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“Eu vou estar pra sempre aqui com você,
[...]Mesmo na morte nosso amor continuar”
Capitulo I

Nuvens cinza amontoavam-se ao redor da lua, ofuscando a noite e tudo mais que
estavam sobre o luar. Alguns postes de luz tentavam furar a densa camada de
escuridão em frente ao bar. De longe, podia-se ver um letreiro de neon em vermelho
escrito “Hell’s”, o mesmo coberto por uma úmida neblina escondia boa parte da
aparência frontal do bar. Suas grandes janelas tinham jornais pregados a elas. Alguns
seguranças cuidavam para que nenhum humano pudesse entrar sem permissão.

 Dentro do bar velhas cortinas encardidas de sujeira do tempo escondiam as grandes
janelas forradas com jornais velhos. Algumas poucas mesas arredondadas eram
distribuídas com espaços tais quais pareciam distancia-las com o intuito de que
nenhum curioso pudesse ouvir o que ali era falado. Castiçais fixados nas paredes e
lamparinas penduradas no teto davam a todo o lugar uma atmosfera alaranjada e
mórbida. Um vazio no meio do bar abria espaço aos que gostavam de dançar ao som
de melancólicas musicas tocadas pela banda fúnebre da casa que ficava sobre um
pequeno palco localizado bem ao fundo do estabelecimento. Os meros mortais que
raramente eram deixados entrar para nunca mais sair serviam de aperitivo aos
famintos vampiros que gostavam de brincar.

Às cinco e meia da manha o bar estava parcialmente vazio, faltando uma hora para o
nascer do sol algumas criaturas ainda conversavam sorrateiramente em um canto
escuro, desconfiados e atentos, outros estavam na pista de dança trocando mordidas
enquanto uma musica depressiva tocava no ao fundo pelos músicos.

Eu estava sentado ao balcão, entre um gole de cerveja, indaguei a Velkan:

- Por que eu tive que voltar?

- Meu caro amigo, ha coisas na vida que nem mesmo a morte pode nos explicar -
Velkan pediu mais uma rodada ao taberneiro. - Não se pergunte por que esta aqui,
mas oque gostaria de fazer se aqui não estivesse - Velkan passou um braço sobre o
meu pescoço e entre um sorriso psicótico tomou um gole de vodka e foi para o
encontro de uma garota no meio do bar.

Sozinho eu encarava o fundo do copo meio cheio de rum. Eu não sou um tolo, por mais
que assim eu pareça a maior parte das vezes, sei que de nada adianta afogar as
magoas em um velho bar, e o consolo provocado pelo álcool seria momentâneo assim
como os momentos felizes que eu tive. Mas de que adianta pensar, minha vida tomou
caminhos tortuosos demais, tais quais eu não pude se quer escolher se por eles eu
queria seguir. Tudo aconteceu muito rápido, tudo desmoronou de repente. Eu já não
conseguia mais sentir alegria nenhuma de estar, parcialmente, vivo. Eu tinha morrido,
da pior maneira possível, aquela que voce ainda respira.

Andei durante muito tempo no meio de multidões sem rostos, depois de tudo que me
acontecera eu já não via as pessoas como elas queriam ser vistas, eu as via como o
monstro ludibriador que o ser humano esta fadado a se tornar. Todos eles, desde os
mais novos aos mais velhos. Todas as noites eram iguais, eu tentava esquecer em um
bar repleto de criaturas perdidas em um terreno lugar de sofrimento e dor, minha
própria angustia.

Meu olhar vazio e melancólico encarava o vazio nao de um copo ou de qualquer outra
coisa da qual eu me prendia a olhar, mas sim o vazio do que eu tinha me tornado. Um
vazio e frio homem sem amor. Todas as coisas que eu fiz e o que eu não fiz me
atormentavam de maneira constante e dolorosa. Eu ainda sonhava com os dias que
passei no inferno. Às vezes parecia que eu ainda estava lá, as lembranças me
transportavam aos momentos que se reproduziam a minha frente de maneira tao real
a ponto de me fazer duvidar e pensar que nada havia mudado. E isso, graças a Deus,
não acontecia apenas com as lembranças ruins, os momentos bons eram exatamente
assim. Em alguns dias eu podia sentir cheiros, gostos e toques que nada mais eram do
que meu coração me levando a felicidade, infelizmente minha mente insistia em me
trazer de voltar à realidade.

Dei mais um gole a fim de barrar as lembranças que voltavam cada vez mais fortes,
cada vez mais distantes do que um dia elas foram e do que hoje elas poderiam ser.
Velkan voltou ao meu encontro e notando meu olhar perdido tocou meu peito onde
costumava bater um coração.

- Seu problema esta aqui... Preso ao seu amor – Disse ele - Sabe a morte simplesmente
não acaba com esses sentimentos de fraqueza. - Velkan limpou o sangue que restou da
sua vitima em sua boca, olhou para trás e vendo-a caída no chão completamente sem
vida e sorriu.

- Meus sentimentos são a minha força. - Eu o fitei por alguns segundos, como poderia
julga-lo? Ele não tinha alma, ele era como os outros, uma fera sem princípios. - Tudo
que eu fui ou costumava ser, faz o homem que hoje eu sou.

Velkan em um sorriso de deboche sorriu para mim e outra rodada pediu antes que nos
dois tivéssemos que ir embora.

La fora eu podia sentir o cheiro do nascer da manha e do sol antes que o mesmo viesse
a nascer.
- Precisamos nos apressar - Eu disse Inclinando a cabeça para trás e farejando o odor
do sol lembrei-me de como era senti-lo. Meus olhos se fecharam com tamanha
espontaneidade. Em questão de segundos fui levado a uma manha de domingo, os
pássaros ainda dormiam silenciosamente do lado de fora, alguns feixes de luz
lançaram-se sobre nos dois na cama. Pude vê-la sobre um fraco amanhecer que se
derramava sobre nossa cama. Eu acordei ao lado dela, seus olhos se abriram e aquele
verde amendoado brilhou para mim, me senti completo. A paz invadiu a minha alma e
quando por fim voltei ao aqui e agora um vazio se estabeleceu em mim. Aquela paz
pareceu se esvair enquanto meus olhos se abriam e não a achavam. Senti um gosto
amargo atravessando um nó na garganta e respirei o mais fundo possível.



