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FARO E O MOVIMENTO DO ORFEU 
JOSÉ CARLOS VILHENA MESQUITA 
RESUMO 
Poucos saberão que Faro foi a única cidade de província a dar cobertura 
e apoio ao movimento futurista liderado por Fernando Pessoa, Mário Sá- 
-Carneiro e Almada Negreiros. Será esse o principal aspecto a ser focado 
nesta comunicação, para além de ser lembrado que Fernando Pessoa viveu 
em Tavira, em casa de sua tia cujo imóvel bem merecia a colocação de 
uma placa evocativa da passagem pelo Algarve de um dos maiores poetas 
da cultura portuguesa. Será igualmente analisado o papel do semanário 
«O Heraldo», dirigido pelo pintor Lyster Franco na cidade de Faro e recor­dada 
a colaboração do artista Carlos Porfírio, director da revista «Portugal 
Futurista», de Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Sá-Carneiro e de vários 
outros jovens algarvios. De salientar que o último sobrevivente do Movi­mento 
Futurista Português é um algarvio, dr. Mário Lyster Franco, que com 
82 anos e praticamente cego ainda resiste no seu eremitério farense, que 
bem merecia a designação de imóvel de interesse público e a sua conversão 
em Casa-Museu. Propor-se-á ao Congresso a aprovação de uma moção de 
homenagem à memória deste ilustre algarvio.
Talvez nem toda a gente saiba que a cidade de Faro esteve di 
recta e profundamente ligada ao movimento do "Orpheu", o qual, ao tem­po 
da sua formação, gerou uma linha de ruptura na esclerosada escola 
‘romântica e uma via de progresso na aurora simbolista. 
Estávamos em pleno início de século, a República dava ainda 
os primeiros passos. Pairava um clima de instabilidade, temor, intole­rância, 
e de insegurança geral.Ninguém sabia no que isto ia parar. A 
Europa estava em guerra, no Norte fervilhava a sedição couceirista, o 
clero sentindo-se perseguido e espoliado, profetizava a guerra civil... 
Em suma, vivia-se receando o dia de amanhã. Os políticos não se enten­diam, 
formavam-se e caíam governos, e a necessidade de afirmação do re 
gime atraiu-nos para a deflagração do primeiro conflito mundial. 
No Algarve, onde as notícias chegavam já ressessas, a vida 
corria numa pacatez provinciana, sem grandes agitações, numa rotineira 
sonolência. Apenas o movimento operário se manifestava, sobretudo nos 
sectores corticeiro e conserveiro, despertando o poder local da letar­gia 
em que, normalmente, se encontrava mergulhado. As eleições gerais 
e autárquicas, as greves, o recrutamento, os comícios, etc.,eram natural 
mente acontecimentos de elev.ada repercussão aos quais não era estranha 
a imprensa regional. Mas, dessa imprensa há que destrinçar a informação 
da formação e a esta última pertenceu, entre outros, "OHeraldo". 
"O HERALDO" DE LYSTER FRANCO 
Fundado em Tavira no uia 3 de Janeiro de 1901, iniciou a sua 
publicação com o n 9966 assumi ido-se como o legítimo sucessor do "Jornal 
de Annuncios” que por ser de distribuição gratuita se viu arbitrariam e_n 
te privado de publicar os anúncios oficiais seu único e quase exclusivo 
suporte económico. 0 seu proprietário, José Maria dos Santos, lançou en 
tão "0 Heraldo” em cuja tipografia Burocrática se editou até ao n 91542 
de 2 de Fevereiro de 1912, tendo então como directores os seus dois.- fi­lhos, 
António dos Santos - futuro redactor, fundador e director do "Cor 
reio do Sul ” - e José Maria dos Santos Júnior, todos naturais de Tavira 
Circunstâncias próprias da vida levaram ao encerramento da ti 
pografia que pouco depois, juntamente com o título do jornal, seria ven 
dida ao pintor e professor Carlos Augusto Lyster Franco e ao médico Jo­ão 
Pedro de Sousa que na capital algarvia no dia 10 de Abril do mesmo a_ 
no ressuscitavam aquele que já era então considerado como o melhor pe­r 
i ó d i c o algarvio. 
