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A UU AL
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                         Para onde vai a
                         América Latina?

                                N    esta aula vamos aprender como a América
Latina está sendo afetada diretamente pelo processo de globalização da
economia mundial.
    Veremos também quais as perpectivas e o potencial de desenvolvimento
dos povos latino-americanos diante da formação dos grandes blocos geopolíticos
na virada para o século XXI.




    Paulo foi encarregado de liberar um grande carregamentos de roupas e
sapatos produzidos na China. O carregamento foi importado por uma
grande rede de supermercados que opera em vários pontos do Brasil e do
mundo.
    Na saída do escritório, ele encontra Rui. Aproveita a oportunidade para
matar a curiosidade sobre a economia mundial.
    - Veja só, Rui. Milhares de sapatos, camisas e calças vindos da China. Será
que não vem nenhum quimono ou tamanco de madeira no meio dessa carga?
    - O que é isso, Paulo! Você pensa que a China ainda vive no século
passado? Em qualquer canto você encontra produtos chineses modernos e
baratos, desde toca-fitas até tênis ou camisetas. A China entrou para valer no
mercado mundial. Usa toda a infra-estrutura e mão-de-obra disponíveis para
inundar o mundo com os seus produtos. Tudo feito por companhias
multinacionais norte-americanas ou japonesas estabelecidas no território
chinês.
    - É... O que será do Brasil e da América Latina, com a concorrência cada
vez maior dos produtos feitos na Ásia? Esses produtos entram com preços tão
baixos que ninguém sabe como conseguem ter lucro nas vendas!
    - Você está certo em se preocupar, Paulo. A América Latina, e princi-
palmente o Brasil, estão diante de um desafio muito sério. Milhares de
empregos podem ser perdidos se não conseguirmos criar condições para
competir em pé de igualdade com os produtos chineses ou coreanos. Para
isso, cooperar com nossos vizinhos é fundamental. Mais do que nunca, é
preciso pensar na unidade latino-americana. É uma questão de sobrevivên-
cia - concluiu Rui.
A U L A        A América Latina, que estudamos neste módulo, está em uma encruzilhada
          diante da crise e da globalização do mercado mundial. Globalização significa

40        que as empresas são capazes de operar em qualquer parte do planeta. Por
          exemplo, produzindo mercadorias na China, com escritórios na Europa e
          vendendo seus produtos na África.
               É uma nova realidade, que só foi possível graças ao rápido desenvolvimento
          das telecomunicações e à aplicação de computadores em muitas fases da produ-
          ção e da administração dos negócios.
               Os efeitos dessas mudanças foram muitos desiguais nos diversos países do
          globo. Alguns, porque estavam voltados unicamente para a exportação de
          produtos agrícolas e minerais, sofreram bastante com a queda dos preços destas
          mercadorias no mercado mundial.
               Outros, que haviam se endividado em demasia durante a década de 1970,
          ficaram presos ao sistema financeiro internacional, tendo que destinar a maior
          parte dos recursos obtidos pelas exportações para pagar os juros dos
          empréstimos.tomados no exterior.
               A dívida externa foi um dos fatores que explicam os problemas atravessados
          pela América Latina nos anos 80. O mapa a seguir mostra que países como
          Argentina, Bolívia, Colômbia e Equador tiveram que mandar para o exterior
          mais de 30% das receitas obtidas com as exportações para pagar a dívida externa.




