O poema expressa saudades de aspectos da infância e do passado do Brasil como café com pão, beijos no portão, respeito à polícia e presidente. Expressa também preocupação com problemas atuais como violência, desconfiança, sexualização precoce e perda de inocência das crianças.
2. Ando com saudades de café com pão;
De namorados dando beijinhos no portão;
De pedir bênção a pai e mãe
(Deus te abençoe);
Do sinal-da-cruz que fazia quando passava na
frente da igreja;
3. De ver um varal cheio de roupa com cheiro
apenas desabão;
De ver alguém sorrindo enquanto lava a louça
com bucha vegetal;
De sentir respeito pela polícia;
De cantar o Hino Nacional com mão no peito e
lágrimas nos olhos;
De acreditar que o Brasil ganhou a Copa do
Mundo porque jogou direito;
4. De saber que o Zezinho, filho do porteiro, não vai morrer
de dengue;
E que Maria feirante poderá ter um filho médico.
Saudades de homens que usavam apenas o assobio como
galanteio. Fiu-fiu!
5. Morro de saudades do tempo em que um
presidente de uma nação era o mais
respeitado cidadão do país.
Que cadeia era lugar só de ladrão.
Acho que andaram invertendo a situação.
Ando com saudades de galinha de galinheiro;
6. De macarrão feito em casa com
tempero sem agrotóxico;
De só poder tomar guaraná em dia de
festa;
De homens de gravatas;
De novela com final feliz;
De pipoca doce de pipoqueiro;
De dar bom-dia à vizinha;
7. De ouvir alguém dizer obrigado ao
motorista e ele frear devagarzinho,
preocupado com o passageiro.
Saudades de gritar que a porta está
aberta para os que chegam.
Um saco destrancar tanto “papaiz”.
8. Do tempo em que educação não era
confundida com autenticidade.
Hoje, se fala o que quer em nome de
uma "tal" verdade e pedir perdão virou
raridade.
De ver no céu pipas não atingidas pelo
efeito estufa.
9. Saudades das chuvas sem acidez,
que não causavam aridez.
Saudades de poder viajar sem
medo de homem-bomba;
De ser recebido com pompa em
outra nação.
Atualmente, reina a desconfiança no
coração.
10. Sinto muitas saudades do rubor das
faces de minha mãe quando se falava
de sexo totalmente sem nexo.
Hoje, ele é tão banal que até eu
banalizei.
Acho que a maior saudade que tenho é
a saudade de tudo que acreditei.
11. Para meus filhos não poderei deixar
sequer a esperança.
Hoje, já não se nasce criança...
Texto enviado por Formatado por
Lilita SylvioNatal@yahoo.com.br