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PROPOSTA DE CRIAÇÃO DO 
PARQUE NACIONAL 
DA SERRA DO GANDARELA 
Fotografias: Alice Okawara, André Salgado, Saulo Albuquerque e Internet 
setembro de 2010
2 
PARQUE NACIONAL DA SERRA DO GANDARELA 
ESTUDOS TÉCNICOS PARA A CRIAÇÃO DE UNIDADE 
DE CONSERVAÇÃO FEDERAL 
ÍNDICE 
Seção Página 
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................. 3 
2. OBJETIVOS.................................................................................................................................................. 4 
3. MÉTODOS.................................................................................................................................................... 4 
4. CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA.................................................................................................. 5 
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA PROPOSTA............................................................................................... 8 
5.1. O QUADRILÁTERO FERRÍFERO: RELEVÂNCIA PARA CONSERVAÇÃO E SITUAÇÃO ATUAL......... 11 
5.1.1. Vegetação dos Campos Ferruginosos ou “Cangas”.................................................................... 11 
5.1.2. Floresta Estacional Semidecídua................................................................................................ 21 
5.1.3. Aves no Quadrilátero Ferrífero.................................................................................................... 25 
5.1.4. Mamíferos no Quadrilátero Ferrífero........................................................................................... 29 
5.1.5. Outros Registros de Fauna.......................................................................................................... 33 
5.2. USO DO SOLO.......................................................................................................................................... 34 
5.3. HIDROGRAFIA, RECURSOS HÍDRICOS E ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DE MINAS 
GERAIS............................................................................................................................................................. 38 
5.4. GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E GEOSSISTEMA............................................................................... 45 
6. POTENCIAL TURÍSTICO............................................................................................................................. 48 
7. AVALIAÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DOS MUNICÍPIOS 
ABRANGIDOS.................................................................................................................................................. 50 
7.1. Barão de Cocais............................................................................................................................. 50 
7.2. Caeté.............................................................................................................................................. 55 
7.3. Itabirito............................................................................................................................................ 59 
7.4. Nova Lima....................................................................................................................................... 64 
7.5. Ouro Preto...................................................................................................................................... 69 
7.6. Raposos.......................................................................................................................................... 74 
7.7. Rio Acima........................................................................................................................................ 79 
7.8. Santa Bárbara................................................................................................................................. 83 
7.9. Síntese dos Aspectos Sócio-Econômicos...................................................................................... 87 
8.CONCLUSÃO................................................................................................................................................. 88 
9. EQUIPE......................................................................................................................................................... 90 
10. AGRADECIMENTOS.................................................................................................................................. 90 
11. REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA............................................................................................................. 91 
12. ANEXOS..................................................................................................................................................... 95
1. INTRODUÇÃO 
A área de estudo localiza-se no Estado de Minas Gerais, na Serra do Espinhaço, mais 
especificamente no Quadrilátero Ferrífero, abrangendo partes dos municípios de Caeté, Nova 
Lima, Raposos, Rio Acima, Barão de Cocais, Itabirito, Ouro Preto e Santa Bárbara. Apesar de 
estar localizada muito próxima à Região Metropolitana de Belo Horizonte (os quatro primeiros 
municípios fazem parte da RMBH), a área apresenta baixa ocupação humana, havendo 
extensos e diversos ambientes naturais muito bem preservados e apresentando feições de 
relevo de excepcional beleza, notáveis também sob o ponto de vista geomorfológico. 
A importância da área que se pretende proteger está demonstrada em diversos estudos, 
tratando de diferentes aspectos bióticos e abióticos da região. O Quadrilátero Ferrífero é 
citado desde o século XIX, em trabalhos dos mais relevantes naturalistas da época, como 
Richard Burton, Peter Claussen, Marianne North, Johann M. Rugendas, Pierre Aime Pissis, 
Augustin Francois C. P. de Saint-Hilaire, Karl Friedrich Philipp von Martius, Eugenius Warming 
(Carmo, 2010). Destaca-se, de imediato, o fato da região ser o último fragmento significativo 
de áreas naturais em bom estado de conservação dentro do Quadrilátero Ferrífero, contendo 
importantes remanescentes de Mata Atlântica semidecídua, de vegetação de campos 
rupestres sobre canga e sobre quartzito, em transição com formações do Cerrado. A grande 
variedade de ambientes, típica de áreas de ecótone, está diretamente relacionada à riqueza 
de espécies existente e à elevada diversidade biológica. Tais atributos estão entre os mais 
relevantes para a proposição de criação de uma nova unidade de conservação da natureza. 
No caso da Serra do Gandarela, à alta diversidade soma-se o fator qualitativo, com taxas 
excepcionais de ocorrência de espécies raras, endêmicas, microendêmicas e ameaçadas de 
extinção. 
Outro ponto importante é a existência na área de uma quantidade expressiva e em bom 
estado de conservação do geossistema Canga/Itabirito, uma das formações mais ameaçadas 
do Brasil por sua inevitável coincidência com áreas de interesse minerário. Este geossistema 
não está protegido em nenhuma unidade de conservação de proteção integral no âmbito 
Federal e está muito pouco representado, pouco mais de 200 ha, em uma única unidade de 
conservação de proteção integral estadual (Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG). A 
posição estratégica entre unidades de conservação já existentes e o estado de conservação 
da área possibilita a formação de um corredor ecológico com elevada taxa de conectividade 
entre ambientes naturais, potencializando os efeitos benéficos da futura unidade para a 
conservação da natureza. 
Destaca-se ainda o fato de tratar-se de área de recarga de aqüíferos (característica intrínseca 
às cangas), com grande concentração de nascentes, córregos e rios que drenam para as 
bacias dos rios Conceição e das Velhas, importantes afluentes, respectivamente, dos rios 
Doce e São Francisco. Estes mananciais são considerados estratégicos inclusive para o 
abastecimento presente e futuro da região metropolitana de Belo Horizonte, em face do seu 
contínuo crescimento populacional. Há ainda a presença de lagoas temporárias de altitude, 
que são formações únicas e raras. A abundância de nascentes, córregos e rios, aliada à 
topografia acidentada, leva à existência de inúmeras cachoeiras. Esta variedade de corpos 
3
d’água de elevada beleza cênica contribui para outro importante atributo quando se propõe a 
criação de um Parque Nacional: um imenso potencial turístico. 
Não menos importante é a ocorrência de grande número de cavidades (cavernas) em canga, 
consideradas raras, sendo pelo menos quatro delas já indicadas para a classificação 
“relevância máxima” de acordo com os Decretos 99556/1990 e 6640/2008 e a IN-ICMBio 
02/2009 (Coelho et al. 2010). 
Além dos diversos aspectos que conferem à área importância para a conservação da 
natureza e das águas, há ainda atributos paleontológicos e históricos notáveis, que tornam 
ainda mais inequívoca a necessidade de preservação da área proposta para o Parque 
Nacional. Dentre estes podemos destacar: a existência de sítio paleontológico registrado, 
homologado pelo SIGEP (Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos) como 
patrimônio da humanidade e a existência de acervo arqueológico, e histórico (ruínas dos 
séculos XVIII e XIX e trechos da Estrada Real). 
Pelas suas características singulares, a área apresenta imenso potencial turístico e científico, 
e despertou o interesse social, existindo hoje uma grande mobilização de cidadãos, ONGs e 
instituições diversas no sentido da sua preservação. As reivindicações deste movimento 
popular estão amplamente divulgadas em diversos meios de comunicação e defendem a 
criação do Parque Nacional e a preservação de todos estes atributos que fazem da Serra do 
Gandarela um lugar singular. 
A proposta de criação de um Parque Nacional na região do Gandarela foi inicialmente 
apresentada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pelo 
Projeto Manuelzão/UFMG, através de ofício datado de outubro de 2009, com farta 
documentação anexa, tendo como base os estudos apresentados em dissertação de 
mestrado do Instituto de Geociências da UFMG. A análise da documentação enviada levou à 
formalização do processo número 02070.002759/2009-75 e posterior aprofundamento da 
análise da proposta. Esta análise confirmou sua pertinência, passando-se então aos estudos 
técnicos e à consolidação da proposta de criação de Unidade de Conservação Federal, 
conforme a Instrução Normativa – IN no 5/2008 do ICMBio, que apresentamos neste 
documento. 
2. OBJETIVOS 
Apresentar a proposta de criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, no Estado de 
Minas Gerais, justificar a sua importância e pertinência e identificar a localização, a dimensão 
e os limites mais adequados para a criação desta Unidade de Conservação Federal. 
3. MÉTODOS 
Este estudo se iniciou a partir da proposta do Projeto Manuelzão, apoiada por outras 25 
entidades. Procedeu-se então a uma revisão bibliográfica, incluindo a revisão de bases 
cartográficas e imagens de satélite. Concomitantemente, foram realizadas reuniões técnicas 
4
da equipe do ICMBio (CR-11 e CCUC) com colaboradores voluntários, para recolhimento e 
análise do material existente sobre o local e elaboração de um esboço de limites e dos 
atributos relevantes da região, que justificariam a criação de uma unidade de conservação 
federal. 
Para a conferência das informações e verificação in loco da relevância ambiental da área 
foram realizadas vistorias técnicas nos dias 18 de dezembro de 2009, 24 e 25 de março, 31 
de maio, 2 e 15 de junho de 2010. A equipe técnica do ICMBio, auxiliada por colaboradores 
voluntários, procedeu às vistorias, onde foram feitas anotações sobre pontos relevantes e 
fotografias digitais dos locais visitados, indexando-os à marcação dos trajetos e pontos 
visitados com o uso de GPS. Posteriormente, realizou-se o cruzamento das informações de 
campo com as informações da bibliografia, cartografia e imagens. Colaboradores elaboraram 
um dossiê com informações complementares, que foi analisado e juntado à documentação 
pré-existente. Procedeu-se então à organização, sistematização e montagem das bases 
cartográficas, das imagens e do texto final, consolidando-se a síntese da proposta. 
4. CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA 
Propostas de criação de novas unidades de conservação federais no Brasil podem nascer 
dentro do próprio órgão responsável pela sua criação e gestão (ICMBio) ou ser encaminhadas 
por pessoas ou entidades externas. No presente caso, a formalização do processo se deu 
pelo recebimento de um Ofício do Projeto Manuelzão. A apreciação técnica da documentação 
convenceu a Coordenação de Criação de Unidades de Conservação (CCUC) do ICMBio da 
pertinência de se considerar a possibilidade da criação de um Parque Nacional na área. 
A região do Quadrilátero Ferrífero, onde se insere a área em estudos, foi considerada de 
“prioritdade extremamente alta” pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), no estudo "Áreas 
Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da 
Biodiversidade Brasileira" (MMA 2004, 2007). A ação indicada pelo Ministério do meio 
Ambiente no referido documento para a região é a “criação de unidade de conservação de 
proteção integral”. 
A criação de novas unidades de conservação federais é a principal ferramenta adotada pelo 
MMA, através do ICMBio, para a proteção do patrimônio natural Brasileiro. Para a definição 
de quais seriam as áreas mais indicadas para este fim, tem havido algumas iniciativas, 
governamentais ou não, que visam categorizar as áreas com potencial para a criação de 
unidades de conservação de acordo com critérios de prioridade. 
Em 2005 foi publicado o estudo “Biodiversidade em Minas Gerais: um Atlas para a sua 
Conservação” realizado em parceria da Fundação Biodiversitas com o Instituto Estadual de 
Florestas - IEF/MG. Por meio da consulta a especialistas de diversos grupos taxonômicos. 
Este estudo definiu oficialmente as áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade 
em Minas Gerais (Biodiversitas, 2005). Entre as áreas classificadas como de importância 
biológica “especial” (a categoria de maior prioridade) está a área 85, correspondente ao 
Quadrilátero Ferrífero. As principais ameaças identificadas à biodiversidade do Quadrilátero 
5
são: 1) mineração, 2) expansão urbana, 3) agricultura, 4) queimadas. As ações propostas 
para a proteção da área são: 1) planos de manejo, 2) unidades de conservação (criação), 3) 
inventários, 4) recuperação, 5) educação ambiental. As justificativas para o grau de prioridade 
atribuída ao Quadrilátero são: “endemismo de anfíbios e plantas, alta riqueza de vertebrados, 
ambiente único no estado (campos ferruginosos)”. Entre os remanescentes de campos 
ferruginosos que ainda não foram destruídos no Quadrilátero, sobretudo pela atividade 
minerária, os mais significativos e bem conservados encontram-se na Serra do Gandarela 
(Carmo, 2010). 
Outro estudo que merece destaque foi realizado em parceria entre a Conservação 
Internacional do Brasil e o Instituto Biotrópicos de Pesquisa em Vida Silvestre, também com a 
participação de diversos especialistas, que procurou definir as áreas prioritárias para a 
conservação da biodiversidade na Cadeia do Espinhaço. Foi realizado um seminário em 
2006, na Serra do Cipó, que reuniu especialistas em diversos grupos taxonômicos e gestores 
de unidades de conservação, além de consultas via internet para a catalogação de registros 
de ocorrência de espécies da fauna e da flora nativas no Espinhaço. Entre os principais 
resultados deste esforço encontra-se o artigo publicado em 2008 que, com base em diversos 
critérios, incluindo relação custo/ benefício e grau de insubstituibilidade e complementaridade 
das áreas apontadas (Silva et al. 2008). Este estudo considera a Cadeia do Espinhaço como 
uma das regiões reconhecidas como “centro de endemismo e biodiversidade” que, apesar de 
sua importância, apresenta baixo grau de proteção. Neste sentido, haveria a necessidade de 
quase triplicar a área hoje protegida para que se tornasse efetiva esta proteção. Para tal são 
apontadas 27 áreas onde se recomenda a criação de novas unidades, entre as quais figura a 
região da Serra do Gandarela (Silva et al. 2008). 
Em 2008, a Associação Mineira de Defesa do Ambiente – AMDA e o Instituto Estadual de 
Florestas – IEF/MG, desenvolveram estudo denominado “Identificação de Áreas Prioritárias 
para a Implantação de Sistema de Áreas Protegidas e Corredores Ecológicos no Setor Sul da 
Região Metropolitana de Belo Horizonte”. Este documento apresentou áreas prioritárias ao sul 
da RMBH e detalhou ações com vistas à conservação de sua biodiversidade, recursos 
hídricos e paisagens. Mais uma vez, a Serra do Gandarela aparece em destaque com a clara 
vocação para a criação de uma nova unidade de conservação. Destacamos a seguir trechos 
deste estudo que ressaltam esta vocação: 
6 
“Setor V – Serra do Gandarela/ Cabeceira do rio Conceição” 
“Justificativas: Trata-se de uma ampla região com baixa ocupação antrópica, 
havendo extensos e diversos ambientes naturais preservados. Concentra-se 
neste setor um grande número de cursos d’água contribuintes da margem 
direita do rio das Velhas, representando significativo volume de água, 
utilizado no abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Esta 
água é captada pela COPASA na ETA de Bela Fama e é considerada a fonte 
mais importante de abastecimento da RMBH, captada na bacia do rio das 
Velhas.”
7 
“Relevo: As feições de relevo mais notáveis neste setor, que é possivelmente 
uma das regiões do Quadrilátero Ferrífero que guardam maior 
geodiversidade, são as serras que formam o arco do Espinhaço, destacando-se 
na paisagem. A diversidade de litótipos e o gradiente altitudinal permitem 
interações multivariadas entre os elementos dos sistemas abióticos e bióticos 
que se traduzem em expressiva riqueza de sítios ainda bem conservados, 
onde certamente haverá justificativas diversas para a criação de novas 
unidades de conservação, que já fizeram por incluí-la na Reserva da biosfera 
do Espinhaço.” 
“Hidrografia: A região abrange parte do divisor entre as grandes bacias dos 
rios São Francisco e Doce, representados pelo rio das Velhas e pelos rios 
Conceição e Socorro ou Barão de Cocais, este com suas nascentes no 
segmento da Serra do Gandarela. A região com altitudes acima de 1.650 
metros é forte produtora de água, possuindo milhares de nascentes, 
drenando para esses dois grandes sistemas hidrográficos.” 
“Cobertura vegetal: A vegetação compreende formas de campos rupestres, 
campos graminosos, cerrados e florestas, todos em bom estado de 
preservação.” 
“Conectividade de ambientes naturais: A taxa de conectividade é elevada. 
Ambientes campestres e savânicos se conectam pelas maiores altitudes e os 
florestais predominam nas menores cotas, atravessando a cadeia de 
montanhas pelas grotas encaixadas das maiores altitudes.” 
“Oportunidades: Esta área apresenta a mais extensa região ocupada por 
ambientes naturais da porção metropolitana de Belo Horizonte e produz 
grande volume de água de vital importância para a população humana 
regional. 
Por abranger porções das bacias do rio das Velhas, por conseqüência do rio 
São Francisco, e do rio Doce, todas elas com programas institucionais 
relacionados à sua conservação e revitalização ambiental, têm-se um amplo 
leque de oportunidades de se criar estratégias de preservação.” 
Outra fonte de argumentos em favor da preservação da Serra do Gandarela provém de 
trabalho realizado pelo Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM, intitulado “Contribuição do 
IBRAM para o zoneamento ecológico-econômico e o planejamento ambiental de municípios 
integrantes da APA-SUL RMBH”. Este estudo incluiu a classificação de imagens por 
sensoriamento remoto (IBRAM, 2003) que resultou em mapas que, sobrepostos à proposta 
de criação do Parque, atestam a sua relevância e vocação para a conservação da 
biodiversidade, como será demonstrado à frente (Figuras 5.2.1, 5.2.2 e 5.2.3). 
Há, portanto, uma farta documentação recomendando a tomada de medidas para a proteção 
e a preservação dos atributos naturais da Serra do Gandarela. Faz-se adiante neste 
documento o detalhamento de alguns pontos considerados como de maior relevância para tal.
5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA PROPOSTA 
A área proposta está situada na Cadeia do Espinhaço, em sua porção meridional, no 
Quadrilátero Ferrífero, a maior parte na região conhecida como Serra do Gandarela, de 
grande destaque no que se refere à existência de remanescentes muito bem preservados de 
campos sobre cangas, campos rupestres sobre quartzito, mata atlântica semi-decidual, 
cavernas em canga (pelo menos quatro de relevância máxima) e grande concentração de 
nascentes que vertem para as bacias dos rios Doce e São Francisco, através de seus 
tributários Conceição e das Velhas. Há ainda uma porção ao sul, em região conhecida como 
Serra.do Capanema, incluída com o intuito de proteger importantes áreas de campos sobre 
cangas e remanescentes de mata que, juntos, comporão um corredor entre duas unidades de 
conservação já existentes: a RPPN Santuário do Caraça e a Floresta Estadual de Uaimii. Os 
limites propostos, principais atributos, rede hidrográfica e participação por município estão 
ilustrados nas figuras 5.1 e 5.2. A área total da proposta e participação de cada município 
estão na Tabela 5.1. 
Esta proposta baseia-se no potencial que se observa dentro do polígono proposto para a 
conservação de uma grande quantidade de atributos naturais e culturais. Buscou-se 
maximizar a quantidade de alvos de conservação abrangidos e o potencial de integração com 
outras áreas protegidas. Com este desenho entende-se que preserva-se um significativo 
corredor de cangas, nas cristas das Serras do Gandarela e Capanema, que inclui-se um 
grande remanescente de Floresta Estacional Semidecídua, que protege-se as áreas de 
recarga de aqüíferos, nascentes e rios e lagoas mais bem preservados da região, que forma-se 
um corredor entre a RPPN Santuário do Caraça e a Floresta Estadual de Uaimii e que a 
futura uniadde de conservação teria um grande potencial turístico. 
É importante ressaltar que esta proposta de limites é preliminar e que, para se chegar aos 
limites definitivos é necessário ouvir a sociedade local, que deve ter considerações e 
contribuições relevantes para o aperfeiçoamento da proposta, como está previsto na IN no 
5/2008 do ICMBio e na própria Lei 9.985/2000 (SNUC), através da realização obrigatória de 
consulta pública. 
8 
Tabela 5.1: Área de cada município inserida na proposta e área total da proposta 
Nome do 
Município 
Área Total 
do Município 
(ha) 
Área Municipal 
dentro do Parque 
(ha) 
% do 
Município 
Afetado 
% do Parque 
por 
Município 
Barão de Cocais 34.160,0 2.150 6,3 5,6 
Caeté 54.070,0 3.240 6,0 8,5 
Itabirito 54.280,0 2.870 5,3 7,5 
Nova Lima 42.910,0 860 2,0 2,2 
Ouro Preto 124.490,0 2.180 1,8 5,7 
Raposos 7.190,0 3.670 51,0 9,6 
Rio Acima 22.950,0 6.590 28,7 17,2 
Santa Bárbara 68.270,0 16.650 24,4 43,6 
TOTAL: 38.210 100,0
9 
Figura 5.1: Limites propostos para o Parque Nacional da Serra do Gandarela, destacando alguns dos atributos mais importantes.
Figura 5.2: Distribuição da proposta entre os territórios dos municípios, com rede de drenagem fluvial. 
10
5.1. O QUADRILÁTERO FERRÍFERO: RELEVÂNCIA PARA CONSERVAÇÃO E 
SITUAÇÃO ATUAL 
A região conhecida como Quadrilátero Ferrífero (QF) compreende área de cerca de 7.200 km2 
na região central de Minas Gerais e no extremo sul da Cadeia do Espinhaço. Sua importância 
para a conservação está reconhecida pela sua inclusão, como um todo ou de áreas 
específicas, em todas as listas de áreas prioritárias para conservação em diversas escalas, 
conforme mencionado anteriormente. As ações concretas no sentido de sua proteção, no 
entanto, estão longe de fazer frente à ameaça representada pela mineração e pela 
urbanização. A atual tendência de crescimento da economia brasileira, fato positivo sob a 
maioria dos aspectos, torna ainda mais forte a ameaça, sobretudo à biodiversidade, às 
paisagens e às águas. Os principais alvos de conservação no QF são os campos 
ferruginosos, a floresta estacional semidecídua e os recursos hídricos. Além disso, a 
presença de espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção, de sítio paleontológico, de 
sítios históricos, dos atributos geológicos e geomorfológicos, do potencial turístico e de rios, 
lagoas e cachoeiras, bens de inquestionável valor para a humanidade, aumenta ainda mais a 
relevância da área. 
A Figura 5.1.1 (retirada de Carmo, 2010) mostra a localização do QF em relação à Cadeia do 
Espinhaço. Esta Cadeia é reconhecida mundialmente como um centro de diversidade e 
endemismo, sobretudo de flora (Giulietti et al., 1997; Rapini et al., 2008), mas também de 
anfibios (Eterovick, 2003; Leite et al., 2008) e aves (Silva & Bates, 2002; Vasconcelos et al., 
2008). A porção mineira da Cadeia do Espinhaço situa-se em divisor de águas entre 
importantes bacia hidrográficas brasileiras (São Francisco a oeste, Doce e Jequitinhonha a 
leste) e também no limite entre biomas: Mata Atlântica a leste e Cerrado a oeste. Situa-se, 
portanto, no limite entre os dois “hotspots” brasileiros, ou seja, os biomas internacionalmente 
reconhecidos por abrigarem excepcional diversidade sob forte ameaça (Myers et al., 2000). 
Esta situação se encontra também no QF, embora sob graus de ameaça acima da média, 
como veremos a seguir. A Figura 5.1.2 (também de Carmo, 2010) destaca as áreas que 
concentram a maioria dos afloramentos de cangas do QF. 
5.1.1. Vegetação dos Campos Ferruginosos ou “Cangas” 
A preocupação com a situação dos ecossistemas encontrados nestas áreas peculiares, 
denominadas cangas, é relativamente recente. Uma das razões para isso é o seu relativo 
desconhecimento. As cangas ocorrem em poucos locais no Brasil, em fragmentos 
relativamente pequenos e representam uma fonte direta de riqueza mineral. Daí terem sido 
sempre vistas como áreas de “destinação natural” à mineração. As cangas da região do QF 
foram intensamente exploradas pela mineração desde os anos 30 do século XX até o 
presente. A Figura 5.1.3 (de Carmo 2010) ilustra exemplos da diversidade vegetacional das 
cangas do QF. 
A literatura sobre as cangas é incipiente. Os levantamentos já realizados, no entanto, 
permitem apontar alguns números notáveis. Em levantamentos florísticos realizados em 
11
quatro afloramentos de cangas, cujas áreas disjuntas totalizam menos de 300 ha, foram 
identificados 86 famílias, 250 gêneros e 458 espécies de plantas vasculares. Apenas 5% das 
espécies ocorreram em todas as cangas amostradas, caracterizando uma baixa similaridade 
florística (alta diversidade β) entre as localidades (Jacobi & Carmo, 2008a). 
Figura 5.1.1: A) A Cadeia do Espinhaco e em destaque o Quadrilatero Ferrifero, MG. Adaptado de 
Giulietti et al. (1997) por Carmo (2010); B) Mapa do relevo do setor mineiro da Cadeia do Espinhaco e 
em destaque o Quadrilatero Ferrifero. Adaptado de Miranda (2005) por Carmo (2010). 
