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Psicologia Clínica e Saúde


   Intervenção em Infecciologia

  Gabinete de Adesão à Terapêutica Anti-Retrovírica (GATA)



                                     Álvaro Ferreira / HEM 2010
Resumo


A infecção por HIV e/ou a Sida surgem, no espaço
mental do indivíduo, como um acontecimento
desorganizador e desencadeador de angústias várias. O
tipo de mecanismos de defesa que irá mobilizar irá
permitir lidar com essa nova realidade, de forma mais ou
menos estruturante e integradora. Em última análise
coloca-se em jogo a possibilidade de evitar (ou não) a
“morte mental”, reconstruindo novos sentidos.
Resumo

A intervenção da psicologia clínica em setting hospitalar,
criando laços estreitos entre modelos da psicoterapia
com martiz teórica psicanalítica e modelos da psicologia
da saúde, torna-se fundamental como mediadora dessa
(re)constução da mentalização do sujeito. Angústias de
morte, de transformação corporal, mecanismos de
defesa, mais ou menos operativos, e dimensões
humanas como a culpa, o sacrifício, a sexualidade, o
medo, a cólera, medem forças neste anfiteatro da
mente.
Resumo


Este relatório dá conta da experiência da intervenção de
um psicólogo clínico com pacientes infectados com VIH
da Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias do
Hospital Egas Moniz em Lisboa.

Esta apresentação, hoje e a aqui, necessariamente com
formalismo mínimo exigido, procurará ser um espaço de
re-reflexão.
Conteúdo deste Relatório Crítico




a minha actividade clínica hospitalar com
 pessoas com seropositividade e/ou sida
Seropositividade / Sida

A seropositividade e a SIDA surgem
ainda, massivamente, acompanhadas de
imagens de morte. No “senso comum”,
muitas das vezes de forma errónea, mais
do que qualquer outra patologia orgânica.
Ligam-se ainda a outros simbólicos de
morte     –     degradação      corporal,
contaminação, culpa.
Seropositividade / Sida

A infecção por VIH e/ou a SIDA surgem
para o sujeito, como uma notícia
desestruturante, pré-anúncio de
transformação maléfica e castigadora.
Expressões de vivência de angústia de
morte, de transformação corporal, de
culpa, de profundo medo e desesperança,
recorrem na clínica.
Seropositividade / Sida

“(….) difícil seria encontrar doença menos apropriada a
discursos ou práticas que se exilassem em laboratórios
ou enfermarias, declarando fora de portas a cultura. A
qual, invisível, se interpõe entre nós e a „realidade‟…,
construindo outra, a „verdadeira‟! Este talento sinistro
para se derramar pela sociedade e, em parte, por ela
ser construída, torna a Sida um locus anthropologicus
de eleição. Não por acaso sede das mais díspares
metáforas civilizacionais e obrigatório muro das
lamentações da Medicina Ocidental, que pensara
decretar vencidas, à força de vacinas e de antibióticos,
doenças que hoje se reerguem dos escombros de tal
soberba.(…)
Seropositividade / Sida

A Sida, essa, acumula metáforas: representa o Outro
ameaçador, a doença alheia por definição mas que
também nos pode matar, a punição divina ou da
Natureza, a consequência do declínio civilizacional,
enfim…, dir-se-ia, não doença, mas gigantesco ecrã!



                                         Júlio Machado Vaz
Seropositividade / Sida



Weiss mostra-nos que o cancro era visto
como um caranguejo que nos roía as
entranhas e a Sida como um invasor que
ataca a partir de fora e estilhaça um corpo
cujos limites se “dissolveram”, à boa
maneira pós-moderna. (…)
Seropositividade / Sida / História

A História, mesmo jovem, de que falava à vinte
anos? De praga e de cancro gay. Ou de GRID
(Gay Related Immune Disorder), expressão
teoricamente mais neutra. Mudámos tão pouco
ao longo dos séculos! Apressados, gulosos,
construímos de imediato um mundo dividido
entre “nós” e “eles”, bons e maus, não
admirando que os discursos morais brotassem
como cogumelos: ora invocando a fúria da
Natureza (…), ora a de Deus(…). Weiss
Seropositividade / Sida / “Grupos de Risco”

