SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
A introdução da quimioterapia e, principalmente, da vacinação BCG, trouxe marcante modificação na taxa de 
prevalência da tuberculose do sistema nervoso central, que, hoje, só é observada em pequena porcentagem de 
casos de tuberculose extrapulmonar. O comprometimento, nesse caso, pode ocorrer de duas maneiras básicas: pela 
meningoencefalite ou pela ocorrência de tuberculoma cerebral. Quase sempre é o resultado da disseminação 
hemática do bacilo a partir de foco localizado em outra parte do organismo. 
A meningoencefalite tuberculosa constitui -se na forma mais grave de tuberculose extrapulmonar, sendo 
acompanhada de letalidade importante, na dependência da precocidade do diagnóstico e da instituição da 
terapêutica. Usualmente é observada até o sexto mês de evolução da primoinfecção, sendo, portanto, considerada 
uma complicação precoce da mesma. Pode ocorrer em qualquer período da vida, com maior incidência na faixa 
etária de zero a quatro anos. 
O quadro clínico é geralmente insidioso, embora alguns casos possam ter um começo abrupto marcado pelo 
surgimento de convulsões. As manifestações clínicas iniciais incluem febre, cefaléia, vômitos, sonolência, apatia, 
letargia, irritabilidade e mudanças súbitas do humor. Nas fases mais avançadas, podem surgir sinai s de envolvimento 
dos nervos cranianos, déficits neurológicos focais e sinais de irritação meníngea e cerebelar. A pesquisa dos 
tubérculos coróides na retina é importante, por tratar-se de sinal muito sugestivo de tuberculose e presente em até 
80% dos casos de meningoencefalite tuberculosa. 
O diagnóstico de meningite tuberculosa é feito pelo exame do líquor, na maioria das vezes hipertenso, claro e 
límpido, com pleocitose em torno de 300 a 500 células/ml e predomínio de mononucleares. O teor de proteínas es tá 
sempre elevado, sendo acompanhado por glicorraquia baixa. Eventualmente, podem ser encontrados bacilos álcool-ácido 
resistentes e, com o uso da cultura, pode-se confirmar a presença do bacilo tuberculoso em 60% das vezes. No 
líquor, a PCR para M. tuberculosis tem sensibilidade de 56% e especificidade de 98% e, portanto, não deverá ser 
utilizada para excluir a meningite tuberculosa. Do ponto de vista da imagem, a tomografia computadorizada e a 
ressonância magnética são úteis na avaliação de complicações, como a ocorrência de déficits neurológicos focais ou 
de aumento da pressão endocraniana. 
No caso do tuberculoma cerebral, as manifestações clínicas dependem da localização da lesão, que geralmente tem 
crescimento lento. Quando não há comprometimento do espaço subaracnóide, o líquor é normal e a tomografia 
computadorizada pode demonstrar alterações de difícil diferenciação com outras doenças (Figura 12). 
ETIOPATOGENIA 
Penetração do bacilo pelas vias aéreas superiores. As gotículas inaladas contendo o BK vão se alojar nos alvéolos 
pulmonares caracterizando o complexo primário tuberculoso. A partir de então, os microorganismos se dirigem ao 
sistema circulatório e atingem o sistema nervoso central, onde são englobados pelas células fagocitárias 
mononucleares. O bacilo que chega ao SNC pode originar uma disseminação miliar, a formação de um tuberculoma 
isolado ou focos isolados na substância encefalomedular (focos de Rich) que, ao se romperem, eliminam no espaço 
subaracnóide ou cavidade ventricular e originam uma reação tuberculínica intratecal. O exsudato que se origina, 
infiltra as paredes dos vasos meníngeos produzindo inflamação, calcificação e obstrução, produzindo áreas de 
infartos isquêmicos e alteração do fluxo liquórico, o que determina lesões dramáticas e frequentemente irreversíveis 
da meningoencefalite tuberculosa. 
TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR 
A partir de um foco inicial, primário ou secundário, pode haver disseminação do bacilo, através da árvore 
traqueobrônquica, da corrente sanguínea ou linfática levando a formas isoladas, localizadas mais frequentemente na 
pleura, linfonodos, ossos, articulações, aparelho gastrintestinal, rins e sistema nervoso. 
A disseminação por contiguidade, via linfática ou hematogênica é causa frequente de tuberculose pleural, podendo 
ocorrer a disseminação de granulomas na superfície pleural (Fig.4.6) e coleções purulentas na cavidade pleural. A 
organização do exudato leva a fibrose pleural com aderências fibrosas entre a pleura parietal e visceral, muitas vezes 
promovendo o encarceramento pulmonar. 
