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Liliana Domingues
Escola Superior de Tecnologia de Setúbal | Pós-Graduação em Energias Renováveis em Edifícios | Módulo 3 – Clima, Energia e Edifícios
Dezembro 2007
análise do impacto das
exigências energéticas
decorrentes do modo de vida na
emissão de gases de efeito de
estufa e no clima
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1. Introdução.................3
2. Enquadramento….....3
3. Metodologia...............5
4. Aplicação do
VGAS..........................6
5. Análise dos
Resultados
Obtidos......................7
6. Comentários
Finais.......................13
3 | 14
1. Introdução
A intensificação dos padrões de consumo de
energia a que se tem assistido desde o último
século, sobretudo nos países mais
industrializados, e que se prevê ser cada vez
maior, tendo em conta o crescimento da
população mundial previsto e a necessidade
de se elevarem os critérios de qualidade de
vida das populações mais carenciadas, faz
com que a pressão sobre a produção de
energia se torne uma questão absolutamente
essencial a nível mundial. Paradoxalmente, as
questões dos impactos resultantes das
emissões dos gases de efeito de estufa
(GEEs) sobre o clima, principalmente em
virtude do consumo de combustíveis fósseis,
leva a que tanto a diversificação das fontes
energéticas, como a alteração dos padrões de
consumo, se tornem um dos maiores desafios
do século XXI.
Face a este contexto, com a realização do
presente trabalho pretende-se analisar e
compreender o impacto que as exigências
energéticas decorrentes do modo de vida de
uma família de um país industrializado têm
sobre a emissão de gases de efeito de estufa
e, consequentemente, sobre o clima.
A elaboração deste estudo envolveu a
quantificação das emissões de GEEs num
caso hipotético de uma família de três
pessoas a residir em Lisboa, em dois cenários
distintos:
Cenário 1 – distribuição das fontes de
energia primária tendo em conta o mix
energético actualmente existente em
Portugal;
Cenário 2 – distribuição das fontes de
energia primária com 55 por cento da
energia proveniente dos recursos
renováveis, transformando o actual
mix energético português;
tendo para tanto sido utilizado o software
VGAS.
Os resultados obtidos em ambos os cenários
foram devidamente analisados, criticados e
comparados, tendo-se formulado algumas
hipóteses justificativas das diferenças
encontradas.
2. Enquadramento
As alterações do clima são acontecimentos
naturais que ocorrem desde sempre,
referindo-se à variação do clima global ou dos
climas regionais da Terra ao longo do tempo.
Podem estar em causa mudanças no estado
médio da atmosfera em escalas de tempo que
vão de décadas até milhões de anos. Durante
o último século, contudo, as alterações
registadas têm sido mais pronunciadas do que
em qualquer período registado até ao
momento, sendo que a temperatura média
global da superfície terrestre tem vindo a
aumentar desde 1861, tendo este sido igual a
0,74ºC no período entre 1906-2005.
Constata-se que o aquecimento terrestre em
larga-escala, tanto da superfície marítima,
como da superfície terrestre, ocorreu no
último quarto do século XX, onde os
aumentos de temperatura mais significativos
foram registados nas latitudes médias e
elevadas da América do Norte, da Europa e
da Ásia (CARBON TRUST, 2005).
De acordo com o último relatório do Painel
Intergovernamental das Nações Unidas para
as Alterações Climáticas (IPCC), divulgado no
início de Fevereiro, o aquecimento global é
“inequívoco face às observações do aumento
da temperatura média global do ar e dos
oceanos, da fusão da neve e dos gelos e do
aumento do nível médio do mar”. Segundo o
IPCC, é muito provável que o aumento da
temperatura global média terrestre esteja
relacionado com o aumento das
concentrações dos gases de efeito de estufa
devido a factores antropogénicos (IPCC,
2007).
As actividades humanas estão, pois, a alterar
a composição e as propriedades da
atmosfera, sendo responsáveis pela alteração
do “ciclo natural do carbono”. Desde o período
pré-industrial (aproximadamente em 1750), as
concentrações de dióxido de carbono
aumentaram cerca de um terço, passando de
280 ppm para 380 ppm (ver figura seguinte),
nunca tendo sido tão elevadas desde há 650
mil anos. Simultaneamente, a temperatura
média global tem aumentado cerca de 1ºC
(STERN, 2006).
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Fonte: WBCSD, 2007
Fig.1 – Variação da concentração de CO2 e a
temperatura média global terrestre desde 1861
Segundo as projecções do IPCC prevê-se
ainda que a temperatura global irá aumentar
0,2ºC por cada década devido à emissão de
GEE já lançadas para a atmosfera. E que não
será possível impedir o aumento a um ritmo
de 0,1ºC por década, mesmo se essas
emissões ficassem nos níveis de 2000, pois
os efeitos são retroactivos (IPCC, 2007).
Existe, pois, uma evidência muito significativa
de que o aumento da concentração dos gases
de estufa irão provocar um aquecimento muito
elevado, devido ao aumento da radiação de
infra-vermelhos retidos na atmosfera, o que
terá como consequência uma aumento do
“efeito de estufa”. No total, o aquecimento
global devido aos gases de efeito de estufa
emitidos pelas actividades humanas é
actualmente equivalente a cerca de 430 ppm
de dióxido de carbono, sofrendo um aumento
de aproximadamente 2,3 ppm por ano
(STERN, 2006).
As actividades humanas que mais têm
contribuído para o aumento da concentração
dos gases do efeito de estufa são: indústrias
de produção de energia, transportes, indústria
e construção civil, agricultura e pecuária,
residencial e serviços, industrial e resíduos.
Os principais GEE na atmosfera terrestre são
o vapor de água (H2O), o metano (CH4), o
óxido nitroso (N2O) e o dióxido de carbono
(CO2), sendo este o mais importante em
termos de forçamento radiativo. As emissões
de CO2 devem-se principalmente à
combustão de combustíveis fósseis (que
representam cerca de 80 por cento das fontes
primárias de energia a nível global) e às
alterações no uso dos solos, especialmente a
desflorestação. Nos países industrializados a
extracção, produção e consumo de
combustíveis fósseis corresponde a uma
emissão de 85 por cento dos gases com efeito
de estufa. Em 2002, a produção de energia
eléctrica e calor contribuiu com cerca de 40
por cento para as emissões globais de CO2 a
partir da queima de combustíveis, sendo a
queima de carvão responsável por cerca de
70 por cento desta parte. Assim, verifica-se
que os sectores que mais contribuem para a
emissão de CO2 são os sectores de produção
de electricidade e calor e o sector dos
transportes.
Se as tendências actuais de aumento das
emissões globais não forem alteradas, o IPCC
aponta para um aumento de 7,8 Giga
toneladas de carbono (GtC), em 2002, para
12 GtC em 2030. Este perfil de emissões
coloca o mundo numa trajectória que tenderá
para uma concentração atmosférica de CO2
de 1000 ppm, acima dos 370 ppm em 2000 e
280 ppm na época pré-industrial.
Consequentemente, o aumento da
temperatura poderá atingir os 3 - 4º C em
2100 e 6º C em 2300 (WBCSD, 2007).
Se se limitar as concentrações atmosféricas a
aproximadamente 550 ppm, embora se
permita que as emissões de carbono
aumentem a médio prazo, tem-se uma
redução global nas emissões antes de 2030,
seguida de um decréscimo contínuo. Em
2050, e apesar do aumento acentuado das
necessidades energéticas (pelo menos o
dobro) e no mesmo período de tempo, as
emissões têm que se aproximar dos níveis de
hoje (WBCSD, 2007).
É pois evidente que se torna mais urgente que
nunca a necessidade de uma acção colectiva
internacional forte e precoce contra as
alterações climáticas. Tanto mais que os
benefícios de uma acção mundial concertada
superam consideravelmente os custos da
inacção, podendo fazer-se de uma forma que
não coarcte as aspirações de um crescimento
sustentável, sendo que quanto mais cedo
forem tomadas medidas eficazes, menos
onerosas estas serão (STERN, 2006).
Podem ser adoptadas várias estratégias neste
sentido, mas todas requerem alterações
significativas na produção e utilização da
energia para terem sucesso e necessitam
ainda de grandes reestruturações sectoriais
ao nível da produção de energia eléctrica, da
industria e fabrico, da mobilidade, dos
edifícios e das escolhas dos consumidores.
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3. Metodologia
Ao pretender-se realizar um trabalho sobre o
impacto que as exigências energéticas
decorrentes do modo de vida das
famílias/indivíduos de um país industrializado
têm sobre a emissão de gases de efeito de
estufa, procedeu-se primeiramente à definição
do objecto de estudo.
Procurou-se, então, um objecto de estudo que
fosse suficientemente pertinente para a
análise/abordagem pretendida e que fosse de
alguma forma representativo da realidade de
uma família “típica” de um país industrializado.
Face a estas disposições considerou-se que o
objecto de estudo deveria ser uma família
constituída por três elementos e residente em
Lisboa (Portugal), com determinados padrões
de consumo (alimentares, domésticos,
lúdicos, etc...).