               No caso do Brasil e do México, que são países de industrialização recente, os
          efeitos de enviar para o exterior, para o pagamento da dívida externa, mais de
          20% das receitas obtidas com suas exportações, foram responsáveis pela
          desaceleração do crescimento industrial.
               Isso interrompeu grandes projetos em implantação e levou várias fábricas a
          fechar suas portas, aumentando nível de desemprego.
               A partir do início da década de 70, quase todos os países latino-americanos
          sofreram com a inflação galopante isto é, com uma rápida desvalorização do
                                     galopante,
          poder de compra da moeda.
Imagine uma inflação de mais de 5.000 % ao ano. Significa que você paga 15      A U L A
centavos por um pão em um dia e, no dia seguinte, paga 16 centavos pelo mesmo
pão. E, assim, sucessivamente. É impossível manter o poder de compra com uma
inflação nesse nível. É o que os economistas chamam de hiperinflação Todos
                                                             hiperinflação.          40
os brasileiros sabem o que é uma taxa alta de inflação. No entanto, nem todos
compreendem a sua origem.
     Na maioria dos países latino-americanos, a hiperinflação foi o resultado de
uma combinação perversa de vários fatores: primeiro, a necessidade de manter
os produtos destinados a exportação competitivos para conseguir divisas - isto
é, moeda estrangeira - para pagar a dívida externa.
     Com a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar, as mercado-
rias produzidas aqui, pagando matérias-primas e salários em cruzeiro ou cruza-
do, ficavam cada dia mais baratas para um comprador que morasse no exterior.
     Outro fator: muitas empresas e pessoas ganhavam com a inflação. Os
bancos, por exemplo, que tinham a possibilidade de fazer aplicações financeiras
a juros altos e com correção monetária, ganharam muito dinheiro em operações
de um dia para o outro. Por outro lado, pessoas que não tinham acesso a uma
conta bancária e que mal ganhavam o salário necessário para o sustento de sua
família não tinham como se defender da rápida desvalorização de seu dinheiro.
     O preço da crise na América Latina foi muito alto e incidiu diretamente sobre
a a maioria da população, que perdeu grande parte do seu poder de compra, que
já era muito baixo.
     Por isso, muitos chamam os anos 80 de a década perdida Nesse período,
                                                          perdida.
as economias latino-americanas ficaram praticamente ficaram estagnadasestagnadas:
apresentaram crescimento praticamente nulo, ou mesmo decréscimo, em seu
Produto Interno Bruto.
     No entanto, o potencial de desenvolvimento da América Latina é muito
grande. Por potencial de desenvolvimento podemos entender a disponibilidade
de recursos naturais, a capacitação da população, as dimensões da estrutura
produtiva e a rede de transportes, energia e telecomunicações.
     Do ponto de vista dos recursos naturais, os países latino-americanos, em
conjunto, produzem praticamente todos os bens minerais e energéticos que
necessitam: o petróleo da Venezuela e do México, é o cobre do Chile e do Peru,
é o estanho da Bolívia, o minério de ferro, o manganês e o alumínio do Brasil.
     No que diz respeito à capacitação da população, restam muitos problemas
por resolver. O baixo nível de renda da população é um dos fatores que explicam
os altos índices de analfabetismo e baixa escolarização.
     O desenvolvimento humano, como vimos na Aula 31, ainda é um desafio
para o continente latino-americano. Mortalidade infantil, desnutrição, carên-
cia de serviços básicos (saúde, habitação e saneamento) ainda são responsá-
veis pela baixa esperança de vida da maioria dos países latino-americanos.
     A elevada concentração de renda nos países latino-americanos, dentre os
quais destaca-se o Brasil - onde 10% da população controlam mais de 50% da
renda nacional - é um obstáculo que precisa ser vencido para romper o círculo
vicioso da pobreza.
     Por outro lado, avançamos muito na consolidação de uma estrutura produ-
tiva moderna nas cidades e no campo. Grandes safras são colhidas com equipa-
mento moderno. As indústrias, principalmente no Brasil, México, Colômbia e
Argentina, estão relativamente consolidadas. Dispõem de setores de base e de
bens de consumo, embora o desemprego tenha se acentuado muito nesses
países, com recentes medidas de ajuste econômico. A integração interna das
economias nacionais da América Latina está praticamente completa, restando a
A U L A   tarefa de avançar para romper os limites das fronteiras e buscar a integração em
          um nível mais elevado. É o que vem sendo feito pelos países do Mercosul e do

