2. LÍNGUA PORTUGUESA I
OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E
SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A ARTICULA-
UNIDADE 6
ÇÃO DE SENTIDOS
Conforme falamos na unidade V, o assunto dessa unidade trata de
como podemos combinar os elementos para a formação de um texto coeso,
claro, conciso e coerente.
OBJETIVO DA UNIDADE:
• Compreender de que maneira os mecanismos de combinação e
articulação agem na língua como suporte para uma comunicação
coesa, clara e coerente.
PLANO DA UNIDADE:
• Os mecanismos de combinação e articulação de sentidos.
• A Coerência Textual.
• Os Tipos de Coerência Textual: a coerência semântica, a
coerência sintática, a coerência estilística, a coerência
pragmática.
• A diferença entre coerência global e coerência local.
Bons Estudos!
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3. UNIDADE 6 - OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A ARTICULAÇÃO DE SENTIDOS
Como você já deve ter percebido, escrever não é só colocar as idéias
no papel. Até porque essas idéias não surgem do nada. Elas fazem parte
do processo de comunicação de que participamos e de todas as informações
que nos chegam, através de trocas de experiências com seus interlocutores
e muita, muita leitura.
Veja a manchete de um jornal de grande circulação nacional que
publicou o seguinte:
PROFESSORAS MANDAM CARTA A DEPUTADOS
PROTESTANDO CONTRA O AUMENTO DE SEUS SALÁRIOS.
Repare que, da forma como a manchete foi redigida, o leitor
poderia entendê-la de dois modos diversos: as professoras,
chateadas com o aumento insignificante de seus salários, reclamam,
protestando, através de uma carta, aos senhores deputados; ou
as professoras questionam o aumento de salário que os deputados
tiveram, comparando com o salário delas e escrevem-nos
protestando.
Por que essa dupla interpretação aconteceu e acontece quando menos
esperamos?
Nesse caso, é o emprego do pronome “seus” o causador desse duplo
sentido.
Podemos dizer que o pronome possessivo destacado tanto pode se
referir aos salários das professoras como dos deputados.
Sendo o texto uma ‘unidade de sentido’, os elementos que o
compõem (palavras, orações, períodos) precisam se relacionar
harmonicamente.
A estruturação de uma simples frase pode ser comparada com a
articulação de um esqueleto com seus ossos. Do mesmo jeito que uma
articulação entre dois ou mais ossos acontece, resultando num movimento,
as palavras devem combinar umas com as outras numa articulação de
pensamentos, tornando o texto coeso, com nexo. Não se esqueça de que
nexo significa “ligação, vínculo”
Esse modo de estruturar o texto, a combinação e seleção das palavras
para evitar a falta de nexo, recebe o nome de mecanismos de coesão.
A coesão decorre das relações de sentido que se operam entre os
elementos de um texto. Também resulta da perfeita relação de sentido que
tem de haver entre as partes de um texto. Assim, o uso de conectivos é de
grande importância para que possa haver coesão textual.
Veja o significado da palavra conectivo, tirado do dicionário Michaellis
Eletrônico – Michaellis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – 2000.
co.nec.ti.vo adj (lat connect(ere) +ivo) Que liga, ou une. sm 1 Gram
Vocábulo que estabelece conexão entre palavras ou partes de uma frase.
Em português são conectivos: conjunções, pronomes relativos e preposições
(Matoso Câmara Jr.)
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Leia o texto que se segue:
“Além de ter liberdade para receber e transmitir informações é preciso que todos
sejam livres para manifestar opiniões e críticas sobre o comportamento do
governo. Não basta, porém, dizer na Constituição que essas liberdades existem.
É preciso que existam meios concretos ao alcance de todo o povo para a obtenção
e divulgação de informações, e por esses meios o povo participe constantemente
do governo, que existe para realizar sua vontade, satisfazer suas
necessidades e promover a melhoria de suas condições de vida”.
DALLARI, Dalmo de Abreu. In: Viver em sociedade. São Paulo: Editora Moderna, 1985. p. 41.
Atente para o fato de que as orações que formam esse trecho
apresentam uma perfeita relação de sentido criada com a ajuda dos
conectivos. Vamos analisar um a um os períodos encontrados no texto
transcrito acima para entender esses mecanismos relacionais que os
conectivos nos dão.