A mesma lógica binária gerou os famigerados grupos de
risco. Esquecendo a perigosa democraticidade dos
comportamentos, inventámos categorias de pessoas
que permitiam às ditas “normais” sentirem-se ainda
protegidas, bastava não ser como “as outras”. E se os
homossexuais continuaram debaixo de fogo, admitamos
que os toxicodependentes lhes passaram a disputar os
holofotes. A sua segregação pudibunda permitia ignorar
como se constituem em extraordinária metáfora de uma
sociedade que a todos incita aos mais diversos
consumos e dependências, mas reserva determinados
rótulos para os que funcionam do lado errado da Lei
(também ela culturalmente variável, recordemos os
interditos do Islão sobre o álcool). Júlio Machado Vaz
Seropositividade / Sida / “Grupos de Risco”

Mas porque a doença insistia em não respeitar
indivíduos alheios aos “pecados” que outros
acarretavam, inventaram-se grupos de risco socialmente
aceitáveis, elaborando um discurso insidioso que
declarava vítimas inocentes certos seropositivos. Mas a
inocência pressupõe a outra face da moeda, ao
descrever uns como alvos da má sorte estamos
implicitamente a assacar culpas aos outros, quase (?) os
declarando merecedores do que lhes acontece.

                              Júlio Machado Vaz
Seropositividade / Sida / Morte Social e Biológica


 “a Sida pôs a nu o que em Antropologia se descreve
 como a não coincidência entre morte social e biológica,
 com a primeira a anteceder a segunda. E se
 habitualmente falamos de morte vudu ou ritos funerários
 de outras sociedades, aqui trata-se da solidão
 provocada pelo afastamento de quem rodeia portadores
 e doentes, promovidos a leprosos dos tempos
 modernos. Estes verdadeiros „cadáveres sociais
 ambulantes‟ fazem tristemente lembrar muitos dos
 nossos velhos, cujos fins de vida já a não abrigam, não
 passam de corpos que suspiram por se juntar aos
 espíritos que partiram.
                               Júlio Machado Vaz
Seropositividade / Sida / Morte Social e Biológica


 Este pensamento de Júlio Machado Vaz
 coloca o “dedo na ferida” resultante de
 muitos dos “fantasmas que povoam o
 universo” de pacientes infectados com
 VIH, da população em geral e mesmo de
 profissionais de saúde. Ainda hoje! Esta é
 a experiência que tenho tido na minha
 intervenção clínica.
Seropositividade / Sida / “fantasmas” associados



 Noções como “culpa”, “castigo”,
 “invulnerabilidade”, “normalidade e
 patologia”, “grupos de risco”, mantêm-se
 recorrentemente presentes nas
 representações e mesmo nos discursos.
Seropositividade / Sida / Clínica

O fio condutor na minha intervenção clínica, é
(procura) prevenir a morte psíquica, em vida.
Reconhecer esta possibilidade torna-se
fundamental para na clínica poder impedir-se
esse movimento “ destrutivo da mente”. Do que
a morte biológica representa para o sujeito,
nada se poderá saber. Mas, tal como refere
Pontalis quando fala da psicanálise, pretende-se
aceder à “morte que se insinua na vida”.
A doença Sida continua a surgir, nos nossos
tempos, ligada à própria morte. Reconheço-o na
clínica.
Seropositividade / Sida / Clínica


Tal, dever-se-á não só ao carácter de incurabilidade que
ainda a acompanha, mas também ao facto de a ela se
associarem muitos “fantasmas”, conferindo-lhe um
carácter “maléfico”. Acompanha-se de fantasmas
inconscientes muito vivos, tanto no que diz respeito às
representações individuais bem como às colectivas.
Existe uma panóplia de fantasias inconscientes que se
mantêm face a esta infecção/doença. Estando
moralmente conotada de forma negativa, liga-se
directamente a noções de sexualidade perversa,
transgressão, homossexualidade.
Seropositividade / Sida / Clínica



Existe a necessidade de desconstruir
sentidos, que se encontram ao nível do
inconsciente imbricados ao tema do
sangue, do sangue contaminado, do
sangue e da morte, do sangue e do
esperma.
Seropositividade / Sida / Clínica

