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ANÁLISE LINGUÍSTICA DE DISCURSOS SOBRE O TRABALHO FEMININO NA
CANÇÃO “DOMÉSTICA”
Priscila Lopes VIANA
Universidade Federal de Minas Gerais
priscilalviana@gmail.com
Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar linguisticamente os discursos relacionados ao
trabalho da doméstica na letra da canção “Doméstica”, de Eduardo Dusek. Para isso,
buscamos contribuições da Análise do Discurso e do Interacionismo Sociodiscursivo (Apoio
CNPq – Processo 142704/2009-1).
Palavras-chave: Discurso; linguagem; trabalho; doméstica.
1. Introdução
Um dentre os novos desafios para a linguística é a análise de discursos relacionados ao
trabalho. Sabe-se que toda atividade humana é mediada pela linguagem; assim, o trabalho o é
de uma maneira especial, pois, além de envolver um intenso, contínuo e potencialmente
conflituoso conjunto de interações, trata-se de um agir que, de certa maneira, ocupa uma parte
considerável da vida dos seres humanos.
Souza-e-Silva (2002: 155) atribui a emergência desse desafio ao fato de que estudiosos
de diversas áreas (filósofos, psicólogos, antropólogos, sociólogos etc.) têm enfatizado a
crescente relevância da linguagem nas diversas formas de organização das sociedades
humanas, ao mesmo tempo em que têm atribuído um grande valor às atividades linguísticas
discursivas que tecem o dia a dia do mundo do trabalho. Nesse contexto e para a realização
dessa tarefa tornam-se imprescindíveis a presença e a intervenção da análise linguística.
A autora ressalta que, atualmente, com a informatização, a automatização e a
robotização dos meios de produção de riqueza, as atividades simbólicas têm se tornado cada
vez mais centrais para a gestão e o funcionamento rotineiro das diferentes organizações de
trabalho, uma vez que as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores dependem de
manipulações cada vez mais complexas de signos de linguagem.
Nesse sentido, a relação entre as ciências do trabalho e as ciências da linguagem tem
convergido para um estudo interdisciplinar. Em outras palavras, a linguística vem alargando
seu campo de estudos, e as ciências do trabalho estão começando a perceber a dimensão da
linguagem nas atividades de produção e a conceber as organizações de trabalho como
produtoras de sentido.
Pensando nessa relação entre linguagem e trabalho, constatamos a necessidade de
realizar um estudo pormenorizado sobre a categoria das trabalhadoras domésticas, que é
numericamente significativa e socialmente importante no Brasil. Por isso, pretendemos
analisar linguisticamente alguns conjuntos de discursos relacionados ao trabalho da
doméstica: discursos dos sindicatos das domésticas e dos sindicatos das patroas/patrões,
discursos jornalísticos que tematizem o trabalho da doméstica, discursos legislativos
(sobretudo a constituição brasileira) e os discursos literários (com suas representações sobre
aquelas trabalhadoras em letras de canções, poemas, contos, romances e peças teatrais).
Neste artigo, especificamente, analisamos, através das contribuições da Análise do
Discurso e do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), os discursos relacionados ao trabalho da
doméstica na letra da canção “Doméstica” (em anexo), de Eduardo Dusek.
2. Fundamentação teórica
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Para a análise da letra da canção Doméstica, de Dusek, utilizaremos a metodologia
utilizada por Faria (1999; 2000; 2001a; 2001b; 2002; 2005) para a compreensão da linguagem
(inclusive a ficcional) como discurso e o aparato conceitual do ISD
Estudos realizados por Faria (1999; 2000; 2001a; 2001b; 2002; 2005) têm buscado
contribuições da Análise do Discurso para a compreensão da linguagem ficcional (e outras
linguagens) que, por sua vez, sendo constitutiva da linguagem humana, torna-se um
instrumento revelador das atividades discursivas e não-discursivas humanas.
A metodologia utilizada pelo autor - que se vale tanto de noções greimasianas quanto
de conceitos desenvolvidos por Maingueneau (1984/2005), Fiorin (1989), Fiorin e Savioli
(1996), entre outros - inclui as seguintes categorias analíticas, com as quais também
pretendemos realizar a análise da letra da canção selecionada para o córpus deste artigo:
1. do intradiscurso, isto é, dos textos que materializam o discurso, identificam-se
os percursos semânticos, que englobam dois conjuntos de elementos
semânticos: o percurso temático e o figurativo – o primeiro mais abstrato e o
segundo mais concreto e
2. do interdiscurso, a categoria de oposição.
Dessa forma, os passos metodológicos para a análise da letra da canção serão,
primeiramente, a identificação dos percursos semânticos do intradiscurso; a seguir, a
identificação dos traços distintivos subjacentes aos percursos semânticos intradiscursivos;
posteriormente, a identificação das correspondentes oposições constitutivas do interdiscurso,
a partir dos já identificados traços distintivos subjacentes aos percursos semânticos do
intradiscurso; e, por último, o estabelecimento das relações entre os percursos semânticos
intradiscursivos e as oposições interdiscursivas.
Para a realização de suas análises, Faria (1999; 2000) investiga os implícitos e os
explícitos presentes nos textos, tanto em relação à identificação das personagens, tempo e
espaço quanto em relação aos elementos semânticos tema e figura. Para isso, o autor toma
como base as abordagens de Fiorin e Savioli (1996) e Ducrot (1987).
Já Bronckart (1999: 12-13) e seu grupo de estudos aderem a proposições teóricas
derivadas de uma “psicologia da linguagem” guiadas pelos princípios epistemológicos do
“interacionismo social”. O autor toma as unidades linguísticas (sejam fonemas ou textos)
como representações das condutas (ou das propriedades das condutas) humanas. Nesse
sentido, objetivando estudar as condições de funcionamento e de aquisição das condutas
humanas, exploram-se descrições e interpretações dessas unidades linguísticas propostas pelas
ciências dos textos e/ou dos discursos.
Analisam-se as condutas humanas através do quadro interacionista-social como “ações
significantes” (ou “ações situadas”), cujas propriedades estruturais e funcionais são
consideradas como produto da socialização. Por meio de uma perspectiva herdada de
trabalhos de Vygotsky (1991) e, também, de filósofos e sociólogos como Habermas (1987) e
Ricoeur (1986), acredita-se que as ações imputáveis a agentes singulares fundam-se no
contexto da “atividade” em funcionamento nas formações sociais. Em relação às capacidades
mentais e consciência desses mesmos agentes humanos, acredita-se que são elaboradas no
quadro estrutural das ações. Portanto, concebem-se as condutas verbais como formas de ação
ao mesmo tempo específicas (por serem semióticas) e interdependentes das ações não verbais.
A adesão a uma psicologia interacionista-social levou Bronckart (1999: 14) a abordar
o estudo da linguagem em suas dimensões textuais e/ou discursivas, pois, por um lado, o autor
compreende que as ações de linguagem humanas são somente e empiricamente observáveis
nos textos e/ou discursos (a língua seria apenas um construto e as frases e morfemas seriam
apenas “recortes abstratos”); por outro lado, as relações de interdependência entre as
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produções de linguagem e seu contexto acional e social manifestam-se de forma mais nítida
no nível dessas unidades globais.
