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    Propriedades magnéticas e biocompatíveis
        de nanocompósitos para utilização em
                        magneto-hipertermia
                               Biocompatible and magnetic properties of
                          nanocomposites for use in magnetohyperthermy
               Vinícius F. Castro1, Juliana Celestino1, Alvaro A. A. de Queiroz1 e Filiberto G. Garcia2
                                     1
                                      Instituto de Ciências Exatas do Departamento de Física e Química da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) –
                                                                                                                                   Itajubá (MG), Brasil
                                                      2
                                                        Instituto de Ciência Exatas do Departamento de Física e Química da UNIFEI – Itabira (MG), Brasil




Resumo
Neste trabalho, estudou-se as propriedades magnéticas e biocompatíveis de nanoesferas transportadoras de partículas magnéticas de Y3Fe5-xAlxO12 (YFeAl)
baseadas no polímero diglicidil éter do bisfenol-A (DGEBA). Partículas magnéticas de YFeAl monodispersas e com tamanho igual a 15 nm foram preparadas
através da decomposição térmica de complexos de ferro (III) na presença de oleilamina [6]. Nanoesferas contendo partículas policristalinas de Y3Fe5-xAlxO12
(0≤x≤2) foram preparadas utilizando a técnica de polimerização em dispersão utilizando o dietilenotriamina (DETA) como agente endurecedor. As nanoesferas
sintetizadas foram caracterizadas por difração de raios-X (XRD) e microscopia eletrônica de varredura (SEM). A temperatura Curie (TC) foi determinada a partir
das medições de susceptibilidade magnética no intervalo de 223-573 K. A microscopia eletrônica de varredura (MEV) indicou uma distribuição monomodal
de tamanho. No intervalo de composição 1.5≤x≤1.8, as nanoesferas exibiram Tc modulável no intervalo de interesse da hipertermia. A fim de avaliar a
possível influência das nanoesferas de DGEBA/YFeAl nas células de mamíferos, testes de citotoxicidade foram realizados. Foi observado que as nanoesferas
não afetaram a viabilidade das células ou a taxa de crescimento da cultura celular. Esses resultados sugerem que as nanopartículas de Y3Fe5-xAlxO12
encapsuladas pelo sistema DGEBA/DETA representam uma alternativa promissora no tratamento de tumores malignos através da magneto-hipertermia.
Palavras-chave: Magneto-hipertermia, DGEBA, nanoesferas, câncer.

Abstract
In this work the biocompatible and magnetic properties of Y3Fe5-xAlxO12 (YFeAl) nanospheres carriers based on diglycidyl ether of bisphenol A (DGEBA)
is presented. Monodisperse magnetic particles of YFeAl and 15 nm on size distribution of were prepared by thermal decomposition of complexes of iron
(III) in the presence of oleilamine. Nanospheres containing particles of polycrystalline Y3Fe5-xAlxO12 (0 ≤ x ≤ 2) were prepared using the dispersion
polymerization technique using Diethylenetriamine (DETA) as a hardener. The synthesized microspheres were characterized by X-ray diffraction (XRD) and
scanning electron microscopy (SEM). The Curie temperature (Tc) was determined from measurements of magnetic susceptibility in the range of 223-573
K. The scanning electron microscopy (SEM) indicated a monomodal distribution in size of the synthesized nanospheres. In the composition range of 1.5 ≤
x ≤ 1.8, the nanospheres exhibited Tc scalable in the range of magnetohyperthermy interests. To assess the possible influence of nanospheres of DGEBA
/ YFeAl in mammalian cells, cytotoxicity tests were performed. It was observed that the nanospheres did not affect the viability of cells or the growth rate
of cell culture. These results suggest that nanoparticles of Y3Fe5-xAlxO12 encapsulated by the system DGEBA/DETA represent a promising alternative for
the treatment of malignant tumors by magnetohyperthermia.
Keywords: Magnetohyperthermy, DGEBA, nanospheres, cancer.



