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AS SUBJETIVIDADES E AS IDENTIDADES MÚLTIPLAS NA ERA DA
                COMUNICAÇÃO DIGITAL E DAS REDES SOCIAIS.

                                                                                        Luciana Prado1



Resumo

        Faz sentido neste momento em que se vive no século XXI, momento de encurtamento
de distâncias na era da tecnologia das redes de computadores, da internet, da globalização e da
requisição profunda de todos os sentidos humanos no mundo das cidades modernas e cheias
de luzes e sons e múltiplas formas de atração de interesse de um indivíduo qualquer, citar uma
frase que se tornou uma referência recente, mas profundamente instigante, do sociólogo
polonês Zygmund Bauman, em Modernidade Liquida (2001) na qual ele diz: ―Ter uma
identidade fixa é hoje, neste mundo fluido, uma decisão de certo modo suicida‖. O que propõe
este artigo é discutir os conceitos de alguns autores que tratam da questão da formação das
subjetividades e das identidades, com o foco principal na participação da mídia em geral neste
processo contínuo de produção de subjetividades e da referência de identidade dos indivíduos
que se inserem nas redes sociais para buscar algum modo de compartilhamento de
sentimentos, emoções, e visibilidade, esta completamente ligada ao seu contrário,a
possibilidade de vigilância licenciada pelo indivíduo.




Palavras chave: subjetividades, identidade, redes sociais, contemporaneidade.




Considerações sobrea relação do indivíduo com a mídia e a formação das suas
identidades.

        Como o filósofo e político italiano, Antônio Negri, escreve em um de seus artigos ―A
Infinitude da comunicação e a finitude do desejo‖, parte da obra Imagem-máquina: a era das
tecnologias do virtual, organizado por André Parente, ―a relação mídia-espectador nunca foi
tão satanizada, e isso só faz piorar. Não só isso se pretendeu dar da mensagem da mídia uma


1
 Luciana Prado, mestranda em Mídia e Cultura, e-mail: lserenini@gmail.com. Trabalho apresentado como
conclusão da disciplina Estudos Avançados em Mídia e Cultura, professora Dª Suely Gomes.
imagem de uma rajada de metralhadora que se abate sobre o espectador-alvo miserável e o
aniquila‖ (2008, p. 175). No contexto de seu pensamento Negri nega esse olhar, para ele já
muito superado, de uma esquerda advinda da escola crítica de Frankfurt, que não deixa de ter
muita razão em várias de suas críticas, adverte ele, mas que não pode aceitar que o indivíduo
não é uma massa amorfa, um bando de zumbis que deglutem tudo o que lhes é imposto pela
mídia. Continua ele, ―É verdade que não somos insensíveis à degradação do gosto e do saber
coletivo, nem tampouco à colonização dos universos de vivência. Além do mais, parece-nos
evidente que a máquina da mídia não produz em absoluto efeitos com toda inocência‖ (2008,
p.176). Ele concorda que no sistema atual a mídia ainda produz conscientemente códigos
―infectos e epidêmicos‖, suas palavras que impedem de certo modo a produção de
mecanismos simbólicos de subjetividade, que induz em muitos momentos a uma seleção
estratégica de conteúdos de informação que são reduções à mera mercadoria e à futilidade.
Mas, reflete também sobre o fato de os seres humanos não são unidimensionais, e por isso
mesmo não podemos crer que o indivíduo não tenha condições próprias de criar mecanismos
de fuga a tais estratégias midiáticas, assim como não possa produzir suas subjetividades que
se apoiem em uma autopoiese, na operatividade criativa, coletiva que também ajam no mundo
da comunicação, formando caminhos de resistência dentro do próprio sistema de
comunicação e da mídia. Um dos caminhos que ele, e outros autores acreditam que possa se
dar essa ―liberdade‖ e a formação de novas subjetividades passa pelo contexto de máquinas e
trabalho, aqui considerados como instrumentos cognitivos e de autoconsciência poiética, de
novo ambiente e de nova cooperação. Para ele o trabalho humano de produção de uma nova
subjetividade ganha toda sua consciência dentro desta nossa era e do horizonte virtual, aberto
cada vez mais pelas tecnologias da comunicação, onde ele diz:


              ―Estamos entrando numa era ‗pós-mídia‘, de consciências comunicantes, dos indivíduos
              cooperantes se portando capaz de levar a cabo, radicalmente, a transformação social, sem outro
              limite senão a finitude de nosso desejo. Uma finitude que tem como único obstáculo a in-
              finitude da tarefa‖ (2008, p. 175).

       A visão de Negri se apresenta bastante otimista, principalmente partindo de um
filósofo marxista. Mas é, de certa forma corroborada por Santaella ao discutir um dos temas
mais frequentes entre as pessoas que estão refletindo sobre as questões que emergem da
cibercultura, que é a questão das identidades múltiplas que o usuário do ciberespaço pode
desenvolver em seus diversos ambientes. E isso ocorre porque, segundo ela, longe de ser uma
comunicação linear entre emissor e receptor, a relação entre o eu e o (s) outro (s) fica
permeada de ambiguidades que são geradas por diversos fatores, principalmente pela
facilidade do anonimato, pela construção múltipla de identidades nos vários espaços que a
internet propicia. Mas o que Lúcia Santaella faz, no seu livro ―Linguagens líquidas na era da
mobilidade‖ (2011) é também discutir esta noção de identidade, tendo como vista
desconstruir a crença de que a multiplicidade identitária só ocorra no ciberespaço, em suas
palavras:
              ―Longe disso, identidades são sempre múltiplas. A ideia de que a identidade possa ser con-
              sistentemente uma e engessada sustenta-se sobre uma noção de sujeito e subjetividade herdada
              do cartesianismo e já vem sendo colocada em crise pela filosofia e pela psicanálise há pelo
              menos um século. Se as identidades são sempre múltiplas, então porque o tema identidade
              tornou-se tão proeminente na cultura digital? O que os ambientes ciberespaciais modificaram
              em relação ao tema?‖ (2011, p.83-84).

       Partindo deste ponto vamos investigar um pouco mais a questão da noção de
identidades, das subjetividades partindo de olhares do filósofo francês Michel Foucault e
posteriormente por olhares da psicanálise, pois como foi dito por Santaella, já há pelo menos
um século estes temas já fugiram da ideia do homem como sujeito racional, reflexivo, senhor
dos comandos de seus pensamentos e ações como nos pressupostos Kantianos, hegelianos,
fenomenológicos e até dos existencialistas.