As razões que levaram o autor e seu grupo à inscrição de suas abordagens no quadro
epistemológico geral do interacionismo social são apresentadas por ele da seguinte maneira:
inicialmente, ele explica que diversas correntes da filosofia e das ciências humanas podem ser
reconhecidas por essa posição epistemológica, de forma que, mesmo apresentando
questionamentos disciplinares particulares de suas especificidades e enfatizando teorias e
orientações metodológicas diversas, essas correntes aderem à tese de que “as propriedades
específicas das condutas humanas são o resultado de um processo histórico de socialização,
possibilitado especialmente pela emergência e pelo desenvolvimento dos instrumentos
semióticos” (BRONCKART, 1999: 21, grifos do autor).
A postura interacionista releva a historicidade do homem e, por isso, em uma
investigação, interessa-se primeiramente pelas condições sob as quais se desenvolveram
formas particulares de organizações sociais na espécie humana juntamente às (ou sob o efeito
de) formas de interação de caráter semiótico. A seguir, volta-se para o desenvolvimento de
uma análise aprofundada das características estruturais e funcionais dessas organizações
sociais bem como dessas formas de interação semiótica.
É importante ressaltar também que o interacionismo inscreve-se, em relação aos
problemas de hominização, na problemática introduzida pela Fenomenologia do espírito, de
Hegel (2000). Desta, ele conserva a compreensão de que o desenvolvimento da atividade e o
psiquismo humano são de caráter fundamentalmente dialético, e engloba ideias de Marx e
Engels referentes ao papel desempenhado pelos instrumentos – linguagem e
trabalho/cooperação social – na formação da consciência. Ainda há compatibilidade do
interacionismo com algumas posições sustentadas posteriormente pela corrente neokantiana,
especialmente com as teses desenvolvidas em A filosofia das formas simbólicas por Cassirer
(2001). Enfim, há contribuições mais recentes da antropologia (LEROI-GOURHAN, 1964;
1965), da socioantropologia (MORIN, 2002-2005) e, sobretudo, das abordagens
sociofilosóficas de Habermas (1987) e de Ricoeur (1986) que revitalizaram o interacionismo.
A análise das estruturas e dos modos de funcionamento sociais é feita pelos
interacionistas com base na teoria original dos fatos sociais de Durkheim (1898, apud
BRONCKART, 1999), cuja proposta é de articular representações individuais, sociais e
coletivas e, consequentemente, em trabalhos inscritos nessa linha (BOURDIEU, 1980;
MOSCOVICI, 1961).
Já para a análise dos sistemas semióticos, o interacionismo utiliza abordagens que
consideram os fatos de linguagem como traços de condutas humanas socialmente
contextualizadas, isto é, o interacionismo se refere preferencialmente aos trabalhos que
integram dimensões psicossociais. Trata-se de trabalhos centrados na interação verbal e,
sobretudo no estudo e análise dos gêneros e tipos textuais provenientes de Bakhtin (2000) e
na análise das formações sociais de Foucault (2004). De acordo com Bronckart (1999), essas
proposições expandem a concepção das interações entre “formas de vida e jogos de
linguagem” desenvolvida por Wittgenstein (1961; 1975). Bronckart (op. cit.) sustenta ainda a
contribuição teórica imprescindível da análise de Saussure (1994) sobre a arbitrariedade do
signo linguístico para que se compreenda o estatuto das relações interdependentes entre a
linguagem, as línguas e o pensamento humano.
Enfim, em relação aos processos de construção do psicológico, ou seja, da pessoa
dotada de capacidades psíquicas e de consciência, o interacionismo faz uma releitura crítica
de Piaget (1975; 1987; 1996). E é exatamente nesse ponto que a abordagem do grupo de
Bronckart (1999: 24) ganha sua especificidade, pois o autor adota os fundamentos
interacionistas de Vygotsky (1999) por serem, na visão do autor, mais radicais e articularem-
se mais precisamente à abordagem de seu grupo.
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Assim, Bronckart (1999) concebe que uma psicologia interacionista deve integrar
primeiramente a dimensão discursiva da linguagem, contribuindo para a descrição das
organizações textuais e/ou discursivas e, sobretudo, clarificando as relações sincrônicas
existentes entre as ações do homem e as ações de linguagem. Deve ainda, historicamente,
tentar identificar as maneiras pelas quais a atividade de linguagem, ao mesmo tempo em que
constitui o social, contribui para delimitar as ações das pessoas moldando-as no conjunto de
suas capacidades propriamente psicológicas.
Percebe-se que ao mesmo tempo em que o autor inscreve sua abordagem no quadro
epistemológico geral do interacionismo social, ele defende uma versão mais específica desse
quadro na qual se rejeitam os postulados epistemológicos e as restrições metodologias do
positivismo para investigar as ações do homem em suas dimensões sociais e discursivas
constitutivas. O autor denomina esta versão de “interacionismo sociodiscursivo” (ISD).
Portanto, evidenciado o caráter “indissociável” dos processos de organização social
das atividades, de suas regulações pelas atividades de linguagem e de desenvolvimento das
capacidades cognitivas humanas, o ISD propõe uma compreensão do funcionamento
psicológico humano implicado na organização das atividades e das produções verbais
coletivas no âmbito da “história das interações humanas”.
Paralelamente ao desenvolvimento do próprio quadro do ISD, Bronckart (1999; 2008)
volta uma atenção especial para as questões metodológicas de pesquisa, para que
metodologias propostas e utilizadas estejam sempre coerentes com as proposições
epistemológicas adotadas. Assim, há uma clara opção para um método preferencialmente
descendente que envolve as três seguintes etapas:
1. análise dos componentes fundamentais dos pré-construídos específicos do ambiente
humano: (a) as atividades coletivas, (b) as formações sociais, (c) os textos e (d) os
mundos formais de conhecimento;
2. estudo dos processos de mediação sociossemióticos pelos quais os seres humanos
apropriam-se de certos aspectos desses pré-construídos; e
3. análise das implicações dos processos de mediação e de apropriação na formação da
pessoa dotada de pensamento consciente e, também, no seu desenvolvimento durante
a vida.
Bronckart (2008) afirma que um dos objetivos para se ter uma abordagem descendente
é o de destacar a fundamental primazia da influência dos pré-construídos histórico-culturais.
Todavia, o autor ressalta que – na concepção do ISD – não há um determinismo unilateral do
sócio-histórico sobre o individual, ou seja, o desenvolvimento humano não se reduz a um
movimento descendente.
Dessa forma, a relação entre as três etapas acima é concebida como níveis inseridos
em um movimento dialético permanente. Bronckart (2008) admite, então, que se o
desenvolvimento das pessoas é orientado pelos pré-construídos humanos mediatizados, as
pessoas, por sua vez, possuidoras de um conjunto de propriedades ativas, são as responsáveis
pela manutenção, contestação, desenvolvimento ou transformação dos pré-construídos
coletivos.
Vale lembrar que no modelo de análise textual do ISD, Bronckart (1999: 119) propõe
que todo texto é organizado em três níveis (camadas) superpostos, e em parte interativos, que
constituem o “folhado textual”: (1) a arquitetura interna dos textos, (2) os mecanismos de
textualização e (3) os mecanismos enunciativos. Essa divisão de níveis de análise é concebida
pelo autor como necessidade metodológica para se desvendar a complexidade da organização
textual.
Na hierarquia do autor, a arquitetura interna dos textos seria o nível mais profundo.