Introdução                                                                           A evolução da medicina ao longo do último século
                                                                                  promoveu uma importante alteração neste prognóstico
O câncer representa atualmente uma das principais cau-                            desfavorável, permitindo que um grande percentual dos
sas da mortalidade entre os seres humanos, representan-                           portadores de câncer tenha atualmente a oportunidade da
do mais do que uma simples enfermidade. Apesar de todo                            cura ou significativo aumento de qualidade de vida como
o avanço alcançado na medicina clínica preventiva, o cân-                         uma realidade significativamente viável.
cer continua sendo uma ameaça oculta, de surgimento                                  A acentuada redução da mortalidade por câncer
inesperado e pronunciada.                                                         no presente século é conseqüência de vários fatores,
Correspondência: Vinícius Fortes de Castro – Rua Guilhermina Rennó da Silva, 51, São Vicente – CEP: 37502-024 – Itajubá (MG), Brasil –
E-mail: vfc_mg@yahoo.com.br


                                                                                                                             Associação Brasileira de Física Médica®    79
Castro VF, Celestino J, de Queiroz AAA e Garcia FG



     destacando-se o desenvolvimento de políticas de saúde          momento de saturação que permita minimizar as doses re-
     que visam à prevenção, avanço alcançado nos métodos            queridas. Neste contexto, cerâmicas com composição do
     de diagnóstico e métodos cirúrgicos e o desenvolvimento        tipo Ítria-Ferro-Alumínio (YFeAl) aparecem como um candi-
     de novos agentes quimioterápicos vetorizados.                  dato promissor, visto que possuem uma alta temperatura
         Atualmente são cinco as modalidades convencionais          de Curie (TC) e elevado momento de saturação5. Entretanto,
     empregadas no tratamento do câncer: cirurgia, quimio-          tais partículas possuem elevada citotoxicidade, sendo ne-
     terapia, radioterapia, hipertermia e imunoterapia1. Destas     cessário desenvolverem-se técnicas de encapsulamento
     cinco modalidades, nenhuma delas por si só, consegue a         que imputem às nanopartículas ferromagnéticas as proprie-
     erradicação total do tecido tumoral maligno.                   dades biocompatíveis necessárias para uma aplicação da
         A hipertermia pertence à lista dos tratamentos conven-     magneto-hipertermia de modo clinicamente seguro.
     cionais aceitos pela “American Cancer Society” e continua          Neste trabalho, propomos o desenvolvimento de me-
     sendo uma das mais poderosas modalidades terapêuti-            todologias para obtenção “in situ” de sistemas que utili-
     cas para melhorar a evolução dos pacientes com câncer2.        zam resinas epoxídicas e sistemas orgânicos arborescen-
     Também é um dos melhores coadjuvantes que aumenta a            tes para o encapsulamento de ferritas de YFeAl de baixa
     eficácia da radioterapia e da quimioterapia. Neste sentido,    dimensionalidade e toxicidade destes sistemas para o or-
     os experimentos clínicos de Fase III comprovam que quan-       ganismo biológico.
     do a hipertermia foi associada com a radioterapia, ela me-
     lhorou o controle local do melanoma de 28% para 46% em
     2 anos de acompanhamento; provocou aumento da remis-           Materiais e métodos
     são total do câncer recorrente de mama de 38% para 60%,
     aumentou o índice de remissão total do câncer avançado         Nanopartículas monodispersas de MFe2O4 (M=Y, Al) com
     cervical de 57% para 82% e no glioblastoma multiforme au-      tamanho igual a 15 nm (Figura 1) foram sintetizados atra-
     mentou a sobrevida de 2 anos de 15% para 31%3.                 vés da decomposição térmica de complexos de ferro (III)
         A hipertermia é um procedimento terapêutico empre-         na presença de oleilamina6.
     gado para proporcionar aumento de temperatura em uma                Nanoesferas contendo as partículas ferromagnéticas
     região do corpo que esteja afetada por uma neoplasia,          de YFeAl foram obtidas através da técnica de polimeriza-
     com o objetivo de causar a lise das células cancerosas.        ção em dispersão. As nanopartículas de YFeAl foram pre-
     Seu princípio de funcionamento se baseia no fato de que        viamente dispersas na solução do monômero epoxídico
     a temperatura de 41°C a 42°C tem o efeito de destruir          diglicidil éter de bisfenol A (DGEBA):poliglicerol (1:1). Após
     diretamente as células tumorais, uma vez que estas são         homogeneização a 800 rpm por 2 horas adicionou-se a
     menos resistentes a aumentos bruscos de temperatura do         dietilenotriamina (DETA) como agente de cura. O sistema
     que as células normais circunvizinhas.                         foi transferido para óleo mineral sob forte agitação (1200
         O aumento de temperatura requerido pela hipertermia        rpm) e o sistema aquecido até 130 ºC por 15 h. Ao término
     pode ser atingido, entre outros métodos, pelo uso de na-       da reação, as microesferas foram lavadas exaustivamente
     nopartículas magnéticas, processo este conhecido com o         com etanol, clorofórmio para a remoção de impurezas e
     nome de magneto-hipertermia ou magnetotermocitólise4.          secassob vácuo a 50 °C, por 72 horas.
     Quando submetidas à ação de um campo magnético ex-                  O aspecto morfológico das microesferas foi observa-
     terno de freqüência alternada, as nanopartículas magnéti-      do com o auxílio de microscópio eletrônico de varredura
     cas são aquecidas. O uso de nanopartículas magnéticas          (MEV, Phillips XL 30) e a análise de distribuição de tama-
     (monodomínios magnéticos) é preferível as micropartículas      nhos foi efetuada utilizando o software para aquisição e
     (multidomínios magnéticos) uma vez que nanopartículas          o tratamento computacional de imagens para análise da
     magnéticas respondem mais eficientemente a campos ex-          distribuição de tamanhos.
     ternos absorvendo destes mais energia.                              O ensaio da citotoxidade das nanoesferas híbridas
         De maneira geral, nanopartículas magnéticas têm re-        orgânicas-inorgânicas de YFeAl foi realizado utilizando-
     cebido atenção especial para a utilização no tratamen-         se células de ovário de hamster chinês, ATCC CHO k1
     to do câncer pela técnica hipertêmica por poderem ser          (American Type Culture Collection)7.
     guiadas ou localizadas em um alvo específico por cam-
     pos magnéticos externos. A possibilidade da vetorização
     de nanopartículas magnéticas através de gradientes de          Resultados e discussão
     campos magnéticos levou ao desenvolvimento de várias
     técnicas de encapsulamento de partículas magnéticas            O processo de encapsulamento das partículas magnéti-
     de forma que os sistemas obtidos se tornassem efetivos         cas obtidas neste trabalho é de fundamental importância
     carreadores de drogas com especificidade tumoral para a        para a obtenção de materiais implantáveis com proprieda-
     liberação controlada de agentes quimioterápicos.               des biocompatíveis. A importância de polímeros DGEBA
         Um pré-requisito importante para a utilização clínica da   curado por DETA como biomateriais se deve à sua inércia
     magneto-hipertermia é que as nanopartículas devem apre-        química e compatibilidade com o sangue, como demons-
     sentar baixos níveis de toxicidade, assim como um elevado      trado em nossas publicações mais recentes8.