                                         ~
Em uma estrada usada como via de comércio que passava no meio da floresta local um
velho mercador em sua carroça puxada por um cavalo cansado que parecia saber o
caminho de cor, caminhava a passos largos e mansos. Uma lona furada e encardida
cobria a parte de trás onde as mercadorias ficavam. As arvores pareciam alcançar o
céu, poucos os feixes de luz que conseguiam atravessar a copa das arvores e atingir o
chão. A floreste estava calma e silenciosa, as arvores curvavam-se quase como um
contorcer de dor sobre o único caminho para a civilização. Os animais estavam quietos
e quase não se via aves e ninhos nas arvores, alguns corvos pareciam acompanhar com
o olhar o velho homem e sua carroça.

O velho homem apertou bem os olhos quando de longe avistou algo na estrada,
quando finalmente conseguiu enxergar, viu uma garota caída interrompendo a
passagem da carroça, puxou as rédeas e o cavalo sem dificuldade parou.

Sem saber o que fazer ele se dirigiu até ela. A, principio pensou em apenas empurra-la
para o lado e ir embora, talvez fosse o alimento de algum vampiro ou de algo ainda
pior, mas quando viu que ela respirava, decidiu ajuda-la. Com dificuldade ele a
arrastou para parte de tras da carroça, um pouco fraco pela idade ele tentou coloca-la
com cuidado.

- O que fizeram a você minha jovem? - Disse o homem com uma voz terna e rouca.

Ele limpou um pouco da lama que estava em seu rosto e verificou se ela tinha pulso. Só
para garantir. Esgueirou-se de voltou para a carroça e em um rápido movimento
estalou o chicote no traseiro do cavalo que se pós ao galope. Ora ou outra ele parara
no meio do caminho só para certificar-se de que tudo estava bem com a pobre garota.
Atento e um pouco desconfiado ele não tirava os olhos dos troncos e da copa das
arvores. A viajem levara um pouco mais de tempo do que de costume por causas das
paradas que ele fora dando.

Algumas horas depois o velho ja podia ver as construções fria de cimento da cidade
por entre os espaços que as arvores davam umas as outras.

- Voce ficara bem, jovem - Disse ele apressando o cavalo com um movimento na rédea.

A carroça virava agora a ultima curva que levava ao centro da cidade, quando de
repente o homem ouviu um gemido fraco e curto. A garota que ele encontrara
desmaiada estava retomando a consciência, e sem saber onde estava e o que tinha
acontecido ela disse:

- Onde eu estou? - Ela piscou os olhos algumas vezes e a primeira coisa que viu foram
os galhos das arvores passando um apos o outro por um rasgo na parte superior da
lona. Um pouco enjoada ela sentia o balanço da velha carroça.

- Perdoe-me, pela acomodação, estas coisas não foram feitas para o transporte de
lindas damas. - O velho aliviado sorriu. – A proposito, eu nome é Heitor.

- O meu é kira. - Ela abriu um sorriso que logo desapareceu, uma dor aguda se
estendeu da nuca a cabeça, kira fechou os olhos e tentou se segurar na lateral da
carroça.

- Voce esta bem? - Perguntou Heitor, preocupado.

- Nao me sinto bem - Kira tentou se recuperar e tão rápida como havia chegado a dor
se foi.

Assim que chego à cidade Heitor se dirigiu ao centro de comercio, havia tendas
estendidas onde se vendia alimentos frescos de todos os tipos, em um formato de
meio circulo algumas pequenas barracas rodeavam uma velha fonte que minava agua
dos olhos de um anjo com asas grandes que pareciam querer voar.

- Demorou hoje. Estava quase mandando uma patrulha a seu encontro Heitor. – Disse
um homem alto e gordo gesticulando com os braços ao aproximar de Heitor.

- Tive um pequeno contra tempo. – Heitor desceu do se aproximou de seu amigo e o
puxou para longe da carroça

Enquanto cochichavam algo, Kira se levantou e saiu da carroça, Limpou um pouco da
lama em suas roupas sujas e caminhou em direção à fonte que chamara sua atenção.
Alguma coisa, ou alguém estava a lhe chamar ela podia ouvir um sussurro próximo que
soltava seu nome ao vento. Olhando em volta certificou-se que não era Heitor, afinal
apenas ele sabia seu nome, mas não era ele e ninguém mais parecia ouvir. Kira deu
alguns passos e esticou sua mão para tocar a estatua de pedra, quando seus dedos
quase encontraram com a superfície fria de mármore o anjo criou vida, a agua que
minava de seus olhos se transformou em sangue e suas asas começaram a bater
violentamente levantando um pouco de poeira da rua, seus olhos vazios ficaram
completamente negros. O anjo se ergueu em direção a Kira que tentou se afastar
rapidamente, apavorada pelo que estava acontecendo ela tropeçou em um galho
velho de arvore e caiu.

Heitor e seu amigo viraram-se ao mesmo tempo quando viram a garota caindo ao
chão. Kira se arrastou pelo chão e quando se sentiu longe o suficiente levantou-se.

- Voce esta bem? – Gritou com uma voz áspera, era o amigo de heitor.

Kira fez que sim com a cabeça e logo depois voltou a encarar a estatua. Ela estava
normal, nenhum movimento, nenhum sangue, nenhuma voz a lhe chamar.

- Por favor, Vitor, deixe-a ficar, pelo menos alguns dias em sua casa. Sua filha casou, sei
que ha um quarto sobrando. - Implorou Heitor.

- Porque tanto cuidado com esta garota? Voce nem sabe quem ela é ou o que faz aqui.
– Vitor indagou.

- Ela é só uma garota perdida. Se eu a tivesse deixado lá, com certeza não estaria viva
até agora. – Heitor apontou para Kira que estava com sua expressão de medo.

- Um dia. Nada além! – Disse vitor dando-se por vencido. – Depois do trabalho a
levarei para casa. Talvez eu termine mais cedo, de noite a ponte anda ficando
perigosa.

- Deus há de te recompensar por isto amigo - Heitor deu tapinhas em suas costas e um
sorriso brotou em seu rosto envelhecido.



                                           ~
A noite tinha chegado, Velkan e eu havíamos saído para caçar. Uma brisa agradável
nos acompanhava na caminhada, o céu estava limpo e a lua era cheia. Os postes de luz
ajudavam a clarear a noite que se estendia pela rua larga de paralelepípedo.

