Uma Guerra Inglória - General Marco Antonio Felício da Silva
1. UMA GUERRA INGLÓRIA
Gen Marco Antonio Felício da Silva
Respeito o direito de manifestação do Cel Lauro Pastor, muito embora, não
concorde com os termos da mesma, como muitos outros camaradas da Reserva.
Assim, para não ser omisso diante de minhas convicções, não posso deixar de
responder-lhe.
Inicialmente, gostaria de lembrar-lhe que muitos que fazem parte da atual
Reserva, por Ele qualificada de “raivosa”, de forma genérica, são os mesmos que
arriscaram a vida, nos anos de 60 e 70, para preservar a liberdade de que, hoje,
alguns desfrutam para denegri-los.
Afirmo, ainda, que não tenho o desiderato de entrar na “guerra” pela qual o Cel
Pastor diz pagar uma boiada para dela não sair, pois, a existência de tal “guerra”,
entre nós, traduz desapreço pela união tão necessária em momento crítico da vida
nacional e creio, também, para as Forças Armadas. Trata-se de uma “Guerra” inglória.
Repito, para melhor enfatizar, que não concordo com as generalizações
brilhantes do Cel Pastor, classificando o pessoal da Reserva como raivoso,
desinformado e responsável por realizar críticas injustas. Os fatos, que dão origem ao
que Ele chama de críticas injustas, estão publicados em jornais, na TV e na Web.
Cito, abaixo, algumas das críticas de militares da Reserva, as mais comuns,
baseadas em ocorrências concretas e que são do conhecimento geral.
Deixo claro que não compactuo com agressões gratuitas e chulas.
Seria injusto criticar o fato de, fugindo-se aos critérios estabelecidos em lei,
condecorar quem jamais fez alguma coisa pela Força a não ser com ela terçar armas
e tentar desmoralizá-la, desmerecendo àqueles que as receberam por total
merecimento?
Seria injusto criticar o fato de, fugindo-se aos critérios estabelecidos em lei,
deixar de cassar condecorações de elementos julgados e condenados, em última
instância, pelos crimes do chamado “mensalão”?
Seria injusto criticar o fato de, fugindo-se a compromissos estabelecidos por
chefes do passado, deixar que velhos camaradas, partícipes de operações de
combate, mediante ordens legais, heróis da liberdade, sejam “escrachados” por
organizações comunistas e, ilegal e vergonhosamente, levados a inquirições e às
barras dos tribunais, traduzindo revanchismo eivado de viés ideológico?
Seria injusto criticar o fato de, cedendo-se às imposições revanchistas de uma
Secretária de DH, fanática viúva dos subversivos comunistas de antanho, concordar
em colocar placa ofensiva, manchando o santuário que é a AMAN?
Seria injusto criticar o fato de aceitar-se a instalação e funcionamento da
Comissão Nacional da Verdade, completamente desvirtuada dos fins para que foi
criada, atuando ilegalmente, criando uma nova e mentirosa estória, afrontosa às
Forças Armadas, atingindo principalmente os militares, agentes do Estado, sem
qualquer contestação?
Seria injusto criticar o fato de aceitar-se a situação de iniquidade a que são
levados os quadros da Força, em se tratando de vencimentos vis, provocando grande
evasão anual de oficiais e praças qualificados?
2. Seria injusto criticar o fato de aceitar-se, em silêncio, uma nova estória em
que bandidos se tornam heróis e os verdadeiros heróis se tornam bandidos? Como
enfático exemplo, publicado nos jornais, nos últimos dias, colégio troca o nome de
Presidente Médici pelo do sanguinário bandido comunista Carlos Marighella, em
eleição dirigida pela Diretora do mesmo.
Seria injusto criticar o fato de se proibir palestras e comemorações relativas
ao 31 de Março e à Intentona Comunista nas organizações militares?
Que forças musculosas são essas a que Ele, o Cel Pastor, se refere quando,
algumas semanas atrás, os próprios comandantes das três forças estiveram no
Congresso, afirmando que o orçamento previsto para as forças é insuficiente até
mesmo para o custeio e restrito para novos investimentos, estando o País sem
capacidade efetiva de defesa do seu território, do seu espaço aéreo e da Amazônia
Azul. Será o CMA, apresentado pelo Cel Pastor, uma exceção dentro desta realidade
gritante e inaceitável?
Apesar de promessas e mais promessas e de uma incompleta END, pois, não
há nela a previsão de fontes de recursos para os projetos, também, nela delineados,
vivemos à míngua financeira. O Sistema de Vigilância de Fronteiras anda a passo de
cágado, faltam recursos para o desenvolvimento de proteção de natureza cibernética,
novos pelotões de fronteira não foram criados e o apoio aéreo ao CMA é diminuto em
relação às suas necessidades. Até hoje, não temos as embarcações necessárias à
vigilância e patrulhamento dos rios da área. O Sistema logístico de apoio aos
pelotões é precário.
Não discuto o valor dos nossos soldados. Esse é inconteste e não é de hoje,
comprovado desde o Império e em todas as missões de que participaram e de que
participam nos dias atuais.
Quanto à resposta que o Cel Pastor enviou ao seu companheiro de turma Gen
Ex Antonio Medeiros, Chefe reconhecido pela retidão de caráter e de atitudes,
tornada pública, considero-a, destinada a um companheiro de turma e mais antigo,
não apropriada, mesmo que Ele, o Cel Pastor, esteja pagando uma boiada para não
sair da “guerra” que criou.
Em suas assertivas, afirma acreditar cada vez mais em “nossa democracia”.
Discordo, pois, vivemos um arremedo de Democracia, sem independência verdadeira
dos poderes, que estão aparelhados ou com integrantes cooptados por benesses
financeiras, eleições com currais eleitorais controlados por esmolas do (des)governo,
Imprensa venal, governo “bolivariano”, subserviente ao foro de São Paulo, permeado
por corrupção desenfreada, e o Estado Democrático de Direito sofrendo constantes e
seguidos estupros sem qualquer reação contrária. Vivemos, hoje, situação mais
perversa do que nos idos de 64.
Por outro lado, tenho convicção contrária ao que o Cel Pastor afirma sobre
ética, respeito e disciplina, pois, em determinadas situações em que o interesse da
Nação estiver em jogo, a ética se consubstancia, priorizando a defesa de tal
interesse, doa a quem doer.
Será, pois, crítica injusta aquela que é dirigida aos que aceitam utilizar tropas
do Exército, em operação de Segurança Pública, mesmo após os desastrosos
resultados ocorridos em Raposa/Serra do Sol, nas terras indígenas Awá-
Guajá, no Maranhão, contrariando o interesse nacional ?
Para terminar, se, como diz o Cel Pastor, “Fora da ativa alguns, não
todos, viram insubordinados, radicais e revolucionários e querem tocar fogo
no pessoal que está nos quartéis cumprindo, e muito bem, suas missões.”, por outro
lado, para contrabalançar, alguns, fora da Ativa, não todos, viram “vacas de
3. presépio”, tentando tampar o sol com a peneira, esquecendo-se da realidade e
dificuldades por que passam os que estão nos quartéis tendo em vista o cumprimento
de suas missões quer na paz e, principalmente, quer em meio a possíveis conflitos.