Posteriormente procedeu-se, então, à
utilização do software V GAS – Energy,
Lifestyles & Climate1
(versão I.I 2005),
desenvolvido pelo Joint Research Centre -
Institute for the Protection and Security of the
Citizen, na medida em que corresponde a
uma ferramenta que permite que os
utilizadores relacionem os seus estilos de vida
com a emissão de gases de efeitos de estufa
e, consequentemente, com as alterações
sobre o clima e a envolvente em geral. Este
software avalia o comportamento dos
cidadãos, não só em termos quantitativos,
mas também através de indicadores de bem-
estar (a nível económico, funcional e de
conforto) (JRC, 2005).
Deu-se início à construção do perfil no V GAS
BUILD PROFILE com vista ao cálculo das
emissões dos três principais GEE (CO2, CH4 e
N2O), baseado nos padrões de consumo
individuais, nacionais e mundiais.
Uma vez verificados os níveis de emissão de
GEE, bem como as respectivas fontes,
procedeu-se à simulação de uma outra
situação, desta feita considerando que 55 por
cento da energia primária utilizada em
Portugal era proveniente de fontes renováveis
(não incluindo a energia hídrica), com o
propósito de comparar os resultados obtidos
para diferentes mix energéticos.
1
http://alba.jrc.it/vgas/
Assim, foi analisado um segundo caso, com
características exactamente iguais ao
primeiro, mas em que a geração da energia
primária era maioritariamente devida a fontes
renováveis, tendo-se redistribuído a geração
de energia primária do seguinte modo: 5%
petróleo; 0% carvão; 0% nuclear; 5,7% gás
natural; 34,3% energia hídrica; 40% energia
eólica; 15% energia solar.
De referir que os 55 por cento em energias
renováveis estão significativamente além das
metas instituídas pelo governo português para
serem alcançadas até 2010 em termos de
investimento em energias renováveis, mas
procuram precisamente demonstrar até que
ponto pode ser representativo para uma
verdadeira política de redução de emissões
de GEE uma forte aposta em energias
renováveis, não só pelo Estado português,
mas também por outras nações com um perfil
energético extremamente assente em fontes
de energia mais poluentes.
Resumidamente a metodologia de análise do
presente trabalho foi a seguinte:
Selecção do software a aplicar
Definição e delimitação do objecto de estudo
Obtenção dos
resultados – Caso 1
Aplicação do software V GAS
Análise e comparação dos resultados
obtidos
Obtenção dos
resultados – Caso 2
Fora do âmbito do presente trabalho
Dentro do âmbito do presente trabalho
Fig.2 – Síntese da metodologia utilizada
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4. Aplicação do V GAS
Tendo em conta os objectivos inerentes à
realização do presente trabalho, a aplicação
do V GAS envolveu a construção do perfil,
para cada um dos casos mencionados
anteriormente, tendo-se unicamente utilizado
o V GAS PROFILE. Assim, procedeu-se à
configuração de cada um dos itens do próprio
layout do software, mais concretamente as
seis divisões da casa: quarto, sala, casa de
banho, escritório, cozinha e garagem, com as
opções previamente estabelecidas para a
realização do presente trabalho (ver quadro I).
Note-se que para os elementos não definidos
à partida (como sejam, potência do micro-
ondas, potência da torradeira e número de
horas do funcionamento do ferro por semana)
se considerou as definições previstas por
defeito pelo próprio software, por serem
representativas da realidade.
À medida que se avançava para uma nova
divisão da casa verificava-se a emissão de
GEE calculada para as divisões anteriores, de
modo a verificar o incremento fornecido por
uma nova divisão.
Não foi utilizada a aplicação GAME, módulo
do software em que o utilizador é confrontado
com a ocorrência de determinadas alterações
no curso normal do seu dia-a-dia (tendo de
adaptar-se à nova situação num determinado
período de tempo), por não ir directamente ao
encontro dos objectivos inicialmente definidos.
Importa referir que a quantidade dos três
GEEs foi calculada numa base de emissão
anual, não devendo os valores obtidos ser
confundidos com concentrações de gases
(JRC, 2005).
Igualmente deve ser mencionado que as
fontes de emissão de GEE consideradas são
unicamente as relacionadas com as
actividades realizadas no quotidiano, sendo
apenas tidos em conta alguns processos
industriais cujo processo produtivo implique
uma emissão relevante de GEE (p. ex. a
geração de energia). As fontes de emissão de
GEE consideradas no V GAS são, então:
combustão de combustíveis fósseis da
indústria de produção de electricidade e dos
transportes, emissões volantes de
combustíveis sólidos (lenha), processos de
fermentação de matéria orgânica, cultivo de
arroz, solo agrícola, deposição de resíduos
sólidos em aterro e incineração de resíduos.
Quadro I – Opções seleccionadas para o perfil da família
Menu Opções seleccionadas
País Portugal
Petróleo: 13,2%
Carvão: 34,8%
Gás Natural: 16,5%
Nuclear: 0
Hídrica: 34,4%
Eólica: 1,06%
Energia primária
Solar: 0,14%
Tradicional: 99%
Agricultura
Biológica: 1%
Incineração
Aterro
Compostagem
Reciclagem de vidro
Reciclagem de
metal
Resíduos
Reciclagem de
plástico
Ovos: 122 ovos/ano
Lacticinios:102
Kg/ano
Arroz: 17 Kg/ano
Vaca: 17 Kg/ano
Porco: 42 Kg/ano
Aves: 27 Kg/ano
Carneiro: 3,3 Kg/ano
Opções do
país
Alimentação
Vegetais: 174
Kg/ano
Férias 25 dias/ano
Com jardim Não
Área 110 m
2Casa
Agregado familiar 3
Temp. média de Verão 24ºC
Temp. média de
Inverno
12ºCClima
Temp. de conforto 20ºC
Verão 3 horas
Inverno 7 horas
Lâmpadas
incandescentes
3 de 40 W
Lâmpadas
fluorescentes
1 de 60 W
Lâmpadas de
halógeneo
2 de 50 W
Luzes
gerais
Lâmpadas de baixo
consumo
7 de 10 W
Humidificador Nenhum
Desumidificador Potência média
Sistema de
aquecimento
100% eléctrico
Vidro duplo
Utilização 120
dias/ano
Potência elevada
Ar condicionado Utilização 30
dias/ano
TV a cores Potência média
Hi-Fi Potência média
Aparelho via satélite Potência média
Sala de
estar
Video/DVD Potência média
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Menu Opções seleccionadas
Rádio Potência baixa
Ventoinha Potência média
Computador Potência alta
Escritório
Impressora Potência média
Secador Potência média
Banheira 3 banhos/semana
Chuveiro 5 banhos/semana
Casa de
Banho
Esquentador Gás
3,69 kg/ano
Gestão do lixo
Reciclagem de:
resíduos verdes,
plástico, vidro e
papel
Potência alta
Aspirador Ligado 3
horas/semana
Alguns produtos
biológicos
Ovos
Lacticínios
Arroz
Aves
Comida
Carneiro/Borrego
Frigorífico Potência alta
Congelador Potência alta
Potência média
Micro-ondas
Ligado 20 min/dia
Ligado 3 min/dia
Torradeira
Potência baixa
Aquecedor de água Nenhum
Potência alta
Ferro 1 h ligado
semanalmente
Máquina de café Potência média
Potência alta
Máquina lavar-loiça
Ligada 7h/semana
Potência alta
Máquina lavar-roupa
Ligada 7h/semana
Potência alta
Máquina secar
Ligada 2h/semana
Gás
Ligado 1h/semana
Fogão a gás
Forno eléctrico
30% electricidade
Cozinha
Forno
70% gás
Desportos
Esqui-aquático – 1
o
dias/ano
Transportes públicos Não utilizados
Veículo de férias Nenhum
Embarcação de férias
Mota de água – 10
dias/ano
Bicicleta Apenas em férias
Ciclo motor Nenhum
No trabalho:
Distância: 60 Km/dia
Combustível:
gasolina
Consumo médio: 7,5
L/100 Km
Garagem
Automóvel
Em férias:
Distância: 60 Km
Combustível:
gasolina
5. Análise dos
Resultados Obtidos
Em resultado da utilização do software V GAS
obteve-se os dados relativos:
à quantidade de emissões de CO2, CH4
e N2O gerada pela família nos casos 1 e
2 (respectivamente, Família Não-
Renovável e Família Renovável), em
Portugal (com base de referência nos
dados referentes a 1990) e no Mundo,
em kg/per capita/ano;
às fontes responsáveis pela emissão de
CO2, CH4 e N2O, nos casos 1 e 2
(respectivamente, Família Não-
Renovável e Família Renovável);
ao consumo de energia eléctrica (em
Kwh/ano) pela família (igual em ambos
os casos), e;
ao consumo de combustíveis fósseis
(em L/ano) pela família (igual em ambos
os casos).
5.1. Emissões de GEE
As emissões de CO2 geradas em resultado
das actividades realizadas pelos elementos da
Família Não-Renovável, que envolvem o
consumo de electricidade, a utilização de
combustíveis fósseis no transporte, o
aquecimento, a confecção de alimentos e
incineração de resíduos, são bastante
superiores às quantificadas para Portugal
(aproximadamente em mais de 24%) e muito
mais elevadas do que as registadas para o
Mundo (em cerca de mais 55,37%). Esta
diferença pode estar relacionada com o facto
de para o Mundo se ter entrado em linha de
conta com países não industrializados, cujas
emissões de CO2 são naturalmente muito
inferiores às dos países industrializados.