O acometimento de linfonodos pode acontecer como forma extrapulmonar isolada, freqüente em pacientes HIV+, 
embora também ocorra em pacientes HIV negativos. Em uma série de 70 biópsias de linfonodos, em pacientes 
infectados pelo HIV+ e com AIDS, a infecção pelo M tuberculosis foi observada em 31% dos casos.
Tuberculose abdominal pode envolver qualquer parte do aparelho gastrintestinal, é o sexto local mais frequente de 
tuberculose extrapulmonar. Ocorre através da disseminação hematogênica a partir de um foco primário de 
tuberculose pulmonar na infância com reativação tardia, deglutição de secreção em paciente com tuberculose 
pulmonar ativa, disseminação direta de órgãos adjacentes, e através de vasos linfáticos de linfonodos abdominais 
comprometidos. A doença acomete o intestino delgado e grosso, sendo mais frequente no íleo terminal, 
possivelmente devido à estase fisiológica aumentada e exuberância de tecido linfóide nesta localização. Os 
granulomas tuberculosos são formados inicialmente nas placas de Peyer, têm tamanhos variáveis e tendem a ser 
confluentes, em contraste com os granulomas observados na doença de Crohn. As complicações que podem ocorrer 
nestes pacientes são formação de úlceras mucosas, obstrução intestinal, perfuração da parede intestinal e 
disseminação peritoneal. 
O comprometimento do sistema nervoso central, neurotuberculose (meningite tuberculosa e tuberculose 
intracerebral e medular), é considerada uma das formas mais temidas da doença. Apresenta alta taxa de 
mortalidade, mesmo em pessoas imunocompetentes e tratadas adequadamente. 
5. Tuberculose Extrapulmonar 
Depois de penetrar no organismo pela via respiratória, o M. tuberculosis pode disseminar-se e instalar-se em 
qualquer órgão, seja durante a primoinfecção, quando a imunidade específica ainda não está desenvolvida, seja 
depois desta, a qualquer tempo, se houver uma queda na capacidade do hospedeiro em manter o bacilo nos seus 
sítios de implantação. Independentemente da forma patogênica da doença, a disseminação pode ocorrer, também, 
a partir da manipulação cirúrgica ou diagnóstica de um órgão doente. 
A grande maioria das formas extrapulmonares acontece em órgãos sem condições ótimas de crescimento bacilar, 
sendo quase sempre de instalação insidiosa, evolução lenta e com lesões pobres em bacilos. As formas mais 
freqüentes, com pequenas variações de posição em diferentes períodos e diferentes regiões, são: pleural, linfática, 
ósteo-articular, geniturinária e intestinal, embora praticamente qualquer local do organismo possa ser afetado pela 
doença. Até o momento, só não há descrição de tuberculose em unha e cabelo. 
As formas extrapulmonares são resultantes da disseminação do M. tuberculosis pelo organismo através de quatro 
vias possíveis: linfo-hematogênica, hematogênica, por contigüidade e intracanalicular. 
Na disseminação linfo-hematogênica, o bacilo é levado pelo vaso linfático ao ducto torácico, seguindo para a veia 
cava superior, cavidades cardíacas direitas e artéria pulmonar, alcançando o pulmão e nele implantando-se para 
gerar um novo foco da doença. Este mesmo bacilo, vencendo a barreira pulmonar, pode alcançar as cavidades 
cardíacas esquerdas e disseminar-se para outros territórios, através da circulação sistêmica. Esta forma de 
disseminação geralmente ocorre na primoinfecção e determina, com maior frequência, tuberculose ganglionar, 
renal, adrenal, óssea, meningoencefálica e genital feminina. 
A disseminação essencialmente hemática ocorre quando há súbita abertura de um foco tuberculoso na corrente 
sanguínea. Nesta forma de disseminação, a proximidade de um linfonodo ou de um foco caseoso, intrapulmonar ou 
não, com a parede de um vaso, pode permitir que o bacilo seja lançado diretamente na circulação sistêmica. A via 
hemática frequentemente ocasiona formas disseminadas agudas da doença. 
A disseminação por contiguidade é responsável pela maioria das formas pleural, a partir do pulmão, pericárdica, a 
partir dos gânglios mediastinais, e peritoneal, a partir dos gânglios mesentéricos, e também por algumas formas de 
tuberculose cutânea. 
Já a disseminação intracanalicular determina o comprometimento de diferentes locais do pulmão. Esse mesmo 
mecanismo também explica o desenvolvimento da tuberculose no trato urinário inferior e sistema genital masculino, 
a partir do rim, e no endométrio e peritôneo, a partir das trompas uterinas.
A introdução da quimioterapia - Tuberculose Meningoencefálica