A ligação do paciente com Sida ao mundo
externo torna-se muito difícil. Para Revidi, esses
pacientes personificam a morte. A
representação da morte não existe em termos
de imagens da mente humana. Para ele, a única
aproximação possível à noção de morte, passa
pelo cadáver. Opera-se sobre o corpo humano
um trabalho de degradação de esvaziamento,
que o imaginário colectivo identificou como
processos de “cadaverização”.
Seropositividade / Sida / Clínica

(Doente com Sida) = Pré-cadáver
Sida = Morte
Doente com Sida = Cadáver = Imagem de
Morte
O afastamento face ao paciente com Sida,
permite isolar, circunscrever e afastar a
morte.
                                Revidi
Seropositividade / Sida / Clínica




Muitos dos pacientes que sigo relatam
este afastamento (sendo que muitas
vezes eles afastam-se, com medo de
“fazer mal” aos outros).
Angústia de Morte Contagiosa

(…) “as pessoas sabiam que Santiago Nasar ia
morrer e não se atreviam a tocar nele como se a
morte pudesse contaminar-se. De resto, Cristo
Bedoya que o acompanhava estava por isso
mesmo também incluído no círculo criado em
volta de Nasar, como se tivesse sido
contaminado pela morte. Bedoya diz que as
pessoas o olhavam como se estivessem
marcados de um modo estranho e aterrador. O
que não se pode compreender é aterrador”(…)
         Crónica de Uma Morte Anunciada, Gabriel Garcia Marquez
Angústia de Morte

Para Revidi, o diagnóstico da doença surge como factor
de agressão em alguém que não pensa na sua própria
morte. O sujeito com saúde no seu dia a dia utiliza
mecanismos de defesa dos quais se destacam o
evitamento e a negação da própria morte. Face ao
diagnóstico tudo se desmorona irrompendo, segundo
este autor, angústias múltiplas como a “angústia de
morte”. Esta, tem a sua origem no real, o que a distingue
de uma angústia neurótica. Nesse momento essa
angústia é tão destruturante que se pode comparar a um
“estado vertiginoso” (dando-se uma sideração das
defesas, uma obnibulação provocada pela ideia da sua
doença).
Angústia Morte / Clínica

Uma abordagem dinâmica, realizada pelo
psicólogo no trabalho com estes pacientes (e na
qual eu me revejo), visará reconhecer, segundo
Revidi, “os fluxos de angústia e desespero”
contrabalançados com os “fluxos de energia
para a vida”. Essa abordagem resulta do
estudo, necessariamente frágil, entre dois eixos:
o das agressões vividas pelo sujeito com a
doença e o dos mecanismos de defesa
psicológicos que utiliza para combater e/ou se
adaptar face a essas agressões.
Mecanismos Defesa Mais Operativos

Regressão;
Negação da realidade;
Racionalização;
Sublimação;
Isolamento;
Idealização;
Obsessionalização e Evitamento Fóbico.
Mecanismos de Defesa mais
            “patológicos”

• “Sideração do Funcionamento Mental”;

 “Depressão Essencial” (Marty);

  Anestesia Afectiva”;

  Desrealização
Clínica
O trabalho terapêutico com os pacientes
infectados com VIH e/ou com Sida, pressupõe
a reconstrução da perda. A doença/ morte
coloca em conflito pulsões de vida e pulsões de
morte. Terá que existir um novo compromisso
entre elas que permita a adaptação à situação
disruptiva. A doença representa uma perda, que
como refere Klein, é sempre uma “perda de algo
interno”. Terá que se realizar sempre um
trabalho de luto, em que se aceita a perda do
objecto de amor.
Clínica


Superar a negação da perda (evitando o
luto patológico), é ir no caminho da vida
psicológica (que se traduz por uma
sucessão de várias mortes).
Clínica de “Mãos Nuas”

É uma “clínica de mãos nuas”, que tem norteado a
minha intervenção clínica, surgindo como contraponto a
uma clínica instrumental, directiva, que tem por
instrumentos questionários e quantificações, procurando
as comparações e as elaborações estatísticas,
acedendo apenas a alguns aspectos mais superficiais
dos fenómenos.
Tenho procurado na minha actividade clínica aceder à
compreensão e ao que é verdadeiramente único em
cada sujeito, conjugando a minha formação base em
Psicologia Clínica, com a formação em Psicoterapia.
Clínica de “Mãos Nuas”

