela carinha de anjo, aqueles cabelos cor de fogo e aquelas pintinha na cara.

O homem “ficou de quatro” por ela. Ele era casado e muito bem casado por sinal.
Respeitadíssimo aqui na região, dono de um monte de fazenda e metido com política. Mas
cismou com a Lalá. Apaixonou-se mesmo. Sorte dela... _ “Bota um preço que eu pago,
dona Dondoca!” Foi assim que ele falou. É claro que eu botei um valor lá nas alturas. Foi
com essa grana que eu reformei esse casarão que estava caindo aos pedaços e contratei
mais meninas pra trabalhar. No dia em que Lalá foi embora


Foi uma choradeira só, tem que vê... Ela era muito querida por aqui. Era uma verdadeira
moleca, vivia fazendo arte, mas na hora de trabalhar a danada fazia tudo certinho dava até
gosto de ver, bem. Sabia agradar os homens na cama. Deixava-os doido... Quem sabe
você não dá a mesma sorte, Elisa, e se livra daquele traste que é o seu marido. Sim porque
viver com ele deve ser um inferno. Deus me livre. Cruz credo! Ninguém merece um
castigo tamanho, ainda mais você que a gente vê de longe que é uma criatura boa e sem
maldade... Completou dona Dondoca benzendo-se três vezes seguidas ao lembrar-se de
Zé. A mulher falava sem parar nem reparando no olhar de decepção de Elisa que com os
olhos cheios d‟ água respondeu:



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  • 1. Carijó e as Esmeraldas: PREFACIO 12-05-11: Sentimentos do Autor quarta 25-05-11 É incrível como ao escrevermos uma historia o autor se envolve com os personagens, seus dramas, suas aflições, suas alegrias e principalmente a eterna busca pela felicidade. São como filhos, que concebermos e conhecemos tão bem, cada um deles com sua personalidade própria, suas qualidades e seus defeitos, suas verdades e inverdades, suas lutas íntimas e a maneira peculiar que cada um possui de encarar a vida e lidar com os desafios que lhes é permitido. Foi assim que vim a conhecer e admirar estes personagens tão especiais, uns concedidos por mim (ficção), outros que faz ou fizeram parte da nossa realidade (extraídos de fatos reais). Sendo que todos eles descrevam nomes fictícios. Mas que alguns destes personagens são reais ou foi. 1
  • 2. Bem: Após pesquisas feitas por mim resolvi passar para o papel a saga de uma jovem extremamente sofrida e massacrada pela desigualdade e injustiça da nossa cruel sociedade. Porem, uma guerreira persistente e autentica, cujo seu nome fictício eu a concedi como Elisa. E ao decorrer das escritas desta história permaneci perplexo pela sua bondade invés de insurrecionada por tudo o que ela passou. E também fiquei atônito com a resignação de dona Dolores e Ramon. Um tanto admirado com a inteligência, dedicação e perseverança do menino “Carijó” (é espantoso como gênios são desperdiçados em nossa gananciosa sociedade). Gostaria de lembrar também do Carlão, o grande ex-garimpeiro com coração de ouro. E mais a meretriz que tem uma participação muito pequena na história, porem importante na nossa narrativa, ao mostrar-nos que às vezes somos sujeitados a determinados atos considerados ilegítimos ou que nós mesmos ou a sociedade de um modo geral, não os aceitam até que não necessitamos praticá- los e que por conseqüência temos que atuarmos, mesmo contra vontade, em prol da sobrevivência. Você, caro leitor, também irá conviver com estes personagens e conhecê-los melhor, um a um. 2
  • 3. É um conto emocionante com varias tramas, que tem por objetivo mostrar os dissabores ou desígnios de todos os personagens. Os ledores mais sensíveis se emocionam, ou sentirão contrariantes com as injustiças que impõe a nossa atroz social. Espero que seja tão envolvente para você quanto o foi para mim e que momentos de distração e cultura venham a somar e se perpetrar presentes a cada instante de sua leitura. UM forte abraço o autor: 3
  • 4. Agradecimento: Agradeço com profunda admiração a uma guerreira que carinhosamente nós de sua família a chamamos de Reina, pois sem a mesma não seria possível à escrita deste texto. Que foi elaborado com total dedicação, abdicando de suas horas de descanso, para digitar todas estas paginas. que foram escritas a mão por mim o “autor”. Pois quando ela voltava de seu trabalho além da mãe dedicada, a jovem Renata Amaral ainda achou tempo para dedicar-se ao meu projeto. Por isso minha querida sobrinha, só meu carinho pode demonstrar meu agradecimento e quero que saiba o quanto você é importante nesta empreitada, ou melhor, na conclusão deste livro. 4
  • 5. Solidariedade Há momentos na vida em que precisamos de uma mão amiga para realizar os nossos- objetivos. O que seria de nós simples mortais se não fosse a mão amiga. Eu na minha ansiedade de ver esta obra concluída, procurei, procurei, procurei,; vários e vários amigos e fui me deparar com Rosana Ferreira. Uma pessoa extremamente inteligente e sensível... Tudo que procurei em várias pessoas. E justamente nessa minha amiga não esperava encontrar Por quê? Porque ela camufla um tesouro de conhecimento e intelectualidade na sua humildade. Mas com suas geniais aspirações, ajudou-me a burilar meus textos e acrescendo coisas interessantes sem nada pedir em troca. Naturalmente tornou-se minha parceira de escritas nessa tarefa de apresentar esta linda história baseada em fatos reais, na nossa cruel sociedade tanto em nosso país e também em relatos e de outros lugares. NEVAS AMARAL: Quando encontrares a luz, não as negue aos que ficaram nas trevas: autor desconhecido. 5
  • 6. PARTE I CAPITOLO I Era maio. O zéfiro do cair da tarde ocasionava o perfume das flores que dançavam com beleza e graça como que numa coreografia saldando o belíssimo por -do - sol que maquiava o céu quase sem nuvens com suas cores de raras tonalidades, que nem mesmo o artífice por mais que talentoso que fosse, cujo suas obras valem fortunas conseguiria reproduzir em seu esplendor e esmero. Uma certa quantia de estrelas um tanto tímidas começavam a aparecer no céu e as aves com seus moldes brincalhões já estavam por mais um dia a roçar as nuvens com seus aspectos quase angelicais, como os primeiros convidados de uma festa que às vezes sentem-se um tanto quanto envergonhados por terem chegado cedo demais, mas cujo brilho que lhes é peculiar, não tarda a enfeitar o firmamento, como pequenos brilhantes de valor inestimável. Seriam necessários olhos observadores e sensíveis que atentamente notassem tais caprichos da natureza com seus requintes de sabedoria onde tudo se harmoniza na obra prima do inventivo e, graças ao Criador, parece cumprir e realmente cumpre o seu destino que é a própria vida com toda sua força, onde todos tem a sua função, e a razão de ser, tudo se completa gerando mais e mais vidas. Só 6
  • 7. mesmo uma Força Superior decorrida de um ser extremante sábio poderia gerar varias e varias dádivas com tanta generosidade e amor total pela criação, para colocá-las a disposição do homem que é uma partícula dele mesmo. E que, por conseguinte também é parte de Sua Magnífica Obra. Infelizmente nem todos estão preparados para dar o carecido valor às suas próprias vidas e à de seus semelhantes. Envolvidos que estão em suas próprias limitações, ganância ou devaneios, então não conseguem erguer-se para enxergar além do horizonte. Mas a vida ensina e todos, alguns mais cedo, outros mais tarde, completam seus ciclos e acabam por aprenderem, mais este evento acontecera quando é chegado o momento de cada um assimilar as lições e seguir adiante, elevando-se mais e mais rumo às verdades indestrutíveis que nos aguarda em algum ponto de nossa caminhada física ou metafísica, sempre a caminho da perfeição. Portanto... Em um lugarejo muito distante das grandes cidades... Joaquim que tal agente tomar uma dose La no boteco? Só se você pagar Zé. Vamos lá homem, eu vendi duas galinhas e uns porcos. Por tanto eu tenho dinheiro pra nós dois tomár um porre! E lá se foram os dois pela estrada de terra batida rumo ao boteco mais próximo, ansiando pelos prazeres entre aspas, proporcionados pela bebida que também era uma forma de 7
  • 8. fazê-los esquecer os dissabores e amarguras de uma vida que consideravam duras por demais. Chegando ao boteco, Zé já se apressa em fazer o pedido colocando o dinheiro sobre a mesa. Dá uma aí, seu Mané. Tá aqui o dinheiro. Uma prá mim e outra pro meu amigo aqui. E rápido, por favor, que noz dois está com a goela seca e temos muito dinheiro prá gastar. Mas rapaz, você tem muito mais do que o dinheiro de duas galinhas. Que dinheirama, hein! Dá até prá fazer uma festança e tanto, com arrasta-pé e tudo mais. Vamos beber até cair. ETA coisa boa é a tal da cachaça! É Joaquim, eu arrumei um bom dinheiro, desta vez. De que jeito, homem? Alem das galinhas eu vendi meus seis porco e minha égua. Uai, então vamos comemorar. Mas só que eu não posso gastar todo o meu dinheiro de uma só vez, agora, convenhamos... Que o danado do dinheiro é bom de gastar, ah, isso é... Escuta aqui Joaquim: Eu tenho uma proposta pra te fazer. E que proposta é essa? Posso saber? Vamos então beber depois eu lhe explico direitinho. Tá bom! Então o negocio é encher a cara e é isso o que importa! Ô,o,o,o, seu Mané, dá logo uma garrafa dessa danada pra noz dois. Diga-me uma coisa Joaquim: Faz muito tempo que você está sem a sua mulher? É rapaz, já faz onze anos. Prá ser mais preciso, desde que Elisa nasceu. 8
  • 9. E afinal de contas, porque ela foi embora? Dolores era tão jovem e bonita! Uma formosura mesmo, eu me lembro muito bem dela... Tinha uns treze anos, quando ela se foi. É mesmo Joaquim? Responde Joaquim: É verdade. Vou te contar o que na verdade aconteceu: Quando Elisa nasceu fui eu mesmo quem fez o parto, mas pra isto eu tive que ingerirem umas e outras. E quando eu a tirei da barriga de Dolores e foi exatamente ai quando eu percebi que ela não se mexia e não chorava, eu acho que de tão fraca que estava. Também não tinha o que comer em casa. Então eu e minha mulher pensamos que a menina estava morta. Aí, eu saí pra enterrar a coitadinha na beira do Rio Grande, a uns três quilômetros pra lá da nossa palhoça. E aí, homem? E aí?! Ah deixa pra lá, pois essa história é muito triste e me da um aperto no coração. Conta rapaz vai lhe fazer bem é bom pra desabafar. Bota pra fora que eu estou deveras muito curioso. Bem, já que você está pagando todas, merece escutar a minha história. Afinal não é todo dia que a gente arruma um par de ouvidos disposto a uma boa prosa. Ainda mais pagando umas. E por falar nisso, esta cachaça é da boa mesmo, e disso eu sou bom entendedor. Após uma breve pausa para saborear a cachaça, e também como que para criar coragem, Joaquim continuou o seu relato. Quando cheguei próximo ao riacho eu vi que Elisa não estava morta coisa nenhuma, pois ela se mexia tão devagar que quase não se percebia e logo começou a chorar um chorinho fraquinho, pois, a coitada, de tão fraca, não tinha força nem prá chorar. 9
  • 10. Então resolvi voltar; Na volta, pedi ajuda prá uma senhora bem velha que morava numa casinha de barro sozinho lá por perto do tal riacho. Tem que ver que miséria. Muito pior que nós. A pobre vive lá na maior penúria. Não sei nem como consegue, mas enfim... Ela começou a tratar da menina e após alimentá-la a senhora começou a rezar uma reza esquisita, parecia até uma velha dessas tal macumbeira, daquelas que cura tudo quanto é doença só com o poder da reza. Eu comecei a ficar meio assustado, pois, não gosto muito dessas coisas, Aí, eu me mandei, aproveitando a distração da velha que parecia nem estar me vendo e acho que não estava mesmo, pois seus olhos pareciam estar assim meio que vidrados como se tivesse vendo algo que não estava ali. Eu, hein... Dei no pé e ao invés de ficar esperando, fui para um boteco não muito longe dali e comecei a beber umas e outras e aí já viu NE? Esqueci da vida e da menina também. Nem vi o tempo passar... Só sei que fiquei um tempão ali, até escurecer. Após alguns minutos de silêncio e mais alguns goles... Continua homem!Comenta José: Agora que está ficando interessante. Estou vendo que a prosa vai longe. Mas não faz mal. Tempo é o que noz temos de sobra aqui neste fim de mundo, não é mesmo? Bom, então vê se presta atenção que eu não gosto de ter que ficar repetindo, pois não sou papagaio. Só voltei lá depois de dois dias pra pegar a menina. Quando eu cheguei a minha casa após os dois dias, depois da bebedeira, minha mulher não sabendo que a menina estava viva chorou muito a perda da criança, afinal Elisa era a sua primeira filha. Chorou 10
