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FACULDADE PAULISTA DE ARTES
Curso de Graduação em Artes Cênicas

Educação no Carnaval:
Eduardo Caetano, Arte e Educação através do
Desfile de Escola de Samba.

Marcos Antonio Passos

São Paulo
2011
1

Marcos Antonio Passos

Educação no Carnaval:
Eduardo Caetano, Arte e Educação através do
Desfile de Escola de Samba.

Monografia apresentada ao Curso de
Graduação em Artes Cênicas da Faculdade
Paulista de Artes, como requisito parcial
para obtenção do título de Licenciado em
Artes Cênicas.

Orientador: José Carlos de Andrade.

São Paulo
2011
2

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus que nunca me abandonou mesmo nos
momentos mais difíceis, sendo meu amparo sempre.
Aos meus antepassados, em especial meu pai, que mesmo sem sua
presença física está sempre presente em meus pensamentos e em minha vida.
A meu Pai Ogun Xoroquê, e todos os Orixás e espíritos que fazem parte da
minha vida, da minha estrutura e do meu caminhar. Obrigado Mãe Keleomin por
tudo. Axé Mãe Lecimbe.
A minha mãe, pois sem ela eu não estaria aqui, e todos os meus familiares.
Ao professor e orientador Zecarlos de Andrade, pelas orientações e pela
paciência que teve no momento que mais precisei.
A todos os professores da FPA, pois foram muito importantes para mim e não
esquecendo também de agradecer, a todas as professoras e professores que tive
desde o início da minha caminhada.
Obrigado a meu amigos por tudo, pelo carinho, pela atenção e pelas ideias.
Agradeço muito o ser iluminado Jeferson de Freitas, sem seu apoio eu não
teria terminado esse trabalho.
Agradeço toda família Dragões da Real, vocês foram maravilhosos.
Enfim, muito obrigado Eduardo Caetano, por ter dado a oportunidade de
realizar esse trabalho e essa pesquisa, sem seu apoio e sem suas informações não
teria terminado esse projeto.
3

RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar o trabalho do carnavalesco
Eduardo Caetano no Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mancha Verde e
na Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Dragões da Real, no esforço de
atribuir a esses núcleos elementos indispensáveis à aprendizagem, tais como a
importância da consciência coletiva, motivação, prazer e sentido no aprendizado,
procurando fazer um paralelo com as instituições de ensino tradicionais. Para
elaboração dessa pesquisa usei como metodologia a observação participante, que
nesse trabalho possibilitou um olhar mais minucioso sobre a realidade dos sujeitos
envolvidos o que possibilitou a definição de casos de estudos onde eu pude
aprofundar um pouco mais algumas questões ligadas ao trabalho do barracão.
Definidos os casos e o método, foram realizadas entrevistas com alguns membros
das escolas e com o carnavalesco. Com base nesse material foi realizado um
levantamento bibliográfico a fim de mostrar como a arte, a educação e a informação
estão presentes no carnaval, verificando ainda a potencialidade das escolas de
samba e do carnavalesco nas abordagens pedagógicas dos currículos em sala de
aula. Desse modo meus principais interlocutores teóricos foram BAKHTIN (1993),
BARBOSA (2008), HALL (1997), FREIRE (2004), GARCIA (2002) e PIAGET (1998).
A partir do presente estudo foi possível concluir a relevância de possibilitar uma
educação de modo a construir uma forma de aprendizado que valorize as
experiências, o cotidiano do aluno. No entanto é importante ter em mente nas
necessidades que a nossa sociedade possui e as experiências que tomamos como
base ao pensar no aprendizado para não repetirmos os moldes educacionais
tradicionais. Nesse sentido é importante ressaltar a valorização do cotidiano das
classes populares, que muitas vezes é tido como algo que não deve ser tomado
como exemplo, ou que deve ser modificado, numa supervalorização do cotidiano de
uma elite, ou mesmo de uma classe média em detrimento da experiência vivida
pelas classes populares, classe que mais precisa dessa atenção, bem como de
valorização. Desse modo, uma alfabetização comprometida com o sucesso das
crianças e dos jovens das classes populares, buscando a apropriação da linguagem
como instrumento de critica e afirmação social, sendo assim o resgate do sentido e a
recuperação da autoria.
Palavras-chave: Carnaval; Barracão; Educação; Cultura.
4

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 Mascaras do Carnaval de Veneza..................................................... 12
FIGURA 02 Carnavalesco Eduardo Caetano........................................................ 14
FIGURA 03 Carro Abre-alas – Mancha Verde/2005............................................. 21
FIGURA 04 Ariano Suassuna em carro alegórico – Mancha Verde/2008........... 26
FIGURA 05 Preparativos para o desfile – Dragões/2011...................................... 27
FIGURA 06 Carro Mancha Verde/2008 – Alma de Palhaço – O carro mais
comentado do ano................................................................................................. 28
FIGURA 07 Carro Alegórico – A Floresta Proibida e a Bruxa – Dragões/2011..... 29
FIGURA 08 Carro Alegórico– João e Maria e a Casa de Doces– Dragões/2011...30
FIGURA 09 Carro Alegórico – As Três Folhas da Serpente e O Músico de
Bremen. Dragões/2011.......................................................................................... 31
FIGURA 10 Carro Alegórico – O Lago Dos Inocentes e o Castelo De Cristal –
Dragões/2011........................................................................................................ 32
FIGURA 11 Mestre-Sala e Porta-Bandeira – Encanto das Borboletas –
Dragões/2011........................................................................................................ 33
FIGURA 12 Comissão de Frente – Fadas – Dragões/2011.................................. 34
FIGURA 13 Comissão de Frente – Magos – Dragões/2011................................. 37
FIGURA 14 Destaques da Dragões – Mago, Chapeuzinho Vermelho e a
Bruxa – Carnaval/2011.......................................................................................... 41
FIGURA 15 Carro Abre- Alas – A Floresta Proibida e a Bruxa............................. 42
FIGURA 16 Ala – Espelho Dos Invisíveis – Dragões/2011................................... 43
FIGURA 17 Desfile das Campeãs – Carnaval/2011.............................................. 44
FIGURA 18 Ala das Baianas – Bruxas – Dragões/2011........................................ 45
FIGURA 19 Diretoria da Escola – Comemoração do Título de Campeã/2011...... 46
5

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................06

2. CARNAVAL E PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL.................................. 11
2.1 Breve Histórico do Carnaval......................................................................... 11
2.2 Carnavalesco..................................................................................................13

3. EDUCAÇÃO E CULTURA................................................................................ 17
3.1 Definindo Cultura........................................................................................... 17
3.2 Cultura e Educação....................................................................................... 18

4 APRENDENDO COM O SAMBA....................................................................... 20
4.1 Escola de Samba Mancha Verde.................................................................. 20
4.1.1 Pesquisa do Enredo de 2005................................................................... 22
4.1.2 Enredo de 2008 – Ariano Suassuna........................................................ 26
4.2 Escola de Samba Dragões da Real – Enredo: A felicidade se Conta
em Contos – Carnaval 2011............................................................................... 28
4.3 Um Olhar Sobre o Processo Educativo no Barracão............................... 34

5. CONCLUSÃO.................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 49
6

1 INTRODUÇÃO

Dizem que uma rainha vinda da África como escrava se organizou com mais
alguns escravos e fugiram mata adentro, vestidos de resistência. Brasil, colônia dos
brancos. Lugar habitado por índios que preferem a morte à escravidão. Enquanto
isso, nos portos, cada vez mais chegam navios tumbeiros. O país cresce com a
escravidão, a elite, o comércio, a religião, o massacre, as leis de reis sem virtudes, e
a bomba está prestes a explodir. Existem negros vivendo nas matas, estão distantes
da capital, e os capitães-do-mato estão sempre a procura deles. Eles se preparam
para a guerra, a resistência é o símbolo da luta por igualdade, jamais os brancos
lhes darão a liberdade, por isso não acreditam no sorriso do inimigo. Somente
lutando contra eles é que mostrarão o seu valor. Nesses séculos de luta, quilombos
cresceram e se espalharam por todo o Brasil, guerreiros lutavam com bravura, como
se a liberdade superasse os limites da morte. Viram-se páginas da história e o
massacre continua. Antigamente negros quilombolas, hoje são todos os que fazem
parte da periferia. Somos uma grande fusão, brancos, índios e negros. Ainda
continuamos distantes, longe das capitais, vivendo em periferias entre barracos,
morros, redutos e vielas, selva de casas amontoadas. Liberdade vigiada pelo
sistema, correntes feitas de moedas e de falta de instrução, e a mesma elite ainda
comanda.
Temos que dar continuidade às lutas dos nossos antepassados, manter as
tradições, origens, costumes, temos que criar e educar. Pensar a escola é ir além de
um espaço onde iremos aprender uma gama de conteúdos que irão ser cobrados e
utilizados em provas e concurso. E escola é um lugar de formação de pessoas, e
como pessoas esses alunos têm muito mais do que provas de conteúdos. Estas são
as menos difíceis. Cada indivíduo tem uma prova muito mais difícil de encarar, a
prova da vida.
Da mesma forma que muitos outros alunos, estudei numa escola que
valorizava a cartilha imposta por Parâmetros Curriculares Nacionais, (PCNs) e seus
conhecimentos ainda muito carregados de uma lógica positivista, onde o resultado
quantitativo é posto acima de qualquer outra avaliação. Fui alfabetizado através de
palavras, frases sem sentidos e exercícios mecânicos nos quais dispensavam
raciocínio numa visão fragmentária.
7

Partindo disso, ao tentar fazer uma retrospectiva do meu processo de
alfabetização, não me recordo de ter tido contato com revistas, jornais, artigos ou
textos que não fossem os das cartilhas nas escolas onde estudei. Mas é importante
ressaltar que meus pais, sempre transmitiram a paixão pela leitura, embora tivessem
pouca instrução. Meu pai lia e me contava histórias fascinantes que despertava em
mim, o desejo de decodificá-las, em entendê-las, indo além do que estava escrito.
Talvez pela experiência de uma alfabetização mecanicista, que vê na
aquisição do código o principal em todo o processo de leitura e escrita que, ao
ingressar na faculdade, através de uma alfabetização empenhada com a
apropriação da linguagem enquanto instrumento de crítica, visando o resgate do
sentido e a autonomia do sujeito, descobri outro sentido para o ensino, entendendo
o que Paulo Freire nos trás ao dizer que, “saber ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”. (Freire, 2004, p.47).
O objetivo geral desse trabalho, é investigar as possibilidades de condução de
um processo de educação a partir da realidade cotidiana dos alunos. Para tanto o
presente trabalho terá como pano de fundo o Carnaval e o trabalho do professor,
educador e carnavalesco Eduardo Caetano, fazendo uma análise de alguns
métodos e modelos de programas realizados por ele em algumas escolas de samba
onde trabalhou e ainda trabalha, e seu intuito pedagógico de ensinar samba e
trabalhos artísticos para crianças e jovens, muitos deles carentes, nos barracões e
nas comunidades onde essas Escolas de Samba atuam.
No entanto, no sentido de buscar romper a hierarquia dos saberes
construídos na escola de forma a compreender as diversas leituras de mundo e as
potencialidades dos envolvidos valorizando os saberes provenientes de suas
realidades de vida. Quero ainda partilhar nesse trabalho a importância do Carnaval
como elemento de socialização do individuo em uma sociedade excludente tendo
como foco a educação, os saberes, e o uso da riqueza cultural e diversificada trazida
pelos integrantes do barracão e membros da escola de samba em geral.
Definido o caso a ser estudado, o estudo terá ainda como objetivos
específicos a serem explorados, uma breve exposição do histórico do carnaval de
São Paulo, entendendo sua origem, seu papel dentro das comunidades onde estão
as Escolas de Samba para entendermos a inserção dos jovens nesse processo,
8

para então vermos como essa estrutura, que ao longo dos anos ganhou força e cada
vez mais investimentos, afetando a formação desses jovens que desde muito cedo
participam do processo.
Antes de descrever a metodologia que será implementada no presente estudo
é importante relatar o que me motivou a escolha desse tema, sendo essa uma
particular paixão pelo carnaval, paixão essa motivada em grande parte por observar
o amor que a comunidade tem pelo seu pavilhão, o trabalho sério realizado por
muitos profissionais liderados pelo carnavalesco, sempre na intenção de brincar e se
divertir, sem perder o foco no social, e na mensagem a ser passada.
Desde pequeno eu ficava assistindo aos desfiles das Escolas de Samba do
Rio de Janeiro, via os enredos, estudava as histórias que estavam sendo contadas,
e cantadas, e muitas delas eram história do Brasil, eu sonhava em um dia estar
participando disso tudo, mesmo estando tão distante daquela realidade. Muitas
vezes, as histórias dos enredos, acabavam virando material acadêmico no colégio
onde estudava, e eu tinha tal domínio que sempre tirava notas consideráveis por
saber muito do assunto, e o interesse vinha dos desfiles e dos enredos das Escolas
de Samba.
Por ser de uma religião Afro-Brasileira, os enredos sobre cultura africana me
encantavam, e muitas coisas sobre minha religião também aprendi com os enredos,
fazendo com que eu entendesse o valor daquilo tudo, eu sempre acreditei que
carnaval também educa. Esse histórico no mundo do samba serviu não só de
motivação, mas também fez com que eu pudesse observar e entender um pouco do
que ocorre por trás do que é passado pela mídia nos desfiles durante o carnaval.
Nesse sentido após verificar que a Arte e a Pedagogia estavam fortemente
ligadas a essa realidade, parti dessa vivência e desse histórico para a observação e
a participação mais minuciosa dessa realidade, sendo esse o método utilizado na
presente pesquisa.
Passei a observar de perto como crianças cantam sambas aprendendo suas
letras que, em muitos casos utilizam de termos que não estão presentes em seu
universo vocabular e mesmo assim têm facilidade no aprendizado dessas letras e se
interessam em aprendê-las.
9

Conforme explicitado anteriormente, a fim de facilitar o estudo e procurando
entender mais detalhadamente uma realidade em particular, foram definidos casos
onde pôde se aprofundar um pouco mais algumas questões, sendo esses casos a
Escola de Samba Dragões da Real, e o trabalho do professor, cenógrafo, estilista e
carnavalesco, Eduardo Caetano.
Definido os casos e o método, foram realizadas entrevistas com pessoas que
participam desse projeto, sendo elas inseridas desde muito cedo em escolas de
samba, algumas delas pelo fato de seus pais já fazerem parte desse meio, seja
trabalhando na confecção de fantasias, alegorias e adereços, na harmonia, na
bateria, intérpretes de enredo, passistas, baianas, comissão de frente, ou ainda
como componentes foliões que também dão o sangue pela Escola e tendo como
continuação de suas casas.
Quero mostrar como a arte e a educação estão presentes no Carnaval,
verificando ainda a potencialidade das escolas de samba nas abordagens
pedagógicas dos currículos em sala de aula, foi feita uma análise empírica sob a luz
da teoria para que, entendendo essa realidade fosse possível lançar propostas para
uma nova abordagem de ensino que aproveite a vivência do aluno, podendo ser
utilizada em outras realidades, não sendo restrita ao samba somente.
Foi possível compreender a relação entre conhecimento e a arte num
movimento circular de saberes, ou seja, a educação num sentido amplo que valorize
as falas dos jovens e pessoas envolvidas no processo observando suas várias
leituras de mundo e diferentes linguagens, usufruindo das suas próprias
experiências na construção do conhecimento atribuindo-lhe sentido, visto que, como
pontua Vygotsky (1998, p. 28), “a compreensão da linguagem escrita é efetuada,
primeiramente, através da linguagem falada.”
O presente trabalho foi estruturado visando fazer um paralelo entre Cultura e
o Aprendizado, para tanto se desenvolveu uma estrutura onde o trabalho foi dividido
em três partes, que serão cada uma dessas partes um capítulo desse estudo.
Na primeira parte é feito um panorama histórico sobre o carnaval, a fim de
entendermos a origem dessa festa e a partir disso pensar na sua introdução no
Brasil, até chegarmos aos dias atuais, e no seu papel social, construído ao longo da
10

história, e também um panorama sobre o que é ser carnavalesco, qual sua função, e
suas obrigações dentro de uma comunidade.
Partindo desse histórico, é feita uma pesquisa teórica sobre cultura e o seu
papel na educação, onde é possível verificar através da teoria como a cultura e o
cotidiano é/foi pensado como formas de auxiliar no aprendizado, para com isso
termos um aporte para entrarmos no caso específico que será tratado na terceira
parte do estudo.
Essa terceira parte ficará responsável por fazer uma análise descritiva dos
dois casos escolhidos para estudo, passarei dados dos enredos das escolas de
samba Mancha Verde, e Dragões da Real, como foi o trabalho de barracão, qual foi
a ideia do enredo e onde serão mostradas ainda algumas entrevistas realizadas, a
fim de observarmos o impacto desse tipo de ensino nas pessoas envolvidas.
11

2 CARNAVAL E PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL

A partir desse momento será enfocado o Carnaval enquanto festa popular,
capaz de agregar grande número de indivíduos bem como movimentar vultosas
quantias de capital, sendo atualmente responsável por aquecer a economia do país,
mais especificamente no caso do presente estudo a economia da cidade de São
Paulo, sendo ainda responsável pela vinda de grande quantidade de turistas de
outras regiões do país bem como de outros países.
Para melhor entendermos como o Carnaval se tornou esse fenômeno cultural
(e econômico), a partir de agora será feito um breve histórico de como se
desenvolveu essa festa até os dias atuais, e qual é a parte do carnavalesco nisso
tudo.