12
Figura 5.1.2: Relevo do Quadrilatero Ferrifero (adaptado de Miranda, 2005) e as principais estruturas 
geologicas (Endo et al., 1991). A: Serra do Curral; B: Sinclinal Moeda; C: Sinclinal Gandarela; D: 
Chapada de Canga*; E: Sinclinal Alegria; F: Sinclinal Ouro Fino; G: Sinclinal Conta Historia; H: Sinclinal 
Dom Bosco. Retirado de Carmo (2010). 
*A Formacao Chapada de Canga representa uma unidade estratigráfica (Sant’Anna & Schorscher, 
1997). 
Em um trabalho recente, Carmo (2010) fez uma análise detalhada da situação das áreas de 
cangas do QF. De forma minuciosa, demonstrou a importância das cangas e a situação atual 
de ameaça e vulnerabilidade em que se encontram as áreas de canga, propondo áreas 
prioritárias para ações emergenciais de conservação de pelo menos uma amostra significativa 
deste singular ecossistema. 
13
Figura 5.1.3: Heterogeneidade ambiental e as diversas fisionomias vegetais encontradas em cangas no 
Quadrilátero Ferrífero. A) Extensos lajeados localizados na Chapada de Canga (Catas Altas) e as ilhas 
de vegetação formadas por Vellozia sp.; B) Vegetação rupestre em cangas localizadas na Serra de 
Capanema (Ouro Preto); C) Vegetacao rupestre localizada na Serra da Brígida (Ouro Preto); D) Lagoa 
localizada em Catas Altas; E) Escarpa com cerca de 20 m de altura localizada no P.E. Serra do Rola 
Moca (Nova Lima); F) Capão de altitude localizado na Serra da Moeda (Moeda). Retirada de Carmo 
(2010). Fotos: Flavio Fonseca. 
O parágrafo abaixo, extraído de Jacobi & Carmo (2008a) resume adequadamente a situação 
da vegetação de canga no QF: 
14 
“Os campos rupestres ferruginosos, conhecidos como vegetação de canga, 
estão concentrados no Quadrilátero Ferrífero, em áreas associadas a
15 
gigantescos depósitos de minério de ferro. É um dos ecossistemas menos 
estudados de Minas Gerais, embora entre os mais ameaçados, 
principalmente devido à intensa atividade mineradora associada a seus 
afloramentos de ferro. Os poucos e recentes levantamentos florísticos 
restritos a estes afloramentos, que somados não chegam a uma área de 260 
ha, indicaram uma alta diversidade alfa e beta. Em quatro levantamentos 
foram identificadas 86 famílias, 250 gêneros e 458 espécies de plantas 
vasculares, distribuídos nos diversos habitats resultantes de uma evolução 
geomorfológica muito peculiar. As espécies comuns a esses afloramentos, 
entretanto, não chegam a 5%. Comparadas com outros afloramentos 
rochosos, como os de quartzito, as cangas contribuem substancialmente para 
a diversidade regional da flora. Um dos grupos vegetais mais relevantes para 
a conservação de regiões metalíferas são as metalófitas, com espécies 
capazes de crescer na presença de metais tóxicos, podendo oferecer 
serviços ecológicos como a fitoextração, fitoestabilização e fitoprospecção. O 
incremento da atividade mineradora, aliado à carência de unidades de 
conservação que abrigam este ecossistema, constituem as principais 
ameaças aos campos rupestres ferruginosos.” 
De acordo com Jacobi & Carmo (2008b), quase não há áreas públicas protegidas incluindo 
afloramentos de cangas, como se vê na Tabela 5.1.1. A única é o Parque Estadual da Serra 
do Rola Moça, que protege apenas pouco mais de 200 ha desta formação (Figura 5.1.4). Este 
fator explica o alto grau de vulnerabilidade das áreas de canga. O QF está dividido em 
centenas de pequenos polígonos que delimitam áreas de requerimento ou licença de 
pesquisa, disponibilidade, requerimento ou licença de lavra, solicitados ao Departamento 
Nacional de Produção Mineral (DNPM) ou já concedidos (Figura 5.1.5). Esta destinação 
historicamente dada às áreas de canga leva à perda de grande quantidade de espécies, pois, 
como esta comunidade apresenta altos níveis de endemismo, ou seja, de espécies que só 
ocorrem nesta região, algumas espécies podem ainda nem ter sido descritas pela ciência. 
Várias destas espécies apresentam adaptações altamente específicas para a sobrevivência 
em solo com alto teor de metais. As chamadas “metalófilas” são plantas conhecidas em todo 
o mundo como portadoras de adaptações que levam ao aumento das concentrações destes 
metais em seus tecidos. O nível de concentração de metais nestas plantas pode ser mais 
elevado que o encontrado no solo (Jacobi & Carmo, 2008b). Este tipo de adaptação explica 
as altas taxas de endemismo, na medida em que torna estas espécies incapazes de 
sobreviver em solos que não tenham as altas concentrações de metais verificadas nas 
cangas. E faz com que esta flora tenha grande e pouco explorado potencial farmacológico. 
A Tabela 5.1.2, extraída de Carmo (2010), reforça a importância das cangas do ponto de vista 
da conservação da biodiversidade. Nela são listadas 89 espécies registradas nas cangas do 
QF, sendo 77 endêmicas ou provavelmente endêmicas, das quais 51 são citadas no livro 
“Plantas Raras do Brasil” (Giulietti et al. 2009). Destas espécies, onze são citadas na Lista 
Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção (MMA, IN 06/2008) e 40 foram
incluídas na Lista das Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora de Minas Gerais (Machado 
et al. 1998). 
Tabela 5.1.1: Unidades de Conservação públicas no sudeste brasileiro contendo afloramentos 
rochosos (traduzido do original em inglês de Jacobi & Carmo, 2008b) 
Tipo de Rocha Parques Nacionais Parques Estaduais 
16 
de Minas Gerais 
Área Total dos Parques 
(hectares) 
Canga — 1 3.900 
Granito 5 2 210.361 
Arenito 4 11 676.976 
O estudo de Carmo (2010) apresenta uma avaliação de 34 cangas, totalizando 4.891 ha, com 
relação à sua situação de ameaça. Nesta avaliação foram estabelecidas categorias de 
ameaça, onde apenas uma (0,5% da área avaliada) foi classificada como “relativamente 
estável”; 18 cangas ficaram na categoria “vulnerável”, 11 “em perigo” e quatro “criticamente 
em perigo”, conforme ilustra a Figura 5.1.6, extraída na íntegra de Carmo (2010).
Figura 5.1.4: Mapa de cobertura vegetal do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, no qual se observa a 
presença da formação de Canga em áreas restritas do Parque (figura extraída do Plano de Manejo do Parque 
Estadual do Rola-Moça, disponível em: 
http://www.biodiversitas.org.br/planosdemanejo/pesrm/dados/pdf/Pdf_encartes/Enc3_PESRM_EEF-995.pdf). 
17
Tabela 5.1.2: Espécies de plantas vasculares com alto valor para a conservação que ocorrem no 
Quadrilátero Ferrífero, MG. DG: distribuição geográfica; CG: endêmica ou presumivelmente endêmica 
de cangas do Quadrilátero Ferrífero; QF: Quadrilátero Ferrífero; PLR: planta rara (sensu Giulietti et al., 
2009); BR: Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção; MG: Lista das 
Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora do Estado de Minas Gerais; AE: ameaçada de extinção; 
EX: extinta; CR: criticamente em perigo; EN: em perigo; VU: vulnerável; NA: não ameaçada; DD: 
deficiência de dados. (Modificado de Carmo, 2010) 
18 
Família Espécie DG PLR BR MG 
Pteridófitas1 
Aspleniaceae Alplenium schwackei Christ QF AE CR 
Grammitidaceae Ceradenia warmingii (C. Chr.) Labiak QF AE CR 
Hymenophyllaceae Hymenophyllum silveirae Christ QF DD CR 
Lomariopsidaceae Elaphoglossum badinii Novelino QF 
Lycopodiaceae Huperzia rubra (Cham. & Schltdl.) Trevis QF AE CR 
Angiospermas 
Acanthaceae Staurogyne minarum (Nees) Kuntze QF X 
Staurogyne vauthieriana (Nees) Kuntze QF X DD EN 
Staurogyne warmingiana (Hiern) Leonard QF X AE CR 
Annonaceae Annona saffordiana R.E. Fries QF X 
Apocynaceae Ditassa longisepala (Hua) Fontella & E.A.Schwarz QF X VU 
Ditassa monocoronata2 (Rapini) T.U.P. Konno & 
Rapini 
CG DD EN 
Ditassa myrtilloides6 Fenzl ex E. Fourn. QF 
Ditassa pedunculata6 Malme QF EN 
Araliaceae Schefflera lucumoides (Decne. & Planch. ex 
Marchal) Frodin & Fiaschi 
QF X VU 
Asteraceae Chionolaena lychnophorioides Sch.Bip. X DD VU 
Dasyphyllum trychophyllum X DD 
Stevia resinosa Gardner QF X DD 
Bignoniaceae Lundia damazii DC. QF X 
Bromeliaceae Billbergia amoena var. minor3 (Antoine & Beer) 
L.B. Sm. 
QF 
Billbergia elegans3 Mart. ex Schult.& Schult. f. QF 
Cryptanthus caracensis3 Leme & E. Gross QF DD VU 
Cryptanthus glaziovii3 Mez QF DD VU 
Cryptanthus schwackeanus3 Mez QF VU 
Dyckia bracteata (Wittm.) Mez QF X NA 
Dyckia consimilis3,4 Mez CG DD 
Dyckia densiflora3,4 Schult. & Schult. f. CG X DD 
Dyckia elata3 Mez QF 
Dyckia schwackeana3,4 Mez CG CR 
Dyckia simulans3 L.B. Sm. QF DD 
Dyckia trichostachya3 Baker QF DD 
Nidularium linehamii3 Leme QF 
Vriesea clausseniana3 (Baker) Mez QF EN 
Vriesea longistaminea3,7 C.C.Paula & Leme CG DD CR 
Vriesea minarum3,4 L.B. Sm. CG DD VU 
Cactaceae Arthrocereus glaziovii4 (K.Schum.) N.P.Taylor & 
Zappi 
CG X DD CR 
Cipocereus laniflorus N.P.Taylor & Zappi QF X AE CR 
Caryophyllaceae Paronychia fasciculata Chaudhri QF X DD
19 
Celastraceae Maytenus radlkoferiana Loes QF X DD 
Eriocaulaceae Actinocephalus falcifolius (Koern.) Sano QF X CR 
Leiothrix gomesii Silveira QF X EX 
Paepalanthus conduplicatus Koern. X 
Paepalanthus flaviceps Koern. QF X CR 
Paepalanthus garimpensis Silveira QF X CR 
Paepalanthus langsdorffii (Bong.) Koern. QF X 
Paepalanthus xiphophyllus Ruhland QF X DD 
Fabaceae Chamaecrista caracencis (H.S.Irwin & Barneby) 
H.S.Irwin & Barneby 
QF X 
Chamaecrista itabiritoana (H.S.Irwin & Barneby) 
H.S.Irwin & Barneby 
QF X 
Chamaecrista pilicarpa (Harms) H.S.Irwin & 
Barneby 
QF X 
Mimosa calodendron4 Mart. ex Benth. CG 
Gentianaceae Deianira damazioi E.F.Guim. QF X 
Gesneriaceae Sinningia4 rupicola (Mart.) Wiehler CG VU 
Lamiaceae Hyptidendron claussenii (Benth.) Harley QF X AE VU 
Hyptis rhypidiophylla Briq. QF X AE VU 
Hyptis tricephala A.St.-Hil. ex Benth. QF X DD VU 
Lauraceae Cryptocarya sellowiana P.L.R. de Moraes QF X 
Persea pedunculosa Meisn. QF X DD NA 
Malpighiaceae Banisteriopsis salicifolia (DC.) B. Gates QF X DD 
Melastomataceae Cambessedesia pityrophylla (Mart. ex DC.) 
A.B.Martins 
QF X DD 
Eriocnema acaulis Triana QF X AE DD 
Eriocnema fulva Naudin QF X AE CR 
Lavoisiera punctata Mart. & Schrank. ex DC X DD 
Microlicia cuspidifolia Mart. QF X DD DD 
Microlicia glazioviana Cogn. QF X DD DD 
Microlicia microphylla (Naudin) Cogn. QF X DD DD 
Microlicia suborbicularifolia Hoehne QF X 
Trembleya calycina Cham. QF X DD 
Trembleya rosmarinoides DC QF X DD 
Monimiaceae Macropeplus schwackeanus (Perkins) I. Santos & 
Peixoto 
X DD 
Myrtaceae Accara elegans (DC.) Landrum X DD VU 
Campomanesia prosthecepala Kiaersk. QF X DD 
Ochnaceae Luxemburgia corymbosa A.St.-Hil QF X DD CR 
Oleaceae Chionanthus greenii Lombardi QF X 
Orchidaceae Habenaria itacolumia Garay QF X AE CR 
Oncidium gracile4 Lindl. CG DD CR 
Sophronitis milleri4 (Blumensh. ex Pabst) Van den 
Berg & M.W. Chase 
CG DD CR 
Orobanchaceae Agalinis schwackeana (Diels) V.C. Souza & Giul. X DD 
Passifloraceae Passiflora hypoglauca Harms. X DD 
Plantaginaceae Stemodia lobata J.A.Schmidt X DD 
Poaceae Colanthelia distans (Trin.) McClure QF X CR 
Paspalum brachytrichum4 Hack. CG X CR 
Polygalaceae Securidaca acuminata A.St.-Hil. & Moq. X 
Symplocaceae Symplocos angulata Brand QF X DD
20 
Symplocos microstyla Aranha, P.W. Fritsch et 
Almeda 
QF X VU 
Velloziaceae Barbacenia williamsii L.B.Sm. QF X 
Vellozia sellowii Seub. QF X 
Verbenaceae Stachytarpheta ajugifolia Schauer X CR 
Stachytarpheta confertifolia5 Moldenke *CG CR 
Xyridaceae Xyris nigricans L.A.Nilsson X AE EN 
Xyris villosicarinata Kral & Wand. QF X 
1: Salino & Almeida, 2008 
2: Rapini et al., 2002 
3: Versieux et al., 2008 
4: Viana, 2008 
5: Atkins, 2005 
6: Rapini, 2000 
7: Leme & Paula, 2004 
* S. confertifolia possui distribuição disjunta no estado de Goiás. 
Figura 5.1.5: Títulos minerários para ferro em regiões de cangas e formações ferríferas bandadas no 
Quadrilátero Ferrífero, MG. (Extraído de Carmo, 2010)
Figura 5.1.6: Total das áreas (ha) das 34 cangas avaliadas e suas respectivas categorias de ameaça. 
CR: Criticamente em perigo (n = 4); EP: Em perigo (n = 11); VU: Vulnerável (n = 18); RE: 
Relativamente estável (n = 1). Extraído de Carmo (2010). 
5.1.2. Floresta Estacional Semidecídua 
A Mata Atlântica é, sem dúvida, o bioma mais alterado pela ocupação humana no Brasil. O 
processo se iniciou antes mesmo da chegada dos colonizadores europeus, já que as práticas 
agrícolas dos indígenas incluíam o uso do fogo para a limpeza de áreas para plantio (Dean, 
1996). Os efeitos dessas práticas, no entanto, dificilmente são perceptíveis hoje, face à 
intensidade infinitamente maior do uso e ocupação a partir da chegada dos europeus. É muito 
recente a preocupação com a devastação da vegetação nativa, em especial da Mata 
Atlântica. Foram quase 500 anos de expansão ininterrupta da ocupação dos espaços antes 
cobertos pelas diversas fisionomias enquadradas no domínio da Mata Atlântica. Como 
resultado, restam apenas cerca de 8% da área original do bioma ainda cobertos de 
remanescentes em condições de razoáveis a boas de preservação (Galindo-Leal & Câmara, 
2005). Ainda mais grave é a situação das Matas Estacionais: este tipo florestal correspondia a 
cerca de 48% da área original do bioma (Câmara 2005) e dele restam apenas cerca de 3% da 
cobertura original (Figura 5.1.7, Galindo-Leal & Câmara, 2005). Justamente esta fitofisionomia 
é encontrada na região do Gandarela (Figura 5.1.8) e corresponde a cerca de 48% da área 
proposta para o Parque Nacional da Serra do Gandarela (Figura 5.2.1). Trata-se de um 
tesouro precioso em plena região metropolitana de Belo Horizonte. 
O texto abaixo, não publicado, foi gentilmente cedido pelas pesquisadoras Luciana Hiromi 
Yoshino Kamino e Tereza Cristina Spósito (Comunicação pessoal), e acrescenta informações 
relevantes sobre as formações florestais encontradas na Serra do Gandarela, contribuindo 
para atestar a relevância destas formações e a importância de sua proteção. 
21
22 
“A formação florestal predominante na Serra do Gandarela é a Floresta 
Estacional Semidecídua, sendo que a maior parte se encontra nos estágios 
médio e avançado de regeneração. Existem ainda algumas ocorrências de 
mata em estágio primário. A Mata Primária localizada-se nas encostas 
íngremes adjacentes às cangas em vales encaixados, com dossel superior a 
20m de altura e com ocorrência de árvores emergentes com mais de 30m 
(Cariniana legalis). Observa-se a presença de indivíduos pioneiros de forma 
aleatória e pontual (Cecropia hololeuca – embaúba-branca), sugerindo 
dinâmica de clareira de mata madura (Oliveira-Filho, comunicação pessoal). 
Destaca-se a ocorrência de Euterpe edulis, o palmito-jussara, espécie 
ameaçada de extinção na categoria ‘Em Perigo’ (Fundação Biodiversitas 
2009). Observa-se ainda uma riqueza e abundância de epífitas das famílias 
Araceae, Orchidaceae e Bromeliaceae e de pteridófitas (Asplenium harpeodo, 
Pecluma trumcorum, Selaginela flexuosa e Thrichomanes sp.). O sub-bosque 
é composto principalmente por espécies da família Melastomataceae, 
Myrtaceae, Rubiaceae e Piperaceae. Observa-se ainda a presença da 
pteridófita Marattia cicutifolia, ocorrente somente em matas em bom estado 
de conservação (Prof. Alexandre Salino, UFMG, comunicação pessoal). Além 
dessas, estão presente ainda Alsophila setosa (samambaiaçu) e Asplenium 
mucronatum (epífita), pteridófitas indicadoras de matas úmidas. Estas duas 
últimas espécies são consideradas o primeiro registro para o Quadrilátero 
Ferrífero e segundo registro para o estado de Minas Gerais, conhecidas 
apenas na serra do Itambé do Mato Dentro (Salino & Almeida, 2008). 
Nos pontos de maior altitude, variando entre 1.100 m e 1.600 m, ocorrem 
capões isolados de matas nebulares. Algumas vezes, esses capões crescem 
sobre antigas dolinas formadas pelo desabamento dos tetos das cavernas de 
canga. A composição florística inclui espécies típicas de altitude e aquelas 
ocorrentes em áreas de grande umidade, como espécies de Drimys 
brasiliensis, Eremanthus incanus, Ilex spp., Ouratea semiserrata e espécies 
da família Lauraceae (Oliveira-Filho e Fontes 2000). 
As florestas ciliares e as de galerias estão presentes em quase todos os 
cursos d’água, em ótimo estado de conservação, sendo que a maioria 
ultrapassa os limites das Áreas de Preservação Permanente – APP 
determinadas no Código Florestal. Essas florestas têm caráter perenifólio nas 
margens dos cursos d’água e semidecíduo nas encostas adjacentes. No 
dossel há predomínio de espécies arbóreas emergentes que chegam 
alcançar 20 m de altura. Como exemplos citamos as espécies Anadenanthera 
colubrina, Byrsonima stipulacea (espécie ameaçada de extinção na categoria 
‘Vulnerável’), Copaifera langsdorffii, Cupania vernalis, Dalbergia nigra 
(espécie ameaçada de extinção na categoria ‘Vulnerável’), Melanoxylon 
brauna (espécie ameaçada de extinção na categoria ‘Vulnerável’) e 
Piptadenia gonoacantha.
23 
Esses remanescentes florestais constituem um corredor ecológico unindo a 
Serra do Gandarela, a Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do 
Caraça e a Floresta Estadual de Uaimií, conservando importantes áreas de 
floresta na região. Considerando o alto nível de destruição ambiental e 
exploração ocorrente no Quadrilátero Ferrífero, a Serra do Gandarela possui 
grande vocação para a conservação da biodiversidade.” 
Figura 5.1.7: Porcentagem de remanescentes florestais (em preto) nas diferentes regiões 
biogeográficas do hotspot Mata Atlântica. Note-se que as Florestas Estacionais (Florestas de Interior) 
são, entre todas as variantes da Mata Atlântica, aquelas com menor percentual de remanescentes 
(3%), enquanto a porcentagem remanescente do bioma como um todo é de cerca de 8% (Figura 
retirada de Galindo-Leal & Câmara, 2005).
Figura 5.1.8: Imagens da Mata Estacional Semidecidual encontrada na Serra do Gandarela e da 
ameaça que a cerca com o avanço do uso e da ocupação da região (Fotos: A: Alice Okawara; B: Paulo 
Baptista; C: Alice Okawara). 
24
5.1.3. Aves no Quadrilátero Ferrífero 
Ferreira et al. (2009) realizaram um levantamento da avifauna de uma Reserva Particular do 
Patrimônio Natural, a RPPN Mata Samuel de Paula (MSP, com área de 147 ha), no município 
de Nova Lima. O trabalho resultou em uma lista de espécies e em uma análise comparativa 
com levantamentos realizados anteriormente em outras cinco áreas protegidas do QF. 
Os levantamentos usados na comparação foram realizados no Parque Estadual do Itacolomi 
(PEI, 7.543 ha), na RPPN Santuário do Caraça (11.233 ha), no Parque Natural Municipal 
Paredão da Serra do Curral (PPSC, 39 ha, Belo Horizonte), na “Estação de Pesquisa e 
Desenvolvimento Ambiental de Peti” (EPDA Peti, 605 ha, pertencente à CEMIG – não é uma 
unidade de conservação do SNUC) e no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM, 
3.941 ha). 
O conhecimento da composição regional da biota é essencial para um planejamento, que 
pretenda preencher as lacunas na proteção da biodiversidade, podendo sugerir a criação de 
novas áreas protegidas que incluam espécies mal representadas nas unidades de 
conservação já existentes. O Anexo 1 apresenta a lista das espécies registradas pelos 
autores na RPPN MSP. A Tabela 5.1.3 mostra apenas as espécies consideradas endêmicas 
ou incluídas em listas de espécies ameaçadas nas seis áreas protegidas que tiveram os 
levantamentos de avifauna analisados. 
Espécies classificadas como endêmicas são mais numerosas na Mata Atlântica que no 
Cerrado. Embora as áreas protegidas analisadas estejam dentro dos limites oficiais da Mata 
Atlântica, o QF é uma região de transição, sendo normal a presença de espécies dos dois 
biomas. Os autores ressaltam, no entanto, a baixa representatividade de espécies raras, 
endêmicas e ameaçadas, apesar de as áreas analisadas conterem fragmentos de mata. Esta 
escassez é apontada como um indício de que as áreas protegidas do QF não têm tamanho 
suficiente para abrigar uma comunidade de aves representativa. A Figura 5.1.9 representa 
gráfica e estatisticamente esta situação, mostrando que a representatividade de espécies 
raras é maior nas áreas protegidas de maior área, indicando que as áreas menores não são 
suficientes para conservar comunidades íntegras. Chamamos à atenção para o fato de que a 
maior destas áreas protegidas tem apenas 11 mil ha. Adicionando as áreas da Floresta 
Estadual de Uaimii (4.398 ha), da Estação Ecológica de Tripuí (337 ha) e do Monumento 
Natural da Serra da Piedade (1.945 ha) a soma de todas as áreas protegidas (sem as APAs) 
perfaz 30.188 ha, ou 4,19% da área do QF, o que evidencia a baixa proteção dos ambientes 
do QF e ressalta a necessidade da criação de unidades de conservação de proteção integral 
maiores, de modo a aumentar as chances de sobrevivência, principalmente das espécies 
mais vulneráveis, algumas já oficialmente ameaçadas de extinção. 
25
Tabela 5.1.3: Distribuição e situação de conservação das espécies ameaçadas e/ou endêmicas em 
seis Unidades de Conservação do Quadrilátero Ferrífero. Conservação: (gc) criticamente em perigo, 
(gp) em perigo, (gv) vulnerável e (gq) quase-ameaçado de extinção no mundo (BirdLife International 
2008); (rc) criticamente em perigo (rp), em perigo e (rv) vulnerável à extinção em Minas Gerais 
(Machado et al. 1998). Endemismo: (1) endêmica da Mata Atlântica, segundo Stotz et al. (1996); (2) 
endêmica do Cerrado e (3) endêmica dos topos de montanha do sudeste do Brasil, segundo Silva & 
Bates (2002) e Vasconcelos et al. (2003). Classificação taxonômica segundo CBRO (2008). Retirada 
de Ferreira et al. 2009). 
Espécies Endemismo e 
26 
conservação 
MSP PEI EPDA 
Peti 
RPPN 
Caraça 
PPSC PESRM 
Tinamus solitarius 1, gq, rc X** X** 
crypturellus noctivagus 1, gq, rc X*? 
