O documento discute a igualdade de género e a linguagem inclusiva. Apresenta a diferença entre sexo e género, e como as desigualdades de género são construídas socialmente ao invés de biologicamente determinadas. Também fornece diretrizes para a adoção de uma linguagem que promova a igualdade de género.
5. Não é mais aceitável que as diferenças de sexo, que são biológicas, continuem a
conduzir às desigualdades de género, que são sociológicas e se traduzem no
desequilíbrio claro de participação dos homens e das mulheres, tanto na esfera
pública, como na esfera privada.
As diferenças biológicas de sexo são decorrentes da natureza, por isso naturais, em
princípio imutáveis e insusceptíveis de se traduzir directamente em discriminação,
enquanto as desigualdades de género são socialmente construídas, por isso
geradoras de comportamentos discriminatórios e só mantidas num quadro de
aceitação social generalizada.
CITE (2003)
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6. Feminização e Segregação
Sectores de actividade que apresentam maiores níveis de feminização (Fonte: INE – Inquérito
ao Emprego – 2006):
Serviços pessoais e domésticos (98,6%).
Saúde e acção social (81,9%).
Educação (75,7%).
Segregação horizontal
Persiste uma forte concentração da mão-de-obra feminina num conjunto restrito de actividades
e profissões, frequentemente associadas a actividades que constituem uma extensão
profissionalizada das tarefas tradicionalmente desempenhadas pelas mulheres no contexto do
espaço doméstico.
Segregação vertical
As mulheres continuam afastadas dos cargos dirigentes, mesmo nas profissões mais feminizadas,
como é o caso da educação e da saúde. Basta olharmos para os cargos de direcção política e
económica para percebermos que as mulheres continuam, um pouco por todo o mundo, fora
dos lugares de topo.
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7. Igualdade de Género
Só a diferença de sexo é “natural”.
A desigualdade decorre de uma construção social e, por isso, é mutável.
Há que retirar da invisibilidade ou do equívoco as questões da Igualdade de Género,
sensibilizando as pessoas para mudarem os seus próprios comportamentos e
promoverem a igualdade na sua esfera de influência.
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8. Ficha de Actividade nº 1 (Diferenças entre sexo e género)
Objectivo: Reflexão sobre o conceito de género.
Coloque S ou G, na quadrícula, consoante a afirmação se relacione com o Sexo ou com o Género.
As mulheres passam pela menopausa e os homens pela andropausa.
Os homens têm problemas com a próstata e as mulheres com o peito.
Os homens são mais infiéis que as mulheres.
As meninas brincam com as bonecas e os meninos com carrinhos.
As empregadas a dias são mulheres; os homens são mordomos.
As mulheres amamentam; os homens dão biberão.
As mulheres vão à cabeleireira e os homens ao barbeiro.
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9. Educação e Formação para a Igualdade de Género
Motivar as raparigas e os rapazes a realizarem opções não
tradicionais e a seguirem formações qualificadoras, de maneira
a poderem aceder a um leque de empregos mais diversificado.
Encorajar as raparigas a participar, tanto como os rapazes, nos
sectores novos e em vias de expansão, quer ao nível da
educação, quer da formação profissional.
Favorecer a eliminação dos estereótipos relativos ao sexo,
através de acções de sensibilização concertadas, tais como
campanhas de informação, seminários, conferências, debates,
discussões.
Eliminar os estereótipos que persistam nos manuais escolares
e no conjunto do material pedagógico.
Reforçar a percepção positiva das crianças e da juventude
relativamente à igualdade entre os sexos.
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10. Mitos sobre a Feminilidade e Estereótipos
Mito da fragilidade física
Mito de não ter capacidade de aprendizagem
Mito das bruxas
Mito da criação
Mito de Adão e Eva
Mito “A mulher não tem desejo, nem prazer sexual”
Mito “As mulheres não trabalham”
…
Os mitos servem para manter estereótipos sobre o papel da mulher e do homem na sociedade,
justificam comportamentos discriminatórios e oferecem resistência à mudança.
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11. Estereótipos e Papéis Sociais do Género
Vídeo
Fada do lar…
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12. A Linguagem
A linguagem é o meio através do qual as distorções sexistas se perpetuam de
forma mais incisiva, embora imperceptível.
A linguagem, mais do que comunicar ideias, pode caracterizar-se como
expressão de uma ordem do mundo, de uma determinada organização de
valores e de relações.
É extremamente importante conferir uma atenção especial à linguagem, ao
que é dito, como é dito e a quem é dito.
Podem constituir indicadores a designação do feminino e do masculino ou do
universal, a construção do plural, a designação das profissões, a enunciação de
características, a própria nomeação directa dos indivíduos.
