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O Governo enquanto uma agência
controladora do comportamento na
perspectiva behaviorista radical
Jéssica Tarcylla Beviláqua de Aguiar
8º Semestre – UFC/Sobral
Controle
• “Na realidade, supor que o comportamento é
controlado corresponde a dizer que ele está
funcionalmente relacionado a eventos físicos e
sociais.” (Lopes Jr., 1994)
• Diferentes visões de homem para diferentes campos
de conhecimento sobre o homem.
• “Uma análise funcional do comportamento provê
uma concepção básica com a qual podemos abordar
por seu turno cada um desses campos”.
• “Será então possível considerar o efeito da cultura
total sobre o indivíduo, no qual as agências
controladoras e todos os outros aspectos do
ambiente social trabalham conjunta e
simultaneamente, e com um único efeito.”
“O grupo exerce um controle ético sobre cada um de seus
membros através, principalmente, de seu poder de
reforçar ou punir. O poder deriva do número e da
importância de outras pessoas na vida de cada membro.
Geralmente o grupo não é bem organizado, nem seus
procedimentos são consistentemente mantidos. Dentro
do grupo, entretanto, certas agências controladoras
manipulam conjuntos particulares de variáveis. Essas
agências são geralmente mais bem organizadas que o
grupo como um todo, e frequentemente operam com
maior sucesso.”
Agências Controladoras
• Governo
• Religião
• Psicoterapia
• Economia
• Educação
• Outras: mídia, ...
• “Uma agência controladora, juntamente com os
indivíduos que controla, constitui um sistema
social [...] e nossa tarefa é dar conta do
comportamento de todos os participantes.
Dever-se-á identificar os indivíduos que
compõem a agência e explicar porque têm o
poder de manipular as variáveis que a agência
emprega. E também analisar o efeito geral no
controlado, e mostrar como isso leva à retroação
reforçadora que explica a continuação da
existência da agência.
Agência
Controladora
Indivíduos cujo
comportamento é
controlado pela
agência
Sistema Social
• Somos nós, enquanto indivíduos que nos
engajamos na manutenção das agências
enquanto uma prática cultural.
Ex: delegamos o poder da agência nos punir.
• O que mantém essa prática cultural?
• Qual(is) é(sao) a(s) função(ões) das agências
controladoras?
A Agência Governamental
• “[...] o governo é o uso do poder para punir. [...]
as agências governamentais frequentemente
recorrem a outras fontes de controle”.
• “No governo organizado de um Estado moderno
a tarefa específica de punição é atribuída a
grupos especiais – a polícia e aos militares” [...]
Geralmente seu poder é a simples força física
[...], mas o poder da agência governamental
maior pode ser de natureza diferente”.
A Agência Governamental
• “O poder derivado do „consentimento do
governado‟ também determina a composição da
agência apropriada. Dizer que o poder é
„delegado‟ não descreve o processo real. Uma
análise adequada desse governo incluiria um
estudo das técnicas usadas pelo indivíduo para
tornar-se um membro da agência e para se
manter como tal.”
Técnicas no controle governamental
• Cabe às agências dirigir o controle do
comportamento moral e ético do grupo.
• Mas quem delimita o que ético? O que é bom?
Técnicas no controle governamental
• Distinção entre “legal” e “ilegal”. É ilegal o que traz
consequências aversivas para a agência. A ênfase é sobre o
“errado”, através do poder de punir.
• “O governo usa seu poder para „manter a paz‟ – para restringir
comportamentos que ameaçam a propriedade e as pessoas de
outros membros do grupo. Um governo que possui apenas o
poder de punir pode fortalecer o comportamento legal
somente pela remoção de uma ameaça de punição a ele
contingente [reforço negativo]. Algumas vezes isto é feito, mas
a técnica mais comum é simplesmente punir as formas ilegais
do comportamento.”
Ex: Multas, acidentes no trânsito, etc.