Mergus octosetaceus 2, gc, rc X 
Penélope obscura Rv X X X 
Crax blumenbachii 1,gp, rc X** X** 
Odontophorus capueira 1, rv X X** 
Cathartes burrovianus 1 X 
Leucopternis polionotus 1, gq rp X 
Harpyhaliaetus coronatus Gp, rp X 
Spizaetus tyrannus rp X* 
Aramides saracura 1 X X X X 
Amazona vinacea 1, gv, rp X* 
Pyrrhura frontalis 1 X* X 
Primolius maracanã gq X* X 
Pulsatrix koeniswaldiana 1 X* X 
Strix hylophila 1, gq X 
Macropsalis forcipata 1,rv X 
Phaethornis eurynome 1 X X 
Aphantochroa cirrochloris 1 X 
Florisuga fusca 1 X X X X X 
Thalurania glaucopis 1 X X X X X X 
Leucochloris albicollis 1 X X 
Clytolaema rubricauda 1 X X 
Augastes scutatus 2, gq X X X X 
Trogon surrucura 1 X X X X 
Baryphthengus 
1 X* 
ruficapillus 
Malacoptila striata 1 X X 
Ramphastos dicolorus 1 X 
Melanerpes flavifrons 1 X*? 
Veniliornis maculifrons 1 X 
Piculus aurulentus 1, gq X 
Campephilus robustus 1, rp X 
Melanopareia torquata 2 X X X 
Mackenziaena leachii 1 X X X X X 
Mackenziaena severa 1 X X* X 
Formicivora serrana 1 X X* X X 
Drymophila ferruginea 1 X X X* X X 
Drymophila rubricollis 1 X
27 
Drymophila ochropyga 1,gq X X X 
Drymophila malura 1 X X 
Pyriglena leucoptera 1 X X X X X X 
Myrmeciza loricata 1 X X X 
Conopophaga lineata 1 X X X X X 
Hylopezus nattereri 1 X X 
Psilorhamphus guttatus 1, gq X* 
Scytalopus speluncae 1 X 
Scytalopus indigoticus 1, gq X X X X 
Chamaeza meruloides 1 X* X 
Sclerurus scansor 1 X X 
Xiphorhynchus fuscus 1 X X X X 
Lepidocolaptes 
1 X X X X 
squamatus 
Campylorhamphus 
falcularius 
1 X X 
Oreophylax moreirae 1 X 
Synallaxis ruficapilla 1 X X X X X 
Cranioleuca pallida 1 X X* X 
Phacellodomus 
1 X X* X X 
erythrophthalmus 
Philydor atricapillus 1 X*? 
Anabazenops fuscus 1 X X* 
Automolus 
leucophthalmus 
1 X X X X X 
Mionectes rufiventris 1 X X X X X 
Hemitriccus diops 1 X X 
Hemitriccus nidipendulus 1 X X X X 
Myiornis auricularis 1 X X X X* 
Todirostrum 
1 X X X X X 
poliocephalum 
Phyllomyias virescens 1 X* 
Polystictus superciliaris 3 X* X X X 
Phylloscartes eximius 1, gq X 
Knipolegus nigerrimus 1 X X X X X X 
Muscipipra vetula 1 X X* X 
Attila rufus 1 X*? 
Phibalura flavirostris Gq, rv X X 
Lipaugus lanioides 1,gq, rv X* X 
Pyroderus scutatus 1, rv X X X 
Neopelma aurifrons 1, gv X# 
Neopelma chrysolophum 1 X X 
Ilicura militaris 1 X X X X X X 
Antilophia galeata 2 X 
Chiroxiphia caudata 1 X X X X X X 
Schiffornis virescens 1 X X X X 
Laniisoma elegans rv X 
Hylophilus poicilotis 1 X*? X*? 
Cyanocorax cristatellus 2 X X* X X X 
Tachyphonus coronatus 1 X X X** X X X
28 
Thraupis ornata 1 X X X** X 
Euphonia cyanocephala 1 X* X 
Tangara seledon 1 X* 
Tangara desmaresti 1 X X* X 
Tangara cyanoventris 1 X X X X X 
Hemithraupis ruficapilla 1 X X X X X 
Porphyrospiza 
2, gq X* X X 
caerulescens 
Haplospiza unicolor 1 X X* X 
Poospiza cinérea 2, gv, rv X X* X 
Sicalis flaveola rv X* X** X 
Embernagra longicauda 3, gq X X X* X X X 
Saltator atricollis 2 X 
Basileuterus 
leucoblepharus 
1 X X X X 
(*) Espécies observadas por Carnevalli em EPDA Peti em 1989, em RPPN Caraça em 1980 e em PEI 
por Mattos na década de 80 e não observados nos levantamentos posteriores. 
(**) Espécies participantes de programas de reintrodução. 
(?) Espécies que podem ter sido registradas por erro de identificação. 
(#) registrada por Carnevalli em Peti em 1989, antes da revisão da espécie por Whitney et al. (1995). 
Figura 5.1.9: Relação entre número de espécies ameaçadas e área das Unidades de Conservação 
avaliadas. A regressão linear é significativa (F = 18,6275; R2 = 0,8232; p = 0,0137). (Retirado de 
Ferreira et al. 2009).
A RPPN Santuário do Caraça, vizinha à área proposta para o Parque Nacional da Serra do 
Gandarela, mantém sítio na internet no qual divulga informações sobre fauna 
(http://www.santuariodocaraca.com.br/cultura/biogeografia.php, consultada em 24/09/2010), 
onde assinala a ocorrencia de 339 espécies de aves, sendo 71 endêmicas da Mata Atlântica, 
4 endêmicas do Cerrado e 4 endêmicas dos topos de montanha do Sudeste do Brasil. 
Segundo o mesmo sítio na internet, quanto ao status de ameaça, 17 espécies estão incluídas 
em pelo menos uma das listas oficiais de espécies ameaçadas existentes (IUCN, espécies 
globalmente ameaçadas; lista nacional e lista estadual). Duas espécies são consideradas 
“vulneráveis” na lista da IUCN (“capacetinho-do-oco-do-pau”, Poospiza cinerea, e “cigarra-verdadeira”, 
Sporophila falcirostris) e 2 “em perigo” (“águia cinzenta”, Harpyhaliaetus 
coronatus, e “macuquinho-da-várzea”, Scytalopus iraiensis). Da lista oficial da fauna brasileira 
ameaçada de extinção foram registradas três espécies: “águia-cinzenta” (vulnerável), 
“macuquinho-da-várzea” (em perigo) e “cigarra-verdadeira” (vulnerável). Constam da lista 
oficial de espécies ameaçadas da fauna de Minas Gerais 15 espécies registradas neste 
levantamento. Na categoria “vulnerável”: “jacuaçu” (Penelope obscura), “uru” (Odontophorus 
capueira), “tesourinha-da-mata” (Phibalura flavirostris), “tropeiro-da-serra” (Lipaugus 
lanioides), “pavó” (Pyroderus scutatus), “chibante” (Laniisoma elegans), “capacetinho-do-oco-do- 
pau”, “canário-da-terra-verdadeiro” (Sicalis flaveola). Na categoria “em perigo”: “gavião-pombo- 
grande” (Leucopternis polionotus), “águia-cinzenta”, “gavião-pega-macaco” (Spizaetus 
tyrannus), “gavião-de-penacho” (Spizaetus ornatus), “pica-pau-rei” (Campephilus robustus), 
“cigarra-verdadeira”. Na categoria “criticamente em perigo”: “falcão-de-peito-laranja” (Falco 
deiroleucus). 
Vasconcelos et al (2008) registraram na região algumas espécies de importância para a 
conservação, podendo ser citadas a “águia-cinzenta” (Harpyhaliaetus coronatus) e Poospiza 
cinerea, espécie também ameaçada de extinção em Minas Gerais (Machado et al., 1998) e 
globalmente (BirdLife International, 2000). Outro registro importante é a existência de duas 
“IBAs” (sigla em inglês para “áreas importante para aves” – Important Bird Areas), que são 
áreas que se destacam pela ocorrência de espécies de aves endêmicas, na região do QF: a 
Serra do Caraça e Ouro Preto/Mariana (Bencke et al., 2006). 
5.1.4. Mamíferos no Quadrilátero Ferrífero 
Um levantamento da fauna de mamíferos realizado na “Estação de Preservação e 
Desenvolvimento Ambiental” de Peti (EPDA-Peti), pertencente à Companhia Energética de 
Minas Gerais (CEMIG), reserva particular de cerca de 600 ha, traz uma lista de espécies 
(Tabela 5.1.4) e algumas informações que, pela proximidade da área em relação à Serra do 
Gandarela, podem ser consideradas no atual contexto (Paglia et al. 2005). 
O total de espécies de mamíferos já registrados no Brasil era de 524, sendo 245 registrados 
em Minas Gerais. O QF é uma região de transição entre os biomas Cerrado e Mata Atlântica, 
o que contribui para um aumento de diversidade de espécies, pela presença de espécies 
típicas dos dois biomas. Na Mata Atlântica as espécies de mamíferos registradas eram 270, 
das quais 89 endêmicas ao bioma. Já para o Cerrado havia registro de 195 espécies, sendo 
29
19 endêmicas ao bioma (Paglia et al. 2005). A lista oficial brasileira de espécies ameaçadas à 
época continha 39 espécies, mas atualmente são 69 (Chiarello et al. 2008). 
A riqueza de espécies de mamíferos encontrada na EPDA-Peti foi considera alta para uma 
área de 600 ha, o que, segundo os autores, pode ser explicado, pelo menos parcialmente, 
pela localização na transição entre biomas. Das 46 espécies, 3 constavam da lista de 
espécies ameaçadas de Minas Gerais, uma delas também na lista brasileira, e uma constava 
como “vulnerável” na lista da IUCN. Os autores fazem comparações com dois levantamentos 
anteriores, de 1989 e de 1996. 15 das espécies encontradas pelo estudo de 2005 não haviam 
sido registradas nos dois estudos anteriores. Por outro lado, 14 espécies registradas por pelo 
menos um dos estudos anteriores não foram registradas no estudo de Paglia et al. (2005). Os 
autores consideram importante que novos estudos verifiquem se estas 14 espécies deixaram 
de ocorrer na EPDA-Peti ou se sua ausência foi um evento fortuito ou resultado de esforço de 
coleta insuficiente. 
Assim como no caso das informações referentes a aves, é evidente que o tamanho das áreas 
protegidas existentes no QF não é suficiente para garantir a sobrevivência de espécies de 
maior porte nem de uma diversidade de espécies representativa desta porção do bioma Mata 
Atlântica. 
Tabela 5.1.4: Espécies de mamíferos registradas (presente) e não registradas (ausente) na Estação de 
Preservação e Desenvolvimento Ambiental de Peti, São Gonçalo do Rio Abaixo, MG, entre maio de 
2002 e julho de 2004 (estudo de Paglia et al. 2005) e nos estudos anteriores lá citados (Fonseca et al., 
1989 e Tavares & Cesari, 1996). Status de conservação nas listas de espécies ameaçadas de Minas 
Gerais (MG), do Brasil (BR) e da International Union for Conservation of Nature (IUCN); VU – 
vulnerável; EP – em perigo; CR – criticamente em perigo. Modificado de Paglia et al. (2005). 
30 
Inventário (P = presente; A = ausente) 
Táxon 
Paglia et al. 2005 Estudos Anteriores 
Presença em listas de 
espécies ameaçadas 
(MG, BR ou IUCN) 
Chiroptera 
Chrotopterus auritus P P 
Carollia perspicillata P P 
Glossophaga soricina P P 
Anoura caudifer P P 
Chiroderma doriae A P VU (MG/IUCN) 
Phyllostomus hastatus A P 
Anoura geoffroyi A P 
Nyctinomops laticaudatus A P 
Molossus molossus A P 
Artibeus lituratus P P 
Artibeus cf. fimbriatus P P 
Sturnira lilium P P 
Peropteryx macrotis P A 
Plathyrhinus lineatus P P 
Plathyrhinus recifinus P A VU (MG/BR/IUCN) 
Pygoderma bilabiatum P P 
Vampyressa pussilla P P
31 
Desmodus rotundus P P 
Myotis cf. nigricans P P 
Myotis sp.1 P A 
Myotis sp.2 P A 
Rodentia 
Akodon cursor P P 
Bolomys lasiurus P A 
Blarinomys breviceps P A 
Calomys callosus P P 
Nectomys squamipes P P 
Oecomys trinitatis P P 
Oligoryzomys flavescens P A 
Oryzomys subflavus P A 
Oxymycterus dasytrichus P P 
Rhipidomys mastacalis P P 
Trinomys setosus P P 
Rattus norvergicus P P 
Kannabateomys amblyonyx A P VU (MG) 
Wilfredomys pictipes A P 
Sciurus aestuans P P 
Hydrochaeris hydrochaeris P P 
Agouti paca P P 
Dasyprocta agouti P P 
Didelphimorphia 
Marmosops incanus P P 
Didelphis albiventris P P 
Didelphis aurita P P 
Caluromys philander P A 
Philander frenata P P 
Gracilinanus agilis A P 
Carnivora 
Nasua nasua P P 
Procyon cancrivorus P P 
Eira barbara P P 
Galictis cuja A P 
Cerdocyon thous P P 
Chrysocyon brachyurus A P VU (MG/BR) 
Puma concolor A P CR (MG) VU (BR) 
Herpailurus yagouaroundi A P 
Primates 
Callithrix geoffroyi P P 
Callicebus nigrifrons P P 
Cebus nigritus A P 
Lagomorpha 
Silvilagus brasiliensis P P 
Artiodactila 
Mazama sp. P P 
Xenartha 
Dasypus sp. A P 
Tamandua tetradactyla P A EP (MG)
De acordo com o sítio da RPPN Santuário do Caraça na internet 
(http://www.santuariodocaraca.com.br/cultura/biogeografia.php, consultada em 
24/09/2010), registrou-se a ocorrencia de 66 espécies de mamíferos, dentre as quais se 
destaca o lobo-guará, como espécie-bandeira da unidade de conservação. Dez espécies de 
mamíferos ameaçados foram registrados, segundo o mesmo sítio na internet. Citamos as 
espécies, o status de ameaça e a lista na qual a espécie consta (estadual – MG, nacional – 
BR, ou global – IUCN): 1) Anta, Tapirus terrestris (em perigo, MG; vulnerável, IUCN); 2) guigó 
ou sauá (Callicebus nigrifrons, quase ameaçada, IUCN); 3) Lobo-guará, Chrysocyon 
brachyurus (vulnerável, MG; vulnerável, BR; quase ameaçada, IUCN); 4) Tamanduá-mirim, 
Tamandua tetradactyla (em perigo, MG); 5) Tamanduá-bandeira, Myrmecophaga tridactyla 
(em perigo, MG; vulnerável, BR; quase ameaçada, IUCN); 6) Tatu-do-rabo-mole, Cabassous 
unicinctus (vulnerável, MG); 7) Lontra, Lontra longicaudis (vulnerável, MG); 8) Jaguatirica, 
Leopardus pardalis (vulnerável, MG); 9) Onça-parda, Puma concolor (vulnerável, MG e BR); 
10) Cateto, Pecari tajacu (em perigo, MG). 
Há ainda registros extra-oficiais de mamíferos, entre os quais cabe destacar a ocorrência da 
onça pintada (Panthera onca), espécie criticamente ameaçada segundo a lista estadual de 
espécies ameaçadas e vulnerável segundo a lista nacional, que embora não conste de 
levantamentos publicados por especialistas, teve dois indivíduos apreendidos na Serra da 
Piedade pela Polícia Militar Ambiental de Minas Gerais que foram soltos na região da Serra 
do Gandarela (Figura 5.1.10). 
Figura 5.1.10: Dois machos de onça-pintada (Panthera onca) apreendidos na Serra da Piedade e 
soltos na região da Serra de Gandarela. Imagens cedidas pelo Cabo Euler, Policia Ambiental de Caeté. 
32
5.1.5. Outros Registros de Fauna 
O QF é citado como área altamente prioritária para a conservação da biodiversidade em 
Minas Gerais (Biodiversitas, 2005), sendo destacados para justificar este status o endemismo 
da flora e dos anfíbios. Não foram encontradas referências com informações detalhadas 
sobre anfíbios da região, mas dois estudos apresentam listas de espécies que contribuem 
para embasar nossa proposta. Leite et al. (2008) apresentam uma extensa lista de espécies 
registradas em toda a Cadeia do Espinhaço, da qual extraímos as espécies que são citadas 
como registradas no QF (Tabela 5.1.5) 
Canelas & Bertoluci (2007) realizaram levantamento dos anfíbios da RPPN Santuário do 
Caraça, cuja lista de espécies citamos na íntegra no Anexo 2. 
Tabela 5.1.5: Lista de espécies de anfíbios endêmicas à Cadeia do Espinhaço indicadas por Leite et al. 
(2008) como registradas apenas no Quadrilátero Ferrífero (QF) ou no Espinhaço Mineiro incluindo o 
Quadrilátero (EM). 
33 
Família Espécie Ocorrência 
Brachycephalidae Ischnocnema izecksohni QF 
Cycloramphidae Crossodactylodes bokermanni EM 
Thoropa megatympanum EM 
Hylidae Bokermannohyla alvarengai EM 
Bokermannohyla martinsi EM 
Bokermannohyla nanuzae EM 
Phasmahyla jandaia EM 
Phyllomedusa itacolomi QF 
Scinax curicica EM 
Scinax machadoi EM 
Hylodidae Hylodes uai QF 
Leiuperidae Physalaemus erythros QF 
Physalaemus evangelistai EM 
Finalmente, no que se refere à fauna, é importante registrar a questão da chamada “fauna 
troglomórfica” (invertebrados cavernícolas). Há indícios da existência de fauna troglomórfica 
pouco estudada, rara e microendêmica (Ferreira 2005, 2008), que só poderá ser melhor 
conhecida com mais estudos nas dezenas de cavernas ainda inexploradas que existem na 
área proposta para o Parque Nacional.
5.2. USO DO SOLO 
A área proposta apresenta baixa ocupação humana, havendo extensos e diversos ambientes 
naturais bem preservados. Para a descrição da situação de uso e ocupação do solo foram 
usados os mapas elaborados pelo Instituto Brasileiro da Mineração (IBRAM, 2003), além de 
vistorias em campo realizadas pela equipe do ICMBio. A érea trabalhada pelo IBRAM tem 
uma sobreposição de 88,3% com o perímetro proposto para o Parque, permitindo uma boa 
avaliação da situação, complementada por observações de campo. A terminologia utilizada 
no estudo do IBRAM foi “cobertura”, para o tipo de vegetação encontrado; “relevância”, para a 
importância de cada trecho do ponto de vista da conservação; e “tendência”, para a vocação 
atribuída a cada trecho. Os mapas com a sobreposição entre o trabalho do IBRAM e o 
perímetro proposto para o Parque, incluindo gráfico que mostra a porcentagem da área 
ocupada por cada classe estão nas figuras 5.2.1, 5.2.2 e 5.2.3. Verifica-se que há predomínio 
de “Floresta Nativa” (48,1% da área proposta para o Parque), “Cerrado” (16,3%), “Campo 
Natural” (12,3%), “Campo Rupestre” (9,9%) e “Capoeira” (9,4%). Há ainda afloramentos 
Rochosos que ocupam 1,3% da área. O uso do solo para a Atividade Agropastoril (1,21 %), 
de Reflorestamento (0,9%) e de Mineração (0,7%) era pouco significativo dentro da área 
proposta (Figura 5.2.1). Não há ocupação urbana dentro dos limites propostos. 
Quanto à “relevância” verifica-se que pelos critérios do estudo do IBRAM (2003), há grande 
predomínio de áreas classificadas como “muito relevantes” (58,2% da área proposta para o 
Parque) e “relevantes” (37,8%). Portanto, apenas 4,0% da área foram considerados “sem 
relevância” (Figura 5.2.2). 
A classificação por “tendência” do mesmo estudo aponta a evidente vocação da área para a 
conservação da natureza, chegando a 95,5% a parte da área cuja tendência indicada foi a 
conservação (Figura 5.2.3). 
Durante as vistorias realizadas pela equipe do ICMBio na área foram registradas 19 
edificações inseridas nos limites propostos, sendo: seis sedes de fazendas, dez sítios e 
quatro casas abandonadas, conforme pode ser observado na figura 5.2.4. 
34
35 
1,2% 1,3% 
12,3% 
9,9% 
9,4% 
16,3% 
0,7% 0,9% 
48,1% 
Figura 5.2.1: Classificação por “cobertura” de acordo com o estudo do IBRAM (2003); classificação 
sobreposta com o polígono proposto para o Parque Nacional. As áreas brancas são trechos incluídos 
na atual proposta que não fizeram parte do estudo do IBAM, que representam 11,7% da área proposta.
36 
4,0% 
37,8% 58,2% 
Figura 5.2.2: Classificação por “relevância” de acordo com o estudo do IBRAM (2003); classificação 
sobreposta com o polígono proposto para o Parque Nacional. As áreas brancas são trechos incluídos 
na atual proposta que não fizeram parte do estudo do IBAM, que representam 11,7% da área proposta.
37 
0,7% 0,05% 
4,6% 
95,5% 
Figura 5.2.3: Classificação por “tendência” de acordo com o estudo do IBRAM (2003); classificação 
sobreposta com o polígono proposto para o Parque Nacional. As áreas brancas são trechos incluídos 
na atual proposta que não fizeram parte do estudo do IBAM, que representam 11,7% da área proposta.
Figura 5.2.4: Edificações registradas nos limites propostos durante o trabalho de campo realizado pela 
equipe do ICMBio entre dezembro de 2009 e maio de 2010. 
5.3. HIDROGRAFIA, RECURSOS HÍDRICOS E ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO 
DE MINS GERAIS 
A Serra do Gandarela é a mais importante área de recarga de aqüíferos do Quadrilátero 
Ferrífero. O Quadrilátero tem reserva hídrica no aqüífero estimada em 5 bilhões de m3, dos 
quais estima-se que 4 bilhões de m3 estejam no geossistema canga/ formações ferríferas 
(IBRAM 2003). Na Serra do Gandarela estão cerca de 40% das áreas restantes de canga no 
Quadrilátero (Carmo 2010), o que permite inferir que são altamente significativas as reservas 
hídricas encontradas no aqüífero sob as cangas da região. 
38
Figura 5.3.1: Nascentes englobadas pela proposta do Parque Nacional da Serra do Gandarela, em 
levantamento feito em escala 1:50.000. 
A região do Gandarela situa-se nas cabeceiras de importantes tributários de dois dos maiores 
rios nacionais. Lá nascem grande parte das águas que formam o Rio das Velhas a oeste, que 
drena para o São Francisco, e o Conceição a leste, que corre para o Rio Doce. Levantamento 
feito por sensoreamento remoto, em escala 1:50.000, indicou a existência de mais de mil 
nascentes dentro do polígono proposto para a criação do Parque (Figura 5.3.1). O mesmo 
levantamento, se feito em escala mais detalhada, certamente levaria a um número ainda 
maior. Assim, embora ainda possam ocorrer alterações nos limites da presente proposta, não 
há dúvida quanto à grande concentração de nascentes, que se deve às características 
climáticas, topográficas, geológicas e geomorfológicas da área. A drenagem fluvial completa 
pode ser conferida na Figura 5.2. 
Este importante conjunto hídrico já conta com alguns instrumentos legais a protegê-lo, seja de 
forma direta ou indireta. Grande parte da área em estudo faz parte da APA Sul da RMBH, 
área de proteção ambiental que carece de instrumentos mais efetivos para a conservação dos 
inúmeros atributos levantados neste estudo. 
Na esfera estadual, o mais importante instrumento de ordenamento do uso e ocupação do 
solo em Minas Gerais é o seu Zoneamento Ecológio-Econômico (ZEE-MG, SEMAD et al. 
2008). O trabalho, realizado em convênio entre a Secretaria de Meio Ambiente e 
39
Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a 
Universidade Federal de Lavras (UFLA), resultou num amplo diagnóstico das potencialidades 
e fragilidades existentes em todo o território do Estado de Minas Gerais. Para este 
diagnóstico foram considerados, sob inúmeros aspectos: Pedologia, Geomorfologia, 
Geologia, Mineração, Clima, Recursos Hídricos, Flora, Fauna e questões Sócio-Econômicas. 
Este trabalho inclui a área em estudo para a criação do Parque Nacional da Serra do 
Gandarela, resultando nas figuras e na análise que se segue. 
7,6% 
1,6% 
0,8% 
90,0% 
Descrição Zonas Área (ha) 
Terras de baixa vulnerabilidade em locais de alto potencial social ZEE-1 311 
Terras de alta vulnerabilidade em locais de alto potencial social ZEE-2 34.402 
Terras de baixa vulnerabilidade em locais de médio potencial social ZEE-3 601 
Terras de alta vulnerabilidade em locais de médio potencial social ZEE-4 2.906 
Terras de baixa vulnerabilidade em locais de baixo potencial social ZEE-5 0 
Figura 5.3.2: Mapa sobrepondo o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Minas Gerais (ZEE-MG) 
e o polígono proposto para o Parque Nacional da Serra do Gandarela. Toda a área proposta se 
enquadra nas ZEE 1 a 4. De acordo com o ZEE-MG, portanto, 98% da área proposta apresentam “alta 
vulnerabilidade”. Quanto ao potencial social, 92% da área têm “alto potencial”, enquanto os 8% 
restantes têm “médio potencial social”. 