  • 11. muito, mais ao mesmo tempo se conformara, pois na cabeça dela, Deus apeteceu assim, então o único jeito era se conformar. Pobre não tem muita escolha, não é mesmo? Ela só sabia como é de costume que tudo o que eu ia fazer primeiro eu tinha que passar no boteco prá encher a cara, como sempre eu fiz... Agora me fala homem. Eu tinha que passar no botequim, pra afogar as mágoas? Pois é. Sei lá... Parece que o diabo atenta. É, moço, pinga é coisa do cão. Não precisa nem de dinheiro, pois a gente sempre acha alguém disposto a nos oferecer à danada. E aí a gente bebe porque está contente, ou então por tristeza! Sempre se arruma uma desculpa, pois motivo é o que não falta, não é mesmo? Estão-se felizes temos que beber pra comemorar e ficar mais alegre ainda. Mas se infelizes, aí é que a malvada tem ainda mais serventia, que é pra afogar as mágoas no peito e esquentar o coração... E aí, homem. Vê se acaba de contar que eu já estou me consumindo todo de tanta curiosidade e você fica aí dando volta e mais volta. Vê se você desembucha logo, sem tanto rodeio. Você esta até parecendo fumo de corda de tão enrolado. Pode beber o tanto que você quiser desde que me conte essa história direitinha. Toma mais um trago, esta aqui é direta do alambique. É da boa. Joaquim já sob o efeito da bebida, pois para ele bastavam alguns goles, começou a soltar a língua aproveitando a ocasião, pois não era sempre que se encontrava alguém disposto a ouvir suas histórias. Hoje era seu dia de sorte pensou consigo mesmo. Continuou a narrativa... 11
  • 12. Zé, como você sabe, minha mulher era muito nova. Tinha apenas treze anos quando Eliza nasceu e era muito bonita mesmo, uma belezoca tinha um corpo perfeito e já formado, a pele boa, uns dentes que parecia que era fabricado por um doutor. Pra encurtar a história, quando eu cheguei a minha casa com a menina, cadê a danada da mulher? Ela tinha ido embora. Dá pra acreditar, homem? Eu procurei a infeliz por toda parte. Só depois é que me dei conta que ela tinha dado no pé, pois, seus pertence, ou melhor, suas roupas não estavam mais lá em casa e o armário estava vazio. Eu devia era ter contado logo pra ela que a menina ainda estava viva, mas também como é que eu ia adivinhar que ela me abandonaria? E depois, se a menina não estivesse resistida? Ai meu amigo iria ser pior. Mas Dolores foi embora achando que sua filha estava morta? E eu só fiquei sabendo que ela deu no pé por dona Norminha, aquela que conhece a vida de todo mundo de Riacho grande, sabe até dos pulos que a primeira dama da com aquele mulato o tal de Felisberto. E como você já sabe meu amigo, eu comprei a virgindade dela, dei um bom dinheiro para o seu pai. E eu a queria só por uns momentos, mas acabei me apaixonando por ela então eu trouxe Dolores para a minha tapera na condição de esposa, que para o velho pai dela fora um grande alivio. É... Eu senti muito quando Dolores foi embora. É isso que da morar no meio do mato nesse fim de mundo onde não tem nenhum medico. Pra você ver eu mesmo que tive que fazer o parto. E Dolores quando percebeu que a menina não chorou e nem respirou, então nós achamos que a pobrezinha estava morta mesmo, mas também pudera a mulher não comia quase nada, por isso que a menina nasceu tão fraquinha daquele jeito. Não sei nem como sobreviveu. Foi um milagre. 12
  • 13. Continua Joaquim. Dolores só deixou um recado com a dona Norminha: prá eu não procurá-la mais, pois eu era o culpado. E se não fosse esse maldito vicio que eu tenho “a cachaça”, talvez nós tivéssemos salvado a nossa filha. Mas sabe de uma coisa? Eu acho até que aquela menina nem é minha filha. Pois ela é muito branquinha, que nem leite e assim que minha mulher foi embora o filho do seu Ricardo foi-se embora também. Não é mesmo muita coincidência?! Quero dizer, coincidência coisa nenhuma, NE? Tá na cara que eles dois fugiram junto sei la pra onde. Sabe de uma coisa, a menina tem os traços daquela família se você observar bem. Só cego não vê. _ É mesmo, Joaquim: Mas você também é bem claro agente percebe pela cor dos seus olhos e você esta é bronzeado de tomar tanto sol homem de Deus. _ Sei não! Bem mas se isso aconteceu até que foi bom. Ela implicava muito com as poucas cachaças que eu tomo, e você vê que eu quase não bebo não é mesmo meu amigo? E amigo, além do mais onde já se viu mulher querer mandar em homem. Não tem nem cabimento. O homem é que manda na mulher e a mulher só presta mesmo é pra servir o seu homem, não é mesmo? Uma coisa eu te digo: Não se pode confiar em mulher, não. Mulher é bicho ingrato e traiçoeiro. Eu que o diga... _ É... Mas, a sua filha está uma moça bem bonita, uma mulher e tanto! _ É mesmo, homem, ela já está quase no ponto de casar e me deixar sossegado. Eu já estou ficando velho. Quero mais é sombra e água fresca. Tá na hora de ter um pouco de sossego na vida. 13
  • 14. _ Quantos anos ela tem? Pergunta Zé com certa malicia. _ Onze anos, rapaz. _ É... Já está no ponto de ser desfrutada como uma uva. _ O que você falou? Pergunta Joaquim com a voz exaltada pela bebida e pelo susto que quase fez engasgar com o gole que havia acabado de tomar e que desta vez desceu como que queimando a garganta, fazendo com que ele ficasse vermelho também de indignação com a ousadia do amigo. _ Nada, não. Responde Zé meio sem jeito, pois ele havia pensado alto, já sonhando com a menina, pois há muito tempo havia reparado na sua formosura e meiguice. Mas o que o atraia mesmo e dava asas à sua imaginação fértil era a inocência e pureza da menina que era quase uma criança, embora o seu corpo já houvesse tomado formas de menina - moça, coisa que ela nem se dava conta. _ Pensei que você tinha dito algo da minha filha. Acho que a danada da cachaça já está me fazendo ouvir coisas. _ Não,,não falei nada não, homem. Olha quer saber de uma coisa? Acho que esta garrafa está é furada. Vamos pedir mais uma que esta aqui não deu nem pro cheiro. E não se preocupe, pois eu pago toda a despesa. Hoje é tudo por minha conta e você é meu convidado de honra. Vamos pedir também um tira gosto, senão... Se nós continuar só bebendo sem comer nada vamos sair daqui carregado que nem dois sacos de batata. 14
  • 15. ETA coisa boa! Vamos aproveitar a vida enquanto a gente pode. Amanhã não se sabe nem se nós estaremos vivos. ... Traz aí mais uma garrafa de cachaça da boa e alguma coisa pra nós comermos. Hoje eu quero é comemorar com meu amigo. Só está faltando mesmo é umas mulheres aqui bonitas e meia gordas. Bem bonitas pra fazer um chamego em nós, não é mesmo, Joaquim?! _ E a tal da proposta que você queria me fazer, Zé? Quero saber se vai me render algum dinheiro, meu amigão. _ Ah, deixa pra lá. Depois nós falamos sobre isso. Responde Zé percebendo que após de toda aquela bebedeira, aquele não seria o momento mais propício para fazer a sua proposta. Esperaria por um momento mais adequado. Ele saberia esperar. Ah! E como saberia... Afinal de contas, tinha a certeza de que valeria a pena. Parte 1 capítulo 2 15
  • 16. No caminho de volta para casa, Zé e Joaquim mal conseguiam parar em pé, de tão embriagados que estavam. Já completamente entorpecidos pelos efeitos do álcool iam a passos trôpegos, cambaleando aqui e acolá, sendo que um se apoiava no outro da maneira que podiam. Como marinheiros à deriva num mar revolto em dia de tempestade, parando de vez em quando e rindo muito, achando a maior graça em tudo, os dois amigos riam até as lagrimas e sentiam-se bastante relaxados e descontraídos. Já na casa de Joaquim, bêbados e ainda com fome, pois o que degustaram no bar não foi o suficiente para saciar o apetite dos dois que agora se sentiam realmente famintos. Joaquim manda a filha preparar algo para comerem, nem se dando conta de que não havia coisa alguma na despensa, aliás, o que era muito freqüente, pois o pouco dinheiro que ele ganhava mal dava para o sustento dos dois e isso sem falar no que ele acabava gastando com o seu vício nos botecos da redondeza. _ Elisa, vê se faz alguma coisa pra mim e pro Zé comer, nós estamos com uma fome de cão. E seja rápida menina! Vê se não fica lerdeando como de costume. Minha barriga está roncando prá valer. Dá até prá ouvir o barulho. A menina, cabisbaixa, responde num tom de revolta e medo. Medo da reação de seu pai que andava muito nervoso ultimamente, descontando nela as suas amarguras e insatisfação com a vida. _Não tem nada pra por no fogo, pai. Eu também estou com fome, mas não temos o que comer, não. 16
  • 17. _ Dá um jeito, menina. _ Mas que jeito? Responde a menina já aflita e quase chorando. - Vai pegar umas verduras na horta, procura uns ovos nestes ninhos de galinha por ai e vê se arruma um pouco de farinha de mandioca emprestada com dona Maria ou com dona Norminha. Vai logo e não fica olhando pra minha cara, sua inútil. Ou você pensa que é só obrigação minha trazer comida prá esta casa, enquanto você fica aí de papo pro ar o dia inteiro, completa Joaquim já enfurecido. _ Só verdura, pai? Nós vamos comer só verdura? Responde a menina já com lágrimas nos olhos, pois sua barriguinha também estava roncando de fome. Uma fome que às vezes chegava a doer. _ Deixa que eu dê um jeito. Responde Zé passando a mão no corpo da menina com certa malícia, aproveitando-se da distração de Joaquim. Logo em seguida ele sai e vai até o armazém mais próximo e trazendo ovos, carne, arroz, feijão, farinha, sal até alguns doces para agradar a menina. Ela, por sua vez, vai até a horta e colhe um pouco de verdura para o jantar. _ Mas rapaz sua filha está mesmo uma moça vistosa, muito bonita mesmo. Parece até uma gazela! Uma flor do campo que acabou de ser colhida. Após o jantar que, naquele dia fora um verdadeiro banquete os dois, após saciarem a fome dormiram ali mesmo, roncando profundamente como dois porcos e Elisa quase não 17
  • 18. conseguia dormir e ao deitar-se ficou pensando na sua vida, em como ela gostaria que sua mãe estivesse ali e que eles fossem de fato uma família feliz. Pensando ela chorou bastante e depois vencida pelo cansaço adormece. No seu sono ela sonhou que estava em um lugar muito bonito e florido com um lago de águas cristalinas e borboletas coloridas por toda parte. Logo apareceu um rapaz de túnica branca, de uma beleza angelical e ela achou que ele fosse mesmo um anjo. Eles começaram a conversar e Elisa que no início sentia-se triste e sem esperança logo começou a sentir-se bem melhor. Feliz até. Ele falou-lhe da importância da paciência e resignação e garantiu-lhe que um dia tudo ia melhorar e ela iria vencer e ser muito feliz. Pediu para que ela confiasse no futuro e que jamais perdesse a sua fé. Era seu mentor espiritual, ou anjo da guarda que lhe dava forças enquanto seu corpo refazia-se. Na manhã seguinte no âmago do amanhecer, Elisa lembrou-se vagamente de seu sonho, mas mesmo tendo uma vaga lembrança sentiu um bem estar enorme, uma sensação muito boa de paz e felicidade que ela não sabia explicar, mas que era maravilhoso, tão bom, mas tão bom que fazia com que ela se sentisse leve como uma pluma flutuando no ar e analisando o pouco do ela lembrava do seu sonho ela determinou a si mesma que a sua felicidade seria só uma questão de tempo. Joaquim e seu amigo Zé finalmente acordaram. Um pouco zonzos ainda da bebedeira do dia anterior e com a cabeça pesada, mas nada que um bom café forte não curasse, e por sinal Elisa já estava coando um café bem forte e amargo para os dois na cozinha, de onde vinha um aroma agradável. 18