Constitui-se pelo plano geral do texto, pelos tipos de discurso, pelas modalidades de
articulação entre seus tipos de discurso e pelas sequências que casualmente aparecem no
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plano geral do texto. No nível intermediário, estariam os mecanismos de textualização,
constituídos pela conexão, coesão nominal e pela coesão verbal. No último nível - o mais
“superficial” - estariam os mecanismos de responsabilização enunciativa, os quais cooperam
mais para o estabelecimento da coerência pragmática (ou interativa) do texto, pois, além de
contribuírem para o esclarecimento dos posicionamentos enunciativos, traduzem as várias
avaliações em relação ao conteúdo temático.
3. A análise
A letra da canção Doméstica, de Eduardo Dusek, apresenta a história de uma
doméstica que sai do interior para trabalhar na casa de gringos, como nos mostram os versos
da primeira estrofe da letra da canção: “Foi trabalhar / Recomendada pra dois gringos / Logo
assim / Que chegou do interior”. A personagem doméstica é, portanto, explícita (desde o
título da letra da canção), bem como as personagens patrões (“gringos”).
O tipo de discurso predominante é o narrativo. No âmbito das operações psicológicas,
esse tipo de discurso cria um mundo discursivo cujas coordenadas gerais são disjuntas das
coordenadas do mundo ordinário do agente-produtor e dos agentes-leitores. Além disso, não
há implicação dos parâmetros físicos da ação de linguagem em curso e não se faz referência
direta ao agente-produtor, como podemos observar pela ausência de pronomes de primeira e
segunda pessoas do singular e do plural, ou seja, não há remissões linguísticas diretas ao
agente-produtor do texto ou dos agentes-leitores.
O uso do subsistema dos tempos verbais da “história” ou “narrativos” (“foi”, “era”,
“chegou”, “baixava” etc.), assim como os organizadores temporais (“Logo assim
Que chegou do interior”, “Quando a coisa tava errada”, “Nunca notou”, “Até que um dia”)
também são elementos que caracterizam o tipo de discurso narração.
O título da letra da canção – “Doméstica” – explicita a personagem principal da
narrativa, bem como inicia implicitamente (pressuposto) a temática do trabalho doméstico,
principal percurso semântico da letra da canção. Essa temática, desenvolvida em toda a
narrativa, é explicitada no primeiro verso da primeira estrofe da letra da canção: “Foi
trabalhar”. Nessa mesma estrofe, há os versos “Logo assim / Que chegou do interior”, que
trazem consigo a temática explícita do problema social da emigração de populações do
interior do país para as capitais em busca de trabalho.
No caso das trabalhadoras domésticas, a mudança do interior para as capitais pode
provocar a necessidade de essas trabalhadoras morarem nas casas dos patrões. Apesar de a
letra da canção de Eduardo Dusek não explicitar que a trabalhadora mora na casa dos patrões,
a condição de emigrante permite ao leitor (ou ouvinte) subentender que a personagem
apresentada pela letra dessa canção, provavelmente, estabeleceu moradia em um quarto de
empregada das personagens apresentadas como “gringos”.
Os últimos versos da primeira estrofe iniciam a construção da representação sobre os
patrões “Era um casal / Tipo metido a granfino / Mas o salário / Era tipo, um horror...”.
Percebe-se que há uma representação negativa dos patrões que seriam “metidos a granfinos”,
ou seja, buscariam um status social maior do que o de fato teriam. Além disso, o marcador
discursivo “mas”, que inicia o penúltimo verso da primeira estrofe, deixa implícita
(pressuposta) a ideia de que, sendo “metidos a granfinos”, poderiam (ou deveriam) pagar um
bom salário à doméstica.
Os temas dos direitos trabalhistas e da precária vida das trabalhadoras domésticas
iniciam-se, portanto, desde a primeira estrofe da letra da canção “Doméstica”, de Eduardo
Dusek. Por um lado, o elemento lexical “salário” é uma importante figura dos direitos
trabalhistas; por outro lado, a modalização apreciativa “horror” caracteriza a precariedade
econômica da doméstica.
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A segunda estrofe da letra da canção compõe-se por cinco versos que tematizam
explicitamente a violência sofrida pela personagem doméstica: “A tal da madame tinha mania
/ Esquisitona de bater / E baixava a porrada / Quando a coisa tava errada / Não queria nem
saber...”. A agressão física sofrida pela personagem remete-nos, implicitamente, aos direitos
que os senhores de escravos possuíam sobre estes. Assim, o senhor possuía o direito de
decidir sobre a vida e a morte do escravo, sendo-lhe lícito açoitá-lo até a morte se assim o
desejasse.
Nessa mesma estrofe, podemos observar ainda a continuidade de uma representação
negativa da classe dos patrões. O substantivo “tal” pode ser compreendido com um sentido
pejorativo dado à “madame”. Já o substantivo “mania”, por si só, é carregado por uma
conotação negativa de loucura ou desejo imoderado. Contudo, esse vocábulo vem
acompanhado pela expressão adjetiva “esquisitona”, o que explicita o posicionamento do
narrador contra a atitude da personagem “madame” (a patroa).
A terceira estrofe, por sua vez, traz uma representação um pouco negativa da
trabalhadora doméstica. Trata-se de uma representação menos negativa do que a dos patrões
devido ao fato de a personagem doméstica se apresentar inocente (ou ignorante) no meio em
que vivia (que é exposto na quarta estrofe). Essa inocência (ou ignorância) é posta
explicitamente pelos quarto e quinto versos dessa estrofe da letra da canção, nos quais se
afirma: “Sem carteira assinada / Só caía em cilada”. É possível subentender que a doméstica
desconhece, até mesmo, o seu direito do registro em carteira.
A temática da inocência, ignorância da doméstica é continuada explicitamente na
quarta estrofe: “Nunca notou”, “Não reparou” e “Não perguntou”. Podemos afirmar que há
uma oposição interdiscursiva entre a inocência, a ignorância da doméstica versus a maldade, a
ciência da patroa. Nessa estrofe, temos também a temática do tráfico de drogas explícito na
figura do “papelote”, da “mesa espelhada” e dos “giletes”, utilizados na preparação da droga,
bem como o tema da prisão na figura do “camburão”.
O tema da prisão é desenvolvido na quinta estrofe explicitamente na figura da
“delegacia” presente em seu primeiro verso. Podemos extrair, ainda do intradiscurso, o verso
“ameaçar”, conjugado no pretérito perfeito do indicativo – “ameaçou” -, que explicita a
construção negativa da imagem da patroa pelo narrador da letra da canção.
A temática do classismo também fica em evidência na quinta estrofe quando, nos
terceiro e quarto versos coloca-se um discurso direto da personagem “patroa americana”:
“Lembra-se que eu sou / Uma milionária”. A figura no intradiscurso do dinheiro revela as
relações de poder de uma classe sobre a outra. A classe dos patrões aparece subjugando a
classe das trabalhadoras domésticas explicitamente por meio do léxico “otária” que é usado
pela personagem patroa para ofender e ameaçar a personagem doméstica.
As sexta e sétima estrofes tematizam explicitamente a personagem doméstica
cumprindo pena na cadeia por culpa dos patrões. É interessante notar nos primeiros versos da
sétima estrofe que, na prisão, a doméstica aprende a “se dar bem”. Vemos, implicitamente,
uma crítica ao sistema carcerário do Brasil que, ao invés de recuperar e inserir o indivíduo na
sociedade, o corrompe.