40 
Terras de alta vulnerabilidade em locais de baixo potencial social ZEE-6 0
Primeiramente apresentamos o enquadramento da área em estudo nas diversas Zonas 
Ecológico-Econômicas resultantes do ZEE-MG. Verifica-se que 90% da área enquadrou-se na 
ZEE-2, que corresponde a “terras com alta vulnerabilidade em locais com alto potencial 
social” (Figura 5.3.2). Este é um dado altamente positivo para a proposta do Parque, já que 
demonstra a necessidade de proteção e o alto potencial da população local para ajudar a 
realizá-la. Outros 8% da área estão na ZEE-4, correspondente a “terras com alta 
vulnerabilidade em locais com médio potencial social”. Apenas 2% da área encontram-se em 
zonas correspondentes a “terras com baixa vulnerabilidade”, nas ZEE-1 e 3. Não houve áreas 
enquadradas nas ZEE-5 e 6 (Figura 5.3.2). 
Grande parte das informações que levaram ao quadro mostrado na Figura 5.3.2 estão 
desmembradas na Figura 5.3.3, onde verificamos que 81% da área apresentam 
“vulnerabilidade ambiental muito alta”, enquanto 16% têm “vulnerabilidade ambiental alta” e 
3% têm “vulnerabilidade ambiental média” (Figura 5.3.3 A). No quesito “Prioridade para 
Conservação”, 79% da área são de “prioridade muito alta”; 14% de “prioridade alta” e 5% de 
“prioridade média”. Apenas 2% da área apresentam “prioridade baixa” (Figura 5.3.3 B). A 
“Integridade da Flora” é “muito alta” em 84% da proposta, “alta” em 6%, “média” em 3% e 
baixa em 7% da área proposta para o Parque (Figura 5.3.3 C). Finalmente, a “Vulnerabilidade 
à Erosão” foi classificada como “muito alta” em 41% da área, “alta” em 42%, “média” em 7%, 
“baixa” em 9% e “muito baixa” em 1% da área proposta para o Parque (Figura 5.3.3 D). 
Consideramos que estes parâmetros são, ao lado dos recursos hídricos, os que melhor 
demonstram a pertinência da proposta de proteção desta área, entre as muitas abordadas no 
ZEE-MG. 
O enquadramento dos corpos d’água contidos na área proposta para a criação do Parque fica 
em Classe Especial (Águas destinadas ao abastecimento doméstico, sem prévia ou simples 
desinfecção e à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas) e Classe 1 
(Águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento simplificado; à proteção das 
comunidades aquáticas; à recreação de contato primário – natação, esqui aquático e 
mergulho; à irrigação de hortaliças e frutas a serem consumidas cruas e à aqüicultura), 
conforme a resolução CONAMA 357/2005, nas bacias do Rio Piracicaba (DN 09/94) e do Rio 
das Velhas (DN 20/97). Esta já seria uma razão para extrema cautela na destinação das 
áreas cortadas por estes cursos d’água. O ZEE-MG apontou, em algumas de suas análises 
parciais, parâmetros como “vulnerabilidade dos recursos hídricos”, “vulnerabilidade dos 
recursos hídricos à contaminação” e “comprometimento das águas” superficiais e 
subterrâneas. Estes parâmetros estão classificados para a área proposta para a criação do 
Parque Nacional na Figura 5.3.4 (A – D). 
41
A B 
C D 
3.520 ha 
9,2% 
2.654 ha 
6,9% 
Figura 5.3.3: Mapas sobrepondo o polígono proposto para o Parque Nacional da Serra do Gandarela a 
quatro dos aspectos analisados para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Minas Gerais; 
A) Vulnerabilidade Ambiental; B) Prioridade para Conservação; C) Integridade da Flora; D) 
Vulnerabilidade à Erosão. 
Verifica-se que a vulnerabilidade é “alta” em 41% da área e “média” em 59% da proposta 
(Figura 5.3.4 A). A “vulnerabilidade à contaminação” é classificada como “muito alta” em 2%, 
“alta” em 26% e “média” em 34% da proposta. A vulnerabilidade à contaminação é “baixa” ou 
“muito baixa” em 38% da proposta (Figura 5.3.4 B). O comprometimento das águas, tanto 
superficiais quanto subterrâneas é bastante baixo (Figura 5.3.4 C e D), o que demonstra que 
se trata de reservas disponíveis, ainda não destinadas a usos humanos, daí sua qualidade 
excepcionalmente boa e relativamente baixa vulnerabilidade. 
42 
1.121 ha 
2,9% 
6.2858 ha 
16,5% 
30.811 ha 
80,6% 
952 ha 
2,5% 
1.754 ha; 4,6% 
5.377 ha 
14,1% 
30.137 ha 
78,9% 
1.203 ha 
3,1% 
2.747 ha 
7,2% 
31.994 ha 
83,7% 
2.276 ha 
6,0% 
375 ha 
1,0% 
15.639 ha 
16.032 ha 40,9% 
41,9% 
Muito Alta Alta Média Baixa Muito Baixa
A B 
6.538 ha 
17,1% 
733 ha 
1,9% 
8.009 ha 
21,0% 
9.755 ha 
25,5% 
13.186 ha 
34,5% 
C D 
22 ha 
0,1% 
15.835 ha 
41,4% 
22.363 ha 
58,5% 
13.597 ha 
24.622 ha 
64% 
36% 
21361 ha 
56% 
16.859 ha 
44% 
Figura 5.3.4: Mapas sobrepondo o polígono proposto para o Parque Nacional da Serra do Gandarela 
aos aspectos relacionados a recursos hídricos analisados para o Zoneamento Ecológico-Econômico do 
Estado de Minas Gerais; A) Vulnerabilidade dos Recursos Hídricos; B) Vulnerabilidade dos Recursos 
Hídricos à Contaminação; C) Comprometimento das Águas Superficiais; D) Comprometimento das 
Águas Subterrâneas. 
Analisando a situação de alguns municípios abrangidos pela proposta, verifica-se que 
aproximadamente 85% do abastecimento público de água do município de Caeté e todo o 
abastecimento do município de Raposos têm a sua captação em mananciais que possuem 
suas nascentes na Serra do Gandarela. O município de Rio Acima capta água para o 
abastecimento da sede municipal na APA do Mingu, que recebe contribuição de cursos 
d’água provenientes da área proposta para o Parque, com a qual faz limite (Figuras 5.3.5 e 
5.3.6). 
43 
Muito Alta(o) Alta(o) Média(o) Baixa(o) Muito Baixa(o)
44 
Figura 5.3.5: APA do Mingu e captação de água do município de Rio Acima (Foto: Flávio Cerezo). 
Figura 5.3.6: Captação de água do município de Rio Acima (Foto: Flávio Cerezo). 
O município de Raposos tem em sua Lei Orgânica (de 18 de março de 1990) e no seu Plano 
Diretor de Desenvolvimento (Lei 976, de 10/10/2006), importantes instrumentos nos quais a 
preservação da sub-bacia do Ribeirão da Prata é mencionada diversas vezes como 
fundamental para o município. Entre as “diretrizes específicas para o parcelamento do solo 
para fins urbanos, no território municipal, em áreas externas aos perímetros urbanos definidos
por lei” (Art 20 do Plano Diretor) está o item “Definição de critérios especiais para a ocupação 
e o uso das áreas que integram o Manancial do Ribeirão da Prata, tombado pelo Conselho 
Deliberativo Municipal de Cultura de Raposos em reunião realizada dia 13 de julho de 2000, 
em conformidade com a Lei 815/99 e Decreto 119/99, art. 3º, sendo ouvidos, para isso, o 
próprio Conselho Deliberativo Municipal de Cultura, o Conselho Municipal de 
Desenvolvimento Sustentável e Planejamento Urbano proposto pelo inciso XIX do Art. 6º 
desta Lei, e o CODEMA.” 
A abundância de nascentes, córregos e rios, e a topografia acidentada, levam à existência de 
dezenas de cachoeiras. Com um bom plano de uso público pode-se obter grandes benefícios 
aos municípios pela exploração racional deste imenso potencial turístico, sem comprometer a 
qualidade dos mananciais utilizados para o abastecimento dos municípios e as reservas 
hídricas, estratégicas para o futuro da RMBH. 
5.4. GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E GEOSSISTEMA 
Do ponto de vista geológico, a região do Gandarela representa a última porção do 
Quadrilátero Ferrífero, região de grande geodiversidade, em boas condições de preservação, 
constituindo uma oportunidade de se perpetuar sua complexa geologia, que pode ser 
resumida nas seguintes unidades, de acordo com Silva e Salgado (2009): (i) embasamento 
cristalino, composto por granitos, gnaisses e migmatitos de idade arqueana; (ii) Supergrupo 
Rio das Velhas, composto basicamente por quartzitos, xistos e filitos que constituem uma 
sequência tipo greenstone belt, também de idade arqueana; (iii) Supergrupo Minas, 
constituído por rochas metassedimentares (quartzitos, xistos, filitos e formações ferríferas) de 
idade proterozóica e (iv) Grupo Itacolomi, constituído basicamente por quartzitos, igualmente 
de idade proterozóica, conforme representado na Figura 5.4.1. 
Do Geossistema, destaca-se a presença das mais significativas amostras existentes do 
Geossistema Canga/Itabirito, que abriga ecossistemas considerados dos mais raros e 
ameaçados do Brasil, com variados atributos relevantes. O polígono proposto contém o maior 
sistema subterrâneo ferruginoso ainda preservado do Brasil extra-amazônico; engloba lagoas 
temporárias de altitude, que são formações únicas; e é a mais importante área de recarga de 
aqüíferos do Quadrilátero Ferrífero. 
A área de canga próxima à Lagoa do Metro é a maior e mais preservada área contínua de 
cangas do Paleógeno (formado entre 55 e 23 milhões de anos atrás); somada às demais 
áreas de canga abrangidas pela proposta, chega-se a aproximadamente 40% das áreas de 
canga do Quadrilátero Ferrífero, que tem a maior área de canga do Brasil (Carmo 2010); 
45
Figura 5.4.1: Localização e esboço geológico da Serra do Gandarela no Quadrilátero Ferrífero (MG). 
Adaptado de Silva e Salgado (2009), elaboração cartográfica (do original) de Juliana Rodrigues da 
Silva, 2009. Projeção UTM, Datum SAD 69, Fuso 23S. 
Do ponto de vista paleontológico, destaca-se a existência de um sítio com “acervo detalhado 
da sedimentação continental terciária brasileira, com fósseis de três épocas geológicas 
(Figura 5.4.2), o que possibilita estudos de correlação geológica e paleontológica com outras 
bacias terciárias do Sudeste do Brasil”, e o estudo da evolução paleoambiental da região. 
(Maizatto, 2001; Penha, 2008). 
46
Figura 5.4.2: Localização do Sítio Paleontológico estudado por Maizatto (2001), com base em 
testemunhos coletados na década de 1970 pela mineradora MBR. Parte deste material se perdeu 
(testemunhos perdidos), mas aqueles que puderam ser analisados revelaram importantes informações 
palinológicas, que justificaram a sua aprovação como “Patrimônio Mundial” pelo “World Heritage 
Comitee” da UNESCO. 
O trecho a seguir, extraído de Maizatto (2001) explica a importância paleontológica do 
Gandarela: 
47 
“A bacia terciária do Gandarela se destaca como um dos mais importantes 
depósitos sedimentares continentais brasileiros, por apresentar um registro 
litológico constituído por rochas formadas em três idades distintas. Embora seja 
uma bacia de pequenas dimensões, ocupando uma área de aproximadamente 
9km2, apresenta um riquíssimo conjunto de informações. Os depósitos de linhito 
que ocorrem nesta bacia foram explorados durante a década de 70 pela 
empresa Minerações Brasileiras Reunidas (M.B.R.). Para viabilizar esta 
exploração foi necessária a realização de uma campanha de furos de sondagem 
na região com o objetivo de delimitar esta jazida. Com isso, foram realizados 
vinte furos de sondagem (Figura 5.4.2) gerando um acervo do registro litológico 
ímpar, em se tratando de bacias sedimentares terciárias continentais no Brasil.” 
“Os depósitos de linhito apresentaram uma gênese vinculada a condições 
climáticas tropicais e subtropicais. Nos linhitos formados sob condições 
climáticas tropicais foi encontrada a associação de palinomorfos característica 
de climas quentes e úmidos, constituída por esporos de pteridófitas e grãos de
48 
pólen de palmeiras”... “E a deposição de linhitos em condições subtropicais, frias 
e secas, foi baseada na ocorrência de cistos de dinoflagelados continentais, 
esporos cicatricosos e grãos de pólen vesiculados” ... “A associação de cistos de 
dinoflagelados, esporos cicatricosos e grãos de pólen vesiculados à condições 
subtropicais está de acordo com os trabalhos de Maizatto et al. (2000), Maizatto 
et al. (1998), Maizatto (1997) e Germeraad et al. (1968).” 
Do ponto de vista espeleológico, na maior área de canga contínua já foram catalogadas 74 
cavidades, sendo que pelo menos quatro delas reúnem atributos para serem classificadas 
como de “relevância máxima”, conforme Decretos 99556/90 e 6640/08 e IN-ICMBio 02/2009 
(Coelho et al. 2010), e há registro da existência de várias outras cavidades em canga ainda 
não classificadas na área proposta. 
6. POTENCIAL TURÍSTICO 
A proposta do Parque Nacional Serra do Gandarela possui imenso potencial turístico, 
reforçado pela facilidade de acesso a partir de Belo Horizonte ou Ouro Preto e região. A Serra 
do Capanema é ligada a Ouro Preto por rodovia asfaltada que encontra a Rodovia dos 
Inconfidentes, a 25 km de Ouro Preto e 35 km de Mariana. Portanto, é possível estabelecer 
uma portaria do futuro Parque a poucos minutos de carro do pólo de turismo histórico mais 
importante do país. De Capanema e de Rio Acima, há dois acessos distintos, cada um a 
cerca de 70 Km de Belo Horizonte. 
Contribuem para este potencial as várias possibilidades de práticas de ecoturismo, turismo de 
aventura, turismo pedagógico, observação da vida selvagem, visitação científica, de 
realização de caminhadas curtas e longas (travessias), ciclismo, escalada, visitação a 
cavernas e sítios históricos. E há, ainda, as dezenas de cachoeiras balneáveis, de águas 
límpidas em meio a remanescentes bem preservados de Mata Atlântica, vegetação 
campestre e Cerrado. 
O futuro Parque inclui paisagens inusitadas, como várias lagoas em áreas de altitude, 
configuração peculiar e rara, grandes mirantes de belíssimas paisagens, com estradas de 
acesso já existentes e inúmeras trilhas, incluindo a travessia histórica de Capanema ao 
Caraça, com cerca de 300 anos de existência. Esta diversidade possibilita um rico trabalho de 
interpretação ambiental que abre os horizontes, principalmente para a população dos 
municípios envolvidos e vizinhos, para trabalhos de educação ambiental e patrimonial. 
Além dos atrativos ligados à natureza, a proposta do Parque Nacional da Serra do Gandarela 
inclui alguns sítios históricos que, além de demandarem cuidados para sua preservação, 
aumentam ainda mais o potencial turístico da futura unidade de conservação. Na porção sul 
da proposta, na região da serra de Capanema e Batatal, há importante acervo histórico 
(ruínas) dos séculos XVIII e XIX, citadas em importantes trabalhos de naturalistas do século 
XIX que por ali passaram, dentre eles: Spix e Martius, Richard Burton, Barão de Escheweg e 
Saint-Hilaire Outros sítios de interesse histórico são o “Retiro dos Capetas”, a “Casa Forte” e 
um muro de pedra considerado parte da “Estrada Real”.
Figura 6.1: Exemplos de atrativos turísticos incluídos na proposta do Parque Nacional da Serra do 
Gandarela. A) Ruínas da Fazenda Cutão (Foto Alice Okawara); B) Ruínas do Retiro dos Capetas (Foto 
Alice Okawara); C) Lagoa do Metro na estação chuvosa (Foto Paulo Baptista); D) Lagoa do Metro na 
estação seca (Foto: Paulo Baptista); E) Cachoeira Maquiné (Foto Alice Okawara); F) Cachoeira do 
Mergulho (Foto: Juliana Silva); G) Cachoeira Santo Antônio (Foto: Robson de Oliveira). 
49
Observa-se ainda a presença de um importante sítio paleoambiental e o grande potencial 
para a instalação de um geoparque na área, possibilitando a constituição de atrativos de 
grande importância. 
Este conjunto de possibilidades dará ao Parque Nacional da Serra do Gandarela destaque 
absoluto no cenário nacional, bastando um investimento relativamente pequeno em infra-estrutura 
para visitação para que possa se tornar um dos mais visitados do Brasil, garantindo 
fonte de renda e de diversificados negócios e de movimentação financeira para os municípios 
incluídos, gerando postos de trabalho, arrecadação tributária e desenvolvendo uma economia 
regional sustentável. 
7. AVALIAÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DOS 
MUNICÍPIOS ABRANGIDOS 
50 
7.1. Barão de Cocais 
7.1.1. Caracterização 
· Localização: Central 
· Área: 34.056 ha 
· Principais rios: São João e 
Conceição 
· Bacia: Rio Doce 
Fontes: Instituto de Geociências Aplicadas – IGA; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística – IBGE 
7.1.2. História 
O município de Barão de Cocais é originalmente conhecido pelo nome de São 
João do Morro Grande. Povoado por sertanistas que procuravam ouro e ali se 
estabeleceram, construindo a primeira capela em honra a São João Batista. Por 
se encontrar no sopé de um grande morro, seu nome foi mudado para São João 
Batista do Morro Grande. A abundância de ouro atraiu novos moradores, e a 
paróquia foi instalada em 1749. De São João Batista do Morro Grande e São 
João do Morro Grande, reduz-se para Morro Grande. O município é criado em 
1943, quando passa a denominar-se Barão de Cocais. 
Fonte: Secretaria da Cultura em 01/10/1999
7.1.3. Finanças Públicas 
A arrecadação municipal cresceu no período analisado (2001-2004), porém com flutuação 
(queda brusca) em 2003. A arrecadação do ICMS foi o fator de maior peso na arrecadação 
municipal, sendo determinante para o seu comportamento e valor (Figura 7.1.1). 
7.1.4. População 
A população total cresceu continuamente de 1970 a 2000, determinada pelo crescimento 
contínuo da população urbana, em detrimento da população rural, que decresceu 
continuamente no período (Figura 7.1.2). No ano 2000, a população urbana já perfazia 91% 
da população total (Figura 7.1.3). 
Figura 7.1.1: Arrecadação (em reais) do município de Barão de Cocais entre os anos de 2001 e 2004 
(Fonte: IBGE). 
51
Figura 7.1.2: População residente no município de Barão de Cocais segundo os censos de 1970 e 
2000. O valor atribuído ao ano de 2005 é uma estimativa (Fonte: IBGE). 
Figura 7.1.3: População urbana e rural no município de Barão de Cocais, segundo o censo de 2000 
(Fonte: IBGE). 
Quanto à ocupação da população por setores econômicos, predomina o setor de serviços, 
com 45% do total. Somado ao setor de comércio, que emprega mais 15% do total, o setor 
terciário emprega 60% da população ocupada. A seguir vem o setor industrial, com 33% do 
total. O setor agropecuário e extrativista animal e vegetal emprega apenas 7% do total (Figura 
7.1.4). 
52
7.1.5. Atividades Econômicas 
Quanto ao PIB, a maior contribuição é da indústria. Para o período analisado, houve discreto 
aumento anual de 1998 a 2000 e queda em 2001, voltando a subir em 2002. Já o setor 
serviços, com a segunda maior contribuição, contribuiu significativamente e mostrou maior 
regularidade, com discreto, porém constante crescimento anual por todo o período. A 
contribuição para o PIB do setor agropecuário foi insignificante no período analisado (Figura 
7.1.5). 
Figura 7.1.4: Parcela da população de Barão de Cocais ocupada em cada setor da economia, segundo 
o censo de 2000 (Fonte: IBGE). 
53
Figura 7.1.5: Contribuição de cada setor da economia na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do 
município de Barão de Cocais entre os anos de 1998 e 2002. (Fonte: IBGE) 
54
55 
7.2. Caeté 
7.2.1. Caracterização 
· Localização: Central 
· Área: 54.224 ha 
· Principais rios: Ribeirão 
Comprido; Ribeirão do 
Juca 
· Bacia: Rio São Francisco 
Fontes: Instituto de Geociências Aplicadas – IGA; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística – IBGE 
7.2.2. História 
A Serra da Piedade, com sua igrejinha e observatório astronômico, é lugar de 
parada obrigatória no caminho para se chegar à cidade. Lá, o visitante dispõe de 
restaurante panorâmico. Vale ainda uma visita à cascata que tem uma queda 
d'água de 40 metros. Cidade de variados pontos turísticos, pertence à Região 
Metropolitana de Belo horizonte. Mas ela não tem apenas o turismo para 
mostrar: os 28 mil habitantes dispõem de todo um equipamento urbano, à altura 
de uma grande cidade. A descoberta das minas de Caeté data de 1701. Em 
1708, o arraial assistiu ao início da Guerra dos Emboabas, provocada por um 
incidente entre moradores locais e forasteiros e que se espalhou por boa parte 
de Minas. Este fato contribuiu para a criação da Capitania das Minas, 
desmembrada da de São Paulo. Vila Nova da Rainha foi o nome primitivo do 
local, sendo substituído, mais tarde, por Caeté, que significa "mata virgem". A 
decadência das Minas repercutiu fortemente em Caeté, que teve a vila suprimida 
e depois restaurada, em 1840, quando foi elevado a município. Além de belos 
exemplares típicos da arquitetura colonial, pode-se conhecer, a pequena 
distância da cidade, a serra da Piedade (1.783m de altitude), com seu santuário 
de Nossa Senhora da Piedade, tradicional ponto de romaria e cuja origem está 
ligada a muitas lendas. Ao lado do Santuário está o Observatório Astronômico da 
UFMG. Da serra, tem-se uma linda vista de várias cidades da região. 
Fonte: Secretaria da Cultura em 01/10/1999
7.2.3. Finanças Públicas 
A arrecadação municipal cresceu continuamente no período analisado (2001-2004), 
contribuindo para isso, pari passo, o ICMS e outras fontes de arrecadação (Figura 7.2.1). 
Figura 7.2.1: Arrecadação (em reais) do município de Caeté entre os anos de 2001 e 2004 (Fonte: 
IBGE). 
7.2.4. População 
A população total cresceu continuamente de 1970 a 2000, determinada pelo crescimento 
contínuo da população urbana. A população rural flutuou discretamente, mas manteve 
sempre baixas taxas no período (Figura 7.2.2). No ano 2000, a população urbana já perfazia 
87% da população total (Figura 7.2.3). 
Quanto à população ocupada por setores econômicos, predomina o setor de serviços, com 
52% do total. Somado ao setor de comércio, que emprega mais 14% do total, o setor terciário 
emprega 66% da população ocupada. A seguir vem o setor industrial, com 26% do total. O 
setor agropecuário e extrativista animal e vegetal emprega apenas 8% do total (Figura 7.2.4). 
7.2.5. Atividades Econômicas 
Quanto ao PIB, o total do município cresceu continuamente no período analisado. A maior 
contribuição é do setor de serviços. Para o período analisado, houve discreta redução em 
1999 e crescimento contínuo a partir de 2000. Já o setor industrial, com a segunda maior 
56
contribuição, mostrou flutuação em todo o período. O setor agropecuário, com a menor 
contribuição, cresceu discretamente no período analisado (Figura 7.2.5). 
Figura 7.2.2: População residente no município de Caeté segundo os censos de 1970 e 2000. O valor 
atribuído ao ano de 2005 é uma estimativa (Fonte: IBGE). 
Figura 7.2.3: População urbana e rural no município de Caeté, segundo o censo de 2000 (Fonte: 
IBGE). 
57
Figura 7.2.4: Parcela da população de Caeté ocupada em cada setor da economia, segundo o censo 
de 2000 (Fonte: IBGE). 
Figura 7.2.5: Contribuição de cada setor da economia na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do 
município de Caeté entre os anos de 1998 e 2002. (Fonte: IBGE) 
58
59 
7.3. Itabirito 
7.3.1. Caracterização 
· Localização: Central 
· Área: 54.193 ha 
· Principais rios: Rio Itabirito; 
Ribeirão da Silva. 
· Bacia: Rio São Francisco 
Fontes: Instituto de Geociências Aplicadas – IGA; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística – IBGE 
7.3.2. História 
Com 1852 metros de altitude, o Pico Itabirito constitui-se num dos lugares 
atrativos para os turistas. A Mina Cata Branca, soterrada em 1884, considerada 
uma das grandes reservas auríferas do País; o Balneário Água Limpa, com 
praias e cascatas artificiais, e a Água Quente, com suas águas termais alcalinas 
e magnesianas são outros importantes pontos turísticos. A siderurgia e 
metalurgia, além da extração de minério de ferro, quartzito e caulim, são as 
principais atividades econômicas locais. Nos últimos anos do séc. XVII, o 
bandeirante Manoel Garcia descobriu ouro nas vertentes dos córregos Tripuí e 
Passa Dez, nos sopés do pico do Itacolomi. Logo a notícia se espalhou e 
surgiram outras expedições em busca de novas lavras. Assim surgiram as minas 
de Santa Bárbara e de Cata Branca dos Areches, originando-se, desta última, a 
Itabirito de hoje, no sopé do grande pico de minério de ferro de mesmo nome. Ao 
redor da mina de Cata Branca dos Areches se desenvolveu um povoado onde foi 
construída uma capela em honra de São Sebastião. Em 1745, é criada a 
freguesia, com o nome de Itabira do Campo, que, em 1752 é elevada a distrito. 