Técnicas no controle governamental
• Remoção de Reforçadores Positivos
PUNIÇÃO NEGATIVA
Contexto: Ação Consequência
Passar no
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vermelho
Dinheiro
(Multa)
Técnicas no controle governamental
• Apresentação de reforçadores negativos
PUNIÇÃO POSITIVA
Uso de controle aversivo:
• “O comportamento ilegal vem a gerar estímulos
aversivos que fazem o indivíduo „sentir-se culpado‟ e
que provêm o reforço positivo automático de
comportar-se legalmente.”
• Estabelecimento do comportamento de obedecer aos
mandamentos da agência. – história verbal do
indivíduo.
Uso de controle aversivo:
• “Estabelecendo o comportamento obediente, a
agencia controladora prepara o indivíduo para
ocasiões futuras que não podem ser previstas, e
para as quais não é possível, portanto, preparar
adiantadamente um repertório explícito.
Quando surgem novas ocasiões para as quais o
indivíduo não possui respostas, ele
simplesmente faz o que mandam.”
• Obediência com função de esquiva
Ex: Diminuir a velocidade do veículo ao passar
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Lei
• “São tanto descrições de procedimentos passados
como garantias de procedimentos semelhantes no
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• “[...] Regra de conduta no sentido de que especifica
as consequências de certas ações que por seu turno
„regem‟ o comportamento.”
• “O governo de um grupo numeroso requer uma
organização complicada com procedimentos que
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pela codificação.”
“A ignorância da lei não exime da culpa”
• Dessa maneira, a agência governamental deixa o
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sujeitos a outras pessoas, como pais, amigos, etc.
“O indivíduo é afetado quando testemunha a
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• Alguém que observou o comportamento de outra
pessoa e a punição a ele contingente pode precaver-
se contra esse comportamento e impedir que outros
se comportem dessa maneira. Assim fazendo, dá
apoio ao controle governamental.
• Os membros atuam reforçando a prática cultural
regulamentada nas agências (agem como agentes de
controle do comportamento).
• “Para manter ou „aplicar‟ contingências de
controle governamental, uma agência deve
estabelecer o fato de que um indivíduo
comportou-se ilegalmente e deve interpretar um
código para determinar a punição. Deve depois
levar adiante a punição. Essas tarefas
geralmente se dividem entre subdivisões
especiais da agência.”
Interpretações tradicionais
Idade Média
• “legal” e “ilegal”: classificações aceitas como
imutáveis baixadas por um decreto absoluto.
• Ausência de fatos históricos e comparativos
referentes a outros procedimentos legais e
governamentais.
• Qualquer análise do comportamento humano teve
que se ajustar ao conjunto particular de
procedimentos estabelecidos. Comportamento
aceito não pelo observado, mas pelo decretado. Em
conformidade com a crença.
Interpretações tradicionais
Modernidade
• Aceita o fato de que o governo e a lei dependem
das circunstâncias de uma dada cultura ou
época.
• Observação do comportamento não mais fica
limitada a pronunciamentos autoritários.
• Grande discrepância entre concepções
científicas e legais do comportamento humano.
Interpretações tradicionais
Tradição derivada das leis inglesas e norte-
americanas
• Homem como criatura “responsável” que havia
nascido ou adquirido rapidamente um
“conhecimento do certo e do errado”
• Punição do ofensor “aplacar” o Estado: crime
como uma ofensa ao Estado. Poder derivava da
força governante ou de origem absoluta.
Interpretações tradicionais
Tradição derivada das leis inglesas e norte-
americanas
• Punição do ofensor servir para “igualar a contagem”:
Estado agia no interesse do mais imediatamente
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• Punição do ofensor para tornar menos provável que
este se comporte mal no futuro, e para que outros
sejam desencorajados de comportamentos
semelhantes.
Hoje...
• Reconhece-se, geralmente, que a punição é ineficaz
simplesmente como um meio de tornar o
comportamento menos provável.