Contribuições de Foucault para uma visão do indivíduo e sua subjetividade


       Já na obra Vigiar e Punir Michel Foucault fornece aos leitores uma análise histórico-
filosóficaprofunda sobre a estruturação de organização da sociedade Ocidental nos últimos
séculos. Através de uma análise que tem como foco o sistema punitivo-legal ao longo dos
séculos. Porém norteado pela construção histórica das punições submetidas ao corpo durante
os séculos e narrando estes fatos ele chegaa história mais recente da modernidade, concluindo
que por meios mais requintados se chega ao sistema do panoptismo como forma devigilância
e controle sobre os corpos não só nas prisões, do sistema carcerário, mas também do
funcionamento das fábricae dos sistemas escolares, por exemplo. Para Foucault, a históriado
Ocidente é uma história que pode ser reconstruída sob a ótica do binômio ‗vigiar e punir‘.
       Dentro do contexto sob o qual o autor estruturou esta temática que poderia ser
demonstrada em qualquer âmbito do cotidianohistórico, mas que nesta obra está mais
diretamente relacionada com a dimensão judiciária, ele mesmo deixa claro o objetivo de seu
livro: ―uma história correlativa da alma moderna e deum novo poder de julgar; uma
genealogia do atual complexo científico-judiciário onde o poder depunir se apoia, recebe suas
justificações e suas regras, estende seus efeitos e mascara suaexorbitante singularidade‖
(p.23).
          Mas na concepção da nossa temática nos interessa lançar um olhar sobre o que ele
estabelece na terceira parte do livro intitulada de ―Disciplina‖ (p. 117-187) que constitui por
assim dizer ocoração da demonstração do novo sistema punitivo engendrado a partir do
século XVIII. Aqui neste ponto ele de descreve as facetas ‗modernas‘ da criaçãoda disciplina
como forma de inscrever na representação o ideário de ‗vigiar e punir‘.
          No capítulo I (p. 117-142), o autor relata as ‗modernas‘ formas e tecnologias para criar
―corpos dóceis‖. Uma dos requisitos seria a ―arte das distribuições‖, isto é,distribuições de
espaço e de corpos no espaço. Deve haver uma tendência a criar a disciplina apartir da arte de
distribuição. Um lugar certo para cada corpo, as filas, a ordem, as senhas que ainda
conhecemos tão bem no nosso mundo moderno. Um segundo ponto é o controle da atividade
dos corposdistribuídos no espaço, ou seja, o que se pode fazer e onde, e principalmente o que
não se pode ou deve fazer diante da sociedade, o que também se aprende desde cedo. A
organização das gêneses e a composição das forças também fazemparte deste ideário de
controle social, ou seja, quem manda e quem detém o poder, por exemplo, deve estar claro
dentro do esquema de controle e vigilância da sociedade moderna. Mas adiante, o autor trata
dos ―recursos para o bom adestramento‖ (p. 143-162). E neste ponto deixa claro que o melhor
caminho para o ‗bom adestramento‘ é a vigilância hierárquica, tão representativa nos modelos
de todo funcionamento da sociedade, desde a família, com o pai e mãe, até as regras impostas
pelo Estado a população em geral, que também podemos citar como exemplos que se
encaixam na rotina da vida cotidiana moderna e contemporânea. O autor mesmodemonstra
isso noexemplo de escolas e também de fábricas, com a distribuição de micro-poderes de
vigilânciaautorizados por uma autoridade hierárquica superior.
          Foucault reflete que toda lógica militar reside sobre esseprincípio. A sanção
―normalizadora‖, que deve ser genérica, bem como o ―exame‖, aqui subentendido como as
provas, seleções, que se configuram em outrasformas utilizadas para um bom adestramento
dos corpos. ―O exame combina as técnica dahierarquia que vigia e as da sanção que
normaliza‖ (p. 154). Neste ponto ele nos diz que ―a escola torna-se uma espécie deaparelho de
exame ininterrupto que acompanha em todo o seu comprimento a operação doensino‖ (p.
155). E por mais estranho que possa parecer é na vigilância e na normalização quese opera
uma ‗individualização‘. Mas de modo algum é uma individualização ‗ascendente‘, que projeta
a pessoa para o cenário principal, de uma criatividade e modos de subjetividades próprios. Em
cenário de regime disciplinar, a individualização, ao contrário, é descendente à medida que o
poder setorna mais anônimo e mais funcional. Os indivíduos sobre quem se exerce o poder
tendem a ser maisfortemente individualizados, passando a se medirem uns aos outros, por
medidas comparativas que têm a ―norma‖ como referência,e não por genealogias que dão os
ancestrais como pontos de referência; mais por ―desvios quepor proezas‖ (p. 160-1).
       Se a visão do filósofo francês sobre a subjetividade dos indivíduos é um tema debatido
e controverso em muitos momentos por outros autores, em decorrência do fato de ter sido
trabalhado de modo diferente em outras obras, tome-se como referência o modelo por ele
exposto em Vigiar e Punir, onde a sensação é a de que o indivíduo torna-se quase um robô das
regras sociais que lhe são impostas. Do contexto desta obra, que traça uma reflexão ampla da
sociedade, se pode buscar uma ligação para tentar compreender como e porque no mundo
contemporâneo e dentro do nosso estudo sobre as relações de exposição e diálogos nas redes e
mídias sociais, algumas das considerações do filósofo francês ainda estão vivas.
       Sua ideia do panóptico que é era a imagem deum edifício em forma de anel, no meio
do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel dividia-se em pequenas celas que
davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia,
segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário a
trabalhar, um prisioneiro a ser corrigido, um louco tentando corrigir a sua loucura, etc. Na
torre havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o
exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nenhum ponto de sombra
e, portanto, tudo o que o indivíduo fazia estava exposto ao olhar de um vigilante que
observava através de persianas, de modo a poder ver tudo sem que ninguém ao contrário
pudesse vê-lo.
       Na discussão da temática dos homens modernos inseridos e imersos nas atividades do
ciberespaço, muitos questionamentos são levantados sobre a possibilidade de que o homem
contemporâneo esteja ainda mais vigiado que em todas as outras épocas. Isto, porquena era da
comunicação mediada por diversas tecnologias de rede, o homem em geral festeja sua
liberdade, mas acaba se expondo tranquilamente aos regimes de vigilância tão previsíveis
dentro das regras da Internet, por exemplo. Seus gostos, seus desejos, suas memórias, toda a
sua vida enfim fica gravada, ―para todo o sempre‖, uma vez inseridos na rede mundial de
computadores. As mídias sociais, como o Faceboock, por exemplo, a cada curtir de um
indivíduo vai traçando seu perfil ―mercadológico‖e o repassando às empresas parceiras,
prontas para ampliar o leque de desejos do indivíduo, fornecendo a ele mais e mais daquilo
que ele deve e deseja consumir. Então, não seria incorreto suscitar a ideia de que estariam
todos sendo vigiados, observados, e principalmente, facilmente rastreados pelos IP´s -Internet
Protocolo, que é o protocolo base de toda a Internet, que faz o roteamento de pacotes entre
sistemas TCP/IP dos computadores, que pode em minutos dizer a exata localização do usuário
e o dono da máquina que processou qualquer tipo de entrada de informação.
        Já nas suas últimas obras, prioritariamente de um modo aprofundado nos volumes que
tratam da história da sexualidade, do saber, da ética e do cuidado de si como prática de
liberdade, o autor vai tratar das formas de produção de subjetividades e das formas de
estetização da existência, que darão novos contornos e possibilidades de ―fuga‖ aos regimes
de vigiar e punir, o que para a contemporaneidade passou a ficar cada vez mais difícil, frente a
tantas câmeras, e mesmo a facilidade com que muitos desejam mesmo se expor diante do
outro, em tempos de big-brother, geolocalização instantânea, e tantos outros recursos que
permitem que o indivíduo esteja o tempo todo sendo monitorado, na maioria dos casos
conscientemente e por vontade própria.
       Michel Foucault vai buscar na experiência histórica greco-romana os conceitos acerca
das estéticas da existência, como estilos de vida diferenciados. Para ele, nas civilizações
antigas greco‐romanas, concentrando‐se nos anos I e II AC., haveria uma experiência pautada
na afirmação da liberdade e na ética, com o intuito de criação de uma existência boa e bela
(FOUCAULT, 2006 ‐ A: p.268). Haveria aí prescrições e cânones coletivos, porém sem a
constituição de um código de regras como viria a se instaurar no cristianismo, cumprido por
meio da obediência a uma vontade soberana de Deus. Com o cristianismo, vimos se inaugurar
lentamente, progressivamente, uma mudança em relação às morais antigas, que eram
essencialmente na Antiguidade, a vontade de ser um sujeito moral, a busca de uma ética
daexistência era principalmente um esforço para afirmar a sua liberdade epara dar à sua
própria vida certa forma na qual era possível sereconhecer ser reconhecido pelos outros, e na
qual a própria posteridadepodia encontrar um exemplo. (FOUCAULT, 2006 - B:p.289-290).
        Toda essaabordagem constituiuma perspectiva ontológica que diz respeito acomo os
sujeitos são constituídos em relações de poder e de saber, e também narelação consigo. Para o
pensador, é na dimensão ética expressa na relação de si paraconsigo que o indivíduo pode
confrontar o poder e criar um modo de vida mais livre eintensificado. Governar a si mesmo,
as suas paixões desenfreadas, preceitos muito significativos naautarquia antiga, define‐se
então pela capacidadede dar forma a si próprio e de modular seus próprios valores, não se
submetendo a umamoral dominante e normalizadora.
          Mas é relevante lembrar que Foucault, ao tratar deprocessos culturais e históricos,
sempre tinha no horizonte a discussão sobre a própriaatualidade: a questão do presente. No
momento em que ele investiga as estéticas da existência naexperiência greco‐romana, quer
marcar uma diferença, um estranhamento em relação ao presente, não faz um estudo da
antiguidade somente como um intuito historicista. Ele deixa claro que o anseio de constituir a
si mesmo como um indivíduo livre, umcidadão da polis, é um dos objetivos dessa experiência
antiga.
          Em linhas gerais ele postula que esse objetivo éconstituído por práticas com uma
intenção de transformação e atenção a si mesmochamadas por Foucault de técnicas de si.
Consistiam em áreas de atenção como aalimentação ‐ a dietética, as relações amorosas ‐ a
afrodisia, a elaboração de si pelaescrita, como os cadernos de anotação chamados
Hupomnêmatas, o falar francamente ‐como a parrésia cínica (FOUCAULT, 2006 ‐ C, p.147 e
2009,p.248). Todas estas ações, que seriam elementos chave nas relações greco-
romanas,estavamdestinadas à constituição de um cidadão e, nesse sentido, as artes da
existênciacontemplavam o cuidado com o outro, a constituição de si por meio de relações
deamizade, de amor e de aprendizado ‐é possível que o termo ―cuidado de si‖ possa
parecererroneamente aos ouvidos do mundo contemporâneo como uma espécie de
egocentrismo. Mas trata‐se para Foucault de investigar outra relação possívelcom as normas,
as prescrições e com a verdade – ao mesmo tempo lembrarmos queolhamos ainda dentro da
tradição ocidental – fazendo surgir um espaço diferenciado deconstrução de si.
          Neste ponto também é interessante observar considerações atuais sobre o que foi
observado por Foucault na forma de registro e vivência das sociedades antigas e o que vem
ocorrendo no mundo da comunicação mediada por redes de computadores e, particularmente
pelas redes sociais. Na visão do grupo Sociotramas, que é um grupo de pesquisa dedicado ao
estudo das redes sociais na internet e temas circundantes, e quereúne pesquisadores ligados ao
Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica e ao Programa de Estudos
Pós-Graduados em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP, encontra-seuma
reflexão interessante sobre uma possível ligação do tema Hupomnêmatas e a criação da
timeline no Faceboock, em meados de setembro de 2011. Na avaliação feita pela autora do
post, Patrícia Fonseca Fayana, em seu comentário publicado em junho de 2012, encontramos
a seguinte declaração:
                Nos registros dos usuários, o tempo subjetivo e afetivo se revela em observações e comentários
                sobre acontecimentos do dia a dia; em avisos, frases retiradas de um livro qualquer ou trechos
                de músicas preferidas; em fotos dos eventos de família, das viagens e das crianças; em links
                para vídeos, matérias jornalísticas ou artigos assinados; em manifestações de caráter religioso,
                político ou humanitário; e assim por diante.Difícil não se recordar de Foucault, em A Escrita
                de Si (1983). Ele nos conta sobre os hupomnêmata, que podiam ser livros de contabilidade ou
                cadernetas de anotações que ―constituíam uma memória material das coisas lidas, ouvidas ou
                pensadas‖. Não eram diários íntimos e tampouco simples suportes para o exercício da memória
                — nem tinham como função guardar segredos ou revelar o desconhecido, mas justamente o
                contrário: reunir e registrar o já dito, o já lido e o já ouvido por alguém, com a finalidade de,
                em momentos posteriores de reflexão, confrontar esses fragmentos de discurso consigo mesmo
                e seus pensamentos e ideias. Os hupomnêmatase constituíam, portanto, em importantes
       auxiliares da subjetivação do discurso e, por isso mesmo, contribuíam efetivamente para a
       formação da consciência de si — gnôthi seautón ou ―conhece-te a ti mesmo‖, atribuído a
       Sócrates — um conceito caro aos gregos.Os posts dos usuários na Timeline do Facebook e
       os hupomnêmata dos gregos parecem guardar algumas semelhanças entre si. Em ambos os
       casos, os registros se configuram como um misto de pontos de vista sobre as coisas do mundo,
       de caráter particular — porém, de acesso público. Outra semelhança aparente é que, em ambos
       os casos, os registros não buscam a fidelidade à realidade, mas a fixação de um ponto de vista.
                Se para os gregos a escrita dos hupomnêmata ajudava-os a combater a stultitia (agitação da
                mente, a instabilidade da atenção), em tempos de redes sociais, em que a tal stultitia parece
                reinar entre os internautas, os posts no Facebook — aparentemente inúteis, cansativos e sem
                significado, como observam alguns — talvez possam se revelar de grande utilidade na for-
                mação de um gnôthi seautón contemporâneo (2012).