Fig.3 – Quantidade de emissões de CO2 (kg/per
capita/ano) geradas pela Família Não-Renovável
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Inversamente, as emissões de CH4 geradas
pelos elementos da Família Não-Renovável,
como consequência do seu consumo de
carne, lacticínios, arroz, ovos e produção de
resíduos sólidos urbanos, são
consideravelmente inferiores à média gerada
em Portugal (aproximadamente menos
32,43%) e muito inferiores comparativamente
com a média gerada no Mundo (menos cerca
de 53,7%).
Fig.4 – Quantidade de emissões de CH4 (kg/per
capita/ano) geradas pela Família Não-Renovável
De igual modo, as emissões de N2O geradas
pela Família Não-Renovável, devidas ao
consumo de vegetais produzidos com
fertilizantes, ao consumo de gado e à
utilização de transportes, são muito inferiores
à média gerada em Portugal (menos cerca de
42,1%) e inferiores à média do Mundo (menos
7,61%).
Fig.5 – Quantidade de emissões de N2O (kg/per
capita/ano) geradas pela Família Não-Renovável
Em termos gerais, os resultados obtidos
evidenciam de forma extremamente clara que
o CO2 é o poluente mais emitido para a
atmosfera pela Família Não-Renovável,
representando uma diferença na ordem de
mais de 95% relativamente às emissões de
CH4 e de N2O.
5.2. Fontes de emissão de GEE
Através da figura seguinte verifica-se pois que
a energia eléctrica e a gasolina constituem as
maiores fontes de emissão de CO2 da Família
Não-Renovável, em respectivamente 57 por
cento e 42 por cento das emissões.
Fig.6 – Fontes de emissão de CO2 geradas pela Família
Não-Renovável
No que concerne ao CH4 a principal fonte de
emissão prende-se com a produção de carvão
(que representa cerca de 70% do total das
fontes de emissão), seguindo-se o consumo
de carne (que representa 25%), tal como se
ilustra na figura seguinte:
Fig.7 – Fontes de emissão de CH4 geradas pela Família
Não-Renovável
As principais fontes de emissão do N2O estão
relacionadas, em 62 por cento, com a
produção de resíduos verdes, e, em 26 por
cento com a criação de animais, sendo os
restantes 12 por cento devidos à incineração
de resíduos.
Tal reflecte, em certa medida, a importância
da energia eléctrica e dos combustíveis
fósseis em geral em todas as actividades
antropogênicas realizadas no dia-a-dia,
comparativamente com as actividades que
estão na base da emissão de CH4 e de N2O.
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Fig.8 – Fontes de emissão de N2O geradas pela Família
Não-Renovável
Constata-se pois que os padrões de consumo
adoptados pela Família Não-Renovável
(representativa de uma família de classe
média residente em Lisboa) levam a que as
principais fontes de emissão de gases de
efeito de estufa estejam relacionadas, de
forma completamente preponderante, com os
consumos de energia eléctrica e de
combustíveis fósseis. Tal vai ao encontro da
tendência existente relativamente aos
edifícios serem responsáveis, pelo menos, por
40 por cento da energia utilizada em
Portugal, e na maioria dos países, a par do
que acontece no sector dos transportes.
5.3. Consumo de Energia Eléctrica
Os consumos de energia eléctrica são
devidos em 75 por cento ao aquecimento do
edifício de residência da Família em análise,
em 24 por cento à iluminação e utilização de
electrodomésticos e aparelhos electrónicos e
em um por cento devido ao arrefecimento, à
confecção de refeições e banhos, podendo tal
ser observado na figura seguinte:
Fig.9 – Distribuição do consumo de energia eléctrica
(kWh/ano) da Família Não-Renovável
5.4. Consumo de Combustíveis Fósseis
Relativamente aos consumos de combustíveis
fósseis, estes resultam em larga escala
(99,9%) do consumo de gasolina subjacente à
utilização intensiva do veículo automóvel e
apenas uma ínfima parte devido ao gás, como
se ilustra na figura seguinte:
Fig.10 – Distribuição dos consumo de combustíveis
fósseis (kWh/ano) da Família Não-Renovável
5.5. Impacto da Alteração de Consumos
Torna-se pois evidente que os hábitos de
consumo da Família Não-Renovável têm a si
subjacentes escolhas e comportamentos
energéticos pouco eficientes, sobretudo
devido ao facto de: o sistema de aquecimento
utilizado ser 100% eléctrico e ser usado
durante 120 dias/ano; o sistema de ar
condicionado ter uma potência elevada e ser
usado durante 30 dias/ano; os
electrodomésticos e aparelhos electrónicos se
caracterizarem, na sua maioria, por uma
potência elevada e média, em particular
electrodomésticos tão energético-
dependentes como sejam o frigorifico, o
congelador, a máquina de lavar loiça e a
máquina de lavar e secar roupa, cuja potência
é alta; as lâmpadas utilizadas não serem na
sua grande maioria de baixo consumo; o
único modo utilizado nas deslocações para o
trabalho e nas férias ser um automóvel a
gasolina, com consumos médios ainda
consideráveis (7,5 L/100 Km), e; serem
igualmente utilizados veículos motorizados
nas actividades de lazer.
Se a Família introduzisse algumas alterações
no seu quotidiano, através da utilização de
produtos e serviços mais eficientes e da
adopção de comportamentos mais
sustentáveis, certamente que influenciaria a
redução de consumo de energia algures ao
longo da sua cadeia de valor.
10 | 14
Por exemplo, ao:
optar por electrodomésticos de classe
energética mais eficiente (classe A)
poderia obter poupanças energéticas
entre 45-55%;
adoptar sistemas de aquecimento e
arrefecimento mais eficientes poderia
obter poupanças energéticas entre
40-50%;
adquirir mais lâmpadas de baixo
consumo poderia conduzir a
poupanças energéticas entre 70-80%;
desligar os aparelhos electrónicos do
standby poderia obter poupanças
energéticas entre 72-82%, na medida
em que nos países da OCDE os
aparelhos em standby consomem
cerca de 5-10% da electricidade
utilizada no sector residencial;
optar por transportes públicos para as
suas deslocações ao trabalho, ou
caso tal não seja praticável, a
aquisição de um veículo com menores
consumos de combustível, ou até
mesmo um veículo híbrido, e a
adopção de uma condução menos
agressiva em termos de consumos
energéticos;
optar por actividades de lazer que não
sejam à base da utilização de
veículos motorizados, valorizando
mais actividades que permitam um
contacto mais directo com o meio
envolvente (bicicleta, surf, etc...)
Muitas mais escolhas podem feitas por
esta Família, e por todos os consumidores
em geral, no sentido de diminuir os
impactes devidos às suas emissões,
como sejam:
a reciclagem e reutilização de um
cada vez maior número de produtos,
tais como os sacos de plástico, os
papeis e cartões, etc., que poupa
grandes quantidades de energia e
água;
fazer compras on-line, em vez de
deslocações físicas às lojas, ou
recorrer ao teletrabalho ou a
teleconferência em vez de reuniões
pessoais, o que reduz o consumo de
energia dado que decresce a
necessidade de viajar;
a aquisição de produtos locais em vez
de importados, reduzindo a energia
usada em transportes internacionais.
Se se tomar como caso de referência o
exemplo dado pelo cálculo da pegada
ecológica de uma família constituída por
quatro pessoas que procura adoptar
comportamentos e soluções energeticamente
mais eficientes, tem-se uma maior percepção
de como as escolhas que se fazem no dia-a-
dia são determinantes em termos de impacte
das emissões de gases de efeito estufa:
Quadro II – Exemplo de uma família de quatro elementos
com comportamentos mais eficientes
Uma família de quatro
Tons de carbono
por ano
Casa geminada:
Com bomba de calor
geotérmico:
1,57
- 0,59
E que tenha instalado
Isolamento e vidros
duplos
Iluminação eficiente
- 0,22
- 0,09
E também
Usa aparelhos de
classe A*
Ajusta o termóstato
Desliga luzes/aparelhos
- 0,11
- 0,04
- 0,06
E também instala
Painéis solares para
electricidade e água
quente
- 0,26
Tem um carro
Híbrido (5.000 milhas) 0,23
Viagens de avião
8 de curta distância 0,32
Resíduos
Mas recicla
0,25
- 0,15
Total 0,85
Fonte: BP, 2005
Comparando com a emissão per capita de
toneladas de CO2 por ano da Família Não-
Renovável verifica-se que existe uma
diferença mais do que assinalável entre uma
situação e outra.
5.6.Comparação entre a Família Renovável
e a Família Não Renovável
De observar igualmente que a quantidade de
CO2 emitida em Portugal é aproximadamente
41,2 por cento superior à emitida no Mundo,
contrariamente ao facto de a quantidade de
CH4 e N2O ser inferior em Portugal
comparativamente com o Mundo,
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respectivamente em 31,48 por cento e em
9,52 por cento.
Comparativamente com os restantes países
da União Europeia, as emissões de CO2 em
Portugal em 2005 foram de 8,1 ton/per
capita/ano, o que é ainda ligeiramente inferior
às 10,5 ton/per capita/ano da UE27 e às 10,9
ton/per capita/ano da UE15 (EEA, 2007).