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Meningite e aneurisma
Meningite e aneurismaMeningite e aneurisma
Meningite e aneurismawilliam_oak
 
3. apresenta+ç+âo meningite bacteriana iracema-2009
3. apresenta+ç+âo meningite bacteriana iracema-20093. apresenta+ç+âo meningite bacteriana iracema-2009
3. apresenta+ç+âo meningite bacteriana iracema-2009Alinebrauna Brauna
 
Sarcoma de Kaposi
Sarcoma de KaposiSarcoma de Kaposi
Sarcoma de KaposiOncoguia
 
Tumores do Sistema Nervoso Central aula ufpa
Tumores do Sistema Nervoso Central aula ufpaTumores do Sistema Nervoso Central aula ufpa
Tumores do Sistema Nervoso Central aula ufpaJosé Maria Abreu Junior
 
Fisiopatologia das infecções de micoses profundas
Fisiopatologia das infecções de micoses profundasFisiopatologia das infecções de micoses profundas
Fisiopatologia das infecções de micoses profundasSafia Naser
 
Artigo de Revisão de Histoplasmose
Artigo de Revisão de HistoplasmoseArtigo de Revisão de Histoplasmose
Artigo de Revisão de HistoplasmoseFlávia Salame
 
Renata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºdRenata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºdCatiaprof
 
1a atividade de_microbiologia_maio_2010_mm pronta
1a atividade de_microbiologia_maio_2010_mm pronta1a atividade de_microbiologia_maio_2010_mm pronta
1a atividade de_microbiologia_maio_2010_mm prontaedvania
 
Semiologia ImagiolóGica Dos Tumores PrimáRios Do Snc Antigo
Semiologia ImagiolóGica Dos Tumores PrimáRios Do Snc AntigoSemiologia ImagiolóGica Dos Tumores PrimáRios Do Snc Antigo
Semiologia ImagiolóGica Dos Tumores PrimáRios Do Snc Antigoguestc1ed78
 
Micoses pulmonares e sistemicas
Micoses pulmonares e sistemicasMicoses pulmonares e sistemicas
Micoses pulmonares e sistemicasManzelio Cavazzana
 
Surto de meningite em costa do sauipe
Surto de meningite em costa do sauipeSurto de meningite em costa do sauipe
Surto de meningite em costa do sauipeRomero Diniz
 
Meningite Bacteriana - 2 Ano médio
Meningite Bacteriana - 2 Ano médioMeningite Bacteriana - 2 Ano médio
Meningite Bacteriana - 2 Ano médioJosé Pereira
 

Mais procurados (19)

Tics 6 vasculites
Tics 6  vasculitesTics 6  vasculites
Tics 6 vasculites
 
Meningite e aneurisma
Meningite e aneurismaMeningite e aneurisma
Meningite e aneurisma
 
3. apresenta+ç+âo meningite bacteriana iracema-2009
3. apresenta+ç+âo meningite bacteriana iracema-20093. apresenta+ç+âo meningite bacteriana iracema-2009
3. apresenta+ç+âo meningite bacteriana iracema-2009
 