  • 19. Após tomarem o café silenciosamente eles continuaram a prosa do dia anterior. _ O que você vai fazer hoje, Joaquim? _ Sei não, Zé. _ Vamos tomar uma, homem? Precisamos conversar. Contrapõe Zé, já disposto a levar o amigo para o botequim mais próximo onde finalmente faria a sua proposta. _ E a conversa será sobre o que Zé? Pergunta Joaquim meio desconfiado. _ Lembra da proposta que eu queria lhe fazer? Pois bem, ainda está de pé. _ Fale então homem! Do que se trata? Não carece de tanto rodeio. Desembucha logo. Afinal de contas, nós somos amigos ou não?! Tá me deixando já com a pulga atrás da orelha, de tanto mistério. _ Vamos lá pro bar que eu lhe falo. Já estou até com a garganta seca, precisando de uns goles pra criar coragem. Os dois chegaram ao boteco e logo após alguns goles de cachaça continuam a prosa. Ainda é cedo e o sol mal acabava de apontar no horizonte para mais um dia de jornada, mas para eles não havia mesmo hora para começar a beber, pois todo dia era dia e toda hora era hora. Pouco importava... Zé pigarreando e com um tom um tanto solene disse ao amigo com a voz entrecortada. _ Joaquim meu grande amigão, como você sabe, eu sou muito só. Neste mundão já há um bom tempo, eu estou me sentindo muito desamparado necessitando de uma mulher do meu lado. Acho até que preciso- me casar para começar uma nova vida e constituir minha 19
  • 20. própria família, quem sabe... Você sabe um homem sozinho não progride, não tem futuro e eu... Bem eu não quero envelhecer só, pois é muito triste. Ah, deixa pra lá... _ Fala homem, não fica aí enrolando mais do que sucuri quando se enrosca com a presa. _ Pois bem você está precisando de dinheiro e eu tenho o dinheiro que você precisa. Tá me entendendo? _ Pois é Zé eu estava até pensando em te pedir um pouco emprestado. Só não sei quando posso te pagar, pois você sabe muito bem a minha situação é muito difícil e a minha saúde não anda lá essas coisa e ainda por cima essa minha perna inchada que não ajuda muito por isso é que eu nem consigo trabalhar. Zé esperou pacientemente que o amigo acabasse com a sua costumeira lamúria e arriscou. _ Pois é Joaquim: Eu posso fazer melhor. Posso te dar de presente esse dinheiro que você tanto precisa. _ Como assim?! Surpreende-se Joaquim com tanta generosidade do amigo para com sua pessoa, mas na verdade ele ja sabia de antemão qual era a proposta de seu amigo Zé. Aí tem coisa, pensou ele agora ainda mais desconfiado. _ Pois é... Se você conseguir convencer a sua filha Elisa de se casar comigo, essa dinheirama toda será sua. Eu prometo. _ Você está falando que eu devo vender minha filha pra você, homem de Deus? E ter o mesmo destino da mãe dela. 20
  • 21. _ Veja bem, Joaquim; Não é vender não! Não é bem assim... E além do mais você mesmo disse que a menina nem é parecida com você e talvez nem seja sua filha de fato. Então qual é o problema? _ Mais se não é vender, é o que então? Você esta me chamando de burro? Eu posso não ter estudo, mas burro eu não sou não. E além do mais, minha filha é moça virgem ainda, ninguém tocou nela ainda. Por isso eu boto minha mão no fogo. Zé sente-se ainda mais digamos, entusiasmado com a revelação, mas procura disfarçar. Seus olhos brilham de desejo, pois já percebeu que o amigo apesar de fazer-se de ofendido vai acabar não resistindo á sua proposta. Então responde, mal podendo conter- se: _ Entenda do jeito que você quiser Joaquim, eu só sei que eu estou doido por aquela formosura que é a sua filha Elisa. Penso nela dia e noite; e quando durmo até sonho com ela. Acho que estou endoidando de paixão. Além do mais, ela já está na hora de se casar, de ser feliz e ter um bom marido feito eu, você não acha, não? Coisa melhor do que eu ela não vai arrumar, por estas bandas, pode crer. Joaquim entre um gole e outro parece refletir começando a achar que o amigo tem razão. Zé continua, percebendo que o Joaquim está quase cedendo. _ Veja bem homem, daqui a pouco ela acaba se engraçando com algum frangote aqui da redondeza que vai desvirginá-la e aí então é que ela não irá valer muita coisa. Isso sem falar que ela pode até acabar engravidando e aí é que eu quero ver. Você é que vai ter que criar a criança. Já pensou, mais uma boca prá você sustentar? Eu já sou homem feito, já tenho trinta e oito anos. Vou poder sustentar a sua filha e a prole toda que vier e te garanto 21
  • 22. que vai ser grande, pois eu sei que sou um bom reprodutor, praticamente um garanhão. Sem querer me “gabá”. _ Sei não... Responde Joaquim quase convencido. Zé dá sua cartada final, blefando é claro, mas arrisca: _Quer saber de uma coisa Joaquim? Se você não me quiser como genro eu entendo,afinal das contas Elisa é a sua única filha, mas fique sabendo que está cheio de pai por estas redondezas doidinho prá vender as filhas donzela e virgem como vieram ao mundo e aceitam até muito menos do que eu estou te oferecendo. Então se você não quiser, eu não pretendo mais perder meu tempo. Vou é sair por aí em busca de uma noiva quem sabe até mais formosa que a sua filha, Ela não é a única moça destas redondezas. Zé já ia levantando, se fazendo de ofendido quando Joaquim olhando em seus olhos com um olhar de cumplicidade e cobiça coloca a mão em seu ombro e pergunta baixinho como que selando o pacto entre os dois: _ Quanto é que você tem prá me oferecer pela virgindade da minha filha, por ser o primeiro homem com quem ela ira se deitar. _ Tenho uns duzentos reais. _ Mas só?! Responde Joaquim querendo mais, apesar de Zé ter oferecido mais do que ele esperava. _ 22
  • 23. Essa quantia é só um agrado, depois eu arrumo muito mais prá nós. Eu te dou a minha palavra, homem! Pode confiar. Ou você não confia mais nesse seu amigo aqui? Responde Zé já vitorioso. _ Vamos ver... Eu vou conversar com Elisa. Tentar convencê-la de que você é um bom partido, o marido ideal prá ela. Sei não... Mas vê se você toma ao menos um bom banho prá tirar essa catinga de bode velho, viu? Responde Joaquim já matutando como iria convencer a filha a aceitar o Zé como marido, pois ele sabia previamente que ela não gostava dele, principalmente por causa do seu bafo de cachaça. Não seria fácil mais ele iria tentar. E se não fosse por bem então seria por mal. Joaquim despediu-se de seu futuro genro e foi para casa pensando naquela conversa toda e resolveu que sua filha teria que lhe obedecer, afinal de contas ele era seu pai. Teria que se casar com o Zé de qualquer jeito, quer ela queira, quer não. Seria um bom negócio, pensava Joaquim, e ele finalmente ficaria livre da responsabilidade, pois uma vez casada, ela não seria mais problema seu, e sim de seu futuro marido, o Zé. Afinal, arrazoava ele, já pensou se ela acaba se deitando aí pelos matos com algum aproveitador e além de ficar desonrada ao perder seu bem mais precioso, a virgindade, ela poderia acabar até caindo na vida e virando mulher da vida tendo que se deitar com tudo que é homem. Ou se pior, ela engravidasse, ele é que teria que arcar com as responsabilidades e além de ter que sustentá-la, teria que sustentar a criança também. Definitivamente o Zé estava certo. Joaquim chegou a esta conclusão visando é claro, apenas os seus próprios interesses 23
  • 24. e querendo livrar-se de uma vez por todas do estorvo que Elisa representa em sua vida, pois cada vez que olhava para a menina, ele achava que ela não podia ser sua filha. A dúvida o atormentava dia e noite e a simples presença da menina o incomodava, pois ele jamais aceitaria a possibilidade de um dia ter sido traído. Já até pensara em ele próprio desvirginar a menina e viver com ela não como pai, mas como amante. Iria fazer isso em nome de sua honra e antes que outro qualquer o fizesse. Mas sempre lhe faltava coragem, pois havia a dúvida e afinal, se ela fosse mesmo sua filha? Esse remorso ele não suportaria carregar até o fim dos seus dias. Mesmo sendo uma pessoa sem escrúpulos, Joaquim não desejava correr esse risco e do outro lado havia uma boa quantia nas mãos de Zé que poderia ser seu bastava ele dizer sim. Com a cabeça fervendo de tanto pensar, Joaquim está quase chegando a sua humilde casa quando avista Elisa correndo e brincando com Pingo, seu cachorro de estimação. Ela corria de um lado para o outro, risonha e alegre tendo um raro momento de diversão com seu melhor amigo e como a criança que ainda ela era de fato. Ao ver a cena Joaquim chegou a se emocionar. Coisa rara de acontecer, pois em seu coração endurecido e amargurado pelo o abandono de Dolores, raramente havia espaço para as emoções sinceras. Seu conflito íntimo era visível naquele momento, que pena! Ele não saber que Elisa realmente era sua filha e que era sangue do seu sangue. 24
  • 25. Parte 1 Capítulo III Elisa ao avistar o pai acenou-lhe sem nem ao menos imaginar o que o destino lhe reservava. Destino este já traçado sem que ela tivesse qualquer chance de optar e decidir por si própria. Seu pai já havia decidido seu futuro. Chegando a casa, Joaquim chamou a filha para conversar dizendo num tom meio meloso o que não era seu costume, pois quase sempre a tratava de uma maneira um tanto rude. _ Elisa, venha cá, minha filha. Eu quero falar com você: Já está na hora de noz dois ter uma conversa de pai pra filha. É, está sim! É um assunto de muita importância e é sobre o seu futuro. 25
  • 26. A pobre menina estranhou o tom de voz do pai e ficou muito curiosa a respeito, mas o que ela nunca podia imaginar era o que viria a seguir, pois Elisa era ainda praticamente uma criança tal era a sua ingenuidade. _ Elisa, minha filha, já está na hora de você pensar em se casar e ser feliz, com um bom marido que possa te dar uma vida melhor que essa que você leva aqui com seu velho pai. Diz Joaquim como que querendo açucarar as palavras para torná-las doces aos ouvidos da menina. Elisa assustou-se e com os olhos arregalados fitava o pai com incredulidade. Por alguns instantes não sabia o que dizer, sendo que ela mesmo nem sabia a dimensão da palavra casamento. Não sabia o seu significado em toda sua amplitude. Depois respondeu um pouco assustada: _ Não pai, eu sou muito nova prá pensar nisso. Eu ainda nem penso nessas coisas. Deus me livre e guarde. Mal ela sabia que o pai queria mesmo era livra-se dela de uma vez por todas e ganhar o que seria para ele um bom dinheiro. _ Mas minha filha, você já está prometida. Revela Joaquim finalmente. _ Como assim? Não entendi, pai. _ Você nunca saiu desse lugar. Já está na hora de ter sua própria vida, sua própria casa. Eu já até arrumei um noivo prá você. Eu tive conversando com o Zé e ele quer que você se case com ele. Ele é um sujeito bonzinho. Zé vai ser muito bom prá você menina. Pode acreditar em seu pai. Eu só quero o melhor prá você minha filha, Elisa... Não duvide de seu pai. 26
  • 27. Eu te criei até agora e está mais do que na hora de você pensar no seu futuro. Pronto está resolvido! Afinal eu sou seu benfeitor e quem da às ordens aqui sou eu! _ Bonzinho, o Zé? Admira-se Elisa. O senhor acha isso porque ele vive pagando pinga pro senhor lá no bar. Responde Elisa, perplexa com as idéias de seu pai, mal podendo acreditar no que acabara de ouvir. _ Escuta minha filha, ele gosta muito de nós. Você viu ontem a compra boa que ele fez? Tinha de tudo que carecia pra nós comer até uns doces ele comprou para você, deixa de ser ingrata. Se não fosse o Zé não sei o que seria de nós. Além do mais ele é meu amigo e é de confiança. Ele prometeu que ira nos ajudar. Isto é... Se você se casar com ele. _ Pai! Retruca Elisa indignada... Por favor, pensa um pouco. Ele não é nosso amigo e eu não gosto dele. O senhor bem sabe disto. _ Você já está de olho em alguém, é? Será algum moleque da maldita fazenda do seu Ricardo, ou então algum vagabundo? Veja bem, porque se for eu não respondo por mim. Vê lá, hein, menina desavergonhada. Responde Joaquim em tom ameaçador e pegando Elisa pelo braço, sacudindo-a, já cego de raiva continua: _ Fala, menina. Confessa! Será que você está com cachorrada comigo, é? Você não pode me dar esse prejuízo, não. É o Zé que vai tirar a sua virgindade. Eu até já prometi prá ele que ele vai ser o primeiro e agora não posso dar prá trais. Filha ingrata que você é! Eu te criei sem mãe, dediquei toda minha vida por você! Por tanto eu sou seu pai e sua mãe e sei muito bem o que estou fazendo e o que é melhor pra você. Joaquim não se conformava. 27