2.1 Breve Histórico do Carnaval

Antes de entrarmos propriamente dito numa abordagem sobre o Carnaval
paulistano, é importante entendermos a origem do Carnaval enquanto festa popular.
De forma geral, o Carnaval é um espetáculo que, segundo Bakhtin (1993)
teve origem na dramatização, nos rituais e festas a Dionísio. Durante a realização da
festa, há a anulação de algumas regras de comportamento, só se pode viver de
acordo com as leis da liberdade onde “tudo” é permitido lembrando que alguns
extremos

são

coibidos,

estando

essa

liberdade

restrita

a

seriedade

de

comportamento. Nesse sentido o Carnaval surge como cultura do oprimido,
possuindo um aspecto cômico popular e público de caráter universal. Não era uma
simples forma artística de espetáculo teatral. Mas uma forma concreta da própria
vida. É a segunda vida do povo baseada no principio do riso.
12

Nesse sentido é importante destacar que o carnaval teve origem antes
mesmo que o Brasil fosse descoberto. No entanto não é possível garantir que tenha
sido nesse momento que o Carnaval tenha tido seu início, pois existem várias
interpretações para isso, variando desde a ideia do seu surgimento a seis mil anos
atrás pelos antigos, para louvar as boas colheitas agrárias, até a ideia de que teria
surgido somente no início da era Cristã. Nesse momento fora o Carnaval
regulamentado pelo Bispo de Roma, Gregório I, o Grande, que em 590
regulamentou as datas do Carnaval, criando a Expressão “Dominica ad carne
levandas”, segundo Araújo (2000) essa expressão que foi sendo abreviada, dando
origem a palavra Carnaval. Não posso ainda deixar de citar o Carnaval de Veneza,
também conhecido por ser um dos carnavais mais antigos do mundo e famoso pelos
seus bailes de máscaras, conforme imagem abaixo:

Figura 01: Mascaras do Carnaval de Veneza
Fonte: www.janelanaweb.com/viagens/veneza.html

No entanto não é única a explicação para a origem da palavra Carnaval,
podendo também ser interpretada como oriunda da expressão “carna vale” (adeus
carne), ou de “carne levamen” (supressão da carne), esta última tendo origem
etimológica referente ao início do período da Quaresma que era, em sua origem,
não apenas um período de reflexão espiritual como também uma época de privação
de certos alimentos, dentre eles, a carne1.
Entretanto, dentre todas as possíveis interpretações para o início do Carnaval,
existe um ponto comum que está presente em todas - sua ligação, como é comum a
grande maioria das festas populares, com fenômenos astronômicos ou da natureza.
1

Segundo: RUSSO, Lilian. Um pouco da história e da origem do carnaval. Disponível em
http://ilove.terra.com.br/lili/palavrasesentimentos/carnaval_mensagem.asp Acesso em: 16 ago. 2011.
13

A astronomia, nesse sentido é a responsável por definir a data do Carnaval
para os países que comemoram essa data (países com raízes cristãs).
Definido em 325 d.c, o “Cálculo Eclesiástico”, como foi convencionado
chamar, foi definido pelo Concílio de Nicea (primeiro Concilio Ecumênico do
Cristianismo) como sendo calculado da seguinte forma:
O Dia da Páscoa, por definição, é o primeiro Domingo após a lua cheia que
ocorre após o equinócio vernal, e pode cair entre 22 de Março a 25 de Abril. A
sequência dos dias de Páscoa se repete em ciclos de aproximadamente 5.700.000
anos. Ainda de acordo com essa definição: “O Carnaval acontece 47 dias antes da
Páscoa. Logo o Carnaval pode acontecer de 04 de fevereiro a 9 de março. Corpus
Christi acontece 60 dias depois da Páscoa. Logo Corpus Christi pode acontecer de
21 de maio até 24 de junho.” 2.
Nesse sentido vemos que o carnaval, como o temos nos dias atuais sofre
influência de sua origem no Cristianismo, sendo uma data que serve de ponto de
partida para a Quaresma, período de preparação para a Páscoa.
Por fim é possível observar que o Brasil por sua vez teve o carnaval trazido
pelos portugueses, que trouxeram a brincadeira de loucas correrias, mela-mela de
farinha, água com limão, no ano de 1723, surgindo depois as batalhas de confetes e
serpentinas, chamado de Entrudo.

2.2. Carnavalesco

“só se aprende a fazer carnaval aqui”, (no barracão). O barracão se
apresenta, portanto, como o melhor aprendizado para quem quer trabalhar
com carnaval. “Essa é uma grande escola”, onde se aprende a arte através
da arte. (Eduardo Caetano).

O carnavalesco é um verdadeiro operador de signos de linguagem. Opera
com informação e elementos, além de (inter) mediar indivíduos provenientes de
2

Informação disponível no site: http://inf.ufrgs.br/cabral/Pascoa.html. Acesso em: 16 ago. 2011.
14

diferentes origens e classes sociais e culturais. Como nos ensina o antropólogo
francês Claude Lévi-Strauss, em sua obra O Pensamento Selvagem (1962), o
carnavalesco pode ser entendido também como um bricoleur manuseando e
manipulando signos finitos, classificando-os e pondo-os em ação, tais como escalas
cromáticas, tecidos e suas texturas, efeitos de brilho e leveza proporcionados por
transparências, miçangas, lantejoulas e paetês, descoberta de “novos” materiais
(ráfia e isopor, garrafas pet, cd’s, latas de tinta vazias, canudo de refrigerante), etc.
para contar uma história na avenida.

Figura 02: Carnavalesco Eduardo Caetano
Fonte: Rede de TV Bandeirantes

O carnavalesco por vezes pode atuar como aquele que estabelece a
“negociação” entre o enredo da escola e os objetivos do patrocinador, (isso quando
a escola consegue um patrocínio), estabelecendo, assim, uma convergência entre
os distintos interesses. Porém nem todos os carnavalescos assumem esse papel.
Hoje se fala muito na necessidade da profissionalização das escolas de
samba, entendida como business que envolve a venda dos direitos de transmissão
para as televisões, de fantasias e de cd’s, vagas na rede hoteleira, etc., realçada
pela relevância do carnavalesco, é uma tendência que se consolida. Contudo essa
profissionalização ocorre simultaneamente à ausência de contratos, tratos feitos “de
boca” e sustentados unicamente pela “palavra de honra” do responsável pela escola
de samba, pois nem todas as escolas fazem contrato registrado com esse tipo de
profissional.
15

O lugar do carnavalesco como profissional estabelecido e disputado por seus
inventos artísticos deve ser necessariamente contraposto a seu outro lado, o da
precariedade e, por vezes, da descartabilidade diante da falta de um contrato de
trabalho formal respeitado e respeitável. A própria noção de categoria profissional,
tal como ela foi organizada no Brasil após os anos 1930, em sua forma corporativa,
ou seja, com filiação compulsória aos Conselhos, monopólio de representação e
tutela do Estado, precisa ser matizada no caso desses artífices. Nem o Estado se
constituiu em interlocutor dos carnavalescos ao longo do tempo, nem o diploma
universitário tornou-se uma exigência para o “ser artista do carnaval”, esse artista
responsável por um saber especializado, especifico, destacado por sua competência
técnica.
Não podemos, assim, enxergá-los como uma categoria profissional
homogênea e estável que conseguiria se auto-regular e garantir suas demandas por
um piso salarial, nem eles se adéquam as chamadas “profissões imperiais”
(medicina, direito e engenharia) à vinculação entre profissão e credencialismo
acadêmico característica do Brasil.
Perguntado sobre se “as relações pessoais do carnavalesco são mais
importantes” do que a assinatura de contrato com a escola de samba, Eduardo
Caetano afirma que são essas relações que assegurariam o vínculo empregatício do
carnavalesco. Num ambiente fortemente passionalizado, no qual o vínculo racional
dos indivíduos é diminuído pelo âmbito afetivo, pela paixão, torna-se difícil a
predominância das relações profissionais totalmente amarradas com a CLT.
Segundo Eduardo Caetano, do que ele conhece de Carnaval, as relações
pessoais é que são as relações de contrato, de amizade, inclusive de respaldo e de
respeito. Para ele carnaval é uma coisa de paixão, e quando a paixão domina o
afetivo, vai dominar tudo, inclusive nas relações profissionais.
Na minha pesquisa, pude perceber também, a responsabilidade que é
colocada sobre o trabalho do carnavalesco no que diz respeito ao resultado do
desfile da escola de samba, ou seja, a colocação que a escola ficará no Carnaval.
Mas não podemos nos esquecer também, que a maior responsabilidade do
carnavalesco está na plástica apresentada pela escola, o enredo, as alegorias e
fantasias. Porém, como no fim de tudo, o maior responsável pela glória ou não da
agremiação será o carnavalesco, Eduardo Caetano, por exemplo, procura se inteirar
16

de tudo, e se diz feliz por isso, afinal, segundo ele, hoje o carnavalesco tem que ter
noção de bateria, comissão de frente, casal de mestre sala e porta bandeira e
harmonia, pois o resultado do seu trabalho, depende desses quesitos também, e
indiretamente ele se sente responsável por isso. Além disso, tem os destaques das
alegorias, e como o Eduardo Caetano tem um leque de amizades nesse meio, ele
acaba levando amigos para ocuparem esses lugares, uma vez que as fantasias são
de alto valor financeiro e quem banca é o destaque, ou seja, esses destaques
desfilam por amor a escola ou pela amizade com o carnavalesco.
17

3 EDUCAÇÃO E CULTURA

Parto do pressuposto que o Carnaval é um elemento cultural que participa de
forma ativa da vida da população brasileira, mais especificamente da vida dos
indivíduos que estamos abordando nesse trabalho para os quais o Carnaval é não
somente um elemento cultural, mas também parte de suas identidades.

3.1. Definindo Cultura

Durante muito tempo a cultura foi pensada como única e universal, sendo
essa parte de uma ideologia monoculturalista, ou seja, detentora de uma identidade
única na qual a Educação era o caminho para o alcance das formas mais elevadas
de cultura tendo como modelo os grupos sociais mais educados, portanto mais
cultos. (Veiga-Neto, 2003).
Por muito tempo, a aquisição da leitura e da escrita eram utilizadas como
objeto de dominação, de poder e controle através de uma ideia superior de cultura
que possibilitava á uma minoria da população, as chamadas elites sociais,
econômicas e culturais, detentoras de um saber voltado para o modelo europeu, a
certeza de uma educação escolar voltada para o ensino superior subalternizando o
conhecimento popular.
Nesse sentido o conceito de cultura, porém, é muito mais abrangente, pois
implica em valores, e estando em constante processo de transformação, se
construindo ao longo do tempo na (con)vivência coletiva podendo ser modificado,
desconstruído e reconstruído pelo grupo que a partilha. Sob essa visão a cultura irá
significar tanto o que está a nossa volta, como o que está dentro de nós numa
perspectiva Multiculturalista, perpassando, tudo o que acontece nas nossas vidas e
todas as representações que fazemos desses acontecimentos.
18

Segundo o professor Muniz Sodré (1999), cultura é muito mais que uma
concepção patrimonialista, ela está relacionada ao conhecimento, as formas de vida,
aos valores morais, a arte, religião e política. É a dinâmica de relacionamento que o
indivíduo tem com o real dele, com sua realidade, de onde vêm os conteúdos
formativos, ou seja, de formação para o processo educacional.

3.2 Cultura e Educação

A partir dessa concepção de cultura que foi exposta considera-se de uma
importância destacar que não ser letrado nos moldes tradicionais, ao contrário do
que se acreditava, não significa ser inculto.
Partindo disso é importante compreender o que as classes populares vêm
dizendo através do samba, das palavras, dos gestos, do canto, das insatisfações,
alegrias, choro, emoções ou silêncio. Como pontua Trindade (1999), mais
importante que ler palavras é ler o mundo, sem negar a importância da escrita.
Existem diferentes formas de linguagem que também possibilitam diferentes leituras
do mundo e para lê-las é preciso viver, apaixonar-se pela vida, pelo outro para a
partir daí ler os sentimentos, os gestos, os cheiros, os corpos, os sons, a boca, os
ouvidos, os olhos, o coração, as pernas, os braços, enfim, compreender o outro e
compreender-se.
Muitas vezes, as instituições de ensino tradicionais lidam com os alunos das
classes populares como se eles não tivessem suas próprias experiências, seus
próprios saberes, ou seja, como se nada tivessem à ensinar e nenhuma capacidade
para aprender, ou mesmo enxergam essa vivência no aluno como algo negativo,
que deve ser modificado, esquecido em prol de um “correto aprendizado”.
A linguagem oral, por exemplo, é o principal canal das expressões populares
que colabora na construção da memória popular. A Educação formal, por sua vez,
valoriza apenas o que está escrito esquecendo a dimensão oral que é de grande
importância para a vida cotidiana. Era através da oralidade, por exemplo, que as
histórias eram passadas de geração para geração, histórias essas, que, muitas
19

vezes, fazem ou fizeram parte do senso comum e deveriam ser abordadas na
dimensão escolar valorizando as vivências dos alunos e atribuindo sentido ao
aprendizado. È importante observar ainda que a não valorização da oralidade pode
ainda ser encarado como uma forma de segregação das classes populares, visto
que muitas não têm acesso à meios de comunicação escritos como jornais, livros e
revistas, sendo o “boca a boca” a forma acessível de comunicação, de informação e
de aprendizado.
É importante, portanto, ter em mente que o conhecimento está presente em
toda parte e de múltiplas formas, porém nem todos eles são ensinados na escola,
existindo

uma

seleção

desses

conhecimentos,

resultando

nos

conteúdos

pedagógicos. Em nossa sociedade, os conhecimentos valorizados são os
determinados por processos sociais de controle que constam no currículo oficial e
exaltam a importância de currículos nacionais padronizados, os PCN’s (Parâmetros
Curriculares Nacionais). Dessa forma, o conhecimento das classes populares,
construídos no cotidiano, vão sendo negados na instituição educacional.
Assim, os alunos vão aprendendo a memorizar e repetir, principalmente
através do uso de cartilhas que inibe toda a capacidade criativa e autônoma dos
sujeitos através de conhecimentos específicos que cerceiam o aluno na
compreensão do real.
Vale ressaltar que não se deve retirar a importância contida nos conteúdos
pedagógicos para o desenvolvimento do individuo, bem como de seu futuro
enquanto cidadão e profissional, mas é necessário, porém, que haja a construção
desses conteúdos juntamente com os alunos, para que possam ser entendidas as
demandas desses alunos bem como fazendo que seja atribuído significado àquilo
que está sendo aprendido, o que viabiliza um diálogo construtivo entre os saberes
acadêmicos e os saberes populares.
Com base nisso, ressalto que a alfabetização é um processo contínuo de
construção-desconstrução de conhecimentos, sendo assim, a Escola de Samba
surge como um ambiente alfabetizador visto que este representa um local repleto de
sentido onde a criança e o adolescente se sintam atraídos, indo além das salas de
aula, bem diferente da fragmentação artificial imposta pela hierarquização dos
saberes construídos que padroniza o comportamento como ocorre, normalmente, no
processo de escolarização.
20

4 APRENDENDO COM O SAMBA

Após entendermos um pouco sobre as origens do Carnaval e de como a
educação pode ser utilizada em conjunto com a cultura e com a vivência do aluno, a
partir desse momento será feita uma análise das escolas de samba e de seus
enredos, como foram desenvolvidos os enredos, e qual foi a forma pedagógica
utilizada pelo carnavalesco. Colocarei também alguns trechos de entrevistas
realizadas com pessoas que participaram do processo, como, assistentes, ritmistas
da bateria, decoradores, membros da diretoria e foliões.

“O método natural de ensino é a intuição, a lição de coisas, o
contato da inteligência com as realidades que ensinam, mediante a
observação e a experimentação, feitas pelos alunos e orientadas pelos
professores. São extremamente banidos da escola os processos que
apelam exclusivamente pela memória verbal, as tarefas de mera decoração,
a substituição das coisas e fatos pelos livros, os quais só devem ser usados
3
como auxiliares de ensino.” (LOBO, 1941, p.32)

4.1 Escola de Samba Mancha Verde – Carnaval 2005 e 2008

Enredo: Da Pré-história aos transgênicos: Mato Grosso. Uma Mancha Verde
no coração do Brasil. (Carnaval 2005).
Nesse momento irei fazer uma descrição do local e da escola a partir de
algumas visitas realizadas durante os ensaios na quadra da escola, e também
através de pesquisa realizada com o carnavalesco Eduardo Caetano, e com
pessoas envolvidas nesses enredos. Colocarei também, parte da minha vivência e
da minha pesquisa em relação a esses enredos que tanto me encantaram, falarei

3

Lição de coisas está inserida, como disciplina, no programa de ensino de 1941 para as escolas primárias
(programa mínimo), da Secretaria dos Negócios da Educação e Saúde Pública, promulgado pelo secretário José
Manuel Lobo, em 19 de fevereiro de 1925, que acabou estendendo este programa aos grupos e escolas isoladas.
21

sobre a dinâmica do local, e de como se deu a aprendizagem na escola, e no
barracão.

Figura 03: Carro Abre-alas – Mancha Verde/2005.
Fonte: Arquivo Pessoal

Em primeiro contato com a Escola de Samba, observa-se antes de qualquer
coisa, que embora seja uma escola que tenha saído de uma torcida de futebol, em
sua quadra não colocam nada que nos faça lembrar o time, tipo, bandeiras do
Palmeiras, ou hinos do time. Eles são focados na arte do Carnaval, gostam mesmo
é de samba. Prova disso, é que todos os sábados eles fazem uma roda de samba
raiz, que é aberta ao público e que tem como principal alvo os jovens que
frequentam a quadra da escola. A ideia é resgatar sambas antigos e levar ao
conhecimento desses jovens obras de Adoniran Barbosa, Chiquinha Gonzaga, Almir
Guineto, Clara Nunes, Aracy de Almeida, Pixinguinha, Cartola, Ismael Rosa e Noel
Rosa, todos que no passado fizeram parte do mundo do carnaval, nos deixando uma
obra rica, que prende a atenção desses jovens. Juntamente com essa roda de
samba cultural, pude perceber a prática pedagógica de Cachorrão, mestre de bateria
da escola, que aproveitando o interesse desses jovens, dá aula para os novos
ritmistas da escola, quem tem interesse em aprender tocar algum instrumento, basta
22

fazer sua inscrição e comparecer nos dias das aulas. Não tem custo e os melhores
são escalados para fazerem parte da bateria da agremiação.
Em um dos encontros com o carnavalesco Eduardo Caetano, ele me explicou
que muitas pessoas, nas suas maiorias jovens que frequentam a quadra da escola,
ao prestigiarem a roda de samba, e tendo contato direto com os ritmistas do grupo e
a obra apresentada, acabam tendo interesse em aprender a tocar também, e logo
procuram o mestre Cachorrão, ou outra pessoa da administração da escola para
fazerem sua inscrição. Ou seja, primeiro tiveram algum tipo de contato com os
instrumentos, e isso despertou o interesse artístico neles. Grandes partes dessas
pessoas se interessam por vários instrumentos, por isso, o mestre de bateria, deixa
os novos alunos terem contato com todos os instrumentos que tiverem interesse, e
depois de acordo com a aptidão de cada aluno, vai direcionando as aulas, mas
jamais impõe ao aluno um instrumento, pois se o novo ritmista ficar com um
instrumento que não goste, ou, que tenha dificuldade em tocar, logo ele abandona
as aulas, e é justamente isso que o Carnavalesco e o mestre querem evitar.

