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A UA U L A
     L A

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48
             A força do Islã


                                            N   esta aula nós vamos estudar o mundo
             islâmico uma vasta região que se estende do norte da África ao Paquistão.
             islâmico,
                 Vamos destacar sua localização estratégica e a importância de sua produ-
             ção de petróleo para a economia mundial. Vamos analisar a instabilidade
             dessa região e o papel do islamismo como seu elemento unificador.




                 - Ana, o que é mesmo um chador - pergunta Rosa.
                                             chador?
                 - É o véu que as mulheres islâmicas usam na cabeça. Algumas cobrem o
             rosto com ele.
                 - É isso mesmo! Eu vi, na França, algumas mulheres usando o chador. Ou
             elas eram turistas ou eram imigrantes. O material que chegou hoje diz que a
             Europa abriga mais de 10 milhões de muçulmanos.
                 - O material é sobre imigração?
                 - Não. O material é sobre o fundamentalismo islâmico no Egito. Mas dá,
             também, alguns dados gerais sobre os muçulmanos no mundo.
                 - O que diz sobre o Egito?
                 - Diz que o fundamentalismo vem impregnando todos os aspectos da vida
             diária do Egito. E, entre vários exemplos, diz justamente que, nas escolas
             públicas, mais e mais garotas a partir dos seis anos usam o chador, um dos
             símbolos do islamismo.
                 - Mas, há vinte anos, era raro encontrar no Egito uma mulher usando véu.
             É, Rosa, temos de preparar uma matéria em que apareçam as razões dessa onda
             fundamentalista no Egito. E que explique, de certa forma, a mesma expansão em
             outros países.




                 O mundo islâmico engloba uma vasta região que se estende do Marrocos
                                                                                 Corão,
             ao Paquistão, com população de mais de 400 milhões de habitantes. O Corão
             livro sagrado do islamismo, é o elemento que dá unidade à região.
                 O mapa a seguir mostra as diferentes regiões que fazem parte do mundo
             islâmico.
A U L A


                                                                                    48




     O mundo islâmico compreende o norte da África (o Magreb), o vale do
Nilo, o Oriente Próximo ou Crescente Fértil, o Oriente Médio e as penínsulas
da Turquia e da Arábia.
     Situado na encruzilhada de três continentes - Europa, Ásia e África -, o
mundo islâmico tem localização excepcional, que sempre gerou cobiça e
guerras.
     Lá surgiram três religiões monoteístas - o judaísmo, o cristianismo e o
islamismo, que se expandiram além dos limites da região e determinaram
profundas modificações no resto do mundo.
     Essa área imensa está situada na diagonal árida isto é, a região seca que
                                                  árida,
se estende do Saara até a Ásia Central. A circulação das massas de ar e a posição
das cadeias montanhosas junto ao litoral fazem com que as chuvas sejam
reduzidas: predomina, na maior parte da região, um clima seco.
     As cadeias montanhosas que se alinham no sentido oeste-leste barram a
passagem da umidade, agravando ainda mais a aridez das regiões interiores.
A distribuição da população se faz em função da existência da água. Nas
encostas das montanhas e nos vales dos rios estão as maiores concentrações de
população; os planaltos interiores mais secos são vazios demográficos.
     Durante o século XIX, as potências européias, particularmente a Inglaterra,
a França e, mais tarde, a Alemanha, exerceram na região uma forte ação
econômica, transformando-a em fornecedora de matérias-primas e importante
área de investimento.
     Ao final da Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano perdeu o
controle que exercia sobre a região. Do seu desmembramento surgiram países
independentes como a Turquia, que iniciou uma política de modernização, e
países que foram colocados sob tutela britânica (Irã e Iraque) ou francesa (Síria
e Líbano).
A U L A       As fronteiras, naquele momento, foram traçadas segundo os interesses das
          potências européias. Mais tarde, serão causa de numerosos conflitos.

48            Após a Segunda Guerra Mundial, a região transforma-se em importante
          peça na estratégia do poder mundial. O mundo islâmico, pela sua posição, foi
          permanentemente envolvido pelos interesses da Guerra Fria. As duas super-
          potências, interessadas em criar áreas de influência, atuavam de forma perma-
          nente na região.