       No entanto, observa-se que nem toda prática de si prevê uma positivação
dasexperiências vividas e da relação com o outro. Ao contrário, com odecorrerdahistória, o
que presenciamos hoje é um profundo grau de massificação, espetacularização da vida, dos
fatos do cotidiano, e uma desvalorização vivenciada pelos indivíduos, cada vez mais
atomizados e dependentes de mercadorias desenhadas para a satisfação imediata e fugaz.


Outras visões das relações de subjetividade no mundo contemporâneo


       No mundo ocidental, mas claramente, consegue-se observar por todo lado políticas
desubjetivação produtoras de ―subjetividades mercadológicas‖, em que as relações com
omundo e consigo são empobrecidas, em favor dos contatos flutuantes estimulados
pelocapitalismo da informação (ROLNIK, 2005, p. 44).
O mundo contemporâneo demarcado pelo individualismo também se associa ao
consumismo, configurando aquilo que Debord (1997) chama de sociedade de consumo
ostentatório e do espetáculo, com a busca do prazer incessante e a obsessão pela imagem
perfeita, de corpos e almas, tudo isso reforçado pelas ilusões farmacológicas para regular o
mal-estar. É também uma ―cultura do narcisismo‖, segundo propõe o historiador Chistopher
Lasch (1983), em sua obra, ―A cultura do narcisismo‖, na qual ele reflete sobre o que importa
nos tempos modernos e na cultura americana, particularmente, é a exaltação gloriosa do
próprio eu, uma cultura na qual não há lugar para a existência do amor, amizade, pois o que
interessa a cada um é o gozo predatório sobre o outro e sobre o seu corpo, que é tratado como
um anônimo qualquer, sem rosto. É, então, uma forma de estruturação que aponta muito mais
para uma ―cultura de morte‖ do que para uma ―cultura de vida‖.
       Outra característica deste tempo, apontada pelo sociólogo Bauman (1998), são os
fundamentalismos e seus fascínios, que prometem isentar cada um dos sujeitos das agruras da
escolha, ofertando-lhes uma autoridade indubitavelmente suprema. Os fundamentalismos
apresentam-se como um remédio de ordem radical para esse veneno da sociedade de consumo
ostentatório, pois oferecem ao indivíduo um caminho pré-determinado a ser percorrido, sendo
então uma certeza na incerteza característica do mundo pós-moderno. Podemos ainda destacar
neste contexto um processo de estetização generalizado.          Em ―Vida para o consumo‖,
Bauman nos desenha um retrato particular do que estaria se tornando o sujeito moderno nos
dias de cultura do consumo:
              As mercadorias confessamtudo que há para ser confessado, e ainda mais - sem exigir reci-
              procidade. Mantêm-se no papel de "objeto" cartesiano - totalmentedóceis, matérias obedientes
              a serem manejadas, moldase colocadas em bom uso pelo onipotente sujeito. Pela simples
              docilidade, elevam o comprador à categoria de sujeito soberano,incontestado e desobrigado -
              uma categoria nobre e lisonjeiraque reforça o ego. Desempenhando o papel de objetos de
              maneiraimpecável e realista o bastante para convencer, os bens domercado suprem e rea-
              bastecem, de forma perpétua, a base epistemológicae praxiológica do "fetichismo da sub-
              jetividade".Como compradores, fomos adequadamente preparados pelosgerentes de marketing
              e redatores publicitários a desempenhar o papel de sujeito - um faz-de-conta que se experi-
              mentacomo verdade viva; um papel desempenhado como "vida real",mas que com o passar do
              tempo afasta essa vida real, despindo-a,nesse percurso, de todas as chances de retorno. E à
              medida quemais e mais necessidades da vida, antes obtidas com dificuldade,sem o luxo do
              serviço de intermediação proporcionado pelasredes de compras, tornam-se "comodizados" (a
              privatização dofornecimento de água, por exemplo, levando invariavelmente àágua engar-
              rafada nas prateleiras das lojas), as fundações do "fetichismoda subjetividade" são ampliadas
              e consolidadas. Paracompletar a versão popular e revista doCogitode Descartes,"Compro,
              logo sou...", deveria ser acrescentado "um sujeito". Eà medida que o tempo gasto em compras
              se torna mais longo(fisicamente ou em pensamento, em carne e osso ou eletronicamente),
              multiplicam-se as oportunidades para se fazer esseacréscimo.(2008, p. 27).
Estas proposições elaboradas por Bauman também se inserem dentro do nosso objeto
de pesquisa das novas formas de comunicação em redes sociais, e nos leva ao conhecimento
de algumas questões sobre as quais também se pode refletir, pois segundo o sociólogo, Cada
vezmais pessoas preferem comprar em websites do que em lojas. E tal fato se daria pela
enorme conveniência (entrega em domicílio) e economia de gasolina, por exemplo poderiam
compor a explicação mais imediata, mas para Bauman estas são razões mais rasas e parciais
que escondem uma tendência de esconder o confortoespiritual obtido ao se substituir um
vendedor pelo monitor , pois nas suas palavras:
              Um encontro face a face exige o tipo de habilidade social que pode inexistir ou se mostrar
              inadequado em certas pessoas, e um diálogo sempre significa se expor ao desconhecido: é
              como se tornar refém do destino. É tão mais reconfortante saber que é a minha mão, só ela, que
              segura o mouse e o meu dedo, apenas ele, que repousa sobre o botão. Nunca vai acontecer de
              um inadvertido(e incontrolado!) trejeito em meu rosto ou uma vacilante, mas reveladora
              expressão de desejo deixar vazar e trair para a pessoa do outro lado do diálogo um volume
              maior de meus pensamentos ou intenções mais íntimas do que eu estava preparado para divulgar.
              (2008, p.28)