O clima favorável resultava uma caça bem sucedida.

Enquanto velkan me contava algo sobre o gosto do sangue humano e das vantagens de
o mesmo provar eu o ignorava, por fora é claro, tentava demonstrar interesse, mas por
dentro, era como se todas as palavras que ele me dizia entrassem por um ouvido e
pelo outro saísse, não que eu assim quisesse, mas meus pensamentos estavam
distantes, a lua me trazia lembranças que ao mesmo tempo em que confortavam meu
coração morto arranham a minha alma ainda consciente.

 Minha mente estava em Selene. Eu sempre pensava nela, mas na maior parte do
tempo eu conseguia desviar as lembranças para algo bom, imagina ela aqui comigo
rindo de piadas que me eram contadas ou discutindo sobre seus assuntos preferidos.
Eu a tinha aqui, comigo, o tempo todo. Mesmo que nossos momentos fossem apenas
imaginados por mim e ninguém mais eu a tinha todos os dias nos meus sonhos.

- Liam, esta me ouvindo? - Velkan perguntou mesmo sabendo que eu de fato não
estava.

- Hum - Murmurei sem prestar atenção em sua pergunta.

- Ela ainda te tira do mundo nao é?

Olhei para ele sem nada dizer, oque eu diria? Sim, todos os dias, todas as noites, todas
as vezes que eu olho pra alguém sorrindo. Tudo que toco, ouço e vejo é nela que eu
penso. E ela nao me tira do mundo ela me leva a outro. Um mundo onde vale a pena
viver. De que adiantaria dizer isso a ele.

- Voce estava a falar sobre como o sangue humano te deixa forte. - Eu olhando para
ele forcei um sorriso de canto e quando desviei o olhar para a rua vi a ponte que nos
levaria a caçada. Havia me esquecido de como nos podíamos ser rápidos em uma
simples caminhada - Veja a ponte esta logo a frente, logo chegaremos a vila onde quer
caçar.

- Acho que não precisaremos procurar muito, veja - Velkan apontou para uma garota
que estava a atravessar a ponte, vindo em nossa direção.

- Não vou compactuar com isso, você sabe. Então o faça... - Antes que eu pudesse
terminar de lhe dizer, velkan já estava a meio metro da garota -... Rápido. - Completei.

Velkan não era o tipo “caçador” que espreita sua vitima, a estuda e cria uma
abordagem cautelosa e direta, ele estava mais para o tipo ludibriador que seduz e se
aproveita da ingenuidade da raça humana.

 Esperei que ele acabasse logo com aquilo para que pudéssemos voltar. Eu não caçava
fazia anos e quase não me lembrava do gosto do sangue dos seres humanos. Eu não
podia matar alguém. É claro que se eu quisesse nada me impedia de fazê-lo, mas tirar
a vida de alguém resultaria em idas ao inferno. Muitos pensam que é a religião que nos
move moralmente, talvez estejam certos, o medo de não alcançar o reino do céu não
nos deixa agir de maneira errada. Mas, muito além deste medo, eu temia não merecer
a Selene, todas as minhas ações eram regidas pelo medo de não ser o homem que ela
gostaria que eu fosse. Velkan não entendia que minha maldição de ser um vampiro
com alma me impedia de ferir qualquer outra criatura viva apenas por prazer ou
satisfação.

 Olhei para cima e vi algumas nuvens que começaram a entrar na frente da lua
tampando sua luz, a noite rapidamente começou a escurece, pude sentir uma
mudança no ar. Quando voltei minha atenção a velkan ele ainda estava a cortejar a
garota que parecia estar caindo em sua lábia. Algo entao passou correndo na
escuridão atras dos dois como um vulto avulso.

Uma sombra pairou sobre Velkan e a garota quando, de repente, um lobisomem surgiu
das trevas e em direção aos dois ele pulou. Velkan desviou rapidamente, mas a garota
só se deu conta do que estava acontecendo quando o lobo já a tinha atingido e a
jogado a metros de distancia.

O lobisomem virou-se para Velkan, e com fúria rugiu. Seu pelo acinzentado reluzia
sobre a lua cheia. Ele se pôs a correr como um lobo nas quatro patas em direção a
Velkan que agora estava no meio da ponte, pronto para o ataque.

Velkan havia mudado completamente seu rosto, havia deixado sua forma humana
para tras e adquirido sua forma vampírica. Seu rosto se repuxou e seus olhos mudaram
de castanho escuro para um amarelo dourado, suas presas haviam descido. Velkan
esperava para o ataque do feroz animal que saltou em sua direção com garras que
mais pareciam laminas. Velkan era mais ágil e rapidamente desviou do ataque do
Lobisomem e desferiu socos em suas costelas direitas. Socos dos quais foram tao
fortes que fora possível ouvi-las se quebrando.

O lobo soltou um uivo de dor e caiu para o lado no abismo que havia de baixo da
ponte, em uma tentativa de se segurar ele agarrou na ponte, mas acabou cortando
uma das cordas e nas profundezas do nada ele desapareceu.

Velkan se aproximou da beirada e se inclinou para tentar enxergar algo.

Tudo acontecera muito rápido, corri para onde velkan estava quando vi o lobisomem a
se lançar por tras dele furando a escuridão da noite e o silencio do abismo que se
estendia abaixo de nos.

Pulei em direção à fera e a joguei para o outro lado da ponte antes que ele pudesse
atingir Velkan.

O lobo rolou e bateu com as costas no tronco de uma arvore arrancando-lhe lascas de
madeiras. Cai em pé, e fora questão de segundo para que a besta se levantasse e entre
cambaleadas retornasse a plena consciência.
Ficando sobre suas patas traseiras, ele encheu os pulmões do ar seco da noite vazia e
curvando-se para mim soltou um rosnado poderoso que pôs os pássaros que ali
estavam a voar para longe. Saliva voou de seus dentes amarelados acompanhados de
um quente hálito de raiva. Seu focinho enrugou, seus olhos prata encontraram-se com
os meus. A essa altura o demônio que em mim habitava transbordou para fora e
minha face de vampiro tomou conta do meu rosto, minhas presas desceram a altura
da minha boca e meus olhos amarelados se pousaram de baixo de uma testa enrugada
e repuxada de ódio.