               O Estado de Israel, criado em 1948, era a ponta-de-lança norte-americana
          na região. O Iraque, a Argélia e o Egito movimentaram-se durante décadas na
          órbita soviética.
               Com o fim da Guerra Fria, a competição ideológica é substituída pela
          defesa dos interesses das grandes potências. A região continua vulnerável à
          ação externa, interessada nos seus imensos recursos petrolíferos e no seu
          mercado de 400 milhões de consumidores.
               A permanência das tensões internas e a sucessão de conflitos nos últimos
          50 anos fazem do mundo islâmico o maior mercado de consumo de armamen-
          tos. São exemplos desses conflitos as guerras entre o Estado de Israel e os
          Estados árabes, a guerra civil libanesa, a partir de 1975, a guerra Irã-Iraque,
          entre 1980 e 1988, a guerra civil do Afeganistão, a partir de 1979, e a guerra do
          Golfo, em 1991.
               Como fato mais recente no agitado mundo islâmico, assistimos à expansão
          do movimento religioso denominado fundamentalista que procura deses-
                                                  fundamentalista,
          tabilizar os governos existentes e substituí-los por regimes de orientação
          religiosa que seguiriam rigorosamente os princípios do Corão.
               Esse movimento tem, hoje, importância crescente em todo o mundo
          islâmico. Os grupos mais radicais se opõem, inclusive, aos tratados de paz com
          Israel.


               As atividades mais características do mundo islâmico são a agricultura e a
          pecuária. Os agricultores aproveitam as pequenas faixas úmidas litorâneas e
          principalmente os vales dos rios para desenvolver tanto cultivos de subsistên-
          cia (trigo, milho e arroz) quanto comerciais (algodão e frutas).

              A difusão de novas técnicas de irrigação, a melhor qualidade das sementes
          e os projetos de redistribuição de terras têm possibilitado o aumento da
          produção. Mas, no conjunto, a região é importadora de alimentos.


              Na Argélia, em Israel e no Líbano estão as áreas agrícolas que utilizam
          técnicas mais modernas. A produção de frutas desses países é exportada
          principalmente para a União Européia. Nos planaltos interiores, mais secos, a
          atividade econômica mais praticada é a criação de ovelhas, feita de forma
          extensiva, seguindo práticas tradicionais.

              Mas a grande riqueza regional é o petróleo O Golfo Pérsico, geologi-
                                                petróleo.
          camente, é uma região sedimentar, deprimida em relação ao planalto da
          Arábia e às montanhas da Turquia e do Irã. Essa depressão sedimentar fazia
          parte de um mar estreito e alongado onde se acumularam 65% das reservas
          mundiais de petróleo. Condições semelhantes são encontradas na Argélia
          e na Líbia.
Após a Primeira                                                               A U L A
Guerra Mundial, as gran-
des companhias petrolí-
feras conseguiram con-                                                            48
cessões vantajosas para a
exploração das reservas
de petróleo do Irã e do
Iraque. Essas concessões
permitiam a exploração
por prazos muito longos.
As companhias explora-
doras pagavam o direito
de exploração com uma
parte dos lucros - os
royalties.
royalties


    Após a Segunda
Guerra Mundial, as em-
presas norte-americanas
passaram a participar da
exploração. A produção
aumentou rapidamente
devido ao início da pro-
dução na Arábia Saudita.
O petróleo dessa região é
exportado em bruto por
meio de oleodutos que
cruzam o deserto até o
Mediterrâneo, ou em
superpetroleiros que se
abastecem nos terminais
do Golfo Pérsico.


    Os países produtores começaram a tomar consciência da riqueza que possu-
íam e passaram a exigir mudanças nos critérios de exploração. Exemplo disso foi
a ação do Irã, em 1951, que nacionalizou a indústria do petróleo.

    Essa conscientização culminou em 1960, quando, para fazer frente à redução
do preço do petróleo, cinco países produtores - Arábia Saudita, Iraque, Irã,
Kuweit e Venezuela - criaram a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (Opep). O objetivo da organização era coordenar e unificar uma ação
conjunta para as questões do petróleo.

    A adesão de novos parceiros fortaleceu a Opep e permitiu que ela decretasse
o embargo do fornecimento de petróleo aos países ocidentais, em 1973. Foi uma
represália à expansão territorial de Israel após a guerra travada naquele ano
contra o Egito e a Síria.

    O embargo elevou o preço do barril de petróleo de 5,11 dólares para 11.65
dólares. Ocorreu um novo aumento em 1978. Mas, desde então, o preço do
A U L A   petróleo vem caindo, devido à entrada de novos produtores no mercado. Os
          maiores lucros obtidos com os negócios do petróleo ficam com as grandes

48        empresas multinacionais.