       Os avanços tecnológicos de um mundo globalizado também reforçam todo esse
panorama, pois permitem cada vez mais aos sujeitos do mundo moderno/contemporâneo a
ilusão de suportar o tempo marcadamente acelerado, estabelecendo comunicações variadas
em qualquer lugar e momento. Assim, as novas e recentes tecnologias, como, por exemplo, a
internet e o celular, podem ter um efeito de fascínio sobre cada um, pois oferecem uma ilusão
de liberdade de escolha, que parece infinita, mas que, ao mesmo tempo, demarcam uma
ausência de intimidade, pois o sujeito pode ser localizado a qualquer tempo e em qualquer
lugar. Essa ilusão parece proteger o sujeito do medo do encontro, do íntimo e do contato com
o outro.
       A modernidade alimentou a ilusão de que tais forças da natureza, o controle do corpo e
do tempo poderia ser controlado pela tecnologia, pela ciência e pela razão. O ideal de
autossuficiência, que a liberdade e autonomia para qual o homem moderno foi educado viria a
protegê-lo, quem sabe, do incômodo do inferno que são os outros, parafraseando Sartre. O
que se vê hoje, então é a hipervalorizarão do ―cada um estar na sua‖ ou do ―estar bem aqui e
agora‖, a importância do autoconhecimento, do ―ser mais eu‖. Dezenas de terapias, religiões e
seitas, que se colocam hoje como alternativa para formar o homem para a felicidade e sucesso
(MARIN, 2004, p. 89).
Mas como dissemos anteriormente são inúmeras as propostas de debates e visões do
homem e da sua subjetividade na era moderna na trincheira do uso das novas formas de
comunicação, e postulados como o de Lucia Santaella (2011), aqui novamente nos ancorando
nesta discussão, vem reforçar um olhar psicanalítico de onde a imagem do eu sempre foi
produto de uma construção imaginária. E é essa essência que nos ilude quanto à existênciade
uma forma coerente e unificada do ser humano. Santaella nos diz que, ―para Jung, por
exemplo, o eu é um ponto de encontro de arquétipos diversos (...) Lacan (1982) demonstrou
que o ego é, na realidade, uma coleção desordenada de identificações e a ilusória unidade do
eu é uma projeção do imaginário‖ (2011, p.86). E a autora ainda no propõe a pensar que hoje
fala-se da subjetividade socialmente construída, descentrada, múltipla, inscrita na superfície
do corpo, produzida pela linguagem e muitas outras formas, como por exemplo a imagem de
subjetividade delineada por Edgar Morin (1996), ―quando este enfatiza que a incerteza
existencial é a marca do propriamente humano, do que decorre de fundar o pensamento na
ausência de fundamento e reinventar o sujeito a partir da lógica do ser vivo: bio-lógica‖
(2010. P, 87). Por fim, mas não como proposta de ter esgotado todas as possibilidades e
autores que debatem o sujeito e sua subjetividade no mundo contemporâneo, temos também
as visões de uma subjetividade polifônica proposta pelo filósofo Félix Guattari, para o qual a
subjetividade coletiva é engendrada ―por componentes semióticos irredutíveis a uma tradução
em termos de significantes estruturais e sistêmicos‖ (1992. p, 162). Então por essa sua
perspectiva não se poderia falar do sujeito em geral e de uma ―enunciação perfeitamente
individualizada, mas de componentes parciais e heterogêneos de subjetividade e de
agenciamentos coletivos de enunciação que implicam multiplicidades humanas, mas também
devires animais, vegetais, maquínicos, incorporais e infrapessoais‖ (idem. p, 162).
       Inserindo mais um pensamento que nos provoca e nos induz a fazer analises sobre as
formações possíveis das subjetividade do indivíduos encontramos também em Santaella, na
obra ―Corpo e Comunicação‖(2008), uma passagem que retoma os pensamentos de Freud
onde o psicanalista, segundo Santaella, promove a universalização do sintoma, propondo que
todas as produções do espírito são sintomas, podendo inclusive ser transmitido o conceito de
sintoma de cultura onde não há nenhuma pretensão de uma construção de inconsciente
coletivo e sim, segundo ela nos explica uma proposta do psicanalista de ficções coletivas que
conduzem a eficácia de cada inconsciente, segundo ela:
              Assim sendo, os sintomas variam em função das ficções de cada época. Sendo uma con-
              sequência do tipo de recalque próprio de cada cultura, os sintomas também variam de acordo
com a cultura, quer dizer, há sintomas novos tantos quantos forem os novos modos de gozo.
               (...) Cabe, portanto a pergunta: quais seriam os modos de gozo do mundo contemporâneo, das
               sociedades pós-modernas do capitalismo tardio? De um mundo que vem assistindo ao colapso
               irremediável do projeto civilizatório iluminista com suas propostasde emancipação humana
               através de um conjunto de valores e ideais, consubstanciados em tendências como o racio-
               nalismo, o individualismo e o universalismo . (SANTAELLA, 2008, p. 139).

       Nas avaliações de Santaella (2008), tudo faz crer que dentro de uma cultura
caracterizada pela hegemonia da ciência e da tecnologia, dominada pela força potente do
mercado que promete ilusoriamente a satisfação de todos os desejos e necessidades, e que
agora tentam agarrar até mesmo os consumidores/indivíduos das classes E dos países
periféricos, a sugestão lacaniana, para a autora carrega um grande significado de que um dos
aspectos do gozo na sociedade capitalista esteja encerrado dentro dos modelos do consumo
pelo consumo, como forma de obtenção de uma falsa satisfação, produção de subjetividades
―líquidas‖ e fugidias.


Conclusão
       Longe de presumir encerrar a discussão proposta por este artigo o que se pretende é
somente fazer um fechamento onde o que parece mais razoável diante deste debate é tentar
fazer compreender que o sujeito não é unificado, suas subjetividades são uma construção
incessante, de acordo com vários autores a análises que apresentamos. E principalmente o fato
de que o indivíduo estar inserido nas redes sociais com seus codinomes, suas fantasias e seus
múltiplos eu´s não se perfaz nenhuma grande novidade, já que no mundo do real cotidiano
face a face todos estão também sujeitos a vários papéis contextualizados de acordo com a
cena em que estão, e não existe uma separação nítida entre a realidade fora do ciberespaço
onde sim, habitam e proliferam identidades múltiplas e linguagens múltiplas que se
desenrolam num processo que se constrói na vivência de cada um.



Bibliografia
BAUMAN, Zigmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

BAUMAN, Zigmunt. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

________ Vida para consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

________. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro:
EdiçõesGraal, 1999.

__________ A ‐ ―A ética do cuidado de si como prática da liberdade‖. In. Ditos e escritos V

__________ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, pp.
264‐287.

__________ B ‐ ―Uma estética da existência‖. In. Ditos e escritos V – ética, sexualidade
epolítica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, pp. 288‐293.

__________ C ‐ ―A escrita de si‖. In. Ditos e escritos V – ética, sexualidade e política. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2006, pp. 144‐162.

FAYNA, Patrícia Fonseca. http://sociotramas.wordpress.com/2012/06/25/os-hupomnemata-e-
os-posts-do-facebook/OS HUPOMNÊMATA E OS POSTS DO FACEBOOK. Publicado
por Sociotramas, em 25 de junho de 2012./> Acesso em 25/07/2012.

GUATARRI, Félix e ROLNIK, Suely. Micropolíticas, cartografias do desejo. Rio de Janeiro:
Vozes, 2005.

LASCH, Cristhopher. ―A cultura do narcisismo. A vida americana numa era de esperanças em
declínio. Rio de Janeiro: Imago, 1983.

MARIN, Isabel da Silva Kahn. ―Sofrimento e violência na contemporaneidade: destinos
subjetivos‖. In: SANDLER, Paulo Cesar (Org.). Leituras psicanalíticas da violência. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. p. 85-100.