40        Pacto Andino.
              O mundo está se reorganizando em torno de grandes blocos geopolíticos,
          como a União Européia (na qual a Alemanha e a França desempenham papel
          preponderante), o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (conhecido
          por sua sigla em inglês, Nafta e liderado pelos Estados Unidos da América)
                                   Nafta,
          e a Área Econômica do Pacífico (de sigla Apec liderada pelo Japão).
                                                    Apec,
              Esses blocos de países estão buscando garantir a expansão de seus
                                                          interesses comerciais e políti-
                                                          cos para todo o planeta, con-
                                                          forme veremos nas aulas a se-
                                                          guir.
                                                              Para a América Latina, per-
                                                          manece o desafio. Caso queira
                                                          vencer a pobreza e o subdesen-
                                                          volvimento, heranças do passa-
                                                          do colonial e escravocrata, che-
                                                          gou a hora de voltar os olhos
                                                          para o futuro que aponta para o
                                                          rumo da integração. Nossa iden-
                                                          tidade cultural e nossa diversi-
                                                          dade natural são nossos princi-
                                                          pais trunfos para garantir pre-
                                                          sença, como conjunto de nações
                                                          soberanas e democráticas, na vi-
                                                          rada do milênio.


              O Sul também existe...
              Com seus predicados,                 Aproveitando o sol
              seus gases que envenenam,            e também os eclipses,Com todos os
              sua escola de Chicago,               louros
              os donos da terra.                   O Norte ordena.
              Com tuas vestes de luxo,             Porém aqui embaixo,
              e seus pobres pensamentos,           embaixo.
              seus argumentos desgastados,         Perto das raízes
              seus gastos com armamentos,          é onde a memória
              seus feitos invasores,               nenhuma lembrança esquece.
              O Norte ordena.                      Tem quem vence a morte,
                                                   e aqueles que lutam pela vida,
              Porém aqui embaixo,                  e assim todos conseguem
              embaixo,                             o que seria impossível.
              Cada um em seu esconderijo           Que o mundo todo saiba
              há homens e mulheres                 que o Sul,
              que sabem a que aferrar-se.          que o Sul também existe
              Letra de Mário Benedetti e música de Juan Manuel Serrat (trechos)

             Atenção! O poema mostra que, apesar da distância que nos separa
          do Norte industrializado, o Sul também existe e quer ocupar o seu lugar no
          mundo atual.
Nesta aula, vimos que o processo de globalização está alterando radical-     A U L A
mente a face do planeta Terra. O desenvolvimento de novos meios de comuni-
cação e a aplicação de computadores fizeram surgir novas formas de produção
e administração no mercado mundial.                                              40
    No caso da América Latina, que foi duramente atingida pela crise da dívida
externa e pelas altas taxas de inflação os anos 80 foram considerados como a
                               inflação,
“década perdida”. O PIB da maioria dos países latino-americanos permaneceu
estagnado durante aquela década.
    No entanto, o potencial de desenvolvimento da América Latina é muito
grande, principalmente considerando os recursos naturais e as estruturas pro-
dutivas que estão em processo de consolidação nos principais países do conti-
nente, como Brasil, México, Argentina e Colômbia.
    No entanto, o grande obstáculo a ser vencido é uma melhor distribuição de
renda, que garanta a capacitação da população para fazer frente aos desafios
do século XXI.
    A formação dos blocos geopolíticos - como a União Européia, o Nafta e a
Área do Pacífico - mostra que somente o caminho da integração pode garantir
a presença da América Latina no conjunto das nações soberanas e democráticas.




Exercício 1
   Apresente duas razões que expliquem as altas taxas de inflação nos países
   da América Latina nos anos 80.


Exercício 2
   Cite três indicadores do potencial de desenvolvimento encontrados em
   países da América Latina.