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13. A Linguagem e os seus diferentes Significados e Atributos
Homem público… o que intervém publicamente nos negócios políticos
Mulher pública... prostituta
Governante… o que dirige um país
Governanta... a que administra a casa de alguém
Mundano… dado aos prazeres do mundo; cosmopolita
Mundana... mulher dissoluta; prostituta
“Ela é uma galinha, uma vaca, uma piranha, uma baleia, …” para
associar ao sexo ou para destacar defeito ou valor negativo.
“Ele é um touro, um galo, um garanhão, …” para ressaltar a força
ou potência do macho.
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14. Orientações para a
adopção de uma
Linguagem de Género
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15. Na Construção de uma Linguagem (Inclusiva) de Género
A estratégia de substituição de termos geralmente utilizada
noutras línguas obedece a dois princípios fundamentais:
a visibilidade
e a simetria
das representações dos dois sexos.
Apresentam-se hipóteses estruturantes de solução, agrupadas em
dois tipos de recursos:
a especificação do sexo;
a neutralização ou abstracção da referência sexual.
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16. A Especificação do Sexo
[ Utilização de formas duplas ]
Utilizar Em vez de
pai e mãe pais
filhas e/ou filhos filhos
enteados e/ou enteadas enteados
avó e avô avós
trabalhadores e trabalhadoras estrangeiras
ou
trabalhadoras e trabalhadores estrangeiros trabalhadores estrangeiros
o pai solteiro ou a mãe solteira o pai ou a mãe solteiros
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17. A Especificação do Sexo
[ O emprego de barras ]
Utilizar
o/a formando/a
o/a aluno/a
o/a condutor/a
o/a doente
o/a contribuinte
a/o cliente
as/os descendentes
os/as estudantes
o/a(s) titular(es)
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18. Neutralização ou Abstracção da Referência Sexual
[ Substituição por genéricos verdadeiros ]
Utilizar Em vez de
A pessoa que requer O requerente
As pessoas interessadas Os interessados
A gerência O gerente
A administração O administrador
A direcção O director
O pessoal de limpeza As empregadas de limpeza
À Presidência do Conselho Directivo Exmo. Sr. Presidente do Conselho Directivo
À Direcção-Geral Exmo. Sr. Director-Geral
Requerente O requerente
Utente O utente
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19. Na Construção de uma Linguagem (Inclusiva) de Género
A Administração Pública como “motor” - “sites” de Câmaras Municipais
Caro/a Visitante / Amigo(a): Vereação
Bem-vindo à página da cidade de ... M: 5 ; H: 8
Meus caros amigos(as), Vereação
Aproximam-se tempos difíceis. M: 3 ; H: 8
Caro(a) visitante, Vereação
Seja bem-vindo(a) ao sítio do Município. M: 2 ; H: 5
Câmaras Municipais - Exercício da Cidadania e Responsabilidade Social
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21. Cidadania Empresarial
Cidadania Empresarial e Organizacional - o exercício de um vasto conjunto de direitos e
deveres que visam possibilitar aos vários “stakeholders” o seu pleno desenvolvimento através
do alcance de uma igual dignidade social e económica, respeitando o ambiente.
Comportamentos de Cidadania Organizacional – São comportamentos discricionários, não
directa ou explicitamente reconhecidos pelo sistema de recompensa formal, não exigidos
formalmente pelo papel ou descrição do cargo e que, agregadamente, promovem o
funcionamento eficaz da organização. (Cunha, M. et al.:2007) – “Manual de Comportamento
Organizacional e Gestão” – Editora RH
A Responsabilidade Social das Empresas é, essencialmente, um conceito segundo o qual as
empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um
ambiente mais limpo. Ser socialmente responsável não se restringe ao cumprimento de todas as
obrigações legais – implica ir mais além através de um “maior” investimento em capital humano,
no ambiente e nas relações com outras partes interessadas e comunidades locais. (Livro
Verde “Promover Um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das Empresas” –
Comissão Europeia (2001)
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22. Boas Práticas nas Organizações
Formação nas diferentes áreas da Igualdade de Género (por exemplo, na Linguagem
Inclusiva).
Flexibilidade de horários (semana de trabalho comprimida, partilha de empregos a tempo
inteiro, emprego a meio tempo, etc.).
Flexibilidade do espaço de trabalho (por exemplo tele-trabalho).
Abertura ao debate de problemas, criação de espaços onde possam ser debatidas questões
pertinentes.
Promover a igualdade de oportunidades para atingir cargos de gestão de topo.
Treino e formações que permitam uma igualdade de oportunidades de carreira para
homens e mulheres.
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23. Boas Práticas nas Organizações
Oferta de equipamentos e serviços sociais.
Apoios às famílias (benefícios como dias de folga para mães e pais, ou benefícios
materiais/económicos, planos especiais de maternidade e paternidade).
Criação de espaços de lazer e relaxamento.
Planos médicos para o empregado e a sua família.
Promover a distribuição igualitária de ambos os sexos por todos os postos de trabalho,
mesmo aqueles que tradicionalmente são ocupados um dos sexos.