NEGRI, Antônio. ―Infinitude da comunicação/Finitude do desejo‖. In: Imagem máquina. A
era das tecnologias do virtual. André Parente (orgs), 2008, São Paulo: Editora 34. Pp. 175-
176

ROLNIK, Suely. Cartografia Sentimental. Transformações contemporâneas do desejo.
SãoPaulo: Estação Liberdade, 1989

Santaella, Lucia. Linguagem líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Comunicação, 2011.
___________. Corpo e comunicação: sintoma de cultura. São Paulo: Paulus, 2008.

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Subjetividades e identidades múltiplas na era da comunicação digital e das redes sociais.

  • 1. AS SUBJETIVIDADES E AS IDENTIDADES MÚLTIPLAS NA ERA DA COMUNICAÇÃO DIGITAL E DAS REDES SOCIAIS. Luciana Prado1 Resumo Faz sentido neste momento em que se vive no século XXI, momento de encurtamento de distâncias na era da tecnologia das redes de computadores, da internet, da globalização e da requisição profunda de todos os sentidos humanos no mundo das cidades modernas e cheias de luzes e sons e múltiplas formas de atração de interesse de um indivíduo qualquer, citar uma frase que se tornou uma referência recente, mas profundamente instigante, do sociólogo polonês Zygmund Bauman, em Modernidade Liquida (2001) na qual ele diz: ―Ter uma identidade fixa é hoje, neste mundo fluido, uma decisão de certo modo suicida‖. O que propõe este artigo é discutir os conceitos de alguns autores que tratam da questão da formação das subjetividades e das identidades, com o foco principal na participação da mídia em geral neste processo contínuo de produção de subjetividades e da referência de identidade dos indivíduos que se inserem nas redes sociais para buscar algum modo de compartilhamento de sentimentos, emoções, e visibilidade, esta completamente ligada ao seu contrário,a possibilidade de vigilância licenciada pelo indivíduo. Palavras chave: subjetividades, identidade, redes sociais, contemporaneidade. Considerações sobrea relação do indivíduo com a mídia e a formação das suas identidades. Como o filósofo e político italiano, Antônio Negri, escreve em um de seus artigos ―A Infinitude da comunicação e a finitude do desejo‖, parte da obra Imagem-máquina: a era das tecnologias do virtual, organizado por André Parente, ―a relação mídia-espectador nunca foi tão satanizada, e isso só faz piorar. Não só isso se pretendeu dar da mensagem da mídia uma 1 Luciana Prado, mestranda em Mídia e Cultura, e-mail: lserenini@gmail.com. Trabalho apresentado como conclusão da disciplina Estudos Avançados em Mídia e Cultura, professora Dª Suely Gomes.
  • 2. imagem de uma rajada de metralhadora que se abate sobre o espectador-alvo miserável e o aniquila‖ (2008, p. 175). No contexto de seu pensamento Negri nega esse olhar, para ele já muito superado, de uma esquerda advinda da escola crítica de Frankfurt, que não deixa de ter muita razão em várias de suas críticas, adverte ele, mas que não pode aceitar que o indivíduo não é uma massa amorfa, um bando de zumbis que deglutem tudo o que lhes é imposto pela mídia. Continua ele, ―É verdade que não somos insensíveis à degradação do gosto e do saber coletivo, nem tampouco à colonização dos universos de vivência. Além do mais, parece-nos evidente que a máquina da mídia não produz em absoluto efeitos com toda inocência‖ (2008, p.176). Ele concorda que no sistema atual a mídia ainda produz conscientemente códigos ―infectos e epidêmicos‖, suas palavras que impedem de certo modo a produção de mecanismos simbólicos de subjetividade, que induz em muitos momentos a uma seleção estratégica de conteúdos de informação que são reduções à mera mercadoria e à futilidade. Mas, reflete também sobre o fato de os seres humanos não são unidimensionais, e por isso mesmo não podemos crer que o indivíduo não tenha condições próprias de criar mecanismos de fuga a tais estratégias midiáticas, assim como não possa produzir suas subjetividades que se apoiem em uma autopoiese, na operatividade criativa, coletiva que também ajam no mundo da comunicação, formando caminhos de resistência dentro do próprio sistema de comunicação e da mídia. Um dos caminhos que ele, e outros autores acreditam que possa se dar essa ―liberdade‖ e a formação de novas subjetividades passa pelo contexto de máquinas e trabalho, aqui considerados como instrumentos cognitivos e de autoconsciência poiética, de novo ambiente e de nova cooperação. Para ele o trabalho humano de produção de uma nova subjetividade ganha toda sua consciência dentro desta nossa era e do horizonte virtual, aberto cada vez mais pelas tecnologias da comunicação, onde ele diz: ―Estamos entrando numa era ‗pós-mídia‘, de consciências comunicantes, dos indivíduos cooperantes se portando capaz de levar a cabo, radicalmente, a transformação social, sem outro limite senão a finitude de nosso desejo. Uma finitude que tem como único obstáculo a in- finitude da tarefa‖ (2008, p. 175). A visão de Negri se apresenta bastante otimista, principalmente partindo de um filósofo marxista. Mas é, de certa forma corroborada por Santaella ao discutir um dos temas mais frequentes entre as pessoas que estão refletindo sobre as questões que emergem da cibercultura, que é a questão das identidades múltiplas que o usuário do ciberespaço pode desenvolver em seus diversos ambientes. E isso ocorre porque, segundo ela, longe de ser uma
  • 3. comunicação linear entre emissor e receptor, a relação entre o eu e o (s) outro (s) fica permeada de ambiguidades que são geradas por diversos fatores, principalmente pela facilidade do anonimato, pela construção múltipla de identidades nos vários espaços que a internet propicia. Mas o que Lúcia Santaella faz, no seu livro ―Linguagens líquidas na era da mobilidade‖ (2011) é também discutir esta noção de identidade, tendo como vista desconstruir a crença de que a multiplicidade identitária só ocorra no ciberespaço, em suas palavras: ―Longe disso, identidades são sempre múltiplas. A ideia de que a identidade possa ser con- sistentemente uma e engessada sustenta-se sobre uma noção de sujeito e subjetividade herdada do cartesianismo e já vem sendo colocada em crise pela filosofia e pela psicanálise há pelo menos um século. Se as identidades são sempre múltiplas, então porque o tema identidade tornou-se tão proeminente na cultura digital? O que os ambientes ciberespaciais modificaram em relação ao tema?‖ (2011, p.83-84). Partindo deste ponto vamos investigar um pouco mais a questão da noção de identidades, das subjetividades partindo de olhares do filósofo francês Michel Foucault e posteriormente por olhares da psicanálise, pois como foi dito por Santaella, já há pelo menos um século estes temas já fugiram da ideia do homem como sujeito racional, reflexivo, senhor dos comandos de seus pensamentos e ações como nos pressupostos Kantianos, hegelianos, fenomenológicos e até dos existencialistas. Contribuições de Foucault para uma visão do indivíduo e sua subjetividade Já na obra Vigiar e Punir Michel Foucault fornece aos leitores uma análise histórico- filosóficaprofunda sobre a estruturação de organização da sociedade Ocidental nos últimos séculos. Através de uma análise que tem como foco o sistema punitivo-legal ao longo dos séculos. Porém norteado pela construção histórica das punições submetidas ao corpo durante os séculos e narrando estes fatos ele chegaa história mais recente da modernidade, concluindo que por meios mais requintados se chega ao sistema do panoptismo como forma devigilância e controle sobre os corpos não só nas prisões, do sistema carcerário, mas também do funcionamento das fábricae dos sistemas escolares, por exemplo. Para Foucault, a históriado Ocidente é uma história que pode ser reconstruída sob a ótica do binômio ‗vigiar e punir‘. Dentro do contexto sob o qual o autor estruturou esta temática que poderia ser demonstrada em qualquer âmbito do cotidianohistórico, mas que nesta obra está mais diretamente relacionada com a dimensão judiciária, ele mesmo deixa claro o objetivo de seu