Essa corrupção do caráter da personagem doméstica surge na oitava estrofe com seu
desejo de vingar a “raça das domésticas”, bem como, na nona estrofe, sua aceitação em se
tornar prostituta com o objetivo de se casar com um estrangeiro. Vê-se que a há também uma
oposição interdiscursiva da inocência versus a ciência entre o bem e o mal da própria
doméstica no decorrer da narrativa.
O tema da prostituição é o foco, além da oitava estrofe, da nona e da décima estrofes.
Já na décima primeira, décima segunda e décima terceira estrofes, a vida de casada e o novo
status da doméstica como “baronesa” são tematizados. A personagem doméstica se vê na
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posição de patroa e coloca, na décima quarta estrofe, um anúncio em jornal a procura de uma
babá. A conclusão da vingança é ter a americana, outrora patroa, como empregada doméstica.
É interessante notar no intradiscurso da letra da canção as referências à
afrodescendência da personagem doméstica: “mulata” (7º verso da 7ª estrofe) e “nêga” (3º
verso da 14ª estrofe). Ressalta-se, também, a afrodescendência do filho dessa personagem:
“mulatinho” (5º verso da 12ª estrofe), bem como, no juramento da personagem ao sair da
prisão em vingar a “raça das domésticas” (6º verso da 8ª estrofe). Essas referências devem ser
apontadas pela associação explícita, sobretudo na expressão “raça das domésticas”, entre a
categoria de trabalhadoras domésticas do Brasil e os afrodescententes brasileiros.
Já em Stuttgart, cidade alemã citada no segundo verso da décima segunda estrofe, a
categoria das trabalhadoras domésticas é representada na letra da canção por uma “loira meio
brega”. Percebe-se que a personagem doméstica vinga uma “raça” e não a categoria das
domésticas na medida em que fica implícito subentendido que, agora como patroa, a ex-
doméstica revidará os maus-tratos que sofreu em sua doméstica, sua antiga patroa “loira”.
4. Considerações finais
Apesar de a letra da canção Doméstica, de Eduardo Dusek, ser uma narrativa fictícia,
valores e crenças socioculturais podem ser apreendidos de seu intra e interdiscursivo. O
desfecho da narrativa pode ser compreendido por uma moral, ou seja, “não fazer com os
outros aquilo que não gostaria que fizesse com você” na medida em que a posição de patroa e
empregada é modificada e esta terá a oportunidade de se vingar da primeira. A compreensão
dessa moral pode apontar para uma posição do agente-produtor da letra da canção em favor da
categoria das trabalhadoras domésticas.
A letra dessa canção caracteriza, como vimos, explicitamente no intradiscurso a
afrodescendência das trabalhadoras domésticas do Brasil (“mulata”, “nêga”), a situação
salarial (“um horror”), o descumprimento de seus direitos legais (“Sem carteira assinada”) e a
subjugação física da doméstica para com a patroa (“baixava a porrada”).
A oposição interdiscursiva entre o conhecimento e o desconhecimento, sejam eles em
um sentido pejorativo ou não, são passíveis de apreensão. Embora a instância de produção do
texto tenha uma tendência para se posicionar a favor da trabalhadora doméstica, colocando o
seu desconhecimento como uma característica de pureza, inocência, ele acaba sendo negativo
à personagem doméstica devido ao fato de esta ter sido presa.
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WITTGENSTEIN, L. Tractatus lógico-philosophique. Paris: Gallimard, 1961.
______. Remarques philosophiques. Paris: Gallimard, 1975.
Anexo
“Doméstica”
Composição: Eduardo Dusek
1
Foi trabalhar
Recomendada prá dois gringos
Logo assim
Que chegou do interior
Era um casal
Tipo metido a granfino
Mas o salário
Era tipo, um horror...
2
A tal da madame tinha mania
Esquisitona de bater
E baixava a porrada
Quando a coisa tava errada
Não queria nem saber...
3
Doméstica!
Ela era
Doméstica!
Sem carteira assinada
Só caía em cilada
Era empregada
Doméstica!...
4
Nunca notou
A quantidade de giletes
Não reparou
A mesa espelhada no salão
Não perguntou
10
O quê que era um papelote
Baixou "os home"
Ela entrou no camburão...
5
Na delegacia
Sua patroa americana ameaçou:
"Lembra que eu sou
Uma milionária,
Eu fungava, de gripada
Não seja otária, por favor"...
6
Doméstica!
Traficante disfarçada
De doméstica
Era manchete nos jornais
O casal lhe deu prá trás
Sujando brabo prá doméstica...
7
No presídio aprendeu
Com as companheiras
A ser dar bem
A descolar, como ninguém
Ficou famosa
No ambiente carcerário
Como a mulata
Que nasceu prá ser alguém...
8
Pois não é que a
Doméstica!
Conseguiu uma prisão, doméstica
Saiu por bom comportamento
Mas jurou nesse momento
Vingar a raça das domésticas...
9
Então alguém
Lhe aconselhou logo de cara
"Dá um passeio
Vê se arranja um barão"
Porque melhor
Que o interior ou que uma cela
É ter turista e faturar
No calçadão...
10
Até que um dia
11
Um Mercedinho prateado buzinou
Era um louro alemão
Que lhe abriu a porta do carro
E lhe tacou um bofetão...
11
Doméstica!
Virou uma baronesa
Doméstica!
Mesmo com as taras do barão
Segurou a situação
Levando uma vida doméstica...
12
Realizada em sua mansão
Em Stuttgart
Ouvindo Mozart a Beethoven de montão
Com um pivete
Mulatinho pela casa
Que era herdeiro
De olho azul como o barão...
13
Precisou de uma babá
Botou um anúncio
Bilíngue no jornal
Seu mordomo abriu a porta
Uma loira meio brega
Uma yankee de quintal...
14
Doméstica!