Sarcoma de Kaposi
Sarcoma de KaposiSarcoma de Kaposi
Sarcoma de Kaposi
 
Tumores do Sistema Nervoso Central aula ufpa
Tumores do Sistema Nervoso Central aula ufpaTumores do Sistema Nervoso Central aula ufpa
Tumores do Sistema Nervoso Central aula ufpa
 
Fisiopatologia das infecções de micoses profundas
Fisiopatologia das infecções de micoses profundasFisiopatologia das infecções de micoses profundas
Fisiopatologia das infecções de micoses profundas
 
Artigo de Revisão de Histoplasmose
Artigo de Revisão de HistoplasmoseArtigo de Revisão de Histoplasmose
Artigo de Revisão de Histoplasmose
 
Renata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºdRenata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºd
 
1a atividade de_microbiologia_maio_2010_mm pronta
1a atividade de_microbiologia_maio_2010_mm pronta1a atividade de_microbiologia_maio_2010_mm pronta
1a atividade de_microbiologia_maio_2010_mm pronta
 
Coccidioidomicose
CoccidioidomicoseCoccidioidomicose
Coccidioidomicose
 
Semiologia ImagiolóGica Dos Tumores PrimáRios Do Snc Antigo
Semiologia ImagiolóGica Dos Tumores PrimáRios Do Snc AntigoSemiologia ImagiolóGica Dos Tumores PrimáRios Do Snc Antigo
Semiologia ImagiolóGica Dos Tumores PrimáRios Do Snc Antigo
 
Questionario da doença
Questionario da doençaQuestionario da doença
Questionario da doença
 
Micoses pulmonares e sistemicas
Micoses pulmonares e sistemicasMicoses pulmonares e sistemicas
Micoses pulmonares e sistemicas
 
Meningite e Interpretação do LCR
Meningite e Interpretação do LCRMeningite e Interpretação do LCR
Meningite e Interpretação do LCR
 
Meningite
MeningiteMeningite
Meningite
 
Surto de meningite em costa do sauipe
Surto de meningite em costa do sauipeSurto de meningite em costa do sauipe
Surto de meningite em costa do sauipe
 
Sinais e sintomas
Sinais e sintomasSinais e sintomas
Sinais e sintomas
 
Criptococose pulmonar
Criptococose pulmonarCriptococose pulmonar
Criptococose pulmonar
 
Meningite Bacteriana - 2 Ano médio
Meningite Bacteriana - 2 Ano médioMeningite Bacteriana - 2 Ano médio
Meningite Bacteriana - 2 Ano médio
 

Semelhante a A introdução da quimioterapia - Tuberculose Meningoencefálica

Granulomatose de wegener
Granulomatose de wegenerGranulomatose de wegener
Granulomatose de wegenerFlávia Salame
 
Anatomopatologia das Vasculites Pulmonares
Anatomopatologia das Vasculites PulmonaresAnatomopatologia das Vasculites Pulmonares
Anatomopatologia das Vasculites PulmonaresFlávia Salame
 
Citicercose
CiticercoseCiticercose
Citicercose3a2011
 
Tuberculose em hospitais
Tuberculose em hospitaisTuberculose em hospitais
Tuberculose em hospitaisJosy Farias
 
MENINGITES_Guia-de-Vigilância-Epidemiológica-da-Secretaria-de-Vigilância-em-S...
MENINGITES_Guia-de-Vigilância-Epidemiológica-da-Secretaria-de-Vigilância-em-S...MENINGITES_Guia-de-Vigilância-Epidemiológica-da-Secretaria-de-Vigilância-em-S...
MENINGITES_Guia-de-Vigilância-Epidemiológica-da-Secretaria-de-Vigilância-em-S...MarcosAntonioOliveir41
 
Renata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºdRenata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºdCatiaprof
 
Renata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºdRenata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºdCatiaprof
 
ABSCESSO PULMONAR ORIGINAL CETEP
ABSCESSO PULMONAR ORIGINAL CETEPABSCESSO PULMONAR ORIGINAL CETEP
ABSCESSO PULMONAR ORIGINAL CETEPvictorinocachipa
 