Não obstante, é importante realçar o facto de
Portugal já ter ultrapassado há muito as metas
estabelecidas no âmbito do Protocolo de
Kyoto, sendo que actualmente são emitidas
mais de 80 megatoneladas de CO2 por ano, e
que de acordo com o Plano Nacional para as
Alterações Climáticas, em 2010 Portugal
emitirá entre 92 e 96 megatoneladas de CO2,
quando para cumprir Kyoto, não se deveria
ultrapassar as 76,9 megatoneladas de
carbono. Actualmente, o maior crescimento
das emissões verifica-se essencialmente nos
sectores doméstico/serviços (edifícios) e dos
transportes, estimando-se que estes sectores
tenham, respectivamente, crescimentos de
134% e 104% até 2010.
Fonte: Jornal Público, 2007
Fig.11 – Emissões de Portugal com e sem florestas entre
1990-2005 (milhões de toneladas)
Dados relativos às projecções apresentadas
pela Comissão Europeia em Outubro de 2007,
demonstram que, mesmo recorrendo a
políticas e a medidas adicionais aos
mecanismos previstos no Protocolo de Kyoto
e à reflorestação, Portugal apresentará em
2010 um aumento das emissões de GEE na
ordem dos 31,9 por cento. Se o país mantiver
apenas as actuais políticas e medidas, o
incumprimento será ainda maior, com um
aumento de emissões de 46,7 por cento
(BIORUMO, 2007).
Uma das políticas que tem vindo a ser
desenvolvida pelo governo português, no
sentido de reverter o aumento de emissões de
CO2, consiste no reforço da aposta em
energias renováveis, visando superar a meta
estabelecida na Directiva do Parlamento e do
Conselho Europeu n.º 2001/77/CE, de 27 de
Setembro de 2001 e atingir um valor superior
a 45 por cento do consumo bruto nacional em
2010 assegurado exclusivamente por fontes
de energia renovável, o que terá um impacto
na redução das emissões de CO2 em
aproximadamente 4 megatoneladas de CO2
equivalente (Mt CO2eq) (MEI, 2007).
Ora, se o governo português fosse mais
audaz em matéria de investimento em
energias renováveis, certamente que os
dividendos obtidos seriam ainda mais
frutuosos no que toca, não só, ao combate às
alterações climáticas, mas também em termos
de redução da dependência energética do
exterior e de promoção do desenvolvimento
económico e tecnológico, dado enorme
potencial das renováveis no país.
Neste sentido, e para se ter noção da redução
de emissões de GEE obtida com o aumento
das metas de energias renováveis, foi
analisado um cenário hipotético, em que se
considera que 55 por cento da energia
primária utilizada em Portugal seria
proveniente de fontes renováveis (não
incluindo a energia hídrica), com a seguinte
distribuição de fontes de energia primária: 5%
petróleo; 0% carvão; 0% nuclear; 5,7% gás
natural; 34,3% energia hídrica; 40% energia
eólica; 15% energia solar.
Neste contexto de preponderância de
abastecimento energético por fontes
renováveis (representando 89,3% das fontes
de energia primária) sobre as energias não
renováveis, constata-se que as emissões de
CO2, de uma família com as características
descritas anteriormente (mas que sob estas
circunstâncias se designa por Família
Renovável) são substancialmente inferiores
(na ordem dos 48%) às geradas pela Família
Não-Renovável, bem como bastante inferiores
às emissões registadas para Portugal tendo
como base os dados de referência de 1990.
Não obstante, mesmo num cenário de forte
abastecimento energético por fontes
renováveis, as emissões de CO2 continuam
superiores (mas desta feita em apenas 15%)
aos valores de referência do Mundo.
Note-se, no entanto, que os valores
apresentados não têm em conta o ciclo de
vida dos sistemas de energias renováveis
considerados, que têm a si associados
determinados processos industriais geradores
de emissões de CO2, que apesar de menos
expressivas, não são de todo nulas.
12 | 14
Fig.12 – Quantidade de emissões de CO2 (kg/per
capita/ano) geradas pela Família Renovável
Também em termos de CH4 se regista uma
diferença considerável entre as emissões
geradas pela Família Renovável e pela
Família Não Renovável, na ordem de menos
68%.
Fig.13 – Quantidade de emissões de CH4 (kg/per
capita/ano) geradas pela Família Renovável
No que concerne às emissões de N2O não se
verificam diferenças entre a Família Não
Renovável e a Família Renovável, em virtude
do tipo de fontes associadas à emissão deste
gás de efeito de estufa.
Fig.14 – Quantidade de emissões de N2O (kg/per
capita/ano) geradas pela Família Renovável
O peso das diferentes fontes de emissão de
CO2 é impreterivelmente diferente no cenário
em que a principal origem da energia primária
corresponde a energias renováveis,
relativamente ao cenário em que as fontes
predominantes de energia primária são de
natureza não renovável, sendo que no caso
retratado pela Família Renovável a energia
eléctrica apenas representa cerca de 14% das
fontes de emissão deste gás de efeito de
estufa, enquanto que no caso retratado pela
Família Não-Renovável representa 86%. O
gás passa, no caso da Família Renovável, a
ser a maior fonte de emissões de CO2.
Em contrapartida, as restantes fontes
continuam a contribuir na mesma
percentagem para a emissão de CO2, tal
como se ilustra na seguinte figura:
Fig.15 – Fontes de emissão de CO2 pela Família
Renovável e Não Renovável
Relativamente ao CH4 a única diferença que
se verifica para a Família Renovável
comparativamente com a Família Não
Renovável reside no facto de a produção de
carvão deixar de ser uma das fontes de
emissão deste poluente.
Fig.16 – Fontes de emissão de CH4 pela Família
Renovável e Não Renovável
13 | 14
Obviamente que as percentagens de
contribuição das fontes de emissão de N2O se
mantêm exactamente as mesmas tanto no
caso da Família Renovável como no caso da
Família Não Renovável.
De igual modo não existem alterações
relativamente aos consumos de energia
eléctrica e de combustível entre os dois casos
(Família Renovável e Família Não Renovável)
porque a única diferença entre os dois
prende-se com o mix energético subjacente.
6. Comentários Finais
Face ao anteriormente exposto, evidencia-se
pois que as actividades desenvolvidas pelos
cerca de seis biliões de pessoas existentes no
Mundo, sobretudo as dos países
industrializados, são, de forma categórica,
extremamente “carbono-dependentes”, não se
descurando também, sob qualquer
circunstância, a importância das emissões de
metano e de óxido nitroso no impacte gerado
sobre o sistema climático. Ora, quando se
estima que em 2050 o planeta esteja ocupado
por cerca de nove mil milhões de pessoas, e
que a economia mundial tem tendência a
crescer substancialmente num futuro próximo,
impulsionada pela necessidade de melhoria
das condições de vida das populações dos
países em vias de desenvolvimento, com
particular incidência para a China e Índia, um
dos maiores desafios da Humanidade para as
próximas décadas consiste, pois, em construir
um novo paradigma, que transforme
completamente a produção e utilização de
energia. Os aspectos ligados à segurança de
abastecimento e ao poder de compra de
energia serão igualmente um factor chave
neste processo de transformação.
Esta reformulação dos sistemas de energia,
sejam eles utilizadores de energia, emissores
ou ambos, pressupõe um esforço conjunto de
todos os stackeholders envolvidos neste
processo, no sentido de:
transformar o sector de produção de
energia eléctrica de forma a fornecer
electricidade baixa em carbono, a
partir de uma grande variedade de
fontes de energia, sobretudo de
origem renovável;
melhorar a eficiência da industria de
fabrico;
criar um sector de mobilidade
sustentável, centrado em veículos de
alta eficiência, um leque mais vasto
de variedades de combustível e um
equilíbrio entre o transporte privado e
colectivo;
melhorar a eficiência energética no
sector dos edifícios, de forma a
contrabalançar parcialmente o
aumento da procura energética;
aumentar a consciencialização dos
consumidores de energia nas
escolhas que podem adoptar para
tornar a utilização de energia
sustentável.
Como constatado através da realização deste
trabalho, a mais importante de facto reside na
mudança nas escolhas dos consumidores,
pois afecta directa e indirectamente todas as
outras, devido ao facto de ser o consumo que,
em último caso, gera a actividade económica.
A partir do momento em que pequenas
decisões podem fazer uma grande diferença,
uma mudança nas escolhas de consumo
(alterações do modo de vida) pode tornar-se
uma importante contribuição para a redução
das emissões de GEE.
Para tanto, é fundamental que as nossas
sociedades compreendam verdadeiramente
que todas as escolhas feitas pelos
consumidores influenciam o balanço
energético e afectam a sua própria existência
no planeta. Deste modo, é absolutamente
necessário que os impactes energético e
ambiental destas escolhas sejam
completamente transparentes e disponíveis
para que os cidadãos possam tomar decisões
informadas em relação aos bens e serviços
que usam e os estilos de vida ambicionados.
Porventura, tal encorajará o desenvolvimento
de produtos e serviços que ofereçam valores
baixos em energia e carbono.
Contudo, não bastam os apelos públicos para
fazer mudar os hábitos dos consumidores.