Reapareceu como bissemanário e seguindo uma orientação políti
ca muito próxima do Partido Democrático liderado por Afonso Costa, de 
quem o pintor Lyster Franco foi grande amigo e fiel militante. Teve no 
"Heraldo" uma apresentação gráfica verdadeiramente notável, ilustrado 
com magníficas gravuras, algumas delas talhadas à mão em madeira ou c o ­bre, 
que para além de constituírem verdadeiras obras-primas são simulta 
neamente v a 1iosíssimas peças para um possível museu de artes gráficas 
que, atendendo ã descentralização da cultura e à ancestralidade da im ­prensa 
algarvia, bem poderia fundar-se no Algarve. 0 próprio formato 
deste jornal de características jo rn a1ístico- 1iterárias tão interessan­tes 
sofreu várias alterações tanto no tamanho como na qualidade do pa­pel, 
acabando por no dia 19 de Setembro de 1914 quando se publicava o n 9 
251 se transformar definitivamente em semanário, mercê das vicissitudes 
da falta de papel motivada pela deflagração da guerra em que Portugal t£ 
maria parte integrante. 
A nova direcção de "0 Heraldo” sempre pugnou pela manutenção 
de uma linha democrática e livre na informação algarvia, se bem que en­quanto 
ao seu leme esteve a pena do dr. Pedro de Sousa as suas baterias 
jamais deixaram de bombardear implacável e violentamente os seus direc­tos 
rivais, especialmente os semanários "0 Algarve" e "0 Distrito de F£ 
ro", todos publicáveis na capital algarvia. Logicamente que os processos 
judiciais começaram a bater à porta da redacçao de "0 Heraldo , sendo 
de realçar as sete querelas que só ã sua conta lhe moveu o então governa 
dor do distrito, coronel Paulino de Andrade, para além das muitas que s­tões 
e polémicas que manteve com alguns oficiais do Batalhão de Infanta­ria 
n 9 3 3, aquartelado em Faro, e que nesta cidade suscitou viva celeuma. 
Todas estas tropelias jornalísticas fizeram do dr. João Pedro 
de Sousa um homem temido e odiado por alguns mas respeitado e admirado 
por muitos, o que acabou por abrir-lhe um caminho na senda política che 
gando mesmo a ter grande prestígio e a ser eleito deputado. Nessa altu­ra, 
partiu então para Lisboa deixando nas mãos do pintor Lyster Francc 
a posse definitiva do leme de "0 Heraldo", ate ai tão difícil de orien­tar 
devido aos tumultos das águas em grande parte agitadas pelo seu pró 
prio sócio. Nestas circunstâncias o respeitável e erudito pintor, ao 
tempo director da Escola Industrial Pedro Nunes, de boa memória, regis­tava 
no editorial do n 933 de 24 de Outubro de 1915 o começo de uma n o ­va 
era para "0 Heraldo": a era da pacificação. E assim aconteceu. Daí 
para a frente aquele jornal não mais teve problemas de vulto, tomando 
um cariz fundamentalmente literário, embora sem descurar totalmente o 
temperamento e o ideário político que estivera na sua origem. Por conse 
guinte, estava-se na presença de um periódico politico-cultural, no gé­nero 
daqueles que.hoje, salvo raras e honrosas excepções, já não exis-tem( 
l). E devemos salientar que nas colunas de ”0 Heraldo" colaboraram 
as melhores e mais prestigiadas penas do país, desde poetas a cientis­
tas e de literatos a historiadores, sem esquecer algumas figuras gradas 
da política que em S. Bento ou no próprio governo deram bastante brado. 
Convém acrescentar, para aqueles que eventualmente desconhe­çam 
a personalidade muitifacetada do pintor Carlos Augusto Lyster Fran­co, 
que raramente pelo Algarve passou um homem tão extraordinário e tão 
dotado. Foi em toda a sua existência um racionalista, amante da verdade, 
da integridade e da isenção, da beleza, da fraternidade, da solidarieda 
de e sobretudo da rectidão e coerência das ideias.Foi especialmente e 
aos olhos do vulgo um notável pintor, um dedicado pedagogo à causa da e 
ducação e à sobrevivência dos verdadeiros cânones da língua portuguesa 
e foi, naturalmente, um brilhante escritor de fino recorte literário. 
Mas vejamos alguns dados biográficos. 
Nasceu em Belém, Lisboa, a 5 de Outubro de 1879(comemorou-se 
ainda há bem pouco tempo de forma pouco brilhante o seu centenário) e 
após concluído o curso de pintura histórica na escola de Belas Artes, 
onde foi discípulo de Simões de Almeida(tio) e de Veloso Salgado, radi 
cou-se em Faro, no ano de 1901, acjui exercendo a docência do desenho e 
das línguas portuguesa e francesa. Para além disso, foi ainda professor 
efectivo das escolas Industrial Pedro Nunes e da Comercial de Tomas Ca ­breira, 
onde foi director durante largos anos, da escola do Magistério 
Primário e da escola Primária Superior, director do Posto Metereológi-co. 