Pneumonia adquirida na comunidade
Pneumonia adquirida na comunidadePneumonia adquirida na comunidade
Pneumonia adquirida na comunidadeThiago Hubner
 
Tuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicos
Tuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicosTuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicos
Tuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicosMarcelo Madureira Montroni
 
Artigo de revisao em Bronquiectasias
Artigo de revisao em BronquiectasiasArtigo de revisao em Bronquiectasias
Artigo de revisao em BronquiectasiasFlávia Salame
 
Atualizacao bronquiectasias
Atualizacao bronquiectasiasAtualizacao bronquiectasias
Atualizacao bronquiectasiasFlávia Salame
 

Semelhante a A introdução da quimioterapia - Tuberculose Meningoencefálica (20)

Tuberculose
TuberculoseTuberculose
Tuberculose
 
Granulomatose de wegener
Granulomatose de wegenerGranulomatose de wegener
Granulomatose de wegener
 
Anatomopatologia das Vasculites Pulmonares
Anatomopatologia das Vasculites PulmonaresAnatomopatologia das Vasculites Pulmonares
Anatomopatologia das Vasculites Pulmonares
 
Apresentação1
Apresentação1Apresentação1
Apresentação1
 
Citicercose
CiticercoseCiticercose
Citicercose
 
Tuberculose em hospitais
Tuberculose em hospitaisTuberculose em hospitais
Tuberculose em hospitais
 
MENINGITES_Guia-de-Vigilância-Epidemiológica-da-Secretaria-de-Vigilância-em-S...
MENINGITES_Guia-de-Vigilância-Epidemiológica-da-Secretaria-de-Vigilância-em-S...MENINGITES_Guia-de-Vigilância-Epidemiológica-da-Secretaria-de-Vigilância-em-S...
MENINGITES_Guia-de-Vigilância-Epidemiológica-da-Secretaria-de-Vigilância-em-S...
 
Renata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºdRenata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºd
 
Renata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºdRenata thays e gabryella damascena 1ºd
Renata thays e gabryella damascena 1ºd
 
ABSCESSO PULMONAR ORIGINAL CETEP
ABSCESSO PULMONAR ORIGINAL CETEPABSCESSO PULMONAR ORIGINAL CETEP
ABSCESSO PULMONAR ORIGINAL CETEP
 
Tuberculose
TuberculoseTuberculose
Tuberculose
 
Pneumonia adquirida na comunidade
Pneumonia adquirida na comunidadePneumonia adquirida na comunidade
Pneumonia adquirida na comunidade
 
Meningite tuberculosa
Meningite tuberculosaMeningite tuberculosa
Meningite tuberculosa
 
Tuberculose slide
Tuberculose slideTuberculose slide
Tuberculose slide
 
Tuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicos
Tuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicosTuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicos
Tuberculose pulmonar e extrapulmonar- Aspectos radiológicos
 
Artigo de revisao em Bronquiectasias
Artigo de revisao em BronquiectasiasArtigo de revisao em Bronquiectasias
Artigo de revisao em Bronquiectasias
 
Atualizacao bronquiectasias
Atualizacao bronquiectasiasAtualizacao bronquiectasias
Atualizacao bronquiectasias
 