              Com exceção da Turquia e da Argélia, o mundo islâmico tem uma industri-
          alização insignificante. A Argélia, com forte intervenção do Estado, tem inves-
          tido parte da renda gerada pelo petróleo no desenvolvimento de suas indústrias.
              A industrialização da Turquia foi iniciada na década de 20 e se expandiu
          após a Segunda Guerra Mundial. A crise do petróleo, nos anos 70, o endividamento
          externo e as altas taxas de inflação, nos anos 80, interromperam seu crescimento
          industrial.
              A abertura da economia aos capitais externos e a intenção da Turquia de se
          integrar à União Européia podem significar uma arrancada em seu processo de
          industrialização. Além disso, sua posição estratégica diante da crise soviética, do
          esfacelamento da Iugoslávia e do enfraquecimento do Iraque, após a guerra do
          Golfo, abrem grandes possibilidades para que a Turquia passe a agir como
          potência regional.

               Israel, o único país não-islâmico da região, possui um parque industrial
          moderno e diversificado. As indústrias de alta tecnologia são responsáveis pelo
          essencial de suas exportações.
               À sombra do Corão vivem, no mundo islâmico, grupos étnicos diferencia-
          dos e minorias sem territórios É o caso dos 20 milhões de curdos que se
                                  territórios.
          distribuem pela Turquia, Irã, Iraque e Síria e são perseguidos em todos esses países.
               Outro exemplo seriam os palestinos, que, desde a criação do Estado de
          Israel, lutam por um território próprio. Ao que tudo indica, esse território virá
          a se constituir com o reconhecimento, por parte de Israel, da Autoridade
          Nacional Palestina.




          Islã, a onda que se alastra pela Europa
          A expansão do fundamentalismo leva os governos a temer focos de terrorismo

            A Europa abriga hoje pelo menos 10          dos anos 80 vêm montando bases em
            milhões de muçulmanos procedentes           diversos países europeus que lhes
            de outros continentes. Entre eles, uma      serviram de exílio, especialmente
            pequena mas bem-organizada mino-            Grã-Bretanha, Alemanha e França.
            ria que, longe de seus países, procura      A constatação da existência de uma
            desestabilizar governos e substituí-        ampla rede de extremistas na Europa
            los por regimes de orientação religi-       preocupa os governos locais, que já
            osa baseados no Corão, a Bíblia mu-         falam em “perigo verde” (a cor do
            çulmana. São os chamados fun-               Islã) e temem uma nova onda terro-
            damentalistas ou integristas                rista semelhante à ocorrida na déca-
            islâmicos, radicais que desde o final       da de 70.

              Jornal do Brasil, 26 de março de 1995
O mundo islâmico estende-se do norte da África até o Paquistão. Sua            A U L A
unidade é dada pelo Corão o livro sagrado do islamismo. Situada entre a
                        Corão,
Europa, a Ásia e a África, a região tem importância estratégica significativa.
    A grande riqueza regional é o petróleo produto vital para a economia
                                      petróleo,                                    48
mundial. A ação conjunta dos países produtores pode alterar a produção e a
comercialização desse produto. No entanto, ainda são as grandes empresas
multinacionais que controlam a economia do petróleo.
    A Turquia, graças à sua posição estratégica, recebeu tratamento especial das
potências ocidentais, o que vem favorecendo seu processo de desenvolvimento.
Ela atua hoje como potência regional.
    O Estado de Israel, criado em 1948, constitui o único país não-islâmico da
região e se destaca pelo avanço tecnológico do seu parque produtivo.
    A expansão do movimento fundamentalista islâmico aumenta as tensões
internas e a instabilidade política da região.




Exercício 1
   O mundo islâmico estende-se do norte da África até o Paquistão. Cite dois
   fatos marcantes decorrentes de sua localização.


Exercício 2
   Apresente dois motivos responsáveis pelo aumento da instabilidade políti-
   ca do mundo islâmico após a Segunda Guerra Mundial.