  • 28. Elisa já chorando e sem entender do que o pai estava falando, muito assustada com o seu acesso de raiva pergunta: _ O que o senhor falou pai? _ Nada, nada. Não interessa. Na hora você vai saber. Você terá que se casar com o Zé e pronto. Não se fala mais nisso. Ele é um homem bom e já está decidido. Vê se tem cabimento... Eu sou seu pai e sou eu é que mando e você tem que me obedecer. Ora essa... _ Pai, pelo amor de Deus, não faz isso comigo. Implora Elisa já chorando. Eu sou muito nova e aquele seu amigo fede e eu não quero me casar agora. Elisa aos prantos tentando entender porque teria que receber tamanho castigo, pois era exatamente o que aquela união com Zé representava para ela, destruindo todos os seus sonhos de adolescente. _ Já está feito, e o que tá feito não tem contorno. Não tente me desobedecer e fazer igual à vagabunda da sua mãe, aquela cadela vadia que foi embora com outro só porque pensou que você tinha morrido... Aquela ingrata! Responde Joaquim cheio de mágoa. Mágoa que corroia o seu coração desde que ele fora abandonado e que só a cachaça parecia amenizar. _ Pai, que mal eu fiz pro senhor? Que fiz eu prá receber tamanha punição? Pergunta a menina já em prantos como uma última tentativa de revogar a atitude de seu pai e fazer com que seu pai mudasse de idéia. _ Você é igual sua mãe... O comportamento, a mesma cara. E nós estamos é passando fome. Será que você não vê isso? Pensa bem, o Zé ira te dar as coisas prá você, do bom e do melhor e eu... Eu pego o dinhei... Joaquim quase ia revelando o seu plano, sem querer, mas interrompeu-se a tempo. 28
  • 29. _ O que, pai? Indaga Elisa, sem compreender _ Nada, menina. Prepara-se, pois você vai se casar com ele amanhã a noite. E chega de conversa. Eu sou seu pai e decido o que é melhor prá você. Elisa abaixa a cabeça e sente as lágrimas rolarem em seu rosto em brasas, mas sabe que só lhe resta obedecer e se conformar, pois o que mais ela poderia fazer? ... Inexperiente e indefesa não podia contar com a ajuda de ninguém. Não havia saída para ela. Por mais que não quisesse teria que submeter-se às ordens de seu pai. Como a vida lhe era cruel, pensava Elisa com o olhar perdido no horizonte. Neste instante uma brisa suave tocou seu rosto e seus cabelos macios como que a acariciando com um carinho imenso e ela lembrou-se do sonho que tivera com o rapaz de branco que mais parecia um anjo e que lhe pedira para que ela fosse forte e tivesse fé, pois um dia tudo iria melhorar. Naquele momento era como se o rapaz em sua beleza angelical estivesse ali ao seu lado dando-lhe apoio e sustentação. Ela chegou até mesmo a sentir um agradável e suave perfume que era diferente de quaisquer outro que já sentira antes. Um perfume inigualável. Fechou seus olhos e aproveitou aquela deliciosa sensação de frescor e confiança que experimentava sentindo-se leve e de certa maneira até mesmo resignada com o que o destino lhe reservara. Aquela sensação de bem estar fez com que todo o seu ser se sentisse revigorado e ela ficou a observar o lindo pôr - do - sol que contornava o céu alaranjado e transmitia-lhe uma grande paz interior fazendo com que ela esquecesse por algum tempo do seu drama 29
  • 30. íntimo. Pingo, seu melhor amigo a olhava com um olhar triste e com muito carinho foi ao seu encontro e colocou a cabeça em seu colo suspirando, como que desejando consolá-la pelo seu infortúnio. Se ele pudesse falar diria: Coragem, minha amiga, coragem! Era o que seu olhar canino expressava com todo seu amor por aquela fiel companheira. Parte 1 Capítulo IV Naquela noite Elisa não conseguia dormir e sentindo-se acuada como uma presa fácil diante de um terrível predador, tenta preparar-se para uma fuga, mas pela sua inexperiência, não sabia como fugir. Não sabia nem para onde ir, se sentia em um labirinto e não tinha tempo para pensar em algum plano que desse resultado. Queria sumir se pudesse, mas para onde e como? Sem dinheiro e naquele fim de mundo a menina nem tinha idéia de como sair daquele lugar onde passara toda sua vida sem dar um único passo adiante e como não tinha a quem recorrer sentiu que o jeito era resignar-se com a situação, pois não havia o que ela pudesse fazer. Se ao menos sua mãe estivesse ali para defendê-la e protegê-la ou até mesmo ajudá-la fugir daquele destino cruel... Mas ela nem se quer a conhecera. Ficava tentando imaginar como ela seria. Seu rosto o som da sua voz, e até o gosto que teria a sua comida ela tentava adivinhar. Em vão... Às vezes sentia tanta falta de um carinho de mãe que muitas e muitas vezes, chorava 30
  • 31. escondida num canto qualquer, mas sempre escondida de seu pai que não suportava aquelas lamuria, como ele próprio dizia. E agora o destino mais uma vez estava sendo duro com ela. Por quê? Ela não conseguia encontrar uma explicação por mais que tentasse. Nada fazia sentido... Sua mãe a abandonara quando ela nasceu, pois pensava que ela havia morrido. Mas como isso aconteceu? Elisa não compreendia... O fato de saber que sua mãe fora embora só porque pensava que ela estivesse morta até que lhe servia de consolo às vezes. Ela até conseguia entender o porquê de sua mãe, que ela nem conhecera, não querer mais continuar vivendo com seu pai. Homem rude que era deve tê-la feito sofrer muito e ela com certeza foi tentar ser feliz e levar uma vida mais digna com outro, o filho do senhor Ricardo um fazendeiro próximo daquelas redondezas. Será que sua mãe era feliz com seu atual marido? Assim pensando em sua genitora Elisa acabou adormecendo, pois se sentia exausta, emocionalmente falando. No dia seguinte Zé sentiu - se radiante. Tomou até um banho caprichado, barbeou - se e vestiu a sua melhor roupa para a grande ocasião. Mal podia esperar para ter a menina nos seus braços e transformá-la em mulher. Não que a amasse, mas desejava-a ardentemente. Desejava possuí-la de qualquer maneira e só de imaginar o frescor e a maciez da sua pele, a doçura de seus lábios que nunca haviam sido beijados ele já ficava quase louco de paixão. Sempre quisera desfrutar de uma virgem, ter a sensação de ser o primeiro homem a deitar-se com ela e fazê-la mulher. E na sua fantasia, ela se apaixonaria por ele no primeiro contato e estaria sempre pronta a servi-lo a qualquer hora do dia ou da noite, pois 31
  • 32. essa era a obrigação da mulher no seu modo de pensar. A doce e meiga Elisa, que logo seria sua... Ele iria possuí-la e dominá-la totalmente. Ela seria finalmente toda sua. Além disso, Elisa iria cozinhar lavar e cuidar das suas coisas. E é claro eles iriam ter muitos filhos, uma família bem grande. Ela era jovem e saudável e com certeza seria uma boa parideira. Afinal de contas, pensava Zé, mulher foi feita para isso mesmo. Ele já até sentia-se orgulhoso da fama que teria na região futuramente, pelo número de filhos. Teria um filho por ano e aqueles que vingassem, assim que estivesse crescidinhos, ele iria por para trabalhar na roça para ajudá-lo. Não iria ficar sustentando vagabundos, não. Se quisessem comer teriam que trabalhar. Pois assim ele fora criado. Seu pai também colocava os filhos, que eram muitos, para trabalhar desde a mais tenra idade. E era trabalho duro, de sol a sol, mas se quisessem comer seria assim. Sua mãe morreu cedo, acho que de tanto parir, pensava Zé... Mas afinal, mulher era feita prá isso mesmo e com Elisa não seria diferente. Todo orgulhoso e muito ansioso seguia Zé seu caminho para a casa de sua noiva e futura esposa. Ia cantarolando todo feliz da vida. Logo ele, pensava todo contente, que até agora só se deitara com meretrizes que só lhe davam amor, ou melhor, prazer, em troca de algumas moedas. O que era bom, ele não podia negar, mas com Elisa seria o Maximo, pois as mulheres de programa apesar de serem lindas elas se deitavam com todo mundo, qualquer um mesmo, desde que pagassem é claro. 32
  • 33. Elisa não! Ela seria só sua: Jamais conheceria outro homem, afinal ele jamais admitiria e caso isso acontecesse e ele descobrisse a mataria, assim como tabém o cabra safado que ousasse seduzi-la, lavaria sua honra com o sangue dos dois, isso sim, pois ele era o Zé e nunca admitiria ser passado para trás. Foi com a cabeça fervilhando de idéias e já com muito ciúme que ele chegou à casa de sua noiva. Conforme combinado antecipadamente, Joaquim havia saído sem Elisa perceber, deixando-a sós. Ao vê-lo se aproximando Elisa teve vontade de sair correndo e fugir para bem longe, mas para onde? Ele com toda certeza a alcançaria rapidamente e talvez fosse até pior pensava Elisa. Nem adiantaria tentar... Zé cumprimenta-a todo solene dando-lhe um pequeno buquê de flores do campo que ele mesmo colhera e amarrara com uma fita de cetim branca, pois queria agradar sua noiva pura como uma rosa em botão que era, e que ele faria desabrochar com muito orgulho. _ Boa noite, minha noiva! Diz Zé com uma voz melosa, querendo agradar. _ Eu não sou sua noiva, vá embora ou eu vou chamar meu pai! Responde Elisa rudemente e nem sequer pegou as flores que Joaquim lhe ofertara. Ele nem se abalou. Sorriu ironicamente e disse com um tom de deboche: _ Bobinha! Você não sabe que teu pai me vendeu por duzentos reais?! Eu até bebi umas hoje prá comemorar o nosso consórcio. Veja: Eu até tomei um banho completo! Sente só! Estou até perfumado só pra você, minha noiva. Vem cá, dá um abraço e um beijo no teu 33
  • 34. homem... Diz ele já agarrando a menina e tentando beijá-la, mas seu hálito de bebida era insuportável para ela. Elisa tinha que prender a respiração para poder agüentar ao mesmo tempo em que tentava desvencilhar-se dele. Em vão, pois ele era muito mais forte e quase já a dominava por completo. Estava muito perto de realizar seu sonho... Ainda como ultima tentativa e bastante assustada Elisa disse já aos prantos: _ Seu Zé, por favor, não faça isso. Deixe-me em paz! Eu não quero... Vê se arruma outra noiva. Zé já ofegante pelo esforço em dominar a menina que não parava de espernear ainda disse: _ Elisa, minha cabritinha, desde que você era pequena eu já pensava em ser seu homem, seu marido e pai dos seus filhos. Vem cá, não tenta fugir não, que vai ser pior prá você. Eu vou te fazer feliz, pode ter certeza de que você vai gostar... Então ele pega a menina no colo e joga-a na cama, e ela pela sua pouca idade, ainda indefesa que era acaba cedendo e entregando-se àquele ato forçado. Pronto! Estava consumado. Zé afoito que estava não tomou os devidos cuidados com a menina no sentido de ser mais carinhoso e cuidadoso. Praticamente a violentou, não se importou com suas dores físicas e muito menos morais. 34