Sublinho a ideia de que conhecer não equivale
a determinar o que é verdadeiro. Retomo
frequentemente o pensamento de Chiland pelo
qual se valoriza o papel de uma “clínica de
mãos nuas”, em que o psicólogo é instrumento
de si próprio e onde o papel da observação é
fundamental. O psicólogo para se usar a si
mesmo como instrumento necessita de realizar
um trabalho dinâmico de autoconhecimento,
“um trabalho sobre si” de forma a não imiscuir a
relação terapêutica de problemática própria.
Clínica de “Mãos Nuas”


O que o clínico põe ao serviço do outro
“não são somente os seus
conhecimentos, mas o seu (…) aparelho
psíquico, o seu psiquismo, o seu
funcionamento mental, a sua capacidade
de sentir, de compreender e de elaborar; é
um saber, é um saber vivo, encarnado,
que engloba a sua própria pessoa”.
O Quase Último

não é o medo da morte
é o de não estar todo em mim
perder naquele momento a reminiscência do quadro

sentir que a tua mão
que antes vogava aqui por dentro
já partiu
e que o corpo não é
aquela inerte oração

não conseguir ver jamais as tuas tranças
daquela fotografia
não resvalar pela ladeira como fazem
as crianças na analgia (alegria)
da sua brincadeira


A.S. (25/08/2009)
Expressões na Clínica


“ninguém vai querer fazer mais amor
  comigo…..”
Expressões na Clínica


“não vale a pena pensar em projectos, vou
morrer…”
Expressões na Clínica


“tenho tanta vergonha….”
Expressões na Clínica


“tenho os meus pratos e talheres, tenho
tanto medo de contaminar os outros…”
Expressões na Clínica


“não quero que ninguém saiba, ninguém
pode saber….”
Expressões na Clínica


“vou ficar com aquele aspecto, tão
magro,….não aguento ficar com o corpo todo
alterado…”
Expressões na Clínica


“afinal vim cá para falar do meu HIV e
falamos de tudo…..e cada vez isso parece
menos importante….”
Expressões na Clínica


afinal esta é uma doença crónica,…,
apenas tenho de cuidar-me….o pior é
como os outros me vêem…..”
Psicologia Clínica e Saúde

  Intervenção em Infecciologia




             FIM
                    Álvaro Ferreira / HEM 2010
Intervenção em Infecciologia

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Intervenção em Infecciologia