Raramente eu deixava que essa aparência me tomasse, pude me sentir muito mais
forte.

O lobisomem veio em minha direção desferindo golpes com suas garras, eu desviei um
golpe que quase fora certeiro e me movi rapidamente para o lado puxando seu braço e
dando-lhe um soco no meio dele quebrando-o. Mas ele se virou e me acertando com a
outra garra me arremessou ao topo de uma arvore.

Cai ao chão e incrédulo por tamanha força eu me levantei e encarei o animal. Nenhum
outro lobisomem do qual eu tenha enfrentado havia me batido com esta força, e veja,
aos meus 462 anos de existência já lutei contra muitos animais, feras e homens que de
nada foram capazes de me tirar se quer um arranhão.

O lobo furioso correu até onde eu estava e em um salto abriu sua mandíbula cheia de
dentes afiados e suas garras lançaram sobre mim. Esperei que ele se aproximasse o
suficiente e segurei seu focinho fechando-o com toda força que tinha e o arremessei
por cima do meu ombro jogando com força ao chão, antes que o mesmo pudesse se
recompor, fechei minha mão em um punho de mármore e quebrei os ossos de seu
crânio com um soco frio em sua cabeça.

O pelo do lobo começou a cair e lentamente sua pele foi desgrudando e a forma de um
homem começou a se formar, seus ferimentos ficaram mais claros. Notei também uma
estranha marca de três círculos entrelaçados que pareciam formar uma flor de três
pétalas.

Desviei minha atenção a Velkan que estava caído do final da ponte com seu braço
ferido. Fui até ele e notei um enorme corte no seu braço direito que se estendia pela
costela, tão profundo que quase podia ver o seus ossos.

- Voce esta bem? – Eu perguntei enquanto examinava seu ferimento.

- Um lobisomem de dois metros quase arrancou meu braço! Acha que estou bem? –
Ele colocou a mão no ferimento a fim de estanca-lo, algo parecia minar um tipo de
liquido escuro.
Eu passei a mão no estranho liquido viscoso e o levei até o nariz, não reconheci o
cheiro, nem mesmo a textura era familiar. Ainda mais se levar o fato de ter vindo da
garra de um lobisomem.

- AHHH! – Velkan gritou de dor e se ajoelhou ao chão, abaixou a cabeça e gemeu
agoniado.

Eu o ajudei a levantar colocando seu braço esquerdo sobre meu ombro para que
pudéssemos sair dali.

- Aonde vamos liam? – Ele disse com um tom de dor em sua voz.

- Embora antes que outros desses apareçam. – Olhei para trás examinando a densa
escuridão que parecia nos observar enquanto caminhávamos para longe dali.

- Espere, eu acho que consigo andar sozinho. – Velkan cambaleou um pouco quando se
soltou de mim. Ele olhou para o corte profundo no braço e sorrindo disse: Ele me
pegou de jeito.

Enquanto nós nos dirigíamos para fora da ponte eu pude ver a garota que seria a
vitima da noite esticada ao chão completamente imóvel. Pensei que talvez Velkan
pudesse se alimentar. Seria bom para curar mais rápido a ferida, Talvez velkan
estivesse fraco a ponto de não conseguir se regenerar sozinho.

- Talvez esse ferimento se regenere mais rápido se voce se alimentar. – Eu disse
induzindo-o a morder a garota da qual nos aproximávamos. Ao ouvir as palavras e
entender o tom da mesma, ele sorriu da sua maneira psicótica para mim.

- Ótima ideia meu caro. – Disse velkan que em um piscar de olhos chegou até sua
presa. Eu o segui e cheguei logo depois.

Velkan ajoelhou ao chão e colocando sua mao esquerda sobre as costas da garota
aproximou-a de seu corpo que agora estava curvado sobre ela. Suas presas desceram
novamente e ele aproximou os lábios de seu pescoço gélido. Seus dentes cravaram
com firmeza na frágil pele e uma gota de sangue escorreu. Os olhos da garota se
abriram e arregalados pareciam gritar de dor. Velkan se quer percebeu, sugou com
força uma boa quantidade de sangue dela, e quando o mesmo tocou seus lábios e sua
língua um gosto de ferrugem desceu por sua garganta e queimou enquanto ele o
engolia. Imediatamente ele a soltou e começou a cuspir.

A garota começou a tossir quase como um suspiro de vida e levando suas mãos ao
pescoço sentiu dois orifícios por onde seu sangue havia saído. Quando levantou sua
cabeça e seus olhos encontraram-se aos meus ambos estavam perplexos pelo que
havia acontecido. Estava claro que ela, tanto quanto eu, de nada sabia.
Algo muito estranho estava acontecendo e provavelmente algo muito pior estava por
vir. Mesmo que um sangue infectado não faria isso a um vampiro, as doenças humanas
não agiam em nós da mesma maneira, de alguma forma nosso organismo trabalhava
de forma diferente das dos humanos. Ela não era humana, mas o que seria? Seu longo
cabelo preto emoldurava seu fino rosto pálido. Apesar de pouca idade podia-se notar
uma expressão de dores amortecidas com o tempo.

- Não se preocupe- Eu disse enquanto me abaixava até ela - Não irei te machucar. Voce
consegue caminhar? – Eu a fitei de maneira que pude sentir seus olhos frágeis sendo
sustentados pelos meus.

- Eu não sei, estou me sentindo fraca.

Aproximei-me um pouco mais dela e antes que eu a pegasse no colo ela recuou com
medo, e eu disse que tudo ficaria bem. Seus braços envolveram meu pescoço e ela
repousou a cabeça em meu peito. Fora tudo tão absurdamente familiar, para mim ao
menos, era um colo do qual eu sentia que conhecia, tinha uma fragilidade semelhante,
e uma solidão mutua.

- Velkan, venha! – Eu disse apressando-o, ele ainda estava balbuciando xingamentos,
palavras jogadas ao vento e ditas para si mesmo em voz alta. Seu ferimento não tinha
regenerado, pelo contrario parecia estar piorando.

- Aonde vamos? – Perguntou ele enquanto tentava induzir uma tosse para que algo
saísse de sua garganta. Certamente o sangue ainda o incomodava.

- Encontrar respostas. - Desviei o olhar para a garota e com apenas um olhar ela
entendeu que nada de mal viria de nos dois.