  • 4. livro: ―uma história correlativa da alma moderna e deum novo poder de julgar; uma genealogia do atual complexo científico-judiciário onde o poder depunir se apoia, recebe suas justificações e suas regras, estende seus efeitos e mascara suaexorbitante singularidade‖ (p.23). Mas na concepção da nossa temática nos interessa lançar um olhar sobre o que ele estabelece na terceira parte do livro intitulada de ―Disciplina‖ (p. 117-187) que constitui por assim dizer ocoração da demonstração do novo sistema punitivo engendrado a partir do século XVIII. Aqui neste ponto ele de descreve as facetas ‗modernas‘ da criaçãoda disciplina como forma de inscrever na representação o ideário de ‗vigiar e punir‘. No capítulo I (p. 117-142), o autor relata as ‗modernas‘ formas e tecnologias para criar ―corpos dóceis‖. Uma dos requisitos seria a ―arte das distribuições‖, isto é,distribuições de espaço e de corpos no espaço. Deve haver uma tendência a criar a disciplina apartir da arte de distribuição. Um lugar certo para cada corpo, as filas, a ordem, as senhas que ainda conhecemos tão bem no nosso mundo moderno. Um segundo ponto é o controle da atividade dos corposdistribuídos no espaço, ou seja, o que se pode fazer e onde, e principalmente o que não se pode ou deve fazer diante da sociedade, o que também se aprende desde cedo. A organização das gêneses e a composição das forças também fazemparte deste ideário de controle social, ou seja, quem manda e quem detém o poder, por exemplo, deve estar claro dentro do esquema de controle e vigilância da sociedade moderna. Mas adiante, o autor trata dos ―recursos para o bom adestramento‖ (p. 143-162). E neste ponto deixa claro que o melhor caminho para o ‗bom adestramento‘ é a vigilância hierárquica, tão representativa nos modelos de todo funcionamento da sociedade, desde a família, com o pai e mãe, até as regras impostas pelo Estado a população em geral, que também podemos citar como exemplos que se encaixam na rotina da vida cotidiana moderna e contemporânea. O autor mesmodemonstra isso noexemplo de escolas e também de fábricas, com a distribuição de micro-poderes de vigilânciaautorizados por uma autoridade hierárquica superior. Foucault reflete que toda lógica militar reside sobre esseprincípio. A sanção ―normalizadora‖, que deve ser genérica, bem como o ―exame‖, aqui subentendido como as provas, seleções, que se configuram em outrasformas utilizadas para um bom adestramento dos corpos. ―O exame combina as técnica dahierarquia que vigia e as da sanção que normaliza‖ (p. 154). Neste ponto ele nos diz que ―a escola torna-se uma espécie deaparelho de exame ininterrupto que acompanha em todo o seu comprimento a operação doensino‖ (p.
  • 5. 155). E por mais estranho que possa parecer é na vigilância e na normalização quese opera uma ‗individualização‘. Mas de modo algum é uma individualização ‗ascendente‘, que projeta a pessoa para o cenário principal, de uma criatividade e modos de subjetividades próprios. Em cenário de regime disciplinar, a individualização, ao contrário, é descendente à medida que o poder setorna mais anônimo e mais funcional. Os indivíduos sobre quem se exerce o poder tendem a ser maisfortemente individualizados, passando a se medirem uns aos outros, por medidas comparativas que têm a ―norma‖ como referência,e não por genealogias que dão os ancestrais como pontos de referência; mais por ―desvios quepor proezas‖ (p. 160-1). Se a visão do filósofo francês sobre a subjetividade dos indivíduos é um tema debatido e controverso em muitos momentos por outros autores, em decorrência do fato de ter sido trabalhado de modo diferente em outras obras, tome-se como referência o modelo por ele exposto em Vigiar e Punir, onde a sensação é a de que o indivíduo torna-se quase um robô das regras sociais que lhe são impostas. Do contexto desta obra, que traça uma reflexão ampla da sociedade, se pode buscar uma ligação para tentar compreender como e porque no mundo contemporâneo e dentro do nosso estudo sobre as relações de exposição e diálogos nas redes e mídias sociais, algumas das considerações do filósofo francês ainda estão vivas. Sua ideia do panóptico que é era a imagem deum edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel dividia-se em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia, segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário a trabalhar, um prisioneiro a ser corrigido, um louco tentando corrigir a sua loucura, etc. Na torre havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nenhum ponto de sombra e, portanto, tudo o que o indivíduo fazia estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de persianas, de modo a poder ver tudo sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo. Na discussão da temática dos homens modernos inseridos e imersos nas atividades do ciberespaço, muitos questionamentos são levantados sobre a possibilidade de que o homem contemporâneo esteja ainda mais vigiado que em todas as outras épocas. Isto, porquena era da comunicação mediada por diversas tecnologias de rede, o homem em geral festeja sua liberdade, mas acaba se expondo tranquilamente aos regimes de vigilância tão previsíveis dentro das regras da Internet, por exemplo. Seus gostos, seus desejos, suas memórias, toda a
  • 6. sua vida enfim fica gravada, ―para todo o sempre‖, uma vez inseridos na rede mundial de computadores. As mídias sociais, como o Faceboock, por exemplo, a cada curtir de um indivíduo vai traçando seu perfil ―mercadológico‖e o repassando às empresas parceiras, prontas para ampliar o leque de desejos do indivíduo, fornecendo a ele mais e mais daquilo que ele deve e deseja consumir. Então, não seria incorreto suscitar a ideia de que estariam todos sendo vigiados, observados, e principalmente, facilmente rastreados pelos IP´s -Internet Protocolo, que é o protocolo base de toda a Internet, que faz o roteamento de pacotes entre sistemas TCP/IP dos computadores, que pode em minutos dizer a exata localização do usuário e o dono da máquina que processou qualquer tipo de entrada de informação. Já nas suas últimas obras, prioritariamente de um modo aprofundado nos volumes que tratam da história da sexualidade, do saber, da ética e do cuidado de si como prática de liberdade, o autor vai tratar das formas de produção de subjetividades e das formas de estetização da existência, que darão novos contornos e possibilidades de ―fuga‖ aos regimes de vigiar e punir, o que para a contemporaneidade passou a ficar cada vez mais difícil, frente a tantas câmeras, e mesmo a facilidade com que muitos desejam mesmo se expor diante do outro, em tempos de big-brother, geolocalização instantânea, e tantos outros recursos que permitem que o indivíduo esteja o tempo todo sendo monitorado, na maioria dos casos conscientemente e por vontade própria. Michel Foucault vai buscar na experiência histórica greco-romana os conceitos acerca das estéticas da existência, como estilos de vida diferenciados. Para ele, nas civilizações antigas greco‐romanas, concentrando‐se nos anos I e II AC., haveria uma experiência pautada na afirmação da liberdade e na ética, com o intuito de criação de uma existência boa e bela (FOUCAULT, 2006 ‐ A: p.268). Haveria aí prescrições e cânones coletivos, porém sem a constituição de um código de regras como viria a se instaurar no cristianismo, cumprido por meio da obediência a uma vontade soberana de Deus. Com o cristianismo, vimos se inaugurar lentamente, progressivamente, uma mudança em relação às morais antigas, que eram essencialmente na Antiguidade, a vontade de ser um sujeito moral, a busca de uma ética daexistência era principalmente um esforço para afirmar a sua liberdade epara dar à sua própria vida certa forma na qual era possível sereconhecer ser reconhecido pelos outros, e na qual a própria posteridadepodia encontrar um exemplo. (FOUCAULT, 2006 - B:p.289-290). Toda essaabordagem constituiuma perspectiva ontológica que diz respeito acomo os sujeitos são constituídos em relações de poder e de saber, e também narelação consigo. Para o
  • 7. pensador, é na dimensão ética expressa na relação de si paraconsigo que o indivíduo pode confrontar o poder e criar um modo de vida mais livre eintensificado. Governar a si mesmo, as suas paixões desenfreadas, preceitos muito significativos naautarquia antiga, define‐se então pela capacidadede dar forma a si próprio e de modular seus próprios valores, não se submetendo a umamoral dominante e normalizadora. Mas é relevante lembrar que Foucault, ao tratar deprocessos culturais e históricos, sempre tinha no horizonte a discussão sobre a própriaatualidade: a questão do presente. No momento em que ele investiga as estéticas da existência naexperiência greco‐romana, quer marcar uma diferença, um estranhamento em relação ao presente, não faz um estudo da antiguidade somente como um intuito historicista. Ele deixa claro que o anseio de constituir a si mesmo como um indivíduo livre, umcidadão da polis, é um dos objetivos dessa experiência antiga. Em linhas gerais ele postula que esse objetivo éconstituído por práticas com uma intenção de transformação e atenção a si mesmochamadas por Foucault de técnicas de si. Consistiam em áreas de atenção como aalimentação ‐ a dietética, as relações amorosas ‐ a afrodisia, a elaboração de si pelaescrita, como os cadernos de anotação chamados Hupomnêmatas, o falar francamente ‐como a parrésia cínica (FOUCAULT, 2006 ‐ C, p.147 e 2009,p.248). Todas estas ações, que seriam elementos chave nas relações greco- romanas,estavamdestinadas à constituição de um cidadão e, nesse sentido, as artes da existênciacontemplavam o cuidado com o outro, a constituição de si por meio de relações deamizade, de amor e de aprendizado ‐é possível que o termo ―cuidado de si‖ possa parecererroneamente aos ouvidos do mundo contemporâneo como uma espécie de egocentrismo. Mas trata‐se para Foucault de investigar outra relação possívelcom as normas, as prescrições e com a verdade – ao mesmo tempo lembrarmos queolhamos ainda dentro da tradição ocidental – fazendo surgir um espaço diferenciado deconstrução de si. Neste ponto também é interessante observar considerações atuais sobre o que foi observado por Foucault na forma de registro e vivência das sociedades antigas e o que vem ocorrendo no mundo da comunicação mediada por redes de computadores e, particularmente pelas redes sociais. Na visão do grupo Sociotramas, que é um grupo de pesquisa dedicado ao estudo das redes sociais na internet e temas circundantes, e quereúne pesquisadores ligados ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica e ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP, encontra-seuma