  • 1. Psicologia Clínica e Saúde Intervenção em Infecciologia Gabinete de Adesão à Terapêutica Anti-Retrovírica (GATA) Álvaro Ferreira / HEM 2010
  • 2. Resumo A infecção por HIV e/ou a Sida surgem, no espaço mental do indivíduo, como um acontecimento desorganizador e desencadeador de angústias várias. O tipo de mecanismos de defesa que irá mobilizar irá permitir lidar com essa nova realidade, de forma mais ou menos estruturante e integradora. Em última análise coloca-se em jogo a possibilidade de evitar (ou não) a “morte mental”, reconstruindo novos sentidos.
  • 3. Resumo A intervenção da psicologia clínica em setting hospitalar, criando laços estreitos entre modelos da psicoterapia com martiz teórica psicanalítica e modelos da psicologia da saúde, torna-se fundamental como mediadora dessa (re)constução da mentalização do sujeito. Angústias de morte, de transformação corporal, mecanismos de defesa, mais ou menos operativos, e dimensões humanas como a culpa, o sacrifício, a sexualidade, o medo, a cólera, medem forças neste anfiteatro da mente.
  • 4. Resumo Este relatório dá conta da experiência da intervenção de um psicólogo clínico com pacientes infectados com VIH da Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital Egas Moniz em Lisboa. Esta apresentação, hoje e a aqui, necessariamente com formalismo mínimo exigido, procurará ser um espaço de re-reflexão.
  • 5. Conteúdo deste Relatório Crítico a minha actividade clínica hospitalar com pessoas com seropositividade e/ou sida
  • 6. Seropositividade / Sida A seropositividade e a SIDA surgem ainda, massivamente, acompanhadas de imagens de morte. No “senso comum”, muitas das vezes de forma errónea, mais do que qualquer outra patologia orgânica. Ligam-se ainda a outros simbólicos de morte – degradação corporal, contaminação, culpa.
  • 7.
  • 8. Seropositividade / Sida A infecção por VIH e/ou a SIDA surgem para o sujeito, como uma notícia desestruturante, pré-anúncio de transformação maléfica e castigadora. Expressões de vivência de angústia de morte, de transformação corporal, de culpa, de profundo medo e desesperança, recorrem na clínica.
  • 9. Seropositividade / Sida “(….) difícil seria encontrar doença menos apropriada a discursos ou práticas que se exilassem em laboratórios ou enfermarias, declarando fora de portas a cultura. A qual, invisível, se interpõe entre nós e a „realidade‟…, construindo outra, a „verdadeira‟! Este talento sinistro para se derramar pela sociedade e, em parte, por ela ser construída, torna a Sida um locus anthropologicus de eleição. Não por acaso sede das mais díspares metáforas civilizacionais e obrigatório muro das lamentações da Medicina Ocidental, que pensara decretar vencidas, à força de vacinas e de antibióticos, doenças que hoje se reerguem dos escombros de tal soberba.(…)
  • 10. Seropositividade / Sida A Sida, essa, acumula metáforas: representa o Outro ameaçador, a doença alheia por definição mas que também nos pode matar, a punição divina ou da Natureza, a consequência do declínio civilizacional, enfim…, dir-se-ia, não doença, mas gigantesco ecrã! Júlio Machado Vaz
  • 11. Seropositividade / Sida Weiss mostra-nos que o cancro era visto como um caranguejo que nos roía as entranhas e a Sida como um invasor que ataca a partir de fora e estilhaça um corpo cujos limites se “dissolveram”, à boa maneira pós-moderna. (…)
  • 12.
  • 13. Seropositividade / Sida / História A História, mesmo jovem, de que falava à vinte anos? De praga e de cancro gay. Ou de GRID (Gay Related Immune Disorder), expressão teoricamente mais neutra. Mudámos tão pouco ao longo dos séculos! Apressados, gulosos, construímos de imediato um mundo dividido entre “nós” e “eles”, bons e maus, não admirando que os discursos morais brotassem como cogumelos: ora invocando a fúria da Natureza (…), ora a de Deus(…). Weiss
  • 14. Seropositividade / Sida / “Grupos de Risco” A mesma lógica binária gerou os famigerados grupos de risco. Esquecendo a perigosa democraticidade dos comportamentos, inventámos categorias de pessoas que permitiam às ditas “normais” sentirem-se ainda protegidas, bastava não ser como “as outras”. E se os homossexuais continuaram debaixo de fogo, admitamos que os toxicodependentes lhes passaram a disputar os holofotes. A sua segregação pudibunda permitia ignorar como se constituem em extraordinária metáfora de uma sociedade que a todos incita aos mais diversos consumos e dependências, mas reserva determinados rótulos para os que funcionam do lado errado da Lei (também ela culturalmente variável, recordemos os interditos do Islão sobre o álcool). Júlio Machado Vaz