Mais “produtos e serviços sustentáveis”
necessitam de ser alternativas reais e,
finalmente, os consumidores necessitam de
sentir o valor melhorado, para que a decisão
recaia mesmo sobre estes.
14 | 14
Referências Bibliográficas
BIORUMO (2007), Uma visão da sustentabilidade,
Anuário da Sustentabilidade 2007
CARBON TRUST (2005), The Climate Change
Challenge, Carbon Trust, Reino Unido
[http://www.carbontrust.co.uk/publications/publicationdetai
l?productid=CTC502]
EEA (2007), Greenhouse gas emissions trends and
projections in Europe 2007, EEA Report, No 5/2007
IPCC (2007), Climate Change 2007: The Physical
Science Basis – Summary for Policymakers, IPCC,
Paris
[http://www.ipcc.ch/SPM2feb07.pdf]
MEI (2007), Energia e Alterações Climáticas, MEI
JRC (2005), V GAS Energy, Lifestyles & Climate
Technical Report
STERN, N.H. (2006), Stern Review: The
Economics of Climate Change
[http://www.hm-
treasury.gov.uk/independent_reviews/stern_review_econo
mics_climate_change/stern_review_report.cfm]
WBCSD (2006), Caminhos para 2050 – Energia e
Alterações Climáticas, WBCSD

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  • 2. 2 | 14 1. Introdução.................3 2. Enquadramento….....3 3. Metodologia...............5 4. Aplicação do VGAS..........................6 5. Análise dos Resultados Obtidos......................7 6. Comentários Finais.......................13
  • 3. 3 | 14 1. Introdução A intensificação dos padrões de consumo de energia a que se tem assistido desde o último século, sobretudo nos países mais industrializados, e que se prevê ser cada vez maior, tendo em conta o crescimento da população mundial previsto e a necessidade de se elevarem os critérios de qualidade de vida das populações mais carenciadas, faz com que a pressão sobre a produção de energia se torne uma questão absolutamente essencial a nível mundial. Paradoxalmente, as questões dos impactos resultantes das emissões dos gases de efeito de estufa (GEEs) sobre o clima, principalmente em virtude do consumo de combustíveis fósseis, leva a que tanto a diversificação das fontes energéticas, como a alteração dos padrões de consumo, se tornem um dos maiores desafios do século XXI. Face a este contexto, com a realização do presente trabalho pretende-se analisar e compreender o impacto que as exigências energéticas decorrentes do modo de vida de uma família de um país industrializado têm sobre a emissão de gases de efeito de estufa e, consequentemente, sobre o clima. A elaboração deste estudo envolveu a quantificação das emissões de GEEs num caso hipotético de uma família de três pessoas a residir em Lisboa, em dois cenários distintos: Cenário 1 – distribuição das fontes de energia primária tendo em conta o mix energético actualmente existente em Portugal; Cenário 2 – distribuição das fontes de energia primária com 55 por cento da energia proveniente dos recursos renováveis, transformando o actual mix energético português; tendo para tanto sido utilizado o software VGAS. Os resultados obtidos em ambos os cenários foram devidamente analisados, criticados e comparados, tendo-se formulado algumas hipóteses justificativas das diferenças encontradas. 2. Enquadramento As alterações do clima são acontecimentos naturais que ocorrem desde sempre, referindo-se à variação do clima global ou dos climas regionais da Terra ao longo do tempo. Podem estar em causa mudanças no estado médio da atmosfera em escalas de tempo que vão de décadas até milhões de anos. Durante o último século, contudo, as alterações registadas têm sido mais pronunciadas do que em qualquer período registado até ao momento, sendo que a temperatura média global da superfície terrestre tem vindo a aumentar desde 1861, tendo este sido igual a 0,74ºC no período entre 1906-2005. Constata-se que o aquecimento terrestre em larga-escala, tanto da superfície marítima, como da superfície terrestre, ocorreu no último quarto do século XX, onde os aumentos de temperatura mais significativos foram registados nas latitudes médias e elevadas da América do Norte, da Europa e da Ásia (CARBON TRUST, 2005). De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC), divulgado no início de Fevereiro, o aquecimento global é “inequívoco face às observações do aumento da temperatura média global do ar e dos oceanos, da fusão da neve e dos gelos e do aumento do nível médio do mar”. Segundo o IPCC, é muito provável que o aumento da temperatura global média terrestre esteja relacionado com o aumento das concentrações dos gases de efeito de estufa devido a factores antropogénicos (IPCC, 2007). As actividades humanas estão, pois, a alterar a composição e as propriedades da atmosfera, sendo responsáveis pela alteração do “ciclo natural do carbono”. Desde o período pré-industrial (aproximadamente em 1750), as concentrações de dióxido de carbono aumentaram cerca de um terço, passando de 280 ppm para 380 ppm (ver figura seguinte), nunca tendo sido tão elevadas desde há 650 mil anos. Simultaneamente, a temperatura média global tem aumentado cerca de 1ºC (STERN, 2006).
  • 4. 4 | 14 Fonte: WBCSD, 2007 Fig.1 – Variação da concentração de CO2 e a temperatura média global terrestre desde 1861 Segundo as projecções do IPCC prevê-se ainda que a temperatura global irá aumentar 0,2ºC por cada década devido à emissão de GEE já lançadas para a atmosfera. E que não será possível impedir o aumento a um ritmo de 0,1ºC por década, mesmo se essas emissões ficassem nos níveis de 2000, pois os efeitos são retroactivos (IPCC, 2007). Existe, pois, uma evidência muito significativa de que o aumento da concentração dos gases de estufa irão provocar um aquecimento muito elevado, devido ao aumento da radiação de infra-vermelhos retidos na atmosfera, o que terá como consequência uma aumento do “efeito de estufa”. No total, o aquecimento global devido aos gases de efeito de estufa emitidos pelas actividades humanas é actualmente equivalente a cerca de 430 ppm de dióxido de carbono, sofrendo um aumento de aproximadamente 2,3 ppm por ano (STERN, 2006). As actividades humanas que mais têm contribuído para o aumento da concentração dos gases do efeito de estufa são: indústrias de produção de energia, transportes, indústria e construção civil, agricultura e pecuária, residencial e serviços, industrial e resíduos. Os principais GEE na atmosfera terrestre são o vapor de água (H2O), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e o dióxido de carbono (CO2), sendo este o mais importante em termos de forçamento radiativo. As emissões de CO2 devem-se principalmente à combustão de combustíveis fósseis (que representam cerca de 80 por cento das fontes primárias de energia a nível global) e às alterações no uso dos solos, especialmente a desflorestação. Nos países industrializados a extracção, produção e consumo de combustíveis fósseis corresponde a uma emissão de 85 por cento dos gases com efeito de estufa. Em 2002, a produção de energia eléctrica e calor contribuiu com cerca de 40 por cento para as emissões globais de CO2 a partir da queima de combustíveis, sendo a queima de carvão responsável por cerca de 70 por cento desta parte. Assim, verifica-se que os sectores que mais contribuem para a emissão de CO2 são os sectores de produção de electricidade e calor e o sector dos transportes. Se as tendências actuais de aumento das emissões globais não forem alteradas, o IPCC aponta para um aumento de 7,8 Giga toneladas de carbono (GtC), em 2002, para 12 GtC em 2030. Este perfil de emissões coloca o mundo numa trajectória que tenderá para uma concentração atmosférica de CO2 de 1000 ppm, acima dos 370 ppm em 2000 e 280 ppm na época pré-industrial. Consequentemente, o aumento da temperatura poderá atingir os 3 - 4º C em 2100 e 6º C em 2300 (WBCSD, 2007). Se se limitar as concentrações atmosféricas a aproximadamente 550 ppm, embora se permita que as emissões de carbono aumentem a médio prazo, tem-se uma redução global nas emissões antes de 2030, seguida de um decréscimo contínuo. Em 2050, e apesar do aumento acentuado das necessidades energéticas (pelo menos o dobro) e no mesmo período de tempo, as emissões têm que se aproximar dos níveis de hoje (WBCSD, 2007). É pois evidente que se torna mais urgente que nunca a necessidade de uma acção colectiva internacional forte e precoce contra as alterações climáticas. Tanto mais que os benefícios de uma acção mundial concertada superam consideravelmente os custos da inacção, podendo fazer-se de uma forma que não coarcte as aspirações de um crescimento sustentável, sendo que quanto mais cedo forem tomadas medidas eficazes, menos onerosas estas serão (STERN, 2006). Podem ser adoptadas várias estratégias neste sentido, mas todas requerem alterações significativas na produção e utilização da energia para terem sucesso e necessitam ainda de grandes reestruturações sectoriais ao nível da produção de energia eléctrica, da industria e fabrico, da mobilidade, dos edifícios e das escolhas dos consumidores.