Exercício 3
   Relacione as colunas da direita e da esquerda:

    a) Globalização             ( ) Moeda estrangeira obtida nas transações
    b) Inflação                     comerciais e financeiras com o exterior.
    c) Divisas                  ( ) Processo pelo qual as pempresas são
                                    capazes de operar em qualquer parte do
                                    planeta.
                                ( ) Desvalorização do poder de compra da
                                    moeda.


Exercício 4
   Indique dois blocos geopolíticos existentes na economia mundial e os países
   que os lideram.

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  • 1. A UU AL A L A 40 40 Para onde vai a América Latina? N esta aula vamos aprender como a América Latina está sendo afetada diretamente pelo processo de globalização da economia mundial. Veremos também quais as perpectivas e o potencial de desenvolvimento dos povos latino-americanos diante da formação dos grandes blocos geopolíticos na virada para o século XXI. Paulo foi encarregado de liberar um grande carregamentos de roupas e sapatos produzidos na China. O carregamento foi importado por uma grande rede de supermercados que opera em vários pontos do Brasil e do mundo. Na saída do escritório, ele encontra Rui. Aproveita a oportunidade para matar a curiosidade sobre a economia mundial. - Veja só, Rui. Milhares de sapatos, camisas e calças vindos da China. Será que não vem nenhum quimono ou tamanco de madeira no meio dessa carga? - O que é isso, Paulo! Você pensa que a China ainda vive no século passado? Em qualquer canto você encontra produtos chineses modernos e baratos, desde toca-fitas até tênis ou camisetas. A China entrou para valer no mercado mundial. Usa toda a infra-estrutura e mão-de-obra disponíveis para inundar o mundo com os seus produtos. Tudo feito por companhias multinacionais norte-americanas ou japonesas estabelecidas no território chinês. - É... O que será do Brasil e da América Latina, com a concorrência cada vez maior dos produtos feitos na Ásia? Esses produtos entram com preços tão baixos que ninguém sabe como conseguem ter lucro nas vendas! - Você está certo em se preocupar, Paulo. A América Latina, e princi- palmente o Brasil, estão diante de um desafio muito sério. Milhares de empregos podem ser perdidos se não conseguirmos criar condições para competir em pé de igualdade com os produtos chineses ou coreanos. Para isso, cooperar com nossos vizinhos é fundamental. Mais do que nunca, é preciso pensar na unidade latino-americana. É uma questão de sobrevivên- cia - concluiu Rui.
  • 2. A U L A A América Latina, que estudamos neste módulo, está em uma encruzilhada diante da crise e da globalização do mercado mundial. Globalização significa 40 que as empresas são capazes de operar em qualquer parte do planeta. Por exemplo, produzindo mercadorias na China, com escritórios na Europa e vendendo seus produtos na África. É uma nova realidade, que só foi possível graças ao rápido desenvolvimento das telecomunicações e à aplicação de computadores em muitas fases da produ- ção e da administração dos negócios. Os efeitos dessas mudanças foram muitos desiguais nos diversos países do globo. Alguns, porque estavam voltados unicamente para a exportação de produtos agrícolas e minerais, sofreram bastante com a queda dos preços destas mercadorias no mercado mundial. Outros, que haviam se endividado em demasia durante a década de 1970, ficaram presos ao sistema financeiro internacional, tendo que destinar a maior parte dos recursos obtidos pelas exportações para pagar os juros dos empréstimos.tomados no exterior. A dívida externa foi um dos fatores que explicam os problemas atravessados pela América Latina nos anos 80. O mapa a seguir mostra que países como Argentina, Bolívia, Colômbia e Equador tiveram que mandar para o exterior mais de 30% das receitas obtidas com as exportações para pagar a dívida externa. No caso do Brasil e do México, que são países de industrialização recente, os efeitos de enviar para o exterior, para o pagamento da dívida externa, mais de 20% das receitas obtidas com suas exportações, foram responsáveis pela desaceleração do crescimento industrial. Isso interrompeu grandes projetos em implantação e levou várias fábricas a fechar suas portas, aumentando nível de desemprego. A partir do início da década de 70, quase todos os países latino-americanos sofreram com a inflação galopante isto é, com uma rápida desvalorização do galopante, poder de compra da moeda.