  • 15. Seropositividade / Sida / “Grupos de Risco” Mas porque a doença insistia em não respeitar indivíduos alheios aos “pecados” que outros acarretavam, inventaram-se grupos de risco socialmente aceitáveis, elaborando um discurso insidioso que declarava vítimas inocentes certos seropositivos. Mas a inocência pressupõe a outra face da moeda, ao descrever uns como alvos da má sorte estamos implicitamente a assacar culpas aos outros, quase (?) os declarando merecedores do que lhes acontece. Júlio Machado Vaz
  • 16. Seropositividade / Sida / Morte Social e Biológica “a Sida pôs a nu o que em Antropologia se descreve como a não coincidência entre morte social e biológica, com a primeira a anteceder a segunda. E se habitualmente falamos de morte vudu ou ritos funerários de outras sociedades, aqui trata-se da solidão provocada pelo afastamento de quem rodeia portadores e doentes, promovidos a leprosos dos tempos modernos. Estes verdadeiros „cadáveres sociais ambulantes‟ fazem tristemente lembrar muitos dos nossos velhos, cujos fins de vida já a não abrigam, não passam de corpos que suspiram por se juntar aos espíritos que partiram. Júlio Machado Vaz
  • 17. Seropositividade / Sida / Morte Social e Biológica Este pensamento de Júlio Machado Vaz coloca o “dedo na ferida” resultante de muitos dos “fantasmas que povoam o universo” de pacientes infectados com VIH, da população em geral e mesmo de profissionais de saúde. Ainda hoje! Esta é a experiência que tenho tido na minha intervenção clínica.
  • 18. Seropositividade / Sida / “fantasmas” associados Noções como “culpa”, “castigo”, “invulnerabilidade”, “normalidade e patologia”, “grupos de risco”, mantêm-se recorrentemente presentes nas representações e mesmo nos discursos.
  • 19. Seropositividade / Sida / Clínica O fio condutor na minha intervenção clínica, é (procura) prevenir a morte psíquica, em vida. Reconhecer esta possibilidade torna-se fundamental para na clínica poder impedir-se esse movimento “ destrutivo da mente”. Do que a morte biológica representa para o sujeito, nada se poderá saber. Mas, tal como refere Pontalis quando fala da psicanálise, pretende-se aceder à “morte que se insinua na vida”. A doença Sida continua a surgir, nos nossos tempos, ligada à própria morte. Reconheço-o na clínica.
  • 20. Seropositividade / Sida / Clínica Tal, dever-se-á não só ao carácter de incurabilidade que ainda a acompanha, mas também ao facto de a ela se associarem muitos “fantasmas”, conferindo-lhe um carácter “maléfico”. Acompanha-se de fantasmas inconscientes muito vivos, tanto no que diz respeito às representações individuais bem como às colectivas. Existe uma panóplia de fantasias inconscientes que se mantêm face a esta infecção/doença. Estando moralmente conotada de forma negativa, liga-se directamente a noções de sexualidade perversa, transgressão, homossexualidade.
  • 21. Seropositividade / Sida / Clínica Existe a necessidade de desconstruir sentidos, que se encontram ao nível do inconsciente imbricados ao tema do sangue, do sangue contaminado, do sangue e da morte, do sangue e do esperma.
  • 22. Seropositividade / Sida / Clínica A ligação do paciente com Sida ao mundo externo torna-se muito difícil. Para Revidi, esses pacientes personificam a morte. A representação da morte não existe em termos de imagens da mente humana. Para ele, a única aproximação possível à noção de morte, passa pelo cadáver. Opera-se sobre o corpo humano um trabalho de degradação de esvaziamento, que o imaginário colectivo identificou como processos de “cadaverização”.
  • 23. Seropositividade / Sida / Clínica (Doente com Sida) = Pré-cadáver Sida = Morte Doente com Sida = Cadáver = Imagem de Morte O afastamento face ao paciente com Sida, permite isolar, circunscrever e afastar a morte. Revidi
  • 24. Seropositividade / Sida / Clínica Muitos dos pacientes que sigo relatam este afastamento (sendo que muitas vezes eles afastam-se, com medo de “fazer mal” aos outros).
  • 25. Angústia de Morte Contagiosa (…) “as pessoas sabiam que Santiago Nasar ia morrer e não se atreviam a tocar nele como se a morte pudesse contaminar-se. De resto, Cristo Bedoya que o acompanhava estava por isso mesmo também incluído no círculo criado em volta de Nasar, como se tivesse sido contaminado pela morte. Bedoya diz que as pessoas o olhavam como se estivessem marcados de um modo estranho e aterrador. O que não se pode compreender é aterrador”(…) Crónica de Uma Morte Anunciada, Gabriel Garcia Marquez
