Desenvolvendo uma Abordagem Estratégica para a Gestão de Portfólio.pptx
Filosofia em-pronto
1. Vestibulares – PRISE – ENEM - Concursos
A educação desenha o futuro – Ensino Médio – Ética: filosofia moral – Prof. Ulisses Vasconcelos
Cid. Nova I, WE 9A, nº121, Coqueiro.
Fone: (091) 3235-1844
*ATENÇÃO:CopiaréCRIME.Art.184docódigoPenaleLein°5998/73
CAPÍTULO 1
A DIFERENÇA ENTRE MORAL E ÉTICA
Os conceitos de Moral e Ética, embora
sejam diferentes, são com freqüência usados
como sinônimos. Moral vem do latim mos ou
moris, que significa “maneira de se comportar
regulada pelo uso”; daí relacionarmos o termo
“moral” com “costume”, e de moralis, morale,
adjetivo referente ao que é “relativo aos
costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o
mesmo significado de “caráter”, “costume”. O
sentido que os antigos gregos atribuíam ao
homem de bons costumes era o mesmo do homem
de boa índole, de bom caráter. Por isso, os termos
Moral e Ética se confundem, mas guardam entre
si certas diferenças.
Os costumes, porque são anteriores ao
nosso nascimento e formam o tecido da sociedade
em que vivemos, são considerados
inquestionáveis e quase sagrados (as religiões
tendem a mostrá-los como tendo sido ordenados
pelos deuses, na origem dos tempos). Ora, a
palavra costume se diz, em grego, ethos – donde,
ética – e, em latim, moris – donde, moral. Em
outras palavras, ética e moral referem-se ao
conjunto de costumes tradicionais de uma30
sociedade e que, como tais, são considerados
valores e obrigações para a conduta de seus
membros.
A língua grega possui uma outra palavra
que precisa ser escrita em português com as
mesmas letras que a palavra que significa
costume: ethos. Em grego, existem duas vogais
para pronunciar e grafar nossa vogal e: uma vogal
breve, chamada epsilon, e uma vogal longa,
chamada eta. Ethos, escrita com a vogal longa,
significa costume; porém, escrita com a vogal
breve, significa caráter, índole natural,
temperamento, conjunto das disposições físicas e
psíquicas de uma pessoa. Nesse segundo sentido,
ethos se refere às características pessoais de cada
um que determina quais virtudes e quais vícios
cada um é capaz de praticar. Referem-se,
portanto, ao senso moral e à consciência ética
individuais.
Moral é o conjunto das regras ou normas
de conduta admitidas por uma sociedade ou por
um grupo de homens em determinada época.
Assim, o homem moral é aquele que age bem ou
mal na medida em que acata ou transgride as
regras do grupo.
A Moral, ao mesmo tempo que é o60
conjunto de regras que determina como deve ser o
comportamento dos indivíduos do grupo, é
também a livre e consciente aceitação das normas.
Isso significa que o ato só é propriamente moral
se passar pelo crivo da aceitação pessoal da
norma. A exterioridade da moral contrapõe-se à
necessidade da interioridade, da adesão mais
íntima.
Portanto, o homem, ao mesmo tempo que
é herdeiro, é criador de cultura, e só terá vida
autenticamente moral se, diante da moral
constituída, for capaz de propor a moral
constituinte; aquela que é feita dolorosamente por
meio das experiências vividas. Mesmo quando
queremos manter as antigas normas, há situações
críticas enfrentadas devido à especificidade de
cada acontecimento. Por isso a cisão também
pode ocorrer a partir do enredo de cada drama
pessoal: a singularidade do ato moral nos coloca
em situações originais em que só o indivíduo livre
e responsável é capaz de decidir.
Ética ou filosofia moral, é a disciplina
filosófica que se ocupa com a reflexão a respeito
das noções e princípios que fundamentam a vida
moral. Essa reflexão pode seguir as mais diversas
direções, dependendo da concepção de homem
que se toma como ponto de partida.
Assim, à pergunta “o que é o bem e o
mal”, respondemos diferentemente, caso o
fundamento da moral esteja na ordem cósmica, na90
vontade de Deus ou em nenhuma ordem exterior à
própria consciência humana. Podemos perguntar
ainda: Há uma hierarquia de valores ? Se houver,
o bem supremo é a felicidade? É o prazer ? É a
atividade ? É o dever ?
Por outro lado, é possível questionar: Os
valores são essências ? Têm conteúdo
determinado, universal, válido em todos os
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tempos e lugares ? Ou, ao contrário, são relativos?
Ou, ainda, haveria possibilidade de superação das
duas posições contraditórias do universalismo e
do relativismo ? As respostas a essas e outras
questões nos darão as diversas concepções de vida
moral elaboradas pelos filósofos através dos
tempos.
PARA FIXAR
MORAL: conjunto dos costumes e juízos
morais de um indivíduo ou de uma sociedade que
possui caráter normativo (regras do
comportamento das pessoas no grupo). Conjunto
de regras que visa orientar a ação humana,
submetendo-a ao dever, tendo em vista o bem e o
mal. Conjunto de normas livre e conscientemente
aceitas que visam organizar as relações dos
indivíduos na sociedade.
ÉTICA: parte da filosofia que se ocupa com a
reflexão a respeito das noções e dos princípios
que fundamentam a vida moral. A ética é uma
disciplina teórica sobre a prática humana, que é o
costume ou o comportamento humano. No
entanto, as reflexões éticas não se restringem
apenas à busca de conhecimento teórico sobre
valores humanos, cuja origem e desenvolvimento
levantam questões de caráter sociológico,
antropológico, biológico, religioso etc. A ética é
uma filosofia prática, ou seja, uma reflexão sobre
a práxis (ação prática) em todos os setores da vida
humana.30
VALOR: algo possui valor quando não permite
que permaneçamos indiferentes (a não-indiferença
é a essência do valor). Frequentemente emitimos
juízos de valor quando os fatos (juízos de fatos –
a existência efetiva – que dizem como são as
coisas, como são e por que são) nos provoca um
sentimento de atração ou de repulsa (juízos de
valor – avaliações sobre coisas, pessoas, situações
que são proferidos na moral, nas artes, na política,
na religião etc.). Juízos de valor avaliam coisas,
pessoas, ações, experiências, acontecimentos,
sentimentos, estados de espírito, intenções e
decisões como bons ou maus, desejáveis ou
indesejáveis. Os juízos éticos de valor são
normativos, isto é, enunciam normas que
determinam o dever ser de nossos sentimentos,
nossos atos, nossos comportamentos. São juízos
que enunciam obrigações, dever, e avaliam
intenções e ações segundo o critério do correto e
do incorreto. Os juízos éticos de valor nos dizem
o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos
éticos normativos nos dizem que sentimentos,
intenções, atos e comportamentos devemos ter ou
fazer para alcançarmos o bem e a felicidade.
Enunciam também que atos, sentimentos,
intenções e comportamentos são condenáveis ou
incorretos do ponto de vista moral.