  • 3. Imagine uma inflação de mais de 5.000 % ao ano. Significa que você paga 15 A U L A centavos por um pão em um dia e, no dia seguinte, paga 16 centavos pelo mesmo pão. E, assim, sucessivamente. É impossível manter o poder de compra com uma inflação nesse nível. É o que os economistas chamam de hiperinflação Todos hiperinflação. 40 os brasileiros sabem o que é uma taxa alta de inflação. No entanto, nem todos compreendem a sua origem. Na maioria dos países latino-americanos, a hiperinflação foi o resultado de uma combinação perversa de vários fatores: primeiro, a necessidade de manter os produtos destinados a exportação competitivos para conseguir divisas - isto é, moeda estrangeira - para pagar a dívida externa. Com a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar, as mercado- rias produzidas aqui, pagando matérias-primas e salários em cruzeiro ou cruza- do, ficavam cada dia mais baratas para um comprador que morasse no exterior. Outro fator: muitas empresas e pessoas ganhavam com a inflação. Os bancos, por exemplo, que tinham a possibilidade de fazer aplicações financeiras a juros altos e com correção monetária, ganharam muito dinheiro em operações de um dia para o outro. Por outro lado, pessoas que não tinham acesso a uma conta bancária e que mal ganhavam o salário necessário para o sustento de sua família não tinham como se defender da rápida desvalorização de seu dinheiro. O preço da crise na América Latina foi muito alto e incidiu diretamente sobre a a maioria da população, que perdeu grande parte do seu poder de compra, que já era muito baixo. Por isso, muitos chamam os anos 80 de a década perdida Nesse período, perdida. as economias latino-americanas ficaram praticamente ficaram estagnadasestagnadas: apresentaram crescimento praticamente nulo, ou mesmo decréscimo, em seu Produto Interno Bruto. No entanto, o potencial de desenvolvimento da América Latina é muito grande. Por potencial de desenvolvimento podemos entender a disponibilidade de recursos naturais, a capacitação da população, as dimensões da estrutura produtiva e a rede de transportes, energia e telecomunicações. Do ponto de vista dos recursos naturais, os países latino-americanos, em conjunto, produzem praticamente todos os bens minerais e energéticos que necessitam: o petróleo da Venezuela e do México, é o cobre do Chile e do Peru, é o estanho da Bolívia, o minério de ferro, o manganês e o alumínio do Brasil. No que diz respeito à capacitação da população, restam muitos problemas por resolver. O baixo nível de renda da população é um dos fatores que explicam os altos índices de analfabetismo e baixa escolarização. O desenvolvimento humano, como vimos na Aula 31, ainda é um desafio para o continente latino-americano. Mortalidade infantil, desnutrição, carên- cia de serviços básicos (saúde, habitação e saneamento) ainda são responsá- veis pela baixa esperança de vida da maioria dos países latino-americanos. A elevada concentração de renda nos países latino-americanos, dentre os quais destaca-se o Brasil - onde 10% da população controlam mais de 50% da renda nacional - é um obstáculo que precisa ser vencido para romper o círculo vicioso da pobreza. Por outro lado, avançamos muito na consolidação de uma estrutura produ- tiva moderna nas cidades e no campo. Grandes safras são colhidas com equipa- mento moderno. As indústrias, principalmente no Brasil, México, Colômbia e Argentina, estão relativamente consolidadas. Dispõem de setores de base e de bens de consumo, embora o desemprego tenha se acentuado muito nesses países, com recentes medidas de ajuste econômico. A integração interna das economias nacionais da América Latina está praticamente completa, restando a