• Punição não ensina comportamento.
• Problema: comportamento punido volta a ocorrer
na ausência do agente punidor.
• “É possível, entretanto, reformular as práticas legais
e governamentais em termos mais coerentes com os
processos comportamentais que a punição acarreta.”
Será o encarceramento uma forma de estimulação
aversiva ou uma oportunidade para reeducar o
indivíduo?
• Fixar antecipadamente o período de encarceramento
• Punição como vingança
• “Requer-se o encarceramento porque as outras técnicas
de controle governamental falharam. Por vezes se
reconhece que a psicoterapia, e não a punição legal, é o
mais apropriado.”
• Louco: não é “responsável”, é “fora de controle”.
• Limites dos cidadãos normais: “no calor da
paixão”, “por impulso irresistível”, “sob
circunstâncias atenuantes”.
Outros tipos de controle
governamental
• “[...] requerem um tipo diferente de poder governamental e
uma melhor compreensão do comportamento humano.”
• “Como as agências governamentais têm se comprometido
particularmente com o uso de punições, a mudança para
outras formas de controle tem sido especialmente lenta.”
• “Quando uma agência governamental se volta para técnicas
auxiliares não baseadas em punição, o conceito de homem
como um „agente responsável‟ cai em desuso. Esta é uma
prova adicional de que o conceito meramente serve para
racionalizar o uso da punição como uma técnica de
controle”
Outros tipos de controle
governamental
• Reforço positivo.
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Contracontrole das agências
governamentais
• “O governo manipula as variáveis que alteram o
comportamento do governado e se define em
termos de seu poder de assim fazer. A mudança
no comportamento do governado provê de volta
um reforço ao governo, explicando a
continuação de sua função.”
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Contracontrole das agências
governamentais
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potência
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governado)
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governamentais
• “Direitos Humanos” como justificativas para
explicar o contracontrole exercido pelo
governado.
- Justiça
- Liberdade
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Exemplo 1:
• No Brasil, o poder deriva das pessoas governadas.
Assim, quando elas “sentem” que o governo não está
assegurando seu direito à segurança, pode haver
uma diminuição da probabilidade do
comportamento de apoiar o governo ocorrer, além
do aumento na possibilidade de emissão de outros
comportamentos incompatíveis, como, juntamente
com outras pessoas, organizar uma movimentação
chamada “Fortaleza Apavorada”.
Exemplo 2:
• Ou ainda, quando as pessoas, ao organizarem
manifestações por conta do aumento do preço da
passagem de ônibus, acabam sendo agredidas por
policiais e “sentem” que seu direito à liberdade não
está sendo assegurado. Isso também pode resultar
em uma diminuição da probabilidade de ocorrência
do comportamento de apoiar o governo, além do
aumento de outros comportamentos como voltar a
manifestar-se, agredir policiais, etc.
• Estamos preparados para viver sem punição?
• Estamos preparados para dispensar as agências
de controle e nos autocontrolarmos enquanto
grupo?
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regulamentador e regulador das agências?
“É necessário dotar o indivíduo de um
„conhecimento das consequências‟ ou de algum
tipo de „expectativa‟, para preencher o vazio entre
passado e futuro. Mas lidamos sempre com uma
história anterior de reforço e punição. As práticas
de governo e lei destinam-se claramente a
construir ou completar estas histórias, e podemos
descrever o indivíduo que vem ficar sob o controle
governamental inteiramente nesses termos.”
(Skinner, 1953)
Referências:
• SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento
Humano. Tradução: J.C. Todorov e R. Azzi. 11
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
• LOPES JR, J. Behaviorismo Radical,
Epistemologia e Problemas Humanos.

