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Amor Inteiro
                           Trecho Inédito




                          Maribell Azevedo




® 2012 Maribell Azevedo
Capítulo 1

     Já tinha feito aquele trajeto tantas vezes, que mesmo se me distraísse, acredito
que não erraria o caminho, acho que minhas pernas me levariam seguramente na direção
correta, como sendo guiadas por um piloto automático.
     Acompanhado por Maggie, passo sorrindo pela recepção do hospital e
cumprimento uma enfermeira muito séria que responde de forma seca ao meu bom dia.
Sorrio ainda mais. O que posso fazer? Sinto-me feliz. As pessoas costumam ter aversão
a entrar em hospitais, porém eu não. Tinha motivos de sobra para contar os segundos até
chegar a hora de poder estar aqui. Por trás dessas paredes brancas e impessoais, se
encontrava o meu bem mais precioso, o cofre do meu coração. Marina.
     Procurei passar o máximo de tempo possível com ela, apesar de sua atenção que
também era dividida com familiares e amigos. Porém nos dias em que conseguimos
ficar juntos, tendo sua companhia exclusiva durante conversas tranquilas, percebi que a
minha Marina continuava ali, perdida em algum lugar na sua mente. Seu sorriso
continuava exatamente o mesmo, assim como seu jeitinho tímido de olhar e sua voz...
Céus! Como tinha sentido falta do som da sua voz! E durante a noite enquanto a
admirava dormir, a lembrança de seu pedido, para que eu a buscasse caso algum dia ela
se perdesse em um lugar estranho ou perigoso, me assombrava constantemente. Eu lhe
prometi ir até o fim do mundo se fosse necessário e que não haveria força capaz de tirá-
la de mim. Só não poderia imaginar que essa força, seria ela mesma.
     Após longos dias, finalmente ela receberia alta, com uma série de restrições
físicas e emocionais, mas isso era esperado, sua recuperação ainda estava em
andamento. Ela tinha sobrevivido àquele terrível acidente, no qual o carro que dirigia
foi violentamente atingido, depois de despertar do coma, melhorava progressivamente a
cada dia, o que deixava a todos muito felizes e cheios de esperança. Nós sabíamos que
mesmo assim, seu estado ainda iria requerer certos cuidados, porém todos estavam mais
do que dispostos a cooperar, tê-la com vida e saúde, era o mais importante.
     Marina em breve voltaria para casa, e finalmente poríamos um fim aquela farsa
ridícula de ainda sermos apenas irmãos. Era difícil prever sua reação, a angústia a
euforia e o medo povoavam minha mente, estava ficando cada vez mais complicado
esconder meus sentimentos. Conforme tinha combinado com nossos pais, eu tinha
cumprido com minha parte, atuando como seu irmão e nada mais. Só eu sei o quanto
® 2012 Maribell Azevedo
agir assim, havia me custado, se não fosse abençoado diariamente com sua presença e
sorriso, talvez não teria suportado.
       Nos últimos dias tínhamos conversado bastante, contei piadas e histórias
engraçadas da nossa infância, também levei um baralho para jogarmos juntos e passar o
tempo. Aos poucos fui revelando mais detalhes de minha vida, sempre com a esperança
de que subitamente lembrasse alguma coisa sobre nós, mas até o momento ouvia cada
informação com a mesma expressão surpresa e olhar curioso.
       Naquela noite enquanto jogávamos, comentei animadamente sobre minha
profissão e ela vibrou ao saber os personagens que já havia representado.
       — Meu irmão é um ator famoso, e eu adoro esse personagem! — falou
empolgada — Sempre tive uma quedinha por ele!
       — Como é que é? — perguntei bem humorado. — Você sempre teve uma
quedinha por quem?
       — Por esse herói que você representou. — respondeu com olhar sonhador. —
Lembra como ele era descrito no livro? Nossa! Você deve ter ficado perfeito no papel!
       — É mesmo, por quê? — sabia que era crueldade perguntar aquilo, mas não
resisti.
       — Ah, bem... — ela estava com as bochechas vermelhas agora. — Acho que você
se encaixa na descrição do típico herói romântico. Algo em você me lembra daqueles
príncipes dos contos de fadas, tipo A Bela Adormecida, essas coisas. — respondeu um
pouco encabulada.