  • 35. Agora ela era sua, toda sua, sua propriedade pensava ele satisfeito. A primeira vez era assim mesmo, depois ela acabaria se acostumando e gostando. Dali a pouco seria ela quem iria pedir, pensava Zé todo orgulhoso. Orgulhoso e egoísta do jeito que era pensando em si próprio, somente em si ele nem se dava conta de que as mulheres da vida com quem estava acostumado a deitar-se nem de longe sentiam o prazer que ele imaginava. Apenas fingiam para agradar o cliente. Não que também ele se preocupasse com isso, pois para ele pouco importava desde que ele satisfizesse os seus mais primitivos instintos. Às vezes até mesmo humilhando-as quando não o agradavam. Sendo que o exagero com a bebida é que muitas vezes impedia que conseguisse consumar o ato intimo e sagrado que nos traz prazer e colabora com a continuação da humanidade, quando praticado sem a aberração. Mas ele ignorante e agressivo que o era colocava a culpa nas próprias criaturas que tinham a infelicidade de atendê-lo prestando um serviço sexual para o seu bel prazer e que só o faziam por ser a única maneira que conheciam de sobrevivência para se sustentarem entre outros clientes afoitos e que dependiam do fruto de seu trabalho tropeço ou não. Mas poucos homens compreendem isso e as julgam muito mal. Apesar de usufruírem e serem coniventes usa e abusa constantemente de seus serviços, as tratam cruelmente como se fossem animais ou pior até... Para eles não existe o respeito nem a dignidade que devem ser atribuídos a qualquer ser humano, independentemente de 35
  • 36. raça, sexo, cor ou credo. A ignorância de Zé aquele homem matuto não percebia o quanto aquelas damas da noite sofria em busca de seu sustento e ao mesmo tempo colaborando de forma marginalizada com a sociedade no sentido de atender aqueles clientes incapazes de conquistar uma boa companheira para seu convívio conjugal e intimo, muitos freqüentava aquela casa de prostituição em busca de saciar suas fantasia a maioria deles praticavam aberrações em seus atos sexuais e cruéis. Quanto a Elisa só resta conformar-se com sua nova condição que lhe fora imposta contra sua vontade. Sendo assim ela, que agora era uma mulher e não mais uma inocente menina, pois já havia sido deflorada e destituída de sua pureza só lhe restava conviver com sua nova vida. Ela tinha esperança de mesmo sem gostar do Zé, agora seu marido, conseguir viver com ele maritalmente. Apesar da repugnância que ele lhe causava, não tinha outro jeito mesmo. Haveria de se conformar, pois revoltar-se seria muito pior. Zé já lhe mostrara suas garras e do que ele era capaz e Elisa não queria de modo algum contrariá-lo para não sofrer as conseqüências. A menina sentia que agora pertencia a ele, e ele poderia fazer dela o que bem entendesse, portanto seria muito melhor para ela que não o aborrecesse e nem o contrariasse. Mesmo com a sua pouca maturidade ela conseguia perceber o que era melhor para si, quase que como um instinto de sobrevivência. Seu pai fora capaz de vendê-la, sua mãe a abandonara. Agora seu destino estava nas mãos daquele estranho que agora era seu marido. Até quando? Só o tempo diria. 36
  • 37. Capítulo1 parte V Assim os anos foram passando. Lentamente, sem pressa alguma naquele lugarejo onde as pessoas não tinham grande afã de tocar a vida, pois nada era urgente, nada era tão importante que não pudesse ser adiado por dias, meses ou até anos. Sim, pois o tempo é muito relativo, para as pessoas que vivem nas grandes cidades, nas metrópoles e são muito ocupadas com muitos afazeres, as vinte e quatro horas do dia parecem pouco ou pelo ao menos é essa a sensação que elas têm; mas para quem vivem no campo sem a agitação e correria típicas das cidades, os dias parecem passar muito lentamente; entre o nascer e o pôr - do -sol há tempo mais que suficiente para que as pessoas cumpram com suas poucas obrigações cotidianas. É assim que vamos encontrar Elisa. A viver um dia de cada vez. E já bem adaptada a sua nova vida ela agora finalmente esperava seu primeiro filho. Zé realmente a assistia não deixando lhes faltar o necessário, somente o necessario. Nem pra ela nem para seu pai, conforme o prometido. Não passavam mais fome e isso já era uma grande coisa. Não que ele fosse um sujeito agradável, muito pelo contrário, mas a menina acostumara-se com seus modos rudes e grosseiros. Ela demorara a engravidar, pois quando se casou, ou 37
  • 38. melhor, quando se juntou ao Zé seu corpo de menina - moça ainda em formação não estava preparado para ser a progenitora com maturidade. Sua vida sexual começara muito cedo, mas seus órgãos ainda não estavam suficientemente maduros para a procriação. Zé não se conformava com o fato de ela não engravidar logo, pois tinha pressa em iniciar sua prole. Na sua ignorância não compreendia que a natureza feminina precisa estar no ponto para gerar bebês sadios. Ele começava até duvidar se fora um bom negócio investir naquela união, quando finalmente e inconsciente o semblante de Elisa denúncia seu estado de gestação com enjôos e a transformação de seu corpo agora de mulher; Enjôos principalmente pela manhã o que não deixava dúvidas quanto a uma gravidez. Ela agora mais saudável, pois se alimentava bem estava apta a ter uma boa gravidez, apesar da pouca idade. Zé estava orgulhoso, mal cabia em si. E que fosse homem o seu primeiro rebento, pensava ele sem nem sequer cogitar a possibilidade de nascer uma menina. Ao menos o primeiro tinha que ser homem. Depois não importava, pois a prole seria grande..Por Elisa demorar para engravidar, Zé quase o matara de impaciência., Zé tinha vontade de gritar e, sumir. Não conseguia compreender sendo que chegava até a pensar que ela não engravidava de propósito, como que para castigá-lo por saber que ele queria tanto, para ele era questão de honra. Sua virilidade estava em jogo. O que diriam seus amigos, companheiros de farra e de bebedeira? Ele que se dizia um verdadeiro garanhão não podia dar esse vexame. Isso era demais... 38
  • 39. No dia em que soube que Elisa estava grávida, Zé tomou o maior porre de sua vida. Pagou bebida para todos lá no botequim e bebeu tanto que teve de ser carregado até sua casa quase matando Elisa de susto quando o viu chegar naquele estado deplorável. Um belo dia, Zé resolveu vender sua chácara. Abandonou seu sogro já doente a própria sorte e foi viver com sua adolescente esposa, em um lugar ainda bem mais isolado que aquele lugarejo, ele trocou o seu pequeno sitio e adquiriu na barganha uma extensão de terra infinitamente maior, mas sem valor nenhum onde havia um grande rio que passava dentro daquela propriedade. Porem, nesta troca lhe sobraria algum dinheiro, pois aquelas terras que agora comprara era bem mais barata por ser totalmente afastada da cidade. Elisa não se conformava, mas o que ela poderia fazer a não ser acompanhá-lo? O terreno era maior, mas a casa estava em condições precárias, feita de barro, sem portas, sendo que a passagem era um buraco onde tinham que abaixar para entrar. Ele comprara uma propriedade de menor valor e sem vizinhos por perto, pois assim sobraria dinheiro para suas orgias, ainda mais agora que Elisa estava grávida e com o corpo alterado em sua formosura pela gravidez precoce ele não tinha mais vontade de deitar-se com ela, pois agora para ele não havia mais graça, ao menos enquanto ela estivesse naquele estado. Segundo Zé Ele aproveitara o melhor de seu corpo e de sua inocência e agora já um pouco cansado daquela rotina conjugal voltava à sua antiga vida de noitadas, bebedeiras e mulheres para saciar os seus mais desvairados desejos que aumentavam cada vez mais, como um vício, tal qual a cachaça, a qual ele já não podia viver sem. 39
  • 40. Ele pensava consigo mesmo: _Não suporto mais essa situação, mas tenho que pensar nessa criança que está prá chegar afinal de contas é meu filho. Mas ao mesmo tempo se deixava levar pelos vícios e pelo ciúme que demonstrava ter por Elisa e que aumentava cada vez mais, pois a julgava sua propriedade e não queria nem que ela tivesse amizade com outras mulheres do povoado e por isso usou como argumento que mudara-se para tão isolado lugar. Assim nenhum homem poria os olhos na menina e ele sabia que seu corpo após a gravidez tomaria formas de mulher e com isto atrairia a cobiça masculina e poderiam até querer roubá-la dele. Ah, isso ele não iria permitir. Era melhor mesmo precaver-se, na sua maneira romanesca de pensar. Finalmente a criança nasceu. Um lindo menino que apesar das condições precárias nascera forte e saudável e quando sentia fome chorava com força até que sua mãe saciasse sua fome com os seios fartos de leite. No início Elisa teve muita dificuldade em aprender a lidar com o bebê. Inexperiente e isolada do jeito que estava não podia contar com a ajuda de ninguém. Somente a parteira que Zé arrumou no povoado quando ela começou as sentir a dores lhe deu algumas orientações sobre como cuidar do seu bebê, o restante Elisa foi aprendendo por si própria com seu instinto maternal. E assim o tempo foi passando e o menino crescendo forte como um touro e também crescendo cada vez mais o ciúme que Zé tinha do próprio filho, achando que ele desfrutava mais da intimidade de Elisa do que ele próprio, que era o marido. Todas as 40
  • 41. atenções e todo carinho dela eram somente para o menino, não sobrando nada para ele que se sentia preferido. À vezes ele fica observando-a amamentar de longe e quase não agüentando de ciúmes saía para o povoado buscando o consolo nos braços das prostitutas que lhe consolavam como podiam. Ele nunca imaginou que seu próprio filho, motivo de muito orgulho e alegria também seria causador daquele ciúme que o torturava dia e noite. Um ciúme doentio que lhe tirava o sossego. Zé tinha sentimentos contraditórios e somente duas coisas o aliviavam: mulherada e cachaça. Já nem tinha vontade de trabalhar mais como antes. Suas terras já não produzem como outrora. E o que ele conseguia ganhar gastava a maior parte para alimentar seu pernicioso vício aos quais estava cada vez mais entregue. Certo dia, ele chegou a sua casa meio bêbada e ordenou como era de costume: _ Elisa, faz alguma coisa aí pra eu comer, mulher, que eu estou com uma fome de cão ! _ Não tem nada, Zé. Responde ela temerosa por sua reação, pois ele não gostava nem um pouco de ser contrariado. _ E o menino está comendo o que? Indaga-o, já com raiva. _ Hoje ele comeu fubá com água, temperado com coentro. É só o que tem Zé. _ E onde é que você arrumou fubá, sua vadia? Será que você andou vadiando por aí, prá conseguir? Pergunta Zé já cheio de desconfiança e imaginando um monte de besteiras em sua mente doentia. 41
  • 42. _ Zé, aqui nós vivemos isolados, não tem nem vizinho, homem! Ela responde mal acreditando nas insinuações do marido. Mesmo conhecendo bem o homem que tinha não pensava que ele pudesse ir tão longe, mas suas suspeitas já eram praticamente delírios de uma mente perturbada. Ele retruca não se dando por vencido: _ Quer dizer que se tivesse homem aqui por perto...? Diz Zé já colérico, só em pensar na possibilidade de ser traído. Era um sentimento que o dominava completamente. Bem lá no seu subconsciente, ele sabia que não havia motivos para tal desconfiança, mas não conseguia se controlar, principalmente quando estava embriagado como naquele momento. Talvez porque ele sabia que ela não se unira a ele por amor, mas sim porque fora forçada pelo seu pai, e isso o atormentava dia e noite e às vezes até mesmo roubava-lhe o sono quando sua consciência falava mais alto. E Elisa reagia da maneira que podia: _ Para com isso, Zé! Que prosa é essa agora, homem de Deus? Você está ficando louco. Acho que é a cachaça que está te deixando assim, só pode ser. _ Mais você não gosta de mim nem nunca gostou. Ou pensa que eu não sei? Responde Zé magoado. _ Eu nunca lhe neguei isso. Realmente eu não gosto de você, e você sempre soube, eu nunca escondi! O que é que eu posso fazer? Não tive outra escolha na vida. O meu destino já estava traçado... Se eu pudesse escolher, nunca que eu ia escolher você. Pronto ta 42