4.1.1 Pesquisa do enredo de 2005

O enredo da escola no ano de (2005) era sobre o Estado do Mato Grosso, e
cada ala representava a fauna a flora e dados históricos do estado, assim como os
carros alegóricos. Eduardo Caetano fez uma pesquisa muito detalhada, e se
preocupou em levar dados concretos e educativos para a avenida. Segundo ele,
pelo fato de também ser professor de artes, e ter contato diário com alunos de várias
classes sociais, entende a dificuldade de alguns alunos com a história em geral, pois
eles não conseguem assimilar os dados históricos, muitos deles alegam que a
matéria de história é difícil por ter muitas datas ou acontecimentos para serem
“decorados”.
Porém Eduardo Caetano não pensa assim, como carnavalesco e antes de
tudo professor de artes, ele acredita, que um enredo detalhado, com boa pesquisa e
23

rico em detalhes, depois de desenvolvido prenderá a atenção dessas crianças e
adolescentes, e através da arte, fará com e esses jovens entendam o que ocorreu e
ainda ocorre na história, nesse caso, do Estado do Mato Grosso. Eduardo acredita
que muitos jovens conseguem entender os fatos históricos antes de tudo através de
imagens. Ele diz que é por isso que procura sempre apresentar um enredo de fácil
leitura, para ele além dos jurados, o importante é que o público em geral consiga
entender o que ele quer passar e informar, com os protótipos das fantasias
apresentados para a comunidade, já consegue sentir se através da imagem, a
comunidade conseguiu ou não entender o enredo, se a leitura do mesmo foi fácil e
didática e se foi correta a leitura, se as pessoas presentes tiveram dificuldade de
entendimento ou não, se tiveram dificuldade, ele sempre quer saber que dificuldade
foi essa, pois a leitura por imagem e seu entendimento depende do meio em que
vive o individuo. Ainda segundo Piaget (1998, p.94), “as crianças consideram seus
conhecimentos e seus julgamentos históricos relativos ao grupo social ao qual
pertencem, ou seja, sujeitos à contestação e à revisão da parte dos outros, ou
comuns a todos os homens, e, portanto absolutos.”
Partindo desse pensamento, para elaborar o enredo da Mancha Verde sobre
o estado do Mato Grosso, o carnavalesco Eduardo Caetano procurou começar
contar a história do estado desde a era glacial, onde tudo começou, passando pelos
dinossauros que habitaram a região milhões de anos atrás4, até chegar aos
transgênicos. Segundo ele, além de ser um enredo completo, foi pensado também
na necessidade de passar parte da história do estado através da arte e de uma
forma didática, para conseguir atrair a atenção dos jovens, e aumentar o interesse
dos mesmos para o enredo da escola. E deu certo, conforme os trabalhos do
barracão foram sendo iniciados, muitas pessoas da agremiação vieram tirar dúvidas
sobre o enredo, e sobre a concepção do mesmo, fazendo com que debates fossem
abertos e as dúvidas fossem esclarecidas, pois o carnavalesco acredita que cada
componente da escola tem que saber o porque de sua fantasia e o que ela
representa dentro do enredo. Segundo o carnavalesco, antes de fazer com que os
jurados entendam o seu trabalho, ele tem que fazer com que a comunidade entenda
o mesmo e sintam alegria em estar fazendo parte desse trabalho, e foi isso o que ele
fez nos anos em que foi carnavalesco da agremiação.
4

Fonte de pesquisa, site, PT.wikipedia.org/wiki/Dinossauros_no_Brasil. Acesso em: 16 ago. 2011.
24

Conforme os trabalhos do barracão foram tomando corpo, a comunidade foi
entendendo melhor o enredo e conhecendo mais detalhes sobre a fauna e a flora da
região, e o interessante é que muitas dessas pessoas acabaram aprendendo coisas
sobre o estado que nem mesmo nas aulas de história ou de geografia das escolas
onde estudavam tinham aprendido, e isso foi muito gratificante para todos.
E também foi pensado na valorização do negro dentro do estado e na cultura
nacional, no enredo falou-se do negro que faz parte da história do estado,
apresentando seu lado forte e guerreiro, falou-se do negro que fez valer sua cultura,
o carnavalesco diz que é muito importante passar as guerras e lutas vencidas pelo
povo negro, pois negro não foi somente escravo e fraco, negro deixou muita cultura
e sabedoria para todos nós, e isso tem que ser valorizado.
Perguntamos quem já havia ouvido falar de Teresa de Benguela, e por
incrível que possa parecer, a maioria das pessoas não conheciam, mesmo as que
ainda estudavam, passamos a história, pois fez parte do enredo, e dessa forma mais
uma vez, educamos e informamos através da arte.

“Teresa de Benguela viveu no século XVIII, Foi casada com José
Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho ou Quariterê, no rio Guaporé, em
Mato Grosso. Quando seu marido faleceu, assumiu a chefia do quilombo.
Revelou-se uma líder ainda mais implacável e obstinada que o falecido.
Valente e guerreira, comandou uma comunidade de três mil pessoas,
crescendo de tal forma que chegou a agregar índios bolivianos e brasileiros,
fato que incomodou a Coroa, uma vez que influenciava a luta dos bolivianos
e americanos (ingleses e espanhóis) para a passagem de mercadorias e
internacionalização da Amazônia. A Coroa agiu rápido e enviou uma
5
bandeira para acabar com os quilombolas. Presa, Teresa suicidou-se.”

Por outro lado, é sempre bom mostrarmos para os negros da escola que
temos que ter autoestima, que temos valor, que podemos buscar nossos sonhos,
nossa cor de pele não nos fazem melhor nem pior, nossa cultura e nossos
antepassados nos fazem iguais a qualquer raça. Preocupou-se também com os
índios, que até hoje enriquecem a cultura e o artesanato do estado, e que merecem
nosso respeito.
Abaixo letra do samba de enredo do Carnaval 2005, essa letra foi baseada na
sinopse do enredo da escola, desenvolvido por Eduardo Caetano.
5

Citação retirada do site: http://capoeira.wikia.com/wiki/Capoeira_mulheres. Acesso em: 16 ago. 2011.
25

MANCHA em poesia
Na história foi buscar
um carnaval pra te emocionar
Mato Grosso terra cheia de encantos
De metamorfose radical
Admirar, sua formação sua grandeza
Relicário de beleza, no coração do meu Brasil
Na chalana naveguei, pelo mar de Xarayés
O meu sonho conquistei, encontrei o meu amor
Onde o verde é a esperança e o branco é a paz
O meu samba é a MANCHA que o tempo não desfaz
Iê eis o bailar das borboletas
Iê a passarada a revoar
Flora traz a melodia
Vitória-Régia és o meu cantar
Cerrado, que viu nascer a febre do ouro
Em Vila Bela este imenso tesouro
Virou cobiça e ambição
No Guaporé negro lutou, contra o terror
Quanta bravura, hoje faz valer sua cultura
Alto-Xingú, o índio gigante guerreiro
O Araguaia e o povo místico, verdadeiro brasileiro
Cenário de grande ascensão
Deus abençoe este grão, tens o futuro a conquistar
O mundo, sagrada raiz
Mato Grosso meu estado, meu país
Vai passar a mais querida
MANCHA VERDE na avenida
De "chapa e cruz" mato-grossense eu sou
Que esplendor
26

4.1.2 Enredo 2008 – Ariano Suassuna

O enredo da escola nesse ano de 2008 era sobre a obra do escritor, poeta e
dramaturgo Ariano Suassuna, além da cultura do nordeste que é tão bem retratada
em sua obra. Cada ala da escola representava partes de sua obra, o por esse
motivo, ao apresentar os protótipos das fantasias de cada ala, o carnavalesco
explicava o significado das fantasias e o motivo da ordem do desfile.

Figura 04: Ariano Suassuna em carro alegórico – Mancha Verde/2008.
Fonte: Arquivo Pessoal

Para preparar o enredo e a sinopse, o carnavalesco foi até Pernambuco
entrevistar o homenageado, e com isso saber mais detalhes sobre sua vida e sua
obra. O carnavalesco Eduardo Caetano procura ir a fundo a suas pesquisas, por
esse motivo conta com a ajuda de dois amigos, um é professor de literatura e outra
é professor de história. Diz que sabe qual é a sua responsabilidade ao passar uma
informação, e preparar um enredo tão rico. Depois de fazerem todas as devidas
pesquisas e deixarem a sinopse pronta, começa o trabalho de preparo no barracão.
27

Figura 05: Preparativos para o desfile – Dragões/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal

O foco inicial do carnavalesco no barracão é explicar a todos o enredo, qual
sua origem, quem é o homenageado e o significado de cada fantasia e cada
alegoria. Eduardo disse que se ele tem uma equipe bem informada o trabalho rende
muito mais, e o que é mais importante, sua equipe pode ajudar nas idéias de
decoração das alegorias e até mesmo na confecção das fantasias. Se a equipe sabe
exatamente a história que será contada os erros diminuem e isso evita o atraso dos
trabalhos.
O carnavalesco diz que Ariano Suassuna é um defensor da cultura do
nordeste, e que essa cultura é muito rica, e embora em São Paulo tenhamos muitos
nordestinos, muitos deles desconhecem quem é Ariano Suassuna, e não sabem
nada de sua obra, com esse enredo, ele diz que conseguirá mostrar a eles e aos
demais integrantes da escola que também não conheciam o homenageado, a
importância da sua obra.
28

Figura 06: Carro Mancha Verde 2008 – Alma de Palhaço – O carro mais comentado do ano.
Fonte: Arquivo Pessoal.

O carnavalesco pode usar também muita teatralidade, que por sinal o deixou
muito feliz, pois segundo ele, as artes plásticas e o teatro unidos no
desenvolvimento de um enredo enriquecem muito o visual e a apresentação do
mesmo, fazendo com que a leitura tanto para o público quanto para os jurados seja
mais clara. Vendo pelo lado pedagógico, muitas pessoas possuem facilidade na
leitura visual, acabam entendendo melhor a história na avenida do que na sinopse
começando pela comissão de frente, que representava o Auto da Compadecida, e
que vinha interagindo com o carro abre-alas da escola.

4.2 Escola de Samba Dragões da Real – Enredo: A FELICIDADE SE CONTA EM
CONTOS. Carnaval – 2011.

Esse enredo escolhido pelo carnavalesco fala de contos infantis, mais
propriamente dos contos dos irmãos Grimm, ele partiu para esse tipo de enredo,
pois queria uma escola mais leve, e também um enredo que fosse de fácil leitura,
segundo ele, quem não gosta de contos infantis?
29

Figura 07: Carro Alegórico – A Floresta Proibida e a Bruxa – Dragões/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal

Além disso, escolheu esses contos, pois eles possuem um lado muito
educativo, no final de cada história podemos discutir com nossos alunos a lição que
podemos tirar do que esta escrito e levarmos para o nosso dia a dia, podemos fazer
um debate e uma reflexão indo para a época em que os contos foram escritos, e
voltando para os dias atuais, fazendo

as comparações das obras com nossa

realidade. E qual adulto que não gosta de um conto de fadas, quem não se lembra
de um conto que escutou quando criança?
Eduardo diz que não é um enredo infantil, é um enredo que trás de volta a
criança que existe dentro de cada um de nós, trata-se de um enredo que nos leva há
outros tempos. No inicio da pesquisa ele se preocupou mais em detalhar quando os
contos infantis começaram a serem divulgados e escritos. Segundo ele, em meados
do século XVII e inicio do século XVIII, com a queda do sistema feudal e o
nascimento da família burguesa, a infância passa a ser valorizada. O francês
Charles Perrault e, posteriormente, os alemães Jacob e Wilhelm Grimm e o
dinamarquês Andersen publicaram consagradas obras literárias infantis, as quais
30

criaram a partir da coleta de histórias veiculadas pela tradição oral. Esses autores,
através de seus contos, abrangiam além de intentos moralizantes, abordando os
costumes, a moda da elite da época, o encantamento, a magia e, quase sempre, um
final feliz. Os irmãos Grimm têm suas histórias traduzidas em diversas línguas, que
são apreciadas pelo mundo como obras primas da literatura infantil. Seus contos
aliam deslumbramento e ambientes mágicos a temas populares.

Figura 08: Carro Alegórico – João e Maria e a Casa de Doces – Dragões/2011
Fonte: Arquivo Pessoal

Sabemos que a obra infanto-juvenil deve propor temas interessantes que prendam a
atenção do leitor, sem uma linguagem complicada ou demasiada simplificada, que
subestime sua capacidade de interpretação ou seu entendimento. A elaboração do
enredo, fantasias e alegorias, também partiram desse principio, para o carnavalesco
o desfile em si tinha que ser didático, e também deveria aguçar a imaginação de
todos os componentes da escola e do público que estivesse assistindo ao desfile.
Pensando como educador, o carnavalesco diz que não podemos nos
esquecer que a importância da literatura infanto-juvenil é inquestionável,
31

principalmente para crianças e jovens em idade escolar, pois desenvolve
potencialidades mentais e espirituais,

tanto na área da linguagem, quanto da

escrita. Para ele esse tipo de literatura contribui de forma expressiva para a
concepção integral do ser humano, visto que proporciona uma reorganização das
percepções do mundo. A convivência com textos literários permite que as crianças e
adolescentes sejam melhor capacitados para emancipar-se, desenvolvendo senso
critico, assim, relacionando as obras lidas com a realidade vivenciada por eles
próprios. O que faz com que esse leitor “de asas a sua imaginação”, tornando-se um
personagem da história lida.

Figura 09: Carro Alegórico – As Três Folhas da Serpente e O Músico de Bremen. Dragões/2011
Fonte: Arquivo Pessoal

A meu ver, a importância do conto de fadas é muito grande, pois tudo o que
vivemos nesse mundo é um reflexo do que se passa no mundo do Todo-Possível,
ou seja, no mundo das potencialidades infinitas. Daí que nossos desejos e os
nossos obstáculos nunca se apresentam sob uma forma real, sendo apenas
projeções os nossos condicionamentos mentais. Encontrar o verdadeiro sentido
daquilo que vivemos consiste em descobrir o seu lugar no seio da realidade total.
32

Figura 10: Carro Alegórico – O Lago Dos Inocentes e o Castelo De Cristal – Dragões/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal

O enredo deu maior ênfase às obras: A gata borralheira, Os sete corvos, O
pequeno polegar, João e Maria, Os músicos de Bremen, A bela adormecida, Branca
de neve e os sete anões, O príncipe e o sapo, O flautista de Hamelim, e O
chapeuzinho vermelho.

Samba-enredo 2011
Vem ser criança, vem brincar
No mundo da imaginação
Viver a fantasia
Voar com meu Dragão
Era a Floresta Proibida
Onde a bruxa ali vivia
Fechando os portais da imensidão
Terra de encantos com seus personagens
Um mundo mágico de sedução
Espelhos... ao refletir toda magia
Os guardiões que proibiam
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Os pensamentos a voar
No País de faz de contas
As três folhas da serpente
Se faz presente... pro encanto se quebrar
Tem sinfonia no ar... que vai te encantar
São músicos felizes a tocar
Num reino maravilhoso
Que o gênio da garrafa irá mostrar
Tudo era gigante para o pequeno polegar
Flores falam e dançam para uma bela acordar
Branca de neve com os sete anões a festejar
A casa de doce pra João e Maria, saborear
Me leva oh imaginação prá outro lugar
Onde duendes, fadas, rainhas na passarela vão desfilar
No lago dos inocentes surge um castelo de cristal
Eu trago alegria e felicidade
Sou Dragões da Real.

Figura 11: Mestre-Sala e Porta-Bandeira – Encanto das Borboletas – Dragões/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal
34

4.3 Um Olhar Sobre o Processo Educativo no Barracão

Doze equipes foram responsáveis pela execução do trabalho de barracão da
escola para a elaboração do desfile de 2011: ferragem, carpintaria/marcenaria,
escultura, laminação, costura, pintura, espuma, iluminação, mecânica, adereços,
uma equipe de pesquisa de enredo, sendo que essa equipe é constituída de amigos
do carnavalesco, entre eles, professor de história, e professor de literatura, pois para
o carnavalesco a pesquisa do enredo tem que ser séria e rica em detalhes, e por
último, uma equipe que é muito próxima ao carnavalesco, trata-se da equipe de
criação e pesquisa de materiais alternativos, essa equipe será a responsável pela
elaboração dos protótipos das fantasias e pesquisa de materiais alternativos para se
conseguir novos efeitos e textura nas alegorias. É importante dizer que a equipe de
serralheiros e escultores são de Parintins.

Figura 12: Comissão de Frente – Fadas – Dragões/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal
35

Além das equipes especializadas, constituem o “corpo funcional” do barracão
o pessoal da segurança, portaria, limpeza, e da cozinha. A administração está ligada
a presidência e a diretoria da escola, muitos fundadores fazem parte dessa
administração, trata-se de uma escola de samba nova, completou 11 anos de vida.
A concepção do enredo e a coordenação da produção dos carros alegóricos
no barracão cabem ao carnavalesco. Convém destacar que esse aspecto das
atividades teve especial interesse por mim, na medida em que o andamento do
trabalho no barracão se relaciona não apenas ao tipo de administração da escola,
mas também ao estilo do carnavalesco. Ressaltando que estilo, nesse caso, referese tanto ao aspecto estético quanto à forma de gerenciamento do trabalho. Cada
escola trabalha de um modo diferente, escola e carnavalesco no caso. Tem
carnavalesco que prefere não dar o desenho para a equipe, e sim ir passando a
idéia conforme o trabalho vai sendo executado, o funcionário tem que captar a ideia,
e ir fazendo o seu trabalho. Já o carnavalesco Eduardo Caetano, faz questão de dar
a planta baixa do carro alegórico, com vista lateral, vista frontal e arte final. Aí fica
mais fácil para a equipe trabalhar, pois com o desenho e a explicação do mesmo, a
equipe vai dando o andamento no trabalho mesmo sem a presença do
carnavalesco.
A contratação dos profissionais que trabalharam no barracão foi realizada
pelo presidente da agremiação, com aval do carnavalesco, sendo que muitos
profissionais foram indicados pelo próprio carnavalesco, pois trata-se de pessoas
que já trabalharam com ele em outras agremiações. Outros profissionais foram
formados na própria escola, na verdade, a maioria deles aprenderam a profissão no
próprio ambiente de trabalho, e, para muito deles, ambiente de trabalho é sinônimo
de barracão. O índice de escolaridade verificado não é muito alto, pode-se dizer que
a maioria dos funcionários não possuem o ensino médio completo, mas para esses,
a aprendizagem que se desenvolve no local de trabalho é o elemento preponderante
para a sua formação profissional.
A ideia de uma formação que se dá ao longo do tempo no ambiente de
trabalho é tão arraigada que mesmo aqueles trabalhadores que tiveram acesso à
formação escolar e/ou profissional ressaltam a sua importância. Perguntei sobre
onde

aprenderam

a

sua

profissão,

esses

trabalhadores,

invariavelmente,

responderam “na escola e no barracão”, revelando a sua consciência em relação a
36

importância da articulação entre os conhecimentos adquiridos na escola e no local
de trabalho. A experiência conta muito, e a ideia de uma aprendizagem que se faz
continuamente na pratica é dominante, para mim, no barracão há sempre a
possibilidade de aprender coisas novas.
A forma de ingresso mais comum no barracão é por meio do convite de
amigos e familiares, ou ainda, através dos mutirões que a escola organiza para
adiantar os trabalhos, isso tudo organizado pelo carnavalesco, a diretoria da escola
e sua equipe. Boa parte do pessoal é muito jovem, e muitos deles tiveram a
oportunidade de “progressão” a partir da aprendizagem no trabalho. Laryssa,
diretora da escola, afirma: “Eu comecei confeccionando fantasias, depois fui para a
bateria, ala das baianas, harmonia e diretora de destaques, hoje além de tudo isso,
cuido dos projetos sociais, enfim, onde precisar eu estarei, pois faço tudo por amor a
escola”.
Além da formação específica, dois aspectos se destacaram no que se refere a
aprendizagem que se efetiva no barracão: a amplitude do universo de trabalho e as
relações humanas que ali se estabelecem. As inúmeras possibilidades abertas pelo
barracão em função da diversidade de atividades que ele comporta dentro de um
mesmo espaço físico foram levantadas por vários integrantes da escola. As palavras
do carnavalesco Eduardo Caetano, ilustram essa situação privilegiada de
aprendizagem propiciada pelo ambiente de trabalho. “No barracão, mesmo sendo da
escultura, ou da costura, um aprende o oficio do outro, pode ser da carpintaria, que
aprenderá tudo sobre ferragem. Porque o barracão é como se fosse uma família só.
Quando um precisa do outro, encontra ajuda, se esse outro não souber, aprenderá a
função do amigo, e assim faço com que todos vão aprendendo”.
O bom relacionamento pessoal também me chamou muito a atenção.
Acredito que a primeira coisa que se aprende, assim de cara, em um barracão é se
relacionar com as pessoas, é conviver com as pessoas e com costumes diferentes,
porque você vê todo tipo de gente lá dentro. Então o meu grande aprendizado lá
dentro foi o aprendizado da vida, o aprendizado da convivência e da tolerância. O
coleguismo e o companheirismo nos leva a facilitar o trabalho do outro.
Na análise do processo de aprendizagem no barracão, o carnavalesco
emerge como mestre, e conta com a ajuda dos chefes de equipe. Os serralheiros e
os escultores são de Parintins, e nesse caso ao serem contratados cada chefe trás
37

sua própria equipe, sendo também o responsável pelo treinamento dos mesmos,
porém a supervisão de todo esse trabalho é feito constantemente pelo carnavalesco,
porque as formas como eles organizam o trabalho em suas equipes podem
favorecer ou não o processo de ensino-aprendizagem. Segundo o carnavalesco, nas
demais funções do barracão, grande parte da equipe aprendem a trabalhar através
da observação, ou seja, eles possuem um aderecista muito experiente, e os seus
ajudantes fazendo a observação do seu trabalho vão aprendendo também. Vejo que
isso é feito, por dois fatores, um deles é a falta de mão de obra e vivência na área,
fazendo com que a escola prepare seus profissionais, o outro fator é financeiro, falta
dinheiro para trazer mão de obra especializada de fora.