SENSO OU CONSCIÊNCIA MORAL:
referem-se a valores éticos (justiça, honradez,
espírito de sacrifício, integridade, generosidade) e60
as decisões que conduzem a ações com
conseqüências para nós e para os outros. Os
sentimentos e as ações, nascidos de uma opção
entre o bem e o mal se referem a algo mais
profundo e subentendido: nosso desejo de afastar
a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade,
seja por ficarmos contentes conosco mesmo, seja
para recebermos a aprovação dos outros.
ATO MORAL E ATO IMORAL: o ato moral
é constituído de dois aspectos: o normativo e o
fatual. O normativo são as normas ou regras de
ação e os imperativos que enunciam o dever ser.
O fatual são os atos humanos enquanto se
realizam efetivamente. Pertencem ao âmbito do
normativo regras como: “Cumpra a sua obrigação
de estudar”; “Não minta”; “Não roube”; “Não
mate”. O campo do fatual é a efetivação ou não da
norma na experiência vivida. Os dois pólos são
distintos, mas inseparáveis. A norma só tem
sentido se orientada para a prática, e o fatual só
adquire contorno moral quando se refere à norma.
O ato efetivo será moral ou imoral, conforme
esteja de acordo ou não com a norma
estabelecida. Por exemplo, diante da norma “Não
minta”, o ato de mentir será considerado imoral.
O ato só pode ser moral ou imoral se o indivíduo
introjetou a norma e a tornou sua, livre e
conscientemente.
ATO AMORAL: considera-se amoral o ato
realizado à margem de qualquer consideração a90
respeito das normas. Trata-se da redução ao
fatual, negando o normativo. O homem “sem
princípios” quer pautar sua conduta a partir de
situações do presente e ao sabor das decisões
momentâneas, sem nenhuma referência a valores.
É a negação da moral.
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Juízo de fato e Juízo de valor
Se dissermos, “Está chovendo”, estaremos
enunciando um acontecimento constatado por nós
e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém,
falarmos, “A chuva é boa para as plantas” ou “A
chuva é bela”, estaremos interpretando e
avaliando o acontecimento; nesse caso,
proferimos um juízo de valor.
Juízos de fato são aqueles que dizem o que as
coisas são, como são e por que são. Em nossa
vida cotidiana, mas também na metafísica e nas
ciências, os juízos de fato estão presentes.
Diferentemente deles, os juízos de valor, são
avaliações sobre coisas, pessoas, situações e são
proferidos na moral, nas artes, na política, na
religião.
Juízo de valor avaliam coisas, pessoas,
ações, experiências, acontecimentos, sentimentos,
estados de espírito, intenções e decisões como
bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis.
Os juízos éticos de valor são também
normativos, isto é, enunciam normas que
determinam o dever ser de nossos sentimentos,
nossos atos, nossos comportamentos. São juízos
que enunciam obrigações e avaliam intenções e
ações segundo o critério do correto e do incorreto.
Os juízos éticos de valor nos dizem o que
são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos30
normativos nos dizem que sentimentos,
intenções, atos e comportamentos devemos ter ou
fazer para alcançarmos o bem e a felicidade.
Enunciam também que atos, sentimentos,
intenções e comportamentos são condenáveis ou
incorretos do ponto de vista moral.
Como se pode observar, senso moral e
consciência moral são inseparáveis da vida
cultural, uma vez que esta define para seus
membros os valores positivos e negativos que
devem respeitar ou detestar.
Qual a origem da diferença entre os dois
tipos de juízos ? A diferença entre a Natureza e a
Cultura. A primeira, como vimos, é constituída
por estruturas e processos necessários que existem
em si e por si mesmos, independentemente de
nós: a chuva é um fenômeno meteorológico, cujas
causas e efeitos necessários podemos constatar e
explicar.
Por sua vez, a Cultura nasce da maneira
como os seres humanos interpretam-se a si
mesmos e as suas relações com a Natureza,
acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela,
alterando-a através do trabalho e da técnica,
dando-lhe valores. Dizer que a chuva é boa para
as plantas pressupõe a relação cultural dos
humanos com a Natureza, através da agricultura.
Considerar a chuva bela pressupõe uma relação
valorativa dos humanos com a Natureza,
percebida como objeto de contemplação.60
Frequentemente, não notamos a origem
cultural dos valores éticos, do senso moral e da
consciência moral, porque somos educados
(cultivados) para eles e neles, como se fossem
naturais ou fáticos, existentes em si e por si
mesmos. Para garantir a manutenção dos padrões
morais através do tempo e sua continuidade de
geração a geração, as sociedades tendem a
naturalizá-los. A naturalização da existência
moral esconde, portanto, o mais importante da
ética: o fato de ela ser criação histórico-cultural.
Os valores
Mas o que são valores ? Embora a
preocupação com os valores seja tão antiga como
a humanidade, só no século XIX surge uma
disciplina específica, a teoria dos valores ou
Axiologia (do grego axios, “valor”). A Axiologia
não se ocupa dos seres, mas das relações que se
estabelecem entre os seres e o sujeito que os
aprecia.
Diante dos seres (sejam eles coisas inertes,
ou seres vivos, ou idéias etc.) somos mobilizados
pela afetividade, somos afetados de alguma forma
por eles, porque nos atraem ou provocam nossas
repulsa. Portanto, algo possui valor quando não
permite que permaneçamos indiferentes. É nesse
sentido que García Morente diz: “Os valores não
são, mas valem. Uma coisa é valor e outra coisa é90
ser. Quando dizemos de algo que vale, não
dizemos nada do seu ser, mas dizemos que não é
indiferente. A não-indiferença constitui esta
variedade ontológica que contrapõe o valor ao
ser. A não-indiferença é a essência do valer”1
.
Os valores são, num primeiro momento,
herdados por nós.
O mundo cultural é um sistema de
significados já estabelecidos por outros, de tal
modo que aprendemos desde cedo como nos
comportar à mesa, na rua, diante de estranhos,
como, quando e quanto falar em determinadas
circunstâncias; como andar, correr, brincar; como
cobrir o corpo e quando desnudá-lo; qual o padrão
de beleza; que direitos e deveres temos. Conforme
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8) Leia o texto de Paulo Ghiraldelli Jr e responda: qual a
diferença entre Ética e Moral levando em consideração as
esferas pública e privada de nossa sociedade ?
CAPÍTULO 2
A MORAL EM QUESTÃO
Ética e Metaética
Por Paulo Ghiraldelli Jr.
A investigação da ética remonta aos
primórdios da atividade filosófica. Sócrates se
caracterizou por fazer perguntas ético-morais.
Todavia, foi Platão quem inventou a discussão
ética, o que denominamos hoje de metaética.
Enquanto campo de estudo e investigação, a ética
se responsabiliza pela discussão das normas e
regras de conduta e, portanto, tem como objeto as
morais vigentes. A metaética, por sua vez, é um
discurso de segunda ordem que se põe
filosoficamente para validar ou não preceitos
ético-morais vigentes. A metaética diz respeito a
fundamentos e/ou justificativas da moral.
Em termos acadêmicos atuais, as posições
metaéticas formam três grandes guarda-chuvas: o
naturalismo, o relativismo e o emotivismo. No
âmbito propriamente ético, a tendência é dividir a30
normatividade a partir de éticas do dever e éticas
consequencialistas. A ética judaico-cristã e a
Kantiana são do primeiro tipo, o utilitarismo é do
segundo tipo.