  • 5. 5 | 14 3. Metodologia Ao pretender-se realizar um trabalho sobre o impacto que as exigências energéticas decorrentes do modo de vida das famílias/indivíduos de um país industrializado têm sobre a emissão de gases de efeito de estufa, procedeu-se primeiramente à definição do objecto de estudo. Procurou-se, então, um objecto de estudo que fosse suficientemente pertinente para a análise/abordagem pretendida e que fosse de alguma forma representativo da realidade de uma família “típica” de um país industrializado. Face a estas disposições considerou-se que o objecto de estudo deveria ser uma família constituída por três elementos e residente em Lisboa (Portugal), com determinados padrões de consumo (alimentares, domésticos, lúdicos, etc...). Posteriormente procedeu-se, então, à utilização do software V GAS – Energy, Lifestyles & Climate1 (versão I.I 2005), desenvolvido pelo Joint Research Centre - Institute for the Protection and Security of the Citizen, na medida em que corresponde a uma ferramenta que permite que os utilizadores relacionem os seus estilos de vida com a emissão de gases de efeitos de estufa e, consequentemente, com as alterações sobre o clima e a envolvente em geral. Este software avalia o comportamento dos cidadãos, não só em termos quantitativos, mas também através de indicadores de bem- estar (a nível económico, funcional e de conforto) (JRC, 2005). Deu-se início à construção do perfil no V GAS BUILD PROFILE com vista ao cálculo das emissões dos três principais GEE (CO2, CH4 e N2O), baseado nos padrões de consumo individuais, nacionais e mundiais. Uma vez verificados os níveis de emissão de GEE, bem como as respectivas fontes, procedeu-se à simulação de uma outra situação, desta feita considerando que 55 por cento da energia primária utilizada em Portugal era proveniente de fontes renováveis (não incluindo a energia hídrica), com o propósito de comparar os resultados obtidos para diferentes mix energéticos. 1 http://alba.jrc.it/vgas/ Assim, foi analisado um segundo caso, com características exactamente iguais ao primeiro, mas em que a geração da energia primária era maioritariamente devida a fontes renováveis, tendo-se redistribuído a geração de energia primária do seguinte modo: 5% petróleo; 0% carvão; 0% nuclear; 5,7% gás natural; 34,3% energia hídrica; 40% energia eólica; 15% energia solar. De referir que os 55 por cento em energias renováveis estão significativamente além das metas instituídas pelo governo português para serem alcançadas até 2010 em termos de investimento em energias renováveis, mas procuram precisamente demonstrar até que ponto pode ser representativo para uma verdadeira política de redução de emissões de GEE uma forte aposta em energias renováveis, não só pelo Estado português, mas também por outras nações com um perfil energético extremamente assente em fontes de energia mais poluentes. Resumidamente a metodologia de análise do presente trabalho foi a seguinte: Selecção do software a aplicar Definição e delimitação do objecto de estudo Obtenção dos resultados – Caso 1 Aplicação do software V GAS Análise e comparação dos resultados obtidos Obtenção dos resultados – Caso 2 Fora do âmbito do presente trabalho Dentro do âmbito do presente trabalho Fig.2 – Síntese da metodologia utilizada
  • 6. 6 | 14 4. Aplicação do V GAS Tendo em conta os objectivos inerentes à realização do presente trabalho, a aplicação do V GAS envolveu a construção do perfil, para cada um dos casos mencionados anteriormente, tendo-se unicamente utilizado o V GAS PROFILE. Assim, procedeu-se à configuração de cada um dos itens do próprio layout do software, mais concretamente as seis divisões da casa: quarto, sala, casa de banho, escritório, cozinha e garagem, com as opções previamente estabelecidas para a realização do presente trabalho (ver quadro I). Note-se que para os elementos não definidos à partida (como sejam, potência do micro- ondas, potência da torradeira e número de horas do funcionamento do ferro por semana) se considerou as definições previstas por defeito pelo próprio software, por serem representativas da realidade. À medida que se avançava para uma nova divisão da casa verificava-se a emissão de GEE calculada para as divisões anteriores, de modo a verificar o incremento fornecido por uma nova divisão. Não foi utilizada a aplicação GAME, módulo do software em que o utilizador é confrontado com a ocorrência de determinadas alterações no curso normal do seu dia-a-dia (tendo de adaptar-se à nova situação num determinado período de tempo), por não ir directamente ao encontro dos objectivos inicialmente definidos. Importa referir que a quantidade dos três GEEs foi calculada numa base de emissão anual, não devendo os valores obtidos ser confundidos com concentrações de gases (JRC, 2005). Igualmente deve ser mencionado que as fontes de emissão de GEE consideradas são unicamente as relacionadas com as actividades realizadas no quotidiano, sendo apenas tidos em conta alguns processos industriais cujo processo produtivo implique uma emissão relevante de GEE (p. ex. a geração de energia). As fontes de emissão de GEE consideradas no V GAS são, então: combustão de combustíveis fósseis da indústria de produção de electricidade e dos transportes, emissões volantes de combustíveis sólidos (lenha), processos de fermentação de matéria orgânica, cultivo de arroz, solo agrícola, deposição de resíduos sólidos em aterro e incineração de resíduos. Quadro I – Opções seleccionadas para o perfil da família Menu Opções seleccionadas País Portugal Petróleo: 13,2% Carvão: 34,8% Gás Natural: 16,5% Nuclear: 0 Hídrica: 34,4% Eólica: 1,06% Energia primária Solar: 0,14% Tradicional: 99% Agricultura Biológica: 1% Incineração Aterro Compostagem Reciclagem de vidro Reciclagem de metal Resíduos Reciclagem de plástico Ovos: 122 ovos/ano Lacticinios:102 Kg/ano Arroz: 17 Kg/ano Vaca: 17 Kg/ano Porco: 42 Kg/ano Aves: 27 Kg/ano Carneiro: 3,3 Kg/ano Opções do país Alimentação Vegetais: 174 Kg/ano Férias 25 dias/ano Com jardim Não Área 110 m 2Casa Agregado familiar 3 Temp. média de Verão 24ºC Temp. média de Inverno 12ºCClima Temp. de conforto 20ºC Verão 3 horas Inverno 7 horas Lâmpadas incandescentes 3 de 40 W Lâmpadas fluorescentes 1 de 60 W Lâmpadas de halógeneo 2 de 50 W Luzes gerais Lâmpadas de baixo consumo 7 de 10 W Humidificador Nenhum Desumidificador Potência média Sistema de aquecimento 100% eléctrico Vidro duplo Utilização 120 dias/ano Potência elevada Ar condicionado Utilização 30 dias/ano TV a cores Potência média Hi-Fi Potência média Aparelho via satélite Potência média Sala de estar Video/DVD Potência média
  • 7. 7 | 14 Menu Opções seleccionadas Rádio Potência baixa Ventoinha Potência média Computador Potência alta Escritório Impressora Potência média Secador Potência média Banheira 3 banhos/semana Chuveiro 5 banhos/semana Casa de Banho Esquentador Gás 3,69 kg/ano Gestão do lixo Reciclagem de: resíduos verdes, plástico, vidro e papel Potência alta Aspirador Ligado 3 horas/semana Alguns produtos biológicos Ovos Lacticínios Arroz Aves Comida Carneiro/Borrego Frigorífico Potência alta Congelador Potência alta Potência média Micro-ondas Ligado 20 min/dia Ligado 3 min/dia Torradeira Potência baixa Aquecedor de água Nenhum Potência alta Ferro 1 h ligado semanalmente Máquina de café Potência média Potência alta Máquina lavar-loiça Ligada 7h/semana Potência alta Máquina lavar-roupa Ligada 7h/semana Potência alta Máquina secar Ligada 2h/semana Gás Ligado 1h/semana Fogão a gás Forno eléctrico 30% electricidade Cozinha Forno 70% gás Desportos Esqui-aquático – 1 o dias/ano Transportes públicos Não utilizados Veículo de férias Nenhum Embarcação de férias Mota de água – 10 dias/ano Bicicleta Apenas em férias Ciclo motor Nenhum No trabalho: Distância: 60 Km/dia Combustível: gasolina Consumo médio: 7,5 L/100 Km Garagem Automóvel Em férias: Distância: 60 Km Combustível: gasolina 5. Análise dos Resultados Obtidos Em resultado da utilização do software V GAS obteve-se os dados relativos: à quantidade de emissões de CO2, CH4 e N2O gerada pela família nos casos 1 e 2 (respectivamente, Família Não- Renovável e Família Renovável), em Portugal (com base de referência nos dados referentes a 1990) e no Mundo, em kg/per capita/ano; às fontes responsáveis pela emissão de CO2, CH4 e N2O, nos casos 1 e 2 (respectivamente, Família Não- Renovável e Família Renovável); ao consumo de energia eléctrica (em Kwh/ano) pela família (igual em ambos os casos), e; ao consumo de combustíveis fósseis (em L/ano) pela família (igual em ambos os casos). 5.1. Emissões de GEE As emissões de CO2 geradas em resultado das actividades realizadas pelos elementos da Família Não-Renovável, que envolvem o consumo de electricidade, a utilização de combustíveis fósseis no transporte, o aquecimento, a confecção de alimentos e incineração de resíduos, são bastante superiores às quantificadas para Portugal (aproximadamente em mais de 24%) e muito mais elevadas do que as registadas para o Mundo (em cerca de mais 55,37%). Esta diferença pode estar relacionada com o facto de para o Mundo se ter entrado em linha de conta com países não industrializados, cujas emissões de CO2 são naturalmente muito inferiores às dos países industrializados. Fig.3 – Quantidade de emissões de CO2 (kg/per capita/ano) geradas pela Família Não-Renovável
  • 8. 8 | 14 Inversamente, as emissões de CH4 geradas pelos elementos da Família Não-Renovável, como consequência do seu consumo de carne, lacticínios, arroz, ovos e produção de resíduos sólidos urbanos, são consideravelmente inferiores à média gerada em Portugal (aproximadamente menos 32,43%) e muito inferiores comparativamente com a média gerada no Mundo (menos cerca de 53,7%). Fig.4 – Quantidade de emissões de CH4 (kg/per capita/ano) geradas pela Família Não-Renovável De igual modo, as emissões de N2O geradas pela Família Não-Renovável, devidas ao consumo de vegetais produzidos com fertilizantes, ao consumo de gado e à utilização de transportes, são muito inferiores à média gerada em Portugal (menos cerca de 42,1%) e inferiores à média do Mundo (menos 7,61%). Fig.5 – Quantidade de emissões de N2O (kg/per capita/ano) geradas pela Família Não-Renovável Em termos gerais, os resultados obtidos evidenciam de forma extremamente clara que o CO2 é o poluente mais emitido para a atmosfera pela Família Não-Renovável, representando uma diferença na ordem de mais de 95% relativamente às emissões de CH4 e de N2O. 5.2. Fontes de emissão de GEE Através da figura seguinte verifica-se pois que a energia eléctrica e a gasolina constituem as maiores fontes de emissão de CO2 da Família Não-Renovável, em respectivamente 57 por cento e 42 por cento das emissões. Fig.6 – Fontes de emissão de CO2 geradas pela Família Não-Renovável No que concerne ao CH4 a principal fonte de emissão prende-se com a produção de carvão (que representa cerca de 70% do total das fontes de emissão), seguindo-se o consumo de carne (que representa 25%), tal como se ilustra na figura seguinte: Fig.7 – Fontes de emissão de CH4 geradas pela Família Não-Renovável As principais fontes de emissão do N2O estão relacionadas, em 62 por cento, com a produção de resíduos verdes, e, em 26 por cento com a criação de animais, sendo os restantes 12 por cento devidos à incineração de resíduos. Tal reflecte, em certa medida, a importância da energia eléctrica e dos combustíveis fósseis em geral em todas as actividades antropogênicas realizadas no dia-a-dia, comparativamente com as actividades que estão na base da emissão de CH4 e de N2O.