 Velkan e eu saímos dali o mais rápidos que conseguimos, por estar ferido ele não
conseguia correr na velocidade que antes corria, por isso diminui o passo para deixa-lo
me acompanhar. Em segundos desaparecemos na escuridão sorrateiramente deixando
apenas o silencio e o resto de uma batalha que o vento logo levaria embora.



                                         ~
(continua)

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Um amor que transcende a morte

  • 1.
  • 2. “Eu vou estar pra sempre aqui com você, [...]Mesmo na morte nosso amor continuar”
  • 3. Capitulo I Nuvens cinza amontoavam-se ao redor da lua, ofuscando a noite e tudo mais que estavam sobre o luar. Alguns postes de luz tentavam furar a densa camada de escuridão em frente ao bar. De longe, podia-se ver um letreiro de neon em vermelho escrito “Hell’s”, o mesmo coberto por uma úmida neblina escondia boa parte da aparência frontal do bar. Suas grandes janelas tinham jornais pregados a elas. Alguns seguranças cuidavam para que nenhum humano pudesse entrar sem permissão. Dentro do bar velhas cortinas encardidas de sujeira do tempo escondiam as grandes janelas forradas com jornais velhos. Algumas poucas mesas arredondadas eram distribuídas com espaços tais quais pareciam distancia-las com o intuito de que nenhum curioso pudesse ouvir o que ali era falado. Castiçais fixados nas paredes e lamparinas penduradas no teto davam a todo o lugar uma atmosfera alaranjada e mórbida. Um vazio no meio do bar abria espaço aos que gostavam de dançar ao som de melancólicas musicas tocadas pela banda fúnebre da casa que ficava sobre um pequeno palco localizado bem ao fundo do estabelecimento. Os meros mortais que raramente eram deixados entrar para nunca mais sair serviam de aperitivo aos famintos vampiros que gostavam de brincar. Às cinco e meia da manha o bar estava parcialmente vazio, faltando uma hora para o nascer do sol algumas criaturas ainda conversavam sorrateiramente em um canto escuro, desconfiados e atentos, outros estavam na pista de dança trocando mordidas enquanto uma musica depressiva tocava no ao fundo pelos músicos. Eu estava sentado ao balcão, entre um gole de cerveja, indaguei a Velkan: - Por que eu tive que voltar? - Meu caro amigo, ha coisas na vida que nem mesmo a morte pode nos explicar - Velkan pediu mais uma rodada ao taberneiro. - Não se pergunte por que esta aqui, mas oque gostaria de fazer se aqui não estivesse - Velkan passou um braço sobre o meu pescoço e entre um sorriso psicótico tomou um gole de vodka e foi para o encontro de uma garota no meio do bar. Sozinho eu encarava o fundo do copo meio cheio de rum. Eu não sou um tolo, por mais que assim eu pareça a maior parte das vezes, sei que de nada adianta afogar as magoas em um velho bar, e o consolo provocado pelo álcool seria momentâneo assim como os momentos felizes que eu tive. Mas de que adianta pensar, minha vida tomou
  • 4. caminhos tortuosos demais, tais quais eu não pude se quer escolher se por eles eu queria seguir. Tudo aconteceu muito rápido, tudo desmoronou de repente. Eu já não conseguia mais sentir alegria nenhuma de estar, parcialmente, vivo. Eu tinha morrido, da pior maneira possível, aquela que voce ainda respira. Andei durante muito tempo no meio de multidões sem rostos, depois de tudo que me acontecera eu já não via as pessoas como elas queriam ser vistas, eu as via como o monstro ludibriador que o ser humano esta fadado a se tornar. Todos eles, desde os mais novos aos mais velhos. Todas as noites eram iguais, eu tentava esquecer em um bar repleto de criaturas perdidas em um terreno lugar de sofrimento e dor, minha própria angustia. Meu olhar vazio e melancólico encarava o vazio nao de um copo ou de qualquer outra coisa da qual eu me prendia a olhar, mas sim o vazio do que eu tinha me tornado. Um vazio e frio homem sem amor. Todas as coisas que eu fiz e o que eu não fiz me atormentavam de maneira constante e dolorosa. Eu ainda sonhava com os dias que passei no inferno. Às vezes parecia que eu ainda estava lá, as lembranças me transportavam aos momentos que se reproduziam a minha frente de maneira tao real a ponto de me fazer duvidar e pensar que nada havia mudado. E isso, graças a Deus, não acontecia apenas com as lembranças ruins, os momentos bons eram exatamente assim. Em alguns dias eu podia sentir cheiros, gostos e toques que nada mais eram do que meu coração me levando a felicidade, infelizmente minha mente insistia em me trazer de voltar à realidade. Dei mais um gole a fim de barrar as lembranças que voltavam cada vez mais fortes, cada vez mais distantes do que um dia elas foram e do que hoje elas poderiam ser. Velkan voltou ao meu encontro e notando meu olhar perdido tocou meu peito onde costumava bater um coração. - Seu problema esta aqui... Preso ao seu amor – Disse ele - Sabe a morte simplesmente não acaba com esses sentimentos de fraqueza. - Velkan limpou o sangue que restou da sua vitima em sua boca, olhou para trás e vendo-a caída no chão completamente sem vida e sorriu. - Meus sentimentos são a minha força. - Eu o fitei por alguns segundos, como poderia julga-lo? Ele não tinha alma, ele era como os outros, uma fera sem princípios. - Tudo que eu fui ou costumava ser, faz o homem que hoje eu sou. Velkan em um sorriso de deboche sorriu para mim e outra rodada pediu antes que nos dois tivéssemos que ir embora. La fora eu podia sentir o cheiro do nascer da manha e do sol antes que o mesmo viesse a nascer.