Era a americana, de doméstica
A nêga deu uma gargalhada
Disse:
"Agora tô vingada
Tu vai ser minha
Doméstica "! ...(2x)

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Análise Linguística de Discurso sobre o Trabalho Feminino na Canção "Doméstica"

  • 1. 1 ANÁLISE LINGUÍSTICA DE DISCURSOS SOBRE O TRABALHO FEMININO NA CANÇÃO “DOMÉSTICA” Priscila Lopes VIANA Universidade Federal de Minas Gerais priscilalviana@gmail.com Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar linguisticamente os discursos relacionados ao trabalho da doméstica na letra da canção “Doméstica”, de Eduardo Dusek. Para isso, buscamos contribuições da Análise do Discurso e do Interacionismo Sociodiscursivo (Apoio CNPq – Processo 142704/2009-1). Palavras-chave: Discurso; linguagem; trabalho; doméstica. 1. Introdução Um dentre os novos desafios para a linguística é a análise de discursos relacionados ao trabalho. Sabe-se que toda atividade humana é mediada pela linguagem; assim, o trabalho o é de uma maneira especial, pois, além de envolver um intenso, contínuo e potencialmente conflituoso conjunto de interações, trata-se de um agir que, de certa maneira, ocupa uma parte considerável da vida dos seres humanos. Souza-e-Silva (2002: 155) atribui a emergência desse desafio ao fato de que estudiosos de diversas áreas (filósofos, psicólogos, antropólogos, sociólogos etc.) têm enfatizado a crescente relevância da linguagem nas diversas formas de organização das sociedades humanas, ao mesmo tempo em que têm atribuído um grande valor às atividades linguísticas discursivas que tecem o dia a dia do mundo do trabalho. Nesse contexto e para a realização dessa tarefa tornam-se imprescindíveis a presença e a intervenção da análise linguística. A autora ressalta que, atualmente, com a informatização, a automatização e a robotização dos meios de produção de riqueza, as atividades simbólicas têm se tornado cada vez mais centrais para a gestão e o funcionamento rotineiro das diferentes organizações de trabalho, uma vez que as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores dependem de manipulações cada vez mais complexas de signos de linguagem. Nesse sentido, a relação entre as ciências do trabalho e as ciências da linguagem tem convergido para um estudo interdisciplinar. Em outras palavras, a linguística vem alargando seu campo de estudos, e as ciências do trabalho estão começando a perceber a dimensão da linguagem nas atividades de produção e a conceber as organizações de trabalho como produtoras de sentido. Pensando nessa relação entre linguagem e trabalho, constatamos a necessidade de realizar um estudo pormenorizado sobre a categoria das trabalhadoras domésticas, que é numericamente significativa e socialmente importante no Brasil. Por isso, pretendemos analisar linguisticamente alguns conjuntos de discursos relacionados ao trabalho da doméstica: discursos dos sindicatos das domésticas e dos sindicatos das patroas/patrões, discursos jornalísticos que tematizem o trabalho da doméstica, discursos legislativos (sobretudo a constituição brasileira) e os discursos literários (com suas representações sobre aquelas trabalhadoras em letras de canções, poemas, contos, romances e peças teatrais). Neste artigo, especificamente, analisamos, através das contribuições da Análise do Discurso e do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), os discursos relacionados ao trabalho da doméstica na letra da canção “Doméstica” (em anexo), de Eduardo Dusek. 2. Fundamentação teórica
  • 2. 2 Para a análise da letra da canção Doméstica, de Dusek, utilizaremos a metodologia utilizada por Faria (1999; 2000; 2001a; 2001b; 2002; 2005) para a compreensão da linguagem (inclusive a ficcional) como discurso e o aparato conceitual do ISD Estudos realizados por Faria (1999; 2000; 2001a; 2001b; 2002; 2005) têm buscado contribuições da Análise do Discurso para a compreensão da linguagem ficcional (e outras linguagens) que, por sua vez, sendo constitutiva da linguagem humana, torna-se um instrumento revelador das atividades discursivas e não-discursivas humanas. A metodologia utilizada pelo autor - que se vale tanto de noções greimasianas quanto de conceitos desenvolvidos por Maingueneau (1984/2005), Fiorin (1989), Fiorin e Savioli (1996), entre outros - inclui as seguintes categorias analíticas, com as quais também pretendemos realizar a análise da letra da canção selecionada para o córpus deste artigo: 1. do intradiscurso, isto é, dos textos que materializam o discurso, identificam-se os percursos semânticos, que englobam dois conjuntos de elementos semânticos: o percurso temático e o figurativo – o primeiro mais abstrato e o segundo mais concreto e 2. do interdiscurso, a categoria de oposição. Dessa forma, os passos metodológicos para a análise da letra da canção serão, primeiramente, a identificação dos percursos semânticos do intradiscurso; a seguir, a identificação dos traços distintivos subjacentes aos percursos semânticos intradiscursivos; posteriormente, a identificação das correspondentes oposições constitutivas do interdiscurso, a partir dos já identificados traços distintivos subjacentes aos percursos semânticos do intradiscurso; e, por último, o estabelecimento das relações entre os percursos semânticos intradiscursivos e as oposições interdiscursivas. Para a realização de suas análises, Faria (1999; 2000) investiga os implícitos e os explícitos presentes nos textos, tanto em relação à identificação das personagens, tempo e espaço quanto em relação aos elementos semânticos tema e figura. Para isso, o autor toma como base as abordagens de Fiorin e Savioli (1996) e Ducrot (1987). Já Bronckart (1999: 12-13) e seu grupo de estudos aderem a proposições teóricas derivadas de uma “psicologia da linguagem” guiadas pelos princípios epistemológicos do “interacionismo social”. O autor toma as unidades linguísticas (sejam fonemas ou textos) como representações das condutas (ou das propriedades das condutas) humanas. Nesse sentido, objetivando estudar as condições de funcionamento e de aquisição das condutas humanas, exploram-se descrições e interpretações dessas unidades linguísticas propostas pelas ciências dos textos e/ou dos discursos. Analisam-se as condutas humanas através do quadro interacionista-social como “ações significantes” (ou “ações situadas”), cujas propriedades estruturais e funcionais são consideradas como produto da socialização. Por meio de uma perspectiva herdada de trabalhos de Vygotsky (1991) e, também, de filósofos e sociólogos como Habermas (1987) e Ricoeur (1986), acredita-se que as ações imputáveis a agentes singulares fundam-se no contexto da “atividade” em funcionamento nas formações sociais. Em relação às capacidades mentais e consciência desses mesmos agentes humanos, acredita-se que são elaboradas no quadro estrutural das ações. Portanto, concebem-se as condutas verbais como formas de ação ao mesmo tempo específicas (por serem semióticas) e interdependentes das ações não verbais. A adesão a uma psicologia interacionista-social levou Bronckart (1999: 14) a abordar o estudo da linguagem em suas dimensões textuais e/ou discursivas, pois, por um lado, o autor compreende que as ações de linguagem humanas são somente e empiricamente observáveis nos textos e/ou discursos (a língua seria apenas um construto e as frases e morfemas seriam apenas “recortes abstratos”); por outro lado, as relações de interdependência entre as
  • 3. 3 produções de linguagem e seu contexto acional e social manifestam-se de forma mais nítida no nível dessas unidades globais. As razões que levaram o autor e seu grupo à inscrição de suas abordagens no quadro epistemológico geral do interacionismo social são apresentadas por ele da seguinte maneira: inicialmente, ele explica que diversas correntes da filosofia e das ciências humanas podem ser reconhecidas por essa posição epistemológica, de forma que, mesmo apresentando questionamentos disciplinares particulares de suas especificidades e enfatizando teorias e orientações metodológicas diversas, essas correntes aderem à tese de que “as propriedades específicas das condutas humanas são o resultado de um processo histórico de socialização, possibilitado especialmente pela emergência e pelo desenvolvimento dos instrumentos semióticos” (BRONCKART, 1999: 21, grifos do autor). A postura interacionista releva a historicidade do homem e, por isso, em uma investigação, interessa-se primeiramente pelas condições sob as quais se desenvolveram formas particulares de organizações sociais na espécie humana juntamente às (ou sob o efeito de) formas de interação de caráter semiótico. A seguir, volta-se para o desenvolvimento de uma análise aprofundada das características estruturais e funcionais dessas organizações sociais bem como dessas formas de interação semiótica. É importante ressaltar também que o interacionismo inscreve-se, em relação aos problemas de hominização, na problemática introduzida pela Fenomenologia do espírito, de Hegel (2000). Desta, ele conserva a compreensão de que o desenvolvimento da atividade e o psiquismo humano são de caráter fundamentalmente dialético, e engloba ideias de Marx e Engels referentes ao papel desempenhado pelos instrumentos – linguagem e trabalho/cooperação social – na formação da consciência. Ainda há compatibilidade do interacionismo com algumas posições sustentadas posteriormente pela corrente neokantiana, especialmente com as teses desenvolvidas em A filosofia das formas simbólicas por Cassirer (2001). Enfim, há contribuições mais recentes da antropologia (LEROI-GOURHAN, 1964; 1965), da socioantropologia (MORIN, 2002-2005) e, sobretudo, das abordagens sociofilosóficas de Habermas (1987) e de Ricoeur (1986) que revitalizaram o interacionismo. A análise das estruturas e dos modos de funcionamento sociais é feita pelos interacionistas com base na teoria original dos fatos sociais de Durkheim (1898, apud BRONCKART, 1999), cuja proposta é de articular representações individuais, sociais e coletivas e, consequentemente, em trabalhos inscritos nessa linha (BOURDIEU, 1980; MOSCOVICI, 1961). Já para a análise dos sistemas semióticos, o interacionismo utiliza abordagens que consideram os fatos de linguagem como traços de condutas humanas socialmente contextualizadas, isto é, o interacionismo se refere preferencialmente aos trabalhos que integram dimensões psicossociais. Trata-se de trabalhos centrados na interação verbal e, sobretudo no estudo e análise dos gêneros e tipos textuais provenientes de Bakhtin (2000) e na análise das formações sociais de Foucault (2004). De acordo com Bronckart (1999), essas proposições expandem a concepção das interações entre “formas de vida e jogos de linguagem” desenvolvida por Wittgenstein (1961; 1975). Bronckart (op. cit.) sustenta ainda a contribuição teórica imprescindível da análise de Saussure (1994) sobre a arbitrariedade do signo linguístico para que se compreenda o estatuto das relações interdependentes entre a linguagem, as línguas e o pensamento humano. Enfim, em relação aos processos de construção do psicológico, ou seja, da pessoa dotada de capacidades psíquicas e de consciência, o interacionismo faz uma releitura crítica de Piaget (1975; 1987; 1996). E é exatamente nesse ponto que a abordagem do grupo de Bronckart (1999: 24) ganha sua especificidade, pois o autor adota os fundamentos interacionistas de Vygotsky (1999) por serem, na visão do autor, mais radicais e articularem- se mais precisamente à abordagem de seu grupo.