“Além de ter liberdade para receber e transmitir informações é preciso que todos
sejam livres para manifestar opiniões e críticas sobre o comportamento do
governo.”
No 1º segmento, encontramos a locução conjuntiva “além de” que
introduz as orações seguintes, ambas subordinadas adverbiais finais ‘para
receber e (para) transmitir’, que por sua vez são coordenadas aditivas
entre si, ou seja, têm a mesma função.
Na 2ª oração “Não basta, porém, dizer na Constituição que essas
liberdades existem”, a conjunção destacada indica contradição, oposição ou
restrição ao que foi dito na oração anterior.
Já, no último segmento do texto, no trecho sublinhado, encontramos
o pronome relativo que retomando o substantivo governo da oração anterior
e que aparece como oração principal de três outras orações subordinadas a
ela, também com o sentido de finalidade – para realizar sua vontade; (para)
satisfazer suas necessidades e (para) promover a melhoria de suas condições
de vida.
VEJA O TRECHO AGORA, POR INTEIRO:
‘É preciso que existam meios concretos ao alcance de todo o povo
para a obtenção e divulgação de informações, e por esses meios o povo
participe constantemente do governo, que existe para realizar sua vontade,
satisfazer suas necessidades e promover a melhoria de suas condições
de vida’.
Repare que trabalhamos com os conectores (outro nome para os
conectivos), visando à perfeita relação de sentido que deve haver entre as
partes que compõem um texto.
Sendo os conectivos elementos que relacionam partes de um discurso,
estabelecendo relações de significado entre essas partes, possuem valores
próprios, uns exprimindo finalidade, outros, oposição; outros, escolha e assim
por diante.
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5. UNIDADE 6 - OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A ARTICULAÇÃO DE SENTIDOS
A seleção vocabular é também um importante mecanismo coesivo e a
estamos empregando quando substituímos uma palavra que já foi usada
por outra que lhe retoma o sentido. Podemos usar sinônimos, pronomes
(retos ou oblíquos), pronomes relativos, etc.
Esse mecanismo seletivo, além de dar coesão ao texto, tem função
estilística, pois permite que as palavras não sejam repetidas.
De maneira geral, podemos dizer que temos um texto coerente e coeso
quando este não contém contradições, o vocabulário utilizado está
adequado, as afirmações são relevantes para o desenvolvimento do tema,
os fatos estão corretamente seqüenciados, ou seja, o texto deverá estar
constituído de relações de sentido entre os vocábulos, expressões e frases
e do encadeamento linear das unidades lingüísticas no texto.
O inverso é verdadeiro e podemos dizer que não haverá coesão
quando, por exemplo, empregarmos conjunções e pronomes de modo
inadequado, deixarmos palavras ou até frases inteiras desconectadas e
quando a escolha vocabular for inadequada, levando à ambigüidade, entre
outros problemas.
Aconselhamos que, para se perceber a falta de coesão no texto
produzido por você, o melhor que se tem a fazer é lê-lo atentamente,
estabelecer as relações entre as palavras que o compõem, as orações que
formam os períodos e, por fim, os períodos que formam o texto.
Como você pôde notar a coesão e a coerência textuais são elementos
facilitadores para a compreensão perfeita de um texto.
OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A
ARTICULAÇÃO DE SENTIDOS
Conforme falamos anteriormente, o assunto aqui, ainda diz respeito
à coerência textual. Falaremos de como a coerência se manifesta em um
texto.
Vejamos a acepção do vocábulo coerência, retirado do Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa - Eletrônico / 2001.
CO.E.RÊN.CIA - Substantivo feminino 1. qualidade, condição ou estado
de coerente. 2. ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas idéias;
relação harmônica, conexão. 3. congruência, harmonia de uma coisa com
o fim a que se destina. 4. uniformidade no proceder, igualdade de ânimo.
Como você deve ter percebido, coerência diz respeito a tudo que se
harmoniza entre si, que tem ligação. O conceito da palavra se relaciona à
presença de conexão, de nexo entre as idéias. Isso porque buscamos sempre
a existência de sentido, quer seja ao refletirmos sobre algo; quer seja,
interpretando o que nos rodeia; quer seja, ao tentarmos compreender o
conteúdo daquilo que nos é apresentado em forma de texto escrito.