  • 9. 9 | 14 Fig.8 – Fontes de emissão de N2O geradas pela Família Não-Renovável Constata-se pois que os padrões de consumo adoptados pela Família Não-Renovável (representativa de uma família de classe média residente em Lisboa) levam a que as principais fontes de emissão de gases de efeito de estufa estejam relacionadas, de forma completamente preponderante, com os consumos de energia eléctrica e de combustíveis fósseis. Tal vai ao encontro da tendência existente relativamente aos edifícios serem responsáveis, pelo menos, por 40 por cento da energia utilizada em Portugal, e na maioria dos países, a par do que acontece no sector dos transportes. 5.3. Consumo de Energia Eléctrica Os consumos de energia eléctrica são devidos em 75 por cento ao aquecimento do edifício de residência da Família em análise, em 24 por cento à iluminação e utilização de electrodomésticos e aparelhos electrónicos e em um por cento devido ao arrefecimento, à confecção de refeições e banhos, podendo tal ser observado na figura seguinte: Fig.9 – Distribuição do consumo de energia eléctrica (kWh/ano) da Família Não-Renovável 5.4. Consumo de Combustíveis Fósseis Relativamente aos consumos de combustíveis fósseis, estes resultam em larga escala (99,9%) do consumo de gasolina subjacente à utilização intensiva do veículo automóvel e apenas uma ínfima parte devido ao gás, como se ilustra na figura seguinte: Fig.10 – Distribuição dos consumo de combustíveis fósseis (kWh/ano) da Família Não-Renovável 5.5. Impacto da Alteração de Consumos Torna-se pois evidente que os hábitos de consumo da Família Não-Renovável têm a si subjacentes escolhas e comportamentos energéticos pouco eficientes, sobretudo devido ao facto de: o sistema de aquecimento utilizado ser 100% eléctrico e ser usado durante 120 dias/ano; o sistema de ar condicionado ter uma potência elevada e ser usado durante 30 dias/ano; os electrodomésticos e aparelhos electrónicos se caracterizarem, na sua maioria, por uma potência elevada e média, em particular electrodomésticos tão energético- dependentes como sejam o frigorifico, o congelador, a máquina de lavar loiça e a máquina de lavar e secar roupa, cuja potência é alta; as lâmpadas utilizadas não serem na sua grande maioria de baixo consumo; o único modo utilizado nas deslocações para o trabalho e nas férias ser um automóvel a gasolina, com consumos médios ainda consideráveis (7,5 L/100 Km), e; serem igualmente utilizados veículos motorizados nas actividades de lazer. Se a Família introduzisse algumas alterações no seu quotidiano, através da utilização de produtos e serviços mais eficientes e da adopção de comportamentos mais sustentáveis, certamente que influenciaria a redução de consumo de energia algures ao longo da sua cadeia de valor.
  • 10. 10 | 14 Por exemplo, ao: optar por electrodomésticos de classe energética mais eficiente (classe A) poderia obter poupanças energéticas entre 45-55%; adoptar sistemas de aquecimento e arrefecimento mais eficientes poderia obter poupanças energéticas entre 40-50%; adquirir mais lâmpadas de baixo consumo poderia conduzir a poupanças energéticas entre 70-80%; desligar os aparelhos electrónicos do standby poderia obter poupanças energéticas entre 72-82%, na medida em que nos países da OCDE os aparelhos em standby consomem cerca de 5-10% da electricidade utilizada no sector residencial; optar por transportes públicos para as suas deslocações ao trabalho, ou caso tal não seja praticável, a aquisição de um veículo com menores consumos de combustível, ou até mesmo um veículo híbrido, e a adopção de uma condução menos agressiva em termos de consumos energéticos; optar por actividades de lazer que não sejam à base da utilização de veículos motorizados, valorizando mais actividades que permitam um contacto mais directo com o meio envolvente (bicicleta, surf, etc...) Muitas mais escolhas podem feitas por esta Família, e por todos os consumidores em geral, no sentido de diminuir os impactes devidos às suas emissões, como sejam: a reciclagem e reutilização de um cada vez maior número de produtos, tais como os sacos de plástico, os papeis e cartões, etc., que poupa grandes quantidades de energia e água; fazer compras on-line, em vez de deslocações físicas às lojas, ou recorrer ao teletrabalho ou a teleconferência em vez de reuniões pessoais, o que reduz o consumo de energia dado que decresce a necessidade de viajar; a aquisição de produtos locais em vez de importados, reduzindo a energia usada em transportes internacionais. Se se tomar como caso de referência o exemplo dado pelo cálculo da pegada ecológica de uma família constituída por quatro pessoas que procura adoptar comportamentos e soluções energeticamente mais eficientes, tem-se uma maior percepção de como as escolhas que se fazem no dia-a- dia são determinantes em termos de impacte das emissões de gases de efeito estufa: Quadro II – Exemplo de uma família de quatro elementos com comportamentos mais eficientes Uma família de quatro Tons de carbono por ano Casa geminada: Com bomba de calor geotérmico: 1,57 - 0,59 E que tenha instalado Isolamento e vidros duplos Iluminação eficiente - 0,22 - 0,09 E também Usa aparelhos de classe A* Ajusta o termóstato Desliga luzes/aparelhos - 0,11 - 0,04 - 0,06 E também instala Painéis solares para electricidade e água quente - 0,26 Tem um carro Híbrido (5.000 milhas) 0,23 Viagens de avião 8 de curta distância 0,32 Resíduos Mas recicla 0,25 - 0,15 Total 0,85 Fonte: BP, 2005 Comparando com a emissão per capita de toneladas de CO2 por ano da Família Não- Renovável verifica-se que existe uma diferença mais do que assinalável entre uma situação e outra. 5.6.Comparação entre a Família Renovável e a Família Não Renovável De observar igualmente que a quantidade de CO2 emitida em Portugal é aproximadamente 41,2 por cento superior à emitida no Mundo, contrariamente ao facto de a quantidade de CH4 e N2O ser inferior em Portugal comparativamente com o Mundo,
  • 11. 11 | 14 respectivamente em 31,48 por cento e em 9,52 por cento. Comparativamente com os restantes países da União Europeia, as emissões de CO2 em Portugal em 2005 foram de 8,1 ton/per capita/ano, o que é ainda ligeiramente inferior às 10,5 ton/per capita/ano da UE27 e às 10,9 ton/per capita/ano da UE15 (EEA, 2007). Não obstante, é importante realçar o facto de Portugal já ter ultrapassado há muito as metas estabelecidas no âmbito do Protocolo de Kyoto, sendo que actualmente são emitidas mais de 80 megatoneladas de CO2 por ano, e que de acordo com o Plano Nacional para as Alterações Climáticas, em 2010 Portugal emitirá entre 92 e 96 megatoneladas de CO2, quando para cumprir Kyoto, não se deveria ultrapassar as 76,9 megatoneladas de carbono. Actualmente, o maior crescimento das emissões verifica-se essencialmente nos sectores doméstico/serviços (edifícios) e dos transportes, estimando-se que estes sectores tenham, respectivamente, crescimentos de 134% e 104% até 2010. Fonte: Jornal Público, 2007 Fig.11 – Emissões de Portugal com e sem florestas entre 1990-2005 (milhões de toneladas) Dados relativos às projecções apresentadas pela Comissão Europeia em Outubro de 2007, demonstram que, mesmo recorrendo a políticas e a medidas adicionais aos mecanismos previstos no Protocolo de Kyoto e à reflorestação, Portugal apresentará em 2010 um aumento das emissões de GEE na ordem dos 31,9 por cento. Se o país mantiver apenas as actuais políticas e medidas, o incumprimento será ainda maior, com um aumento de emissões de 46,7 por cento (BIORUMO, 2007). Uma das políticas que tem vindo a ser desenvolvida pelo governo português, no sentido de reverter o aumento de emissões de CO2, consiste no reforço da aposta em energias renováveis, visando superar a meta estabelecida na Directiva do Parlamento e do Conselho Europeu n.