  • 4. 4 Assim, Bronckart (1999) concebe que uma psicologia interacionista deve integrar primeiramente a dimensão discursiva da linguagem, contribuindo para a descrição das organizações textuais e/ou discursivas e, sobretudo, clarificando as relações sincrônicas existentes entre as ações do homem e as ações de linguagem. Deve ainda, historicamente, tentar identificar as maneiras pelas quais a atividade de linguagem, ao mesmo tempo em que constitui o social, contribui para delimitar as ações das pessoas moldando-as no conjunto de suas capacidades propriamente psicológicas. Percebe-se que ao mesmo tempo em que o autor inscreve sua abordagem no quadro epistemológico geral do interacionismo social, ele defende uma versão mais específica desse quadro na qual se rejeitam os postulados epistemológicos e as restrições metodologias do positivismo para investigar as ações do homem em suas dimensões sociais e discursivas constitutivas. O autor denomina esta versão de “interacionismo sociodiscursivo” (ISD). Portanto, evidenciado o caráter “indissociável” dos processos de organização social das atividades, de suas regulações pelas atividades de linguagem e de desenvolvimento das capacidades cognitivas humanas, o ISD propõe uma compreensão do funcionamento psicológico humano implicado na organização das atividades e das produções verbais coletivas no âmbito da “história das interações humanas”. Paralelamente ao desenvolvimento do próprio quadro do ISD, Bronckart (1999; 2008) volta uma atenção especial para as questões metodológicas de pesquisa, para que metodologias propostas e utilizadas estejam sempre coerentes com as proposições epistemológicas adotadas. Assim, há uma clara opção para um método preferencialmente descendente que envolve as três seguintes etapas: 1. análise dos componentes fundamentais dos pré-construídos específicos do ambiente humano: (a) as atividades coletivas, (b) as formações sociais, (c) os textos e (d) os mundos formais de conhecimento; 2. estudo dos processos de mediação sociossemióticos pelos quais os seres humanos apropriam-se de certos aspectos desses pré-construídos; e 3. análise das implicações dos processos de mediação e de apropriação na formação da pessoa dotada de pensamento consciente e, também, no seu desenvolvimento durante a vida. Bronckart (2008) afirma que um dos objetivos para se ter uma abordagem descendente é o de destacar a fundamental primazia da influência dos pré-construídos histórico-culturais. Todavia, o autor ressalta que – na concepção do ISD – não há um determinismo unilateral do sócio-histórico sobre o individual, ou seja, o desenvolvimento humano não se reduz a um movimento descendente. Dessa forma, a relação entre as três etapas acima é concebida como níveis inseridos em um movimento dialético permanente. Bronckart (2008) admite, então, que se o desenvolvimento das pessoas é orientado pelos pré-construídos humanos mediatizados, as pessoas, por sua vez, possuidoras de um conjunto de propriedades ativas, são as responsáveis pela manutenção, contestação, desenvolvimento ou transformação dos pré-construídos coletivos. Vale lembrar que no modelo de análise textual do ISD, Bronckart (1999: 119) propõe que todo texto é organizado em três níveis (camadas) superpostos, e em parte interativos, que constituem o “folhado textual”: (1) a arquitetura interna dos textos, (2) os mecanismos de textualização e (3) os mecanismos enunciativos. Essa divisão de níveis de análise é concebida pelo autor como necessidade metodológica para se desvendar a complexidade da organização textual. Na hierarquia do autor, a arquitetura interna dos textos seria o nível mais profundo. Constitui-se pelo plano geral do texto, pelos tipos de discurso, pelas modalidades de articulação entre seus tipos de discurso e pelas sequências que casualmente aparecem no
  • 5. 5 plano geral do texto. No nível intermediário, estariam os mecanismos de textualização, constituídos pela conexão, coesão nominal e pela coesão verbal. No último nível - o mais “superficial” - estariam os mecanismos de responsabilização enunciativa, os quais cooperam mais para o estabelecimento da coerência pragmática (ou interativa) do texto, pois, além de contribuírem para o esclarecimento dos posicionamentos enunciativos, traduzem as várias avaliações em relação ao conteúdo temático. 3. A análise A letra da canção Doméstica, de Eduardo Dusek, apresenta a história de uma doméstica que sai do interior para trabalhar na casa de gringos, como nos mostram os versos da primeira estrofe da letra da canção: “Foi trabalhar / Recomendada pra dois gringos / Logo assim / Que chegou do interior”. A personagem doméstica é, portanto, explícita (desde o título da letra da canção), bem como as personagens patrões (“gringos”). O tipo de discurso predominante é o narrativo. No âmbito das operações psicológicas, esse tipo de discurso cria um mundo discursivo cujas coordenadas gerais são disjuntas das coordenadas do mundo ordinário do agente-produtor e dos agentes-leitores. Além disso, não há implicação dos parâmetros físicos da ação de linguagem em curso e não se faz referência direta ao agente-produtor, como podemos observar pela ausência de pronomes de primeira e segunda pessoas do singular e do plural, ou seja, não há remissões linguísticas diretas ao agente-produtor do texto ou dos agentes-leitores. O uso do subsistema dos tempos verbais da “história” ou “narrativos” (“foi”, “era”, “chegou”, “baixava” etc.), assim como os organizadores temporais (“Logo assim Que chegou do interior”, “Quando a coisa tava errada”, “Nunca notou”, “Até que um dia”) também são elementos que caracterizam o tipo de discurso narração. O título da letra da canção – “Doméstica” – explicita a personagem principal da narrativa, bem como inicia implicitamente (pressuposto) a temática do trabalho doméstico, principal percurso semântico da letra da canção. Essa temática, desenvolvida em toda a narrativa, é explicitada no primeiro verso da primeira estrofe da letra da canção: “Foi trabalhar”. Nessa mesma estrofe, há os versos “Logo assim / Que chegou do interior”, que trazem consigo a temática explícita do problema social da emigração de populações do interior do país para as capitais em busca de trabalho. No caso das trabalhadoras domésticas, a mudança do interior para as capitais pode provocar a necessidade de essas trabalhadoras morarem nas casas dos patrões. Apesar de a letra da canção de Eduardo Dusek não explicitar que a trabalhadora mora na casa dos patrões, a condição de emigrante permite ao leitor (ou ouvinte) subentender que a personagem apresentada pela letra dessa canção, provavelmente, estabeleceu moradia em um quarto de empregada das personagens apresentadas como “gringos”. Os últimos versos da primeira estrofe iniciam a construção da representação sobre os patrões “Era um casal / Tipo metido a granfino / Mas o salário / Era tipo, um horror...”. Percebe-se que há uma representação negativa dos patrões que seriam “metidos a granfinos”, ou seja, buscariam um status social maior do que o de fato teriam. Além disso, o marcador discursivo “mas”, que inicia o penúltimo verso da primeira estrofe, deixa implícita (pressuposta) a ideia de que, sendo “metidos a granfinos”, poderiam (ou deveriam) pagar um bom salário à doméstica. Os temas dos direitos trabalhistas e da precária vida das trabalhadoras domésticas iniciam-se, portanto, desde a primeira estrofe da letra da canção “Doméstica”, de Eduardo Dusek. Por um lado, o elemento lexical “salário” é uma importante figura dos direitos trabalhistas; por outro lado, a modalização apreciativa “horror” caracteriza a precariedade econômica da doméstica.