  • 5. - Precisamos nos apressar - Eu disse Inclinando a cabeça para trás e farejando o odor do sol lembrei-me de como era senti-lo. Meus olhos se fecharam com tamanha espontaneidade. Em questão de segundos fui levado a uma manha de domingo, os pássaros ainda dormiam silenciosamente do lado de fora, alguns feixes de luz lançaram-se sobre nos dois na cama. Pude vê-la sobre um fraco amanhecer que se derramava sobre nossa cama. Eu acordei ao lado dela, seus olhos se abriram e aquele verde amendoado brilhou para mim, me senti completo. A paz invadiu a minha alma e quando por fim voltei ao aqui e agora um vazio se estabeleceu em mim. Aquela paz pareceu se esvair enquanto meus olhos se abriam e não a achavam. Senti um gosto amargo atravessando um nó na garganta e respirei o mais fundo possível. ~ Em uma estrada usada como via de comércio que passava no meio da floresta local um velho mercador em sua carroça puxada por um cavalo cansado que parecia saber o caminho de cor, caminhava a passos largos e mansos. Uma lona furada e encardida cobria a parte de trás onde as mercadorias ficavam. As arvores pareciam alcançar o céu, poucos os feixes de luz que conseguiam atravessar a copa das arvores e atingir o chão. A floreste estava calma e silenciosa, as arvores curvavam-se quase como um contorcer de dor sobre o único caminho para a civilização. Os animais estavam quietos e quase não se via aves e ninhos nas arvores, alguns corvos pareciam acompanhar com o olhar o velho homem e sua carroça. O velho homem apertou bem os olhos quando de longe avistou algo na estrada, quando finalmente conseguiu enxergar, viu uma garota caída interrompendo a passagem da carroça, puxou as rédeas e o cavalo sem dificuldade parou. Sem saber o que fazer ele se dirigiu até ela. A, principio pensou em apenas empurra-la para o lado e ir embora, talvez fosse o alimento de algum vampiro ou de algo ainda pior, mas quando viu que ela respirava, decidiu ajuda-la. Com dificuldade ele a arrastou para parte de tras da carroça, um pouco fraco pela idade ele tentou coloca-la com cuidado. - O que fizeram a você minha jovem? - Disse o homem com uma voz terna e rouca. Ele limpou um pouco da lama que estava em seu rosto e verificou se ela tinha pulso. Só para garantir. Esgueirou-se de voltou para a carroça e em um rápido movimento estalou o chicote no traseiro do cavalo que se pós ao galope. Ora ou outra ele parara no meio do caminho só para certificar-se de que tudo estava bem com a pobre garota.
  • 6. Atento e um pouco desconfiado ele não tirava os olhos dos troncos e da copa das arvores. A viajem levara um pouco mais de tempo do que de costume por causas das paradas que ele fora dando. Algumas horas depois o velho ja podia ver as construções fria de cimento da cidade por entre os espaços que as arvores davam umas as outras. - Voce ficara bem, jovem - Disse ele apressando o cavalo com um movimento na rédea. A carroça virava agora a ultima curva que levava ao centro da cidade, quando de repente o homem ouviu um gemido fraco e curto. A garota que ele encontrara desmaiada estava retomando a consciência, e sem saber onde estava e o que tinha acontecido ela disse: - Onde eu estou? - Ela piscou os olhos algumas vezes e a primeira coisa que viu foram os galhos das arvores passando um apos o outro por um rasgo na parte superior da lona. Um pouco enjoada ela sentia o balanço da velha carroça. - Perdoe-me, pela acomodação, estas coisas não foram feitas para o transporte de lindas damas. - O velho aliviado sorriu. – A proposito, eu nome é Heitor. - O meu é kira. - Ela abriu um sorriso que logo desapareceu, uma dor aguda se estendeu da nuca a cabeça, kira fechou os olhos e tentou se segurar na lateral da carroça. - Voce esta bem? - Perguntou Heitor, preocupado. - Nao me sinto bem - Kira tentou se recuperar e tão rápida como havia chegado a dor se foi. Assim que chego à cidade Heitor se dirigiu ao centro de comercio, havia tendas estendidas onde se vendia alimentos frescos de todos os tipos, em um formato de meio circulo algumas pequenas barracas rodeavam uma velha fonte que minava agua dos olhos de um anjo com asas grandes que pareciam querer voar. - Demorou hoje. Estava quase mandando uma patrulha a seu encontro Heitor. – Disse um homem alto e gordo gesticulando com os braços ao aproximar de Heitor. - Tive um pequeno contra tempo. – Heitor desceu do se aproximou de seu amigo e o puxou para longe da carroça Enquanto cochichavam algo, Kira se levantou e saiu da carroça, Limpou um pouco da lama em suas roupas sujas e caminhou em direção à fonte que chamara sua atenção. Alguma coisa, ou alguém estava a lhe chamar ela podia ouvir um sussurro próximo que soltava seu nome ao vento. Olhando em volta certificou-se que não era Heitor, afinal apenas ele sabia seu nome, mas não era ele e ninguém mais parecia ouvir. Kira deu
  • 7. alguns passos e esticou sua mão para tocar a estatua de pedra, quando seus dedos quase encontraram com a superfície fria de mármore o anjo criou vida, a agua que minava de seus olhos se transformou em sangue e suas asas começaram a bater violentamente levantando um pouco de poeira da rua, seus olhos vazios ficaram completamente negros. O anjo se ergueu em direção a Kira que tentou se afastar rapidamente, apavorada pelo que estava acontecendo ela tropeçou em um galho velho de arvore e caiu. Heitor e seu amigo viraram-se ao mesmo tempo quando viram a garota caindo ao chão. Kira se arrastou pelo chão e quando se sentiu longe o suficiente levantou-se. - Voce esta bem? – Gritou com uma voz áspera, era o amigo de heitor. Kira fez que sim com a cabeça e logo depois voltou a encarar a estatua. Ela estava normal, nenhum movimento, nenhum sangue, nenhuma voz a lhe chamar. - Por favor, Vitor, deixe-a ficar, pelo menos alguns dias em sua casa. Sua filha casou, sei que ha um quarto sobrando. - Implorou Heitor. - Porque tanto cuidado com esta garota? Voce nem sabe quem ela é ou o que faz aqui. – Vitor indagou. - Ela é só uma garota perdida. Se eu a tivesse deixado lá, com certeza não estaria viva até agora. – Heitor apontou para Kira que estava com sua expressão de medo. - Um dia. Nada além! – Disse vitor dando-se por vencido. – Depois do trabalho a levarei para casa. Talvez eu termine mais cedo, de noite a ponte anda ficando perigosa. - Deus há de te recompensar por isto amigo - Heitor deu tapinhas em suas costas e um sorriso brotou em seu rosto envelhecido. ~ A noite tinha chegado, Velkan e eu havíamos saído para caçar. Uma brisa agradável nos acompanhava na caminhada, o céu estava limpo e a lua era cheia. Os postes de luz ajudavam a clarear a noite que se estendia pela rua larga de paralelepípedo. O clima favorável resultava uma caça bem sucedida. Enquanto velkan me contava algo sobre o gosto do sangue humano e das vantagens de o mesmo provar eu o ignorava, por fora é claro, tentava demonstrar interesse, mas por