  • 26. Angústia de Morte Para Revidi, o diagnóstico da doença surge como factor de agressão em alguém que não pensa na sua própria morte. O sujeito com saúde no seu dia a dia utiliza mecanismos de defesa dos quais se destacam o evitamento e a negação da própria morte. Face ao diagnóstico tudo se desmorona irrompendo, segundo este autor, angústias múltiplas como a “angústia de morte”. Esta, tem a sua origem no real, o que a distingue de uma angústia neurótica. Nesse momento essa angústia é tão destruturante que se pode comparar a um “estado vertiginoso” (dando-se uma sideração das defesas, uma obnibulação provocada pela ideia da sua doença).
  • 27. Angústia Morte / Clínica Uma abordagem dinâmica, realizada pelo psicólogo no trabalho com estes pacientes (e na qual eu me revejo), visará reconhecer, segundo Revidi, “os fluxos de angústia e desespero” contrabalançados com os “fluxos de energia para a vida”. Essa abordagem resulta do estudo, necessariamente frágil, entre dois eixos: o das agressões vividas pelo sujeito com a doença e o dos mecanismos de defesa psicológicos que utiliza para combater e/ou se adaptar face a essas agressões.
  • 28. Mecanismos Defesa Mais Operativos Regressão; Negação da realidade; Racionalização; Sublimação; Isolamento; Idealização; Obsessionalização e Evitamento Fóbico.
  • 29. Mecanismos de Defesa mais “patológicos” • “Sideração do Funcionamento Mental”; “Depressão Essencial” (Marty); Anestesia Afectiva”; Desrealização
  • 30. Clínica O trabalho terapêutico com os pacientes infectados com VIH e/ou com Sida, pressupõe a reconstrução da perda. A doença/ morte coloca em conflito pulsões de vida e pulsões de morte. Terá que existir um novo compromisso entre elas que permita a adaptação à situação disruptiva. A doença representa uma perda, que como refere Klein, é sempre uma “perda de algo interno”. Terá que se realizar sempre um trabalho de luto, em que se aceita a perda do objecto de amor.
  • 31. Clínica Superar a negação da perda (evitando o luto patológico), é ir no caminho da vida psicológica (que se traduz por uma sucessão de várias mortes).
  • 32. Clínica de “Mãos Nuas” É uma “clínica de mãos nuas”, que tem norteado a minha intervenção clínica, surgindo como contraponto a uma clínica instrumental, directiva, que tem por instrumentos questionários e quantificações, procurando as comparações e as elaborações estatísticas, acedendo apenas a alguns aspectos mais superficiais dos fenómenos. Tenho procurado na minha actividade clínica aceder à compreensão e ao que é verdadeiramente único em cada sujeito, conjugando a minha formação base em Psicologia Clínica, com a formação em Psicoterapia.
  • 33. Clínica de “Mãos Nuas” Sublinho a ideia de que conhecer não equivale a determinar o que é verdadeiro. Retomo frequentemente o pensamento de Chiland pelo qual se valoriza o papel de uma “clínica de mãos nuas”, em que o psicólogo é instrumento de si próprio e onde o papel da observação é fundamental. O psicólogo para se usar a si mesmo como instrumento necessita de realizar um trabalho dinâmico de autoconhecimento, “um trabalho sobre si” de forma a não imiscuir a relação terapêutica de problemática própria.
  • 34. Clínica de “Mãos Nuas” O que o clínico põe ao serviço do outro “não são somente os seus conhecimentos, mas o seu (…) aparelho psíquico, o seu psiquismo, o seu funcionamento mental, a sua capacidade de sentir, de compreender e de elaborar; é um saber, é um saber vivo, encarnado, que engloba a sua própria pessoa”.
  • 35. O Quase Último não é o medo da morte é o de não estar todo em mim perder naquele momento a reminiscência do quadro sentir que a tua mão que antes vogava aqui por dentro já partiu e que o corpo não é aquela inerte oração não conseguir ver jamais as tuas tranças daquela fotografia não resvalar pela ladeira como fazem as crianças na analgia (alegria) da sua brincadeira A.S. (25/08/2009)
  • 36. Expressões na Clínica “ninguém vai querer fazer mais amor comigo…..”
  • 37. Expressões na Clínica “não vale a pena pensar em projectos, vou morrer…”
  • 38. Expressões na Clínica “tenho tanta vergonha….”
  • 39. Expressões na Clínica “tenho os meus pratos e talheres, tenho tanto medo de contaminar os outros…”
  • 40. Expressões na Clínica “não quero que ninguém saiba, ninguém pode saber….”
  • 41. Expressões na Clínica “vou ficar com aquele aspecto, tão magro,….não aguento ficar com o corpo todo alterado…”
  • 42. Expressões na Clínica “afinal vim cá para falar do meu HIV e falamos de tudo…..e cada vez isso parece menos importante….”
  • 43. Expressões na Clínica afinal esta é uma doença crónica,…, apenas tenho de cuidar-me….o pior é como os outros me vêem…..”
  • 44.
  • 45. Psicologia Clínica e Saúde Intervenção em Infecciologia FIM Álvaro Ferreira / HEM 2010