O ouro torna-se escasso e, em 1884, engenheiros da estrada de ferro Dom 
Pedro II, juntamente com metalurgistas estrangeiros que pretendiam se fixar 
naquelas paragens, formam a Usina Esperança (empresa pioneira da siderurgia 
brasileira, cuja história se confunde com a vida e o desenvolvimento de Itabirito). 
O novo município é formado em 1923, com o território desmembrado de Ouro 
Preto, recebendo o nome de Itabirito - denominação dada por Von Eschewege a 
um minério de ferro típico da região. 
Fonte: Secretaria da Cultura em 01/10/1999
7.3.3. Finanças Públicas 
A arrecadação municipal cresceu no período analisado (2001-2004), porém com flutuação 
(queda significativa em 2002, crescimento significativo em 2004). A arrecadação do ICMS foi 
o fator de maior peso na arrecadação municipal, sendo determinante para o seu 
comportamento e valor. Outras fontes de arrecadação contribuíram em menor grau, e tiveram 
crescimento ao final do período (Figura 7.3.1). 
Figura 7.3.1: Arrecadação (em reais) do município de Itabirito entre os anos de 2001 e 2004 (Fonte: 
IBGE). 
7.3.4. População 
A população total cresceu no período de 1970 a 2000, influenciada pelo crescimento contínuo 
da população urbana, enquanto a população rural decresceu continuamente no período 
(Figura 7.3.2). No ano 2000, a população urbana já perfazia 91% da população total (Figura 
7.3.3). 
Quanto à população ocupada por setores econômicos, predomina o setor de serviços, com 
42% do total. Somado ao setor de comércio, que emprega mais 16% do total, o setor terciário 
emprega 58% da população ocupada. A seguir vem o setor industrial, com 40% do total. O 
setor agropecuário e extrativista animal e vegetal emprega apenas 2% do total (Figura 7.3.4). 
60
Figura 7.3.2: População residente no município de Itabirito segundo os censos de 1970 e 2000. O valor 
atribuído ao ano de 2005 é uma estimativa (Fonte: IBGE). 
Figura 7.3.3: População urbana e rural no município de Itabirito, segundo o censo de 2000 (Fonte: 
IBGE). 
61
Figura 7.3.4: Parcela da população de Itabirito ocupada em cada setor da economia, segundo o censo 
de 2000 (Fonte: IBGE). 
7.3.5. Atividades Econômicas 
Quanto ao PIB, o total do município cresceu continuamente no período analisado. A maior 
contribuição é da indústria: para o período analisado, houve contínuo aumento anual. Já o 
setor serviços, com a segunda maior contribuição, contribuiu significativamente e cresceu 
moderadamente ao final do período. O setor agropecuário foi insignificante para o período 
analisado (Figura 7.3.5). 
62
Parque gandarela proposta original icmbio setembro 2010
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  • 1. PROPOSTA DE CRIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DO GANDARELA Fotografias: Alice Okawara, André Salgado, Saulo Albuquerque e Internet setembro de 2010
  • 2. 2 PARQUE NACIONAL DA SERRA DO GANDARELA ESTUDOS TÉCNICOS PARA A CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO FEDERAL ÍNDICE Seção Página 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................. 3 2. OBJETIVOS.................................................................................................................................................. 4 3. MÉTODOS.................................................................................................................................................... 4 4. CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA.................................................................................................. 5 5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA PROPOSTA............................................................................................... 8 5.1. O QUADRILÁTERO FERRÍFERO: RELEVÂNCIA PARA CONSERVAÇÃO E SITUAÇÃO ATUAL......... 11 5.1.1. Vegetação dos Campos Ferruginosos ou “Cangas”.................................................................... 11 5.1.2. Floresta Estacional Semidecídua................................................................................................ 21 5.1.3. Aves no Quadrilátero Ferrífero.................................................................................................... 25 5.1.4. Mamíferos no Quadrilátero Ferrífero........................................................................................... 29 5.1.5. Outros Registros de Fauna.......................................................................................................... 33 5.2. USO DO SOLO.......................................................................................................................................... 34 5.3. HIDROGRAFIA, RECURSOS HÍDRICOS E ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DE MINAS GERAIS............................................................................................................................................................. 38 5.4. GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E GEOSSISTEMA............................................................................... 45 6. POTENCIAL TURÍSTICO............................................................................................................................. 48 7. AVALIAÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DOS MUNICÍPIOS ABRANGIDOS.................................................................................................................................................. 50 7.1. Barão de Cocais............................................................................................................................. 50 7.2. Caeté.............................................................................................................................................. 55 7.3. Itabirito............................................................................................................................................ 59 7.4. Nova Lima....................................................................................................................................... 64 7.5. Ouro Preto...................................................................................................................................... 69 7.6. Raposos.......................................................................................................................................... 74 7.7. Rio Acima........................................................................................................................................ 79 7.8. Santa Bárbara................................................................................................................................. 83 7.9. Síntese dos Aspectos Sócio-Econômicos...................................................................................... 87 8.CONCLUSÃO................................................................................................................................................. 88 9. EQUIPE......................................................................................................................................................... 90 10. AGRADECIMENTOS.................................................................................................................................. 90 11. REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA............................................................................................................. 91 12. ANEXOS..................................................................................................................................................... 95
  • 3. 1. INTRODUÇÃO A área de estudo localiza-se no Estado de Minas Gerais, na Serra do Espinhaço, mais especificamente no Quadrilátero Ferrífero, abrangendo partes dos municípios de Caeté, Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Barão de Cocais, Itabirito, Ouro Preto e Santa Bárbara. Apesar de estar localizada muito próxima à Região Metropolitana de Belo Horizonte (os quatro primeiros municípios fazem parte da RMBH), a área apresenta baixa ocupação humana, havendo extensos e diversos ambientes naturais muito bem preservados e apresentando feições de relevo de excepcional beleza, notáveis também sob o ponto de vista geomorfológico. A importância da área que se pretende proteger está demonstrada em diversos estudos, tratando de diferentes aspectos bióticos e abióticos da região. O Quadrilátero Ferrífero é citado desde o século XIX, em trabalhos dos mais relevantes naturalistas da época, como Richard Burton, Peter Claussen, Marianne North, Johann M. Rugendas, Pierre Aime Pissis, Augustin Francois C. P. de Saint-Hilaire, Karl Friedrich Philipp von Martius, Eugenius Warming (Carmo, 2010). Destaca-se, de imediato, o fato da região ser o último fragmento significativo de áreas naturais em bom estado de conservação dentro do Quadrilátero Ferrífero, contendo importantes remanescentes de Mata Atlântica semidecídua, de vegetação de campos rupestres sobre canga e sobre quartzito, em transição com formações do Cerrado. A grande variedade de ambientes, típica de áreas de ecótone, está diretamente relacionada à riqueza de espécies existente e à elevada diversidade biológica. Tais atributos estão entre os mais relevantes para a proposição de criação de uma nova unidade de conservação da natureza. No caso da Serra do Gandarela, à alta diversidade soma-se o fator qualitativo, com taxas excepcionais de ocorrência de espécies raras, endêmicas, microendêmicas e ameaçadas de extinção. Outro ponto importante é a existência na área de uma quantidade expressiva e em bom estado de conservação do geossistema Canga/Itabirito, uma das formações mais ameaçadas do Brasil por sua inevitável coincidência com áreas de interesse minerário. Este geossistema não está protegido em nenhuma unidade de conservação de proteção integral no âmbito Federal e está muito pouco representado, pouco mais de 200 ha, em uma única unidade de conservação de proteção integral estadual (Parque Estadual da Serra do Rola Moça, MG). A posição estratégica entre unidades de conservação já existentes e o estado de conservação da área possibilita a formação de um corredor ecológico com elevada taxa de conectividade entre ambientes naturais, potencializando os efeitos benéficos da futura unidade para a conservação da natureza. Destaca-se ainda o fato de tratar-se de área de recarga de aqüíferos (característica intrínseca às cangas), com grande concentração de nascentes, córregos e rios que drenam para as bacias dos rios Conceição e das Velhas, importantes afluentes, respectivamente, dos rios Doce e São Francisco. Estes mananciais são considerados estratégicos inclusive para o abastecimento presente e futuro da região metropolitana de Belo Horizonte, em face do seu contínuo crescimento populacional. Há ainda a presença de lagoas temporárias de altitude, que são formações únicas e raras. A abundância de nascentes, córregos e rios, aliada à topografia acidentada, leva à existência de inúmeras cachoeiras. Esta variedade de corpos 3
  • 4. d’água de elevada beleza cênica contribui para outro importante atributo quando se propõe a criação de um Parque Nacional: um imenso potencial turístico. Não menos importante é a ocorrência de grande número de cavidades (cavernas) em canga, consideradas raras, sendo pelo menos quatro delas já indicadas para a classificação “relevância máxima” de acordo com os Decretos 99556/1990 e 6640/2008 e a IN-ICMBio 02/2009 (Coelho et al. 2010). Além dos diversos aspectos que conferem à área importância para a conservação da natureza e das águas, há ainda atributos paleontológicos e históricos notáveis, que tornam ainda mais inequívoca a necessidade de preservação da área proposta para o Parque Nacional. Dentre estes podemos destacar: a existência de sítio paleontológico registrado, homologado pelo SIGEP (Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos) como patrimônio da humanidade e a existência de acervo arqueológico, e histórico (ruínas dos séculos XVIII e XIX e trechos da Estrada Real). Pelas suas características singulares, a área apresenta imenso potencial turístico e científico, e despertou o interesse social, existindo hoje uma grande mobilização de cidadãos, ONGs e instituições diversas no sentido da sua preservação. As reivindicações deste movimento popular estão amplamente divulgadas em diversos meios de comunicação e defendem a criação do Parque Nacional e a preservação de todos estes atributos que fazem da Serra do Gandarela um lugar singular. A proposta de criação de um Parque Nacional na região do Gandarela foi inicialmente apresentada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pelo Projeto Manuelzão/UFMG, através de ofício datado de outubro de 2009, com farta documentação anexa, tendo como base os estudos apresentados em dissertação de mestrado do Instituto de Geociências da UFMG. A análise da documentação enviada levou à formalização do processo número 02070.002759/2009-75 e posterior aprofundamento da análise da proposta. Esta análise confirmou sua pertinência, passando-se então aos estudos técnicos e à consolidação da proposta de criação de Unidade de Conservação Federal, conforme a Instrução Normativa – IN no 5/2008 do ICMBio, que apresentamos neste documento. 2. OBJETIVOS Apresentar a proposta de criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, no Estado de Minas Gerais, justificar a sua importância e pertinência e identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a criação desta Unidade de Conservação Federal. 3. MÉTODOS Este estudo se iniciou a partir da proposta do Projeto Manuelzão, apoiada por outras 25 entidades. Procedeu-se então a uma revisão bibliográfica, incluindo a revisão de bases cartográficas e imagens de satélite. Concomitantemente, foram realizadas reuniões técnicas 4
  • 5. da equipe do ICMBio (CR-11 e CCUC) com colaboradores voluntários, para recolhimento e análise do material existente sobre o local e elaboração de um esboço de limites e dos atributos relevantes da região, que justificariam a criação de uma unidade de conservação federal. Para a conferência das informações e verificação in loco da relevância ambiental da área foram realizadas vistorias técnicas nos dias 18 de dezembro de 2009, 24 e 25 de março, 31 de maio, 2 e 15 de junho de 2010. A equipe técnica do ICMBio, auxiliada por colaboradores voluntários, procedeu às vistorias, onde foram feitas anotações sobre pontos relevantes e fotografias digitais dos locais visitados, indexando-os à marcação dos trajetos e pontos visitados com o uso de GPS. Posteriormente, realizou-se o cruzamento das informações de campo com as informações da bibliografia, cartografia e imagens. Colaboradores elaboraram um dossiê com informações complementares, que foi analisado e juntado à documentação pré-existente. Procedeu-se então à organização, sistematização e montagem das bases cartográficas, das imagens e do texto final, consolidando-se a síntese da proposta. 4. CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA Propostas de criação de novas unidades de conservação federais no Brasil podem nascer dentro do próprio órgão responsável pela sua criação e gestão (ICMBio) ou ser encaminhadas por pessoas ou entidades externas. No presente caso, a formalização do processo se deu pelo recebimento de um Ofício do Projeto Manuelzão. A apreciação técnica da documentação convenceu a Coordenação de Criação de Unidades de Conservação (CCUC) do ICMBio da pertinência de se considerar a possibilidade da criação de um Parque Nacional na área. A região do Quadrilátero Ferrífero, onde se insere a área em estudos, foi considerada de “prioritdade extremamente alta” pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), no estudo "Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira" (MMA 2004, 2007). A ação indicada pelo Ministério do meio Ambiente no referido documento para a região é a “criação de unidade de conservação de proteção integral”. A criação de novas unidades de conservação federais é a principal ferramenta adotada pelo MMA, através do ICMBio, para a proteção do patrimônio natural Brasileiro. Para a definição de quais seriam as áreas mais indicadas para este fim, tem havido algumas iniciativas, governamentais ou não, que visam categorizar as áreas com potencial para a criação de unidades de conservação de acordo com critérios de prioridade. Em 2005 foi publicado o estudo “Biodiversidade em Minas Gerais: um Atlas para a sua Conservação” realizado em parceria da Fundação Biodiversitas com o Instituto Estadual de Florestas - IEF/MG. Por meio da consulta a especialistas de diversos grupos taxonômicos. Este estudo definiu oficialmente as áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade em Minas Gerais (Biodiversitas, 2005). Entre as áreas classificadas como de importância biológica “especial” (a categoria de maior prioridade) está a área 85, correspondente ao Quadrilátero Ferrífero. As principais ameaças identificadas à biodiversidade do Quadrilátero 5
  • 6. são: 1) mineração, 2) expansão urbana, 3) agricultura, 4) queimadas. As ações propostas para a proteção da área são: 1) planos de manejo, 2) unidades de conservação (criação), 3) inventários, 4) recuperação, 5) educação ambiental. As justificativas para o grau de prioridade atribuída ao Quadrilátero são: “endemismo de anfíbios e plantas, alta riqueza de vertebrados, ambiente único no estado (campos ferruginosos)”. Entre os remanescentes de campos ferruginosos que ainda não foram destruídos no Quadrilátero, sobretudo pela atividade minerária, os mais significativos e bem conservados encontram-se na Serra do Gandarela (Carmo, 2010). Outro estudo que merece destaque foi realizado em parceria entre a Conservação Internacional do Brasil e o Instituto Biotrópicos de Pesquisa em Vida Silvestre, também com a participação de diversos especialistas, que procurou definir as áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade na Cadeia do Espinhaço. Foi realizado um seminário em 2006, na Serra do Cipó, que reuniu especialistas em diversos grupos taxonômicos e gestores de unidades de conservação, além de consultas via internet para a catalogação de registros de ocorrência de espécies da fauna e da flora nativas no Espinhaço. Entre os principais resultados deste esforço encontra-se o artigo publicado em 2008 que, com base em diversos critérios, incluindo relação custo/ benefício e grau de insubstituibilidade e complementaridade das áreas apontadas (Silva et al. 2008). Este estudo considera a Cadeia do Espinhaço como uma das regiões reconhecidas como “centro de endemismo e biodiversidade” que, apesar de sua importância, apresenta baixo grau de proteção. Neste sentido, haveria a necessidade de quase triplicar a área hoje protegida para que se tornasse efetiva esta proteção. Para tal são apontadas 27 áreas onde se recomenda a criação de novas unidades, entre as quais figura a região da Serra do Gandarela (Silva et al. 2008). Em 2008, a Associação Mineira de Defesa do Ambiente – AMDA e o Instituto Estadual de Florestas – IEF/MG, desenvolveram estudo denominado “Identificação de Áreas Prioritárias para a Implantação de Sistema de Áreas Protegidas e Corredores Ecológicos no Setor Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte”. Este documento apresentou áreas prioritárias ao sul da RMBH e detalhou ações com vistas à conservação de sua biodiversidade, recursos hídricos e paisagens. Mais uma vez, a Serra do Gandarela aparece em destaque com a clara vocação para a criação de uma nova unidade de conservação. Destacamos a seguir trechos deste estudo que ressaltam esta vocação: 6 “Setor V – Serra do Gandarela/ Cabeceira do rio Conceição” “Justificativas: Trata-se de uma ampla região com baixa ocupação antrópica, havendo extensos e diversos ambientes naturais preservados. Concentra-se neste setor um grande número de cursos d’água contribuintes da margem direita do rio das Velhas, representando significativo volume de água, utilizado no abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Esta água é captada pela COPASA na ETA de Bela Fama e é considerada a fonte mais importante de abastecimento da RMBH, captada na bacia do rio das Velhas.”
  • 7. 7 “Relevo: As feições de relevo mais notáveis neste setor, que é possivelmente uma das regiões do Quadrilátero Ferrífero que guardam maior geodiversidade, são as serras que formam o arco do Espinhaço, destacando-se na paisagem. A diversidade de litótipos e o gradiente altitudinal permitem interações multivariadas entre os elementos dos sistemas abióticos e bióticos que se traduzem em expressiva riqueza de sítios ainda bem conservados, onde certamente haverá justificativas diversas para a criação de novas unidades de conservação, que já fizeram por incluí-la na Reserva da biosfera do Espinhaço.” “Hidrografia: A região abrange parte do divisor entre as grandes bacias dos rios São Francisco e Doce, representados pelo rio das Velhas e pelos rios Conceição e Socorro ou Barão de Cocais, este com suas nascentes no segmento da Serra do Gandarela. A região com altitudes acima de 1.650 metros é forte produtora de água, possuindo milhares de nascentes, drenando para esses dois grandes sistemas hidrográficos.” “Cobertura vegetal: A vegetação compreende formas de campos rupestres, campos graminosos, cerrados e florestas, todos em bom estado de preservação.” “Conectividade de ambientes naturais: A taxa de conectividade é elevada. Ambientes campestres e savânicos se conectam pelas maiores altitudes e os florestais predominam nas menores cotas, atravessando a cadeia de montanhas pelas grotas encaixadas das maiores altitudes.” “Oportunidades: Esta área apresenta a mais extensa região ocupada por ambientes naturais da porção metropolitana de Belo Horizonte e produz grande volume de água de vital importância para a população humana regional. Por abranger porções das bacias do rio das Velhas, por conseqüência do rio São Francisco, e do rio Doce, todas elas com programas institucionais relacionados à sua conservação e revitalização ambiental, têm-se um amplo leque de oportunidades de se criar estratégias de preservação.” Outra fonte de argumentos em favor da preservação da Serra do Gandarela provém de trabalho realizado pelo Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM, intitulado “Contribuição do IBRAM para o zoneamento ecológico-econômico e o planejamento ambiental de municípios integrantes da APA-SUL RMBH”. Este estudo incluiu a classificação de imagens por sensoriamento remoto (IBRAM, 2003) que resultou em mapas que, sobrepostos à proposta de criação do Parque, atestam a sua relevância e vocação para a conservação da biodiversidade, como será demonstrado à frente (Figuras 5.2.1, 5.2.2 e 5.2.3). Há, portanto, uma farta documentação recomendando a tomada de medidas para a proteção e a preservação dos atributos naturais da Serra do Gandarela. Faz-se adiante neste documento o detalhamento de alguns pontos considerados como de maior relevância para tal.
  • 8. 5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA PROPOSTA A área proposta está situada na Cadeia do Espinhaço, em sua porção meridional, no Quadrilátero Ferrífero, a maior parte na região conhecida como Serra do Gandarela, de grande destaque no que se refere à existência de remanescentes muito bem preservados de campos sobre cangas, campos rupestres sobre quartzito, mata atlântica semi-decidual, cavernas em canga (pelo menos quatro de relevância máxima) e grande concentração de nascentes que vertem para as bacias dos rios Doce e São Francisco, através de seus tributários Conceição e das Velhas. Há ainda uma porção ao sul, em região conhecida como Serra.do Capanema, incluída com o intuito de proteger importantes áreas de campos sobre cangas e remanescentes de mata que, juntos, comporão um corredor entre duas unidades de conservação já existentes: a RPPN Santuário do Caraça e a Floresta Estadual de Uaimii. Os limites propostos, principais atributos, rede hidrográfica e participação por município estão ilustrados nas figuras 5.1 e 5.2. A área total da proposta e participação de cada município estão na Tabela 5.1. Esta proposta baseia-se no potencial que se observa dentro do polígono proposto para a conservação de uma grande quantidade de atributos naturais e culturais. Buscou-se maximizar a quantidade de alvos de conservação abrangidos e o potencial de integração com outras áreas protegidas. Com este desenho entende-se que preserva-se um significativo corredor de cangas, nas cristas das Serras do Gandarela e Capanema, que inclui-se um grande remanescente de Floresta Estacional Semidecídua, que protege-se as áreas de recarga de aqüíferos, nascentes e rios e lagoas mais bem preservados da região, que forma-se um corredor entre a RPPN Santuário do Caraça e a Floresta Estadual de Uaimii e que a futura uniadde de conservação teria um grande potencial turístico. É importante ressaltar que esta proposta de limites é preliminar e que, para se chegar aos limites definitivos é necessário ouvir a sociedade local, que deve ter considerações e contribuições relevantes para o aperfeiçoamento da proposta, como está previsto na IN no 5/2008 do ICMBio e na própria Lei 9.985/2000 (SNUC), através da realização obrigatória de consulta pública. 8 Tabela 5.1: Área de cada município inserida na proposta e área total da proposta Nome do Município Área Total do Município (ha) Área Municipal dentro do Parque (ha) % do Município Afetado % do Parque por Município Barão de Cocais 34.160,0 2.150 6,3 5,6 Caeté 54.070,0 3.240 6,0 8,5 Itabirito 54.280,0 2.870 5,3 7,5 Nova Lima 42.910,0 860 2,0 2,2 Ouro Preto 124.490,0 2.180 1,8 5,7 Raposos 7.190,0 3.670 51,0 9,6 Rio Acima 22.950,0 6.590 28,7 17,2 Santa Bárbara 68.270,0 16.650 24,4 43,6 TOTAL: 38.210 100,0
  • 9. 9 Figura 5.1: Limites propostos para o Parque Nacional da Serra do Gandarela, destacando alguns dos atributos mais importantes.