  • 8. dentro, era como se todas as palavras que ele me dizia entrassem por um ouvido e pelo outro saísse, não que eu assim quisesse, mas meus pensamentos estavam distantes, a lua me trazia lembranças que ao mesmo tempo em que confortavam meu coração morto arranham a minha alma ainda consciente. Minha mente estava em Selene. Eu sempre pensava nela, mas na maior parte do tempo eu conseguia desviar as lembranças para algo bom, imagina ela aqui comigo rindo de piadas que me eram contadas ou discutindo sobre seus assuntos preferidos. Eu a tinha aqui, comigo, o tempo todo. Mesmo que nossos momentos fossem apenas imaginados por mim e ninguém mais eu a tinha todos os dias nos meus sonhos. - Liam, esta me ouvindo? - Velkan perguntou mesmo sabendo que eu de fato não estava. - Hum - Murmurei sem prestar atenção em sua pergunta. - Ela ainda te tira do mundo nao é? Olhei para ele sem nada dizer, oque eu diria? Sim, todos os dias, todas as noites, todas as vezes que eu olho pra alguém sorrindo. Tudo que toco, ouço e vejo é nela que eu penso. E ela nao me tira do mundo ela me leva a outro. Um mundo onde vale a pena viver. De que adiantaria dizer isso a ele. - Voce estava a falar sobre como o sangue humano te deixa forte. - Eu olhando para ele forcei um sorriso de canto e quando desviei o olhar para a rua vi a ponte que nos levaria a caçada. Havia me esquecido de como nos podíamos ser rápidos em uma simples caminhada - Veja a ponte esta logo a frente, logo chegaremos a vila onde quer caçar. - Acho que não precisaremos procurar muito, veja - Velkan apontou para uma garota que estava a atravessar a ponte, vindo em nossa direção. - Não vou compactuar com isso, você sabe. Então o faça... - Antes que eu pudesse terminar de lhe dizer, velkan já estava a meio metro da garota -... Rápido. - Completei. Velkan não era o tipo “caçador” que espreita sua vitima, a estuda e cria uma abordagem cautelosa e direta, ele estava mais para o tipo ludibriador que seduz e se aproveita da ingenuidade da raça humana. Esperei que ele acabasse logo com aquilo para que pudéssemos voltar. Eu não caçava fazia anos e quase não me lembrava do gosto do sangue dos seres humanos. Eu não podia matar alguém. É claro que se eu quisesse nada me impedia de fazê-lo, mas tirar a vida de alguém resultaria em idas ao inferno. Muitos pensam que é a religião que nos move moralmente, talvez estejam certos, o medo de não alcançar o reino do céu não nos deixa agir de maneira errada. Mas, muito além deste medo, eu temia não merecer
  • 9. a Selene, todas as minhas ações eram regidas pelo medo de não ser o homem que ela gostaria que eu fosse. Velkan não entendia que minha maldição de ser um vampiro com alma me impedia de ferir qualquer outra criatura viva apenas por prazer ou satisfação. Olhei para cima e vi algumas nuvens que começaram a entrar na frente da lua tampando sua luz, a noite rapidamente começou a escurece, pude sentir uma mudança no ar. Quando voltei minha atenção a velkan ele ainda estava a cortejar a garota que parecia estar caindo em sua lábia. Algo entao passou correndo na escuridão atras dos dois como um vulto avulso. Uma sombra pairou sobre Velkan e a garota quando, de repente, um lobisomem surgiu das trevas e em direção aos dois ele pulou. Velkan desviou rapidamente, mas a garota só se deu conta do que estava acontecendo quando o lobo já a tinha atingido e a jogado a metros de distancia. O lobisomem virou-se para Velkan, e com fúria rugiu. Seu pelo acinzentado reluzia sobre a lua cheia. Ele se pôs a correr como um lobo nas quatro patas em direção a Velkan que agora estava no meio da ponte, pronto para o ataque. Velkan havia mudado completamente seu rosto, havia deixado sua forma humana para tras e adquirido sua forma vampírica. Seu rosto se repuxou e seus olhos mudaram de castanho escuro para um amarelo dourado, suas presas haviam descido. Velkan esperava para o ataque do feroz animal que saltou em sua direção com garras que mais pareciam laminas. Velkan era mais ágil e rapidamente desviou do ataque do Lobisomem e desferiu socos em suas costelas direitas. Socos dos quais foram tao fortes que fora possível ouvi-las se quebrando. O lobo soltou um uivo de dor e caiu para o lado no abismo que havia de baixo da ponte, em uma tentativa de se segurar ele agarrou na ponte, mas acabou cortando uma das cordas e nas profundezas do nada ele desapareceu. Velkan se aproximou da beirada e se inclinou para tentar enxergar algo. Tudo acontecera muito rápido, corri para onde velkan estava quando vi o lobisomem a se lançar por tras dele furando a escuridão da noite e o silencio do abismo que se estendia abaixo de nos. Pulei em direção à fera e a joguei para o outro lado da ponte antes que ele pudesse atingir Velkan. O lobo rolou e bateu com as costas no tronco de uma arvore arrancando-lhe lascas de madeiras. Cai em pé, e fora questão de segundo para que a besta se levantasse e entre cambaleadas retornasse a plena consciência.