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O Governo como agência controladora do comportamento na perspectiva behaviorista radical

  • 1. O Governo enquanto uma agência controladora do comportamento na perspectiva behaviorista radical Jéssica Tarcylla Beviláqua de Aguiar 8º Semestre – UFC/Sobral
  • 2. Controle • “Na realidade, supor que o comportamento é controlado corresponde a dizer que ele está funcionalmente relacionado a eventos físicos e sociais.” (Lopes Jr., 1994)
  • 3. • Diferentes visões de homem para diferentes campos de conhecimento sobre o homem. • “Uma análise funcional do comportamento provê uma concepção básica com a qual podemos abordar por seu turno cada um desses campos”. • “Será então possível considerar o efeito da cultura total sobre o indivíduo, no qual as agências controladoras e todos os outros aspectos do ambiente social trabalham conjunta e simultaneamente, e com um único efeito.”
  • 4. “O grupo exerce um controle ético sobre cada um de seus membros através, principalmente, de seu poder de reforçar ou punir. O poder deriva do número e da importância de outras pessoas na vida de cada membro. Geralmente o grupo não é bem organizado, nem seus procedimentos são consistentemente mantidos. Dentro do grupo, entretanto, certas agências controladoras manipulam conjuntos particulares de variáveis. Essas agências são geralmente mais bem organizadas que o grupo como um todo, e frequentemente operam com maior sucesso.”
  • 5. Agências Controladoras • Governo • Religião • Psicoterapia • Economia • Educação • Outras: mídia, ...
  • 6. • “Uma agência controladora, juntamente com os indivíduos que controla, constitui um sistema social [...] e nossa tarefa é dar conta do comportamento de todos os participantes. Dever-se-á identificar os indivíduos que compõem a agência e explicar porque têm o poder de manipular as variáveis que a agência emprega. E também analisar o efeito geral no controlado, e mostrar como isso leva à retroação reforçadora que explica a continuação da existência da agência.
  • 8. • Somos nós, enquanto indivíduos que nos engajamos na manutenção das agências enquanto uma prática cultural. Ex: delegamos o poder da agência nos punir. • O que mantém essa prática cultural? • Qual(is) é(sao) a(s) função(ões) das agências controladoras?
  • 9. A Agência Governamental • “[...] o governo é o uso do poder para punir. [...] as agências governamentais frequentemente recorrem a outras fontes de controle”. • “No governo organizado de um Estado moderno a tarefa específica de punição é atribuída a grupos especiais – a polícia e aos militares” [...] Geralmente seu poder é a simples força física [...], mas o poder da agência governamental maior pode ser de natureza diferente”.
  • 10. A Agência Governamental • “O poder derivado do „consentimento do governado‟ também determina a composição da agência apropriada. Dizer que o poder é „delegado‟ não descreve o processo real. Uma análise adequada desse governo incluiria um estudo das técnicas usadas pelo indivíduo para tornar-se um membro da agência e para se manter como tal.”
  • 11. Técnicas no controle governamental • Cabe às agências dirigir o controle do comportamento moral e ético do grupo. • Mas quem delimita o que ético? O que é bom?
  • 12. Técnicas no controle governamental • Distinção entre “legal” e “ilegal”. É ilegal o que traz consequências aversivas para a agência. A ênfase é sobre o “errado”, através do poder de punir. • “O governo usa seu poder para „manter a paz‟ – para restringir comportamentos que ameaçam a propriedade e as pessoas de outros membros do grupo. Um governo que possui apenas o poder de punir pode fortalecer o comportamento legal somente pela remoção de uma ameaça de punição a ele contingente [reforço negativo]. Algumas vezes isto é feito, mas a técnica mais comum é simplesmente punir as formas ilegais do comportamento.” Ex: Multas, acidentes no trânsito, etc.