  • 10. Figura 5.2: Distribuição da proposta entre os territórios dos municípios, com rede de drenagem fluvial. 10
  • 11. 5.1. O QUADRILÁTERO FERRÍFERO: RELEVÂNCIA PARA CONSERVAÇÃO E SITUAÇÃO ATUAL A região conhecida como Quadrilátero Ferrífero (QF) compreende área de cerca de 7.200 km2 na região central de Minas Gerais e no extremo sul da Cadeia do Espinhaço. Sua importância para a conservação está reconhecida pela sua inclusão, como um todo ou de áreas específicas, em todas as listas de áreas prioritárias para conservação em diversas escalas, conforme mencionado anteriormente. As ações concretas no sentido de sua proteção, no entanto, estão longe de fazer frente à ameaça representada pela mineração e pela urbanização. A atual tendência de crescimento da economia brasileira, fato positivo sob a maioria dos aspectos, torna ainda mais forte a ameaça, sobretudo à biodiversidade, às paisagens e às águas. Os principais alvos de conservação no QF são os campos ferruginosos, a floresta estacional semidecídua e os recursos hídricos. Além disso, a presença de espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção, de sítio paleontológico, de sítios históricos, dos atributos geológicos e geomorfológicos, do potencial turístico e de rios, lagoas e cachoeiras, bens de inquestionável valor para a humanidade, aumenta ainda mais a relevância da área. A Figura 5.1.1 (retirada de Carmo, 2010) mostra a localização do QF em relação à Cadeia do Espinhaço. Esta Cadeia é reconhecida mundialmente como um centro de diversidade e endemismo, sobretudo de flora (Giulietti et al., 1997; Rapini et al., 2008), mas também de anfibios (Eterovick, 2003; Leite et al., 2008) e aves (Silva & Bates, 2002; Vasconcelos et al., 2008). A porção mineira da Cadeia do Espinhaço situa-se em divisor de águas entre importantes bacia hidrográficas brasileiras (São Francisco a oeste, Doce e Jequitinhonha a leste) e também no limite entre biomas: Mata Atlântica a leste e Cerrado a oeste. Situa-se, portanto, no limite entre os dois “hotspots” brasileiros, ou seja, os biomas internacionalmente reconhecidos por abrigarem excepcional diversidade sob forte ameaça (Myers et al., 2000). Esta situação se encontra também no QF, embora sob graus de ameaça acima da média, como veremos a seguir. A Figura 5.1.2 (também de Carmo, 2010) destaca as áreas que concentram a maioria dos afloramentos de cangas do QF. 5.1.1. Vegetação dos Campos Ferruginosos ou “Cangas” A preocupação com a situação dos ecossistemas encontrados nestas áreas peculiares, denominadas cangas, é relativamente recente. Uma das razões para isso é o seu relativo desconhecimento. As cangas ocorrem em poucos locais no Brasil, em fragmentos relativamente pequenos e representam uma fonte direta de riqueza mineral. Daí terem sido sempre vistas como áreas de “destinação natural” à mineração. As cangas da região do QF foram intensamente exploradas pela mineração desde os anos 30 do século XX até o presente. A Figura 5.1.3 (de Carmo 2010) ilustra exemplos da diversidade vegetacional das cangas do QF. A literatura sobre as cangas é incipiente. Os levantamentos já realizados, no entanto, permitem apontar alguns números notáveis. Em levantamentos florísticos realizados em 11
  • 12. quatro afloramentos de cangas, cujas áreas disjuntas totalizam menos de 300 ha, foram identificados 86 famílias, 250 gêneros e 458 espécies de plantas vasculares. Apenas 5% das espécies ocorreram em todas as cangas amostradas, caracterizando uma baixa similaridade florística (alta diversidade β) entre as localidades (Jacobi & Carmo, 2008a). Figura 5.1.1: A) A Cadeia do Espinhaco e em destaque o Quadrilatero Ferrifero, MG. Adaptado de Giulietti et al. (1997) por Carmo (2010); B) Mapa do relevo do setor mineiro da Cadeia do Espinhaco e em destaque o Quadrilatero Ferrifero. Adaptado de Miranda (2005) por Carmo (2010). 12
  • 13. Figura 5.1.2: Relevo do Quadrilatero Ferrifero (adaptado de Miranda, 2005) e as principais estruturas geologicas (Endo et al., 1991). A: Serra do Curral; B: Sinclinal Moeda; C: Sinclinal Gandarela; D: Chapada de Canga*; E: Sinclinal Alegria; F: Sinclinal Ouro Fino; G: Sinclinal Conta Historia; H: Sinclinal Dom Bosco. Retirado de Carmo (2010). *A Formacao Chapada de Canga representa uma unidade estratigráfica (Sant’Anna & Schorscher, 1997). Em um trabalho recente, Carmo (2010) fez uma análise detalhada da situação das áreas de cangas do QF. De forma minuciosa, demonstrou a importância das cangas e a situação atual de ameaça e vulnerabilidade em que se encontram as áreas de canga, propondo áreas prioritárias para ações emergenciais de conservação de pelo menos uma amostra significativa deste singular ecossistema. 13
  • 14. Figura 5.1.3: Heterogeneidade ambiental e as diversas fisionomias vegetais encontradas em cangas no Quadrilátero Ferrífero. A) Extensos lajeados localizados na Chapada de Canga (Catas Altas) e as ilhas de vegetação formadas por Vellozia sp.; B) Vegetação rupestre em cangas localizadas na Serra de Capanema (Ouro Preto); C) Vegetacao rupestre localizada na Serra da Brígida (Ouro Preto); D) Lagoa localizada em Catas Altas; E) Escarpa com cerca de 20 m de altura localizada no P.E. Serra do Rola Moca (Nova Lima); F) Capão de altitude localizado na Serra da Moeda (Moeda). Retirada de Carmo (2010). Fotos: Flavio Fonseca. O parágrafo abaixo, extraído de Jacobi & Carmo (2008a) resume adequadamente a situação da vegetação de canga no QF: 14 “Os campos rupestres ferruginosos, conhecidos como vegetação de canga, estão concentrados no Quadrilátero Ferrífero, em áreas associadas a
  • 15. 15 gigantescos depósitos de minério de ferro. É um dos ecossistemas menos estudados de Minas Gerais, embora entre os mais ameaçados, principalmente devido à intensa atividade mineradora associada a seus afloramentos de ferro. Os poucos e recentes levantamentos florísticos restritos a estes afloramentos, que somados não chegam a uma área de 260 ha, indicaram uma alta diversidade alfa e beta. Em quatro levantamentos foram identificadas 86 famílias, 250 gêneros e 458 espécies de plantas vasculares, distribuídos nos diversos habitats resultantes de uma evolução geomorfológica muito peculiar. As espécies comuns a esses afloramentos, entretanto, não chegam a 5%. Comparadas com outros afloramentos rochosos, como os de quartzito, as cangas contribuem substancialmente para a diversidade regional da flora. Um dos grupos vegetais mais relevantes para a conservação de regiões metalíferas são as metalófitas, com espécies capazes de crescer na presença de metais tóxicos, podendo oferecer serviços ecológicos como a fitoextração, fitoestabilização e fitoprospecção. O incremento da atividade mineradora, aliado à carência de unidades de conservação que abrigam este ecossistema, constituem as principais ameaças aos campos rupestres ferruginosos.” De acordo com Jacobi & Carmo (2008b), quase não há áreas públicas protegidas incluindo afloramentos de cangas, como se vê na Tabela 5.1.1. A única é o Parque Estadual da Serra do Rola Moça, que protege apenas pouco mais de 200 ha desta formação (Figura 5.1.4). Este fator explica o alto grau de vulnerabilidade das áreas de canga. O QF está dividido em centenas de pequenos polígonos que delimitam áreas de requerimento ou licença de pesquisa, disponibilidade, requerimento ou licença de lavra, solicitados ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) ou já concedidos (Figura 5.1.5). Esta destinação historicamente dada às áreas de canga leva à perda de grande quantidade de espécies, pois, como esta comunidade apresenta altos níveis de endemismo, ou seja, de espécies que só ocorrem nesta região, algumas espécies podem ainda nem ter sido descritas pela ciência. Várias destas espécies apresentam adaptações altamente específicas para a sobrevivência em solo com alto teor de metais. As chamadas “metalófilas” são plantas conhecidas em todo o mundo como portadoras de adaptações que levam ao aumento das concentrações destes metais em seus tecidos. O nível de concentração de metais nestas plantas pode ser mais elevado que o encontrado no solo (Jacobi & Carmo, 2008b). Este tipo de adaptação explica as altas taxas de endemismo, na medida em que torna estas espécies incapazes de sobreviver em solos que não tenham as altas concentrações de metais verificadas nas cangas. E faz com que esta flora tenha grande e pouco explorado potencial farmacológico. A Tabela 5.1.2, extraída de Carmo (2010), reforça a importância das cangas do ponto de vista da conservação da biodiversidade. Nela são listadas 89 espécies registradas nas cangas do QF, sendo 77 endêmicas ou provavelmente endêmicas, das quais 51 são citadas no livro “Plantas Raras do Brasil” (Giulietti et al. 2009). Destas espécies, onze são citadas na Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção (MMA, IN 06/2008) e 40 foram
  • 16. incluídas na Lista das Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora de Minas Gerais (Machado et al. 1998). Tabela 5.1.1: Unidades de Conservação públicas no sudeste brasileiro contendo afloramentos rochosos (traduzido do original em inglês de Jacobi & Carmo, 2008b) Tipo de Rocha Parques Nacionais Parques Estaduais 16 de Minas Gerais Área Total dos Parques (hectares) Canga — 1 3.900 Granito 5 2 210.361 Arenito 4 11 676.976 O estudo de Carmo (2010) apresenta uma avaliação de 34 cangas, totalizando 4.891 ha, com relação à sua situação de ameaça. Nesta avaliação foram estabelecidas categorias de ameaça, onde apenas uma (0,5% da área avaliada) foi classificada como “relativamente estável”; 18 cangas ficaram na categoria “vulnerável”, 11 “em perigo” e quatro “criticamente em perigo”, conforme ilustra a Figura 5.1.6, extraída na íntegra de Carmo (2010).
  • 17. Figura 5.1.4: Mapa de cobertura vegetal do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, no qual se observa a presença da formação de Canga em áreas restritas do Parque (figura extraída do Plano de Manejo do Parque Estadual do Rola-Moça, disponível em: http://www.biodiversitas.org.br/planosdemanejo/pesrm/dados/pdf/Pdf_encartes/Enc3_PESRM_EEF-995.pdf). 17
  • 18. Tabela 5.1.2: Espécies de plantas vasculares com alto valor para a conservação que ocorrem no Quadrilátero Ferrífero, MG. DG: distribuição geográfica; CG: endêmica ou presumivelmente endêmica de cangas do Quadrilátero Ferrífero; QF: Quadrilátero Ferrífero; PLR: planta rara (sensu Giulietti et al., 2009); BR: Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção; MG: Lista das Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora do Estado de Minas Gerais; AE: ameaçada de extinção; EX: extinta; CR: criticamente em perigo; EN: em perigo; VU: vulnerável; NA: não ameaçada; DD: deficiência de dados. (Modificado de Carmo, 2010) 18 Família Espécie DG PLR BR MG Pteridófitas1 Aspleniaceae Alplenium schwackei Christ QF AE CR Grammitidaceae Ceradenia warmingii (C. Chr.) Labiak QF AE CR Hymenophyllaceae Hymenophyllum silveirae Christ QF DD CR Lomariopsidaceae Elaphoglossum badinii Novelino QF Lycopodiaceae Huperzia rubra (Cham. & Schltdl.) Trevis QF AE CR Angiospermas Acanthaceae Staurogyne minarum (Nees) Kuntze QF X Staurogyne vauthieriana (Nees) Kuntze QF X DD EN Staurogyne warmingiana (Hiern) Leonard QF X AE CR Annonaceae Annona saffordiana R.E. Fries QF X Apocynaceae Ditassa longisepala (Hua) Fontella & E.A.Schwarz QF X VU Ditassa monocoronata2 (Rapini) T.U.P. Konno & Rapini CG DD EN Ditassa myrtilloides6 Fenzl ex E. Fourn. QF Ditassa pedunculata6 Malme QF EN Araliaceae Schefflera lucumoides (Decne. & Planch. ex Marchal) Frodin & Fiaschi QF X VU Asteraceae Chionolaena lychnophorioides Sch.Bip. X DD VU Dasyphyllum trychophyllum X DD Stevia resinosa Gardner QF X DD Bignoniaceae Lundia damazii DC. QF X Bromeliaceae Billbergia amoena var. minor3 (Antoine & Beer) L.B. Sm. QF Billbergia elegans3 Mart. ex Schult.& Schult. f. QF Cryptanthus caracensis3 Leme & E. Gross QF DD VU Cryptanthus glaziovii3 Mez QF DD VU Cryptanthus schwackeanus3 Mez QF VU Dyckia bracteata (Wittm.) Mez QF X NA Dyckia consimilis3,4 Mez CG DD Dyckia densiflora3,4 Schult. & Schult. f. CG X DD Dyckia elata3 Mez QF Dyckia schwackeana3,4 Mez CG CR Dyckia simulans3 L.B. Sm. QF DD Dyckia trichostachya3 Baker QF DD Nidularium linehamii3 Leme QF Vriesea clausseniana3 (Baker) Mez QF EN Vriesea longistaminea3,7 C.C.Paula & Leme CG DD CR Vriesea minarum3,4 L.B. Sm. CG DD VU Cactaceae Arthrocereus glaziovii4 (K.Schum.) N.P.Taylor & Zappi CG X DD CR Cipocereus laniflorus N.P.Taylor & Zappi QF X AE CR Caryophyllaceae Paronychia fasciculata Chaudhri QF X DD
  • 19. 19 Celastraceae Maytenus radlkoferiana Loes QF X DD Eriocaulaceae Actinocephalus falcifolius (Koern.) Sano QF X CR Leiothrix gomesii Silveira QF X EX Paepalanthus conduplicatus Koern. X Paepalanthus flaviceps Koern. QF X CR Paepalanthus garimpensis Silveira QF X CR Paepalanthus langsdorffii (Bong.) Koern. QF X Paepalanthus xiphophyllus Ruhland QF X DD Fabaceae Chamaecrista caracencis (H.S.Irwin & Barneby) H.S.Irwin & Barneby QF X Chamaecrista itabiritoana (H.S.Irwin & Barneby) H.S.Irwin & Barneby QF X Chamaecrista pilicarpa (Harms) H.S.Irwin & Barneby QF X Mimosa calodendron4 Mart. ex Benth. CG Gentianaceae Deianira damazioi E.F.Guim. QF X Gesneriaceae Sinningia4 rupicola (Mart.) Wiehler CG VU Lamiaceae Hyptidendron claussenii (Benth.) Harley QF X AE VU Hyptis rhypidiophylla Briq. QF X AE VU Hyptis tricephala A.St.-Hil. ex Benth. QF X DD VU Lauraceae Cryptocarya sellowiana P.L.R. de Moraes QF X Persea pedunculosa Meisn. QF X DD NA Malpighiaceae Banisteriopsis salicifolia (DC.) B. Gates QF X DD Melastomataceae Cambessedesia pityrophylla (Mart. ex DC.) A.B.Martins QF X DD Eriocnema acaulis Triana QF X AE DD Eriocnema fulva Naudin QF X AE CR Lavoisiera punctata Mart. & Schrank. ex DC X DD Microlicia cuspidifolia Mart. QF X DD DD Microlicia glazioviana Cogn. QF X DD DD Microlicia microphylla (Naudin) Cogn. QF X DD DD Microlicia suborbicularifolia Hoehne QF X Trembleya calycina Cham. QF X DD Trembleya rosmarinoides DC QF X DD Monimiaceae Macropeplus schwackeanus (Perkins) I. Santos & Peixoto X DD Myrtaceae Accara elegans (DC.) Landrum X DD VU Campomanesia prosthecepala Kiaersk. QF X DD Ochnaceae Luxemburgia corymbosa A.St.-Hil QF X DD CR Oleaceae Chionanthus greenii Lombardi QF X Orchidaceae Habenaria itacolumia Garay QF X AE CR Oncidium gracile4 Lindl. CG DD CR Sophronitis milleri4 (Blumensh. ex Pabst) Van den Berg & M.W. Chase CG DD CR Orobanchaceae Agalinis schwackeana (Diels) V.C. Souza & Giul. X DD Passifloraceae Passiflora hypoglauca Harms. X DD Plantaginaceae Stemodia lobata J.A.Schmidt X DD Poaceae Colanthelia distans (Trin.) McClure QF X CR Paspalum brachytrichum4 Hack. CG X CR Polygalaceae Securidaca acuminata A.St.-Hil. & Moq. X Symplocaceae Symplocos angulata Brand QF X DD
  • 20. 20 Symplocos microstyla Aranha, P.W. Fritsch et Almeda QF X VU Velloziaceae Barbacenia williamsii L.B.Sm. QF X Vellozia sellowii Seub. QF X Verbenaceae Stachytarpheta ajugifolia Schauer X CR Stachytarpheta confertifolia5 Moldenke *CG CR Xyridaceae Xyris nigricans L.A.Nilsson X AE EN Xyris villosicarinata Kral & Wand. QF X 1: Salino & Almeida, 2008 2: Rapini et al., 2002 3: Versieux et al., 2008 4: Viana, 2008 5: Atkins, 2005 6: Rapini, 2000 7: Leme & Paula, 2004 * S. confertifolia possui distribuição disjunta no estado de Goiás. Figura 5.1.5: Títulos minerários para ferro em regiões de cangas e formações ferríferas bandadas no Quadrilátero Ferrífero, MG. (Extraído de Carmo, 2010)
  • 21. Figura 5.1.6: Total das áreas (ha) das 34 cangas avaliadas e suas respectivas categorias de ameaça. CR: Criticamente em perigo (n = 4); EP: Em perigo (n = 11); VU: Vulnerável (n = 18); RE: Relativamente estável (n = 1). Extraído de Carmo (2010). 5.1.2. Floresta Estacional Semidecídua A Mata Atlântica é, sem dúvida, o bioma mais alterado pela ocupação humana no Brasil. O processo se iniciou antes mesmo da chegada dos colonizadores europeus, já que as práticas agrícolas dos indígenas incluíam o uso do fogo para a limpeza de áreas para plantio (Dean, 1996). Os efeitos dessas práticas, no entanto, dificilmente são perceptíveis hoje, face à intensidade infinitamente maior do uso e ocupação a partir da chegada dos europeus. É muito recente a preocupação com a devastação da vegetação nativa, em especial da Mata Atlântica. Foram quase 500 anos de expansão ininterrupta da ocupação dos espaços antes cobertos pelas diversas fisionomias enquadradas no domínio da Mata Atlântica. Como resultado, restam apenas cerca de 8% da área original do bioma ainda cobertos de remanescentes em condições de razoáveis a boas de preservação (Galindo-Leal & Câmara, 2005). Ainda mais grave é a situação das Matas Estacionais: este tipo florestal correspondia a cerca de 48% da área original do bioma (Câmara 2005) e dele restam apenas cerca de 3% da cobertura original (Figura 5.1.7, Galindo-Leal & Câmara, 2005). Justamente esta fitofisionomia é encontrada na região do Gandarela (Figura 5.1.8) e corresponde a cerca de 48% da área proposta para o Parque Nacional da Serra do Gandarela (Figura 5.2.1). Trata-se de um tesouro precioso em plena região metropolitana de Belo Horizonte. O texto abaixo, não publicado, foi gentilmente cedido pelas pesquisadoras Luciana Hiromi Yoshino Kamino e Tereza Cristina Spósito (Comunicação pessoal), e acrescenta informações relevantes sobre as formações florestais encontradas na Serra do Gandarela, contribuindo para atestar a relevância destas formações e a importância de sua proteção. 21
  • 22. 22 “A formação florestal predominante na Serra do Gandarela é a Floresta Estacional Semidecídua, sendo que a maior parte se encontra nos estágios médio e avançado de regeneração. Existem ainda algumas ocorrências de mata em estágio primário. A Mata Primária localizada-se nas encostas íngremes adjacentes às cangas em vales encaixados, com dossel superior a 20m de altura e com ocorrência de árvores emergentes com mais de 30m (Cariniana legalis). Observa-se a presença de indivíduos pioneiros de forma aleatória e pontual (Cecropia hololeuca – embaúba-branca), sugerindo dinâmica de clareira de mata madura (Oliveira-Filho, comunicação pessoal). Destaca-se a ocorrência de Euterpe edulis, o palmito-jussara, espécie ameaçada de extinção na categoria ‘Em Perigo’ (Fundação Biodiversitas 2009). Observa-se ainda uma riqueza e abundância de epífitas das famílias Araceae, Orchidaceae e Bromeliaceae e de pteridófitas (Asplenium harpeodo, Pecluma trumcorum, Selaginela flexuosa e Thrichomanes sp.). O sub-bosque é composto principalmente por espécies da família Melastomataceae, Myrtaceae, Rubiaceae e Piperaceae. Observa-se ainda a presença da pteridófita Marattia cicutifolia, ocorrente somente em matas em bom estado de conservação (Prof. Alexandre Salino, UFMG, comunicação pessoal). Além dessas, estão presente ainda Alsophila setosa (samambaiaçu) e Asplenium mucronatum (epífita), pteridófitas indicadoras de matas úmidas. Estas duas últimas espécies são consideradas o primeiro registro para o Quadrilátero Ferrífero e segundo registro para o estado de Minas Gerais, conhecidas apenas na serra do Itambé do Mato Dentro (Salino & Almeida, 2008). Nos pontos de maior altitude, variando entre 1.100 m e 1.600 m, ocorrem capões isolados de matas nebulares. Algumas vezes, esses capões crescem sobre antigas dolinas formadas pelo desabamento dos tetos das cavernas de canga. A composição florística inclui espécies típicas de altitude e aquelas ocorrentes em áreas de grande umidade, como espécies de Drimys brasiliensis, Eremanthus incanus, Ilex spp., Ouratea semiserrata e espécies da família Lauraceae (Oliveira-Filho e Fontes 2000). As florestas ciliares e as de galerias estão presentes em quase todos os cursos d’água, em ótimo estado de conservação, sendo que a maioria ultrapassa os limites das Áreas de Preservação Permanente – APP determinadas no Código Florestal. Essas florestas têm caráter perenifólio nas margens dos cursos d’água e semidecíduo nas encostas adjacentes. No dossel há predomínio de espécies arbóreas emergentes que chegam alcançar 20 m de altura. Como exemplos citamos as espécies Anadenanthera colubrina, Byrsonima stipulacea (espécie ameaçada de extinção na categoria ‘Vulnerável’), Copaifera langsdorffii, Cupania vernalis, Dalbergia nigra (espécie ameaçada de extinção na categoria ‘Vulnerável’), Melanoxylon brauna (espécie ameaçada de extinção na categoria ‘Vulnerável’) e Piptadenia gonoacantha.
  • 23. 23 Esses remanescentes florestais constituem um corredor ecológico unindo a Serra do Gandarela, a Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do Caraça e a Floresta Estadual de Uaimií, conservando importantes áreas de floresta na região. Considerando o alto nível de destruição ambiental e exploração ocorrente no Quadrilátero Ferrífero, a Serra do Gandarela possui grande vocação para a conservação da biodiversidade.” Figura 5.1.7: Porcentagem de remanescentes florestais (em preto) nas diferentes regiões biogeográficas do hotspot Mata Atlântica. Note-se que as Florestas Estacionais (Florestas de Interior) são, entre todas as variantes da Mata Atlântica, aquelas com menor percentual de remanescentes (3%), enquanto a porcentagem remanescente do bioma como um todo é de cerca de 8% (Figura retirada de Galindo-Leal & Câmara, 2005).