       Fiquei olhando pra ela, sorrindo levemente, lembrando da descrição que ela tinha
feito de mim ao nos conhecermos na infância, era muito parecida com aquela atual e
isso mais uma vez confirmava minha teoria de que Marina poderia começar a
desenvolver os mesmos sentimentos por mim, pelo menos aquela era minha esperança.
       — Bati! — exclamei jogando a última carta na sua frente.
       — Ei! — reclamou. — Confessa que você me contou essa história do filme, só
pra me distrair do jogo!
       — Puxa, acho que você esta começando a se lembrar de mim! — brinquei
sorridente e recolhendo as cartas da cama.
       Ela estava sorrindo também, olhei para seus olhos alegres e era incrível a
felicidade que aquela simples visão proporcionava, me sentia muito animado por vê-la
bem e por tê-la comigo, mesmo que não exatamente como gostaria, pelo menos não
ainda, mas ao vê-la tão bem disposta, era fácil acreditar que nada era impossível.

® 2012 Maribell Azevedo
— Já é tarde, melhor irmos dormir. — falei depois de consultar o relógio em meu
pulso. — Amanhã será um grande dia, por isso é importante que você descanse bem,
nada de excessos.
         — Isso é ridículo! O Dr. Sanders já disse que assinará minha alta amanhã, então
que diferença faz dormirmos cedo ou tarde? Se é que vou conseguir dormir! Só de
pensar que amanhã nesse mesmo horário, estarei em casa, deitada em meu quarto! Estou
tão animada! — falou com aquele sorriso radiante que me deixava sem ar.
         — Sim, isso vai ser maravilhoso! — falei alegre, diante de seu entusiasmo. —
Nada como dormir na nossa própria cama. — e com sorte dormindo comigo, pensei
maliciosamente.
         Sorri ao ver sua expectativa, que não era maior que a minha. Aproximei-me para
beijar-lhe a testa, desejando-lhe boa noite, mas ela moveu a cabeça muito rápido e o
beijo saiu naquele pequeno espaço entre o nariz e os lábios. Ficamos parados por breves
segundos que pareceram durar para sempre, com o choque prendi a respiração, vi os
lábios dela, tremerem ligeiramente, passei a língua nos meus e suspirei, soltando o ar
profundamente. Tive que usar de todo meu autocontrole para não deixar a boca
escorregar mais pra baixo, afastei-me e vi um olhar surpreso e envergonhado.
         — Desculpe. — murmurou constrangida.
         — Tudo bem. — falei fingindo naturalidade. — Bem, acho que estamos meio
eufóricos, então vou apagar a luz, pra nos ajudar a relaxar e dormir.
         — Claro. — falou com o rosto corado e de olhos baixos.
         Esperei que ela deitasse e se cobrisse, depois apaguei a luz e me sentei na poltrona
reclinável que iria me servir de cama. Minha mente e corpo pareciam fervilhar diante
das emoções despertadas por nosso quase beijo, fechei os olhos com força, tentando
controlar a respiração apressada. O clima de alegre ansiedade, agora parecia substituído
por puro magnetismo entre nós. Segurei com força os braços da poltrona, eu precisava
me controlar. Ela estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Aquilo estava me
matando.
         — Dan, eu... — falou insegura, sua voz tímida ecoando pelo quarto.
         — O quê? — perguntei tentando disfarçar minha tensão.
         — Nada demais. — respondeu depois de um tempo. — Só quero te desejar boa
noite.
         Deus! — pensei em tormento. — Eu te amo! Como, te amo!
         No entanto tudo o que falei, no tom mais calmo que consegui foi:

® 2012 Maribell Azevedo
— Boa noite, Marina.
     — Durma bem. – ela murmurou antes de se virar, dando-me as costas.
     Fiquei por um bom tempo observando-a na penumbra, aos poucos percebi que ela
já estava adormecida pela maneira como respirava serenamente. Podia perceber o
contorno de seus ombros, parecia tão pequena e frágil deitada ali. Seu cabelo comprido
e cacheado se esparramava pelo travesseiro em lindas ondas. Como queria nadar nesse
mar escuro, mergulhar nessas águas perfumadas, me perder em suas profundezas.