Figura 13: Comissão de Frente – Magos – Dragões/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal

Para o carnavalesco, essa também é uma oportunidade para esses jovens
aprenderem uma profissão, saírem das ruas, e também irem se acostumando com o
ambiente profissional, suas normas e suas regras. É evidente que nem todos os
jovens se dedicam totalmente, mas a oportunidade é dada a todos. Com o passar
38

dos dias, o carnavalesco vai analisando como esses jovens estão se saindo, por
exemplo, ele verifica se o jovem que foi aprender carpintaria está se saindo bem, se
essa é realmente a habilidade dele, e principalmente se esse jovem está gostando
desse tipo de oficio, pois para ele, esse é um dos principais caminhos para que esse
jovem não desista do que está aprendendo e fora isso, se o aluno gostar do que faz,
ele aprenderá com maior facilidade. Se na sua observação, identificar algum
aprendiz insatisfeito em uma determinada área, ele faz a mudança sem problemas,
o que vale é sempre a habilidade do aprendiz.
A formação proporcionada pela escola é considerada importante para a
aprendizagem do conteúdo do trabalho. Convém destacar que, com poucas
exceções, a parcela dos entrevistados que considera essa formação relevante é
exatamente aquela que apresenta os maiores níveis de escolaridade. A disciplina
que foi citada com maior frequência, dentre aquelas que apresentam afinidade com
o trabalho desenvolvido, foi a matemática. Pois no barracão, ler plantas, “ver”
medidas, conhecer escala, e saber porcentagens tem muita importância. História e
Geografia também são importantes para o entendimento do enredo, e o enredo por
sua vez, ajuda os integrantes do barracão entenderem mais de história e geografia.
Sobre o assunto, Eduardo Caetano destaca que, “os jovens que vem trabalhar,
através do enredo aprende história e geografia, através de materiais de geometria
como a régua, fazendo contas para esquadrinhar um desenho para ampliar, ou
fazendo uma conta para dar o número certo de espelhinhos, eles sem saber estão
aprendendo mais de matemática.”
O trabalho geralmente é passado do carnavalesco para o chefe de equipe, e
esse distribui as tarefas para os demais componentes do barracão, a tarefa tem a
supervisão final do carnavalesco e até mesmo do presidente da escola. O
carnavalesco passa as informações de um forma clara e didática, tirando todas as
dúvidas que forem surgindo no decorrer das reuniões ou dos trabalhos no barracão.
O conhecimento do processo de trabalho revelou-se como um conhecimento
comum. Todos foram capazes de descrever com detalhes as etapas do trabalho que
é desenvolvido no barracão. Etapas que não são compreendidas por eles como
momentos isolados, mas que, pelo contrário, são sempre associadas à ideia de uma
“engrenagem.”
39

Mas, apesar do profundo conhecimento que têm do processo de trabalho, há
uma etapa que não está ao seu alcance: a concepção do enredo que está sendo
executado. Em decorrência, desconhecem também o plano de trabalho que organiza
as suas atividades. È evidente que os chefes de equipe ao serem contratados, ficam
sabendo qual é o plano do carnavalesco, mas isso dá a eles apenas uma noção
geral do trabalho, com o passar do tempo, e já com os trabalhos no barracão, é que
o carnavalesco vai dando maiores detalhes, vai passando as mudanças que forem
necessárias fazer, vai explicando o enredo e a importância desse enredo. Embora o
enredo seja sobre contos infantis, muitos integrantes da escola e do barracão
desconheciam várias histórias que seriam contadas, por esse motivo, houve a
preocupação do carnavalesco em explicar o enredo e cada história que seria
contada, ele acredita que não basta dar um desenho e mandar a equipe fazer a
alegoria e a fantasia, o que importa acima de tudo é que ele saiba o que está
fazendo, o significado de cada coisa dentro do enredo, não adianta simplesmente
mandar fazer uma cobra, quem está trabalhando na alegoria tem que saber em qual
parte do enredo essa cobra entra, qual é a história, o significado, assim tudo é feito
com mais detalhes, e o funcionário tendo conhecimento do motivo daquela cobra
estar sendo feita, poderá até dar ideias, para melhorarmos o trabalho. Para o
carnavalesco, após o início dos trabalhos de barracão, o conhecimento do enredo
não pode mais ficar restrito somente a ele.
Perguntei sobre a importância de que esse conhecimento seja estendido a
todos os trabalhadores, e eles se dividiram. Alguns afirmam não haver nenhuma
necessidade de conhecer o enredo para o desenvolvimento do seu trabalho. Outros
afirmam que, embora não haja necessidade, o conhecimento do enredo possibilita
um maior envolvimento com o trabalho. E há ainda uma outra parcela que entende
que o conhecimento sobre a concepção artística do enredo lhes permite maior
controle e participação no processo de trabalho, bem como um melhor desempenho
profissional. Expressões como “é melhor porque eu sei o que vou estar fazendo”,
porque “eu vou ter mais chance de pesquisar” ou ainda porque “aí a gente pode dar
ideia para o carnavalesco” revelam esse sentido.
Para finalizar, gostaria de apontar um aspecto que atraiu a minha atenção
durante o período em que estive acompanhando o carnavalesco e o trabalho do
barracão: o tipo de vínculo que esses trabalhadores estabelecem com o trabalho e
40

com seus colegas de barracão. Acredito que isso merece destaque pela importância
que assumem no processo de ensino-aprendizagem na medida em que contribuem
para a criação de um ambiente favorável para o desenvolvimento do mesmo.
Observei um grande envolvimento dos trabalhadores com sua atividade, que
pode ser medido pela participação intensa do grupo na busca de soluções para os
desafios que surgem no desenvolvimento do trabalho, e isso se estende a toda a
diretoria da agremiação, eles são unidos e se respeitam, e passam isso a todas as
pessoas do barracão. Esse envolvimento pode ser explicado não apenas pelo fato
de que a esmagadora maioria gosta de carnaval, tendo grande satisfação de deixar
sua marca no produto final do trabalho, mas principalmente pelo fato de eles
gostarem do trabalho que realizam. Laryssa, ao contar como começou a trabalhar no
barracão, explicita a sua paixão: “só não participei do primeiro carnaval, acho que
fazem algo perto de dez anos, já transitei por diferentes departamentos, no início,
fazíamos tudo até mesmo confeccionar fantasias, já desfilei de destaque,
componente de ala, bateria, harmonia, baiana e etc...; Posso dizer que já passei por
todos os setores, não só como alguém da organização da escola, mas como
membro, o amor pela escola é maior do que qualquer cargo, onde a Dragões
precisar, estarei lá! Eduardo Caetano também fala da sua ligação com o trabalho de
uma maneira muito expressiva: “minha paixão pelo que faço é meter a mão no
trabalho mesmo, eu não sei ficar somente dando ordem, eu gosto de dar o exemplo
e fazer também.”
Não posso deixar de falar dos projetos sociais que a escola de samba realiza
todos os anos, não é um projeto direcionado aos funcionários do barracão, mas sim,
para as pessoas da comunidade, sendo em sua maioria, crianças e adolescentes
carentes, em relação a isso, a diretora Laryssa, falou: “em dezembro de 2003
realizamos o primeiro Natal solidário da escola, esse Natal eu sempre fiz a anos em
abrigos e hospitais, com a escola achei que poderia atingir um número maior de
crianças carentes, e fizemos para 500 crianças, desde então organizo e realizo essa
festa, acho importante não só a festa mas resgatar a possibilidade dessas crianças
sonharem e desejarem algo melhor para elas, oferecer mesmo que em um dia a
possibilidade de se sentirem queridas, respeitadas e importantes, além desse
projeto levo as crianças do abrigo da qual sou voluntária para desfilar, para eles
participarem dessa grande festa e da nossa grande família Dragões da Real. Esse
41

foi o primeiro ano que tivemos de fato um espaço físico, com a construção da
quadra, antes nos impedia de ir a diante com projetos sociais, temos em vista
parcerias com instituições do bairro para ampliar nossos projetos e atender mais
crianças carentes com aulas de música, dança e artes”.
O que mais chamou a minha atenção, foi o fato de ter sempre uma coisa
diferente para se fazer. Não é coisa igual. Um boneco é diferente do outro, uma
peça é diferente da outra, tudo tem um motivo, cada peça é parte da história que
será contada, e todas elas tem sua importância, nenhuma delas tem uma
importância maior ou menor, todas são iguais, pois no dia do desfile, é o detalhe que
fará a diferença, e se uma dessas peças, por algum motivo for deixada de lado e o
jurado ver, a escola perdera ponto.

Figura 14: Destaques da Dragões – Mago, Chapeuzinho Vermelho e a Bruxa – Carnaval/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal

Essa responsabilidade é passada para todos que trabalham no barracão, o
carnavalesco explica isso a todos os colaboradores, pois segundo ele, todos devem
42

saber o que estão fazendo, o significado de cada passo e o seu lugar dentro do
enredo.
As alegorias são levadas ao Anhembi uma semana antes do desfile, os carros
vão desmontados e uma equipe fica junto aos carros para fazerem a montagem dos
mesmos, outra equipe fica no barracão para fazerem os acabamentos finais. A
correria nesses dias é enorme, e lembro que os carros ficam expostos ao tempo, ou
seja, se chove o trabalho de montagem e acabamento é extremamente prejudicado.
Garra, coragem, amor e dedicação são as palavras mais importantes nesses dias,
além da união, pois sem ela nada sai. Toda montagem é seguida de acordo com os
desenhos feitos pelo carnavalesco, ele supervisiona tudo e nos ajuda no que for
preciso.

Figura 15: Carro Abre- Alas – A Floresta Proibida e a Bruxa.
Fonte: Arquivo Pessoal
43

Evidente que nem tudo sai perfeitamente como se espera, e nesse momento
mais uma vez entra a criatividade do carnavalesco, e seu exemplo de ação e
dedicação. Um exemplo disso ocorreu no carnaval de 2011, um dia antes do desfile,
o ateliê responsável pela confecção de doze fantasias do abre-alas da escola,
devolveu o material e informou que não faria as fantasias por excesso de trabalho,
houve um certo nervosismo na escola pois sem essas fantasias era certo que a
escola entraria perdendo preciosos pontos. O carnavalesco manteve a calma, se
reuniu com alguns diretores e começaram a confeccionar as fantasias no barracão,
viraram a noite, e no final, tudo deu certo. Falando a respeito desse ocorrido com o
carnavalesco ele informou que sempre está preparado para tudo, e que na medida
do possível, prepara sua equipe também.

Figura 16: Ala – Espelho Dos Invisíveis – Dragões/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal

Outra coisa curiosa, e que é muito presente na escola, é o trabalho em equipe
e o amor por tudo o que fazem, amor verdadeiro e puro pelo samba e pela arte.
Penso que muitas empresas que vivem fazendo campanhas motivacionais para
seus funcionários, muitos deles com super salários e que se dizem desmotivados,
deveriam ficar ao menos uma semana no barracão da escola de samba para verem
44

como funciona. Digo isso, pois na escola de samba Dragões da Real, o presidente e
toda a diretoria não possuem salário, todos eles exercem suas profissões e com isso
se sustentam, a escola é dirigida pela paixão, assim como eles, a maioria dos
integrantes do barracão fazem tudo pela arte, pois também não possuem salário, ao
contrário, muitos deixam seus familiares em casa nos dias de folga do trabalho e vão
para o barracão prestarem serviços para a escola. Vejo que todos estão a busca de
um mesmo objetivo, se unem para isso, acreditam na ideia do carnavalesco e
transformam a arte em realidade, se auto motivam, e isso ocorre não pelo dinheiro,
mas pela busca de um mesmo ideal, são forças que se unem por acreditarem
verdadeiramente na mesma causa.

Figura 17: Desfile das Campeãs – Carnaval/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal

No dia do desfile, tudo deve estar em ordem, a correria é grande e não temos
tempo a perder. As alegorias ficam na concentração, todas juntas, uma ao lado da
outra. Mais ou menos duas horas antes do início do desfile, começamos a colocar os
destaques nos carros, depois os semiestanques e por último a composição, nada
45

pode estar errado, todos possuem seu lugar determinado pelo carnavalesco, cada
fantasia conta uma parte do enredo, se errarmos nessa hora, prejudicamos o
trabalho de um ano inteiro. Outra coisa muito importante, é a união nesse momento,
todos devem estar focados no objetivo e no enredo, conforme as alas estiverem
entrando na avenida, a harmonia vai colocando entre elas os carros alegóricos de
acordo com o enredo, não pode perder tempo, se algo der errado pode fazer um
buraco entre as alas e a escola perde ponto em evolução.

Figura 18: Ala das Baianas – Bruxas – Dragões/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal

Garanto que colocar em média 2.500 componentes na avenida, sendo que
90% deles pagam por suas fantasias, separar todos por alas, passar as regras do
desfile para eles, pois mesmo pagando pela sua fantasia, o componente não pode
colocar nada a mais nela, não pode trocar as botas ou as sapatilhas, não deve tirar
acessórios ou o chapéu da fantasia na avenida, fazer com que todos entendam o
que é a evolução, e fazer esses componentes cantarem o samba da escola para
segurar a harmonia e o canto, não é fácil, mas é mágico, e muito gratificante.
46

Figura 17: Diretoria da Escola – Comemoração do Título de Campeã/2011.
Fonte: Arquivo Pessoal

A Quarta-Feira de cinzas certamente é um dia de descanso para todos, mas
já começam a sentir saudade, pois o barracão é entendido pela maioria do grupo
como o espaço de um exercício profissional e de aprendizagem que lhes confere
identidade e respeito na sociedade.
47

5 CONCLUSÃO

Ao longo desse estudo procurei discutir a educação de modo a construir uma
forma de aprendizado que valorize as experiências, o cotidiano do aluno.
No entanto, é importante ter em mente as necessidades que a nossa
sociedade possui e as experiências que tomamos como base ao pensar no
aprendizado para não repetirmos os moldes educacionais tradicionais. Nesse
sentido, vale ressaltar a valorização do cotidiano das classes populares, que muitas
vezes é tido como algo que não deve ser tomado como exemplo, ou que deve ser
modificado, numa supervalorização do cotidiano de uma elite, ou mesmo de uma
classe média em detrimento da experiência vivida pelas classes populares, classe
que mais precisa dessa atenção, bem como de valorização.
Desse modo, uma alfabetização comprometida com o sucesso das crianças e
jovens das classes populares, buscando a apropriação da linguagem como
instrumento de crítica e afirmação social, sendo assim o resgate do sentido e a
recuperação da autoria.
É preciso, portanto, que o educador saiba e valorize as múltiplas formas de
conhecimentos existentes no mundo que nem sempre estão presentes na escola, os
saberes cotidianos socialmente construídos dos educandos, suas experiências,
enfim, a realidade na qual estão inseridos. É necessário ainda que não haja
hierarquização ou negação dos saberes dando maior importância a uns e
inferiorizando outros, devendo haver a busca de um diálogo entre esses saberes, o
rompimento entre as barreiras de modo a atribuir sentido à aprendizagem que se
constrói individual e socialmente na interação humana.
Como afirma Paulo Freire (2004), o ser humano é cultural, histórico,
inacabado e consciente de seu inacabamento, capaz de intervir no mundo, assim
sendo, o educador não é a única fonte de conhecimento e sua forma de interagir
com o educando determina na construção do sucesso ou do fracasso escolar.
A partir disso, vejo que o professor e artista Eduardo Caetano, tem um papel
dialógico na ação pedagógica confrontando conhecimentos no sentido de ampliar o
saber sendo o articulador, mediando á aprendizagem, bem como a escola pode ser
48

um espaço em potencial para troca e socialização de conhecimentos, de múltiplas
relações que permitem a criação de novos conhecimentos, de circularidade de
saberes, uma escola emancipatória e multicultural que reconheça e respeite os
saberes prévios do educando, não devendo, no entanto ser descartados outros
espaços visto que, o processo de aprendizado pode se dar nos mais diversos
lugares, como foi possível verificar nesse estudo.
Um último aspecto que levantei nestas conclusões diz respeito à
aprendizagem do conteúdo do trabalho no barracão e às suas relações com a
escolaridade dos trabalhadores. Sobre esse tema entendo que um dos aspectos
fundamentais ao se pensar as relações entre trabalho e educação é o fato de que,
mesmo considerando a enorme expansão escolar demandada pela revolução
industrial, que tornou a escola o espaço predominante de educação, o trabalho
continua a ser um importante ambiente de aprendizagem. Pois a formação que se
realiza no trabalho de barracão assume grande relevância em função dos baixos
índices de escolaridade de alguns integrantes da equipe. Grande parte dos
integrantes do barracão integra um grupo social que, excluído da escola regular, tem
na escola de samba seu maior espaço de formação.
É importante ressaltar ainda que o presente estudo não visou esgotar o tema,
pretendo servir de base para estudos futuros e complementares, visto que há uma
escassez de estudos que abordem essa temática, o que ao mesmo tempo que em
alguns momentos serviu de obstáculo no avanço deste, fez com que a motivação
fosse maior, visando explorar essa questão e trazer para o âmbito acadêmico esse
debate tão importante para um melhor aproveitamento do ensino, principalmente nas
camadas mais carentes da nossa sociedade.
49

REFERÊNCIAS

ALVES, Nilda, GARCIA, Regina Leite (orgs.) O Sentido da Escola. Rio de Janeiro:
DP&A, 1999.
ARAÚJO, Hiram. Carnaval – Seis Mil Anos de História, São Paulo: GRYPHUS,
2000. Disponível em http://liesa.globo.com/ Acesso em: 16 ago. 2011.

BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais, tradução de Yara Frateschi
Vieira. São Paulo. HUCITEC, Brasília: Editora da Universidade e Brasília, 1993.

BARBOSA, Ana Mae. Ensino da Arte, Memória e História. São Paulo: Perspectiva,
2008.

CABRAL, Muniz Sodré Araújo. Reinventando a Cultura. Ed. Vozes, 1999.

CECCON, Claudius et al. A vida da escola e a escola da vida. 15ª ed. Rio de
Janeiro, Petrópolis: Ed. Vozes, 1999.

CUNHA, Elenice Rêgo dos Santos (Org.), Padrão PUC Minas de Normalização:
normas da ABNT para apresentação de trabalhos científicos, teses, dissertações e
monografias. Belo Horizonte: PUC Minas, ago. 2010.

FREIRE, Paulo. A importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

GARCIA, Regina Leite (org.). Alfabetização do Aluno das Classes Populares. 5ª
Ed. São Paulo: Cortez, 2002.

HALL, Stuart. A Centralidade da Cultura: notas sobre as revoluções culturais do
nosso tempo. Educação & Cultura, V.22, n2, jul-dez., p.17-46,1997.
50

LOBO, José Manuel. Lição de Coisas de Ensino da Educação da Secretaria da
Educação para as Escolas Primárias. Rio de Janeiro: Governo Federal. 1941.