  • 24. Figura 5.1.8: Imagens da Mata Estacional Semidecidual encontrada na Serra do Gandarela e da ameaça que a cerca com o avanço do uso e da ocupação da região (Fotos: A: Alice Okawara; B: Paulo Baptista; C: Alice Okawara). 24
  • 25. 5.1.3. Aves no Quadrilátero Ferrífero Ferreira et al. (2009) realizaram um levantamento da avifauna de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, a RPPN Mata Samuel de Paula (MSP, com área de 147 ha), no município de Nova Lima. O trabalho resultou em uma lista de espécies e em uma análise comparativa com levantamentos realizados anteriormente em outras cinco áreas protegidas do QF. Os levantamentos usados na comparação foram realizados no Parque Estadual do Itacolomi (PEI, 7.543 ha), na RPPN Santuário do Caraça (11.233 ha), no Parque Natural Municipal Paredão da Serra do Curral (PPSC, 39 ha, Belo Horizonte), na “Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental de Peti” (EPDA Peti, 605 ha, pertencente à CEMIG – não é uma unidade de conservação do SNUC) e no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PESRM, 3.941 ha). O conhecimento da composição regional da biota é essencial para um planejamento, que pretenda preencher as lacunas na proteção da biodiversidade, podendo sugerir a criação de novas áreas protegidas que incluam espécies mal representadas nas unidades de conservação já existentes. O Anexo 1 apresenta a lista das espécies registradas pelos autores na RPPN MSP. A Tabela 5.1.3 mostra apenas as espécies consideradas endêmicas ou incluídas em listas de espécies ameaçadas nas seis áreas protegidas que tiveram os levantamentos de avifauna analisados. Espécies classificadas como endêmicas são mais numerosas na Mata Atlântica que no Cerrado. Embora as áreas protegidas analisadas estejam dentro dos limites oficiais da Mata Atlântica, o QF é uma região de transição, sendo normal a presença de espécies dos dois biomas. Os autores ressaltam, no entanto, a baixa representatividade de espécies raras, endêmicas e ameaçadas, apesar de as áreas analisadas conterem fragmentos de mata. Esta escassez é apontada como um indício de que as áreas protegidas do QF não têm tamanho suficiente para abrigar uma comunidade de aves representativa. A Figura 5.1.9 representa gráfica e estatisticamente esta situação, mostrando que a representatividade de espécies raras é maior nas áreas protegidas de maior área, indicando que as áreas menores não são suficientes para conservar comunidades íntegras. Chamamos à atenção para o fato de que a maior destas áreas protegidas tem apenas 11 mil ha. Adicionando as áreas da Floresta Estadual de Uaimii (4.398 ha), da Estação Ecológica de Tripuí (337 ha) e do Monumento Natural da Serra da Piedade (1.945 ha) a soma de todas as áreas protegidas (sem as APAs) perfaz 30.188 ha, ou 4,19% da área do QF, o que evidencia a baixa proteção dos ambientes do QF e ressalta a necessidade da criação de unidades de conservação de proteção integral maiores, de modo a aumentar as chances de sobrevivência, principalmente das espécies mais vulneráveis, algumas já oficialmente ameaçadas de extinção. 25
  • 26. Tabela 5.1.3: Distribuição e situação de conservação das espécies ameaçadas e/ou endêmicas em seis Unidades de Conservação do Quadrilátero Ferrífero. Conservação: (gc) criticamente em perigo, (gp) em perigo, (gv) vulnerável e (gq) quase-ameaçado de extinção no mundo (BirdLife International 2008); (rc) criticamente em perigo (rp), em perigo e (rv) vulnerável à extinção em Minas Gerais (Machado et al. 1998). Endemismo: (1) endêmica da Mata Atlântica, segundo Stotz et al. (1996); (2) endêmica do Cerrado e (3) endêmica dos topos de montanha do sudeste do Brasil, segundo Silva & Bates (2002) e Vasconcelos et al. (2003). Classificação taxonômica segundo CBRO (2008). Retirada de Ferreira et al. 2009). Espécies Endemismo e 26 conservação MSP PEI EPDA Peti RPPN Caraça PPSC PESRM Tinamus solitarius 1, gq, rc X** X** crypturellus noctivagus 1, gq, rc X*? Mergus octosetaceus 2, gc, rc X Penélope obscura Rv X X X Crax blumenbachii 1,gp, rc X** X** Odontophorus capueira 1, rv X X** Cathartes burrovianus 1 X Leucopternis polionotus 1, gq rp X Harpyhaliaetus coronatus Gp, rp X Spizaetus tyrannus rp X* Aramides saracura 1 X X X X Amazona vinacea 1, gv, rp X* Pyrrhura frontalis 1 X* X Primolius maracanã gq X* X Pulsatrix koeniswaldiana 1 X* X Strix hylophila 1, gq X Macropsalis forcipata 1,rv X Phaethornis eurynome 1 X X Aphantochroa cirrochloris 1 X Florisuga fusca 1 X X X X X Thalurania glaucopis 1 X X X X X X Leucochloris albicollis 1 X X Clytolaema rubricauda 1 X X Augastes scutatus 2, gq X X X X Trogon surrucura 1 X X X X Baryphthengus 1 X* ruficapillus Malacoptila striata 1 X X Ramphastos dicolorus 1 X Melanerpes flavifrons 1 X*? Veniliornis maculifrons 1 X Piculus aurulentus 1, gq X Campephilus robustus 1, rp X Melanopareia torquata 2 X X X Mackenziaena leachii 1 X X X X X Mackenziaena severa 1 X X* X Formicivora serrana 1 X X* X X Drymophila ferruginea 1 X X X* X X Drymophila rubricollis 1 X
  • 27. 27 Drymophila ochropyga 1,gq X X X Drymophila malura 1 X X Pyriglena leucoptera 1 X X X X X X Myrmeciza loricata 1 X X X Conopophaga lineata 1 X X X X X Hylopezus nattereri 1 X X Psilorhamphus guttatus 1, gq X* Scytalopus speluncae 1 X Scytalopus indigoticus 1, gq X X X X Chamaeza meruloides 1 X* X Sclerurus scansor 1 X X Xiphorhynchus fuscus 1 X X X X Lepidocolaptes 1 X X X X squamatus Campylorhamphus falcularius 1 X X Oreophylax moreirae 1 X Synallaxis ruficapilla 1 X X X X X Cranioleuca pallida 1 X X* X Phacellodomus 1 X X* X X erythrophthalmus Philydor atricapillus 1 X*? Anabazenops fuscus 1 X X* Automolus leucophthalmus 1 X X X X X Mionectes rufiventris 1 X X X X X Hemitriccus diops 1 X X Hemitriccus nidipendulus 1 X X X X Myiornis auricularis 1 X X X X* Todirostrum 1 X X X X X poliocephalum Phyllomyias virescens 1 X* Polystictus superciliaris 3 X* X X X Phylloscartes eximius 1, gq X Knipolegus nigerrimus 1 X X X X X X Muscipipra vetula 1 X X* X Attila rufus 1 X*? Phibalura flavirostris Gq, rv X X Lipaugus lanioides 1,gq, rv X* X Pyroderus scutatus 1, rv X X X Neopelma aurifrons 1, gv X# Neopelma chrysolophum 1 X X Ilicura militaris 1 X X X X X X Antilophia galeata 2 X Chiroxiphia caudata 1 X X X X X X Schiffornis virescens 1 X X X X Laniisoma elegans rv X Hylophilus poicilotis 1 X*? X*? Cyanocorax cristatellus 2 X X* X X X Tachyphonus coronatus 1 X X X** X X X
  • 28. 28 Thraupis ornata 1 X X X** X Euphonia cyanocephala 1 X* X Tangara seledon 1 X* Tangara desmaresti 1 X X* X Tangara cyanoventris 1 X X X X X Hemithraupis ruficapilla 1 X X X X X Porphyrospiza 2, gq X* X X caerulescens Haplospiza unicolor 1 X X* X Poospiza cinérea 2, gv, rv X X* X Sicalis flaveola rv X* X** X Embernagra longicauda 3, gq X X X* X X X Saltator atricollis 2 X Basileuterus leucoblepharus 1 X X X X (*) Espécies observadas por Carnevalli em EPDA Peti em 1989, em RPPN Caraça em 1980 e em PEI por Mattos na década de 80 e não observados nos levantamentos posteriores. (**) Espécies participantes de programas de reintrodução. (?) Espécies que podem ter sido registradas por erro de identificação. (#) registrada por Carnevalli em Peti em 1989, antes da revisão da espécie por Whitney et al. (1995). Figura 5.1.9: Relação entre número de espécies ameaçadas e área das Unidades de Conservação avaliadas. A regressão linear é significativa (F = 18,6275; R2 = 0,8232; p = 0,0137). (Retirado de Ferreira et al. 2009).
  • 29. A RPPN Santuário do Caraça, vizinha à área proposta para o Parque Nacional da Serra do Gandarela, mantém sítio na internet no qual divulga informações sobre fauna (http://www.santuariodocaraca.com.br/cultura/biogeografia.php, consultada em 24/09/2010), onde assinala a ocorrencia de 339 espécies de aves, sendo 71 endêmicas da Mata Atlântica, 4 endêmicas do Cerrado e 4 endêmicas dos topos de montanha do Sudeste do Brasil. Segundo o mesmo sítio na internet, quanto ao status de ameaça, 17 espécies estão incluídas em pelo menos uma das listas oficiais de espécies ameaçadas existentes (IUCN, espécies globalmente ameaçadas; lista nacional e lista estadual). Duas espécies são consideradas “vulneráveis” na lista da IUCN (“capacetinho-do-oco-do-pau”, Poospiza cinerea, e “cigarra-verdadeira”, Sporophila falcirostris) e 2 “em perigo” (“águia cinzenta”, Harpyhaliaetus coronatus, e “macuquinho-da-várzea”, Scytalopus iraiensis). Da lista oficial da fauna brasileira ameaçada de extinção foram registradas três espécies: “águia-cinzenta” (vulnerável), “macuquinho-da-várzea” (em perigo) e “cigarra-verdadeira” (vulnerável). Constam da lista oficial de espécies ameaçadas da fauna de Minas Gerais 15 espécies registradas neste levantamento. Na categoria “vulnerável”: “jacuaçu” (Penelope obscura), “uru” (Odontophorus capueira), “tesourinha-da-mata” (Phibalura flavirostris), “tropeiro-da-serra” (Lipaugus lanioides), “pavó” (Pyroderus scutatus), “chibante” (Laniisoma elegans), “capacetinho-do-oco-do- pau”, “canário-da-terra-verdadeiro” (Sicalis flaveola). Na categoria “em perigo”: “gavião-pombo- grande” (Leucopternis polionotus), “águia-cinzenta”, “gavião-pega-macaco” (Spizaetus tyrannus), “gavião-de-penacho” (Spizaetus ornatus), “pica-pau-rei” (Campephilus robustus), “cigarra-verdadeira”. Na categoria “criticamente em perigo”: “falcão-de-peito-laranja” (Falco deiroleucus). Vasconcelos et al (2008) registraram na região algumas espécies de importância para a conservação, podendo ser citadas a “águia-cinzenta” (Harpyhaliaetus coronatus) e Poospiza cinerea, espécie também ameaçada de extinção em Minas Gerais (Machado et al., 1998) e globalmente (BirdLife International, 2000). Outro registro importante é a existência de duas “IBAs” (sigla em inglês para “áreas importante para aves” – Important Bird Areas), que são áreas que se destacam pela ocorrência de espécies de aves endêmicas, na região do QF: a Serra do Caraça e Ouro Preto/Mariana (Bencke et al., 2006). 5.1.4. Mamíferos no Quadrilátero Ferrífero Um levantamento da fauna de mamíferos realizado na “Estação de Preservação e Desenvolvimento Ambiental” de Peti (EPDA-Peti), pertencente à Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), reserva particular de cerca de 600 ha, traz uma lista de espécies (Tabela 5.1.4) e algumas informações que, pela proximidade da área em relação à Serra do Gandarela, podem ser consideradas no atual contexto (Paglia et al. 2005). O total de espécies de mamíferos já registrados no Brasil era de 524, sendo 245 registrados em Minas Gerais. O QF é uma região de transição entre os biomas Cerrado e Mata Atlântica, o que contribui para um aumento de diversidade de espécies, pela presença de espécies típicas dos dois biomas. Na Mata Atlântica as espécies de mamíferos registradas eram 270, das quais 89 endêmicas ao bioma. Já para o Cerrado havia registro de 195 espécies, sendo 29
  • 30. 19 endêmicas ao bioma (Paglia et al. 2005). A lista oficial brasileira de espécies ameaçadas à época continha 39 espécies, mas atualmente são 69 (Chiarello et al. 2008). A riqueza de espécies de mamíferos encontrada na EPDA-Peti foi considera alta para uma área de 600 ha, o que, segundo os autores, pode ser explicado, pelo menos parcialmente, pela localização na transição entre biomas. Das 46 espécies, 3 constavam da lista de espécies ameaçadas de Minas Gerais, uma delas também na lista brasileira, e uma constava como “vulnerável” na lista da IUCN. Os autores fazem comparações com dois levantamentos anteriores, de 1989 e de 1996. 15 das espécies encontradas pelo estudo de 2005 não haviam sido registradas nos dois estudos anteriores. Por outro lado, 14 espécies registradas por pelo menos um dos estudos anteriores não foram registradas no estudo de Paglia et al. (2005). Os autores consideram importante que novos estudos verifiquem se estas 14 espécies deixaram de ocorrer na EPDA-Peti ou se sua ausência foi um evento fortuito ou resultado de esforço de coleta insuficiente. Assim como no caso das informações referentes a aves, é evidente que o tamanho das áreas protegidas existentes no QF não é suficiente para garantir a sobrevivência de espécies de maior porte nem de uma diversidade de espécies representativa desta porção do bioma Mata Atlântica. Tabela 5.1.4: Espécies de mamíferos registradas (presente) e não registradas (ausente) na Estação de Preservação e Desenvolvimento Ambiental de Peti, São Gonçalo do Rio Abaixo, MG, entre maio de 2002 e julho de 2004 (estudo de Paglia et al. 2005) e nos estudos anteriores lá citados (Fonseca et al., 1989 e Tavares & Cesari, 1996). Status de conservação nas listas de espécies ameaçadas de Minas Gerais (MG), do Brasil (BR) e da International Union for Conservation of Nature (IUCN); VU – vulnerável; EP – em perigo; CR – criticamente em perigo. Modificado de Paglia et al. (2005). 30 Inventário (P = presente; A = ausente) Táxon Paglia et al. 2005 Estudos Anteriores Presença em listas de espécies ameaçadas (MG, BR ou IUCN) Chiroptera Chrotopterus auritus P P Carollia perspicillata P P Glossophaga soricina P P Anoura caudifer P P Chiroderma doriae A P VU (MG/IUCN) Phyllostomus hastatus A P Anoura geoffroyi A P Nyctinomops laticaudatus A P Molossus molossus A P Artibeus lituratus P P Artibeus cf. fimbriatus P P Sturnira lilium P P Peropteryx macrotis P A Plathyrhinus lineatus P P Plathyrhinus recifinus P A VU (MG/BR/IUCN) Pygoderma bilabiatum P P Vampyressa pussilla P P
  • 31. 31 Desmodus rotundus P P Myotis cf. nigricans P P Myotis sp.1 P A Myotis sp.2 P A Rodentia Akodon cursor P P Bolomys lasiurus P A Blarinomys breviceps P A Calomys callosus P P Nectomys squamipes P P Oecomys trinitatis P P Oligoryzomys flavescens P A Oryzomys subflavus P A Oxymycterus dasytrichus P P Rhipidomys mastacalis P P Trinomys setosus P P Rattus norvergicus P P Kannabateomys amblyonyx A P VU (MG) Wilfredomys pictipes A P Sciurus aestuans P P Hydrochaeris hydrochaeris P P Agouti paca P P Dasyprocta agouti P P Didelphimorphia Marmosops incanus P P Didelphis albiventris P P Didelphis aurita P P Caluromys philander P A Philander frenata P P Gracilinanus agilis A P Carnivora Nasua nasua P P Procyon cancrivorus P P Eira barbara P P Galictis cuja A P Cerdocyon thous P P Chrysocyon brachyurus A P VU (MG/BR) Puma concolor A P CR (MG) VU (BR) Herpailurus yagouaroundi A P Primates Callithrix geoffroyi P P Callicebus nigrifrons P P Cebus nigritus A P Lagomorpha Silvilagus brasiliensis P P Artiodactila Mazama sp. P P Xenartha Dasypus sp. A P Tamandua tetradactyla P A EP (MG)
  • 32. De acordo com o sítio da RPPN Santuário do Caraça na internet (http://www.santuariodocaraca.com.br/cultura/biogeografia.php, consultada em 24/09/2010), registrou-se a ocorrencia de 66 espécies de mamíferos, dentre as quais se destaca o lobo-guará, como espécie-bandeira da unidade de conservação. Dez espécies de mamíferos ameaçados foram registrados, segundo o mesmo sítio na internet. Citamos as espécies, o status de ameaça e a lista na qual a espécie consta (estadual – MG, nacional – BR, ou global – IUCN): 1) Anta, Tapirus terrestris (em perigo, MG; vulnerável, IUCN); 2) guigó ou sauá (Callicebus nigrifrons, quase ameaçada, IUCN); 3) Lobo-guará, Chrysocyon brachyurus (vulnerável, MG; vulnerável, BR; quase ameaçada, IUCN); 4) Tamanduá-mirim, Tamandua tetradactyla (em perigo, MG); 5) Tamanduá-bandeira, Myrmecophaga tridactyla (em perigo, MG; vulnerável, BR; quase ameaçada, IUCN); 6) Tatu-do-rabo-mole, Cabassous unicinctus (vulnerável, MG); 7) Lontra, Lontra longicaudis (vulnerável, MG); 8) Jaguatirica, Leopardus pardalis (vulnerável, MG); 9) Onça-parda, Puma concolor (vulnerável, MG e BR); 10) Cateto, Pecari tajacu (em perigo, MG). Há ainda registros extra-oficiais de mamíferos, entre os quais cabe destacar a ocorrência da onça pintada (Panthera onca), espécie criticamente ameaçada segundo a lista estadual de espécies ameaçadas e vulnerável segundo a lista nacional, que embora não conste de levantamentos publicados por especialistas, teve dois indivíduos apreendidos na Serra da Piedade pela Polícia Militar Ambiental de Minas Gerais que foram soltos na região da Serra do Gandarela (Figura 5.1.10). Figura 5.1.10: Dois machos de onça-pintada (Panthera onca) apreendidos na Serra da Piedade e soltos na região da Serra de Gandarela. Imagens cedidas pelo Cabo Euler, Policia Ambiental de Caeté. 32
  • 33. 5.1.5. Outros Registros de Fauna O QF é citado como área altamente prioritária para a conservação da biodiversidade em Minas Gerais (Biodiversitas, 2005), sendo destacados para justificar este status o endemismo da flora e dos anfíbios. Não foram encontradas referências com informações detalhadas sobre anfíbios da região, mas dois estudos apresentam listas de espécies que contribuem para embasar nossa proposta. Leite et al. (2008) apresentam uma extensa lista de espécies registradas em toda a Cadeia do Espinhaço, da qual extraímos as espécies que são citadas como registradas no QF (Tabela 5.1.5) Canelas & Bertoluci (2007) realizaram levantamento dos anfíbios da RPPN Santuário do Caraça, cuja lista de espécies citamos na íntegra no Anexo 2. Tabela 5.1.5: Lista de espécies de anfíbios endêmicas à Cadeia do Espinhaço indicadas por Leite et al. (2008) como registradas apenas no Quadrilátero Ferrífero (QF) ou no Espinhaço Mineiro incluindo o Quadrilátero (EM). 33 Família Espécie Ocorrência Brachycephalidae Ischnocnema izecksohni QF Cycloramphidae Crossodactylodes bokermanni EM Thoropa megatympanum EM Hylidae Bokermannohyla alvarengai EM Bokermannohyla martinsi EM Bokermannohyla nanuzae EM Phasmahyla jandaia EM Phyllomedusa itacolomi QF Scinax curicica EM Scinax machadoi EM Hylodidae Hylodes uai QF Leiuperidae Physalaemus erythros QF Physalaemus evangelistai EM Finalmente, no que se refere à fauna, é importante registrar a questão da chamada “fauna troglomórfica” (invertebrados cavernícolas). Há indícios da existência de fauna troglomórfica pouco estudada, rara e microendêmica (Ferreira 2005, 2008), que só poderá ser melhor conhecida com mais estudos nas dezenas de cavernas ainda inexploradas que existem na área proposta para o Parque Nacional.
  • 34. 5.2. USO DO SOLO A área proposta apresenta baixa ocupação humana, havendo extensos e diversos ambientes naturais bem preservados. Para a descrição da situação de uso e ocupação do solo foram usados os mapas elaborados pelo Instituto Brasileiro da Mineração (IBRAM, 2003), além de vistorias em campo realizadas pela equipe do ICMBio. A érea trabalhada pelo IBRAM tem uma sobreposição de 88,3% com o perímetro proposto para o Parque, permitindo uma boa avaliação da situação, complementada por observações de campo. A terminologia utilizada no estudo do IBRAM foi “cobertura”, para o tipo de vegetação encontrado; “relevância”, para a importância de cada trecho do ponto de vista da conservação; e “tendência”, para a vocação atribuída a cada trecho. Os mapas com a sobreposição entre o trabalho do IBRAM e o perímetro proposto para o Parque, incluindo gráfico que mostra a porcentagem da área ocupada por cada classe estão nas figuras 5.2.1, 5.2.2 e 5.2.3. Verifica-se que há predomínio de “Floresta Nativa” (48,1% da área proposta para o Parque), “Cerrado” (16,3%), “Campo Natural” (12,3%), “Campo Rupestre” (9,9%) e “Capoeira” (9,4%). Há ainda afloramentos Rochosos que ocupam 1,3% da área. O uso do solo para a Atividade Agropastoril (1,21 %), de Reflorestamento (0,9%) e de Mineração (0,7%) era pouco significativo dentro da área proposta (Figura 5.2.1). Não há ocupação urbana dentro dos limites propostos. Quanto à “relevância” verifica-se que pelos critérios do estudo do IBRAM (2003), há grande predomínio de áreas classificadas como “muito relevantes” (58,2% da área proposta para o Parque) e “relevantes” (37,8%). Portanto, apenas 4,0% da área foram considerados “sem relevância” (Figura 5.2.2). A classificação por “tendência” do mesmo estudo aponta a evidente vocação da área para a conservação da natureza, chegando a 95,5% a parte da área cuja tendência indicada foi a conservação (Figura 5.2.3). Durante as vistorias realizadas pela equipe do ICMBio na área foram registradas 19 edificações inseridas nos limites propostos, sendo: seis sedes de fazendas, dez sítios e quatro casas abandonadas, conforme pode ser observado na figura 5.2.4. 34
  • 35. 35 1,2% 1,3% 12,3% 9,9% 9,4% 16,3% 0,7% 0,9% 48,1% Figura 5.2.1: Classificação por “cobertura” de acordo com o estudo do IBRAM (2003); classificação sobreposta com o polígono proposto para o Parque Nacional. As áreas brancas são trechos incluídos na atual proposta que não fizeram parte do estudo do IBAM, que representam 11,7% da área proposta.
  • 36. 36 4,0% 37,8% 58,2% Figura 5.2.2: Classificação por “relevância” de acordo com o estudo do IBRAM (2003); classificação sobreposta com o polígono proposto para o Parque Nacional. As áreas brancas são trechos incluídos na atual proposta que não fizeram parte do estudo do IBAM, que representam 11,7% da área proposta.
  • 37. 37 0,7% 0,05% 4,6% 95,5% Figura 5.2.3: Classificação por “tendência” de acordo com o estudo do IBRAM (2003); classificação sobreposta com o polígono proposto para o Parque Nacional. As áreas brancas são trechos incluídos na atual proposta que não fizeram parte do estudo do IBAM, que representam 11,7% da área proposta.