  • 10. Ficando sobre suas patas traseiras, ele encheu os pulmões do ar seco da noite vazia e curvando-se para mim soltou um rosnado poderoso que pôs os pássaros que ali estavam a voar para longe. Saliva voou de seus dentes amarelados acompanhados de um quente hálito de raiva. Seu focinho enrugou, seus olhos prata encontraram-se com os meus. A essa altura o demônio que em mim habitava transbordou para fora e minha face de vampiro tomou conta do meu rosto, minhas presas desceram a altura da minha boca e meus olhos amarelados se pousaram de baixo de uma testa enrugada e repuxada de ódio. Raramente eu deixava que essa aparência me tomasse, pude me sentir muito mais forte. O lobisomem veio em minha direção desferindo golpes com suas garras, eu desviei um golpe que quase fora certeiro e me movi rapidamente para o lado puxando seu braço e dando-lhe um soco no meio dele quebrando-o. Mas ele se virou e me acertando com a outra garra me arremessou ao topo de uma arvore. Cai ao chão e incrédulo por tamanha força eu me levantei e encarei o animal. Nenhum outro lobisomem do qual eu tenha enfrentado havia me batido com esta força, e veja, aos meus 462 anos de existência já lutei contra muitos animais, feras e homens que de nada foram capazes de me tirar se quer um arranhão. O lobo furioso correu até onde eu estava e em um salto abriu sua mandíbula cheia de dentes afiados e suas garras lançaram sobre mim. Esperei que ele se aproximasse o suficiente e segurei seu focinho fechando-o com toda força que tinha e o arremessei por cima do meu ombro jogando com força ao chão, antes que o mesmo pudesse se recompor, fechei minha mão em um punho de mármore e quebrei os ossos de seu crânio com um soco frio em sua cabeça. O pelo do lobo começou a cair e lentamente sua pele foi desgrudando e a forma de um homem começou a se formar, seus ferimentos ficaram mais claros. Notei também uma estranha marca de três círculos entrelaçados que pareciam formar uma flor de três pétalas. Desviei minha atenção a Velkan que estava caído do final da ponte com seu braço ferido. Fui até ele e notei um enorme corte no seu braço direito que se estendia pela costela, tão profundo que quase podia ver o seus ossos. - Voce esta bem? – Eu perguntei enquanto examinava seu ferimento. - Um lobisomem de dois metros quase arrancou meu braço! Acha que estou bem? – Ele colocou a mão no ferimento a fim de estanca-lo, algo parecia minar um tipo de liquido escuro.
  • 11. Eu passei a mão no estranho liquido viscoso e o levei até o nariz, não reconheci o cheiro, nem mesmo a textura era familiar. Ainda mais se levar o fato de ter vindo da garra de um lobisomem. - AHHH! – Velkan gritou de dor e se ajoelhou ao chão, abaixou a cabeça e gemeu agoniado. Eu o ajudei a levantar colocando seu braço esquerdo sobre meu ombro para que pudéssemos sair dali. - Aonde vamos liam? – Ele disse com um tom de dor em sua voz. - Embora antes que outros desses apareçam. – Olhei para trás examinando a densa escuridão que parecia nos observar enquanto caminhávamos para longe dali. - Espere, eu acho que consigo andar sozinho. – Velkan cambaleou um pouco quando se soltou de mim. Ele olhou para o corte profundo no braço e sorrindo disse: Ele me pegou de jeito. Enquanto nós nos dirigíamos para fora da ponte eu pude ver a garota que seria a vitima da noite esticada ao chão completamente imóvel. Pensei que talvez Velkan pudesse se alimentar. Seria bom para curar mais rápido a ferida, Talvez velkan estivesse fraco a ponto de não conseguir se regenerar sozinho. - Talvez esse ferimento se regenere mais rápido se voce se alimentar. – Eu disse induzindo-o a morder a garota da qual nos aproximávamos. Ao ouvir as palavras e entender o tom da mesma, ele sorriu da sua maneira psicótica para mim. - Ótima ideia meu caro. – Disse velkan que em um piscar de olhos chegou até sua presa. Eu o segui e cheguei logo depois. Velkan ajoelhou ao chão e colocando sua mao esquerda sobre as costas da garota aproximou-a de seu corpo que agora estava curvado sobre ela. Suas presas desceram novamente e ele aproximou os lábios de seu pescoço gélido. Seus dentes cravaram com firmeza na frágil pele e uma gota de sangue escorreu. Os olhos da garota se abriram e arregalados pareciam gritar de dor. Velkan se quer percebeu, sugou com força uma boa quantidade de sangue dela, e quando o mesmo tocou seus lábios e sua língua um gosto de ferrugem desceu por sua garganta e queimou enquanto ele o engolia. Imediatamente ele a soltou e começou a cuspir. A garota começou a tossir quase como um suspiro de vida e levando suas mãos ao pescoço sentiu dois orifícios por onde seu sangue havia saído. Quando levantou sua cabeça e seus olhos encontraram-se aos meus ambos estavam perplexos pelo que havia acontecido. Estava claro que ela, tanto quanto eu, de nada sabia.
  • 12. Algo muito estranho estava acontecendo e provavelmente algo muito pior estava por vir. Mesmo que um sangue infectado não faria isso a um vampiro, as doenças humanas não agiam em nós da mesma maneira, de alguma forma nosso organismo trabalhava de forma diferente das dos humanos. Ela não era humana, mas o que seria? Seu longo cabelo preto emoldurava seu fino rosto pálido. Apesar de pouca idade podia-se notar uma expressão de dores amortecidas com o tempo. - Não se preocupe- Eu disse enquanto me abaixava até ela - Não irei te machucar. Voce consegue caminhar? – Eu a fitei de maneira que pude sentir seus olhos frágeis sendo sustentados pelos meus. - Eu não sei, estou me sentindo fraca. Aproximei-me um pouco mais dela e antes que eu a pegasse no colo ela recuou com medo, e eu disse que tudo ficaria bem. Seus braços envolveram meu pescoço e ela repousou a cabeça em meu peito. Fora tudo tão absurdamente familiar, para mim ao menos, era um colo do qual eu sentia que conhecia, tinha uma fragilidade semelhante, e uma solidão mutua. - Velkan, venha! – Eu disse apressando-o, ele ainda estava balbuciando xingamentos, palavras jogadas ao vento e ditas para si mesmo em voz alta. Seu ferimento não tinha regenerado, pelo contrario parecia estar piorando. - Aonde vamos? – Perguntou ele enquanto tentava induzir uma tosse para que algo saísse de sua garganta. Certamente o sangue ainda o incomodava. - Encontrar respostas. - Desviei o olhar para a garota e com apenas um olhar ela entendeu que nada de mal viria de nos dois. Velkan e eu saímos dali o mais rápidos que conseguimos, por estar ferido ele não conseguia correr na velocidade que antes corria, por isso diminui o passo para deixa-lo me acompanhar. Em segundos desaparecemos na escuridão sorrateiramente deixando apenas o silencio e o resto de uma batalha que o vento logo levaria embora. ~ (continua)