Administrador do Concelho, Comissário de Polícia do Distr it o,Presi-dente 
da Câmara de Faro, membro da Academia das Ciências de Portugal, 
do Instituto Arqueológico do Algarve e c a v a l e i s da Ordem Militar de San_ 
tiago. A sua obra pictórica reparte-se sobretudo pelas paisagens a óleo 
e fundamentalmente pelo desenho a carvão, segundo a escola de Allongé, 
tendo-lhe a fama grangeado o epíteto de "Franco dos Carvões". Realizou 
numerosas exposições e procedeu graciosamente ao restauro de inúmeros 
quadros depositados no Museu Arqueológico e Lapitar Infante D. Henrique 
em Faro e no Museu Marítimo da mesma cidade onde tem uma sala com o seu 
nome. Foi candidato a deputado pelo Algarve pouco depois da implantação 
da República e para além de ter pertencido ao Partido Democrático acaba 
ria mais tarde por fundar e presidir ao Directório do Partido Republica 
no Radical que não chegou porém a ter grande expressão nacional. 
Cultuou a lírica e durante os cinco anos (1912-1917) em que 
dirigiu o bissemanário "0 Heraldo", deu’ a mão a muitos Jovens que dese­josos 
de se afirmarem no mundo das letras, não tinham quem lhes desse 
um voto de confiança. Foi aí no "Heraldo", na secção "Gente Nova", ini­ciada 
a 5 de Novembro de 1916, que nasceram alguns nomes, hoje consagra 
dos, da nossa poesia, nomeadamente João Lúcio, Coelho de Carvalho, Sala 
zar Moscoso, Bernardo de Passos e até Estácio da Veiga que por vezes 
trocava a arqueologia pela criação lírica. Em contrapartida confrontava 
-se a nova poesia com a poesia consagrada, tendo esta secção a sugestiva
designação de "Ouro Velho", na qual se transcreveram poemas de Camões, 
Bocage, Garrett, Casti 1 h o , João de Deus, Guerra Junqueiro e outros. 
Amante da leitura e dos livros, Carlos Lyster Franco logo se 
sentiu atraído pelo movimento do "Orpheu", que em 1915 dava os primei­ros 
passos. Os escassos dois números, então publicados, guardou-os até 
a morte como duas relíquias sagradas, que ainda hoje se conservam na 
bib 1 ioteca-museu de seu filho. 0 Modernismo apaixonava-o e a ideia de 
substituir a "Gente Nova" por "Futurismo" não significava o abandono 
dos jovens valores, mas antes, uma tentativa de chamar às coisas pelo 
seu verdadeiro nome. A poesia da "Gente Nova" era nitidamente futuris­ta, 
para quê escondê-lo?Não admira pois, que a 4 de Fevereiro de 1917 
se iniciasse a publicação de uma página inteiramente dedicada ao "Futu­rismo", 
que, infelizmente, morreria com o próprio "Heraldo" a 26 de A - 
gosto do mesmo ano, para jamais se ouvir falar dessa "literatura de ma-nicómio 
astral" no Algarve. 
Em que consistiu o Movimento Futurista 
é comum identificar-se o Futurismo com o Modernismo, o que, 
na realidade, não corresponde exactamente ao espírito intrínseco dos 
dois movimentos artístico-literários, havendo, no entanto, a considerar 
que o futurismo marca o início de uma época lírica, que haveria de per­durar 
até praticamente ao seu sucessor: o movimento da "Presença". As 
origens deste movimento estético-1iterário remontam a Itália, mais pro­priamente 
a Milão, onde o poeta Marinetti reuniu à sua volta um grupo 
de pintores, poetas e músicos, todos eles interessados em romper com a 
velha estrutura clássica que dominava as instituições culturais. Eram, 
na sua generalidade, jovens e conheciam-nos por futuristas, tendo o seu 
primeiro "Manifesto" causado enorme escândalo, nos meios artísticos, ao 
ser publicado a 20 de Fevereiro do referido ano no jornal 'parisiense"Le 
Figaro". As pretenções destes "esquisofrénicos" poetas-pintores eram 
simples mas demolidoras: esquecer o passado e criar um futuro sem raízes 
conhecidasj desprezo pelos museus, academias e mestres; extinguir o tra-dicionalismo 
e tudo quanto fosse clássico; amar a velocidade, a liberda­de, 
o perigo, a violência e a máquina ; sobretudo prezar a origina 1idade« 
Na poesia tudo isto se traduzia num verso livre, sem métrica e sem musi­calidade, 
procurando explorar a inquietação, a insatisfação, o ocultismo, 
a astrologia e o metapsiquismo. Estávamos, portanto, em presença de uma 
declaração de guerra ao idealismo romântico. 