     — Amanhã. – sussurrei antes de fechar os olhos e finalmente adormecer.
                                            ***




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  • 1. Amor Inteiro Trecho Inédito Maribell Azevedo ® 2012 Maribell Azevedo
  • 2. Capítulo 1 Já tinha feito aquele trajeto tantas vezes, que mesmo se me distraísse, acredito que não erraria o caminho, acho que minhas pernas me levariam seguramente na direção correta, como sendo guiadas por um piloto automático. Acompanhado por Maggie, passo sorrindo pela recepção do hospital e cumprimento uma enfermeira muito séria que responde de forma seca ao meu bom dia. Sorrio ainda mais. O que posso fazer? Sinto-me feliz. As pessoas costumam ter aversão a entrar em hospitais, porém eu não. Tinha motivos de sobra para contar os segundos até chegar a hora de poder estar aqui. Por trás dessas paredes brancas e impessoais, se encontrava o meu bem mais precioso, o cofre do meu coração. Marina. Procurei passar o máximo de tempo possível com ela, apesar de sua atenção que também era dividida com familiares e amigos. Porém nos dias em que conseguimos ficar juntos, tendo sua companhia exclusiva durante conversas tranquilas, percebi que a minha Marina continuava ali, perdida em algum lugar na sua mente. Seu sorriso continuava exatamente o mesmo, assim como seu jeitinho tímido de olhar e sua voz... Céus! Como tinha sentido falta do som da sua voz! E durante a noite enquanto a admirava dormir, a lembrança de seu pedido, para que eu a buscasse caso algum dia ela se perdesse em um lugar estranho ou perigoso, me assombrava constantemente. Eu lhe prometi ir até o fim do mundo se fosse necessário e que não haveria força capaz de tirá- la de mim. Só não poderia imaginar que essa força, seria ela mesma. Após longos dias, finalmente ela receberia alta, com uma série de restrições físicas e emocionais, mas isso era esperado, sua recuperação ainda estava em andamento. Ela tinha sobrevivido àquele terrível acidente, no qual o carro que dirigia foi violentamente atingido, depois de despertar do coma, melhorava progressivamente a cada dia, o que deixava a todos muito felizes e cheios de esperança. Nós sabíamos que mesmo assim, seu estado ainda iria requerer certos cuidados, porém todos estavam mais do que dispostos a cooperar, tê-la com vida e saúde, era o mais importante. Marina em breve voltaria para casa, e finalmente poríamos um fim aquela farsa ridícula de ainda sermos apenas irmãos. Era difícil prever sua reação, a angústia a euforia e o medo povoavam minha mente, estava ficando cada vez mais complicado esconder meus sentimentos. Conforme tinha combinado com nossos pais, eu tinha cumprido com minha parte, atuando como seu irmão e nada mais. Só eu sei o quanto ® 2012 Maribell Azevedo
  • 3. agir assim, havia me custado, se não fosse abençoado diariamente com sua presença e sorriso, talvez não teria suportado. Nos últimos dias tínhamos conversado bastante, contei piadas e histórias engraçadas da nossa infância, também levei um baralho para jogarmos juntos e passar o tempo. Aos poucos fui revelando mais detalhes de minha vida, sempre com a esperança de que subitamente lembrasse alguma coisa sobre nós, mas até o momento ouvia cada informação com a mesma expressão surpresa e olhar curioso. Naquela noite enquanto jogávamos, comentei animadamente sobre minha profissão e ela vibrou ao saber os personagens que já havia representado. — Meu irmão é um ator famoso, e eu adoro esse personagem! — falou empolgada — Sempre tive uma quedinha por ele! — Como é que é? — perguntei bem humorado. — Você sempre teve uma quedinha por quem? — Por esse herói que você representou. — respondeu com olhar sonhador. — Lembra como ele era descrito no livro? Nossa! Você deve ter ficado perfeito no papel! — É mesmo, por quê? — sabia que era crueldade perguntar aquilo, mas não resisti. — Ah, bem... — ela estava com as bochechas vermelhas agora. — Acho que você se encaixa na descrição do típico herói romântico. Algo em você