Exercício 3
   Assinale com um X as frases corretas:

    ( ) A OPEP unifica e coordena a ação dos países produtores e exportado-
        res de petróleo.
    ( ) As maiores reservas mundiais de petróleo estão localizadas nas bacias
        sedimentares do Golfo Pérsico.
    ( ) Na Ásia Ocidental surgiram três grandes religiões monoteístas.
    ( ) A criação do Estado de Israel era uma antiga pretensão dos Estados
        árabes.
    ( ) As rendas obtidas com a exploração do petróleo mudaram os indica-
        dores de desenvolvimento humano da região.


Exercício 4
   Localize num mapa da região os seguintes fatos geográficos:

    a)   a cidade de Meca;
    b)   o Canal de Suez;
    c)   o rio Tigre;
    d)   a cadeia do Atlas.

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Geo48

  • 1. A UA U L A L A 48 48 A força do Islã N esta aula nós vamos estudar o mundo islâmico uma vasta região que se estende do norte da África ao Paquistão. islâmico, Vamos destacar sua localização estratégica e a importância de sua produ- ção de petróleo para a economia mundial. Vamos analisar a instabilidade dessa região e o papel do islamismo como seu elemento unificador. - Ana, o que é mesmo um chador - pergunta Rosa. chador? - É o véu que as mulheres islâmicas usam na cabeça. Algumas cobrem o rosto com ele. - É isso mesmo! Eu vi, na França, algumas mulheres usando o chador. Ou elas eram turistas ou eram imigrantes. O material que chegou hoje diz que a Europa abriga mais de 10 milhões de muçulmanos. - O material é sobre imigração? - Não. O material é sobre o fundamentalismo islâmico no Egito. Mas dá, também, alguns dados gerais sobre os muçulmanos no mundo. - O que diz sobre o Egito? - Diz que o fundamentalismo vem impregnando todos os aspectos da vida diária do Egito. E, entre vários exemplos, diz justamente que, nas escolas públicas, mais e mais garotas a partir dos seis anos usam o chador, um dos símbolos do islamismo. - Mas, há vinte anos, era raro encontrar no Egito uma mulher usando véu. É, Rosa, temos de preparar uma matéria em que apareçam as razões dessa onda fundamentalista no Egito. E que explique, de certa forma, a mesma expansão em outros países. O mundo islâmico engloba uma vasta região que se estende do Marrocos Corão, ao Paquistão, com população de mais de 400 milhões de habitantes. O Corão livro sagrado do islamismo, é o elemento que dá unidade à região. O mapa a seguir mostra as diferentes regiões que fazem parte do mundo islâmico.
  • 2. A U L A 48 O mundo islâmico compreende o norte da África (o Magreb), o vale do Nilo, o Oriente Próximo ou Crescente Fértil, o Oriente Médio e as penínsulas da Turquia e da Arábia. Situado na encruzilhada de três continentes - Europa, Ásia e África -, o mundo islâmico tem localização excepcional, que sempre gerou cobiça e guerras. Lá surgiram três religiões monoteístas - o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, que se expandiram além dos limites da região e determinaram profundas modificações no resto do mundo. Essa área imensa está situada na diagonal árida isto é, a região seca que árida, se estende do Saara até a Ásia Central. A circulação das massas de ar e a posição das cadeias montanhosas junto ao litoral fazem com que as chuvas sejam reduzidas: predomina, na maior parte da região, um clima seco. As cadeias montanhosas que se alinham no sentido oeste-leste barram a passagem da umidade, agravando ainda mais a aridez das regiões interiores. A distribuição da população se faz em função da existência da água. Nas encostas das montanhas e nos vales dos rios estão as maiores concentrações de população; os planaltos interiores mais secos são vazios demográficos. Durante o século XIX, as potências européias, particularmente a Inglaterra, a França e, mais tarde, a Alemanha, exerceram na região uma forte ação econômica, transformando-a em fornecedora de matérias-primas e importante área de investimento. Ao final da Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano perdeu o controle que exercia sobre a região. Do seu desmembramento surgiram países independentes como a Turquia, que iniciou uma política de modernização, e países que foram colocados sob tutela britânica (Irã e Iraque) ou francesa (Síria e Líbano).