80   Revista Brasileira de Física Médica.2010;4(1):79-82.
Propriedades magnéticas e biocompatíveis de nanocompósitos para utilização em magneto-hipertermia




                                                                      Figura 2. Curva de histerese à temperatura ambiente (25 ºC)
                                                                      dos nanopós de YFeAl.



                                                                                                         1000




Figura 1. Distribuição do tamanho de partículas e micrografias                                            800
do microscópio eletrônico de varredura (MEV) de partículas de
YFeAl (A) e microesferas do nanocompósito DGEBA/YFeAl (B).                      )
                                                                               -3
                                                                                Energia magnética (J.m

                                                                                                          600

    A Figura 1 ilustra as micrografias MEV das nanopartícu-
las de YFeAl e, as microesferas de DGEBA/YFeAl obtidas
neste trabalho. Com relação à distribuição de tamanho                                                     400

das partículas de YFeAl (Fig. 1A) observa-se um tamanho
médio em torno de 15 nm. Um dos fatores mais impor-
tantes na obtenção de nanopartículas para tratamento de                                                   200

hipertermia magnética é a distribuição dos tamanhos das
partículas. A síntese de nanoesferas ferromagnéticas nes-
te trabalho tem levado a uma distribuição de tamanhos                                                       0
                                                                                                                0   5   10      15     20     25      30
de partículas relativamente homogênea. A distribuição
                                                                                                                             Ferro (mol%)
homogênea quanto ao tamanho das partículas favorece
o processo de conversão da energia magnética em calor                 Figura 3. Energia Magnética (J.m3) versos concentração de
uma vez que os proporciona uma distribuição homogênea                 Ferro (mol%).
da temperatura dentro do tecido tumoral.
    As nanoesferas de DGEBA/YFeAl (Fig. 1B) apresentam                    O ensaio de citotoxicidade de biomateriais é efetuado
uma distribuição de tamanhos entre 30 e 60 nm. O diâ-                 conforme a ISO 10.993-part 5. A linhagem celular reco-
metro médio dos capilares sanguíneos do fígado situa-se               mendada é que seja uma linhagem celular estabelecida
entre 4 a 16 μm logo, o diâmetro das nanoesferas obtidas              de mamíferos obtida de um repositório reconhecido como
neste trabalho parece ser conveniente para o tratamento               o American Type Culture Collection (ATCC). É utilizada no
de tumores malignos presentes no fígado através da téc-               ensaio uma cultura de células de ovário de hamster chinês
nica de hipertermia.                                                  (ATCC CHO K1).
    As propriedades magnéticas das amostras exibiram                      Na Figura 5, são apresentadas as curvas de viabilidade
superparamagnetismo com valor de magnetização de sa-                  celular das nanoesferas magnéticas de YFeAl. As amos-
turação de -53,7 meu/g (Fig. 2).                                      tras apresentaram comportamento semelhante ao contro-
    Considerando-se a área sob a curva na Figura 2,                   le negativo, não tóxico, com IC50% maior que 50%.
calculou-se a energia magnética presente nas cerâmicas
ferromagnéticas quando estas foram submetidas a um
campo magnético. A Figura 3 mostra a energia de magne-                Conclusões
tização em função da concentração de ferro. Observa-se
uma forte dependência da energia magnética estocada                   Nanopartículas magnéticas de 15 nm foram encapsula-
em função da concentração de Ferro (mol %).                           das por DGEBA e curadas com DETA. Nanoesferas com