Bronquiectasia
BronquiectasiaBronquiectasia
Bronquiectasia
 
histoplasmose.pptx
histoplasmose.pptxhistoplasmose.pptx
histoplasmose.pptx
 
A07v27n6
A07v27n6A07v27n6
A07v27n6
 

A introdução da quimioterapia - Tuberculose Meningoencefálica

  • 1. A introdução da quimioterapia e, principalmente, da vacinação BCG, trouxe marcante modificação na taxa de prevalência da tuberculose do sistema nervoso central, que, hoje, só é observada em pequena porcentagem de casos de tuberculose extrapulmonar. O comprometimento, nesse caso, pode ocorrer de duas maneiras básicas: pela meningoencefalite ou pela ocorrência de tuberculoma cerebral. Quase sempre é o resultado da disseminação hemática do bacilo a partir de foco localizado em outra parte do organismo. A meningoencefalite tuberculosa constitui -se na forma mais grave de tuberculose extrapulmonar, sendo acompanhada de letalidade importante, na dependência da precocidade do diagnóstico e da instituição da terapêutica. Usualmente é observada até o sexto mês de evolução da primoinfecção, sendo, portanto, considerada uma complicação precoce da mesma. Pode ocorrer em qualquer período da vida, com maior incidência na faixa etária de zero a quatro anos. O quadro clínico é geralmente insidioso, embora alguns casos possam ter um começo abrupto marcado pelo surgimento de convulsões. As manifestações clínicas iniciais incluem febre, cefaléia, vômitos, sonolência, apatia, letargia, irritabilidade e mudanças súbitas do humor. Nas fases mais avançadas, podem surgir sinai s de envolvimento dos nervos cranianos, déficits neurológicos focais e sinais de irritação meníngea e cerebelar. A pesquisa dos tubérculos coróides na retina é importante, por tratar-se de sinal muito sugestivo de tuberculose e presente em até 80% dos casos de meningoencefalite tuberculosa. O diagnóstico de meningite tuberculosa é feito pelo exame do líquor, na maioria das vezes hipertenso, claro e límpido, com pleocitose em torno de 300 a 500 células/ml e predomínio de mononucleares. O teor de proteínas es tá sempre elevado, sendo acompanhado por glicorraquia baixa. Eventualmente, podem ser encontrados bacilos álcool-ácido resistentes e, com o uso da cultura, pode-se confirmar a presença do bacilo tuberculoso em 60% das vezes. No líquor, a PCR para M. tuberculosis tem sensibilidade de 56% e especificidade de 98% e, portanto, não deverá ser utilizada para excluir a meningite tuberculosa. Do ponto de vista da imagem, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são úteis na avaliação de complicações, como a ocorrência de déficits neurológicos focais ou de aumento da pressão endocraniana. No caso do tuberculoma cerebral, as manifestações clínicas dependem da localização da lesão, que geralmente tem crescimento lento. Quando não há comprometimento do espaço subaracnóide, o líquor é normal e a tomografia computadorizada pode demonstrar alterações de difícil diferenciação com outras doenças (Figura 12). ETIOPATOGENIA Penetração do bacilo pelas vias aéreas superiores. As gotículas inaladas contendo o BK vão se alojar nos alvéolos pulmonares caracterizando o complexo primário tuberculoso. A partir de então, os microorganismos se dirigem ao sistema circulatório e atingem o sistema nervoso central, onde são englobados pelas células fagocitárias mononucleares. O bacilo que chega ao SNC pode originar uma disseminação miliar, a formação de um tuberculoma isolado ou focos isolados na substância encefalomedular (focos de Rich) que, ao se romperem, eliminam no espaço subaracnóide ou cavidade ventricular e originam uma reação tuberculínica intratecal. O exsudato que se origina, infiltra as paredes dos vasos meníngeos produzindo inflamação, calcificação e obstrução, produzindo áreas de infartos isquêmicos e alteração do fluxo liquórico, o que determina lesões dramáticas e frequentemente irreversíveis da meningoencefalite tuberculosa. TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR A partir de um foco inicial, primário ou secundário, pode haver disseminação do bacilo, através da árvore traqueobrônquica, da corrente sanguínea ou linfática levando a formas isoladas, localizadas mais frequentemente na pleura, linfonodos, ossos, articulações, aparelho gastrintestinal, rins e sistema nervoso. A disseminação por contiguidade, via linfática ou hematogênica é causa frequente de tuberculose pleural, podendo ocorrer a disseminação de granulomas na superfície pleural (Fig.4.6) e coleções purulentas na cavidade pleural. A organização do exudato leva a fibrose pleural com aderências fibrosas entre a pleura parietal e visceral, muitas vezes promovendo o encarceramento pulmonar. O acometimento de linfonodos pode acontecer como forma extrapulmonar isolada, freqüente em pacientes HIV+, embora também ocorra em pacientes HIV negativos. Em uma série de 70 biópsias de linfonodos, em pacientes infectados pelo HIV+ e com AIDS, a infecção pelo M tuberculosis foi observada em 31% dos casos.