  • 6. 6 A segunda estrofe da letra da canção compõe-se por cinco versos que tematizam explicitamente a violência sofrida pela personagem doméstica: “A tal da madame tinha mania / Esquisitona de bater / E baixava a porrada / Quando a coisa tava errada / Não queria nem saber...”. A agressão física sofrida pela personagem remete-nos, implicitamente, aos direitos que os senhores de escravos possuíam sobre estes. Assim, o senhor possuía o direito de decidir sobre a vida e a morte do escravo, sendo-lhe lícito açoitá-lo até a morte se assim o desejasse. Nessa mesma estrofe, podemos observar ainda a continuidade de uma representação negativa da classe dos patrões. O substantivo “tal” pode ser compreendido com um sentido pejorativo dado à “madame”. Já o substantivo “mania”, por si só, é carregado por uma conotação negativa de loucura ou desejo imoderado. Contudo, esse vocábulo vem acompanhado pela expressão adjetiva “esquisitona”, o que explicita o posicionamento do narrador contra a atitude da personagem “madame” (a patroa). A terceira estrofe, por sua vez, traz uma representação um pouco negativa da trabalhadora doméstica. Trata-se de uma representação menos negativa do que a dos patrões devido ao fato de a personagem doméstica se apresentar inocente (ou ignorante) no meio em que vivia (que é exposto na quarta estrofe). Essa inocência (ou ignorância) é posta explicitamente pelos quarto e quinto versos dessa estrofe da letra da canção, nos quais se afirma: “Sem carteira assinada / Só caía em cilada”. É possível subentender que a doméstica desconhece, até mesmo, o seu direito do registro em carteira. A temática da inocência, ignorância da doméstica é continuada explicitamente na quarta estrofe: “Nunca notou”, “Não reparou” e “Não perguntou”. Podemos afirmar que há uma oposição interdiscursiva entre a inocência, a ignorância da doméstica versus a maldade, a ciência da patroa. Nessa estrofe, temos também a temática do tráfico de drogas explícito na figura do “papelote”, da “mesa espelhada” e dos “giletes”, utilizados na preparação da droga, bem como o tema da prisão na figura do “camburão”. O tema da prisão é desenvolvido na quinta estrofe explicitamente na figura da “delegacia” presente em seu primeiro verso. Podemos extrair, ainda do intradiscurso, o verso “ameaçar”, conjugado no pretérito perfeito do indicativo – “ameaçou” -, que explicita a construção negativa da imagem da patroa pelo narrador da letra da canção. A temática do classismo também fica em evidência na quinta estrofe quando, nos terceiro e quarto versos coloca-se um discurso direto da personagem “patroa americana”: “Lembra-se que eu sou / Uma milionária”. A figura no intradiscurso do dinheiro revela as relações de poder de uma classe sobre a outra. A classe dos patrões aparece subjugando a classe das trabalhadoras domésticas explicitamente por meio do léxico “otária” que é usado pela personagem patroa para ofender e ameaçar a personagem doméstica. As sexta e sétima estrofes tematizam explicitamente a personagem doméstica cumprindo pena na cadeia por culpa dos patrões. É interessante notar nos primeiros versos da sétima estrofe que, na prisão, a doméstica aprende a “se dar bem”. Vemos, implicitamente, uma crítica ao sistema carcerário do Brasil que, ao invés de recuperar e inserir o indivíduo na sociedade, o corrompe. Essa corrupção do caráter da personagem doméstica surge na oitava estrofe com seu desejo de vingar a “raça das domésticas”, bem como, na nona estrofe, sua aceitação em se tornar prostituta com o objetivo de se casar com um estrangeiro. Vê-se que a há também uma oposição interdiscursiva da inocência versus a ciência entre o bem e o mal da própria doméstica no decorrer da narrativa. O tema da prostituição é o foco, além da oitava estrofe, da nona e da décima estrofes. Já na décima primeira, décima segunda e décima terceira estrofes, a vida de casada e o novo status da doméstica como “baronesa” são tematizados. A personagem doméstica se vê na
  • 7. 7 posição de patroa e coloca, na décima quarta estrofe, um anúncio em jornal a procura de uma babá. A conclusão da vingança é ter a americana, outrora patroa, como empregada doméstica. É interessante notar no intradiscurso da letra da canção as referências à afrodescendência da personagem doméstica: “mulata” (7º verso da 7ª estrofe) e “nêga” (3º verso da 14ª estrofe). Ressalta-se, também, a afrodescendência do filho dessa personagem: “mulatinho” (5º verso da 12ª estrofe), bem como, no juramento da personagem ao sair da prisão em vingar a “raça das domésticas” (6º verso da 8ª estrofe). Essas referências devem ser apontadas pela associação explícita, sobretudo na expressão “raça das domésticas”, entre a categoria de trabalhadoras domésticas do Brasil e os afrodescententes brasileiros. Já em Stuttgart, cidade alemã citada no segundo verso da décima segunda estrofe, a categoria das trabalhadoras domésticas é representada na letra da canção por uma “loira meio brega”. Percebe-se que a personagem doméstica vinga uma “raça” e não a categoria das domésticas na medida em que fica implícito subentendido que, agora como patroa, a ex- doméstica revidará os maus-tratos que sofreu em sua doméstica, sua antiga patroa “loira”. 4. Considerações finais Apesar de a letra da canção Doméstica, de Eduardo Dusek, ser uma narrativa fictícia, valores e crenças socioculturais podem ser apreendidos de seu intra e interdiscursivo. O desfecho da narrativa pode ser compreendido por uma moral, ou seja, “não fazer com os outros aquilo que não gostaria que fizesse com você” na medida em que a posição de patroa e empregada é modificada e esta terá a oportunidade de se vingar da primeira. A compreensão dessa moral pode apontar para uma posição do agente-produtor da letra da canção em favor da categoria das trabalhadoras domésticas. A letra dessa canção caracteriza, como vimos, explicitamente no intradiscurso a afrodescendência das trabalhadoras domésticas do Brasil (“mulata”, “nêga”), a situação salarial (“um horror”), o descumprimento de seus direitos legais (“Sem carteira assinada”) e a subjugação física da doméstica para com a patroa (“baixava a porrada”). A oposição interdiscursiva entre o conhecimento e o desconhecimento, sejam eles em um sentido pejorativo ou não, são passíveis de apreensão. Embora a instância de produção do texto tenha uma tendência para se posicionar a favor da trabalhadora doméstica, colocando o seu desconhecimento como uma característica de pureza, inocência, ele acaba sendo negativo à personagem doméstica devido ao fato de esta ter sido presa. Referências bibliográficas BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: EDUC, 1999. DUCROT, Oswald. [1984]. O dizer e o dito. Campinas: Pontes Ed., 1987. FARIA, A. A. M. Sobre Germinal: interdiscurso, intradiscurso e leitura. São Paulo: USP (tese de doutorado em Linguística), 1999. ______. Metáfora, metonímia e contrato discursivo em Germinal, de Zola. In: H. MARI (org.) Categorias e práticas em análise do discurso. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2000. ______. Interdiscurso, intradiscurso e leitura: o caso de Germinal. In: H. MARI (org.) Análise do discurso: fundamentos e práticas. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2001a. ______. Interdiscurso e intradiscurso: da teoria à metodologia. In: E. A. M. MENDES, P. M. OLIVEIRA & V. BENN-IBLER (org.) O novo milênio: interfaces lingüísticas e literárias. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2001b.