Naturalismo
A noção de “natureza humana” já
desfrutou de muito mais prestígio do que hoje
possui entre os filósofos. Todavia, no âmbito do
senso comum, ainda é utilizada como um porto
seguro. Uma boa parte das pessoas se tranqüiliza
quando, diante do relato de uma situação vivida
por outros ou por si mesma, a avaliação moral
recebida vem junto à frase “ah, isso é normal, é
próprio da natureza”. O que é um fato que pode
ser classificado como “da natureza humana”
serve, então, de fundamento ético para o
comportamento moral – por mais esquisito que
este possa parecer em um primeiro momento.
A ideia básica nesse caso está lá no século
XVII, especialmente na distinção entre fato e
valor estabelecida por David Hume (1711-
1776).
“A parede da sala é branca” é uma frase factual,
enquanto que “A parede da sala é horrível” é uma
frase valorativa. Sendo um fato da natureza
humana pode, então, ser tido como normal e60
indicado como o que deve ser aceito – afinal,
quem estaria autorizado a mudar a natureza
humana ?
David Hume. Filósofo e historiador escocês (1711-1776), considerado
fundador da escola cética, o chamado Empirismo.
Um exemplo. Recentemente houve estupro
de garotas (inclusive com mortes) e a explicação
dada ao ocorrido foi que elas estavam usando a
“pulseira do sexo”.
A pulseira marca uma atividade de
paquera – nela está escrito “beijo”, “abraço” etc.
A garota que a usa estaria, em princípio,
permitindo uma brincadeira junto aos colegas ou
pretendentes; se eles arrancam a pulseira estão
aptos a realizar o que está gravado no objeto.
Nada além de uma brincadeira pré-adolescente,
como era o “correio elegante”, o bilhete que
meninos e meninas trocavam em festas escolares
há alguns anos passados e que, talvez, ainda
troquem hoje em dia.
Nos Estados em que ocorreu o caso, as
autoridades se preocuparam antes em proibir o
uso da “pulseira do sexo” que condenar veemente
o estupro e nele ficar. Assim, mais uma vez, a
mulher foi punida duplamente. Nessa situação,
ocorreu a conhecida posição que imputa culpa à90
vítima. No limite, as mulheres que usam um
adorno, no caso a “pulseira do sexo”, são
responsabilizadas pelos ataques que vierem a
sofrer de malfeitores. Elas não deveriam estar
usando aquilo, pois, como concluíram as
autoridades de modo completamente irracional, a
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pulseira seria o chamariz para o ataque. Em suma,
as autoridades que assim pensaram não disseram,
mas, certamente, estavam com a seguinte diretriz
na cabeça: “É um fato da natureza humana que o
homem se sinta excitado por mulheres que
colocam a pulseira chamando para o sexo”.
Alguns endossariam até mais: “É um fato da
natureza humana que homens que são chamados
para o sexo, uma vez rejeitados, ataquem”.
Assim, a valoração moral da situação que
terminou em estupro e, em alguns casos, em
morte, é tomada de modo bem menos negativo
que a princípio poderia parecer. Há um crime e, é
certo, trata-se de um crime que as autoridades
adoram chamar de “hediondo”, mas que, no caso,
cai sob as graças da avaliação moral, pois, afinal,
a atitude dos criminosos não fugiu do que pode
ser derivado de um “fato da natureza humana”.
Esta posição metaética é base para a
fundamentação de avaliações morais. O filósofo
George Moore (1873-1958) fez a melhor crítica
dessa posição. Essa crítica apareceu como uma
denúncia ao qual ele chamou de “falácia
naturalista”.
Ele não contestou a existência de uma
“natureza humana”. Ele foi mais decisivo, pois
questionou a legitimidade da derivação do “dever
ser” a partir do “ser”. O que se pode tomar como
algo que deveria ocorrer (ou não) não é algo que
legitimamente se aponte a partir do que se mostra30
como o que é. Um fato não está autorizado a gerar
um dever. Um fato dito “da natureza humana” não
está logicamente autorizado a dizer “o homem
deveria ou poderia agir de um modo ou de outro”.
Norma e valor não podem ser obtidos do fato. A
linha entre norma (ou valor) e fato não traz a
implicação legítima, traz uma relação que conduz
a uma falácia (falso raciocínio). Não é difícil ver,
no caso da “pulseira do sexo”, a falácia em que as
autoridades dos lugares que proibiram o uso do
objeto caíram.
Relativismo
A posição relativista, em uma formulação
simplificada, diz que todos os enunciados que
afirmam o certo e o errado não estão sob o crivo
que deriva de uma autoridade universal e
absoluta. É claro que uma posição como esta
precisa ser discutida, pois ela não é o que se pode
pensar dela inicialmente, uma posição de
autorrefutação.
Pode-se afirmar legitimamente que há
posições melhores e piores em moral, que somos
capazes de decidir sob quais não viveríamos de
modo algum e sob quais poderíamos, ainda que
descontentes, optar por continuar vivendo. Na
maioria das vezes, temos argumentação suficiente
para dizer isso e convencer outros de nossa
razoabilidade, mesmo que não tenhamos nada de60
universal e menos ainda de absoluto para invocar
em favor de nossa opção.
O filósofo britânico Bertrand Russel
(1872-1970) criticou os pragmatistas americanos
de sua época, em especial William James e John
Dewey, acusando-os de relativistas. Ele entendia
os relativistas de uma maneira um pouco injusta,
como os que podiam dar guarida a toda e qualquer
ação ou enunciado.
Nas discussões filosóficas sobre o
relativismo, ele cai na berlinda, em geral, diante
de Hitler. O genocídio dos judeus é a pedra de
toque. Há para o relativista um modo de condenar
o nazismo pelo Holocausto ? Ou o relativista é
obrigado a confessar que entre a posição dos que
estiveram no Tribunal de Nuremberg (ocorrido
após a Segunda Guerra Mundial), acusando os
nazistas ali julgados, e os próprios nazistas, não
poderia haver diferença? Segundo alguns
ultradireitistas, ainda hoje, os promotores de
Nuremberg não tinham nenhum elemento nas
mãos além daquele devolvido pelos nazistas a
cada acusação, a saber, que eles estavam ali sendo
julgados única e exclusivamente por terem
perdido a guerra – não eram nem mais e nem
menos criminosos que qualquer outro participante
do conflito.
A posição relativista é boa quando tem de
justificar o que parece a uma cultura apenas
idiossincracia de outra, e que, na verdade, tem lá90
seu valor perante um bom contingente de pessoas
cultas. O relativismo tem menos sorte quando é
cobrado diante de ter de avaliar genocidas.
O relativismo se complica mais, também,
quando se coloca como base para as avaliações
ético-morais a respeito de atitudes de grupos que
colocam seus semelhantes, os mais desprotegidos,
em situação de sofrer dor ou mesmo de morte.
Acontecimentos recentes nas tribos brasileiras
lembram bem isso. Há tribos que enterram vivas
crianças com algum defeito físico ou mental. Não
são tão diminutos os grupos de antropólogos ou
indigenistas que, utilizando o argumento da
importância do respeito à cultura dos povos,
defendem tal prática.
