1. O espelho
Machado de Assis
Acadêmicos: Dâmaris Ellen Albrecht, Jéssica Carolina Viebrantz, Marcelo Cristiano Frank
2. A obra
Publicado em 1882, "Papéis Avulsos" é o primeiro livro de
Machado de Assis composto inteiramente de contos e
inaugura sua fase realista.
A obra está entre as primeiras publicações de sua fase
madura e já apresenta muitas das características que
imortalizaram o autor: o humor sutil, o pessimismo, o
ceticismo, a ironia fina e corrosiva e as denúncias
implacáveis que revelam os mais perversos segredos de
uma sociedade maculada pela máscara da hipocrisia.
3. A obra
O título da obra remete a uma casualidade embasada na
estrutura dos contos reunidos nela e deixa transparecer a
ironia típica de Machado: é possível estabelecer a ordem em
uma sociedade fundada em bases contraditórias e
violentas?
Apesar de o próprio autor advertir no prólogo que por mais
que as histórias contidas no livro tenham certa
independência entre si e neguem uma certa unidade, elas
se unem dentro de um mesmo molde e seus temas são
analógicos.
4. O conto
"O espelho" é um dos contos que integram a obra e trata de
questões da alma humana, da contradição entre parecer e
ser.
O conto narra a história de Jacobina, um homem de 45
anos e origem humilde que, após sua nomeação a um posto
militar, consegue subir na vida.
5. Em certa ocasião, num ambiente de discussão entre quatro
ou cinco amigos, Jacobina mantinha-se calado e parecia
não demonstrar interesse pelo assunto.
Quando um dos presentes lhe questiona sobre sua opinião,
Jacobina demonstra apatia e prefere abster-se da discussão
por considerar esse um exercício intelectual de natureza
animal do homem, embora polido em sociedade.
6. Diante da insistência de um dos presentes por um
posicionamento a respeito do assunto, Jacobina concorda
em discorrer sobre a alma humana com a condição de que
todos se mantivessem calados. Dominados pela
curiosidade, seus companheiros prontamente aceitam a
proposta e mantêm silêncio.
A intenção de Jacobina era defender sua teoria de que cada
pessoa possui não apenas uma, mas duas almas: uma que
se dirige do interior ao exterior e outra que realiza seu
curso no sentido contrário, ou seja, de fora para dentro.
Sem uma, a outra não existe.
7. Jacobina então conta um episódio ocorrido com ele em sua
juventude quando, aos 25 anos, fora nomeado Alferes da
Guarda Nacional. Tal posição lhe rendeu um certo
destaque diante da família, que passou a elogiá-lo e a se
orgulhar dele.
Um dia recebe um convite de sua tia Marcolina para que
fosse até o sítio onde ela morava para passar uns dias. Por
conta do mérito do sobrinho, ela lhe oferece um grande
espelho, proveniente da Família Real Portuguesa e melhor
mobília da casa.
8. O espelho é colocado no quarto destinado a Jacobina para
que toda vez que ele se olhasse de uniforme, lembrasse da
patente militar que ostentava em sua farda.
Oriundo de família humilde, todos reconheciam no novo
posto uma mudança significativa de status. Passara a ser o
"Sr. Alferes", nomeação que lhe conferiu uma nova imagem
de si e foi ganhando prevalência em relação às imagens
originárias.
9. Jacobina relata que tudo começou a mudar em sua vida a
partir de então. O sentido humano que o mundo exterior
lhe restituía foi se afastando. A valorização de sua pessoa
foi sendo substituída exclusivamente pela valorização do
cargo que assumira. O alferes havia eliminado o homem.
Posteriormente, tendo a tia saído em uma longa viagem às
pressas, aproveitando-se do momento oportuno os escravos
abandonam a casa. Jacobina vê-se acometido nas sombras
da solidão. Penosos dias de angústia se passam pela
repentina perda de sua alma exterior.
10. Em determinado momento o alferes decide fitar o espelho -
algo que já não fazia havia algum tempo - e se depara com
uma imagem difusa. O reflexo exibiu o quanto sua imagem
externa estava danificada em razão da ausência dos outros.
Decidido a ir embora antes que pudesse enlouquecer,
Jacobina decide então vestir sua farda e olhar-se
novamente no espelho. A imagem que vê agora é nítida e
com clareza de contornos, as formas são fortes e unificadas
como nunca.
11. A partir de então, a cada dia, a uma certa hora, vestia-se de
alferes e sentava-se diante do espelho. No fim de duas ou
três horas despia-se outra vez. E assim permaneceu,
durante mais seis dias, enfrentando a solidão.
De volta ao salão, Jacobina deixa seus companheiros na
mais profunda reflexão e vai-se embora. Provavelmente
para evitar possíveis discussões, já que as desprezava.