  • 8. reflexão interessante sobre uma possível ligação do tema Hupomnêmatas e a criação da timeline no Faceboock, em meados de setembro de 2011. Na avaliação feita pela autora do post, Patrícia Fonseca Fayana, em seu comentário publicado em junho de 2012, encontramos a seguinte declaração: Nos registros dos usuários, o tempo subjetivo e afetivo se revela em observações e comentários sobre acontecimentos do dia a dia; em avisos, frases retiradas de um livro qualquer ou trechos de músicas preferidas; em fotos dos eventos de família, das viagens e das crianças; em links para vídeos, matérias jornalísticas ou artigos assinados; em manifestações de caráter religioso, político ou humanitário; e assim por diante.Difícil não se recordar de Foucault, em A Escrita de Si (1983). Ele nos conta sobre os hupomnêmata, que podiam ser livros de contabilidade ou cadernetas de anotações que ―constituíam uma memória material das coisas lidas, ouvidas ou pensadas‖. Não eram diários íntimos e tampouco simples suportes para o exercício da memória — nem tinham como função guardar segredos ou revelar o desconhecido, mas justamente o contrário: reunir e registrar o já dito, o já lido e o já ouvido por alguém, com a finalidade de, em momentos posteriores de reflexão, confrontar esses fragmentos de discurso consigo mesmo e seus pensamentos e ideias. Os hupomnêmatase constituíam, portanto, em importantes auxiliares da subjetivação do discurso e, por isso mesmo, contribuíam efetivamente para a formação da consciência de si — gnôthi seautón ou ―conhece-te a ti mesmo‖, atribuído a Sócrates — um conceito caro aos gregos.Os posts dos usuários na Timeline do Facebook e os hupomnêmata dos gregos parecem guardar algumas semelhanças entre si. Em ambos os casos, os registros se configuram como um misto de pontos de vista sobre as coisas do mundo, de caráter particular — porém, de acesso público. Outra semelhança aparente é que, em ambos os casos, os registros não buscam a fidelidade à realidade, mas a fixação de um ponto de vista. Se para os gregos a escrita dos hupomnêmata ajudava-os a combater a stultitia (agitação da mente, a instabilidade da atenção), em tempos de redes sociais, em que a tal stultitia parece reinar entre os internautas, os posts no Facebook — aparentemente inúteis, cansativos e sem significado, como observam alguns — talvez possam se revelar de grande utilidade na for- mação de um gnôthi seautón contemporâneo (2012). No entanto, observa-se que nem toda prática de si prevê uma positivação dasexperiências vividas e da relação com o outro. Ao contrário, com odecorrerdahistória, o que presenciamos hoje é um profundo grau de massificação, espetacularização da vida, dos fatos do cotidiano, e uma desvalorização vivenciada pelos indivíduos, cada vez mais atomizados e dependentes de mercadorias desenhadas para a satisfação imediata e fugaz. Outras visões das relações de subjetividade no mundo contemporâneo No mundo ocidental, mas claramente, consegue-se observar por todo lado políticas desubjetivação produtoras de ―subjetividades mercadológicas‖, em que as relações com omundo e consigo são empobrecidas, em favor dos contatos flutuantes estimulados pelocapitalismo da informação (ROLNIK, 2005, p. 44).
  • 9. O mundo contemporâneo demarcado pelo individualismo também se associa ao consumismo, configurando aquilo que Debord (1997) chama de sociedade de consumo ostentatório e do espetáculo, com a busca do prazer incessante e a obsessão pela imagem perfeita, de corpos e almas, tudo isso reforçado pelas ilusões farmacológicas para regular o mal-estar. É também uma ―cultura do narcisismo‖, segundo propõe o historiador Chistopher Lasch (1983), em sua obra, ―A cultura do narcisismo‖, na qual ele reflete sobre o que importa nos tempos modernos e na cultura americana, particularmente, é a exaltação gloriosa do próprio eu, uma cultura na qual não há lugar para a existência do amor, amizade, pois o que interessa a cada um é o gozo predatório sobre o outro e sobre o seu corpo, que é tratado como um anônimo qualquer, sem rosto. É, então, uma forma de estruturação que aponta muito mais para uma ―cultura de morte‖ do que para uma ―cultura de vida‖. Outra característica deste tempo, apontada pelo sociólogo Bauman (1998), são os fundamentalismos e seus fascínios, que prometem isentar cada um dos sujeitos das agruras da escolha, ofertando-lhes uma autoridade indubitavelmente suprema. Os fundamentalismos apresentam-se como um remédio de ordem radical para esse veneno da sociedade de consumo ostentatório, pois oferecem ao indivíduo um caminho pré-determinado a ser percorrido, sendo então uma certeza na incerteza característica do mundo pós-moderno. Podemos ainda destacar neste contexto um processo de estetização generalizado. Em ―Vida para o consumo‖, Bauman nos desenha um retrato particular do que estaria se tornando o sujeito moderno nos dias de cultura do consumo: As mercadorias confessamtudo que há para ser confessado, e ainda mais - sem exigir reci- procidade. Mantêm-se no papel de "objeto" cartesiano - totalmentedóceis, matérias obedientes a serem manejadas, moldase colocadas em bom uso pelo onipotente sujeito. Pela simples docilidade, elevam o comprador à categoria de sujeito soberano,incontestado e desobrigado - uma categoria nobre e lisonjeiraque reforça o ego. Desempenhando o papel de objetos de maneiraimpecável e realista o bastante para convencer, os bens domercado suprem e rea- bastecem, de forma perpétua, a base epistemológicae praxiológica do "fetichismo da sub- jetividade".Como compradores, fomos adequadamente preparados pelosgerentes de marketing e redatores publicitários a desempenhar o papel de sujeito - um faz-de-conta que se experi- mentacomo verdade viva; um papel desempenhado como "vida real",mas que com o passar do tempo afasta essa vida real, despindo-a,nesse percurso, de todas as chances de retorno. E à medida quemais e mais necessidades da vida, antes obtidas com dificuldade,sem o luxo do serviço de intermediação proporcionado pelasredes de compras, tornam-se "comodizados" (a privatização dofornecimento de água, por exemplo, levando invariavelmente àágua engar- rafada nas prateleiras das lojas), as fundações do "fetichismoda subjetividade" são ampliadas e consolidadas. Paracompletar a versão popular e revista doCogitode Descartes,"Compro, logo sou...", deveria ser acrescentado "um sujeito". Eà medida que o tempo gasto em compras se torna mais longo(fisicamente ou em pensamento, em carne e osso ou eletronicamente), multiplicam-se as oportunidades para se fazer esseacréscimo.(2008, p. 27).