Em Portugal, o movimento teve repercussão por volta de 1915, 
altura em que Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho dão à estampa o 
primeiro número da revista "Orpheú". Os principais mentores da iniciati­va 
foram, contudo, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, que, aliás, 
já se apresentaram à frente dos seus destinos no segundo e último núm e­
ro da revista. Curioôamente, Fernando Pessoa, escondendo-se por detrás 
de um seu heterónimo, Álvaro de Campos, assina então por ventura a o-bra- 
prima do futurismo poético português, repartida pela "Ode Marítima" 
e pela "Ode Triunfal". São dois poemas magistrais, de rara beleza, ple­nos 
de fulgor e movimento a atestar o extraordinário talento do seu 
criador. A Mário de Sá-Carneiro se ficou devendo a criação do poema "Ma 
nucure", que ele próprio classificou de "semifuturista com intenção de 
blague", nos moldes perfeitamente modernistas[2). Infelizmente, a estra 
nha personalidade sado-masoquista deste poeta inconstante levou-o ao 
suicídio um ano após o início do movimento do "Orpheu". As circunstân­cias 
de ordem financeira, a adversidade que a opinião pública lhes d e ­monstrava, 
ao apodá-los de mistificadores e alienados, o suicídio de Sá 
-Carneiro, são tudo razões que grosso modo justificam e extinção da re­vista, 
muito embora esta houvesse iniciado a publicação do número três 
sem nunca o ter concluído. 
Aos impulsionadores do movimento se juntaram igualmente vá ­rios 
outros poetas e pintores, de entre os quais destacamos: Almada Ne 
greiros. Santa Rita Pintor, Angelo de Lima, Corte-Rodrigues, António 
Botto e Raul Leal, cujas produções literárias se estenderam pelos suce­dâneos 
do "Orpheu", principalmente pelas revistas Centauro (1 número em 
1916), Exílio (1 número em 1916), Portugal Futurista (1 número em 1917), 
Contemporânea (13 números de 1922 a 1923) e A t n e n a (5 números de 1924 a 
1925). 0 mais genial e autêntico modernista deste grupo secundário foi 
José Almada Negreiros que assinou em 1916 o famuso "Manifesto Anti-Uan-tas", 
auto-denominando-se "Poeta d ’Horpheu, futurista e tudo ” (3). Ao la 
do de Santa Rita Pintor, levou a cabo no Teatro República (actual cirie-ma 
S. Luís), a 14 de Abril de 1917, aquela que seria a última manifesta 
çâo futurista do grupo do "Orpheu” . Aí foram lidos, perante uma escassa 
audiência, textos de Almada Negreiros, ”Ultimatum Futurista às Gerações 
Portuguesas do Século X X ’; de Mme de Saint-Point, “Manifesto Futurista 
da Luxúria” e de Marinetti ”Music-Hall et Tuons le Clair de Lun eV Com a 
publicação do único número do Portugal Futurista se extinguiu pratica­mente 
este movimento de "estrangeirados do séc.XX" que usaram a pintura 
e fundamentalmente a poesia como "escada de assalto" ao castelo em que 
se achava encerrada a lusa lira, exausta de tantos saudosismos românti-cus, 
de pomposos academismos e sobretudo farta desse clima de junqueiria 
nismo em que então se vivia. 
" O Heraldo" Futurista 
Tal como já dissemos, o pintor Carlos Augusto Lyster Franco, 
como homem das artes e das letras, acolheu empolgantemente o movimento 
futurista, dando-lhe na página literária de "0 Heraldo" todo o apoio e 
projecção ao seu alcance. 0 seu esforço não foi solitário, pois que o 
acompanharam na ingrata tarefa dois talentosos jovens, de quem havia mui
to a esperar no campo das artes e no campo das letras. Refiro-me, natu 
ralmente, a Carlos Porfírio, pintor futurista de inegável talento, e a 
Mário Lyster Franco, felizmente ainda vivo, autor de vários estudos s£ 
bre a história e a cultura algarvia . Saliente-se que o Dr. Mário Lys­ter 
Franco é o autor de uma obra monumental, semelhante ao Dicionário 
Bibliográfico Portuguez de Innocêncio Francisco da Silva, intitulada 
Algarviana - Subsídios para uma bibliografia do Algarve e dos autores 
algarvios, cujo l9 volume foi editado no ano transacto pela CâmaTa Muni 
cipal de Faro, mas que por razões inadmissíveis não obteve ainda conti­nuidade. 