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Para que possamos exemplificar as acepções do vocábulo, na prática,
leia o texto que se segue que consiste em uma redação de um vestibulando,
cujo conteúdo, como veremos ao lê-lo, é truncado e, por vezes, há a
necessidade da retomada da leitura para a sua melhor compreensão.
“Felicidade é um viver como aprendiz. É retirar de cada fase da vida
uma experiência significativa para o alcance de nossos ideais.
É basear-se na simplicidade do caráter ao executar problemas
complexos; ser catarse permanente de doação sincera e espontânea.
A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção,
faz-se de pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões
vivenciais. Cada dia traz, inserido na sua forma, um momento cujo
silêncio sussurra no interior de cada vivente chamando-o para a reflexão
de um episódio feliz.”
Vestibular – Universidade Federal de Uberlândia. Apud Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos
Travaglia. In. A Coerência Textual. São Paulo: Contexto, 2001. p.36
Assim, podemos inferir que o uso de algumas expressões
compromete o entendimento do texto. Como exemplo, citamos
“simplicidade do caráter ao executar problemas complexos” e “ser
catarse permanente de doação sincera e espontânea”. Também,
o pronome relativo ‘onde’ – indicativo de lugar – na oração “A
felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua
obtenção...” está completamente inadequado. Até a construção
inversa da frase, compromete-a.
Mesmo tendo uma incoerência, causada pelo mau uso de elementos
lingüísticos, conseguimos detectar o tema e o assunto do texto. Portanto,
essa incoerência não impede totalmente a sua compreensão.
Sendo assim, a coerência textual é um processo que inclui dois
fatores básicos:
1º) o conhecimento que o emissor e o receptor têm do que está
sendo tratado no texto;
2º) o conhecimento que têm da língua usada: a tipologia textual,
o vocabulário, os recursos da estilística, etc.
É claro que o tipo de texto influencia no processo da construção de
sentido. Os textos literários e publicitários, por exemplo, manifestam a
coerência de um modo diferente da coerência de um texto dissertativo,
em que os recursos lingüísticos devem facilitar a compreensão do
assunto. Um poeta não precisa desses mecanismos da linguagem, pois
o sentido de um texto literário não tem o compromisso de contemplar o
raciocínio lógico-argumentativo de uma dissertação.
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7. UNIDADE 6 - OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A ARTICULAÇÃO DE SENTIDOS
No texto do anúncio publicitário que se segue, adaptado da Revista
Set, nº 1 / 1998 – há uma incoerência semântica, quando se inverte o
sentido dos verbos (‘ler o filme, ver o livro, assistir (a)o disco’)
Porém, sendo um texto publicitário, esse ‘jogo de sentidos’ denota a
criatividade, a ousadia, características da sedutora linguagem da
propaganda.
É bom observar também que há um erro de ordem gramatical na oração
‘assista o disco’. O verbo assistir, no sentido de ver, presenciar, pede objeto
indireto; portanto, segundo a NGB (Norma Gramatical Brasileira) seria ‘assista
ao disco’.
As autoras Marina Ferreira e Tânia Pellegrini – em seu livro Redação:
palavra e arte. São Paulo: Atual, 1999. – fazem uma chamada na p. 221 que
vale à pena reproduzir:
“Quando você estiver lendo um texto qualquer; veja se é capaz de
falar sobre seus pontos mais importantes, se consegue discorrer sobre
ele, ligando uma idéia à outra, numa seqüência lógica. Se não
conseguir, é porque ainda não compreendeu esse texto. Nesse caso,
tente identificar se sua dificuldade reside nos termos empregados, na
organização das frases ou no próprio assunto debatido. Leia, então,
de novo, uma vez, outra, até entender”.
E ao escrever sua redação, antes de passá-la a limpo, observe se há
continuidade no desenvolvimento das idéias, se uma ‘puxa’’ a outra, se
você as percebe globalmente, como um todo, se não há contradições, enfim,
se é um texto coerente. E lembre-se de que fazer rascunhos é muito
importante para o exercício da coerência.