  • 43. falado. É isso que você queria ouvir?Mas pensa bem o que você fala por que eu não sou vulgar, se você e meu marido é com você que tenho que viver. _ Ah! Eu vou te matar, sua ingrata! Esbraveja Zé, completamente fora de si depois do que ouvira. Respirando fundo prá não cometer uma loucura ele completa enfurecido: _ Se você quer saber, Elisa, eu até acho que esse filho não é meu. Elisa, perplexa, responde: _ Por que essa conversa mole agora, Zé? Você é que sai toda noite, vai prá suas orgias e agora desconfia de mim, é? Eu é que tenho motivo de sobra prá estar com bronca de você, ou você pensa que eu não sei prá onde você vai quando dá suas sumidas por aí. Mas se você quer mesmo saber, eu estou pouco me importando, prá falar a verdade você bem que podia ir aí prá suas noitadas e nunca mais voltar, que eu iria achar era bom. Elisa não sabia onde encontrava tanta coragem para enfrentar Zé daquela maneira, mas continuou falando o que lhe seria em sua alma, sem se importar com as conseqüências, mas seus protetores estavam ali lhes encorajando, pois era necessário que ela se defendesse das calunias _ Se você não voltasse mais, homem seria muito bom, pois eu não precisaria te agüentar e nem ouvir tanto desaforo Zé. Àquela altura Elisa já chorava copiosamente. Sensível como era ela não aceitava as imparciais acusações de Zé sobre a sua conduta. 43
  • 44. Os ânimos estavam se exaltando cada vez mais. Elisa já não suportava mais aquelas crises de ciúmes de Zé, acusando-a injustamente de um adultério que ela jamais cometera. Ainda mais que ele não tinha decência nem moral para sequer pensar tais coisas a seu respeito. Logo ele que chegava a sua casa tarde da noite, bêbado e cheirando a perfume e pensava que Elisa não percebia. De repente Zé disse algo que a deixou mais perplexa ainda. _ Sei não... Já tive varias mulheres nessa vida e nunca consegui ser pai. Por isso eu te pergunto Elisa, será que esse filho é mesmo meu? _ Claro que é Zé! Eu bem que gostaria que não fosse, pois acho que meu filho merecia ter um pai melhor. Responde Elisa não conseguindo mais esconder sua revolta. _ Sei não, logo que casei com você sempre tinha homem perto de casa. _ Zé, ali onde nós morávamos era passagem de um povoado pro outro, é por isso que sempre tinha gente por lá. Tanto homem como mulheres e criança também. Deixe de ser maldoso. Você vê maldade em tudo, mas a malícia está é na sua cabeça e nessa maldita mania que você tem de falar do que não sabe. Tenha dó e vê se não me enche mais com essa prosa. Vê se não me amola! _ Eu bem que notei umas duas vezes você conversando com uns estranhos, ou você pensa que eu sou cego. Eu vi bem com esses olhos que a terra há de comer. Zé continua com as acusações sem fundamento, é claro, mas que para ele, representavam a mais pura realidade. 44
  • 45. _ Zé, era só algumas pessoas que paravam ali prá pedir água prá eles e pros cavalos. E água a gente não deve negar prá ninguém, _ Não sei não, essa história tá mal contada, mulher. Não adiantava, pois nada que Elisa dizia Zé acreditava. O ciúme e a desconfiança já havia tomado totalmente a sua razão. O que ele não via e nem poderia ver eram os vultos escuros que o abraçavam envolvendo-o e incutindo em sua mente perturbada cada vez mais idéias absurdas, aproveitando-se de seu ciúme, desconfiança e principalmente da sua má conduta moral, esses espíritos inferiores, de energia pesada e com idéias nefastas faziam com que Zé até mesmo visualizasse em sua mente doentia cenas de sexo entre Elisa e outros homens. Eles emitiam essas imagens e Zé em sua ignorância e baixa vibração as captavam como se fossem reais. Isso só acontecia porque Zé se encontrava em plena sintonia com esses irmãos inferiores, espíritos vampiricos que sugava suas energias devido a sua freqüência vibratória que eram semelhantes. E como neste mundo os que são afins se atraem... É a lei da causa e efeito. Zé os atraia para si, mesmo inconscientemente e eles o acompanhavam sempre e com enorme prazer participavam de seu desespero e do sofrimento que aquelas desconfianças lhe causavam. Eram na realidade, inimigos de outras vidas que havia jurado vingança e que agora executavam seu plano sendo que Zé através de sua má conduta e vícios abriam a guarda, um enorme espaço para que essa vingança se tornasse plenamente possível. Se a conduta moral de Zé fosse outra ele não estaria na mesma faixa vibratória daqueles seres sedentos de vingança que desejavam acertar contas do passado e, portanto ele não entraria em sintonia com aqueles espíritos, mas Zé não tinha Deus em seu coração, aliás, 45
  • 46. ele nem se lembrava do Criador e jamais se lembrava de rezar; nem para pedir proteção e muito menos para agradecer. Do outro lado Eliza precisaria passar por aquele sofrimento para ajustar erros de vidas passadas, onde ela mesma condicionou o seu histórico de vida ainda quando habitava no plano espiritual, mas pela sua boa conduta, ela mesma sem saber atraia os seus protetores que estavam sempre atentos e assim sendo ela estava em um bom estagio a caminho da perfeição. E ao contrario Zé levando uma vida totalmente desregrada estaria em, mas lençóis, pois ele apenas pensava nos prazeres materiais com total egoísmo e mais nada. No auge da discussão, Elisa defendia-se como podia. _ Zé, para com isto: Só essa me faltava! Você desconfiar de mim... Mas isso acontece com todo homem que é mulherengo e safado. Não confia no que tem em casa e acha que a gente faz as mesmas cachorradas que eles. Mas bem: eu deveria ter fugido com um daqueles hómens. Como é que eu não pensei nisso antes... ? Você bem que merecia que eu te largasse e levasse o nosso filho junto. Aí quem sabe você iria dar o devido valor. _ Esse menino não é meu mesmo! Toda vez que eu vou pegar ele no colo ele começa a chorar e berrar. Conta-me essa história direito Elisa, sua ordinária, vagabunda! Ou eu lhe encho de pancada e faço você confessar de uma vez por todas, sua cadela vadia. E aqui você pode gritar a vontade que ninguém vai ouvir, ninguém vai te acudir. Aliais, porque é que você acha que eu te trouxe prá esse fim de mundo? 46
  • 47. Parece que Zé queria que Elisa confessasse para que ele tivesse então um bom motivo para espancá-la até a morte e assim ele se livraria de uma vez por todas daquele pesadelo que o atormentava. _ Então muito bem! Disse Elisa._ Eu vou lhe dizer uma coisa,..Você, Zé, tem um cheiro nojento, uma catinga de bode. Além disso, você fede a cachaça. A criança, ou melhor, o Carlinhos tem nojo do teu cheiro, do teu bafo de pinga velha. Ele também vive com fome, pois você gasta o que ganha com bebedeira e com suas noitadas com as mulheres da vida e deixa seu filho e sua mulher, que sou eu, passar fome. Se o pobrezinho fica quieto na cama, tudo bem, mas se você pega ele no colo, a barriga dele dói de fome e aí, é claro que ele vai começar a chorar. Entendeu agora? Vê se entende de uma vez por todas, pelo amor de Deus. _ Que conversa fiada é essa agora, mulher? Isso é conversa prá boi dormir. Você está é arrumando tudo quanto é desculpa prá se safar, sua vagabundinha! Mas você não perde por esperar, pois eu vou dar um jeito nessa situação. É só esperar prá ver. Elisa já estava exausta daquela conversa. Não podia mais suportar aquela situação, mas conformava-se e resignava-se com seu destino. Pensava somente no seu filho que dependia totalmente ou unicamente dela, a criança era tão inocente e indefeso, tão alheio a toda aquela sujeira e miséria. Carlinhos era um anjo em sua vida de amarguras onde a alegria e a paz não existiam, Muito pior que a miséria em que viviam as necessidades matérias, a fome que passavam; em fim: A falta de amor de compreensão e respeito. Mas ela enxergava naquela criança o seu porto seguro, seu único alento. 47
  • 48. Zé não acreditava mesmo em Elisa, e ela decidiu que não perderia mais tempo tentando convencê-lo com seus argumentos que era a mais pura verdade, pois ele era mais teimoso que uma mula quando empaca. Enfim, era essa a sua cruz e ela iria agüentar firme até quando pudesse. Ela sabia que lá no céu alguém olhava por ela, com certeza. O mesmo Ser que criou a natureza e tudo o que há nela. Elisa tinha a intuição de olhar e ver observando nos mínimos detalhes a beleza que se apresentava todas as manhãs quando o sol despontava no horizonte até ao cair da noite quando o espetáculo continuava com o céu repleto de estrelas e a lua majestosa que mais parecia uma mãe amorosa a velar pelo sono de seus filhos. Ela analisava com admiração a obra do criador em seu todo: O sol, as estrela, chuva, vegetações e tudo mais em sua volta, então ela mesmo sem um único dia de escolaridade conseguia enxergar com profundidade todo aquele complexo agradecendo a Deus por mais um dia de vida, onde muitos com um bom nível de escolaridade não conseguiam enxergar na mesma profundidade com que Elisa a via e então ela dizia com sigo mesma, Deus existe sim: Sem duvida ele existe, pois uma obra tão perfeita só mesmo sendo criada pelo pai que esta no céu. E com este modo de pensar ela cada vez mais adquiria forças para continuar. O que Elisa não sabia, é que por sua bondade, resignação e pureza de sentimentos ela estava sempre em sintonia com os bons espíritos designados pelo o criador que a amparavam nos momentos mais difíceis. Ela não os podia ver, mas se pudesse, veria quanta luz eles emitiam iluminando o seu árduo caminho. 48
  • 49. Muito ainda estava por vir, mas ela seria forte e com seu espírito elevado. O tempo, só o tempo poderia dizer o quanto ela era especial. Parte II Capítulo I Em Belo Horizonte, a bela capital mineira onde vivem Dolores e Ricardo, um simpático casal que, como tantos acalentam o sonho de ter filhos sem no entanto conseguir realizar seu intento, porém não perdem a esperança, pois sabem que para Deus nada é impossível. E com os avanços da medicina nesta área, muitos desses sonhos acabam tornando-se realidade. Avanços esses que são alcançados graças à bondade do Pai, pois tais conceitos da ciência são permitidos pela Espiritualidade Maior para o benefício das pessoas de uma maneira geral, para que elas tornem-se mais felizes, mais realizadas. É uma pena que muitas vezes a maioria dos empresários desta área manipule estes progressos de acordo com os seus interesses que muitas vezes atendem não à humanidade como um todo, mas apenas a alguns da elite, que por terem bem mais recursos financeiros conseguem ter acesso as mais novas descobertas da medicina. Tais conquistas deveriam estar ao alcance de todos, sem distinção. Ah, que bom seria... Obviamente é importante que para alcançar seus objetivos essas pessoas necessitem de muita paciência e uma boa dose de perseverança. De consultório em consultório estes casais tentam novos tratamentos e sempre os médicos lhes dão muitas esperanças 49
  • 50. fortalecendo seus ânimos; mas não são esperanças vazias, carentes de fundamento, pois é bem verdade que as pesquisas, especialmente nesta área de reprodução humana, estão evoluindo a cada dia e ajudando muitos casais a concretizar um sonho. Porém, não é tão simples como parece. Às vezes leva-se um bom tempo para acertar o tratamento mais adequado, dependendo, é claro, não só da disponibilidade financeira, visto que esses tratamentos dependem muito do estado psicológico da futura mamãe alem de serem caros, infelizmente. Quando ha uma possibilidade em clinicas gratuito às filas é longo assim como as listas de espera e então o processo todo é muito demorado e exaustivo. Às vezes acaba até desgastando o bom relacionamento do casal, por mais que o mesmo seja bem estruturado, com bases no amor, paciência e tolerância mutuas. Mas enfim, Dolores e Ricardo conversavam mais uma vez sobre o assunto como tantas outras vezes, só que desta vez já desanimados, pois haviam varias vezes tentadas sem resultado; e o sonho de ter um filho tinha que ser mais uma vez adiado, eles sabiam que não deviam se deixar abater pelo desânimo, mas estava cada vez mais difícil. Ricardo não tinha como prioridade um filho e sim a sua esposa que lhe completava plenamente, mas Dolores pelo contrario um filho iria lhe preencher o vazio que a sua filha a deixou ao vir ao mundo já morta alegava Dolores. Em alguns casos isso se torna uma obsessão, uma idéia fixa chegando a interferir no relacionamento do casal e levando até mesmo, às vezes, à separação, pois um sente-se em 50