  • 8. 8 ______. Sobre a gênese de Germinal (Zola): aspectos interdiscursivos e intradiscursivos. In: I. L. MACHADO, H. MARI & R. de MELLO (org.) Ensaios em análise do discurso. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2002. ______. Aspectos lingüísticos de discursos ficcionais sobre trabalhadores: os casos de Germinal e Morro Velho. In: R. de MELLO (org.) Análise do discurso e Literatura. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2005. FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. São Paulo: Ática, 1989. ______. [1988]. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática, 1993. ______. O Regime de 1964: discurso e ideologia. São Paulo, Atual, 1988. ______. O romance e a representação da heterogeneidade constitutiva. In: FARACO, TEZZA & CASTRO (orgs.) Diálogos com Bakhtin. Curitiba, UFPR, 1996. ______. O romance e a simulação do funcionamento real do discurso. In: Beth BRAIT (org.) Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. Campinas, Unicamp, 1997. FIORIN, J.L.; SAVIOLI, F.P. “Informações implícitas” e “Dizer uma coisa para significar outra”, caps. 20 e 21 (p. 303-334) de Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ed. Ática, 1996. FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. HABERMAS, Jurgen. Théorie de l’agir communicationnel. Paris, Fayard, 1987. 2v HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich,; MENESES, Paulo; EFKEN, Karl-Heinz; VAZ, Henrique C. de Lima. Fenomenologia do espírito. 5.ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 2v. HUMBOLDT, W. Introduction à l’uvre sur le kavi et autres essais. Paris, Seuil, 1974. JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000. LEROI-GOURHAN, A. Le geste et la parole. Paris, Albin Michel, 1964-1965. 2v MAINGUENEAU, D. Genèses du discours. Brucelles : Pierre Mardaga, 1984. ______. [1984] Gênese dos discursos. Tradução de Sírio Possenti. Curitiba: Criar Edições, 2005. MORIN, Edgar. O método. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2002-2005. 6v MOSCOVICI, Serge. La psychanalyse : son image et son public: etude sur la representation sociale de la psychanalyse. Paris: Presses Univ. de France, 1961. PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 2. ed. Rio de Janeiro, 1975. ______. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro, 1987. ______. A construção do real na criança. 3. ed. São Paulo: Ática, 1996. RICOEUR, Paul. Du texte a l'action: essais d'hermeneutique II. Paris, 1986.
  • 9. 9 SAUSSURE, Ferdinand de. [1916]. Curso de lingüística geral. 19.ed. São Paulo: Cultrix, 1994. SOUZA e SILVA, M.C.P. Fronteiras da lingüística contemporânea: linguagem e trabalho. Revista da ANPOLL. Humanitas/FFLCH-USP, São Paulo, v. 12, 2002, p. 155-168. VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. Série Psicologia e Pedagogia. ______. La signification historique de la crise de la psychologie. Paris, Delachaux & Niestlé, 1999. WITTGENSTEIN, L. Tractatus lógico-philosophique. Paris: Gallimard, 1961. ______. Remarques philosophiques. Paris: Gallimard, 1975. Anexo “Doméstica” Composição: Eduardo Dusek 1 Foi trabalhar Recomendada prá dois gringos Logo assim Que chegou do interior Era um casal Tipo metido a granfino Mas o salário Era tipo, um horror... 2 A tal da madame tinha mania Esquisitona de bater E baixava a porrada Quando a coisa tava errada Não queria nem saber... 3 Doméstica! Ela era Doméstica! Sem carteira assinada Só caía em cilada Era empregada Doméstica!... 4 Nunca notou A quantidade de giletes Não reparou A mesa espelhada no salão Não perguntou
  • 10. 10 O quê que era um papelote Baixou "os home" Ela entrou no camburão... 5 Na delegacia Sua patroa americana ameaçou: "Lembra que eu sou Uma milionária, Eu fungava, de gripada Não seja otária, por favor"... 6 Doméstica! Traficante disfarçada De doméstica Era manchete nos jornais O casal lhe deu prá trás Sujando brabo prá doméstica... 7 No presídio aprendeu Com as companheiras A ser dar bem A descolar, como ninguém Ficou famosa No ambiente carcerário Como a mulata Que nasceu prá ser alguém... 8 Pois não é que a Doméstica! Conseguiu uma prisão, doméstica Saiu por bom comportamento Mas jurou nesse momento Vingar a raça das domésticas... 9 Então alguém Lhe aconselhou logo de cara "Dá um passeio Vê se arranja um barão" Porque melhor Que o interior ou que uma cela É ter turista e faturar No calçadão... 10 Até que um dia
  • 11. 11 Um Mercedinho prateado buzinou Era um louro alemão Que lhe abriu a porta do carro E lhe tacou um bofetão... 11 Doméstica! Virou uma baronesa Doméstica! Mesmo com as taras do barão Segurou a situação Levando uma vida doméstica... 12 Realizada em sua mansão Em Stuttgart Ouvindo Mozart a Beethoven de montão Com um pivete Mulatinho pela casa Que era herdeiro De olho azul como o barão... 13 Precisou de uma babá Botou um anúncio Bilíngue no jornal Seu mordomo abriu a porta Uma loira meio brega Uma yankee de quintal... 14 Doméstica! Era a americana, de doméstica A nêga deu uma gargalhada Disse: "Agora tô vingada Tu vai ser minha Doméstica "! ...(2x)