  • 13. Técnicas no controle governamental • Remoção de Reforçadores Positivos PUNIÇÃO NEGATIVA
  • 14. Contexto: Ação Consequência Passar no sinal vermelho Dinheiro (Multa)
  • 15. Técnicas no controle governamental • Apresentação de reforçadores negativos PUNIÇÃO POSITIVA
  • 16. Uso de controle aversivo: • “O comportamento ilegal vem a gerar estímulos aversivos que fazem o indivíduo „sentir-se culpado‟ e que provêm o reforço positivo automático de comportar-se legalmente.” • Estabelecimento do comportamento de obedecer aos mandamentos da agência. – história verbal do indivíduo.
  • 17. Uso de controle aversivo: • “Estabelecendo o comportamento obediente, a agencia controladora prepara o indivíduo para ocasiões futuras que não podem ser previstas, e para as quais não é possível, portanto, preparar adiantadamente um repertório explícito. Quando surgem novas ocasiões para as quais o indivíduo não possui respostas, ele simplesmente faz o que mandam.”
  • 18. • Obediência com função de esquiva Ex: Diminuir a velocidade do veículo ao passar por foto-sensor.
  • 19. Lei • “São tanto descrições de procedimentos passados como garantias de procedimentos semelhantes no futuro.” • “[...] Regra de conduta no sentido de que especifica as consequências de certas ações que por seu turno „regem‟ o comportamento.” • “O governo de um grupo numeroso requer uma organização complicada com procedimentos que devem ser tornados mais consistentes e eficientes pela codificação.”
  • 20. “A ignorância da lei não exime da culpa” • Dessa maneira, a agência governamental deixa o condicionamento do comportamento dos sujeitos a outras pessoas, como pais, amigos, etc.
  • 21. “O indivíduo é afetado quando testemunha a punição de outros” • Alguém que observou o comportamento de outra pessoa e a punição a ele contingente pode precaver- se contra esse comportamento e impedir que outros se comportem dessa maneira. Assim fazendo, dá apoio ao controle governamental. • Os membros atuam reforçando a prática cultural regulamentada nas agências (agem como agentes de controle do comportamento).
  • 22. • “Para manter ou „aplicar‟ contingências de controle governamental, uma agência deve estabelecer o fato de que um indivíduo comportou-se ilegalmente e deve interpretar um código para determinar a punição. Deve depois levar adiante a punição. Essas tarefas geralmente se dividem entre subdivisões especiais da agência.”
  • 23. Interpretações tradicionais Idade Média • “legal” e “ilegal”: classificações aceitas como imutáveis baixadas por um decreto absoluto. • Ausência de fatos históricos e comparativos referentes a outros procedimentos legais e governamentais. • Qualquer análise do comportamento humano teve que se ajustar ao conjunto particular de procedimentos estabelecidos. Comportamento aceito não pelo observado, mas pelo decretado. Em conformidade com a crença.
  • 24. Interpretações tradicionais Modernidade • Aceita o fato de que o governo e a lei dependem das circunstâncias de uma dada cultura ou época. • Observação do comportamento não mais fica limitada a pronunciamentos autoritários. • Grande discrepância entre concepções científicas e legais do comportamento humano.
  • 25. Interpretações tradicionais Tradição derivada das leis inglesas e norte- americanas • Homem como criatura “responsável” que havia nascido ou adquirido rapidamente um “conhecimento do certo e do errado” • Punição do ofensor “aplacar” o Estado: crime como uma ofensa ao Estado. Poder derivava da força governante ou de origem absoluta.
  • 26. Interpretações tradicionais Tradição derivada das leis inglesas e norte- americanas • Punição do ofensor servir para “igualar a contagem”: Estado agia no interesse do mais imediatamente prejudicado. Poder derivava dos governados. • Punição do ofensor para tornar menos provável que este se comporte mal no futuro, e para que outros sejam desencorajados de comportamentos semelhantes.
  • 27. Hoje... • Reconhece-se, geralmente, que a punição é ineficaz simplesmente como um meio de tornar o comportamento menos provável. • Punição não ensina comportamento. • Problema: comportamento punido volta a ocorrer na ausência do agente punidor. • “É possível, entretanto, reformular as práticas legais e governamentais em termos mais coerentes com os processos comportamentais que a punição acarreta.”