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Mas o relativista sério sabe que o
relativismo não se presta à legitimação de toda e
qualquer prática. O relativismo implica em dizer
que valores, práticas e enunciados não podem ser
colocados, em princípio, fora do contexto da
discussão racional por conta de qualquer lei
“escrita nas estrelas”. Ou seja, tudo merece
discussão. Até a barbárie merece ser discutida. No
caso de barbáries horríveis – o Holocausto é a
pedra de toque aqui –, nós não deixamos de
discuti-la. Aliás, no Tribunal de Nuremberg foi
dado aos nazistas o direito de defesa. Em
determinado momento do julgamento, eles
chegaram a levar vantagem diante da opinião
pública. Só quando os filmes que eles próprios
fizeram da morte de judeus chegaram a ser
encontrados e exibidos durante o período de
julgamento, para todos que formavam ali o júri, é
que o promotor efetivamente ganhou força no
caso. Muitos que viram as cenas não precisaram
evocar nenhum princípio universal para ter
argumentos contra eles. Aliás, depois da Segunda
Guerra Mundial se elaborou uma nova Carta de
defesa dos Direitos do Homem exatamente para
se ter um parâmetro para uma futura
jurisprudência, o que foi tomado por decisão
histórica e, portanto, sem qualquer legitimidade
outra que não a do desejo dos que a elaboraram de
não ver a barbárie repetida sem que se pudesse
dizer: “Isso nós não queremos”.30
Tribunal de Nuremberg. Ocorrido após a Segunda Guerra Mundial, em
Nuremberg, na Alemanha, julgou os nazistas que cometeram crimes
durante a guerra, desde irregularidades contra o direito internacional até
assassinatos em massa. De 1945 a 1949, 199 pessoas foram julgadas, sendo
que, desse total, 21 eram líderes nazistas. Um dos réus mais famosos foi o
braço direito de Adolf Hitler, Hermann Goering, que foi condenado à
morte. No entanto, antes de a pena ser aplicada, ele cometeu suicídio na
prisão.
Emotivismo
O filósofo britânico Alfred J. Ayer, da
linha dos positivistas lógicos, foi um dos
principais defensores do emotivismo. Ele afirmou
que todo e qualquer enunciado ético é sem
sentido, não possui nenhum literalidade – é
alguma coisa que expressa emoção e não fatos.
Expressões de emoção, mesmo que sejam
sentenças, foram tomadas por Ayer como
equivalentes a grunhidos ou sorrisos e, por isso
mesmo, não poderiam receber os adjetivos “falso”
ou “verdadeiro”. Não estando no campo do que é
literal, não pertenceriam ao âmbito do que pode
ser verificado.
Ora, sendo assim, mesmo que se coloque60
um enunciado do tipo “a tortura é algo errado” em
um documento solene como, por exemplo, a
citada Carta da Defesa dos Direitos do Homem,
há de se ter em mente que se trata de um
enunciado não verificável. “A tortura é algo
errado” equivale a um grito de emoção, algo
como um “buuu” ou “iahhhaa”.
Os filósofos norte-americano e britânicos
que, entre toda a comunidade filosófica, são os
mais familiarizados com essa doutrina, a
denominaram de teoria ética do Boo/Hooray,
lembrando que se alguém está dizendo algo a
respeito de sentimentos está, efetivamente,
grunhindo de modo a incentivar ou reprovar algo,
com o único objetivo de mobilizar ou
desmobilizar ações e conversas.
Poder-se-ia aqui, no caso, também chamar
Hitler ? Sim, claro ! Mas novamente há saídas.
Dizer “buuu” para alguém pode não ser pouca
coisa. Um grito de reprovação é um grito de
reprovação e, uma vez no ar, identifica seu
emissor. Ora, seu emissor pode, por si próprio, ter
status moral suficiente para que outros digam
“ele é uma pessoa razoável, não está aplaudindo
tal enunciado e, então, vou considerar o que ele
tem a argumentar sobre isso”. Podemos conversar
horas, nesse caso, sem encontrarmos leis “escritas
nas estrelas” para justificar o “buuu”, mas, na
discussão, pode-se encontrar uma série de bons
argumentos, sentimentais ou pragmáticos, que90
indicam muito bem que não é razoável e nada
bom ficar do lado do vaiado. Por exemplo, talvez
possamos mesmo convencer um nazista, que não
seja o próprio Hitler, que a democracia é melhor
para a família dele e de seus filhos que o regime
de força que ele adotou.
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Ética do Dever
Um religioso guiado pelos Mandamentos
é, antes de tudo, uma pessoa que segue um código
ético-moral por dever. O nome já diz tudo: não se
trata de sugestões para a vida e, sim, de ordens –
mandamentos. O deus judaico-cristão não pede,
ele manda. Ele pode mandar “por justiça”, como
no Velho Testamento, ou por amor, como no
Novo, mas que ele manda, ele manda.
Sua autoridade para mandar vem, no
Velho Testamento, dele próprio – ele falou o que
era o correto para o povo judeu e, enfim, depois,
por meio deste, para o homem em geral. No Novo
Testamento, Deus se transformou em pai e, então,
reordenou alguns princípios, repostos pelo
discurso de Jesus. Nesse, ele falou o que era o
correto para os judeus e sua autoridade passou a
vir da ideia de que “o amor é a única lei”. Nos
dois casos, o código moral a ser seguido é, antes
de tudo, um conjunto normativo que seguimos
porque devemos seguir.
Com os modernos, em especial com o
filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804),
uma norma deveria ganhar valor moral caso
pudesse ser identificada como um imperativo – o
chamado “imperativo categórico”, assim posto:
“Atue somente de acordo com aquela máxima
que pode ser tomada como que deveria ser
uma lei universal, ao mesmo tempo que se está30
agindo”. Essa lei depende de um “fato da razão”:
a liberdade. O homem não está preso a agir assim,
ele age porque sua condição é a de ser livre. Ele
se determina (autodetermina) a agir assim,
segundo o imperativo, para poder agir
moralmente, e isso não por sentimento (interesse
ou inclinação) e, sim, por entender que a regra do
imperativo categórico, uma vez não seguida,
resultaria em uma contradição que gritaria ao seu
ouvido racional. Que mundo pouco confortável
(racionalmente) não seria aquele no qual o que
não pode ser tomado como lei universal fosse a
regra seguida por todos e aceita como correta ?
O exemplo aqui é do próprio Kant: mentir
por amor à humanidade não é um ato moral, pois
a mentira como lei universal inviabilizaria nossa
sociedade e a própria humanidade. Caso todos
pudessem mentir e, ainda assim, ter respaldo
moral para a mentira, isso institucionalizaria uma
sociedade que, no limite, já não teria parâmetro
para separar – moralmente, o que não é pouco – o
que é o testemunho falso e o que é o verdadeiro.
Immanuel Kant (1724-1804). Filósofo alemão autor de uma importante
obra sobre ética intitulada Crítica da Razão Prática.