                                                                                                                        Revista Brasileira de Física Médica.2010;4(1):79-82.   81
Castro VF, Celestino J, de Queiroz AAA e Garcia FG




                      280                                                                                                   120
                                                                                                                                                                              N ão cito tóx ico

                      240                                                                                                             (A )
                                                                                                                            100




                                                                                     Succinate dehydrogenase activity (%)
                      200
                                                                                                                             80                                           P ou co cito tóx ico
                      160                                                                                                                           (C )
            TC (ºC)




                                                                                                                             60
                      120                                                                                                                                      M ode rad a m en te citotóx ico


                       80                                                                                                    40



                       40                                                                                                                                         E levad a citotoxicidad e
                                                                                                                             20

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                        0
                                                                                                                              0
                                                                                                                                  0                 1      2        3          4          5
                            0,0   0,5    1,0       1,5        2,0   2,5   3,0
                                                                                                                                                           T im e (W ee ks)
                                               A l (m ol% )


     Figura 4. Dependência da temperatura de transição de Curie                 Figura 5. Citotoxicidade das nanocapsulas magnéticas DGEBA/
     (TC) de cerâmicas YFeAl em função da composição de Al.                     YFeAl (C). Em (A) e (B) tem-se os controles positivos e negativos,
                                                                                respectivamente.


     distribuição de tamanhos entre 30-60 nm, transportado-                     Referências
     ras das partículas magnéticas YFeAl foram obtidas e ca-
     racterizadas quanto às suas propriedades magnéticas e                      1.            Modalities of Cancer Therapy. [homepage da internet] [citado 2009 Aug
     biocmpatíveis. A microscopia eletrônica de varredura indi-                               13]. Disponível em: http://www.merck.com/mmpe/sec11/ch149/ch149b.
     cou uma distribuição monomodal de tamanho e tempera-                                     html#CACFCFDG
                                                                                2.            Overgaard, J. The current and potential role of hyperthermia in radiotherapy.
     tura de transição de Curie dependente da composição da
                                                                                              Intern J Rad Onc Biol Phys 1989; 6: 535-49.
     cerâmica YFeAl. Ensaios biológicos indicam que o nano-
                                                                                3.            Vernon C. Hyperthermia in cancer growth regulation Phase III. Biotherapy
     compósito obtido não afetou o crescimento de células de
                                                                                              1992;4(4):307-15.
     mamíferos e ao mesmo tempo apresentou temperatura de                       4.            Tartaj P, Morales MP, Veintemillas-Verdaguer S, Gonzales-Carreño T,
     transição de Curie dependente da composição de Al na ce-                                 Serna JC. The preparation of magnetic nanoparticles for applications in
     râmica. Esses resultados sugerem que as nanopartículas                                   biomedicine. J Phys D: Appl Phys 2003;36:R182-R197.
     de Y3Fe5-xAlxO12 encapsuladas pelo sistema DGEBA/DETA                      5.            Sun S, Zeng H. Size-controlled synthesis of magnetite nanoparticles. J Am
     representam uma alternativa promissora no tratamento de                                  Chem Soc. 2002;124(28):8204-5.
     tumores malignos através da magneto-hipertermia.                           6.            Queiroz AAA, Passos ED, Silva MR, Higa OZ, Bressiani AHA, Bressiani JC.
                                                                                              Biocompatible superparamagnetic nanospheres for the cancer treatment.
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     Agradecimentos                                                             7.            International Organization for Standardization. “Biological evaluation of
                                                                                              medical devices tests for citotoxicity: in vitro methods”, ISO 10993-5
     Os autores expressam seus agradecimentos aos órgãos
                                                                                              (1999 E).
     de fomento à pesquisa Finep, CNPq, Capes e Fapemig                         8.            Garcia FG, Leyva ME, Queiroz AAA, Higa OZ. Epoxy networks for medicine
     pelo auxílio financeiro ao desenvolvimento deste projeto.                                applications: mechanical properties and in vitro biological properties. J Appl
     Também fica expresso nosso agradecimento à FUPAI                                         Polym Sci. 2009;112:1215-25.
     pelo auxílio fornecido para participação do XIV Congresso
     Brasileiro de Física Médica.