SODRÉ, Muniz. Samba, O dono do corpo. 2ed. Rio de Janeiro: Mauad,1998.

PIAGET, Jean. Sobre a Pedagogia, 1ª edição. São Paulo: Editora Casa do
Psicólogo, 1998.

RUSSO, Lilian. Um pouco da história e da origem do carnaval. Disponível em
http://ilove.terra.com.br/lili/palavrasesentimentos/carnaval_mensagem.asp
Acesso
em: 16 ago. 2011.

VEIGA-NETO, Alfredo. Cultura, Culturas e Educação. Revista Brasileira de
Educação, n23, maio-ago. p.5-15, 2003.

TRINDADE, A.L.; SANTOS, R (orgs.). Multiculturalismo: mil e uma faces da
escola. Rio de Janeiro: DP&A, - 17-32,1999.
VIGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998.

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Educação no Carnaval através do trabalho do carnavalesco Eduardo Caetano

  • 1. FACULDADE PAULISTA DE ARTES Curso de Graduação em Artes Cênicas Educação no Carnaval: Eduardo Caetano, Arte e Educação através do Desfile de Escola de Samba. Marcos Antonio Passos São Paulo 2011
  • 2. 1 Marcos Antonio Passos Educação no Carnaval: Eduardo Caetano, Arte e Educação através do Desfile de Escola de Samba. Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Artes Cênicas da Faculdade Paulista de Artes, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Artes Cênicas. Orientador: José Carlos de Andrade. São Paulo 2011
  • 3. 2 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus que nunca me abandonou mesmo nos momentos mais difíceis, sendo meu amparo sempre. Aos meus antepassados, em especial meu pai, que mesmo sem sua presença física está sempre presente em meus pensamentos e em minha vida. A meu Pai Ogun Xoroquê, e todos os Orixás e espíritos que fazem parte da minha vida, da minha estrutura e do meu caminhar. Obrigado Mãe Keleomin por tudo. Axé Mãe Lecimbe. A minha mãe, pois sem ela eu não estaria aqui, e todos os meus familiares. Ao professor e orientador Zecarlos de Andrade, pelas orientações e pela paciência que teve no momento que mais precisei. A todos os professores da FPA, pois foram muito importantes para mim e não esquecendo também de agradecer, a todas as professoras e professores que tive desde o início da minha caminhada. Obrigado a meu amigos por tudo, pelo carinho, pela atenção e pelas ideias. Agradeço muito o ser iluminado Jeferson de Freitas, sem seu apoio eu não teria terminado esse trabalho. Agradeço toda família Dragões da Real, vocês foram maravilhosos. Enfim, muito obrigado Eduardo Caetano, por ter dado a oportunidade de realizar esse trabalho e essa pesquisa, sem seu apoio e sem suas informações não teria terminado esse projeto.
  • 4. 3 RESUMO O presente estudo tem como objetivo analisar o trabalho do carnavalesco Eduardo Caetano no Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mancha Verde e na Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Dragões da Real, no esforço de atribuir a esses núcleos elementos indispensáveis à aprendizagem, tais como a importância da consciência coletiva, motivação, prazer e sentido no aprendizado, procurando fazer um paralelo com as instituições de ensino tradicionais. Para elaboração dessa pesquisa usei como metodologia a observação participante, que nesse trabalho possibilitou um olhar mais minucioso sobre a realidade dos sujeitos envolvidos o que possibilitou a definição de casos de estudos onde eu pude aprofundar um pouco mais algumas questões ligadas ao trabalho do barracão. Definidos os casos e o método, foram realizadas entrevistas com alguns membros das escolas e com o carnavalesco. Com base nesse material foi realizado um levantamento bibliográfico a fim de mostrar como a arte, a educação e a informação estão presentes no carnaval, verificando ainda a potencialidade das escolas de samba e do carnavalesco nas abordagens pedagógicas dos currículos em sala de aula. Desse modo meus principais interlocutores teóricos foram BAKHTIN (1993), BARBOSA (2008), HALL (1997), FREIRE (2004), GARCIA (2002) e PIAGET (1998). A partir do presente estudo foi possível concluir a relevância de possibilitar uma educação de modo a construir uma forma de aprendizado que valorize as experiências, o cotidiano do aluno. No entanto é importante ter em mente nas necessidades que a nossa sociedade possui e as experiências que tomamos como base ao pensar no aprendizado para não repetirmos os moldes educacionais tradicionais. Nesse sentido é importante ressaltar a valorização do cotidiano das classes populares, que muitas vezes é tido como algo que não deve ser tomado como exemplo, ou que deve ser modificado, numa supervalorização do cotidiano de uma elite, ou mesmo de uma classe média em detrimento da experiência vivida pelas classes populares, classe que mais precisa dessa atenção, bem como de valorização. Desse modo, uma alfabetização comprometida com o sucesso das crianças e dos jovens das classes populares, buscando a apropriação da linguagem como instrumento de critica e afirmação social, sendo assim o resgate do sentido e a recuperação da autoria. Palavras-chave: Carnaval; Barracão; Educação; Cultura.
  • 5. 4 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 Mascaras do Carnaval de Veneza..................................................... 12 FIGURA 02 Carnavalesco Eduardo Caetano........................................................ 14 FIGURA 03 Carro Abre-alas – Mancha Verde/2005............................................. 21 FIGURA 04 Ariano Suassuna em carro alegórico – Mancha Verde/2008........... 26 FIGURA 05 Preparativos para o desfile – Dragões/2011...................................... 27 FIGURA 06 Carro Mancha Verde/2008 – Alma de Palhaço – O carro mais comentado do ano................................................................................................. 28 FIGURA 07 Carro Alegórico – A Floresta Proibida e a Bruxa – Dragões/2011..... 29 FIGURA 08 Carro Alegórico– João e Maria e a Casa de Doces– Dragões/2011...30 FIGURA 09 Carro Alegórico – As Três Folhas da Serpente e O Músico de Bremen. Dragões/2011.......................................................................................... 31 FIGURA 10 Carro Alegórico – O Lago Dos Inocentes e o Castelo De Cristal – Dragões/2011........................................................................................................ 32 FIGURA 11 Mestre-Sala e Porta-Bandeira – Encanto das Borboletas – Dragões/2011........................................................................................................ 33 FIGURA 12 Comissão de Frente – Fadas – Dragões/2011.................................. 34 FIGURA 13 Comissão de Frente – Magos – Dragões/2011................................. 37 FIGURA 14 Destaques da Dragões – Mago, Chapeuzinho Vermelho e a Bruxa – Carnaval/2011.......................................................................................... 41 FIGURA 15 Carro Abre- Alas – A Floresta Proibida e a Bruxa............................. 42 FIGURA 16 Ala – Espelho Dos Invisíveis – Dragões/2011................................... 43 FIGURA 17 Desfile das Campeãs – Carnaval/2011.............................................. 44 FIGURA 18 Ala das Baianas – Bruxas – Dragões/2011........................................ 45 FIGURA 19 Diretoria da Escola – Comemoração do Título de Campeã/2011...... 46
  • 6. 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................06 2. CARNAVAL E PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL.................................. 11 2.1 Breve Histórico do Carnaval......................................................................... 11 2.2 Carnavalesco..................................................................................................13 3. EDUCAÇÃO E CULTURA................................................................................ 17 3.1 Definindo Cultura........................................................................................... 17 3.2 Cultura e Educação....................................................................................... 18 4 APRENDENDO COM O SAMBA....................................................................... 20 4.1 Escola de Samba Mancha Verde.................................................................. 20 4.1.1 Pesquisa do Enredo de 2005................................................................... 22 4.1.2 Enredo de 2008 – Ariano Suassuna........................................................ 26 4.2 Escola de Samba Dragões da Real – Enredo: A felicidade se Conta em Contos – Carnaval 2011............................................................................... 28 4.3 Um Olhar Sobre o Processo Educativo no Barracão............................... 34 5. CONCLUSÃO.................................................................................................... 47 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 49
  • 7. 6 1 INTRODUÇÃO Dizem que uma rainha vinda da África como escrava se organizou com mais alguns escravos e fugiram mata adentro, vestidos de resistência. Brasil, colônia dos brancos. Lugar habitado por índios que preferem a morte à escravidão. Enquanto isso, nos portos, cada vez mais chegam navios tumbeiros. O país cresce com a escravidão, a elite, o comércio, a religião, o massacre, as leis de reis sem virtudes, e a bomba está prestes a explodir. Existem negros vivendo nas matas, estão distantes da capital, e os capitães-do-mato estão sempre a procura deles. Eles se preparam para a guerra, a resistência é o símbolo da luta por igualdade, jamais os brancos lhes darão a liberdade, por isso não acreditam no sorriso do inimigo. Somente lutando contra eles é que mostrarão o seu valor. Nesses séculos de luta, quilombos cresceram e se espalharam por todo o Brasil, guerreiros lutavam com bravura, como se a liberdade superasse os limites da morte. Viram-se páginas da história e o massacre continua. Antigamente negros quilombolas, hoje são todos os que fazem parte da periferia. Somos uma grande fusão, brancos, índios e negros. Ainda continuamos distantes, longe das capitais, vivendo em periferias entre barracos, morros, redutos e vielas, selva de casas amontoadas. Liberdade vigiada pelo sistema, correntes feitas de moedas e de falta de instrução, e a mesma elite ainda comanda. Temos que dar continuidade às lutas dos nossos antepassados, manter as tradições, origens, costumes, temos que criar e educar. Pensar a escola é ir além de um espaço onde iremos aprender uma gama de conteúdos que irão ser cobrados e utilizados em provas e concurso. E escola é um lugar de formação de pessoas, e como pessoas esses alunos têm muito mais do que provas de conteúdos. Estas são as menos difíceis. Cada indivíduo tem uma prova muito mais difícil de encarar, a prova da vida. Da mesma forma que muitos outros alunos, estudei numa escola que valorizava a cartilha imposta por Parâmetros Curriculares Nacionais, (PCNs) e seus conhecimentos ainda muito carregados de uma lógica positivista, onde o resultado quantitativo é posto acima de qualquer outra avaliação. Fui alfabetizado através de palavras, frases sem sentidos e exercícios mecânicos nos quais dispensavam raciocínio numa visão fragmentária.
  • 8. 7 Partindo disso, ao tentar fazer uma retrospectiva do meu processo de alfabetização, não me recordo de ter tido contato com revistas, jornais, artigos ou textos que não fossem os das cartilhas nas escolas onde estudei. Mas é importante ressaltar que meus pais, sempre transmitiram a paixão pela leitura, embora tivessem pouca instrução. Meu pai lia e me contava histórias fascinantes que despertava em mim, o desejo de decodificá-las, em entendê-las, indo além do que estava escrito. Talvez pela experiência de uma alfabetização mecanicista, que vê na aquisição do código o principal em todo o processo de leitura e escrita que, ao ingressar na faculdade, através de uma alfabetização empenhada com a apropriação da linguagem enquanto instrumento de crítica, visando o resgate do sentido e a autonomia do sujeito, descobri outro sentido para o ensino, entendendo o que Paulo Freire nos trás ao dizer que, “saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. (Freire, 2004, p.47). O objetivo geral desse trabalho, é investigar as possibilidades de condução de um processo de educação a partir da realidade cotidiana dos alunos. Para tanto o presente trabalho terá como pano de fundo o Carnaval e o trabalho do professor, educador e carnavalesco Eduardo Caetano, fazendo uma análise de alguns métodos e modelos de programas realizados por ele em algumas escolas de samba onde trabalhou e ainda trabalha, e seu intuito pedagógico de ensinar samba e trabalhos artísticos para crianças e jovens, muitos deles carentes, nos barracões e nas comunidades onde essas Escolas de Samba atuam. No entanto, no sentido de buscar romper a hierarquia dos saberes construídos na escola de forma a compreender as diversas leituras de mundo e as potencialidades dos envolvidos valorizando os saberes provenientes de suas realidades de vida. Quero ainda partilhar nesse trabalho a importância do Carnaval como elemento de socialização do individuo em uma sociedade excludente tendo como foco a educação, os saberes, e o uso da riqueza cultural e diversificada trazida pelos integrantes do barracão e membros da escola de samba em geral. Definido o caso a ser estudado, o estudo terá ainda como objetivos específicos a serem explorados, uma breve exposição do histórico do carnaval de São Paulo, entendendo sua origem, seu papel dentro das comunidades onde estão as Escolas de Samba para entendermos a inserção dos jovens nesse processo,
  • 9. 8 para então vermos como essa estrutura, que ao longo dos anos ganhou força e cada vez mais investimentos, afetando a formação desses jovens que desde muito cedo participam do processo. Antes de descrever a metodologia que será implementada no presente estudo é importante relatar o que me motivou a escolha desse tema, sendo essa uma particular paixão pelo carnaval, paixão essa motivada em grande parte por observar o amor que a comunidade tem pelo seu pavilhão, o trabalho sério realizado por muitos profissionais liderados pelo carnavalesco, sempre na intenção de brincar e se divertir, sem perder o foco no social, e na mensagem a ser passada. Desde pequeno eu ficava assistindo aos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, via os enredos, estudava as histórias que estavam sendo contadas, e cantadas, e muitas delas eram história do Brasil, eu sonhava em um dia estar participando disso tudo, mesmo estando tão distante daquela realidade. Muitas vezes, as histórias dos enredos, acabavam virando material acadêmico no colégio onde estudava, e eu tinha tal domínio que sempre tirava notas consideráveis por saber muito do assunto, e o interesse vinha dos desfiles e dos enredos das Escolas de Samba. Por ser de uma religião Afro-Brasileira, os enredos sobre cultura africana me encantavam, e muitas coisas sobre minha religião também aprendi com os enredos, fazendo com que eu entendesse o valor daquilo tudo, eu sempre acreditei que carnaval também educa. Esse histórico no mundo do samba serviu não só de motivação, mas também fez com que eu pudesse observar e entender um pouco do que ocorre por trás do que é passado pela mídia nos desfiles durante o carnaval. Nesse sentido após verificar que a Arte e a Pedagogia estavam fortemente ligadas a essa realidade, parti dessa vivência e desse histórico para a observação e a participação mais minuciosa dessa realidade, sendo esse o método utilizado na presente pesquisa. Passei a observar de perto como crianças cantam sambas aprendendo suas letras que, em muitos casos utilizam de termos que não estão presentes em seu universo vocabular e mesmo assim têm facilidade no aprendizado dessas letras e se interessam em aprendê-las.
  • 10. 9 Conforme explicitado anteriormente, a fim de facilitar o estudo e procurando entender mais detalhadamente uma realidade em particular, foram definidos casos onde pôde se aprofundar um pouco mais algumas questões, sendo esses casos a Escola de Samba Dragões da Real, e o trabalho do professor, cenógrafo, estilista e carnavalesco, Eduardo Caetano. Definido os casos e o método, foram realizadas entrevistas com pessoas que participam desse projeto, sendo elas inseridas desde muito cedo em escolas de samba, algumas delas pelo fato de seus pais já fazerem parte desse meio, seja trabalhando na confecção de fantasias, alegorias e adereços, na harmonia, na bateria, intérpretes de enredo, passistas, baianas, comissão de frente, ou ainda como componentes foliões que também dão o sangue pela Escola e tendo como continuação de suas casas. Quero mostrar como a arte e a educação estão presentes no Carnaval, verificando ainda a potencialidade das escolas de samba nas abordagens pedagógicas dos currículos em sala de aula, foi feita uma análise empírica sob a luz da teoria para que, entendendo essa realidade fosse possível lançar propostas para uma nova abordagem de ensino que aproveite a vivência do aluno, podendo ser utilizada em outras realidades, não sendo restrita ao samba somente. Foi possível compreender a relação entre conhecimento e a arte num movimento circular de saberes, ou seja, a educação num sentido amplo que valorize as falas dos jovens e pessoas envolvidas no processo observando suas várias leituras de mundo e diferentes linguagens, usufruindo das suas próprias experiências na construção do conhecimento atribuindo-lhe sentido, visto que, como pontua Vygotsky (1998, p. 28), “a compreensão da linguagem escrita é efetuada, primeiramente, através da linguagem falada.” O presente trabalho foi estruturado visando fazer um paralelo entre Cultura e o Aprendizado, para tanto se desenvolveu uma estrutura onde o trabalho foi dividido em três partes, que serão cada uma dessas partes um capítulo desse estudo. Na primeira parte é feito um panorama histórico sobre o carnaval, a fim de entendermos a origem dessa festa e a partir disso pensar na sua introdução no Brasil, até chegarmos aos dias atuais, e no seu papel social, construído ao longo da
  • 11. 10 história, e também um panorama sobre o que é ser carnavalesco, qual sua função, e suas obrigações dentro de uma comunidade. Partindo desse histórico, é feita uma pesquisa teórica sobre cultura e o seu papel na educação, onde é possível verificar através da teoria como a cultura e o cotidiano é/foi pensado como formas de auxiliar no aprendizado, para com isso termos um aporte para entrarmos no caso específico que será tratado na terceira parte do estudo. Essa terceira parte ficará responsável por fazer uma análise descritiva dos dois casos escolhidos para estudo, passarei dados dos enredos das escolas de samba Mancha Verde, e Dragões da Real, como foi o trabalho de barracão, qual foi a ideia do enredo e onde serão mostradas ainda algumas entrevistas realizadas, a fim de observarmos o impacto desse tipo de ensino nas pessoas envolvidas.
  • 12. 11 2 CARNAVAL E PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL A partir desse momento será enfocado o Carnaval enquanto festa popular, capaz de agregar grande número de indivíduos bem como movimentar vultosas quantias de capital, sendo atualmente responsável por aquecer a economia do país, mais especificamente no caso do presente estudo a economia da cidade de São Paulo, sendo ainda responsável pela vinda de grande quantidade de turistas de outras regiões do país bem como de outros países. Para melhor entendermos como o Carnaval se tornou esse fenômeno cultural (e econômico), a partir de agora será feito um breve histórico de como se desenvolveu essa festa até os dias atuais, e qual é a parte do carnavalesco nisso tudo. 2.1 Breve Histórico do Carnaval Antes de entrarmos propriamente dito numa abordagem sobre o Carnaval paulistano, é importante entendermos a origem do Carnaval enquanto festa popular. De forma geral, o Carnaval é um espetáculo que, segundo Bakhtin (1993) teve origem na dramatização, nos rituais e festas a Dionísio. Durante a realização da festa, há a anulação de algumas regras de comportamento, só se pode viver de acordo com as leis da liberdade onde “tudo” é permitido lembrando que alguns extremos são coibidos, estando essa liberdade restrita a seriedade de comportamento. Nesse sentido o Carnaval surge como cultura do oprimido, possuindo um aspecto cômico popular e público de caráter universal. Não era uma simples forma artística de espetáculo teatral. Mas uma forma concreta da própria vida. É a segunda vida do povo baseada no principio do riso.