Ética Consequencialista60
Diferentemente da ética do dever, John
Stuart Mill (1806-1873) advogou uma ética das
conseqüências a partir de seu projeto denominado
de utilitarismo. Sua idéia básica foi a de tornar
indistintos felicidade e prazer, aceitando para tal
um cálculo a respeito do prazer. O que causa dor e
o que causa prazer foram postos em uma régua de
máximos em pólos opostos, e o que é bom e,
portanto, um valor ético-moral, é o que não traz
dor alguma. Dessa forma, inicia-se no ponto não
zero, positivo, do prazer. O mal é exatamente o
que se inicia em sentido contrário. Uma régua
desse tipo pode avaliar cada enunciado e cada ato,
em suas conseqüências, como útil ou não para o
homem.
Indagados se isso não traria uma
arbitrariedade muito grande no campo das
decisões éticas, os utilitaristas responderam que
essa régua não deveria ser posta em uso sem que
se considerasse a humanidade, o coletivo.
Todavia, ainda assim, a pergunta retornaria, pois
os conflitos ético-morais aparecem não só entre
indivíduos, mas, como já mostrei aqui, também a
respeito de culturas – o que é o coletivo para o
indivíduo.
Apesar dessa objeção, o utilitarismo tem
uma vantagem sobre os dois outros sistemas. Ele
é menos rígido e, por isso mesmo, permite o que é
essencial à Filosofia, ou seja, a discussão racional90
e não apenas a decisão racional.
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Por exemplo, no caso dos índios que
enterram crianças, um utilitarista iria fazer o que
realmente foi feito por alguns estudiosos: saber se
a dor criada por aquela situação seria
exclusivamente da criança ou de outros também.
O que se descobriu é que alguns irmãos e mesmo
algumas mães preferiam fugir a enterrar seus
filhos, pois a dor que sentiam era insuportável,
mesmo diante do costume arraigado em séculos.
Nesse caso, a régua moral utilitária diz que a
própria tribo tenta sobreviver também por meio
dos que não concordam com o costume, e estes
fogem e sobrevivem, e não deixam de se
considerar daquela tribo por terem optado pelo
exílio nas mais duras condições da floresta. Dessa
observação, a discussão racional reaparece
exatamente porque as conseqüências não foram
pré-julgadas, elas são repostas na mesa de
conservação para os que estão observando o
quadro.
J.S.Mill (1806-173). Filósofo e economista inglês, e um dos pensadores
liberais mais influentes do século XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a
teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy Bentham.
Referência:
30
GHIRALDELLI JR., Paulo. A boa e velha ética. O conceito
e suas derivações aplicados aos mais recentes casos
noticiados pela mídia. Conhecimento Prático Filosofia. p.
54-60. São Paulo: escala educacional, 2010.
(Adaptado por Ulisses Vasconcelos)
________________________________________
CAPÍTULO 3
CONCEPÇÕES ÉTICAS
ÉTICA CLÁSSICA
Segundo Sócrates, Platão e Aristóteles
PLATÃO E ARISTÓTELES conviveram por 20 anos na Academia
O pensamento de Sócrates (470-399 a.C.)
marca o nascimento da filosofia clássica e, foi,
posteriormente desenvolvido por Platão e
Aristóteles. Sócrates não estava mais preocupado
com a origem do cosmo (como as pessoas no60
tempo da mitologia) nem com o elemento que
seria a essência de tudo (como os pré-socráticos).
Para ele, o fundamental era a reflexão sobre a vida
da pólis (cidade-estado), os costumes e
comportamentos. Juntos, esses fatores formam o
que os gregos chamavam de ethos (estilo de vida).
Sócrates é, então, o inventor da ética, pois foi o
primeiro filósofo a questionar as ações humanas e
os valores subjacentes a elas.
Na mesma época de Sócrates, existiam os
sofistas (mestres de retórica e oratória) que
rejeitavam a tradição mítica ao considerar que os
princípios morais resultam de convenções
humanas. Embora na mesma linha de oposição
aos fundamentos religiosos, Sócrates se contrapõe
aos sofistas acreditando que aqueles princípios
não se originam nas convenções, mas na natureza
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humana, ou seja, é natural do homem guiado pela
razão.
A concepção filosófica de Sócrates pode
ser caracterizada como um método de análise
conceitual. Isso pode ser ilustrado pela célebre
questão socrática “O que é ...?”, através da qual se
busca a definição de uma determinada coisa,
geralmente uma virtude ou qualidade moral.
Inúmeros são os diálogos de Platão (427-
347 a.C.) em que são descritas as discussões
socráticas a respeito das virtudes e da natureza do
bem. Resulta daí a convicção de que a virtude se
identifica com o conhecimento (com a sabedoria)
e o vício com a ignorância. Para Sócrates, o
homem só é mau porque ignora (desconhece) o
bem. Portanto, a virtude pode ser aprendida.
No diálogo Ménon, cujo tema é o
ensinamento da virtude, encontramos uma célebre
passagem a esse respeito (70a-72b):
Ménon: Você pode me dizer, Sócrates, se a
virtude é algo que pode ser ensinado ou que só
adquirimos pela prática ? Ou não é nem o
ensinamento nem a prática que tornam o homem
virtuoso, mas algum tipo de aptidão natural ou
algo assim ?
Sócrates: (...) Você deve considerar-me
especialmente privilegiado para saber se a
virtude pode ser ensinada ou como pode ser30
adquirida. O fato é que estou longe de saber se
ela pode ser ensinada, pois sequer tenho idéia do
que seja a virtude (...). E como poderia saber se
uma coisa tem uma determinada propriedade se
sequer sei o que ela é (...). Diga-me você próprio
o que é a virtude.
Este diálogo se desenrola quando Ménon
oferece várias definições de virtude, recusadas
entretanto por Sócrates, dizendo ele que mesmo as
virtudes sejam muitas e de vários tipos, terão pelo
menos algo em comum que faz de todas elas
virtudes.
O método socrático envolve um
questionamento do senso comum, das crenças e
opiniões que temos, consideradas vagas,
imprecisas, derivadas de nossa experiência, e
portanto parciais e incompletas. Nesse sentido a
reflexão filosófica vai mostrar que, com
freqüência, não sabemos aquilo que pensamos
saber. Temos talvez um entendimento prático,
intuitivo, imediato, que contudo se revela
inadequado no momento em que deve ser tornado
explícito. O método socrático revela a fragilidade
desse entendimento e aponta para a necessidade e
a possibilidade de aperfeiçoá-lo através da
reflexão. Ou seja, partindo de um entendimento já
existente, ir além dele em busca de algo mais
perfeito, mais completo: um conceito.
Os sofistas, segundo Sócrates, não60
ensinavam o caminho (o método) para o
conhecimento, para a verdade única que resultaria
desse conhecimento, mas para a obtenção de uma
“verdade consensual” (convenção), resultado da
persuasão da oratória.
Sócrates descobriu o problema do conceito
buscando definições corretas para valores morais,
como amizade e coragem; Platão considerou o
conceito como o conhecimento de uma ideia
eterna e inata por parte da mente humana;
Aristóteles reduziu-o ao conhecimento da
essência.