  • 4. A U L A tarefa de avançar para romper os limites das fronteiras e buscar a integração em um nível mais elevado. É o que vem sendo feito pelos países do Mercosul e do 40 Pacto Andino. O mundo está se reorganizando em torno de grandes blocos geopolíticos, como a União Européia (na qual a Alemanha e a França desempenham papel preponderante), o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (conhecido por sua sigla em inglês, Nafta e liderado pelos Estados Unidos da América) Nafta, e a Área Econômica do Pacífico (de sigla Apec liderada pelo Japão). Apec, Esses blocos de países estão buscando garantir a expansão de seus interesses comerciais e políti- cos para todo o planeta, con- forme veremos nas aulas a se- guir. Para a América Latina, per- manece o desafio. Caso queira vencer a pobreza e o subdesen- volvimento, heranças do passa- do colonial e escravocrata, che- gou a hora de voltar os olhos para o futuro que aponta para o rumo da integração. Nossa iden- tidade cultural e nossa diversi- dade natural são nossos princi- pais trunfos para garantir pre- sença, como conjunto de nações soberanas e democráticas, na vi- rada do milênio. O Sul também existe... Com seus predicados, Aproveitando o sol seus gases que envenenam, e também os eclipses,Com todos os sua escola de Chicago, louros os donos da terra. O Norte ordena. Com tuas vestes de luxo, Porém aqui embaixo, e seus pobres pensamentos, embaixo. seus argumentos desgastados, Perto das raízes seus gastos com armamentos, é onde a memória seus feitos invasores, nenhuma lembrança esquece. O Norte ordena. Tem quem vence a morte, e aqueles que lutam pela vida, Porém aqui embaixo, e assim todos conseguem embaixo, o que seria impossível. Cada um em seu esconderijo Que o mundo todo saiba há homens e mulheres que o Sul, que sabem a que aferrar-se. que o Sul também existe Letra de Mário Benedetti e música de Juan Manuel Serrat (trechos) Atenção! O poema mostra que, apesar da distância que nos separa do Norte industrializado, o Sul também existe e quer ocupar o seu lugar no mundo atual.
  • 5. Nesta aula, vimos que o processo de globalização está alterando radical- A U L A mente a face do planeta Terra. O desenvolvimento de novos meios de comuni- cação e a aplicação de computadores fizeram surgir novas formas de produção e administração no mercado mundial. 40 No caso da América Latina, que foi duramente atingida pela crise da dívida externa e pelas altas taxas de inflação os anos 80 foram considerados como a inflação, “década perdida”. O PIB da maioria dos países latino-americanos permaneceu estagnado durante aquela década. No entanto, o potencial de desenvolvimento da América Latina é muito grande, principalmente considerando os recursos naturais e as estruturas pro- dutivas que estão em processo de consolidação nos principais países do conti- nente, como Brasil, México, Argentina e Colômbia. No entanto, o grande obstáculo a ser vencido é uma melhor distribuição de renda, que garanta a capacitação da população para fazer frente aos desafios do século XXI. A formação dos blocos geopolíticos - como a União Européia, o Nafta e a Área do Pacífico - mostra que somente o caminho da integração pode garantir a presença da América Latina no conjunto das nações soberanas e democráticas. Exercício 1 Apresente duas razões que expliquem as altas taxas de inflação nos países da América Latina nos anos 80. Exercício 2 Cite três indicadores do potencial de desenvolvimento encontrados em países da América Latina. Exercício 3 Relacione as colunas da direita e da esquerda: a) Globalização ( ) Moeda estrangeira obtida nas transações b) Inflação comerciais e financeiras com o exterior. c) Divisas ( ) Processo pelo qual as pempresas são capazes de operar em qualquer parte do planeta. ( ) Desvalorização do poder de compra da moeda. Exercício 4 Indique dois blocos geopolíticos existentes na economia mundial e os países que os lideram.