  • 28. Será o encarceramento uma forma de estimulação aversiva ou uma oportunidade para reeducar o indivíduo? • Fixar antecipadamente o período de encarceramento • Punição como vingança • “Requer-se o encarceramento porque as outras técnicas de controle governamental falharam. Por vezes se reconhece que a psicoterapia, e não a punição legal, é o mais apropriado.”
  • 29. • Louco: não é “responsável”, é “fora de controle”. • Limites dos cidadãos normais: “no calor da paixão”, “por impulso irresistível”, “sob circunstâncias atenuantes”.
  • 30. Outros tipos de controle governamental • “[...] requerem um tipo diferente de poder governamental e uma melhor compreensão do comportamento humano.” • “Como as agências governamentais têm se comprometido particularmente com o uso de punições, a mudança para outras formas de controle tem sido especialmente lenta.” • “Quando uma agência governamental se volta para técnicas auxiliares não baseadas em punição, o conceito de homem como um „agente responsável‟ cai em desuso. Esta é uma prova adicional de que o conceito meramente serve para racionalizar o uso da punição como uma técnica de controle”
  • 31. Outros tipos de controle governamental • Reforço positivo. - Ex: subsídios e bônus. • Controle educacional do comportamento legal. - Ex: trânsito
  • 32. Contracontrole das agências governamentais • “O governo manipula as variáveis que alteram o comportamento do governado e se define em termos de seu poder de assim fazer. A mudança no comportamento do governado provê de volta um reforço ao governo, explicando a continuação de sua função.” • “Outras condições permanecendo constantes, o governo se torna mais forte no ato de governar”.
  • 33. Contracontrole das agências governamentais • Limites: - Exaustão dos recursos do governado - Fuga - Revolta - Resistência Passiva - Competição com outras agências governantes em potência - Leis (quando o poder deriva do consentimento do governado)
  • 34. Justificação dos procedimentos governamentais • “Direitos Humanos” como justificativas para explicar o contracontrole exercido pelo governado. - Justiça - Liberdade - Segurança
  • 35. Exemplo 1: • No Brasil, o poder deriva das pessoas governadas. Assim, quando elas “sentem” que o governo não está assegurando seu direito à segurança, pode haver uma diminuição da probabilidade do comportamento de apoiar o governo ocorrer, além do aumento na possibilidade de emissão de outros comportamentos incompatíveis, como, juntamente com outras pessoas, organizar uma movimentação chamada “Fortaleza Apavorada”.
  • 36. Exemplo 2: • Ou ainda, quando as pessoas, ao organizarem manifestações por conta do aumento do preço da passagem de ônibus, acabam sendo agredidas por policiais e “sentem” que seu direito à liberdade não está sendo assegurado. Isso também pode resultar em uma diminuição da probabilidade de ocorrência do comportamento de apoiar o governo, além do aumento de outros comportamentos como voltar a manifestar-se, agredir policiais, etc.
  • 37. • Estamos preparados para viver sem punição? • Estamos preparados para dispensar as agências de controle e nos autocontrolarmos enquanto grupo? • Estamos conscientes do nosso papel regulamentador e regulador das agências?
  • 38. “É necessário dotar o indivíduo de um „conhecimento das consequências‟ ou de algum tipo de „expectativa‟, para preencher o vazio entre passado e futuro. Mas lidamos sempre com uma história anterior de reforço e punição. As práticas de governo e lei destinam-se claramente a construir ou completar estas histórias, e podemos descrever o indivíduo que vem ficar sob o controle governamental inteiramente nesses termos.” (Skinner, 1953)
  • 39. Referências: • SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. Tradução: J.C. Todorov e R. Azzi. 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. • LOPES JR, J. Behaviorismo Radical, Epistemologia e Problemas Humanos.