A coerência textual tem basicamente a ver com as condições para se
estabelecer um sentido em um determinado contexto.
Sendo assim, coerência textual é a relação harmônica que se dá entre
as partes de um texto, em um contexto específico, sendo responsável pela
percepção de uma unidade de sentido.
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8. LÍNGUA PORTUGUESA I
Para detectarmos se um texto é coerente ou incoerente teremos que
levar em conta o contexto em que um texto (ou ainda uma gravura, uma
pintura, uma escultura) foi feito.
Queremos deixar claro que nada é incoerente por si só. Algumas
passagens textuais (quer orais, quer escritas) apresentam incoerência
por falta de habilidade do emissor no uso da língua, em seus diversos
níveis. Muitas vezes, ao indicarmos alguma incoerência ou contradição
na fala ou no texto escrito por alguém, ouvimos: “Não foi bem isso
que eu quis dizer!” “Eu escrevi isso?”
O livro A Coerência Textual de Ingedore V. Koch e Luiz Carlos
Travaglia (Editora Contexto, 1996) trata dos vários níveis em que a
coerência textual se manifesta.
1. COERÊNCIA SEMÂNTICA: diz respeito à relação entre os significados dos
elementos das frases em seqüência em um texto ou entre os elementos de
um texto como um todo.
A contradição de sentidos também compromete a coerência semântica como
podemos perceber no exemplo que se segue:
“A frente da casa de vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda.
Todas as tardes ela fica na varanda em sua cadeira de balanço apreciando o pôr-
do-sol.”
Assim, a posição da frente da casa e o fato da avó ver o pôr-do-sol são
contraditórios, visto que o sol se põe a oeste e a localização da casa está no
leste.
2. COERÊNCIA SINTÁTICA: trata dos meios sintáticos para expressar a
coerência semântica, ou seja, o uso de conectivos, pronomes, sintagmas
nominais. A coerência sintática nada mais é do que um dos aspectos da
coesão.
3. COERÊNCIA ESTILÍSTICA: responde pelo fato de um usuário empregar
em seu texto elementos lingüísticos pertencentes ao mesmo registro
lingüístico. Seria, por exemplo, incoerente, o uso de gíria em textos
acadêmicos.
4. COERÊNCIA PRAGMÁTICA: tem a ver com o texto visto como uma
seqüência do ato de falar. Os atos da fala devem satisfazer as condições
presentes em uma dada situação comunicativa. Isso quer dizer que se um
amigo faz um pedido a outro, este deverá responder algo que esteja dentro
do “contexto”, ou seja, dentro de uma situação de comunicação.
Veja, como exemplo, um diálogo com incoerência pragmática para que
você possa entender melhor esse aspecto:
- Você pode me emprestar seu livro do Guimarães Rosa?
- Hoje eu comi um chocolate que é uma delícia.
Existe, também, uma distinção importante que deve ser citada aqui. É
a diferença entre coerência global – propriedade tomada em um texto como
um todo e a coerência local, que pode ser percebida em seqüências textuais
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menores. Muitas vezes, o fato de ocorrer incoerência de ordem local em um
texto, não significa que este foi prejudicado como um todo, pois podemos
entender a sua mensagem, mesmo com trechos incoerentes.
Sendo assim, concluímos que a coerência é resultado da não-
contradição entre os diversos segmentos textuais.
Reiteramos que enquanto a coesão existe no plano lingüístico, isto é,
nas relações semânticas e gramaticais entre as partes de um texto, a
coerência se estende para o plano das idéias, dos conceitos.
LEITURA COMPLEMENTAR
Aprofunde seus conhecimentos lendo:
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 8 ed. São Paulo: Ática,
2000.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. & TRAVAGLIA, Luis Carlos. A coerência
textual. 9 ed. São Paulo: Contexto, 1999. (Repensando a Língua Portuguesa)
ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. 11 ed. São Paulo: Ática, 2001.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois acesse o nosso ambiente
virtual de aprendizagem (AVA) e enviei suas respostas.
Interaja conosco!
Na próxima unidade falaremos dos ‘nós lingüísticos do texto’ e de que
maneira podemos controlá-los através dos mecanismos coesivos.
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