º 2001/77/CE, de 27 de Setembro de 2001 e atingir um valor superior a 45 por cento do consumo bruto nacional em 2010 assegurado exclusivamente por fontes de energia renovável, o que terá um impacto na redução das emissões de CO2 em aproximadamente 4 megatoneladas de CO2 equivalente (Mt CO2eq) (MEI, 2007). Ora, se o governo português fosse mais audaz em matéria de investimento em energias renováveis, certamente que os dividendos obtidos seriam ainda mais frutuosos no que toca, não só, ao combate às alterações climáticas, mas também em termos de redução da dependência energética do exterior e de promoção do desenvolvimento económico e tecnológico, dado enorme potencial das renováveis no país. Neste sentido, e para se ter noção da redução de emissões de GEE obtida com o aumento das metas de energias renováveis, foi analisado um cenário hipotético, em que se considera que 55 por cento da energia primária utilizada em Portugal seria proveniente de fontes renováveis (não incluindo a energia hídrica), com a seguinte distribuição de fontes de energia primária: 5% petróleo; 0% carvão; 0% nuclear; 5,7% gás natural; 34,3% energia hídrica; 40% energia eólica; 15% energia solar. Neste contexto de preponderância de abastecimento energético por fontes renováveis (representando 89,3% das fontes de energia primária) sobre as energias não renováveis, constata-se que as emissões de CO2, de uma família com as características descritas anteriormente (mas que sob estas circunstâncias se designa por Família Renovável) são substancialmente inferiores (na ordem dos 48%) às geradas pela Família Não-Renovável, bem como bastante inferiores às emissões registadas para Portugal tendo como base os dados de referência de 1990. Não obstante, mesmo num cenário de forte abastecimento energético por fontes renováveis, as emissões de CO2 continuam superiores (mas desta feita em apenas 15%) aos valores de referência do Mundo. Note-se, no entanto, que os valores apresentados não têm em conta o ciclo de vida dos sistemas de energias renováveis considerados, que têm a si associados determinados processos industriais geradores de emissões de CO2, que apesar de menos expressivas, não são de todo nulas.
  • 12. 12 | 14 Fig.12 – Quantidade de emissões de CO2 (kg/per capita/ano) geradas pela Família Renovável Também em termos de CH4 se regista uma diferença considerável entre as emissões geradas pela Família Renovável e pela Família Não Renovável, na ordem de menos 68%. Fig.13 – Quantidade de emissões de CH4 (kg/per capita/ano) geradas pela Família Renovável No que concerne às emissões de N2O não se verificam diferenças entre a Família Não Renovável e a Família Renovável, em virtude do tipo de fontes associadas à emissão deste gás de efeito de estufa. Fig.14 – Quantidade de emissões de N2O (kg/per capita/ano) geradas pela Família Renovável O peso das diferentes fontes de emissão de CO2 é impreterivelmente diferente no cenário em que a principal origem da energia primária corresponde a energias renováveis, relativamente ao cenário em que as fontes predominantes de energia primária são de natureza não renovável, sendo que no caso retratado pela Família Renovável a energia eléctrica apenas representa cerca de 14% das fontes de emissão deste gás de efeito de estufa, enquanto que no caso retratado pela Família Não-Renovável representa 86%. O gás passa, no caso da Família Renovável, a ser a maior fonte de emissões de CO2. Em contrapartida, as restantes fontes continuam a contribuir na mesma percentagem para a emissão de CO2, tal como se ilustra na seguinte figura: Fig.15 – Fontes de emissão de CO2 pela Família Renovável e Não Renovável Relativamente ao CH4 a única diferença que se verifica para a Família Renovável comparativamente com a Família Não Renovável reside no facto de a produção de carvão deixar de ser uma das fontes de emissão deste poluente. Fig.16 – Fontes de emissão de CH4 pela Família Renovável e Não Renovável
  • 13. 13 | 14 Obviamente que as percentagens de contribuição das fontes de emissão de N2O se mantêm exactamente as mesmas tanto no caso da Família Renovável como no caso da Família Não Renovável. De igual modo não existem alterações relativamente aos consumos de energia eléctrica e de combustível entre os dois casos (Família Renovável e Família Não Renovável) porque a única diferença entre os dois prende-se com o mix energético subjacente. 6. Comentários Finais Face ao anteriormente exposto, evidencia-se pois que as actividades desenvolvidas pelos cerca de seis biliões de pessoas existentes no Mundo, sobretudo as dos países industrializados, são, de forma categórica, extremamente “carbono-dependentes”, não se descurando também, sob qualquer circunstância, a importância das emissões de metano e de óxido nitroso no impacte gerado sobre o sistema climático. Ora, quando se estima que em 2050 o planeta esteja ocupado por cerca de nove mil milhões de pessoas, e que a economia mundial tem tendência a crescer substancialmente num futuro próximo, impulsionada pela necessidade de melhoria das condições de vida das populações dos países em vias de desenvolvimento, com particular incidência para a China e Índia, um dos maiores desafios da Humanidade para as próximas décadas consiste, pois, em construir um novo paradigma, que transforme completamente a produção e utilização de energia. Os aspectos ligados à segurança de abastecimento e ao poder de compra de energia serão igualmente um factor chave neste processo de transformação. Esta reformulação dos sistemas de energia, sejam eles utilizadores de energia, emissores ou ambos, pressupõe um esforço conjunto de todos os stackeholders envolvidos neste processo, no sentido de: transformar o sector de produção de energia eléctrica de forma a fornecer electricidade baixa em carbono, a partir de uma grande variedade de fontes de energia, sobretudo de origem renovável; melhorar a eficiência da industria de fabrico; criar um sector de mobilidade sustentável, centrado em veículos de alta eficiência, um leque mais vasto de variedades de combustível e um equilíbrio entre o transporte privado e colectivo; melhorar a eficiência energética no sector dos edifícios, de forma a contrabalançar parcialmente o aumento da procura energética; aumentar a consciencialização dos consumidores de energia nas escolhas que podem adoptar para tornar a utilização de energia sustentável. Como constatado através da realização deste trabalho, a mais importante de facto reside na mudança nas escolhas dos consumidores, pois afecta directa e indirectamente todas as outras, devido ao facto de ser o consumo que, em último caso, gera a actividade económica. A partir do momento em que pequenas decisões podem fazer uma grande diferença, uma mudança nas escolhas de consumo (alterações do modo de vida) pode tornar-se uma importante contribuição para a redução das emissões de GEE. Para tanto, é fundamental que as nossas sociedades compreendam verdadeiramente que todas as escolhas feitas pelos consumidores influenciam o balanço energético e afectam a sua própria existência no planeta. Deste modo, é absolutamente necessário que os impactes energético e ambiental destas escolhas sejam completamente transparentes e disponíveis para que os cidadãos possam tomar decisões informadas em relação aos bens e serviços que usam e os estilos de vida ambicionados. Porventura, tal encorajará o desenvolvimento de produtos e serviços que ofereçam valores baixos em energia e carbono. Contudo, não bastam os apelos públicos para fazer mudar os hábitos dos consumidores. Mais “produtos e serviços sustentáveis” necessitam de ser alternativas reais e, finalmente, os consumidores necessitam de sentir o valor melhorado, para que a decisão recaia mesmo sobre estes.
  • 14. 14 | 14 Referências Bibliográficas BIORUMO (2007), Uma visão da sustentabilidade, Anuário da Sustentabilidade 2007 CARBON TRUST (2005), The Climate Change Challenge, Carbon Trust, Reino Unido [http://www.carbontrust.co.uk/publications/publicationdetai l?productid=CTC502] EEA (2007), Greenhouse gas emissions trends and projections in Europe 2007, EEA Report, No 5/2007 IPCC (2007), Climate Change 2007: The Physical Science Basis – Summary for Policymakers, IPCC, Paris [http://www.ipcc.ch/SPM2feb07.pdf] MEI (2007), Energia e Alterações Climáticas, MEI JRC (2005), V GAS Energy, Lifestyles & Climate Technical Report STERN, N.H. (2006), Stern Review: The Economics of Climate Change [http://www.hm- treasury.gov.uk/independent_reviews/stern_review_econo mics_climate_change/stern_review_report.cfm] WBCSD (2006), Caminhos para 2050 – Energia e Alterações Climáticas, WBCSD