Na célebre passagem de A República, em
que Platão descreve o mito da caverna, reaparece
a ideia de Sócrates de que a virtude se identifica
com a sabedoria: o sábio é o único capaz de se
soltar das amarras que o obrigam a ver apenas
sombras e, dirigindo-se para fora, contempla o
sol, que representa a ideia do Bem.
Portanto, “alcançar o bem” se relaciona
com a capacidade de “compreender bem”. Só o
filósofo atinge o nível mais alto de sabedoria, só a
ele cabe a virtude maior da justiça e portanto lhe é
reservada a função de governar. Outras virtudes
menores, mas também importantes para a cidade,
caberão aos soldados defensores da pólis e aos
trabalhadores comuns, artesãos e comerciantes.
Herdeiro do pensamento de Platão,
Aristóteles (384-322 a.C.) aprofunda a discussão
a respeito das questões éticas. Mas, para ele, o90
homem busca a felicidade, que consiste não nos
prazeres nem na riqueza, mas na vida teórica e
contemplativa cuja realização coincide com o
desenvolvimento da racionalidade.
O que há de comum no pensamento dos
filósofos gregos é a concepção de que a virtude
resulta do trabalho reflexivo, da sabedoria, do
controle racional dos desejos e paixões.
Além disso, o sujeito moral não pode ser
compreendido ainda, como nos tempos atuais, na
sua completa individualidade. Os homens gregos
são antes de tudo cidadãos, membros integrantes
de uma comunidade, de modo que a ética se acha
intrinsecamente ligada à política.
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finalidade da alma, para a noção socrático-platônica, é
libertar-se da matéria (do conhecimento através dos
sentidos), e para a noção da moral cristã é libertar-se do
pecado (da fruição dos instintos). Em ambas as noções não
há afirmação de um tipo de homem que comporte a batalha
entre princípios racionais e desejante. Há contudo, repulsa
aos desejos humanos em favor da racionalidade, em favor
da lógica de negação do mundo sensorial; em última
instância: da negação da vida.
(COSTA, Victor. Sócrates: o problema para Nietzsche. Ciência Vida
FILOSOFIA. n. 47. São Paulo: escala, 2010.p.49)
Em que ponto você concorda ou discorda da posição de
Nietzsche ? Faça um breve comentário.
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5) Sobre a racionalidade moral de Sócrates, assinale a única
alternativa incorreta:
a) os princípios morais resultam do consenso entre os
homens, e não da natureza humana.
b) a tranqüilidade interior do homem honesto é superior à30
morte.
c) a finalidade da vida é a felicidade, que está na capacidade
do homem de estabelecer para si mesmo, por meio do saber,
suas próprias leis e regras de conduta.
d) a sabedoria só pode ser resultado da percepção que temos
da própria ignorância.
e) é a dimensão biológico-cultural o maior obstáculo no
caminho da perfeita realização espiritual.
________________________________________
ARISTÓTELES: A ÉTICA DA FELICIDADE
ARISTÓTELES (384-322 a.C.). Filósofo grego, discípulo de Platão, e
autor de uma grande obra intitulada Ética a Nicômaco
Aristóteles dedicou boa parte de sua obra
ao estudo de como o ser humano pode ser feliz
vivendo em sociedade. Assim como Platão,
esboçou um projeto político para solucionar esse
problema, que conheceremos a seguir:
“O homem”, afirma Aristóteles em A
Política, “é naturalmente um animal político”.
Político deve ser entendido como “participante da
pólis”: uma das condições essenciais do ser
humano é o fato de viver agregado a outros
homens. Em outras palavras, para esse filósofo60
um indivíduo vivendo sozinho é inconcebível: um
homem absolutamente solitário ou auto-suficiente
deixaria de ser homem – seria um “deus” ou uma
“fera” – ou simplesmente não sobreviveria.
Além disso, a pólis era para Aristóteles a
melhor organização social possível, desde que
fosse regida por critérios justos, que visassem ao
bem comum. No mais, as Ciências práticas (a
ética e a política) tinham a finalidade de buscar o
aperfeiçoamento do seu agente, isto é, do homem.
A aplicação dessas ciências, segundo Aristóteles,
leva o desenvolvimento do ser humano na direção
de uma existência melhor.
Aristóteles definia a ética como a ciência
que trata do caráter e da conduta dos indivíduos, e
a política como os estudos que regem a existência
dos homens vivendo numa comunidade auto-
suficiente, no caso, a pólis. A doutrina aristotélica
afirma que as duas são inseparáveis. Assim, a
perfeição da personalidade individual (que se
mostra através da honestidade, da honra, do
respeito ao próximo, em suma, da virtude) é a
finalidade almejada pela vida comunitária e pelas
leis – e estas seriam os meios pelos quais se
obtém aquele fim.
Para Aristóteles, de fato, a felicidade não
era apenas um estado emocional e passivo, mas
sim uma atividade: o homem feliz era aquele que
praticava incessantemente a virtude, sempre
aperfeiçoando seu caráter. Esse seria o campo90
específico da ética. No entanto, a conduta justa do
indivíduo só teria sentido dentro da vida em
sociedade.
A política seria tão importante: para que o
indivíduo possa ser virtuoso (ético e, portanto,
feliz), é necessário haver uma organização
política favorável para essa finalidade seja
atingida. Qual é ela ? Para Aristóteles, é a pólis
governada democraticamente, na qual todos os
cidadãos se conheçam pessoalmente e façam parte
de uma grande assembléia que governa a cidade,
determinando seus destinos e redigindo leis que
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garantam uma existência digna para seus
habitantes.
Ser feliz é possível, mas dá bastante
trabalho, segundo Aristóteles, que definiu
felicidade como uma “certa atividade da alma
realizada em conformidade com a virtude”. Em
sua obra, Ética a Nicômaco, o filósofo garante
que a eudaimonia (a palavra que designa
felicidade, em grego) depende de nós mesmos e
precisa ser buscada sempre; o meio para atingi-la
seria a virtude que o homem possui naturalmente.
Para Aristóteles, o homem busca a
felicidade (o sumo bem), que consiste não nos
prazeres nem na riqueza, mas na vida teórica e
contemplativa, cuja plena realização coincide com
o desenvolvimento da racionalidade. Para ser
feliz, portanto, o homem deve viver de acordo
com a sua essência, isto é, de acordo com a sua
razão, a sua consciência reflexiva. E, orientando
os seus atos para uma conduta ética, a razão o
conduzirá à prática da virtude.
(...) o que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há
de melhor e de aprazível para ela. (...) para o homem a vida
conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, já que a
razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se
conclui que essa vida é também a mais feliz. (ARISTÓTELES.
Ética a Nicômaco)
Para Aristóteles, a virtude representa o30
meio-termo, a justa medida de equilíbrio entre o
excesso e a falta de um atributo qualquer.
(...) a virtude deve ter a qualidade de visar ao meio-termo.
Falo da virtude moral, pois é ela que se relaciona com as
paixões e ações, e nestas existe excesso, carência e um
meio-termo. (...) A virtude é, então, uma disposição de
caráter relacionada com a escolha de ações e paixões, e
consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a
nós, que é determinada por um princípio racional próprio
do homem dotado de sabedoria prática. (ARISTÓTELES. Ética
a Nicômaco)
Por exemplo, a virtude da prudência é o
meio-termo entre a precipitação e a negligência; a
virtude da coragem é o meio-termo entre a
covardia e a valentia insana; a perseverança é o
meio-termo termo entre a fraqueza de vontade e a
vontade obsessiva.