  • 3. A U L A As fronteiras, naquele momento, foram traçadas segundo os interesses das potências européias. Mais tarde, serão causa de numerosos conflitos. 48 Após a Segunda Guerra Mundial, a região transforma-se em importante peça na estratégia do poder mundial. O mundo islâmico, pela sua posição, foi permanentemente envolvido pelos interesses da Guerra Fria. As duas super- potências, interessadas em criar áreas de influência, atuavam de forma perma- nente na região. O Estado de Israel, criado em 1948, era a ponta-de-lança norte-americana na região. O Iraque, a Argélia e o Egito movimentaram-se durante décadas na órbita soviética. Com o fim da Guerra Fria, a competição ideológica é substituída pela defesa dos interesses das grandes potências. A região continua vulnerável à ação externa, interessada nos seus imensos recursos petrolíferos e no seu mercado de 400 milhões de consumidores. A permanência das tensões internas e a sucessão de conflitos nos últimos 50 anos fazem do mundo islâmico o maior mercado de consumo de armamen- tos. São exemplos desses conflitos as guerras entre o Estado de Israel e os Estados árabes, a guerra civil libanesa, a partir de 1975, a guerra Irã-Iraque, entre 1980 e 1988, a guerra civil do Afeganistão, a partir de 1979, e a guerra do Golfo, em 1991. Como fato mais recente no agitado mundo islâmico, assistimos à expansão do movimento religioso denominado fundamentalista que procura deses- fundamentalista, tabilizar os governos existentes e substituí-los por regimes de orientação religiosa que seguiriam rigorosamente os princípios do Corão. Esse movimento tem, hoje, importância crescente em todo o mundo islâmico. Os grupos mais radicais se opõem, inclusive, aos tratados de paz com Israel. As atividades mais características do mundo islâmico são a agricultura e a pecuária. Os agricultores aproveitam as pequenas faixas úmidas litorâneas e principalmente os vales dos rios para desenvolver tanto cultivos de subsistên- cia (trigo, milho e arroz) quanto comerciais (algodão e frutas). A difusão de novas técnicas de irrigação, a melhor qualidade das sementes e os projetos de redistribuição de terras têm possibilitado o aumento da produção. Mas, no conjunto, a região é importadora de alimentos. Na Argélia, em Israel e no Líbano estão as áreas agrícolas que utilizam técnicas mais modernas. A produção de frutas desses países é exportada principalmente para a União Européia. Nos planaltos interiores, mais secos, a atividade econômica mais praticada é a criação de ovelhas, feita de forma extensiva, seguindo práticas tradicionais. Mas a grande riqueza regional é o petróleo O Golfo Pérsico, geologi- petróleo. camente, é uma região sedimentar, deprimida em relação ao planalto da Arábia e às montanhas da Turquia e do Irã. Essa depressão sedimentar fazia parte de um mar estreito e alongado onde se acumularam 65% das reservas mundiais de petróleo. Condições semelhantes são encontradas na Argélia e na Líbia.
  • 4. Após a Primeira A U L A Guerra Mundial, as gran- des companhias petrolí- feras conseguiram con- 48 cessões vantajosas para a exploração das reservas de petróleo do Irã e do Iraque. Essas concessões permitiam a exploração por prazos muito longos. As companhias explora- doras pagavam o direito de exploração com uma parte dos lucros - os royalties. royalties Após a Segunda Guerra Mundial, as em- presas norte-americanas passaram a participar da exploração. A produção aumentou rapidamente devido ao início da pro- dução na Arábia Saudita. O petróleo dessa região é exportado em bruto por meio de oleodutos que cruzam o deserto até o Mediterrâneo, ou em superpetroleiros que se abastecem nos terminais do Golfo Pérsico. Os países produtores começaram a tomar consciência da riqueza que possu- íam e passaram a exigir mudanças nos critérios de exploração. Exemplo disso foi a ação do Irã, em 1951, que nacionalizou a indústria do petróleo. Essa conscientização culminou em 1960, quando, para fazer frente à redução do preço do petróleo, cinco países produtores - Arábia Saudita, Iraque, Irã, Kuweit e Venezuela - criaram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O objetivo da organização era coordenar e unificar uma ação conjunta para as questões do petróleo. A adesão de novos parceiros fortaleceu a Opep e permitiu que ela decretasse o embargo do fornecimento de petróleo aos países ocidentais, em 1973. Foi uma represália à expansão territorial de Israel após a guerra travada naquele ano contra o Egito e a Síria. O embargo elevou o preço do barril de petróleo de 5,11 dólares para 11.65 dólares. Ocorreu um novo aumento em 1978. Mas, desde então, o preço do