Segundo a autarquia farense as razões prendem-se com a falta 
de verbas, o que se estranha, já que o vereador da cultura, desse tem­po, 
recusou de vários organismos públicos quaisquer auxílios quer mate 
riais quer financeiros. Enfim, reina a Estupidez na Câmara Municipal de 
Faro. No que respeita ã acção do Dr. Lyster Franco em prol da cultura e 
do engrandecimento do Algarve, por ser sobejamente conhecida e por mim 
várias vezes enaltecida, escuso-me de referi-la, remetendo no entanto o 
leitor para a bibliografia final(4). 
Curiosamente, Carlos Porfírio, após o encerramento de "0 Heral 
d o ”, irá dirigir a revista Portugal Fu turista, cuja carreira literária 
na o teve o impacto desejado e daí ela ter morrido ã nascença. Apesar de 
tudo foi uma tentativa, inglória como todas as outras, num país republi 
cano profundamente castiço, religioso e romântico. Tudo quanto fosse i-novador, 
bizarro e anti-saudosista, causava aberração numa sociedade 
tradicionalista, sentimental e sebastianista, que apesar dos esforços 
de Afonso Costa, permanecia profundamente clerical. Por isso, estes m o ­vimentos 
artístico- 1iterários, como o futurismo pouco eco obtinham na 
província, geralmente assoberbada pela batina clerical, que nestas"coi­sas 
de moços", ainda por cima esquisitos no falar e no vestir, viam pres 
ságios do inferno. 
Efectivamente, "0 Heraldo" de Lyster Franco não era um simples 
órgão de província, bem pelo contrário, embora praticando jornalismo a 
sério e responsável, não deixava por isso de ser intrinsecamente repu­blicado 
e defensor dos valores culturais do Algarve e da nação em geral. 
Daí o seu apoio ao movimento do"Horpheu". materializado inclusivamente 
na colaboração prestada por Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e A l ­mada 
Negreiros. Refira-se que Sá-Carneiro foi o primeiro destes tris a 
ver os seus versos inseridos nas colunas de "0 Heraldo", com o texto em 
prosa intitulado " Além"e que ainda se conserva "praticamente inédito "( 5), 
Seguiu-se-lhe Fernando Pessoa com o poema "A Casa Branca, Nau Preta", 
assinada pelo seu punho e que estranhamente aparecerá incluído nas poe­sias 
completas de Álvaro de Campos que, como todos sabem, é um dos hete-rónimos 
do autor da Mensag em . Tudo leva a crer, que este poema foi dita-do 
com o coração em Tavira, cidade à qual o poeta estava ligado por la­
ços familiares, o que, provavelmente, explica a ideia de fazer "nascer" 
Alvaro de Campos nesta cidade algarvia. Além disso, era de toda a justi 
ça que na casa onde o poeta sazonalmente admirava a azáfama da chegada 
dos barcos que depois da árdua e arriscada faina da pesca atracavam aos 
muros da lota fronteira ao mercado, colocasse uma placa evocativa da 
passagem pelo Algarve de um dos maiores embaixadores da língua e da cul 
tura portuguesa no mundo. Por fim, a Almada Negreiros pertence o poema 
"Litoral”, dedicado ao pintor futurista de efémera existência, amadeu 
de sousa cardoso (sic) . 
é curioso que, quando Almada Negreiros enviou este poema ã 
redacção de "0 Heraldo", aparecia um verso que dizia textualmente o se 
guinte:"A lua a mijar na cisterna’: Perante o facto, e adivinhando o es­cândalo 
que isto poderia gerar num meio pequeno como Faro, o pintor 
Lyster Franco recusou-se a publicar o poe ma 11 Belfa st’,* que continha o ci 
tado versoí 6) . Porém, o seu filho Mário alvitrou a ideia de em vez da 
palavra mijar se publicasse antes mia:’, o que, de certo modo, solucio­naria 
o problema do jornal perante o autor e o público. Realmente, p a ­ra 
o poeta tratar-se-ia de uma gralha e para o público não passaria de 
uma bizarrice futurista, pois que a lua jamais poderia mijar ou miar 
numa cisterna. Tudo isso seria um absurdo, portanto, ao público tanto 
servia de uma forma como de outra, se bem que a primeira pudesse ferir 
o nome do jornal, que era dirigido por um homem de elevadas responsa-bilidades 
sociais. 