  • 51. dívida com o outro não podendo conviver com esse sentimento de culpa, que por sua vez gera conflitos desnecessários e muito sofrimento para ambas as partes. O que as pessoas em geral não compreendem na maioria dos casos, é que não cai uma folha de uma árvore sem o consentimento de nosso Pai Celestial e que muitas vezes precisamos passar por certas provações, não como um castigo, mas sim provações que nos mesmos indicamos para as nossas vidas carnais antes de reencarnarmos, para o nosso aprimoramento espiritual, agora, a maneira como vamos passar por isso é escolha nossa é o nosso livre arbítrio que determinara e que dependera exclusivamente de nós. - Dolores, querida, diz Ricardo a sua esposa: Você já fez vários tratamentos e nada de engravidar... - É, Ricardo, o maior sonho da minha vida, como você sabe é acalentar o nosso bebê, trocar suas roupinhas, alimentá-lo, educá-lo e amá-lo. - Você Dolores vivia com o Joaquim, aquele infeliz, numa situação paupérrima e acabou perdendo a sua filha no parto, acho que isso a traumatizou, querida. Considerou Ricardo. Pensativo ele se lembra de quando conheceu Dolores. Há uns doze anos atrás e quanto a almejou assim que avistou pela primeira vez, seu desejo de estar junto a ela e sabendo de sua situação planejou rapidamente como livrar aquela mulher tão bonita e tão jovem ainda uma menina que lhe pareceu tão especial, apesar de estar mal tratada, daquela miséria em que vivia com um bêbado que maltratando-a deixou a deriva. Foi assim que o respeito e gratidão em formato de amor nasceram no coração de Dolores; Será que foi amor a primeira vista e que foi aumentando cada vez mais e quando Dolores 51
  • 52. estava no auge de seu desespero, ao pensar que sua filhinha havia morrido logo após o nascimento foi ai que Ricardo apareceu na porta de sua casa e a convidou para se casar e morar com ele em Belo Horizonte, alegando que a amava muito e que Joaquim era um irresponsável, deixando-a só naquela situação, ela relutou a principio, mas acabou aceitando, pois já estava cansada daquela vida de amarguras e privações. Ricardo parecia um bom homem, de uma boa família e parecia sincero e respeitador. Dolores vislumbrava a oportunidade, a chance de uma nova vida ao lado de quem realmente a amasse e cuidasse dela, já que com Joaquim ela não podia contar. Então ela e Ricardo decidiram irem juntos para a capital mineira para começar uma vida nova, pois para Dolores não havia mais sentido em continuar levando aquela vida miserável, com tantas privações e principalmente sem dignidade. A pobreza, a miséria em si já é difícil, e quando não há amor, respeito, compreensão e principalmente dignidade tudo se torna muito mais difícil de suportar. Joaquim nunca a respeitara nem como mulher, nem como ser humano, pois a união de ambos foi conseqüência de uma pequena negociação financeira entre Joaquim e o pai de Dolores. Joaquim tratava-a como um objeto de sua propriedade e ainda a culpava da situação precária em que viviam, sendo que não enxergava que, ele sim com o vício da bebida deixava de cumprir suas responsabilidades de chefe de família, deixando de proporcionar uma vida melhor para sua esposa e si própria, pois gastava quase tudo o que ganhava no boteco mais próximo. 52
  • 53. Dolores padeceu de uma desnutrição quase profunda durante a gravidez, quando a gestante tem que alimentar-se bem e de maneira balanceada, incluindo em suas refeições diárias todos os grupos de alimentos, para que assim o feto possa desenvolver-se de uma maneira saudável. Porém isto não ocorreu então esta desnutrição de Dolores fez com que sua filha nascesse muito fraquinha, embora saudável, porém não tendo forças para chorar, mal podendo respirar e por isso fora dado como morta pelo seu pai na hora do parto, pois parecia mesmo estar sem vida. Dolores por alguns instantes recordou-se daqueles momentos difíceis de sua vida, momentos que ela nem gostava de lembrar-se, mas as tristes lembranças vinham, quase todos os dias lhe torturar, mesmo contra a sua vontade e ela não conseguia evitá-las. Então, com lágrimas nos olhos disse olhando para Ricardo. - Eu não gostaria de falar nesse assunto, se você não se importa. Hoje sou uma mulher feliz em sua companhia, Ricardo e espero nunca me decepcinar. Eu até rejuvenesci, pois você me trata como uma rainha e me faz feliz e realizada pode acreditar. Eu aprendi até a falar direito e a me comportar em sociedade. Tudo graças a Deus e a você. Eu devo-lhe tudo que sou hoje, Ricardo. Você me salvou e devolveu-me a dignidade, por isso eu quero retribuir-lhe, dando-lhe um filho, com o qual você tanto sonha, não é mesmo? - Eu também sou feliz, minha querida, porque tenho você, mas posso afirmar que podemos ser mais felizes ainda, por você com um filho me fará mais feliz ainda. 53
  • 54. - Já sei que para a nossa felicidade seja completa falta uma criança aqui em casa, rindo, correndo, brincando, enchendo nossos corações de alegria. É verdade, às vezes eu fico muito deprimida... - Dolores, ouça bem, nós não somos ricos, mas temos uma situação financeira bem equilibrada; temos algumas economias guardadas, não é mesmo? Pois eu quero lhe fazer uma proposta. - Qual é Ricardo? Surpreende-se Dolores já bastante curiosa. - Lógico, meu amor, que você hoje e uma mulher bem informada, pois conseguiu freqüentar uma boa escola, estes anos todos, por tanto você já ouviu falar em inseminação artificial. Não é mesmo? - É claro que sim, é um procedimento para casais com dificuldades em conceber. Fala-se muito a respeito, mas esta realidade só será possível daqui a uns dez anos, digo: A inseminação será possível aqui no nosso país. E eu não sei se conseguiria esperar por tanto tempo assim... - Mas podemos ir aos Estados Unidos e tentar esse procedimento, lá onde a medicina já está muito mais avançada nessa área. O que você acha? - Ricardo eu não gostaria de servir de cobaia, pois mesmo lá, os médicos ainda estão em fase de experiência com essa tal inseminação artificial, mais conhecida como “bebê de proveta”. 54
  • 55. Acho que não seria prudente, afinal de contas trata-se da vida de uma criança, ou melhor, dizendo, o nosso filho! Sinceramente acho melhor esperar mais um pouco e tenho certeza que encontraremos uma solução. Não vamos nos precipitar, querido. Eu sei que é tudo o que você mais deseja na vida, mas temos que ter paciência. Acredite em mim, quando menos esperarmos essa criança estará a caminho para completar a nossa felicidade e transformar as nossas vidas. Ricardo refletiu melhor e acabou concordando com sua esposa. Como sempre ela estava certa. Era incrível como Dolores era uma pessoa ponderada e sensata e, além disso, tinha o dom de acalmá-lo e fazer com que ele se sentisse mais confiante e otimista. Talvez por todo sofrimento que ela havia passado afinal o sofrimento nos proporciona um bom aprendizado e por isso ela tornara-se uma pessoa tão especial. Como esposa então, ela era incrível. Administrava tudo com eficiência e capricho. E como mulher uma amante excepcional e carinhosa, sempre disposta a lhe dar amor e satisfazer seus desejos de homem. Ao contrário de seus amigos, ele não precisava ter encontros amorosos fora do casamento para sentir-se satisfeito. Pelo contrario, Dolores o completava plenamente e ele não se arrependia de ter escolhido-a para partilhar sua vida. Ele costumava dizer que ela o salvara, dando um sentido para a vida monótona e sem graça que ele levava, só vivendo para os estudos na época em que eles se conheceram. Mas agora, como era bom! Pensava ele, voltar para casa após um exaustivo dia de trabalho e ter aquela mulher bonita e cheirosa, sempre muito bem arrumada esperando-o 55
  • 56. com um jantar especial e sempre disposta a agradá-lo na intimidade, suas “armadilhas” de sedução. Ah, ela nem de leve lembrava aquela jovem mal-tratada que morava com Joaquim e era tão espezinhada e humilhada por ele. Ricardo conseguiu perceber em Dolores na época que ela vivia com Joaquim que era uma mulher atraente e sensual. Apenas precisava de uma vida melhor e alivies cuidados. Um bom tratamento a fez desabrochar como mulher, esbanjando beleza e feminilidade por onde quer que passe, seus amigos o invejavam e ele orgulhava-se disso. Só faltava mesmo o tão sonhado filho para completar a felicidade de sua esposa, mas era só uma questão de tempo. Aí sim ele iria sentir-se totalmente realizado presenteando a sua bela esposa com um filho. Ricardo era um homem acostumando a conseguir tudo o que queria e não poupava esforços para alcançar seus objetivos, sentia-se extremamente frustrado quando alguma coisa não saia como ele planejava, porém era persistente e não desistia facilmente de seus intentos. Foi assim com Dolores, pois não foi tão fácil conseguir conquistá-la, mas quanto mais difícil, mais prazer lhe dava, pois ele adorava desafios. Aprendera com seu pai que o que era muito fácil não tinha valor, não proporcionava o sabor da vitória. Dolores, apesar das dificuldades que enfrentava e da vida dura que levava ao lado de Joaquim, era uma mulher honesta e não cedeu facilmente aos apelos de Ricardo. Só mesmo quando perdeu sua filha ela desiludiu-se totalmente da vida e resolveu largar tudo para traz e partir para uma vida nova, quem sabe bem melhor, mesmo sem ter muita noção 56
  • 57. do que provocava em Ricardo, pois ela não o fazia de propósito, mas foi justamente essa ingenuidade e falta até de malícia que ascendeu de vez os desejos do jovem Ricardo. Ele queria essa mulher, ah, como queria... E nada iria impedi-lo de conseguir seu intento. Era só uma questão de paciência e perseverança. E agora mais uma vez essas duas virtudes se faziam necessárias em sua vida. Parte 2 Capítulo II Mais um belo dia nascera no lugarejo abandonado onde vivem Elisa e seu filho. A natureza exuberante com seus encantos em sua explosão de cores e diversificações de espécies parece alheia aos dramas de cada ser humano; pois para ela basta ser o que é e seguir o seu curso que é sempre harmonioso desde que é claro, não seja agredida pela mão insensata do homem. Assim como na natureza, os seres humanos, cada qual possui as suas características próprias, sua individualidade, sua maneira de ser e todos precisam respeitar-se mutuamente para que se viva em harmonia e equilíbrio; cada um na sua função, cumprindo o papel que lhe cabe na sociedade para que todos possam ter felicidade e paz. Não é bem num ambiente de paz, infelizmente que vamos encontrar Elisa. Perdida em seus adágios, ela recorda-se de seu pai e de como era a sua vida antes de juntar-se ao Zé. Pensava consigo mesma em voz alta, pois a solidão e o isolamento eram imensos e inúmeras vezes ela falava sozinha, como se estivesse conversando com alguém, só para sentir-se menos só. 57
  • 58. _ É meu pai morreu de tanto beber e eu agora estou sozinha nesse mundo. O que vai ser de mim e do meu filho? Com todos os defeitos de meu pai ele tinha seu lado bom porem ruim com ele mesmo, bem: Ruim com o meu pai, pior agora sem ele. Eu, praticamente sosinha com esta criança no mundo para criar, não posso contar com o Zé, que é só orgia e cachaça. Se pelo ao menos ele se preocupasse um pouco com o menino... Mas ele cismou que o filho não é dele e ninguém tira isso da sua cabeça que só vê maldade em tudo, ninguém presta pra ele, como pode!. Elisa tenta encontrar uma solução para seus problemas, mas como? Com uma criança pequena nos braços tudo se torna ainda mais difícil, pois não pode arriscar a vida de seu filhinho adorado. Perdida num turbilhão de pensamentos ela nem percebe quando Zé chega e já vai logo dizendo ironicamente, aliás, como de costume. _ Elisa,, vê se melhora essa cara, pois eu arrumei um emprego pra você, e posso lhe afirmar que é do jeito que você gosta... Elisa, tentando se remanejar do susto, pois ela não havia visto Zé entrar, pergunta com humildade: _ Aonde, Zé? Se dé pra levar o Carlinhos comigo eu vou sim, homem de Deus. Tenho muita disposição e vontade de trabalhar pra vêr se melhora a nossa situação. Pelo ao menos pra gente ter o que comer... _ Você deixa o menino comigo, que lá não pode levar criança não. Aonde já se viu? Você não desgruda desse menino o dia inteiro e isso não está certo não! Parece até carrapato. Tá aqui o endereço, é só você procurar a dona Dondoca e diga a ele que fui eu que mandei 58