  • 10. Estas proposições elaboradas por Bauman também se inserem dentro do nosso objeto de pesquisa das novas formas de comunicação em redes sociais, e nos leva ao conhecimento de algumas questões sobre as quais também se pode refletir, pois segundo o sociólogo, Cada vezmais pessoas preferem comprar em websites do que em lojas. E tal fato se daria pela enorme conveniência (entrega em domicílio) e economia de gasolina, por exemplo poderiam compor a explicação mais imediata, mas para Bauman estas são razões mais rasas e parciais que escondem uma tendência de esconder o confortoespiritual obtido ao se substituir um vendedor pelo monitor , pois nas suas palavras: Um encontro face a face exige o tipo de habilidade social que pode inexistir ou se mostrar inadequado em certas pessoas, e um diálogo sempre significa se expor ao desconhecido: é como se tornar refém do destino. É tão mais reconfortante saber que é a minha mão, só ela, que segura o mouse e o meu dedo, apenas ele, que repousa sobre o botão. Nunca vai acontecer de um inadvertido(e incontrolado!) trejeito em meu rosto ou uma vacilante, mas reveladora expressão de desejo deixar vazar e trair para a pessoa do outro lado do diálogo um volume maior de meus pensamentos ou intenções mais íntimas do que eu estava preparado para divulgar. (2008, p.28) Os avanços tecnológicos de um mundo globalizado também reforçam todo esse panorama, pois permitem cada vez mais aos sujeitos do mundo moderno/contemporâneo a ilusão de suportar o tempo marcadamente acelerado, estabelecendo comunicações variadas em qualquer lugar e momento. Assim, as novas e recentes tecnologias, como, por exemplo, a internet e o celular, podem ter um efeito de fascínio sobre cada um, pois oferecem uma ilusão de liberdade de escolha, que parece infinita, mas que, ao mesmo tempo, demarcam uma ausência de intimidade, pois o sujeito pode ser localizado a qualquer tempo e em qualquer lugar. Essa ilusão parece proteger o sujeito do medo do encontro, do íntimo e do contato com o outro. A modernidade alimentou a ilusão de que tais forças da natureza, o controle do corpo e do tempo poderia ser controlado pela tecnologia, pela ciência e pela razão. O ideal de autossuficiência, que a liberdade e autonomia para qual o homem moderno foi educado viria a protegê-lo, quem sabe, do incômodo do inferno que são os outros, parafraseando Sartre. O que se vê hoje, então é a hipervalorizarão do ―cada um estar na sua‖ ou do ―estar bem aqui e agora‖, a importância do autoconhecimento, do ―ser mais eu‖. Dezenas de terapias, religiões e seitas, que se colocam hoje como alternativa para formar o homem para a felicidade e sucesso (MARIN, 2004, p. 89).
  • 11. Mas como dissemos anteriormente são inúmeras as propostas de debates e visões do homem e da sua subjetividade na era moderna na trincheira do uso das novas formas de comunicação, e postulados como o de Lucia Santaella (2011), aqui novamente nos ancorando nesta discussão, vem reforçar um olhar psicanalítico de onde a imagem do eu sempre foi produto de uma construção imaginária. E é essa essência que nos ilude quanto à existênciade uma forma coerente e unificada do ser humano. Santaella nos diz que, ―para Jung, por exemplo, o eu é um ponto de encontro de arquétipos diversos (...) Lacan (1982) demonstrou que o ego é, na realidade, uma coleção desordenada de identificações e a ilusória unidade do eu é uma projeção do imaginário‖ (2011, p.86). E a autora ainda no propõe a pensar que hoje fala-se da subjetividade socialmente construída, descentrada, múltipla, inscrita na superfície do corpo, produzida pela linguagem e muitas outras formas, como por exemplo a imagem de subjetividade delineada por Edgar Morin (1996), ―quando este enfatiza que a incerteza existencial é a marca do propriamente humano, do que decorre de fundar o pensamento na ausência de fundamento e reinventar o sujeito a partir da lógica do ser vivo: bio-lógica‖ (2010. P, 87). Por fim, mas não como proposta de ter esgotado todas as possibilidades e autores que debatem o sujeito e sua subjetividade no mundo contemporâneo, temos também as visões de uma subjetividade polifônica proposta pelo filósofo Félix Guattari, para o qual a subjetividade coletiva é engendrada ―por componentes semióticos irredutíveis a uma tradução em termos de significantes estruturais e sistêmicos‖ (1992. p, 162). Então por essa sua perspectiva não se poderia falar do sujeito em geral e de uma ―enunciação perfeitamente individualizada, mas de componentes parciais e heterogêneos de subjetividade e de agenciamentos coletivos de enunciação que implicam multiplicidades humanas, mas também devires animais, vegetais, maquínicos, incorporais e infrapessoais‖ (idem. p, 162). Inserindo mais um pensamento que nos provoca e nos induz a fazer analises sobre as formações possíveis das subjetividade do indivíduos encontramos também em Santaella, na obra ―Corpo e Comunicação‖(2008), uma passagem que retoma os pensamentos de Freud onde o psicanalista, segundo Santaella, promove a universalização do sintoma, propondo que todas as produções do espírito são sintomas, podendo inclusive ser transmitido o conceito de sintoma de cultura onde não há nenhuma pretensão de uma construção de inconsciente coletivo e sim, segundo ela nos explica uma proposta do psicanalista de ficções coletivas que conduzem a eficácia de cada inconsciente, segundo ela: Assim sendo, os sintomas variam em função das ficções de cada época. Sendo uma con- sequência do tipo de recalque próprio de cada cultura, os sintomas também variam de acordo
  • 12. com a cultura, quer dizer, há sintomas novos tantos quantos forem os novos modos de gozo. (...) Cabe, portanto a pergunta: quais seriam os modos de gozo do mundo contemporâneo, das sociedades pós-modernas do capitalismo tardio? De um mundo que vem assistindo ao colapso irremediável do projeto civilizatório iluminista com suas propostasde emancipação humana através de um conjunto de valores e ideais, consubstanciados em tendências como o racio- nalismo, o individualismo e o universalismo . (SANTAELLA, 2008, p. 139). Nas avaliações de Santaella (2008), tudo faz crer que dentro de uma cultura caracterizada pela hegemonia da ciência e da tecnologia, dominada pela força potente do mercado que promete ilusoriamente a satisfação de todos os desejos e necessidades, e que agora tentam agarrar até mesmo os consumidores/indivíduos das classes E dos países periféricos, a sugestão lacaniana, para a autora carrega um grande significado de que um dos aspectos do gozo na sociedade capitalista esteja encerrado dentro dos modelos do consumo pelo consumo, como forma de obtenção de uma falsa satisfação, produção de subjetividades ―líquidas‖ e fugidias. Conclusão Longe de presumir encerrar a discussão proposta por este artigo o que se pretende é somente fazer um fechamento onde o que parece mais razoável diante deste debate é tentar fazer compreender que o sujeito não é unificado, suas subjetividades são uma construção incessante, de acordo com vários autores a análises que apresentamos. E principalmente o fato de que o indivíduo estar inserido nas redes sociais com seus codinomes, suas fantasias e seus múltiplos eu´s não se perfaz nenhuma grande novidade, já que no mundo do real cotidiano face a face todos estão também sujeitos a vários papéis contextualizados de acordo com a cena em que estão, e não existe uma separação nítida entre a realidade fora do ciberespaço onde sim, habitam e proliferam identidades múltiplas e linguagens múltiplas que se desenrolam num processo que se constrói na vivência de cada um. Bibliografia BAUMAN, Zigmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. BAUMAN, Zigmunt. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. ________ Vida para consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. ________. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001
  • 13. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: EdiçõesGraal, 1999. __________ A ‐ ―A ética do cuidado de si como prática da liberdade‖. In. Ditos e escritos V __________ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, pp. 264‐287. __________ B ‐ ―Uma estética da existência‖. In. Ditos e escritos V – ética, sexualidade epolítica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, pp. 288‐293. __________ C ‐ ―A escrita de si‖. In. Ditos e escritos V – ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, pp. 144‐162. FAYNA, Patrícia Fonseca. http://sociotramas.wordpress.com/2012/06/25/os-hupomnemata-e- os-posts-do-facebook/OS HUPOMNÊMATA E OS POSTS DO FACEBOOK. Publicado por Sociotramas, em 25 de junho de 2012./> Acesso em 25/07/2012. GUATARRI, Félix e ROLNIK, Suely. Micropolíticas, cartografias do desejo. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. LASCH, Cristhopher. ―A cultura do narcisismo. A vida americana numa era de esperanças em declínio. Rio de Janeiro: Imago, 1983. MARIN, Isabel da Silva Kahn. ―Sofrimento e violência na contemporaneidade: destinos subjetivos‖. In: SANDLER, Paulo Cesar (Org.). Leituras psicanalíticas da violência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. p. 85-100. NEGRI, Antônio. ―Infinitude da comunicação/Finitude do desejo‖. In: Imagem máquina. A era das tecnologias do virtual. André Parente (orgs), 2008, São Paulo: Editora 34. Pp. 175- 176 ROLNIK, Suely. Cartografia Sentimental. Transformações contemporâneas do desejo. SãoPaulo: Estação Liberdade, 1989 Santaella, Lucia. Linguagem líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Comunicação, 2011. ___________. Corpo e comunicação: sintoma de cultura. São Paulo: Paulus, 2008.