Uma vida autenticamente moral não se
resume a um ato moral, mas é a repetição e
continuidade do agir moral. Aristóteles afirmava
que “uma andorinha, só, não faz verão” para
dizer que o agir virtuoso não é ocasional e
fortuito, mas deve se tornar um hábito, fundado
no desejo de continuidade e na capacidade de
perseverar no bem. Ou seja, a verdadeira vida
moral se condensa na vida virtuosa.
Para Aristóteles, as necessidades fazem
com que o homem sempre adapte uma virtude a60
sua respectiva ação. Esse processo era chamado
de variação entre ato e potência, ou seja, o homem
é em ato algo no tempo presente, mas tem
potencialidade para ser outro homem distinto. E
assim por diante, até a morte.
A busca pela felicidade, na visão de
Aristóteles, seria uma eterna corrida, com vários
obstáculos a serem superados, riscos a serem
enfrentados e árduo trabalho, porém, sem
garantias de que no final o objetivo máximo fosse
alcançado.
Para o filósofo grego, a felicidade é uma
satisfação das necessidades e das aspirações
mundanas e, ao atingi-la, outras necessidades
surgirão para o homem; então, ele sempre estará
nessa constante busca.
Os filósofos, em toda a tradição da
Filosofia Ocidental, aproximam a felicidade da
sabedoria, afirmando sua ligação com a reflexão e
a dependência da razão, da virtude, da moderação,
em última análise, o elo íntimo da felicidade com
a própria Filosofia. É o caso do filósofo grego
Epicuro (341-270 a.C.), para quem o prazer
contínuo seria a chave para uma vida feliz. Sua
filosofia tinha uma finalidade prática, ajudando
seus seguidores a encontrar o caminho para a
felicidade através do prazer, que poderia ser
traduzido não por uma indulgência sensual, mas
pelo processo de moderação, leitura e
introspecção da vida – o prazer do sábio, que tem90
controle de si mesmo. Desta maneira, os temores
seriam eliminados e os homens encontrariam o
sossego necessário para uma vida alegre e
aprazível.
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ÉTICA MODERNA
Segundo Kant
Immanuel Kant (1724-1804). Filósofo alemão autor de uma importante
obra sobre ética intitulada Crítica da Razão Prática (1788), que exporá a
moralidade a partir da função prática da razão.
KANT: A ÉTICA DO DEVER MORAL
Analisando os princípios da consciência
moral, Immanuel Kant (1724-1804) em suas obras
intituladas Fundamentação da Metafísica dos
Costumes (1785) e Crítica da Razão Prática
(1788), concluiu que a vontade humana é
verdadeiramente moral quando regida por
imperativos categóricos. O imperativo categórico
é assim chamado por ser incondicionado,
absoluto, voltado para a realização da ação tendo
em vista o dever. Por razão prática, Kant entende
a razão na função de ditar à vontade a lei moral.
Kant fundamentou a moral na autonomia
da razão humana. Dessa forma ele recusou todas
as éticas anteriores, fundamentadas em normas e
valores de origens diversas (éticas heterônomas,
ou seja, vindas de fora do sujeito, imposta por
outras fontes que não a razão). Assim, para
impedir que os indivíduos se deixem levar pelos30
seus desejos, paixões ou motivos particulares, é a
razão que deve indicar quais são os deveres e
normas a serem seguidos de uma forma universal.
Kant rejeita a concepção ética que norteia
a ação moral a partir de condicionantes como a
felicidade ou o interesse. Por exemplo, não faz
sentido agir bem com o objetivo de ser feliz ou
evitar a dor ou punição. A felicidade para Kant é
um bem , mesmo que não seja considerada o
Summum bonum (bem supremo) como
efetivamente o é para Aristóteles.
A LEI MORAL NÃO PODE TER SUA
ORIGEM NA EXPERIÊNCIA – PRAZER,
UTILIDADE, FELICIDADE ETC. –, MAS É
CONDIÇÃO A PRIORI DA VONTADE.
O agir moralmente se funda
exclusivamente na razão. A lei moral que a razão
descobre é universal, pois não se trata de
descoberta subjetiva (mas do homem enquanto ser
racional), e é necessária, pois é ela que preserva a
dignidade dos homens. Isso pode ser sintetizado
nas seguintes afirmações do próprio Kant:
“Age de tal modo que a máxima de tua
ação possa sempre valer como princípio
universal de conduta”
60
OBEDECE A LEI PELA PRÓPRIA LEI. E
NÃO POR OUTRO MOTIVO.
EXIGE VONTADE LIVRE.
AGINDO SOB O COMANDO DO
IMPERATIVO CATEGÓRICO, UM
INDIVÍDUO AGE SOB UM COMANDO
LIVREMENTE AUTO-IMPOSTO SEM
EXPERIMENTAR NENHUMA FORMA DE
COERÇÃO EXTERNA.
“Age sempre de tal modo que trates a
humanidade, tanto na tua pessoa como
na do outro, como fim e não apenas como
meio”
EXIGE QUE SEJAMOS BENEVOLENTES.
PRINCÍPIO DO RESPEITO PELAS
PESSOAS, COMO FORMULAÇÃO
ALTERNATIVA DO IMPERATIVO
CATEGÓRICO.
A autonomia da razão para legislar supõe a
liberdade (“independência da vontade com
respeito à coação dos impulsos da sensibilidade”)
e o dever (“necessidade de cumprir uma ação por
respeito à lei”) . A noção do dever prende-se ao
caráter inteligível (interno; da razão) e não90
empírico (externo; da experiência sensível) do
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sujeito, vale dizer, à sua liberdade. Pois todo
imperativo se impõe como dever, mas a exigência
não é heterônoma – exterior e cega – e sim
livremente assumida pelo sujeito que se
autodetermina.
Vamos exemplificar: Suponhamos a
norma moral “não roubar”. Para Kant, a norma se
enraíza na própria natureza da razão; ao aceitar o
roubo e consequentemente o enriquecimento
ilícito, elevando a máxima (pessoal) ao nível
universal, haverá uma contradição: se todos
podem roubar, não há como manter a posse do
que foi furtado.
Agir de acordo com o dever é, em última
análise, agir de acordo com os princípios
racionais. A formação da vontade conforme a
razão é que produz a qualidade moral das ações
humanas.
Mas não basta, para uma ação ser
considerada moralmente boa, que ela esteja de
acordo com o dever. É preciso mais do que isso: é
necessário que ela seja feita por dever. Ou seja, é
necessário não apenas que a ação se conforme ao
dever, mas também que o indivíduo reconheça
naquele dever o princípio racional que o sustenta
como tal.