  • 59. você, entendeu? Se não entendeu é porque e burra mesmo e nesse caso não tem jeito, eu vou ter que explicar tudo de novo, mas vê se desta vez presta bem atenção, mulher, por que eu não sou papagaio pra ficar repetindo. Ou quem sabe se eu te der uma sova você não entende rapidinho. Aliais faz tempo que eu tenho vontade de di dar uma surra bem dada, Eu acho até que você deve estar sentindo falta disso. Quando eu te bater e depois de nós irmos pra cama fazer safadeza ficara até mais gostoso, você não acha? Ah deixa isso pra lá, vamos direto ao que interessa. Elisa ouviu as observações de Zé, indignada. Sim, foram muitas ameaças que ele fazia e sem motivo. Sempre que algo dava errado para Zé ele ia pra casa e descontava em Elisa a sua raiva, a sua ira. Depois ainda por cima tomava-a a força como um animal. Geralmente nesses momentos ele estava sempre embriagado e em péssimas companhias espirituais, verdadeiros vultos negros que o envolviam e abraçados e ele desfrutava também dos prazeres sexuais que no seu caso eram baseados em puro sadismo. Esses espíritos de vibração inferior estavam sempre com ele vibrando para que tudo desse errado com aquela família. Era desta forma que supostamente Zé se vingava de Elisa com seus vícios: o álcool e a perversidade sexual. E seus oponentes espirituais queriam cada vez mais e com mais intensidade, portanto instigavam-no a ser violento, principalmente com as mulheres. Assim era também com as prostitutas que eram obrigadas a deitar-se com ele, pois eram raras às vezes em que elas não eram humilhadas antes de servi-lo. Quando ele chegava, todas tinham vontade de se esconder para escapar de tamanha ignorância e mau cheiro e 59
  • 60. ele cada vez mais parecia só chegar a uma plena satisfação sexual após cometer tais barbarias. Algumas diziam que ele parecia ficar possuído quando começava o coito. Ouve uma vez em que ele por não conseguir atingir o ápice de prazer tentou espancar uma das moças que ele contratou para a sua orgia, só não chegou a batê-la por que ela era forte, mas mesmo assim, só depois de uns dois meses é que ela se recuperou do susto. Janete esse era o seu nome, deixou de atendê-lo como cliente assim que pode por medo de ter que servir o “Demônio” novamente. Este era o apelido de Zé no bordel e ele fazia jus ao mesmo. De tão mal educado que era. E assim Zé ia levando a sua vida e nada parecia detê-lo. Seus “comparsas” espirituais estavam sempre com ele, pois havia tamanha sintonia entre eles que era como se fossem duas pessoas no mesmo corpo. Zé tomava como seus, os pensamentos daquela legião de espíritos perdidos em seus devaneios, facilmente registrava tais pensamentos como se fossem seus próprios. Ele era também uma vitima e a única maneira de livrar-se de tal obsessão seria mudar a sua conduta moral, abandonando os vícios perniciosos e voltando-se a Deus. Mas isso não seria nada fácil e exigiria muito esforço e força de vontade o que não era bem uma característica da sua personalidade ou índole do seu espírito que trazia em seu subconsciente ou egocentrismo o objetivo de vingança de uma vida passada. Pelo contrário, ele só pensava nos prazeres imediatos o que contribuía e alimentava em suas obsessões vampirescas e sedentos de vingança de algo que nem ele mesmo sabia decifrar e ávidos de prazer de toda espécie. Caso Zé resolvesse mudar de vida e se 60
  • 61. empenhasse muito para isso, tais obsessões estariam sempre na espreita para que ao menor vacile de sua parte eles pudessem arrastá-lo novamente para aquele redemoinho de perdição. Portanto ele teria que cometer um esforço enorme para não cair em tentação novamente, pois qualquer vacilo seu seria fatal. Por isso que muitos, ou melhor, a maioria não consegue se livrar tão facilmente. Só mesmo com muita fé e força de vontade. O melhor mesmo é não envolver-se em tais processos destrutivo, pois uma vez dentro, torna-se difícil a recuperação, porem se tivermos fé acima de tudo, pois para Deus nada é impossível e cada caso é um caso a ser considerado. No que se refere ao Zé, ele estava cada vez mais comprometido com o astral inferior, infelizmente. Elisa, já amedrontada, pois é claro, não queria apanhar, porque se assim fosse perderia toda sua dignidade, mas também não tinha como defender-se então ela responde com a voz tremula: _ Eu entendi, sim, Zé, não carece de repetir e te agradeço muito por ter arrumado um emprego pra mim. Mas... _ Mas o que, Elisa? Não me venha com desculpa, pois está tudo arranjado. Você não vai me fazer essa desfeita, sua cadela vadia! Está tudo combinado com sua futura patroa! _ É que eu não queria deixar o nosso filho aqui. Ele ainda é muito pequeno e precisa de mim. Responde Elisa com o coração apertado de dor. Pode deixar você ira se dar bem. Vai por mim. Agora vem cá, vamos deitar que eu quero- te ensinar umas coisinhas novas. E vai ser de muita utilidade no seu trabalho novo. 61
  • 62. Você tem que aprender de uma vez por todas a agradar um homem na cama. Está mais do que na hora. Vem cá que eu vou-te ensinar tudo que uma mulher deve saber. E riu como satisfação. Elisa ficou contente com a notícia, mas ao mesmo tempo receosa por causa de seu filho; mas se era para ter uma vida melhor, pensou, valia a pena o sacrifício. Embora muito preocupada por causa da criança, ela não podia perder essa chance de arrumar um trabalho, pois afinal de contas não era sempre que aparecia uma oportunidade de emprego, ainda mais naquele fim de mundo onde tudo era tão difícil. No dia seguinte, logo cedo, ela arrumou-se da melhor maneira que pode e foi até o endereço que Zé lhe dera. Um tanto quanto insegura, mas esperançosa ela ao chegar ao destino procura pela pessoa que Zé indicara. _ Por favor, eu quero falar com a dona Dondoca. Pede ela humildemente a mulher de aparência estranha que atende a porta e a mede da cabeça aos pés com um ar de desdém. _ Mais uma prá concorrer conosco. Aqui já tem mulher demais, meu bem! Responde a moça com uma voz nada amistosa. _ Você é a mulher do Zé? Pergunta outra moça com o rosto tão pintado que mais parecia uma boneca. _ Sim, sou eu. Meu nome é Elisa. O Zé me mandou aqui pra eu arrumar um emprego. Sabe moça eu estou precisando muito de um trabalho pra vê se melhora a nossa situação 62
  • 63. que vai de mal a pior. Tem dia que nós não temos o que comer; E, além disso, eu tenho um filho pequeno pra criar. _ Vai embora, menina. Você é quase uma criança ainda. E aqui é uma casa de prostituição, casa de mulher dama, ou mulher da vida, um prostíbulo, se é que você está me entendendo... _ O que é um prostíbulo? Eu acho que não entendi muito bem. Desculpe-me dona, mas é que eu estou um pouco confusa. Elisa dentro da sua ingenuidade de menina-moça ainda não consegue entender do que se tratava. Uma das moças após dar uma sonora gargalhada responde séria: _ Aqui nós vendemos o corpo prá sobreviver, prá não morrer de fome. Temos que se sujeitar a estas humilhações noz que aqui vivemos somos prostitutas, Mas o nome não importa. O que realmente importa é que a gente é obrigada a ir prá cama com todo tipo de homem que aparece, não temos o direito de escolher é questão de sobrevivência menina, vai embora, pois aqui não serve pra você. E se você quer saber: Até mesmo com o desgraçado do seu marido agente tem que se deitar. Aliás, mocinha, sabe qual é o apelido dele aqui? Pois bem: Eu vou lhe dizer...Demonio! De repente dona Dondoca aparece e ao escutar a outra falando com Elisa daquela maneira, ela fica furiosa. Bate duas vezes na cara daquela que falou demais e retruca: - Não se meta nos meus negócios ou eu lhe corto a língua da próxima vez! Quantas vezes eu preciso repetir que quem manda aqui sou eu, sua linguaruda? Agora vê se some daqui e vai procurar alguma coisa pra fazer. Serviço é o que não falta por aqui. Olha esse chão como está sujo! Quer que eu esfregue a tua cara nele? ... 63
  • 64. Virando-se para Elisa que assustada com a cena, estava boquiaberta, diz com uma voz toda amável, pois percebe que a menina estava muito impressionada com tudo que presenciara. Tentou tirar essa má impressão da menina e como era muito experiente ela convida a menina para entrar... _ Entra, minha filha, fique a vontade, sinta-se como se estivesse em sua casa. Você vai se sair muito bem aqui, ainda mais sendo assim tão novinha. Você é muito bonita, sabia? Bem que o Zé falou... Essa vagabunda está é com uma baita inveja da sua formosura e juventude. De uma voltinha, filha. Deixa ver como você está bem servida de carnes. Sabe como é homem gosta é disso, principalmente no traseiro... É, acho que tá tudo certo. Pele boa, dentes bons, seios razoavelmente que da par encher uma taça, mas cabem numa mão, ancas largas e... O principal é essa carinha de menina inocente. Sabe menina, os homens adoram uma carinha de anjo num corpo de mulher, eles pagam até mais, sabia? Você poderá ganhar muito dinheiro aqui e estou pronta para lhe ajudar. Dizem que dá mais prazer. Se ainda for virgem então... Bem, não é o seu caso, mas não faz mal. Você vai me render um bom dinheiro. E se algum homem endinheirado gostar de você até pode estar disposto a pagar pela exclusividade, ou seja, tu só irás pra cama com ele e na hora que ele quiser e é claro tem que fazer tudo que ele exigir. Acho que eu vou ter que te ensinar muita coisa a você... Mas quando chegar na hora “H” você se faz de ingênua com os homens, isso deixa eles doido. Sabe, certa vez apareceu aqui um coronel que gostou tanto de uma menina que tinha o rosto todo pintadinho. Uma cara de sapeca 64
  • 65. que só ela... Chamava-se Laudenice, mas o apelido era Lalá. Pois bem esse tal coronel que era pra lá de rico quis levá-la com ele e pagou um bom preço pela danadinha. Ele dizia que ela era uma diabinha na cama, um verdadeiro furacão e deixava o coronel doido com aquela carinha de anjo, aqueles cabelos cor de fogo e aquelas pintinha na cara. O homem “ficou de quatro” por ela. Ele era casado e muito bem casado por sinal. Respeitadíssimo aqui na região, dono de um monte de fazenda e metido com política. Mas cismou com a Lalá. Apaixonou-se mesmo. Sorte dela... _ “Bota um preço que eu pago, dona Dondoca!” Foi assim que ele falou. É claro que eu botei um valor lá nas alturas. Foi com essa grana que eu reformei esse casarão que estava caindo aos pedaços e contratei mais meninas pra trabalhar. No dia em que Lalá foi embora Foi uma choradeira só, tem que vê... Ela era muito querida por aqui. Era uma verdadeira moleca, vivia fazendo arte, mas na hora de trabalhar a danada fazia tudo certinho dava até gosto de ver, bem. Sabia agradar os homens na cama. Deixava-os doido... Quem sabe você não dá a mesma sorte, Elisa, e se livra daquele traste que é o seu marido. Sim porque viver com ele deve ser um inferno. Deus me livre. Cruz credo! Ninguém merece um castigo tamanho, ainda mais você que a gente vê de longe que é uma criatura boa e sem maldade... Completou dona Dondoca benzendo-se três vezes seguidas ao lembrar-se de Zé. A mulher falava sem parar nem reparando no olhar de decepção de Elisa que com os olhos cheios d‟ água respondeu: 65