  • 13. 12 Nesse sentido é importante destacar que o carnaval teve origem antes mesmo que o Brasil fosse descoberto. No entanto não é possível garantir que tenha sido nesse momento que o Carnaval tenha tido seu início, pois existem várias interpretações para isso, variando desde a ideia do seu surgimento a seis mil anos atrás pelos antigos, para louvar as boas colheitas agrárias, até a ideia de que teria surgido somente no início da era Cristã. Nesse momento fora o Carnaval regulamentado pelo Bispo de Roma, Gregório I, o Grande, que em 590 regulamentou as datas do Carnaval, criando a Expressão “Dominica ad carne levandas”, segundo Araújo (2000) essa expressão que foi sendo abreviada, dando origem a palavra Carnaval. Não posso ainda deixar de citar o Carnaval de Veneza, também conhecido por ser um dos carnavais mais antigos do mundo e famoso pelos seus bailes de máscaras, conforme imagem abaixo: Figura 01: Mascaras do Carnaval de Veneza Fonte: www.janelanaweb.com/viagens/veneza.html No entanto não é única a explicação para a origem da palavra Carnaval, podendo também ser interpretada como oriunda da expressão “carna vale” (adeus carne), ou de “carne levamen” (supressão da carne), esta última tendo origem etimológica referente ao início do período da Quaresma que era, em sua origem, não apenas um período de reflexão espiritual como também uma época de privação de certos alimentos, dentre eles, a carne1. Entretanto, dentre todas as possíveis interpretações para o início do Carnaval, existe um ponto comum que está presente em todas - sua ligação, como é comum a grande maioria das festas populares, com fenômenos astronômicos ou da natureza. 1 Segundo: RUSSO, Lilian. Um pouco da história e da origem do carnaval. Disponível em http://ilove.terra.com.br/lili/palavrasesentimentos/carnaval_mensagem.asp Acesso em: 16 ago. 2011.
  • 14. 13 A astronomia, nesse sentido é a responsável por definir a data do Carnaval para os países que comemoram essa data (países com raízes cristãs). Definido em 325 d.c, o “Cálculo Eclesiástico”, como foi convencionado chamar, foi definido pelo Concílio de Nicea (primeiro Concilio Ecumênico do Cristianismo) como sendo calculado da seguinte forma: O Dia da Páscoa, por definição, é o primeiro Domingo após a lua cheia que ocorre após o equinócio vernal, e pode cair entre 22 de Março a 25 de Abril. A sequência dos dias de Páscoa se repete em ciclos de aproximadamente 5.700.000 anos. Ainda de acordo com essa definição: “O Carnaval acontece 47 dias antes da Páscoa. Logo o Carnaval pode acontecer de 04 de fevereiro a 9 de março. Corpus Christi acontece 60 dias depois da Páscoa. Logo Corpus Christi pode acontecer de 21 de maio até 24 de junho.” 2. Nesse sentido vemos que o carnaval, como o temos nos dias atuais sofre influência de sua origem no Cristianismo, sendo uma data que serve de ponto de partida para a Quaresma, período de preparação para a Páscoa. Por fim é possível observar que o Brasil por sua vez teve o carnaval trazido pelos portugueses, que trouxeram a brincadeira de loucas correrias, mela-mela de farinha, água com limão, no ano de 1723, surgindo depois as batalhas de confetes e serpentinas, chamado de Entrudo. 2.2. Carnavalesco “só se aprende a fazer carnaval aqui”, (no barracão). O barracão se apresenta, portanto, como o melhor aprendizado para quem quer trabalhar com carnaval. “Essa é uma grande escola”, onde se aprende a arte através da arte. (Eduardo Caetano). O carnavalesco é um verdadeiro operador de signos de linguagem. Opera com informação e elementos, além de (inter) mediar indivíduos provenientes de 2 Informação disponível no site: http://inf.ufrgs.br/cabral/Pascoa.html. Acesso em: 16 ago. 2011.
  • 15. 14 diferentes origens e classes sociais e culturais. Como nos ensina o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, em sua obra O Pensamento Selvagem (1962), o carnavalesco pode ser entendido também como um bricoleur manuseando e manipulando signos finitos, classificando-os e pondo-os em ação, tais como escalas cromáticas, tecidos e suas texturas, efeitos de brilho e leveza proporcionados por transparências, miçangas, lantejoulas e paetês, descoberta de “novos” materiais (ráfia e isopor, garrafas pet, cd’s, latas de tinta vazias, canudo de refrigerante), etc. para contar uma história na avenida. Figura 02: Carnavalesco Eduardo Caetano Fonte: Rede de TV Bandeirantes O carnavalesco por vezes pode atuar como aquele que estabelece a “negociação” entre o enredo da escola e os objetivos do patrocinador, (isso quando a escola consegue um patrocínio), estabelecendo, assim, uma convergência entre os distintos interesses. Porém nem todos os carnavalescos assumem esse papel. Hoje se fala muito na necessidade da profissionalização das escolas de samba, entendida como business que envolve a venda dos direitos de transmissão para as televisões, de fantasias e de cd’s, vagas na rede hoteleira, etc., realçada pela relevância do carnavalesco, é uma tendência que se consolida. Contudo essa profissionalização ocorre simultaneamente à ausência de contratos, tratos feitos “de boca” e sustentados unicamente pela “palavra de honra” do responsável pela escola de samba, pois nem todas as escolas fazem contrato registrado com esse tipo de profissional.
  • 16. 15 O lugar do carnavalesco como profissional estabelecido e disputado por seus inventos artísticos deve ser necessariamente contraposto a seu outro lado, o da precariedade e, por vezes, da descartabilidade diante da falta de um contrato de trabalho formal respeitado e respeitável. A própria noção de categoria profissional, tal como ela foi organizada no Brasil após os anos 1930, em sua forma corporativa, ou seja, com filiação compulsória aos Conselhos, monopólio de representação e tutela do Estado, precisa ser matizada no caso desses artífices. Nem o Estado se constituiu em interlocutor dos carnavalescos ao longo do tempo, nem o diploma universitário tornou-se uma exigência para o “ser artista do carnaval”, esse artista responsável por um saber especializado, especifico, destacado por sua competência técnica. Não podemos, assim, enxergá-los como uma categoria profissional homogênea e estável que conseguiria se auto-regular e garantir suas demandas por um piso salarial, nem eles se adéquam as chamadas “profissões imperiais” (medicina, direito e engenharia) à vinculação entre profissão e credencialismo acadêmico característica do Brasil. Perguntado sobre se “as relações pessoais do carnavalesco são mais importantes” do que a assinatura de contrato com a escola de samba, Eduardo Caetano afirma que são essas relações que assegurariam o vínculo empregatício do carnavalesco. Num ambiente fortemente passionalizado, no qual o vínculo racional dos indivíduos é diminuído pelo âmbito afetivo, pela paixão, torna-se difícil a predominância das relações profissionais totalmente amarradas com a CLT. Segundo Eduardo Caetano, do que ele conhece de Carnaval, as relações pessoais é que são as relações de contrato, de amizade, inclusive de respaldo e de respeito. Para ele carnaval é uma coisa de paixão, e quando a paixão domina o afetivo, vai dominar tudo, inclusive nas relações profissionais. Na minha pesquisa, pude perceber também, a responsabilidade que é colocada sobre o trabalho do carnavalesco no que diz respeito ao resultado do desfile da escola de samba, ou seja, a colocação que a escola ficará no Carnaval. Mas não podemos nos esquecer também, que a maior responsabilidade do carnavalesco está na plástica apresentada pela escola, o enredo, as alegorias e fantasias. Porém, como no fim de tudo, o maior responsável pela glória ou não da agremiação será o carnavalesco, Eduardo Caetano, por exemplo, procura se inteirar
  • 17. 16 de tudo, e se diz feliz por isso, afinal, segundo ele, hoje o carnavalesco tem que ter noção de bateria, comissão de frente, casal de mestre sala e porta bandeira e harmonia, pois o resultado do seu trabalho, depende desses quesitos também, e indiretamente ele se sente responsável por isso. Além disso, tem os destaques das alegorias, e como o Eduardo Caetano tem um leque de amizades nesse meio, ele acaba levando amigos para ocuparem esses lugares, uma vez que as fantasias são de alto valor financeiro e quem banca é o destaque, ou seja, esses destaques desfilam por amor a escola ou pela amizade com o carnavalesco.
  • 18. 17 3 EDUCAÇÃO E CULTURA Parto do pressuposto que o Carnaval é um elemento cultural que participa de forma ativa da vida da população brasileira, mais especificamente da vida dos indivíduos que estamos abordando nesse trabalho para os quais o Carnaval é não somente um elemento cultural, mas também parte de suas identidades. 3.1. Definindo Cultura Durante muito tempo a cultura foi pensada como única e universal, sendo essa parte de uma ideologia monoculturalista, ou seja, detentora de uma identidade única na qual a Educação era o caminho para o alcance das formas mais elevadas de cultura tendo como modelo os grupos sociais mais educados, portanto mais cultos. (Veiga-Neto, 2003). Por muito tempo, a aquisição da leitura e da escrita eram utilizadas como objeto de dominação, de poder e controle através de uma ideia superior de cultura que possibilitava á uma minoria da população, as chamadas elites sociais, econômicas e culturais, detentoras de um saber voltado para o modelo europeu, a certeza de uma educação escolar voltada para o ensino superior subalternizando o conhecimento popular. Nesse sentido o conceito de cultura, porém, é muito mais abrangente, pois implica em valores, e estando em constante processo de transformação, se construindo ao longo do tempo na (con)vivência coletiva podendo ser modificado, desconstruído e reconstruído pelo grupo que a partilha. Sob essa visão a cultura irá significar tanto o que está a nossa volta, como o que está dentro de nós numa perspectiva Multiculturalista, perpassando, tudo o que acontece nas nossas vidas e todas as representações que fazemos desses acontecimentos.
  • 19. 18 Segundo o professor Muniz Sodré (1999), cultura é muito mais que uma concepção patrimonialista, ela está relacionada ao conhecimento, as formas de vida, aos valores morais, a arte, religião e política. É a dinâmica de relacionamento que o indivíduo tem com o real dele, com sua realidade, de onde vêm os conteúdos formativos, ou seja, de formação para o processo educacional. 3.2 Cultura e Educação A partir dessa concepção de cultura que foi exposta considera-se de uma importância destacar que não ser letrado nos moldes tradicionais, ao contrário do que se acreditava, não significa ser inculto. Partindo disso é importante compreender o que as classes populares vêm dizendo através do samba, das palavras, dos gestos, do canto, das insatisfações, alegrias, choro, emoções ou silêncio. Como pontua Trindade (1999), mais importante que ler palavras é ler o mundo, sem negar a importância da escrita. Existem diferentes formas de linguagem que também possibilitam diferentes leituras do mundo e para lê-las é preciso viver, apaixonar-se pela vida, pelo outro para a partir daí ler os sentimentos, os gestos, os cheiros, os corpos, os sons, a boca, os ouvidos, os olhos, o coração, as pernas, os braços, enfim, compreender o outro e compreender-se. Muitas vezes, as instituições de ensino tradicionais lidam com os alunos das classes populares como se eles não tivessem suas próprias experiências, seus próprios saberes, ou seja, como se nada tivessem à ensinar e nenhuma capacidade para aprender, ou mesmo enxergam essa vivência no aluno como algo negativo, que deve ser modificado, esquecido em prol de um “correto aprendizado”. A linguagem oral, por exemplo, é o principal canal das expressões populares que colabora na construção da memória popular. A Educação formal, por sua vez, valoriza apenas o que está escrito esquecendo a dimensão oral que é de grande importância para a vida cotidiana. Era através da oralidade, por exemplo, que as histórias eram passadas de geração para geração, histórias essas, que, muitas
  • 20. 19 vezes, fazem ou fizeram parte do senso comum e deveriam ser abordadas na dimensão escolar valorizando as vivências dos alunos e atribuindo sentido ao aprendizado. È importante observar ainda que a não valorização da oralidade pode ainda ser encarado como uma forma de segregação das classes populares, visto que muitas não têm acesso à meios de comunicação escritos como jornais, livros e revistas, sendo o “boca a boca” a forma acessível de comunicação, de informação e de aprendizado. É importante, portanto, ter em mente que o conhecimento está presente em toda parte e de múltiplas formas, porém nem todos eles são ensinados na escola, existindo uma seleção desses conhecimentos, resultando nos conteúdos pedagógicos. Em nossa sociedade, os conhecimentos valorizados são os determinados por processos sociais de controle que constam no currículo oficial e exaltam a importância de currículos nacionais padronizados, os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais). Dessa forma, o conhecimento das classes populares, construídos no cotidiano, vão sendo negados na instituição educacional. Assim, os alunos vão aprendendo a memorizar e repetir, principalmente através do uso de cartilhas que inibe toda a capacidade criativa e autônoma dos sujeitos através de conhecimentos específicos que cerceiam o aluno na compreensão do real. Vale ressaltar que não se deve retirar a importância contida nos conteúdos pedagógicos para o desenvolvimento do individuo, bem como de seu futuro enquanto cidadão e profissional, mas é necessário, porém, que haja a construção desses conteúdos juntamente com os alunos, para que possam ser entendidas as demandas desses alunos bem como fazendo que seja atribuído significado àquilo que está sendo aprendido, o que viabiliza um diálogo construtivo entre os saberes acadêmicos e os saberes populares. Com base nisso, ressalto que a alfabetização é um processo contínuo de construção-desconstrução de conhecimentos, sendo assim, a Escola de Samba surge como um ambiente alfabetizador visto que este representa um local repleto de sentido onde a criança e o adolescente se sintam atraídos, indo além das salas de aula, bem diferente da fragmentação artificial imposta pela hierarquização dos saberes construídos que padroniza o comportamento como ocorre, normalmente, no processo de escolarização.
  • 21. 20 4 APRENDENDO COM O SAMBA Após entendermos um pouco sobre as origens do Carnaval e de como a educação pode ser utilizada em conjunto com a cultura e com a vivência do aluno, a partir desse momento será feita uma análise das escolas de samba e de seus enredos, como foram desenvolvidos os enredos, e qual foi a forma pedagógica utilizada pelo carnavalesco. Colocarei também alguns trechos de entrevistas realizadas com pessoas que participaram do processo, como, assistentes, ritmistas da bateria, decoradores, membros da diretoria e foliões. “O método natural de ensino é a intuição, a lição de coisas, o contato da inteligência com as realidades que ensinam, mediante a observação e a experimentação, feitas pelos alunos e orientadas pelos professores. São extremamente banidos da escola os processos que apelam exclusivamente pela memória verbal, as tarefas de mera decoração, a substituição das coisas e fatos pelos livros, os quais só devem ser usados 3 como auxiliares de ensino.” (LOBO, 1941, p.32) 4.1 Escola de Samba Mancha Verde – Carnaval 2005 e 2008 Enredo: Da Pré-história aos transgênicos: Mato Grosso. Uma Mancha Verde no coração do Brasil. (Carnaval 2005). Nesse momento irei fazer uma descrição do local e da escola a partir de algumas visitas realizadas durante os ensaios na quadra da escola, e também através de pesquisa realizada com o carnavalesco Eduardo Caetano, e com pessoas envolvidas nesses enredos. Colocarei também, parte da minha vivência e da minha pesquisa em relação a esses enredos que tanto me encantaram, falarei 3 Lição de coisas está inserida, como disciplina, no programa de ensino de 1941 para as escolas primárias (programa mínimo), da Secretaria dos Negócios da Educação e Saúde Pública, promulgado pelo secretário José Manuel Lobo, em 19 de fevereiro de 1925, que acabou estendendo este programa aos grupos e escolas isoladas.
  • 22. 21 sobre a dinâmica do local, e de como se deu a aprendizagem na escola, e no barracão. Figura 03: Carro Abre-alas – Mancha Verde/2005. Fonte: Arquivo Pessoal Em primeiro contato com a Escola de Samba, observa-se antes de qualquer coisa, que embora seja uma escola que tenha saído de uma torcida de futebol, em sua quadra não colocam nada que nos faça lembrar o time, tipo, bandeiras do Palmeiras, ou hinos do time. Eles são focados na arte do Carnaval, gostam mesmo é de samba. Prova disso, é que todos os sábados eles fazem uma roda de samba raiz, que é aberta ao público e que tem como principal alvo os jovens que frequentam a quadra da escola. A ideia é resgatar sambas antigos e levar ao conhecimento desses jovens obras de Adoniran Barbosa, Chiquinha Gonzaga, Almir Guineto, Clara Nunes, Aracy de Almeida, Pixinguinha, Cartola, Ismael Rosa e Noel Rosa, todos que no passado fizeram parte do mundo do carnaval, nos deixando uma obra rica, que prende a atenção desses jovens. Juntamente com essa roda de samba cultural, pude perceber a prática pedagógica de Cachorrão, mestre de bateria da escola, que aproveitando o interesse desses jovens, dá aula para os novos ritmistas da escola, quem tem interesse em aprender tocar algum instrumento, basta
  • 23. 22 fazer sua inscrição e comparecer nos dias das aulas. Não tem custo e os melhores são escalados para fazerem parte da bateria da agremiação. Em um dos encontros com o carnavalesco Eduardo Caetano, ele me explicou que muitas pessoas, nas suas maiorias jovens que frequentam a quadra da escola, ao prestigiarem a roda de samba, e tendo contato direto com os ritmistas do grupo e a obra apresentada, acabam tendo interesse em aprender a tocar também, e logo procuram o mestre Cachorrão, ou outra pessoa da administração da escola para fazerem sua inscrição. Ou seja, primeiro tiveram algum tipo de contato com os instrumentos, e isso despertou o interesse artístico neles. Grandes partes dessas pessoas se interessam por vários instrumentos, por isso, o mestre de bateria, deixa os novos alunos terem contato com todos os instrumentos que tiverem interesse, e depois de acordo com a aptidão de cada aluno, vai direcionando as aulas, mas jamais impõe ao aluno um instrumento, pois se o novo ritmista ficar com um instrumento que não goste, ou, que tenha dificuldade em tocar, logo ele abandona as aulas, e é justamente isso que o Carnavalesco e o mestre querem evitar. 4.1.1 Pesquisa do enredo de 2005 O enredo da escola no ano de (2005) era sobre o Estado do Mato Grosso, e cada ala representava a fauna a flora e dados históricos do estado, assim como os carros alegóricos. Eduardo Caetano fez uma pesquisa muito detalhada, e se preocupou em levar dados concretos e educativos para a avenida. Segundo ele, pelo fato de também ser professor de artes, e ter contato diário com alunos de várias classes sociais, entende a dificuldade de alguns alunos com a história em geral, pois eles não conseguem assimilar os dados históricos, muitos deles alegam que a matéria de história é difícil por ter muitas datas ou acontecimentos para serem “decorados”. Porém Eduardo Caetano não pensa assim, como carnavalesco e antes de tudo professor de artes, ele acredita, que um enredo detalhado, com boa pesquisa e