  • 2. Tuberculose abdominal pode envolver qualquer parte do aparelho gastrintestinal, é o sexto local mais frequente de tuberculose extrapulmonar. Ocorre através da disseminação hematogênica a partir de um foco primário de tuberculose pulmonar na infância com reativação tardia, deglutição de secreção em paciente com tuberculose pulmonar ativa, disseminação direta de órgãos adjacentes, e através de vasos linfáticos de linfonodos abdominais comprometidos. A doença acomete o intestino delgado e grosso, sendo mais frequente no íleo terminal, possivelmente devido à estase fisiológica aumentada e exuberância de tecido linfóide nesta localização. Os granulomas tuberculosos são formados inicialmente nas placas de Peyer, têm tamanhos variáveis e tendem a ser confluentes, em contraste com os granulomas observados na doença de Crohn. As complicações que podem ocorrer nestes pacientes são formação de úlceras mucosas, obstrução intestinal, perfuração da parede intestinal e disseminação peritoneal. O comprometimento do sistema nervoso central, neurotuberculose (meningite tuberculosa e tuberculose intracerebral e medular), é considerada uma das formas mais temidas da doença. Apresenta alta taxa de mortalidade, mesmo em pessoas imunocompetentes e tratadas adequadamente. 5. Tuberculose Extrapulmonar Depois de penetrar no organismo pela via respiratória, o M. tuberculosis pode disseminar-se e instalar-se em qualquer órgão, seja durante a primoinfecção, quando a imunidade específica ainda não está desenvolvida, seja depois desta, a qualquer tempo, se houver uma queda na capacidade do hospedeiro em manter o bacilo nos seus sítios de implantação. Independentemente da forma patogênica da doença, a disseminação pode ocorrer, também, a partir da manipulação cirúrgica ou diagnóstica de um órgão doente. A grande maioria das formas extrapulmonares acontece em órgãos sem condições ótimas de crescimento bacilar, sendo quase sempre de instalação insidiosa, evolução lenta e com lesões pobres em bacilos. As formas mais freqüentes, com pequenas variações de posição em diferentes períodos e diferentes regiões, são: pleural, linfática, ósteo-articular, geniturinária e intestinal, embora praticamente qualquer local do organismo possa ser afetado pela doença. Até o momento, só não há descrição de tuberculose em unha e cabelo. As formas extrapulmonares são resultantes da disseminação do M. tuberculosis pelo organismo através de quatro vias possíveis: linfo-hematogênica, hematogênica, por contigüidade e intracanalicular. Na disseminação linfo-hematogênica, o bacilo é levado pelo vaso linfático ao ducto torácico, seguindo para a veia cava superior, cavidades cardíacas direitas e artéria pulmonar, alcançando o pulmão e nele implantando-se para gerar um novo foco da doença. Este mesmo bacilo, vencendo a barreira pulmonar, pode alcançar as cavidades cardíacas esquerdas e disseminar-se para outros territórios, através da circulação sistêmica. Esta forma de disseminação geralmente ocorre na primoinfecção e determina, com maior frequência, tuberculose ganglionar, renal, adrenal, óssea, meningoencefálica e genital feminina. A disseminação essencialmente hemática ocorre quando há súbita abertura de um foco tuberculoso na corrente sanguínea. Nesta forma de disseminação, a proximidade de um linfonodo ou de um foco caseoso, intrapulmonar ou não, com a parede de um vaso, pode permitir que o bacilo seja lançado diretamente na circulação sistêmica. A via hemática frequentemente ocasiona formas disseminadas agudas da doença. A disseminação por contiguidade é responsável pela maioria das formas pleural, a partir do pulmão, pericárdica, a partir dos gânglios mediastinais, e peritoneal, a partir dos gânglios mesentéricos, e também por algumas formas de tuberculose cutânea. Já a disseminação intracanalicular determina o comprometimento de diferentes locais do pulmão. Esse mesmo mecanismo também explica o desenvolvimento da tuberculose no trato urinário inferior e sistema genital masculino, a partir do rim, e no endométrio e peritôneo, a partir das trompas uterinas.