Essa intenção bem determinada em relação
à aceitação e ao cumprimento do dever é o que ele
designa boa vontade. Para Kant, a boa vontade é o
que caracteriza a ação moralmente correta.30
A boa vontade e o dever
A inteligência, a faculdade de julgar, a
coragem etc., não são coisas boas absolutamente;
seu valor depende do uso que delas se faça. Cabe
dizer o mesmo quanto à felicidade: não é um bem
em si; pode mesmo ser uma fonte de corrupção
para quem não dispõe de uma boa vontade. Até
mesmo certas qualidades superiores, como o
domínio de si ou a reflexão, não podem
considerar-se verdadeiramente boas, salvo se
estiverem ao serviço de uma boa vontade.
Mas o que, afinal, torna uma vontade boa
? Não certamente, os seus êxitos, nem a aptidão
para levar a bom termo os seus propósitos; é a
própria natureza do querer.
Qual é o conteúdo dessa boa vontade que
seria boa em si mesma ? É o conceito de dever.
Este, com efeito, contém em si o da boa vontade,
mas acrescenta-lhe certos entraves subjetivos,
provindos de nossa sensibilidade, os quais põem
em relevo a boa vontade às voltas com certas
dificuldades. Poder-se-ia dizer até que a boa
vontade é a vontade de agir por dever, mas não
o agir conforme o dever por qualquer interesse ou
inclinação sensível.
Por exemplo, o comerciante que atende
lealmente aos fregueses, age em conformidade
com o dever, mas não por dever, se não tem em60
vista senão o seu interesse bem compreendido. Do
mesmo modo, a pessoa que leva uma vida feliz e
se esforça em conservar a vida, age
conformemente ao dever, pois a conservação da
vida é um dever; mas não age por dever. Ao
invés, quem se esforça por conservar uma vida a
quem já não tem amor, este sim, age por dever.
Ser benfazejo por prazer é, igualmente, agir
conformemente ao dever, mas não por dever. Por
outro lado, quem pratica a beneficiência, mesmo
sem sentir-se inclinado a isso, possui um valor
moral maior do que aquele que é benevolente por
temperamento; e isto, no sentir de todos. Este
valor maior lhe vem precisamente do fato de que
“ele faz o bem, não por inclinação, mas por
dever”.
Para ter verdadeiro valor moral, não basta
para Kant que a ação seja conforme ao dever; é
mister, além disso, seja executada por dever. Agir
sob a influência da sensibilidade, ainda que a ação
seja concorde ao dever, é algo de patológico.
Prático, ou moral, é só o que depende direta e
exclusivamente da razão.
“Assim devem, sem dúvida, ser compreendidos
também os passos da Escritura, onde se ordena
amar o próximo e até os inimigos. Com efeito, o
amor, como inclinação, não pode ser comandado;
mas praticar o bem por dever, quando nenhuma
inclinação a isso nos incita, ou quando uma90
aversão natural e invencível se opõe, eis um amor
prático e não patológico, que reside na vontade, e
não na tendência da sensibilidade, nos princípios
da ação e não uma compaixão emoliente. Ora, é
este o único amor que pode ser comandado”.
(KANT. Fundamentação da Metafísica dos Costumes)
Evidencia-se assim a oposição entre o
ponto de vista da legalidade, ou da conformidade
com a lei, e o ponto de vista da moralidade
verdadeira, que reside na pureza da intenção. Eis,
pois, um primeiro princípio: o valor moral de um
ato reside na intenção. Um segundo princípio é o
seguinte:
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PARA FIXAR
DOUTRINAS MORAIS FUNDAMENTAIS:
TELEOLOGIA E DEONTOLOGIA
TELEOLOGIA: Doutrina ética cujos
princípios repousam principalmente na avaliação
de modos de agir e condutas que se conformam a
um determinado fim (telos) a ser alcançado e tido
como um bem, seja ele a felicidade (pretende que
o motivo central de nossas decisões e ações é a
busca da felicidade) – a excelência humana (o
sumo bem) –, ou mesmo o prazer. Aqui é
concedida uma prioridade ao conceito de bem.
Principais representantes:
- Aristóteles (384-322 a.C.): o homem busca a
felicidade, que consiste não nos prazeres nem na
riqueza, mas na vida teórica e contemplativa cuja
realização coincide com o desenvolvimento da
racionalidade.
- Epicuro (341-270 a.C.): principal representante
dos hedonistas (do grego hedoné, “prazer”). O
bem se encontra no prazer. Considera que os
prazeres do corpo são causas de ansiedade e
sofrimento. Para permanecer impertubável, a alma
precisa desprezar os prazeres materiais, o que leva
Epicuro a privilegiar os prazeres espirituais,30
dentre os quais aqueles referentes à amizade.
DEONTOLOGIA: Doutrina ética que
privilegia, entre as prioridades da interação
pessoal, a conformidade a certas normas de
caráter obrigatório e universal, onde a idéia de
respeito recíproco assume um valor intrínseco,
revestindo-se da dignidade de um dever moral a
ser cumprido. Aqui é concedida uma prioridade
ao conceito de justiça.
Principal representante:
- Immnuel Kant (1724-104): “O respeito, e não o
prazer ou a fruição da felicidade, é pois algo para
o qual nenhum sentimento precedente, posto
como fundamento da razão, é possível (porque
este seria sempre estético e patológico); a
consciência do constrangimento imediato da
vontade pela lei (imperativo categórico)
dificilmente é um análogo do sentimento de
prazer porque, em relação à faculdade de desejar,
produz justamente o mesmo sentimento, mas a
partir de fontes diferentes; porém só mediante este
modo de representação se pode alcançar o que se
procura, a saber, que as ações têm lugar não
apenas em conformidade com o dever (em
conseqüência de sentimentos agradáveis), mas por
dever, o que tem de ser o verdadeiro fim de toda
formação moral”.60
(KANT. Crítica da Razão Prática).
LEIS NATURAIS E LEIS MORAIS
(Instituídas pelos homens para regular suas relações)
LEIS NATURAIS: leis nas quais todo o ser
vivo está submetido. Necessariamente nascemos,
vivemos e morremos, como todos os demais
animais. As leis naturais não estão subordinadas à
nossa vontade. Para o empirista inglês David
Hume (1711-1776), “a lei natural é resultado de
uma experiência fixa e inalterável”. Assim, todos
nós estamos submetidos a leis naturais invariáveis
cuja descoberta precisa e a redução ao mínimo
possível constituem os objetivos dos cientistas.
LEIS MORAIS: O reino das leis morais é o
reino da práxis, no qual as ações são realizadas
racionalmente não por necessidade causal, mas
segundo a nossa vontade. Apesar de existirem
milhares de leis ou regras morais que variam de
sociedade para sociedade, segundo Kant (1724-
1804) o dever é uma forma que deve valer para
toda e qualquer ação moral. Assim, o dever é o
respeito à lei ou ao imperativo categórico, que
ordena incondicionalmente a razão (de forma
absoluta), e vale, sem exceção, para todas as90
circunstâncias das ações verdadeiramente morais.
O imperativo categórico é uma lei moral
universal.
PRINCIPAIS JUSTIFICAÇÕES PARA
AS NORMAS MORAIS
PERSPECTIVA RELIGIOSA: os valores das
normas morais são considerados transcendentes,
porque resultam de doação divina, o que
determina a identificação do homem moral com o
homem temente a Deus.