  • 24. 23 rico em detalhes, depois de desenvolvido prenderá a atenção dessas crianças e adolescentes, e através da arte, fará com e esses jovens entendam o que ocorreu e ainda ocorre na história, nesse caso, do Estado do Mato Grosso. Eduardo acredita que muitos jovens conseguem entender os fatos históricos antes de tudo através de imagens. Ele diz que é por isso que procura sempre apresentar um enredo de fácil leitura, para ele além dos jurados, o importante é que o público em geral consiga entender o que ele quer passar e informar, com os protótipos das fantasias apresentados para a comunidade, já consegue sentir se através da imagem, a comunidade conseguiu ou não entender o enredo, se a leitura do mesmo foi fácil e didática e se foi correta a leitura, se as pessoas presentes tiveram dificuldade de entendimento ou não, se tiveram dificuldade, ele sempre quer saber que dificuldade foi essa, pois a leitura por imagem e seu entendimento depende do meio em que vive o individuo. Ainda segundo Piaget (1998, p.94), “as crianças consideram seus conhecimentos e seus julgamentos históricos relativos ao grupo social ao qual pertencem, ou seja, sujeitos à contestação e à revisão da parte dos outros, ou comuns a todos os homens, e, portanto absolutos.” Partindo desse pensamento, para elaborar o enredo da Mancha Verde sobre o estado do Mato Grosso, o carnavalesco Eduardo Caetano procurou começar contar a história do estado desde a era glacial, onde tudo começou, passando pelos dinossauros que habitaram a região milhões de anos atrás4, até chegar aos transgênicos. Segundo ele, além de ser um enredo completo, foi pensado também na necessidade de passar parte da história do estado através da arte e de uma forma didática, para conseguir atrair a atenção dos jovens, e aumentar o interesse dos mesmos para o enredo da escola. E deu certo, conforme os trabalhos do barracão foram sendo iniciados, muitas pessoas da agremiação vieram tirar dúvidas sobre o enredo, e sobre a concepção do mesmo, fazendo com que debates fossem abertos e as dúvidas fossem esclarecidas, pois o carnavalesco acredita que cada componente da escola tem que saber o porque de sua fantasia e o que ela representa dentro do enredo. Segundo o carnavalesco, antes de fazer com que os jurados entendam o seu trabalho, ele tem que fazer com que a comunidade entenda o mesmo e sintam alegria em estar fazendo parte desse trabalho, e foi isso o que ele fez nos anos em que foi carnavalesco da agremiação. 4 Fonte de pesquisa, site, PT.wikipedia.org/wiki/Dinossauros_no_Brasil. Acesso em: 16 ago. 2011.
  • 25. 24 Conforme os trabalhos do barracão foram tomando corpo, a comunidade foi entendendo melhor o enredo e conhecendo mais detalhes sobre a fauna e a flora da região, e o interessante é que muitas dessas pessoas acabaram aprendendo coisas sobre o estado que nem mesmo nas aulas de história ou de geografia das escolas onde estudavam tinham aprendido, e isso foi muito gratificante para todos. E também foi pensado na valorização do negro dentro do estado e na cultura nacional, no enredo falou-se do negro que faz parte da história do estado, apresentando seu lado forte e guerreiro, falou-se do negro que fez valer sua cultura, o carnavalesco diz que é muito importante passar as guerras e lutas vencidas pelo povo negro, pois negro não foi somente escravo e fraco, negro deixou muita cultura e sabedoria para todos nós, e isso tem que ser valorizado. Perguntamos quem já havia ouvido falar de Teresa de Benguela, e por incrível que possa parecer, a maioria das pessoas não conheciam, mesmo as que ainda estudavam, passamos a história, pois fez parte do enredo, e dessa forma mais uma vez, educamos e informamos através da arte. “Teresa de Benguela viveu no século XVIII, Foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho ou Quariterê, no rio Guaporé, em Mato Grosso. Quando seu marido faleceu, assumiu a chefia do quilombo. Revelou-se uma líder ainda mais implacável e obstinada que o falecido. Valente e guerreira, comandou uma comunidade de três mil pessoas, crescendo de tal forma que chegou a agregar índios bolivianos e brasileiros, fato que incomodou a Coroa, uma vez que influenciava a luta dos bolivianos e americanos (ingleses e espanhóis) para a passagem de mercadorias e internacionalização da Amazônia. A Coroa agiu rápido e enviou uma 5 bandeira para acabar com os quilombolas. Presa, Teresa suicidou-se.” Por outro lado, é sempre bom mostrarmos para os negros da escola que temos que ter autoestima, que temos valor, que podemos buscar nossos sonhos, nossa cor de pele não nos fazem melhor nem pior, nossa cultura e nossos antepassados nos fazem iguais a qualquer raça. Preocupou-se também com os índios, que até hoje enriquecem a cultura e o artesanato do estado, e que merecem nosso respeito. Abaixo letra do samba de enredo do Carnaval 2005, essa letra foi baseada na sinopse do enredo da escola, desenvolvido por Eduardo Caetano. 5 Citação retirada do site: http://capoeira.wikia.com/wiki/Capoeira_mulheres. Acesso em: 16 ago. 2011.
  • 26. 25 MANCHA em poesia Na história foi buscar um carnaval pra te emocionar Mato Grosso terra cheia de encantos De metamorfose radical Admirar, sua formação sua grandeza Relicário de beleza, no coração do meu Brasil Na chalana naveguei, pelo mar de Xarayés O meu sonho conquistei, encontrei o meu amor Onde o verde é a esperança e o branco é a paz O meu samba é a MANCHA que o tempo não desfaz Iê eis o bailar das borboletas Iê a passarada a revoar Flora traz a melodia Vitória-Régia és o meu cantar Cerrado, que viu nascer a febre do ouro Em Vila Bela este imenso tesouro Virou cobiça e ambição No Guaporé negro lutou, contra o terror Quanta bravura, hoje faz valer sua cultura Alto-Xingú, o índio gigante guerreiro O Araguaia e o povo místico, verdadeiro brasileiro Cenário de grande ascensão Deus abençoe este grão, tens o futuro a conquistar O mundo, sagrada raiz Mato Grosso meu estado, meu país Vai passar a mais querida MANCHA VERDE na avenida De "chapa e cruz" mato-grossense eu sou Que esplendor
  • 27. 26 4.1.2 Enredo 2008 – Ariano Suassuna O enredo da escola nesse ano de 2008 era sobre a obra do escritor, poeta e dramaturgo Ariano Suassuna, além da cultura do nordeste que é tão bem retratada em sua obra. Cada ala da escola representava partes de sua obra, o por esse motivo, ao apresentar os protótipos das fantasias de cada ala, o carnavalesco explicava o significado das fantasias e o motivo da ordem do desfile. Figura 04: Ariano Suassuna em carro alegórico – Mancha Verde/2008. Fonte: Arquivo Pessoal Para preparar o enredo e a sinopse, o carnavalesco foi até Pernambuco entrevistar o homenageado, e com isso saber mais detalhes sobre sua vida e sua obra. O carnavalesco Eduardo Caetano procura ir a fundo a suas pesquisas, por esse motivo conta com a ajuda de dois amigos, um é professor de literatura e outra é professor de história. Diz que sabe qual é a sua responsabilidade ao passar uma informação, e preparar um enredo tão rico. Depois de fazerem todas as devidas pesquisas e deixarem a sinopse pronta, começa o trabalho de preparo no barracão.
  • 28. 27 Figura 05: Preparativos para o desfile – Dragões/2011. Fonte: Arquivo Pessoal O foco inicial do carnavalesco no barracão é explicar a todos o enredo, qual sua origem, quem é o homenageado e o significado de cada fantasia e cada alegoria. Eduardo disse que se ele tem uma equipe bem informada o trabalho rende muito mais, e o que é mais importante, sua equipe pode ajudar nas idéias de decoração das alegorias e até mesmo na confecção das fantasias. Se a equipe sabe exatamente a história que será contada os erros diminuem e isso evita o atraso dos trabalhos. O carnavalesco diz que Ariano Suassuna é um defensor da cultura do nordeste, e que essa cultura é muito rica, e embora em São Paulo tenhamos muitos nordestinos, muitos deles desconhecem quem é Ariano Suassuna, e não sabem nada de sua obra, com esse enredo, ele diz que conseguirá mostrar a eles e aos demais integrantes da escola que também não conheciam o homenageado, a importância da sua obra.
  • 29. 28 Figura 06: Carro Mancha Verde 2008 – Alma de Palhaço – O carro mais comentado do ano. Fonte: Arquivo Pessoal. O carnavalesco pode usar também muita teatralidade, que por sinal o deixou muito feliz, pois segundo ele, as artes plásticas e o teatro unidos no desenvolvimento de um enredo enriquecem muito o visual e a apresentação do mesmo, fazendo com que a leitura tanto para o público quanto para os jurados seja mais clara. Vendo pelo lado pedagógico, muitas pessoas possuem facilidade na leitura visual, acabam entendendo melhor a história na avenida do que na sinopse começando pela comissão de frente, que representava o Auto da Compadecida, e que vinha interagindo com o carro abre-alas da escola. 4.2 Escola de Samba Dragões da Real – Enredo: A FELICIDADE SE CONTA EM CONTOS. Carnaval – 2011. Esse enredo escolhido pelo carnavalesco fala de contos infantis, mais propriamente dos contos dos irmãos Grimm, ele partiu para esse tipo de enredo, pois queria uma escola mais leve, e também um enredo que fosse de fácil leitura, segundo ele, quem não gosta de contos infantis?
  • 30. 29 Figura 07: Carro Alegórico – A Floresta Proibida e a Bruxa – Dragões/2011. Fonte: Arquivo Pessoal Além disso, escolheu esses contos, pois eles possuem um lado muito educativo, no final de cada história podemos discutir com nossos alunos a lição que podemos tirar do que esta escrito e levarmos para o nosso dia a dia, podemos fazer um debate e uma reflexão indo para a época em que os contos foram escritos, e voltando para os dias atuais, fazendo as comparações das obras com nossa realidade. E qual adulto que não gosta de um conto de fadas, quem não se lembra de um conto que escutou quando criança? Eduardo diz que não é um enredo infantil, é um enredo que trás de volta a criança que existe dentro de cada um de nós, trata-se de um enredo que nos leva há outros tempos. No inicio da pesquisa ele se preocupou mais em detalhar quando os contos infantis começaram a serem divulgados e escritos. Segundo ele, em meados do século XVII e inicio do século XVIII, com a queda do sistema feudal e o nascimento da família burguesa, a infância passa a ser valorizada. O francês Charles Perrault e, posteriormente, os alemães Jacob e Wilhelm Grimm e o dinamarquês Andersen publicaram consagradas obras literárias infantis, as quais
  • 31. 30 criaram a partir da coleta de histórias veiculadas pela tradição oral. Esses autores, através de seus contos, abrangiam além de intentos moralizantes, abordando os costumes, a moda da elite da época, o encantamento, a magia e, quase sempre, um final feliz. Os irmãos Grimm têm suas histórias traduzidas em diversas línguas, que são apreciadas pelo mundo como obras primas da literatura infantil. Seus contos aliam deslumbramento e ambientes mágicos a temas populares. Figura 08: Carro Alegórico – João e Maria e a Casa de Doces – Dragões/2011 Fonte: Arquivo Pessoal Sabemos que a obra infanto-juvenil deve propor temas interessantes que prendam a atenção do leitor, sem uma linguagem complicada ou demasiada simplificada, que subestime sua capacidade de interpretação ou seu entendimento. A elaboração do enredo, fantasias e alegorias, também partiram desse principio, para o carnavalesco o desfile em si tinha que ser didático, e também deveria aguçar a imaginação de todos os componentes da escola e do público que estivesse assistindo ao desfile. Pensando como educador, o carnavalesco diz que não podemos nos esquecer que a importância da literatura infanto-juvenil é inquestionável,
  • 32. 31 principalmente para crianças e jovens em idade escolar, pois desenvolve potencialidades mentais e espirituais, tanto na área da linguagem, quanto da escrita. Para ele esse tipo de literatura contribui de forma expressiva para a concepção integral do ser humano, visto que proporciona uma reorganização das percepções do mundo. A convivência com textos literários permite que as crianças e adolescentes sejam melhor capacitados para emancipar-se, desenvolvendo senso critico, assim, relacionando as obras lidas com a realidade vivenciada por eles próprios. O que faz com que esse leitor “de asas a sua imaginação”, tornando-se um personagem da história lida. Figura 09: Carro Alegórico – As Três Folhas da Serpente e O Músico de Bremen. Dragões/2011 Fonte: Arquivo Pessoal A meu ver, a importância do conto de fadas é muito grande, pois tudo o que vivemos nesse mundo é um reflexo do que se passa no mundo do Todo-Possível, ou seja, no mundo das potencialidades infinitas. Daí que nossos desejos e os nossos obstáculos nunca se apresentam sob uma forma real, sendo apenas projeções os nossos condicionamentos mentais. Encontrar o verdadeiro sentido daquilo que vivemos consiste em descobrir o seu lugar no seio da realidade total.
  • 33. 32 Figura 10: Carro Alegórico – O Lago Dos Inocentes e o Castelo De Cristal – Dragões/2011. Fonte: Arquivo Pessoal O enredo deu maior ênfase às obras: A gata borralheira, Os sete corvos, O pequeno polegar, João e Maria, Os músicos de Bremen, A bela adormecida, Branca de neve e os sete anões, O príncipe e o sapo, O flautista de Hamelim, e O chapeuzinho vermelho. Samba-enredo 2011 Vem ser criança, vem brincar No mundo da imaginação Viver a fantasia Voar com meu Dragão Era a Floresta Proibida Onde a bruxa ali vivia Fechando os portais da imensidão Terra de encantos com seus personagens Um mundo mágico de sedução Espelhos... ao refletir toda magia Os guardiões que proibiam
  • 34. 33 Os pensamentos a voar No País de faz de contas As três folhas da serpente Se faz presente... pro encanto se quebrar Tem sinfonia no ar... que vai te encantar São músicos felizes a tocar Num reino maravilhoso Que o gênio da garrafa irá mostrar Tudo era gigante para o pequeno polegar Flores falam e dançam para uma bela acordar Branca de neve com os sete anões a festejar A casa de doce pra João e Maria, saborear Me leva oh imaginação prá outro lugar Onde duendes, fadas, rainhas na passarela vão desfilar No lago dos inocentes surge um castelo de cristal Eu trago alegria e felicidade Sou Dragões da Real. Figura 11: Mestre-Sala e Porta-Bandeira – Encanto das Borboletas – Dragões/2011. Fonte: Arquivo Pessoal
  • 35. 34 4.3 Um Olhar Sobre o Processo Educativo no Barracão Doze equipes foram responsáveis pela execução do trabalho de barracão da escola para a elaboração do desfile de 2011: ferragem, carpintaria/marcenaria, escultura, laminação, costura, pintura, espuma, iluminação, mecânica, adereços, uma equipe de pesquisa de enredo, sendo que essa equipe é constituída de amigos do carnavalesco, entre eles, professor de história, e professor de literatura, pois para o carnavalesco a pesquisa do enredo tem que ser séria e rica em detalhes, e por último, uma equipe que é muito próxima ao carnavalesco, trata-se da equipe de criação e pesquisa de materiais alternativos, essa equipe será a responsável pela elaboração dos protótipos das fantasias e pesquisa de materiais alternativos para se conseguir novos efeitos e textura nas alegorias. É importante dizer que a equipe de serralheiros e escultores são de Parintins. Figura 12: Comissão de Frente – Fadas – Dragões/2011. Fonte: Arquivo Pessoal
  • 36. 35 Além das equipes especializadas, constituem o “corpo funcional” do barracão o pessoal da segurança, portaria, limpeza, e da cozinha. A administração está ligada a presidência e a diretoria da escola, muitos fundadores fazem parte dessa administração, trata-se de uma escola de samba nova, completou 11 anos de vida. A concepção do enredo e a coordenação da produção dos carros alegóricos no barracão cabem ao carnavalesco. Convém destacar que esse aspecto das atividades teve especial interesse por mim, na medida em que o andamento do trabalho no barracão se relaciona não apenas ao tipo de administração da escola, mas também ao estilo do carnavalesco. Ressaltando que estilo, nesse caso, referese tanto ao aspecto estético quanto à forma de gerenciamento do trabalho. Cada escola trabalha de um modo diferente, escola e carnavalesco no caso. Tem carnavalesco que prefere não dar o desenho para a equipe, e sim ir passando a idéia conforme o trabalho vai sendo executado, o funcionário tem que captar a ideia, e ir fazendo o seu trabalho. Já o carnavalesco Eduardo Caetano, faz questão de dar a planta baixa do carro alegórico, com vista lateral, vista frontal e arte final. Aí fica mais fácil para a equipe trabalhar, pois com o desenho e a explicação do mesmo, a equipe vai dando o andamento no trabalho mesmo sem a presença do carnavalesco. A contratação dos profissionais que trabalharam no barracão foi realizada pelo presidente da agremiação, com aval do carnavalesco, sendo que muitos profissionais foram indicados pelo próprio carnavalesco, pois trata-se de pessoas que já trabalharam com ele em outras agremiações. Outros profissionais foram formados na própria escola, na verdade, a maioria deles aprenderam a profissão no próprio ambiente de trabalho, e, para muito deles, ambiente de trabalho é sinônimo de barracão. O índice de escolaridade verificado não é muito alto, pode-se dizer que a maioria dos funcionários não possuem o ensino médio completo, mas para esses, a aprendizagem que se desenvolve no local de trabalho é o elemento preponderante para a sua formação profissional. A ideia de uma formação que se dá ao longo do tempo no ambiente de trabalho é tão arraigada que mesmo aqueles trabalhadores que tiveram acesso à formação escolar e/ou profissional ressaltam a sua importância. Perguntei sobre onde aprenderam a sua profissão, esses trabalhadores, invariavelmente, responderam “na escola e no barracão”, revelando a sua consciência em relação a
  • 37. 36 importância da articulação entre os conhecimentos adquiridos na escola e no local de trabalho. A experiência conta muito, e a ideia de uma aprendizagem que se faz continuamente na pratica é dominante, para mim, no barracão há sempre a possibilidade de aprender coisas novas. A forma de ingresso mais comum no barracão é por meio do convite de amigos e familiares, ou ainda, através dos mutirões que a escola organiza para adiantar os trabalhos, isso tudo organizado pelo carnavalesco, a diretoria da escola e sua equipe. Boa parte do pessoal é muito jovem, e muitos deles tiveram a oportunidade de “progressão” a partir da aprendizagem no trabalho. Laryssa, diretora da escola, afirma: “Eu comecei confeccionando fantasias, depois fui para a bateria, ala das baianas, harmonia e diretora de destaques, hoje além de tudo isso, cuido dos projetos sociais, enfim, onde precisar eu estarei, pois faço tudo por amor a escola”. Além da formação específica, dois aspectos se destacaram no que se refere a aprendizagem que se efetiva no barracão: a amplitude do universo de trabalho e as relações humanas que ali se estabelecem. As inúmeras possibilidades abertas pelo barracão em função da diversidade de atividades que ele comporta dentro de um mesmo espaço físico foram levantadas por vários integrantes da escola. As palavras do carnavalesco Eduardo Caetano, ilustram essa situação privilegiada de aprendizagem propiciada pelo ambiente de trabalho. “No barracão, mesmo sendo da escultura, ou da costura, um aprende o oficio do outro, pode ser da carpintaria, que aprenderá tudo sobre ferragem. Porque o barracão é como se fosse uma família só. Quando um precisa do outro, encontra ajuda, se esse outro não souber, aprenderá a função do amigo, e assim faço com que todos vão aprendendo”. O bom relacionamento pessoal também me chamou muito a atenção. Acredito que a primeira coisa que se aprende, assim de cara, em um barracão é se relacionar com as pessoas, é conviver com as pessoas e com costumes diferentes, porque você vê todo tipo de gente lá dentro. Então o meu grande aprendizado lá dentro foi o aprendizado da vida, o aprendizado da convivência e da tolerância. O coleguismo e o companheirismo nos leva a facilitar o trabalho do outro. Na análise do processo de aprendizagem no barracão, o carnavalesco emerge como mestre, e conta com a ajuda dos chefes de equipe. Os serralheiros e os escultores são de Parintins, e nesse caso ao serem contratados cada chefe trás