82   Revista Brasileira de Física Médica.2010;4(1):79-82.

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  • 1. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2010;4(1):79-82. Propriedades magnéticas e biocompatíveis de nanocompósitos para utilização em magneto-hipertermia Biocompatible and magnetic properties of nanocomposites for use in magnetohyperthermy Vinícius F. Castro1, Juliana Celestino1, Alvaro A. A. de Queiroz1 e Filiberto G. Garcia2 1 Instituto de Ciências Exatas do Departamento de Física e Química da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) – Itajubá (MG), Brasil 2 Instituto de Ciência Exatas do Departamento de Física e Química da UNIFEI – Itabira (MG), Brasil Resumo Neste trabalho, estudou-se as propriedades magnéticas e biocompatíveis de nanoesferas transportadoras de partículas magnéticas de Y3Fe5-xAlxO12 (YFeAl) baseadas no polímero diglicidil éter do bisfenol-A (DGEBA). Partículas magnéticas de YFeAl monodispersas e com tamanho igual a 15 nm foram preparadas através da decomposição térmica de complexos de ferro (III) na presença de oleilamina [6]. Nanoesferas contendo partículas policristalinas de Y3Fe5-xAlxO12 (0≤x≤2) foram preparadas utilizando a técnica de polimerização em dispersão utilizando o dietilenotriamina (DETA) como agente endurecedor. As nanoesferas sintetizadas foram caracterizadas por difração de raios-X (XRD) e microscopia eletrônica de varredura (SEM). A temperatura Curie (TC) foi determinada a partir das medições de susceptibilidade magnética no intervalo de 223-573 K. A microscopia eletrônica de varredura (MEV) indicou uma distribuição monomodal de tamanho. No intervalo de composição 1.5≤x≤1.8, as nanoesferas exibiram Tc modulável no intervalo de interesse da hipertermia. A fim de avaliar a possível influência das nanoesferas de DGEBA/YFeAl nas células de mamíferos, testes de citotoxicidade foram realizados. Foi observado que as nanoesferas não afetaram a viabilidade das células ou a taxa de crescimento da cultura celular. Esses resultados sugerem que as nanopartículas de Y3Fe5-xAlxO12 encapsuladas pelo sistema DGEBA/DETA representam uma alternativa promissora no tratamento de tumores malignos através da magneto-hipertermia. Palavras-chave: Magneto-hipertermia, DGEBA, nanoesferas, câncer. Abstract In this work the biocompatible and magnetic properties of Y3Fe5-xAlxO12 (YFeAl) nanospheres carriers based on diglycidyl ether of bisphenol A (DGEBA) is presented. Monodisperse magnetic particles of YFeAl and 15 nm on size distribution of were prepared by thermal decomposition of complexes of iron (III) in the presence of oleilamine. Nanospheres containing particles of polycrystalline Y3Fe5-xAlxO12 (0 ≤ x ≤ 2) were prepared using the dispersion polymerization technique using Diethylenetriamine (DETA) as a hardener. The synthesized microspheres were characterized by X-ray diffraction (XRD) and scanning electron microscopy (SEM). The Curie temperature (Tc) was determined from measurements of magnetic susceptibility in the range of 223-573 K. The scanning electron microscopy (SEM) indicated a monomodal distribution in size of the synthesized nanospheres. In the composition range of 1.5 ≤ x ≤ 1.8, the nanospheres exhibited Tc scalable in the range of magnetohyperthermy interests. To assess the possible influence of nanospheres of DGEBA / YFeAl in mammalian cells, cytotoxicity tests were performed. It was observed that the nanospheres did not affect the viability of cells or the growth rate of cell culture. These results suggest that nanoparticles of Y3Fe5-xAlxO12 encapsulated by the system DGEBA/DETA represent a promising alternative for the treatment of malignant tumors by magnetohyperthermia. Keywords: Magnetohyperthermy, DGEBA, nanospheres, cancer. Introdução A evolução da medicina ao longo do último século promoveu uma importante alteração neste prognóstico O câncer representa atualmente uma das principais cau- desfavorável, permitindo que um grande percentual dos sas da mortalidade entre os seres humanos, representan- portadores de câncer tenha atualmente a oportunidade da do mais do que uma simples enfermidade. Apesar de todo cura ou significativo aumento de qualidade de vida como o avanço alcançado na medicina clínica preventiva, o cân- uma realidade significativamente viável. cer continua sendo uma ameaça oculta, de surgimento A acentuada redução da mortalidade por câncer inesperado e pronunciada. no presente século é conseqüência de vários fatores, Correspondência: Vinícius Fortes de Castro – Rua Guilhermina Rennó da Silva, 51, São Vicente – CEP: 37502-024 – Itajubá (MG), Brasil – E-mail: vfc_mg@yahoo.com.br Associação Brasileira de Física Médica® 79