  • 38. Figura 5.2.4: Edificações registradas nos limites propostos durante o trabalho de campo realizado pela equipe do ICMBio entre dezembro de 2009 e maio de 2010. 5.3. HIDROGRAFIA, RECURSOS HÍDRICOS E ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DE MINS GERAIS A Serra do Gandarela é a mais importante área de recarga de aqüíferos do Quadrilátero Ferrífero. O Quadrilátero tem reserva hídrica no aqüífero estimada em 5 bilhões de m3, dos quais estima-se que 4 bilhões de m3 estejam no geossistema canga/ formações ferríferas (IBRAM 2003). Na Serra do Gandarela estão cerca de 40% das áreas restantes de canga no Quadrilátero (Carmo 2010), o que permite inferir que são altamente significativas as reservas hídricas encontradas no aqüífero sob as cangas da região. 38
  • 39. Figura 5.3.1: Nascentes englobadas pela proposta do Parque Nacional da Serra do Gandarela, em levantamento feito em escala 1:50.000. A região do Gandarela situa-se nas cabeceiras de importantes tributários de dois dos maiores rios nacionais. Lá nascem grande parte das águas que formam o Rio das Velhas a oeste, que drena para o São Francisco, e o Conceição a leste, que corre para o Rio Doce. Levantamento feito por sensoreamento remoto, em escala 1:50.000, indicou a existência de mais de mil nascentes dentro do polígono proposto para a criação do Parque (Figura 5.3.1). O mesmo levantamento, se feito em escala mais detalhada, certamente levaria a um número ainda maior. Assim, embora ainda possam ocorrer alterações nos limites da presente proposta, não há dúvida quanto à grande concentração de nascentes, que se deve às características climáticas, topográficas, geológicas e geomorfológicas da área. A drenagem fluvial completa pode ser conferida na Figura 5.2. Este importante conjunto hídrico já conta com alguns instrumentos legais a protegê-lo, seja de forma direta ou indireta. Grande parte da área em estudo faz parte da APA Sul da RMBH, área de proteção ambiental que carece de instrumentos mais efetivos para a conservação dos inúmeros atributos levantados neste estudo. Na esfera estadual, o mais importante instrumento de ordenamento do uso e ocupação do solo em Minas Gerais é o seu Zoneamento Ecológio-Econômico (ZEE-MG, SEMAD et al. 2008). O trabalho, realizado em convênio entre a Secretaria de Meio Ambiente e 39
  • 40. Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Universidade Federal de Lavras (UFLA), resultou num amplo diagnóstico das potencialidades e fragilidades existentes em todo o território do Estado de Minas Gerais. Para este diagnóstico foram considerados, sob inúmeros aspectos: Pedologia, Geomorfologia, Geologia, Mineração, Clima, Recursos Hídricos, Flora, Fauna e questões Sócio-Econômicas. Este trabalho inclui a área em estudo para a criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, resultando nas figuras e na análise que se segue. 7,6% 1,6% 0,8% 90,0% Descrição Zonas Área (ha) Terras de baixa vulnerabilidade em locais de alto potencial social ZEE-1 311 Terras de alta vulnerabilidade em locais de alto potencial social ZEE-2 34.402 Terras de baixa vulnerabilidade em locais de médio potencial social ZEE-3 601 Terras de alta vulnerabilidade em locais de médio potencial social ZEE-4 2.906 Terras de baixa vulnerabilidade em locais de baixo potencial social ZEE-5 0 Figura 5.3.2: Mapa sobrepondo o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Minas Gerais (ZEE-MG) e o polígono proposto para o Parque Nacional da Serra do Gandarela. Toda a área proposta se enquadra nas ZEE 1 a 4. De acordo com o ZEE-MG, portanto, 98% da área proposta apresentam “alta vulnerabilidade”. Quanto ao potencial social, 92% da área têm “alto potencial”, enquanto os 8% restantes têm “médio potencial social”. 40 Terras de alta vulnerabilidade em locais de baixo potencial social ZEE-6 0
  • 41. Primeiramente apresentamos o enquadramento da área em estudo nas diversas Zonas Ecológico-Econômicas resultantes do ZEE-MG. Verifica-se que 90% da área enquadrou-se na ZEE-2, que corresponde a “terras com alta vulnerabilidade em locais com alto potencial social” (Figura 5.3.2). Este é um dado altamente positivo para a proposta do Parque, já que demonstra a necessidade de proteção e o alto potencial da população local para ajudar a realizá-la. Outros 8% da área estão na ZEE-4, correspondente a “terras com alta vulnerabilidade em locais com médio potencial social”. Apenas 2% da área encontram-se em zonas correspondentes a “terras com baixa vulnerabilidade”, nas ZEE-1 e 3. Não houve áreas enquadradas nas ZEE-5 e 6 (Figura 5.3.2). Grande parte das informações que levaram ao quadro mostrado na Figura 5.3.2 estão desmembradas na Figura 5.3.3, onde verificamos que 81% da área apresentam “vulnerabilidade ambiental muito alta”, enquanto 16% têm “vulnerabilidade ambiental alta” e 3% têm “vulnerabilidade ambiental média” (Figura 5.3.3 A). No quesito “Prioridade para Conservação”, 79% da área são de “prioridade muito alta”; 14% de “prioridade alta” e 5% de “prioridade média”. Apenas 2% da área apresentam “prioridade baixa” (Figura 5.3.3 B). A “Integridade da Flora” é “muito alta” em 84% da proposta, “alta” em 6%, “média” em 3% e baixa em 7% da área proposta para o Parque (Figura 5.3.3 C). Finalmente, a “Vulnerabilidade à Erosão” foi classificada como “muito alta” em 41% da área, “alta” em 42%, “média” em 7%, “baixa” em 9% e “muito baixa” em 1% da área proposta para o Parque (Figura 5.3.3 D). Consideramos que estes parâmetros são, ao lado dos recursos hídricos, os que melhor demonstram a pertinência da proposta de proteção desta área, entre as muitas abordadas no ZEE-MG. O enquadramento dos corpos d’água contidos na área proposta para a criação do Parque fica em Classe Especial (Águas destinadas ao abastecimento doméstico, sem prévia ou simples desinfecção e à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas) e Classe 1 (Águas destinadas ao abastecimento doméstico, após tratamento simplificado; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário – natação, esqui aquático e mergulho; à irrigação de hortaliças e frutas a serem consumidas cruas e à aqüicultura), conforme a resolução CONAMA 357/2005, nas bacias do Rio Piracicaba (DN 09/94) e do Rio das Velhas (DN 20/97). Esta já seria uma razão para extrema cautela na destinação das áreas cortadas por estes cursos d’água. O ZEE-MG apontou, em algumas de suas análises parciais, parâmetros como “vulnerabilidade dos recursos hídricos”, “vulnerabilidade dos recursos hídricos à contaminação” e “comprometimento das águas” superficiais e subterrâneas. Estes parâmetros estão classificados para a área proposta para a criação do Parque Nacional na Figura 5.3.4 (A – D). 41
  • 42. A B C D 3.520 ha 9,2% 2.654 ha 6,9% Figura 5.3.3: Mapas sobrepondo o polígono proposto para o Parque Nacional da Serra do Gandarela a quatro dos aspectos analisados para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Minas Gerais; A) Vulnerabilidade Ambiental; B) Prioridade para Conservação; C) Integridade da Flora; D) Vulnerabilidade à Erosão. Verifica-se que a vulnerabilidade é “alta” em 41% da área e “média” em 59% da proposta (Figura 5.3.4 A). A “vulnerabilidade à contaminação” é classificada como “muito alta” em 2%, “alta” em 26% e “média” em 34% da proposta. A vulnerabilidade à contaminação é “baixa” ou “muito baixa” em 38% da proposta (Figura 5.3.4 B). O comprometimento das águas, tanto superficiais quanto subterrâneas é bastante baixo (Figura 5.3.4 C e D), o que demonstra que se trata de reservas disponíveis, ainda não destinadas a usos humanos, daí sua qualidade excepcionalmente boa e relativamente baixa vulnerabilidade. 42 1.121 ha 2,9% 6.2858 ha 16,5% 30.811 ha 80,6% 952 ha 2,5% 1.754 ha; 4,6% 5.377 ha 14,1% 30.137 ha 78,9% 1.203 ha 3,1% 2.747 ha 7,2% 31.994 ha 83,7% 2.276 ha 6,0% 375 ha 1,0% 15.639 ha 16.032 ha 40,9% 41,9% Muito Alta Alta Média Baixa Muito Baixa
  • 43. A B 6.538 ha 17,1% 733 ha 1,9% 8.009 ha 21,0% 9.755 ha 25,5% 13.186 ha 34,5% C D 22 ha 0,1% 15.835 ha 41,4% 22.363 ha 58,5% 13.597 ha 24.622 ha 64% 36% 21361 ha 56% 16.859 ha 44% Figura 5.3.4: Mapas sobrepondo o polígono proposto para o Parque Nacional da Serra do Gandarela aos aspectos relacionados a recursos hídricos analisados para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Minas Gerais; A) Vulnerabilidade dos Recursos Hídricos; B) Vulnerabilidade dos Recursos Hídricos à Contaminação; C) Comprometimento das Águas Superficiais; D) Comprometimento das Águas Subterrâneas. Analisando a situação de alguns municípios abrangidos pela proposta, verifica-se que aproximadamente 85% do abastecimento público de água do município de Caeté e todo o abastecimento do município de Raposos têm a sua captação em mananciais que possuem suas nascentes na Serra do Gandarela. O município de Rio Acima capta água para o abastecimento da sede municipal na APA do Mingu, que recebe contribuição de cursos d’água provenientes da área proposta para o Parque, com a qual faz limite (Figuras 5.3.5 e 5.3.6). 43 Muito Alta(o) Alta(o) Média(o) Baixa(o) Muito Baixa(o)
  • 44. 44 Figura 5.3.5: APA do Mingu e captação de água do município de Rio Acima (Foto: Flávio Cerezo). Figura 5.3.6: Captação de água do município de Rio Acima (Foto: Flávio Cerezo). O município de Raposos tem em sua Lei Orgânica (de 18 de março de 1990) e no seu Plano Diretor de Desenvolvimento (Lei 976, de 10/10/2006), importantes instrumentos nos quais a preservação da sub-bacia do Ribeirão da Prata é mencionada diversas vezes como fundamental para o município. Entre as “diretrizes específicas para o parcelamento do solo para fins urbanos, no território municipal, em áreas externas aos perímetros urbanos definidos
  • 45. por lei” (Art 20 do Plano Diretor) está o item “Definição de critérios especiais para a ocupação e o uso das áreas que integram o Manancial do Ribeirão da Prata, tombado pelo Conselho Deliberativo Municipal de Cultura de Raposos em reunião realizada dia 13 de julho de 2000, em conformidade com a Lei 815/99 e Decreto 119/99, art. 3º, sendo ouvidos, para isso, o próprio Conselho Deliberativo Municipal de Cultura, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Planejamento Urbano proposto pelo inciso XIX do Art. 6º desta Lei, e o CODEMA.” A abundância de nascentes, córregos e rios, e a topografia acidentada, levam à existência de dezenas de cachoeiras. Com um bom plano de uso público pode-se obter grandes benefícios aos municípios pela exploração racional deste imenso potencial turístico, sem comprometer a qualidade dos mananciais utilizados para o abastecimento dos municípios e as reservas hídricas, estratégicas para o futuro da RMBH. 5.4. GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E GEOSSISTEMA Do ponto de vista geológico, a região do Gandarela representa a última porção do Quadrilátero Ferrífero, região de grande geodiversidade, em boas condições de preservação, constituindo uma oportunidade de se perpetuar sua complexa geologia, que pode ser resumida nas seguintes unidades, de acordo com Silva e Salgado (2009): (i) embasamento cristalino, composto por granitos, gnaisses e migmatitos de idade arqueana; (ii) Supergrupo Rio das Velhas, composto basicamente por quartzitos, xistos e filitos que constituem uma sequência tipo greenstone belt, também de idade arqueana; (iii) Supergrupo Minas, constituído por rochas metassedimentares (quartzitos, xistos, filitos e formações ferríferas) de idade proterozóica e (iv) Grupo Itacolomi, constituído basicamente por quartzitos, igualmente de idade proterozóica, conforme representado na Figura 5.4.1. Do Geossistema, destaca-se a presença das mais significativas amostras existentes do Geossistema Canga/Itabirito, que abriga ecossistemas considerados dos mais raros e ameaçados do Brasil, com variados atributos relevantes. O polígono proposto contém o maior sistema subterrâneo ferruginoso ainda preservado do Brasil extra-amazônico; engloba lagoas temporárias de altitude, que são formações únicas; e é a mais importante área de recarga de aqüíferos do Quadrilátero Ferrífero. A área de canga próxima à Lagoa do Metro é a maior e mais preservada área contínua de cangas do Paleógeno (formado entre 55 e 23 milhões de anos atrás); somada às demais áreas de canga abrangidas pela proposta, chega-se a aproximadamente 40% das áreas de canga do Quadrilátero Ferrífero, que tem a maior área de canga do Brasil (Carmo 2010); 45
  • 46. Figura 5.4.1: Localização e esboço geológico da Serra do Gandarela no Quadrilátero Ferrífero (MG). Adaptado de Silva e Salgado (2009), elaboração cartográfica (do original) de Juliana Rodrigues da Silva, 2009. Projeção UTM, Datum SAD 69, Fuso 23S. Do ponto de vista paleontológico, destaca-se a existência de um sítio com “acervo detalhado da sedimentação continental terciária brasileira, com fósseis de três épocas geológicas (Figura 5.4.2), o que possibilita estudos de correlação geológica e paleontológica com outras bacias terciárias do Sudeste do Brasil”, e o estudo da evolução paleoambiental da região. (Maizatto, 2001; Penha, 2008). 46
  • 47. Figura 5.4.2: Localização do Sítio Paleontológico estudado por Maizatto (2001), com base em testemunhos coletados na década de 1970 pela mineradora MBR. Parte deste material se perdeu (testemunhos perdidos), mas aqueles que puderam ser analisados revelaram importantes informações palinológicas, que justificaram a sua aprovação como “Patrimônio Mundial” pelo “World Heritage Comitee” da UNESCO. O trecho a seguir, extraído de Maizatto (2001) explica a importância paleontológica do Gandarela: 47 “A bacia terciária do Gandarela se destaca como um dos mais importantes depósitos sedimentares continentais brasileiros, por apresentar um registro litológico constituído por rochas formadas em três idades distintas. Embora seja uma bacia de pequenas dimensões, ocupando uma área de aproximadamente 9km2, apresenta um riquíssimo conjunto de informações. Os depósitos de linhito que ocorrem nesta bacia foram explorados durante a década de 70 pela empresa Minerações Brasileiras Reunidas (M.B.R.). Para viabilizar esta exploração foi necessária a realização de uma campanha de furos de sondagem na região com o objetivo de delimitar esta jazida. Com isso, foram realizados vinte furos de sondagem (Figura 5.4.2) gerando um acervo do registro litológico ímpar, em se tratando de bacias sedimentares terciárias continentais no Brasil.” “Os depósitos de linhito apresentaram uma gênese vinculada a condições climáticas tropicais e subtropicais. Nos linhitos formados sob condições climáticas tropicais foi encontrada a associação de palinomorfos característica de climas quentes e úmidos, constituída por esporos de pteridófitas e grãos de
  • 48. 48 pólen de palmeiras”... “E a deposição de linhitos em condições subtropicais, frias e secas, foi baseada na ocorrência de cistos de dinoflagelados continentais, esporos cicatricosos e grãos de pólen vesiculados” ... “A associação de cistos de dinoflagelados, esporos cicatricosos e grãos de pólen vesiculados à condições subtropicais está de acordo com os trabalhos de Maizatto et al. (2000), Maizatto et al. (1998), Maizatto (1997) e Germeraad et al. (1968).” Do ponto de vista espeleológico, na maior área de canga contínua já foram catalogadas 74 cavidades, sendo que pelo menos quatro delas reúnem atributos para serem classificadas como de “relevância máxima”, conforme Decretos 99556/90 e 6640/08 e IN-ICMBio 02/2009 (Coelho et al. 2010), e há registro da existência de várias outras cavidades em canga ainda não classificadas na área proposta. 6. POTENCIAL TURÍSTICO A proposta do Parque Nacional Serra do Gandarela possui imenso potencial turístico, reforçado pela facilidade de acesso a partir de Belo Horizonte ou Ouro Preto e região. A Serra do Capanema é ligada a Ouro Preto por rodovia asfaltada que encontra a Rodovia dos Inconfidentes, a 25 km de Ouro Preto e 35 km de Mariana. Portanto, é possível estabelecer uma portaria do futuro Parque a poucos minutos de carro do pólo de turismo histórico mais importante do país. De Capanema e de Rio Acima, há dois acessos distintos, cada um a cerca de 70 Km de Belo Horizonte. Contribuem para este potencial as várias possibilidades de práticas de ecoturismo, turismo de aventura, turismo pedagógico, observação da vida selvagem, visitação científica, de realização de caminhadas curtas e longas (travessias), ciclismo, escalada, visitação a cavernas e sítios históricos. E há, ainda, as dezenas de cachoeiras balneáveis, de águas límpidas em meio a remanescentes bem preservados de Mata Atlântica, vegetação campestre e Cerrado. O futuro Parque inclui paisagens inusitadas, como várias lagoas em áreas de altitude, configuração peculiar e rara, grandes mirantes de belíssimas paisagens, com estradas de acesso já existentes e inúmeras trilhas, incluindo a travessia histórica de Capanema ao Caraça, com cerca de 300 anos de existência. Esta diversidade possibilita um rico trabalho de interpretação ambiental que abre os horizontes, principalmente para a população dos municípios envolvidos e vizinhos, para trabalhos de educação ambiental e patrimonial. Além dos atrativos ligados à natureza, a proposta do Parque Nacional da Serra do Gandarela inclui alguns sítios históricos que, além de demandarem cuidados para sua preservação, aumentam ainda mais o potencial turístico da futura unidade de conservação. Na porção sul da proposta, na região da serra de Capanema e Batatal, há importante acervo histórico (ruínas) dos séculos XVIII e XIX, citadas em importantes trabalhos de naturalistas do século XIX que por ali passaram, dentre eles: Spix e Martius, Richard Burton, Barão de Escheweg e Saint-Hilaire Outros sítios de interesse histórico são o “Retiro dos Capetas”, a “Casa Forte” e um muro de pedra considerado parte da “Estrada Real”.
  • 49. Figura 6.1: Exemplos de atrativos turísticos incluídos na proposta do Parque Nacional da Serra do Gandarela. A) Ruínas da Fazenda Cutão (Foto Alice Okawara); B) Ruínas do Retiro dos Capetas (Foto Alice Okawara); C) Lagoa do Metro na estação chuvosa (Foto Paulo Baptista); D) Lagoa do Metro na estação seca (Foto: Paulo Baptista); E) Cachoeira Maquiné (Foto Alice Okawara); F) Cachoeira do Mergulho (Foto: Juliana Silva); G) Cachoeira Santo Antônio (Foto: Robson de Oliveira). 49
  • 50. Observa-se ainda a presença de um importante sítio paleoambiental e o grande potencial para a instalação de um geoparque na área, possibilitando a constituição de atrativos de grande importância. Este conjunto de possibilidades dará ao Parque Nacional da Serra do Gandarela destaque absoluto no cenário nacional, bastando um investimento relativamente pequeno em infra-estrutura para visitação para que possa se tornar um dos mais visitados do Brasil, garantindo fonte de renda e de diversificados negócios e de movimentação financeira para os municípios incluídos, gerando postos de trabalho, arrecadação tributária e desenvolvendo uma economia regional sustentável. 7. AVALIAÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DOS MUNICÍPIOS ABRANGIDOS 50 7.1. Barão de Cocais 7.1.1. Caracterização · Localização: Central · Área: 34.056 ha · Principais rios: São João e Conceição · Bacia: Rio Doce Fontes: Instituto de Geociências Aplicadas – IGA; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE 7.1.2. História O município de Barão de Cocais é originalmente conhecido pelo nome de São João do Morro Grande. Povoado por sertanistas que procuravam ouro e ali se estabeleceram, construindo a primeira capela em honra a São João Batista. Por se encontrar no sopé de um grande morro, seu nome foi mudado para São João Batista do Morro Grande. A abundância de ouro atraiu novos moradores, e a paróquia foi instalada em 1749. De São João Batista do Morro Grande e São João do Morro Grande, reduz-se para Morro Grande. O município é criado em 1943, quando passa a denominar-se Barão de Cocais. Fonte: Secretaria da Cultura em 01/10/1999
  • 51. 7.1.3. Finanças Públicas A arrecadação municipal cresceu no período analisado (2001-2004), porém com flutuação (queda brusca) em 2003. A arrecadação do ICMS foi o fator de maior peso na arrecadação municipal, sendo determinante para o seu comportamento e valor (Figura 7.1.1). 7.1.4. População A população total cresceu continuamente de 1970 a 2000, determinada pelo crescimento contínuo da população urbana, em detrimento da população rural, que decresceu continuamente no período (Figura 7.1.2). No ano 2000, a população urbana já perfazia 91% da população total (Figura 7.1.3). Figura 7.1.1: Arrecadação (em reais) do município de Barão de Cocais entre os anos de 2001 e 2004 (Fonte: IBGE). 51
  • 52. Figura 7.1.2: População residente no município de Barão de Cocais segundo os censos de 1970 e 2000. O valor atribuído ao ano de 2005 é uma estimativa (Fonte: IBGE). Figura 7.1.3: População urbana e rural no município de Barão de Cocais, segundo o censo de 2000 (Fonte: IBGE). Quanto à ocupação da população por setores econômicos, predomina o setor de serviços, com 45% do total. Somado ao setor de comércio, que emprega mais 15% do total, o setor terciário emprega 60% da população ocupada. A seguir vem o setor industrial, com 33% do total. O setor agropecuário e extrativista animal e vegetal emprega apenas 7% do total (Figura 7.1.4). 52
  • 53. 7.1.5. Atividades Econômicas Quanto ao PIB, a maior contribuição é da indústria. Para o período analisado, houve discreto aumento anual de 1998 a 2000 e queda em 2001, voltando a subir em 2002. Já o setor serviços, com a segunda maior contribuição, contribuiu significativamente e mostrou maior regularidade, com discreto, porém constante crescimento anual por todo o período. A contribuição para o PIB do setor agropecuário foi insignificante no período analisado (Figura 7.1.5). Figura 7.1.4: Parcela da população de Barão de Cocais ocupada em cada setor da economia, segundo o censo de 2000 (Fonte: IBGE). 53
  • 54. Figura 7.1.5: Contribuição de cada setor da economia na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do município de Barão de Cocais entre os anos de 1998 e 2002. (Fonte: IBGE) 54
  • 55. 55 7.2. Caeté 7.2.1. Caracterização · Localização: Central · Área: 54.224 ha · Principais rios: Ribeirão Comprido; Ribeirão do Juca · Bacia: Rio São Francisco Fontes: Instituto de Geociências Aplicadas – IGA; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE 7.2.2. História A Serra da Piedade, com sua igrejinha e observatório astronômico, é lugar de parada obrigatória no caminho para se chegar à cidade. Lá, o visitante dispõe de restaurante panorâmico. Vale ainda uma visita à cascata que tem uma queda d'água de 40 metros. Cidade de variados pontos turísticos, pertence à Região Metropolitana de Belo horizonte. Mas ela não tem apenas o turismo para mostrar: os 28 mil habitantes dispõem de todo um equipamento urbano, à altura de uma grande cidade. A descoberta das minas de Caeté data de 1701. Em 1708, o arraial assistiu ao início da Guerra dos Emboabas, provocada por um incidente entre moradores locais e forasteiros e que se espalhou por boa parte de Minas. Este fato contribuiu para a criação da Capitania das Minas, desmembrada da de São Paulo. Vila Nova da Rainha foi o nome primitivo do local, sendo substituído, mais tarde, por Caeté, que significa "mata virgem". A decadência das Minas repercutiu fortemente em Caeté, que teve a vila suprimida e depois restaurada, em 1840, quando foi elevado a município. Além de belos exemplares típicos da arquitetura colonial, pode-se conhecer, a pequena distância da cidade, a serra da Piedade (1.783m de altitude), com seu santuário de Nossa Senhora da Piedade, tradicional ponto de romaria e cuja origem está ligada a muitas lendas. Ao lado do Santuário está o Observatório Astronômico da UFMG. Da serra, tem-se uma linda vista de várias cidades da região. Fonte: Secretaria da Cultura em 01/10/1999
  • 56. 7.2.3. Finanças Públicas A arrecadação municipal cresceu continuamente no período analisado (2001-2004), contribuindo para isso, pari passo, o ICMS e outras fontes de arrecadação (Figura 7.2.1). Figura 7.2.1: Arrecadação (em reais) do município de Caeté entre os anos de 2001 e 2004 (Fonte: IBGE). 7.2.4. População A população total cresceu continuamente de 1970 a 2000, determinada pelo crescimento contínuo da população urbana. A população rural flutuou discretamente, mas manteve sempre baixas taxas no período (Figura 7.2.2). No ano 2000, a população urbana já perfazia 87% da população total (Figura 7.2.3). Quanto à população ocupada por setores econômicos, predomina o setor de serviços, com 52% do total. Somado ao setor de comércio, que emprega mais 14% do total, o setor terciário emprega 66% da população ocupada. A seguir vem o setor industrial, com 26% do total. O setor agropecuário e extrativista animal e vegetal emprega apenas 8% do total (Figura 7.2.4). 7.2.5. Atividades Econômicas Quanto ao PIB, o total do município cresceu continuamente no período analisado. A maior contribuição é do setor de serviços. Para o período analisado, houve discreta redução em 1999 e crescimento contínuo a partir de 2000. Já o setor industrial, com a segunda maior 56
  • 57. contribuição, mostrou flutuação em todo o período. O setor agropecuário, com a menor contribuição, cresceu discretamente no período analisado (Figura 7.2.5). Figura 7.2.2: População residente no município de Caeté segundo os censos de 1970 e 2000. O valor atribuído ao ano de 2005 é uma estimativa (Fonte: IBGE). Figura 7.2.3: População urbana e rural no município de Caeté, segundo o censo de 2000 (Fonte: IBGE). 57
  • 58. Figura 7.2.4: Parcela da população de Caeté ocupada em cada setor da economia, segundo o censo de 2000 (Fonte: IBGE). Figura 7.2.5: Contribuição de cada setor da economia na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do município de Caeté entre os anos de 1998 e 2002. (Fonte: IBGE) 58
  • 59. 59 7.3. Itabirito 7.3.1. Caracterização · Localização: Central · Área: 54.193 ha · Principais rios: Rio Itabirito; Ribeirão da Silva. · Bacia: Rio São Francisco Fontes: Instituto de Geociências Aplicadas – IGA; Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE 7.3.2. História Com 1852 metros de altitude, o Pico Itabirito constitui-se num dos lugares atrativos para os turistas. A Mina Cata Branca, soterrada em 1884, considerada uma das grandes reservas auríferas do País; o Balneário Água Limpa, com praias e cascatas artificiais, e a Água Quente, com suas águas termais alcalinas e magnesianas são outros importantes pontos turísticos. A siderurgia e metalurgia, além da extração de minério de ferro, quartzito e caulim, são as principais atividades econômicas locais. Nos últimos anos do séc. XVII, o bandeirante Manoel Garcia descobriu ouro nas vertentes dos córregos Tripuí e Passa Dez, nos sopés do pico do Itacolomi. Logo a notícia se espalhou e surgiram outras expedições em busca de novas lavras. Assim surgiram as minas de Santa Bárbara e de Cata Branca dos Areches, originando-se, desta última, a Itabirito de hoje, no sopé do grande pico de minério de ferro de mesmo nome. Ao redor da mina de Cata Branca dos Areches se desenvolveu um povoado onde foi construída uma capela em honra de São Sebastião. Em 1745, é criada a freguesia, com o nome de Itabira do Campo, que, em 1752 é elevada a distrito. O ouro torna-se escasso e, em 1884, engenheiros da estrada de ferro Dom Pedro II, juntamente com metalurgistas estrangeiros que pretendiam se fixar naquelas paragens, formam a Usina Esperança (empresa pioneira da siderurgia brasileira, cuja história se confunde com a vida e o desenvolvimento de Itabirito). O novo município é formado em 1923, com o território desmembrado de Ouro Preto, recebendo o nome de Itabirito - denominação dada por Von Eschewege a um minério de ferro típico da região. Fonte: Secretaria da Cultura em 01/10/1999
  • 60. 7.3.3. Finanças Públicas A arrecadação municipal cresceu no período analisado (2001-2004), porém com flutuação (queda significativa em 2002, crescimento significativo em 2004). A arrecadação do ICMS foi o fator de maior peso na arrecadação municipal, sendo determinante para o seu comportamento e valor. Outras fontes de arrecadação contribuíram em menor grau, e tiveram crescimento ao final do período (Figura 7.3.1). Figura 7.3.1: Arrecadação (em reais) do município de Itabirito entre os anos de 2001 e 2004 (Fonte: IBGE). 7.3.4. População A população total cresceu no período de 1970 a 2000, influenciada pelo crescimento contínuo da população urbana, enquanto a população rural decresceu continuamente no período (Figura 7.3.2). No ano 2000, a população urbana já perfazia 91% da população total (Figura 7.3.3). Quanto à população ocupada por setores econômicos, predomina o setor de serviços, com 42% do total. Somado ao setor de comércio, que emprega mais 16% do total, o setor terciário emprega 58% da população ocupada. A seguir vem o setor industrial, com 40% do total. O setor agropecuário e extrativista animal e vegetal emprega apenas 2% do total (Figura 7.3.4). 60
  • 61. Figura 7.3.2: População residente no município de Itabirito segundo os censos de 1970 e 2000. O valor atribuído ao ano de 2005 é uma estimativa (Fonte: IBGE). Figura 7.3.3: População urbana e rural no município de Itabirito, segundo o censo de 2000 (Fonte: IBGE). 61
  • 62. Figura 7.3.4: Parcela da população de Itabirito ocupada em cada setor da economia, segundo o censo de 2000 (Fonte: IBGE). 7.3.5. Atividades Econômicas Quanto ao PIB, o total do município cresceu continuamente no período analisado. A maior contribuição é da indústria: para o período analisado, houve contínuo aumento anual. Já o setor serviços, com a segunda maior contribuição, contribuiu significativamente e cresceu moderadamente ao final do período. O setor agropecuário foi insignificante para o período analisado (Figura 7.3.5). 62