  • 5. A U L A petróleo vem caindo, devido à entrada de novos produtores no mercado. Os maiores lucros obtidos com os negócios do petróleo ficam com as grandes 48 empresas multinacionais. Com exceção da Turquia e da Argélia, o mundo islâmico tem uma industri- alização insignificante. A Argélia, com forte intervenção do Estado, tem inves- tido parte da renda gerada pelo petróleo no desenvolvimento de suas indústrias. A industrialização da Turquia foi iniciada na década de 20 e se expandiu após a Segunda Guerra Mundial. A crise do petróleo, nos anos 70, o endividamento externo e as altas taxas de inflação, nos anos 80, interromperam seu crescimento industrial. A abertura da economia aos capitais externos e a intenção da Turquia de se integrar à União Européia podem significar uma arrancada em seu processo de industrialização. Além disso, sua posição estratégica diante da crise soviética, do esfacelamento da Iugoslávia e do enfraquecimento do Iraque, após a guerra do Golfo, abrem grandes possibilidades para que a Turquia passe a agir como potência regional. Israel, o único país não-islâmico da região, possui um parque industrial moderno e diversificado. As indústrias de alta tecnologia são responsáveis pelo essencial de suas exportações. À sombra do Corão vivem, no mundo islâmico, grupos étnicos diferencia- dos e minorias sem territórios É o caso dos 20 milhões de curdos que se territórios. distribuem pela Turquia, Irã, Iraque e Síria e são perseguidos em todos esses países. Outro exemplo seriam os palestinos, que, desde a criação do Estado de Israel, lutam por um território próprio. Ao que tudo indica, esse território virá a se constituir com o reconhecimento, por parte de Israel, da Autoridade Nacional Palestina. Islã, a onda que se alastra pela Europa A expansão do fundamentalismo leva os governos a temer focos de terrorismo A Europa abriga hoje pelo menos 10 dos anos 80 vêm montando bases em milhões de muçulmanos procedentes diversos países europeus que lhes de outros continentes. Entre eles, uma serviram de exílio, especialmente pequena mas bem-organizada mino- Grã-Bretanha, Alemanha e França. ria que, longe de seus países, procura A constatação da existência de uma desestabilizar governos e substituí- ampla rede de extremistas na Europa los por regimes de orientação religi- preocupa os governos locais, que já osa baseados no Corão, a Bíblia mu- falam em “perigo verde” (a cor do çulmana. São os chamados fun- Islã) e temem uma nova onda terro- damentalistas ou integristas rista semelhante à ocorrida na déca- islâmicos, radicais que desde o final da de 70. Jornal do Brasil, 26 de março de 1995
  • 6. O mundo islâmico estende-se do norte da África até o Paquistão. Sua A U L A unidade é dada pelo Corão o livro sagrado do islamismo. Situada entre a Corão, Europa, a Ásia e a África, a região tem importância estratégica significativa. A grande riqueza regional é o petróleo produto vital para a economia petróleo, 48 mundial. A ação conjunta dos países produtores pode alterar a produção e a comercialização desse produto. No entanto, ainda são as grandes empresas multinacionais que controlam a economia do petróleo. A Turquia, graças à sua posição estratégica, recebeu tratamento especial das potências ocidentais, o que vem favorecendo seu processo de desenvolvimento. Ela atua hoje como potência regional. O Estado de Israel, criado em 1948, constitui o único país não-islâmico da região e se destaca pelo avanço tecnológico do seu parque produtivo. A expansão do movimento fundamentalista islâmico aumenta as tensões internas e a instabilidade política da região. Exercício 1 O mundo islâmico estende-se do norte da África até o Paquistão. Cite dois fatos marcantes decorrentes de sua localização. Exercício 2 Apresente dois motivos responsáveis pelo aumento da instabilidade políti- ca do mundo islâmico após a Segunda Guerra Mundial. Exercício 3 Assinale com um X as frases corretas: ( ) A OPEP unifica e coordena a ação dos países produtores e exportado- res de petróleo. ( ) As maiores reservas mundiais de petróleo estão localizadas nas bacias sedimentares do Golfo Pérsico. ( ) Na Ásia Ocidental surgiram três grandes religiões monoteístas. ( ) A criação do Estado de Israel era uma antiga pretensão dos Estados árabes. ( ) As rendas obtidas com a exploração do petróleo mudaram os indica- dores de desenvolvimento humano da região. Exercício 4 Localize num mapa da região os seguintes fatos geográficos: a) a cidade de Meca; b) o Canal de Suez; c) o rio Tigre; d) a cadeia do Atlas.