Aplicação de outras práticas inovadoras de Igualdade de Género e de conciliação da vida
profissional e pessoal.
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24. Anúncios de Emprego e outras formas de Publicidade
[ Evitar discriminações em função do sexo - cumprir a Lei]
Os anúncios e todas as formas de publicidade devem ser formuladas de modo a abranger sempre,
inequívoca e explicitamente, destinatários de ambos os sexos.
As profissões ou postos de trabalho nos anúncios devem ser designados conjuntamente no masculino e no
feminino, como, p.ex., Director/Directora, Enfermeiro/Enfermeira ou, na forma abreviada, Director/a;
Enfermeiro/a.
Nos casos das profissões cuja designação abrange ambos os géneros, deve sempre ser acrescentada a sigla
(M/F) à respectiva profissão, para explicitar a igualdade de oportunidades de acesso ao emprego e
formação profissional para trabalhadores/as e ou candidatos/as de ambos os sexos, como, p.ex.:
Economista (M/F), Analista (M/F) ou Jornalista (M/F).
Na divulgação de cursos de formação ou outras iniciativas, as acções devem ser designadas pelas
respectivas áreas, como, p.ex., “Desenho” ou “Serralharia”, explicitando-se em seguida que a acção se
destina a candidatos de ambos os sexos ou pelas profissões com referência expressa de ambos os géneros,
como “Desenhador/a” ou “Serralheiro/a”.
Excerto do Parecer nº 10/CITE/91
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25. Programa de Promoção de IG do Supermercado “Girassol”
Acções em curso
Subsídio de refeição igual para todas as trabalhadores e trabalhadores.
Formação em Igualdade de Género (nesta fase ainda com gerentes e chefias; posteriormente
alargada ao universo dos/as colaboradores/as).
Flexibilidade de horários.
Cumprimento do horário de saída (encerramento do estabelecimento).
Dessegregação das funções.
Próximo cargo de chefia provavelmente a vir exercido por uma mulher (desde que preencha
os requisitos de perfil), através de recrutamento interno.
Protocolos (com infantário e clube de saúde).
Adopção da Linguagem de Género (a nível interno e externo, com projecção nos clientes e
na comunidade local).
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27. Ficha de Actividade nº 3 (Provérbios - reflexão)
Objectivo: Analisar como os provérbios criam, mantêm e reforçam os estereótipos de género.
Componha os cinco provérbios, ligando, com linhas, a frase da esquerda com a da direita.
o homem deve cheirar a pólvora tiram o homem do seu juízo
para se encontrar o Diabo nunca metas colher
mulher honrada não se precisa sair de casa
a mulher e o vinho a mulher a incenso
entre marido e mulher não tem ouvidos nem olhos
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28. Ficha de Actividade nº 3 (Provérbios - reflexão)
Solução
o homem deve cheirar a pólvora a mulher a incenso
para se encontrar o Diabo não se precisa sair de casa
mulher honrada não tem ouvidos nem olhos
a mulher e o vinho tiram o homem do seu juízo
entre marido e mulher nunca metas colher
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29. Bibliografia
• Abranches, G. e Carvalho, E. (1999) - “Linguagem, Poder, Educação: o Sexo dos B,A,BAs” –
Colecção Coeducação – CIG
• Abranches, G. (2009) – “Guia para uma Linguagem Promotora da Igualdade entre Homens e
Mulheres na Administração Pública” – CIG
• Cunha, C. e Sintra, L. (1984) – “Nova Gramática do Português Contemporâneo” - Edições Sá da
Costa
• Martelo, M. (1999) – “A Escola e a Construção da Identidade das Raparigas: o Exemplo dos
Manuais Escolares” – Colecção Mudar as Atitudes - CIG
• Nogueira, C. e Saavedra, L. (2008) – Estereótipos de Género – Conhecer para os Transformar” –
ERTE/PTE - Cadernos SACAUSEF III - Ministério da Educação
• Nunes, M. (2009) – “O Feminismo e o Masculino nos Materiais Pedagógicos – (In)Visibilidades e
(Des)Equilíbrios” – CIG
• Silva, A. (2005) - “A Narrativa na Promoção da Igualdade de Género: Contributos para a a
Educação Pré-Escolar” - CIDM
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30. Bibliografia
• “Manual Para a Integração da Dimensão da Igualdade de Género nas Políticas de Inclusão Social e
Protecção Social” (2008) - Comissão Europeia – Direcção-Geral do Emprego, Assuntos Sociais e
Igualdade de Oportunidades
• CIG - “Género, Território e Ambiente” (2009)
• CITE - “Manual de Formação de Formadores/as em Igualdade entre Mulheres e Homens” (2003)
• CITE - Parecer nº 10/CITE/91
• INE - “Homens e Mulheres em Portugal – 2010”
• CIG - Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (www.cig.gov.pt)
• UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta (www.umarfeminismos.org)
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