  • 2. Castro VF, Celestino J, de Queiroz AAA e Garcia FG destacando-se o desenvolvimento de políticas de saúde momento de saturação que permita minimizar as doses re- que visam à prevenção, avanço alcançado nos métodos queridas. Neste contexto, cerâmicas com composição do de diagnóstico e métodos cirúrgicos e o desenvolvimento tipo Ítria-Ferro-Alumínio (YFeAl) aparecem como um candi- de novos agentes quimioterápicos vetorizados. dato promissor, visto que possuem uma alta temperatura Atualmente são cinco as modalidades convencionais de Curie (TC) e elevado momento de saturação5. Entretanto, empregadas no tratamento do câncer: cirurgia, quimio- tais partículas possuem elevada citotoxicidade, sendo ne- terapia, radioterapia, hipertermia e imunoterapia1. Destas cessário desenvolverem-se técnicas de encapsulamento cinco modalidades, nenhuma delas por si só, consegue a que imputem às nanopartículas ferromagnéticas as proprie- erradicação total do tecido tumoral maligno. dades biocompatíveis necessárias para uma aplicação da A hipertermia pertence à lista dos tratamentos conven- magneto-hipertermia de modo clinicamente seguro. cionais aceitos pela “American Cancer Society” e continua Neste trabalho, propomos o desenvolvimento de me- sendo uma das mais poderosas modalidades terapêuti- todologias para obtenção “in situ” de sistemas que utili- cas para melhorar a evolução dos pacientes com câncer2. zam resinas epoxídicas e sistemas orgânicos arborescen- Também é um dos melhores coadjuvantes que aumenta a tes para o encapsulamento de ferritas de YFeAl de baixa eficácia da radioterapia e da quimioterapia. Neste sentido, dimensionalidade e toxicidade destes sistemas para o or- os experimentos clínicos de Fase III comprovam que quan- ganismo biológico. do a hipertermia foi associada com a radioterapia, ela me- lhorou o controle local do melanoma de 28% para 46% em 2 anos de acompanhamento; provocou aumento da remis- Materiais e métodos são total do câncer recorrente de mama de 38% para 60%, aumentou o índice de remissão total do câncer avançado Nanopartículas monodispersas de MFe2O4 (M=Y, Al) com cervical de 57% para 82% e no glioblastoma multiforme au- tamanho igual a 15 nm (Figura 1) foram sintetizados atra- mentou a sobrevida de 2 anos de 15% para 31%3. vés da decomposição térmica de complexos de ferro (III) A hipertermia é um procedimento terapêutico empre- na presença de oleilamina6. gado para proporcionar aumento de temperatura em uma Nanoesferas contendo as partículas ferromagnéticas região do corpo que esteja afetada por uma neoplasia, de YFeAl foram obtidas através da técnica de polimeriza- com o objetivo de causar a lise das células cancerosas. ção em dispersão. As nanopartículas de YFeAl foram pre- Seu princípio de funcionamento se baseia no fato de que viamente dispersas na solução do monômero epoxídico a temperatura de 41°C a 42°C tem o efeito de destruir diglicidil éter de bisfenol A (DGEBA):poliglicerol (1:1). Após diretamente as células tumorais, uma vez que estas são homogeneização a 800 rpm por 2 horas adicionou-se a menos resistentes a aumentos bruscos de temperatura do dietilenotriamina (DETA) como agente de cura. O sistema que as células normais circunvizinhas. foi transferido para óleo mineral sob forte agitação (1200 O aumento de temperatura requerido pela hipertermia rpm) e o sistema aquecido até 130 ºC por 15 h. Ao término pode ser atingido, entre outros métodos, pelo uso de na- da reação, as microesferas foram lavadas