me lembra daqueles príncipes dos contos de fadas, tipo A Bela Adormecida, essas coisas. — respondeu um pouco encabulada. Fiquei olhando pra ela, sorrindo levemente, lembrando da descrição que ela tinha feito de mim ao nos conhecermos na infância, era muito parecida com aquela atual e isso mais uma vez confirmava minha teoria de que Marina poderia começar a desenvolver os mesmos sentimentos por mim, pelo menos aquela era minha esperança. — Bati! — exclamei jogando a última carta na sua frente. — Ei! — reclamou. — Confessa que você me contou essa história do filme, só pra me distrair do jogo! — Puxa, acho que você esta começando a se lembrar de mim! — brinquei sorridente e recolhendo as cartas da cama. Ela estava sorrindo também, olhei para seus olhos alegres e era incrível a felicidade que aquela simples visão proporcionava, me sentia muito animado por vê-la bem e por tê-la comigo, mesmo que não exatamente como gostaria, pelo menos não ainda, mas ao vê-la tão bem disposta, era fácil acreditar que nada era impossível. ® 2012 Maribell Azevedo
  • 4. — Já é tarde, melhor irmos dormir. — falei depois de consultar o relógio em meu pulso. — Amanhã será um grande dia, por isso é importante que você descanse bem, nada de excessos. — Isso é ridículo! O Dr. Sanders já disse que assinará minha alta amanhã, então que diferença faz dormirmos cedo ou tarde? Se é que vou conseguir dormir! Só de pensar que amanhã nesse mesmo horário, estarei em casa, deitada em meu quarto! Estou tão animada! — falou com aquele sorriso radiante que me deixava sem ar. — Sim, isso vai ser maravilhoso! — falei alegre, diante de seu entusiasmo. — Nada como dormir na nossa própria cama. — e com sorte dormindo comigo, pensei maliciosamente. Sorri ao ver sua expectativa, que não era maior que a minha. Aproximei-me para beijar-lhe a testa, desejando-lhe boa noite, mas ela moveu a cabeça muito rápido e o beijo saiu naquele pequeno espaço entre o nariz e os lábios. Ficamos parados por breves segundos que pareceram durar para sempre, com o choque prendi a respiração, vi os lábios dela, tremerem ligeiramente, passei a língua nos meus e suspirei, soltando o ar profundamente. Tive que usar de todo meu autocontrole para não deixar a boca escorregar mais pra baixo, afastei-me e vi um olhar surpreso e envergonhado. — Desculpe. — murmurou constrangida. — Tudo bem. — falei fingindo naturalidade. — Bem, acho que estamos meio eufóricos, então vou apagar a luz, pra nos ajudar a relaxar e dormir. — Claro. — falou com o rosto corado e de olhos baixos. Esperei que ela deitasse e se cobrisse, depois apaguei a luz e me sentei na poltrona reclinável que iria me servir de cama. Minha mente e corpo pareciam fervilhar diante das emoções despertadas por nosso quase beijo, fechei os olhos com força, tentando controlar a respiração apressada. O clima de alegre ansiedade, agora parecia substituído por puro magnetismo entre nós. Segurei com força os braços da poltrona, eu precisava me controlar. Ela estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Aquilo estava me matando. — Dan, eu... — falou insegura, sua voz tímida ecoando pelo quarto. — O quê? — perguntei tentando disfarçar minha tensão. — Nada demais. — respondeu depois de um tempo. — Só quero te desejar boa noite. Deus! — pensei em tormento. — Eu te amo! Como, te amo! No entanto tudo o que falei, no tom mais calmo que consegui foi: ® 2012 Maribell Azevedo
  • 5. — Boa noite, Marina. — Durma bem. – ela murmurou antes de se virar, dando-me as costas. Fiquei por um bom tempo observando-a na penumbra, aos poucos percebi que ela já estava adormecida pela maneira como respirava serenamente. Podia perceber o contorno de seus ombros, parecia tão pequena e frágil deitada ali. Seu cabelo comprido e cacheado se esparramava pelo travesseiro em lindas ondas. Como queria nadar nesse mar escuro, mergulhar nessas águas perfumadas, me perder em suas profundezas. — Amanhã. – sussurrei antes de fechar os olhos e finalmente adormecer. *** ® 2012 Maribell Azevedo