  • 38. 37 sua própria equipe, sendo também o responsável pelo treinamento dos mesmos, porém a supervisão de todo esse trabalho é feito constantemente pelo carnavalesco, porque as formas como eles organizam o trabalho em suas equipes podem favorecer ou não o processo de ensino-aprendizagem. Segundo o carnavalesco, nas demais funções do barracão, grande parte da equipe aprendem a trabalhar através da observação, ou seja, eles possuem um aderecista muito experiente, e os seus ajudantes fazendo a observação do seu trabalho vão aprendendo também. Vejo que isso é feito, por dois fatores, um deles é a falta de mão de obra e vivência na área, fazendo com que a escola prepare seus profissionais, o outro fator é financeiro, falta dinheiro para trazer mão de obra especializada de fora. Figura 13: Comissão de Frente – Magos – Dragões/2011. Fonte: Arquivo Pessoal Para o carnavalesco, essa também é uma oportunidade para esses jovens aprenderem uma profissão, saírem das ruas, e também irem se acostumando com o ambiente profissional, suas normas e suas regras. É evidente que nem todos os jovens se dedicam totalmente, mas a oportunidade é dada a todos. Com o passar
  • 39. 38 dos dias, o carnavalesco vai analisando como esses jovens estão se saindo, por exemplo, ele verifica se o jovem que foi aprender carpintaria está se saindo bem, se essa é realmente a habilidade dele, e principalmente se esse jovem está gostando desse tipo de oficio, pois para ele, esse é um dos principais caminhos para que esse jovem não desista do que está aprendendo e fora isso, se o aluno gostar do que faz, ele aprenderá com maior facilidade. Se na sua observação, identificar algum aprendiz insatisfeito em uma determinada área, ele faz a mudança sem problemas, o que vale é sempre a habilidade do aprendiz. A formação proporcionada pela escola é considerada importante para a aprendizagem do conteúdo do trabalho. Convém destacar que, com poucas exceções, a parcela dos entrevistados que considera essa formação relevante é exatamente aquela que apresenta os maiores níveis de escolaridade. A disciplina que foi citada com maior frequência, dentre aquelas que apresentam afinidade com o trabalho desenvolvido, foi a matemática. Pois no barracão, ler plantas, “ver” medidas, conhecer escala, e saber porcentagens tem muita importância. História e Geografia também são importantes para o entendimento do enredo, e o enredo por sua vez, ajuda os integrantes do barracão entenderem mais de história e geografia. Sobre o assunto, Eduardo Caetano destaca que, “os jovens que vem trabalhar, através do enredo aprende história e geografia, através de materiais de geometria como a régua, fazendo contas para esquadrinhar um desenho para ampliar, ou fazendo uma conta para dar o número certo de espelhinhos, eles sem saber estão aprendendo mais de matemática.” O trabalho geralmente é passado do carnavalesco para o chefe de equipe, e esse distribui as tarefas para os demais componentes do barracão, a tarefa tem a supervisão final do carnavalesco e até mesmo do presidente da escola. O carnavalesco passa as informações de um forma clara e didática, tirando todas as dúvidas que forem surgindo no decorrer das reuniões ou dos trabalhos no barracão. O conhecimento do processo de trabalho revelou-se como um conhecimento comum. Todos foram capazes de descrever com detalhes as etapas do trabalho que é desenvolvido no barracão. Etapas que não são compreendidas por eles como momentos isolados, mas que, pelo contrário, são sempre associadas à ideia de uma “engrenagem.”
  • 40. 39 Mas, apesar do profundo conhecimento que têm do processo de trabalho, há uma etapa que não está ao seu alcance: a concepção do enredo que está sendo executado. Em decorrência, desconhecem também o plano de trabalho que organiza as suas atividades. È evidente que os chefes de equipe ao serem contratados, ficam sabendo qual é o plano do carnavalesco, mas isso dá a eles apenas uma noção geral do trabalho, com o passar do tempo, e já com os trabalhos no barracão, é que o carnavalesco vai dando maiores detalhes, vai passando as mudanças que forem necessárias fazer, vai explicando o enredo e a importância desse enredo. Embora o enredo seja sobre contos infantis, muitos integrantes da escola e do barracão desconheciam várias histórias que seriam contadas, por esse motivo, houve a preocupação do carnavalesco em explicar o enredo e cada história que seria contada, ele acredita que não basta dar um desenho e mandar a equipe fazer a alegoria e a fantasia, o que importa acima de tudo é que ele saiba o que está fazendo, o significado de cada coisa dentro do enredo, não adianta simplesmente mandar fazer uma cobra, quem está trabalhando na alegoria tem que saber em qual parte do enredo essa cobra entra, qual é a história, o significado, assim tudo é feito com mais detalhes, e o funcionário tendo conhecimento do motivo daquela cobra estar sendo feita, poderá até dar ideias, para melhorarmos o trabalho. Para o carnavalesco, após o início dos trabalhos de barracão, o conhecimento do enredo não pode mais ficar restrito somente a ele. Perguntei sobre a importância de que esse conhecimento seja estendido a todos os trabalhadores, e eles se dividiram. Alguns afirmam não haver nenhuma necessidade de conhecer o enredo para o desenvolvimento do seu trabalho. Outros afirmam que, embora não haja necessidade, o conhecimento do enredo possibilita um maior envolvimento com o trabalho. E há ainda uma outra parcela que entende que o conhecimento sobre a concepção artística do enredo lhes permite maior controle e participação no processo de trabalho, bem como um melhor desempenho profissional. Expressões como “é melhor porque eu sei o que vou estar fazendo”, porque “eu vou ter mais chance de pesquisar” ou ainda porque “aí a gente pode dar ideia para o carnavalesco” revelam esse sentido. Para finalizar, gostaria de apontar um aspecto que atraiu a minha atenção durante o período em que estive acompanhando o carnavalesco e o trabalho do barracão: o tipo de vínculo que esses trabalhadores estabelecem com o trabalho e
  • 41. 40 com seus colegas de barracão. Acredito que isso merece destaque pela importância que assumem no processo de ensino-aprendizagem na medida em que contribuem para a criação de um ambiente favorável para o desenvolvimento do mesmo. Observei um grande envolvimento dos trabalhadores com sua atividade, que pode ser medido pela participação intensa do grupo na busca de soluções para os desafios que surgem no desenvolvimento do trabalho, e isso se estende a toda a diretoria da agremiação, eles são unidos e se respeitam, e passam isso a todas as pessoas do barracão. Esse envolvimento pode ser explicado não apenas pelo fato de que a esmagadora maioria gosta de carnaval, tendo grande satisfação de deixar sua marca no produto final do trabalho, mas principalmente pelo fato de eles gostarem do trabalho que realizam. Laryssa, ao contar como começou a trabalhar no barracão, explicita a sua paixão: “só não participei do primeiro carnaval, acho que fazem algo perto de dez anos, já transitei por diferentes departamentos, no início, fazíamos tudo até mesmo confeccionar fantasias, já desfilei de destaque, componente de ala, bateria, harmonia, baiana e etc...; Posso dizer que já passei por todos os setores, não só como alguém da organização da escola, mas como membro, o amor pela escola é maior do que qualquer cargo, onde a Dragões precisar, estarei lá! Eduardo Caetano também fala da sua ligação com o trabalho de uma maneira muito expressiva: “minha paixão pelo que faço é meter a mão no trabalho mesmo, eu não sei ficar somente dando ordem, eu gosto de dar o exemplo e fazer também.” Não posso deixar de falar dos projetos sociais que a escola de samba realiza todos os anos, não é um projeto direcionado aos funcionários do barracão, mas sim, para as pessoas da comunidade, sendo em sua maioria, crianças e adolescentes carentes, em relação a isso, a diretora Laryssa, falou: “em dezembro de 2003 realizamos o primeiro Natal solidário da escola, esse Natal eu sempre fiz a anos em abrigos e hospitais, com a escola achei que poderia atingir um número maior de crianças carentes, e fizemos para 500 crianças, desde então organizo e realizo essa festa, acho importante não só a festa mas resgatar a possibilidade dessas crianças sonharem e desejarem algo melhor para elas, oferecer mesmo que em um dia a possibilidade de se sentirem queridas, respeitadas e importantes, além desse projeto levo as crianças do abrigo da qual sou voluntária para desfilar, para eles participarem dessa grande festa e da nossa grande família Dragões da Real. Esse
  • 42. 41 foi o primeiro ano que tivemos de fato um espaço físico, com a construção da quadra, antes nos impedia de ir a diante com projetos sociais, temos em vista parcerias com instituições do bairro para ampliar nossos projetos e atender mais crianças carentes com aulas de música, dança e artes”. O que mais chamou a minha atenção, foi o fato de ter sempre uma coisa diferente para se fazer. Não é coisa igual. Um boneco é diferente do outro, uma peça é diferente da outra, tudo tem um motivo, cada peça é parte da história que será contada, e todas elas tem sua importância, nenhuma delas tem uma importância maior ou menor, todas são iguais, pois no dia do desfile, é o detalhe que fará a diferença, e se uma dessas peças, por algum motivo for deixada de lado e o jurado ver, a escola perdera ponto. Figura 14: Destaques da Dragões – Mago, Chapeuzinho Vermelho e a Bruxa – Carnaval/2011. Fonte: Arquivo Pessoal Essa responsabilidade é passada para todos que trabalham no barracão, o carnavalesco explica isso a todos os colaboradores, pois segundo ele, todos devem
  • 43. 42 saber o que estão fazendo, o significado de cada passo e o seu lugar dentro do enredo. As alegorias são levadas ao Anhembi uma semana antes do desfile, os carros vão desmontados e uma equipe fica junto aos carros para fazerem a montagem dos mesmos, outra equipe fica no barracão para fazerem os acabamentos finais. A correria nesses dias é enorme, e lembro que os carros ficam expostos ao tempo, ou seja, se chove o trabalho de montagem e acabamento é extremamente prejudicado. Garra, coragem, amor e dedicação são as palavras mais importantes nesses dias, além da união, pois sem ela nada sai. Toda montagem é seguida de acordo com os desenhos feitos pelo carnavalesco, ele supervisiona tudo e nos ajuda no que for preciso. Figura 15: Carro Abre- Alas – A Floresta Proibida e a Bruxa. Fonte: Arquivo Pessoal
  • 44. 43 Evidente que nem tudo sai perfeitamente como se espera, e nesse momento mais uma vez entra a criatividade do carnavalesco, e seu exemplo de ação e dedicação. Um exemplo disso ocorreu no carnaval de 2011, um dia antes do desfile, o ateliê responsável pela confecção de doze fantasias do abre-alas da escola, devolveu o material e informou que não faria as fantasias por excesso de trabalho, houve um certo nervosismo na escola pois sem essas fantasias era certo que a escola entraria perdendo preciosos pontos. O carnavalesco manteve a calma, se reuniu com alguns diretores e começaram a confeccionar as fantasias no barracão, viraram a noite, e no final, tudo deu certo. Falando a respeito desse ocorrido com o carnavalesco ele informou que sempre está preparado para tudo, e que na medida do possível, prepara sua equipe também. Figura 16: Ala – Espelho Dos Invisíveis – Dragões/2011. Fonte: Arquivo Pessoal Outra coisa curiosa, e que é muito presente na escola, é o trabalho em equipe e o amor por tudo o que fazem, amor verdadeiro e puro pelo samba e pela arte. Penso que muitas empresas que vivem fazendo campanhas motivacionais para seus funcionários, muitos deles com super salários e que se dizem desmotivados, deveriam ficar ao menos uma semana no barracão da escola de samba para verem
  • 45. 44 como funciona. Digo isso, pois na escola de samba Dragões da Real, o presidente e toda a diretoria não possuem salário, todos eles exercem suas profissões e com isso se sustentam, a escola é dirigida pela paixão, assim como eles, a maioria dos integrantes do barracão fazem tudo pela arte, pois também não possuem salário, ao contrário, muitos deixam seus familiares em casa nos dias de folga do trabalho e vão para o barracão prestarem serviços para a escola. Vejo que todos estão a busca de um mesmo objetivo, se unem para isso, acreditam na ideia do carnavalesco e transformam a arte em realidade, se auto motivam, e isso ocorre não pelo dinheiro, mas pela busca de um mesmo ideal, são forças que se unem por acreditarem verdadeiramente na mesma causa. Figura 17: Desfile das Campeãs – Carnaval/2011. Fonte: Arquivo Pessoal No dia do desfile, tudo deve estar em ordem, a correria é grande e não temos tempo a perder. As alegorias ficam na concentração, todas juntas, uma ao lado da outra. Mais ou menos duas horas antes do início do desfile, começamos a colocar os destaques nos carros, depois os semiestanques e por último a composição, nada
  • 46. 45 pode estar errado, todos possuem seu lugar determinado pelo carnavalesco, cada fantasia conta uma parte do enredo, se errarmos nessa hora, prejudicamos o trabalho de um ano inteiro. Outra coisa muito importante, é a união nesse momento, todos devem estar focados no objetivo e no enredo, conforme as alas estiverem entrando na avenida, a harmonia vai colocando entre elas os carros alegóricos de acordo com o enredo, não pode perder tempo, se algo der errado pode fazer um buraco entre as alas e a escola perde ponto em evolução. Figura 18: Ala das Baianas – Bruxas – Dragões/2011. Fonte: Arquivo Pessoal Garanto que colocar em média 2.500 componentes na avenida, sendo que 90% deles pagam por suas fantasias, separar todos por alas, passar as regras do desfile para eles, pois mesmo pagando pela sua fantasia, o componente não pode colocar nada a mais nela, não pode trocar as botas ou as sapatilhas, não deve tirar acessórios ou o chapéu da fantasia na avenida, fazer com que todos entendam o que é a evolução, e fazer esses componentes cantarem o samba da escola para segurar a harmonia e o canto, não é fácil, mas é mágico, e muito gratificante.
  • 47. 46 Figura 17: Diretoria da Escola – Comemoração do Título de Campeã/2011. Fonte: Arquivo Pessoal A Quarta-Feira de cinzas certamente é um dia de descanso para todos, mas já começam a sentir saudade, pois o barracão é entendido pela maioria do grupo como o espaço de um exercício profissional e de aprendizagem que lhes confere identidade e respeito na sociedade.
  • 48. 47 5 CONCLUSÃO Ao longo desse estudo procurei discutir a educação de modo a construir uma forma de aprendizado que valorize as experiências, o cotidiano do aluno. No entanto, é importante ter em mente as necessidades que a nossa sociedade possui e as experiências que tomamos como base ao pensar no aprendizado para não repetirmos os moldes educacionais tradicionais. Nesse sentido, vale ressaltar a valorização do cotidiano das classes populares, que muitas vezes é tido como algo que não deve ser tomado como exemplo, ou que deve ser modificado, numa supervalorização do cotidiano de uma elite, ou mesmo de uma classe média em detrimento da experiência vivida pelas classes populares, classe que mais precisa dessa atenção, bem como de valorização. Desse modo, uma alfabetização comprometida com o sucesso das crianças e jovens das classes populares, buscando a apropriação da linguagem como instrumento de crítica e afirmação social, sendo assim o resgate do sentido e a recuperação da autoria. É preciso, portanto, que o educador saiba e valorize as múltiplas formas de conhecimentos existentes no mundo que nem sempre estão presentes na escola, os saberes cotidianos socialmente construídos dos educandos, suas experiências, enfim, a realidade na qual estão inseridos. É necessário ainda que não haja hierarquização ou negação dos saberes dando maior importância a uns e inferiorizando outros, devendo haver a busca de um diálogo entre esses saberes, o rompimento entre as barreiras de modo a atribuir sentido à aprendizagem que se constrói individual e socialmente na interação humana. Como afirma Paulo Freire (2004), o ser humano é cultural, histórico, inacabado e consciente de seu inacabamento, capaz de intervir no mundo, assim sendo, o educador não é a única fonte de conhecimento e sua forma de interagir com o educando determina na construção do sucesso ou do fracasso escolar. A partir disso, vejo que o professor e artista Eduardo Caetano, tem um papel dialógico na ação pedagógica confrontando conhecimentos no sentido de ampliar o saber sendo o articulador, mediando á aprendizagem, bem como a escola pode ser
  • 49. 48 um espaço em potencial para troca e socialização de conhecimentos, de múltiplas relações que permitem a criação de novos conhecimentos, de circularidade de saberes, uma escola emancipatória e multicultural que reconheça e respeite os saberes prévios do educando, não devendo, no entanto ser descartados outros espaços visto que, o processo de aprendizado pode se dar nos mais diversos lugares, como foi possível verificar nesse estudo. Um último aspecto que levantei nestas conclusões diz respeito à aprendizagem do conteúdo do trabalho no barracão e às suas relações com a escolaridade dos trabalhadores. Sobre esse tema entendo que um dos aspectos fundamentais ao se pensar as relações entre trabalho e educação é o fato de que, mesmo considerando a enorme expansão escolar demandada pela revolução industrial, que tornou a escola o espaço predominante de educação, o trabalho continua a ser um importante ambiente de aprendizagem. Pois a formação que se realiza no trabalho de barracão assume grande relevância em função dos baixos índices de escolaridade de alguns integrantes da equipe. Grande parte dos integrantes do barracão integra um grupo social que, excluído da escola regular, tem na escola de samba seu maior espaço de formação. É importante ressaltar ainda que o presente estudo não visou esgotar o tema, pretendo servir de base para estudos futuros e complementares, visto que há uma escassez de estudos que abordem essa temática, o que ao mesmo tempo que em alguns momentos serviu de obstáculo no avanço deste, fez com que a motivação fosse maior, visando explorar essa questão e trazer para o âmbito acadêmico esse debate tão importante para um melhor aproveitamento do ensino, principalmente nas camadas mais carentes da nossa sociedade.
  • 50. 49 REFERÊNCIAS ALVES, Nilda, GARCIA, Regina Leite (orgs.) O Sentido da Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. ARAÚJO, Hiram. Carnaval – Seis Mil Anos de História, São Paulo: GRYPHUS, 2000. Disponível em http://liesa.globo.com/ Acesso em: 16 ago. 2011. BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, tradução de Yara Frateschi Vieira. São Paulo. HUCITEC, Brasília: Editora da Universidade e Brasília, 1993. BARBOSA, Ana Mae. Ensino da Arte, Memória e História. São Paulo: Perspectiva, 2008. CABRAL, Muniz Sodré Araújo. Reinventando a Cultura. Ed. Vozes, 1999. CECCON, Claudius et al. A vida da escola e a escola da vida. 15ª ed. Rio de Janeiro, Petrópolis: Ed. Vozes, 1999. CUNHA, Elenice Rêgo dos Santos (Org.), Padrão PUC Minas de Normalização: normas da ABNT para apresentação de trabalhos científicos, teses, dissertações e monografias. Belo Horizonte: PUC Minas, ago. 2010. FREIRE, Paulo. A importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 2003. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2005. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004. GARCIA, Regina Leite (org.). Alfabetização do Aluno das Classes Populares. 5ª Ed. São Paulo: Cortez, 2002. HALL, Stuart. A Centralidade da Cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Cultura, V.22, n2, jul-dez., p.17-46,1997.
  • 51. 50 LOBO, José Manuel. Lição de Coisas de Ensino da Educação da Secretaria da Educação para as Escolas Primárias. Rio de Janeiro: Governo Federal. 1941. SODRÉ, Muniz. Samba, O dono do corpo. 2ed. Rio de Janeiro: Mauad,1998. PIAGET, Jean. Sobre a Pedagogia, 1ª edição. São Paulo: Editora Casa do Psicólogo, 1998. RUSSO, Lilian. Um pouco da história e da origem do carnaval. Disponível em http://ilove.terra.com.br/lili/palavrasesentimentos/carnaval_mensagem.asp Acesso em: 16 ago. 2011. VEIGA-NETO, Alfredo. Cultura, Culturas e Educação. Revista Brasileira de Educação, n23, maio-ago. p.5-15, 2003. TRINDADE, A.L.; SANTOS, R (orgs.). Multiculturalismo: mil e uma faces da escola. Rio de Janeiro: DP&A, - 17-32,1999. VIGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998.