exaustivamente nopartículas magnéticas, processo este conhecido com o com etanol, clorofórmio para a remoção de impurezas e nome de magneto-hipertermia ou magnetotermocitólise4. secassob vácuo a 50 °C, por 72 horas. Quando submetidas à ação de um campo magnético ex- O aspecto morfológico das microesferas foi observa- terno de freqüência alternada, as nanopartículas magnéti- do com o auxílio de microscópio eletrônico de varredura cas são aquecidas. O uso de nanopartículas magnéticas (MEV, Phillips XL 30) e a análise de distribuição de tama- (monodomínios magnéticos) é preferível as micropartículas nhos foi efetuada utilizando o software para aquisição e (multidomínios magnéticos) uma vez que nanopartículas o tratamento computacional de imagens para análise da magnéticas respondem mais eficientemente a campos ex- distribuição de tamanhos. ternos absorvendo destes mais energia. O ensaio da citotoxidade das nanoesferas híbridas De maneira geral, nanopartículas magnéticas têm re- orgânicas-inorgânicas de YFeAl foi realizado utilizando- cebido atenção especial para a utilização no tratamen- se células de ovário de hamster chinês, ATCC CHO k1 to do câncer pela técnica hipertêmica por poderem ser (American Type Culture Collection)7. guiadas ou localizadas em um alvo específico por cam- pos magnéticos externos. A possibilidade da vetorização de nanopartículas magnéticas através de gradientes de Resultados e discussão campos magnéticos levou ao desenvolvimento de várias técnicas de encapsulamento de partículas magnéticas O processo de encapsulamento das partículas magnéti- de forma que os sistemas obtidos se tornassem efetivos cas obtidas neste trabalho é de fundamental importância carreadores de drogas com especificidade tumoral para a para a obtenção de materiais implantáveis com proprieda- liberação controlada de agentes quimioterápicos. des biocompatíveis. A importância de polímeros DGEBA Um pré-requisito importante para a utilização clínica da curado por DETA como biomateriais se deve à sua inércia magneto-hipertermia é que as nanopartículas devem apre- química e compatibilidade com o sangue, como demons- sentar baixos níveis de toxicidade, assim como um elevado trado em nossas publicações mais recentes8. 80 Revista Brasileira de Física Médica.2010;4(1):79-82.
  • 3. Propriedades magnéticas e biocompatíveis de nanocompósitos para utilização em magneto-hipertermia Figura 2. Curva de histerese à temperatura ambiente (25 ºC) dos nanopós de YFeAl. 1000 Figura 1. Distribuição do tamanho de partículas e micrografias 800 do microscópio eletrônico de varredura (MEV) de partículas de YFeAl (A) e microesferas do nanocompósito DGEBA/YFeAl (B). ) -3 Energia magnética (J.m 600 A Figura 1 ilustra as micrografias MEV das nanopartícu- las de YFeAl e, as microesferas de DGEBA/YFeAl obtidas neste trabalho. Com relação à distribuição de tamanho 400 das partículas de YFeAl (Fig. 1A) observa-se um tamanho médio em torno de 15 nm. Um dos fatores mais impor- tantes na obtenção de nanopartículas para tratamento de 200 hipertermia magnética é a distribuição dos tamanhos das partículas. A síntese de nanoesferas ferromagnéticas nes- te trabalho tem levado a uma distribuição de tamanhos 0 0 5 10 15 20 25 30 de partículas relativamente homogênea. A distribuição Ferro (mol%) homogênea quanto ao tamanho das partículas favorece o processo de conversão da energia magnética em calor Figura 3. Energia Magnética (J.m3) versos concentração de uma vez que os proporciona uma distribuição homogênea Ferro (mol%). da temperatura dentro do tecido tumoral. As nanoesferas de DGEBA/YFeAl (Fig. 1B) apresentam O ensaio de citotoxicidade de biomateriais é efetuado uma distribuição de tamanhos entre 30 e 60 nm. O diâ- conforme a ISO 10.993-part 5. A linhagem celular reco- metro médio dos capilares sanguíneos do fígado situa-se mendada é que seja uma linhagem celular estabelecida entre 4 a 16 μm logo, o diâmetro das nanoesferas obtidas de mamíferos obtida de um repositório reconhecido como neste trabalho parece ser conveniente para o tratamento o American Type Culture Collection (ATCC). É utilizada no de tumores malignos presentes no fígado através da téc- ensaio uma cultura de células de ovário de hamster chinês nica de hipertermia. (ATCC CHO K1). As propriedades magnéticas das amostras exibiram Na Figura 5, são apresentadas as curvas de viabilidade superparamagnetismo com valor de magnetização de sa- celular das nanoesferas magnéticas de YFeAl. As amos- turação de -53,7 meu/g (Fig. 2). tras apresentaram comportamento semelhante ao contro- Considerando-se a área sob a curva na Figura 2, le negativo, não tóxico, com IC50% maior que 50%. calculou-se a energia magnética presente nas cerâmicas ferromagnéticas quando estas foram submetidas a um campo magnético. A Figura 3 mostra a energia de magne- Conclusões tização em função da concentração de ferro. Observa-se uma forte dependência da energia magnética estocada Nanopartículas magnéticas de 15 nm foram encapsula- em função da concentração de Ferro (mol %). das por DGEBA e curadas com DETA. Nanoesferas com Revista Brasileira de Física Médica.2010;4(1):79-82. 81
  • 4. Castro VF, Celestino J, de Queiroz AAA e Garcia FG 280 120 N ão cito tóx ico 240 (A ) 100 Succinate dehydrogenase activity (%) 200 80 P ou co cito tóx ico 160 (C ) TC (ºC) 60 120 M ode rad a m en te citotóx ico 80 40 40 E levad a citotoxicidad e 20 (B ) 0 0 0 1 2 3 4 5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 T im e (W ee ks) A l (m ol% ) Figura 4. Dependência da temperatura de transição de Curie Figura 5. Citotoxicidade das nanocapsulas magnéticas DGEBA/ (TC) de cerâmicas YFeAl em função da composição de Al. YFeAl (C). Em (A) e (B) tem-se os controles positivos e negativos, respectivamente. distribuição de tamanhos entre 30-60 nm, transportado- Referências ras das partículas magnéticas YFeAl foram obtidas e ca- racterizadas quanto às suas propriedades magnéticas e 1. Modalities of Cancer Therapy. [homepage da internet] [citado 2009 Aug biocmpatíveis. A microscopia eletrônica de varredura indi- 13]. Disponível em: http://www.merck.com/mmpe/sec11/ch149/ch149b. cou uma distribuição monomodal de tamanho e tempera- html#CACFCFDG 2. Overgaard, J. The current and potential role of hyperthermia in radiotherapy. tura de transição de Curie dependente da composição da Intern J Rad Onc Biol Phys 1989; 6: 535-49. cerâmica YFeAl. Ensaios biológicos indicam que o nano- 3. Vernon C. Hyperthermia in cancer growth regulation Phase III. Biotherapy compósito obtido não afetou o crescimento de células de 1992;4(4):307-15. mamíferos e ao mesmo tempo apresentou temperatura de 4. Tartaj P, Morales MP, Veintemillas-Verdaguer S, Gonzales-Carreño T, transição de Curie dependente da composição de Al na ce- Serna JC. The preparation of magnetic nanoparticles for applications in râmica. Esses resultados sugerem que as nanopartículas biomedicine. J Phys D: Appl Phys 2003;36:R182-R197. de Y3Fe5-xAlxO12 encapsuladas pelo sistema DGEBA/DETA 5. Sun S, Zeng H. Size-controlled synthesis of magnetite nanoparticles. J Am representam uma alternativa promissora no tratamento de Chem Soc. 2002;124(28):8204-5. tumores malignos através da magneto-hipertermia. 6. Queiroz AAA, Passos ED, Silva MR, Higa OZ, Bressiani AHA, Bressiani JC. Biocompatible superparamagnetic nanospheres for the cancer treatment. Apresentado no III Congresso Latino Americano de Órgãos Artificiais e Biomateriais (COLAOB). Campinas (SP), 2004, p. 182. Agradecimentos 7. International Organization for Standardization. “Biological evaluation of medical devices tests for citotoxicity: in vitro methods”, ISO 10993-5 Os autores expressam seus agradecimentos aos órgãos (1999 E). de fomento à pesquisa Finep, CNPq, Capes e Fapemig 8. Garcia FG, Leyva ME, Queiroz AAA, Higa OZ. Epoxy networks for medicine pelo auxílio financeiro ao desenvolvimento deste projeto. applications: mechanical properties and in vitro biological properties. J Appl Também fica expresso nosso agradecimento à FUPAI Polym Sci. 2009;112:1215-25. pelo auxílio fornecido para participação do XIV Congresso Brasileiro de Física Médica. 82 Revista Brasileira de Física Médica.2010;4(1):79-82.