Convém ainda acrescentar que a participação destes poetas, 
ao tempo ainda simples amadores e ilustres desconhecidos, mas que com 
toda a justiça a história consagrou e perpectualizou como verdadeiros 
introdutoreá* do ideário futurista no nosso país, se ficou devendo a 
Carlos Porfírio, que com eles mantinha fraterna amizade, e à admiração 
que Fernando Pessoa dedicava ao velho "Heraldo” dos tempos de Tavira 
que ele julgava ainda ser o mesmo dos seus tempos de juventude. 
Em s uma... 
Se bem que, na realidade, não tenha sido ”0 Heraldo” o pri ­meiro 
e único jornal a apoiar o movimento futu ri sta (7), o certo é que 
ele foi, sem dúvida, o único a manter publicamente uma secção literá­ria 
intitulada "futurismo" e a contar com a colaboração dos três vul­tos 
mais destacados do "Orpheu". 
Não devemos esquecer que o director de "0 Heraldo"e o seu 
braço direito, Carlos Porfírio, eram artistas plásticos e por isso 
não permaneceram incensíveis a esta nova vaga, irritante, absurda e 
tresloucante que do Bstrangeiro trazia uma mensagem criativa e inova­dora. 
Na verdade, com a publicação do "Manifesto" pretendia-se alcan-Çar 
0 "cult° d° do Indefinido, do Inefável, a aua se nrpndn
a substimação do épico sm relação ao lírico ou "poesia pura") vontade 
de uma literatura sem literatura; ódio às coisas claras ou acabadas; 
gosto da vertigem e do absurdo, exaltação do prlmitlvismo em todas as 
manifestações, arte Infantil, arte dos loucos, escrita automática, mg 
ra expansão do inconsciente, descidas ao abismo do sonho. (8). 
Não sabemos se seriam esses os propósitos do "grupo futuris­ta 
de Faro” , mas o certo é que ele se manteve acordado e sensível a es 
ta "moda" que, como todos os movimentos literários, teve a sua época 
própria. No caso presente ela atravessou o país numa altura em que o 
novo regime ensaiava os primeiros passos e talvez por isso não lhe te 
nham prestado a atenção merecida. A crise política instalara-se no país 
tornara-se endémica, e os partidos confrontavam-se permanentemente con­trapondo 
aos interesses nacionais as suas próprias e naturais dissen-sões 
ideológicas esquecendo-se que estavam em jogo os destinos da N a ­ção 
portuguesa. A crise económica, no cl^ma político vigente , era in 
controlável e o país caminhava a passos largos para a bancarrota. A 
literatura resvalava para um plano secundário enquanto os jornais se 
ufanavam em educar o povo nos moldes leais e tolerantes em que se ins 
pirava o novo regime. Não admira pois que os jovens lutassem por uma 
futura criatividade desopiladora dos saturantes conceitos académico- 
-cristãos de um Julio Dantas ou demasiado republicano-classicistas de 
um Guerra Junqueiro. Daí surgir a corrente futurista que do Mediterrâ 
neo soprava uma lufada de ar rejuvenescedor apelando para o progresso 
da máquina, da tecnologia e do modernismo, expurgado de quaisquer t a ­bus 
sociais que amordaçavam a criatividade humana. 
Foi uma "pleiâde de Novos", como lhe chamou a misteriosa 
miss Edith (9), ao"grupo do Heraldo", que aqui perpectuou o ideário do 
"Orpheu", escudando a sua timidez numa capa de pseudónimos alguns dos 
quais hoje indecifráveis. Já agora, aqui ficam os que se puderam apu ­rar 
como indubitáveis: o pintor Carlos Lyster Franco assinava Kernok, 
Carlos Porfírio era o Ne s s o , Mário Lyster Franco, com apenas 15 anos, 
era o Fontan es, João Rosado assinava Horácio ou 0 *Racio, Raul Marques 
Carneiro era o A . de Queiroz, António do Nascimento era o Naissance e 
o p r o f . José Nunes de Sousa foi o único que nunca ocultou a sua verda 
deira identidade, não usando por isso de pseudónimo. Os outros, que 
são ainda bastantes, dormem o sono dos ignorados, numa espécie de sol 
dados -desconhecidos. 
Efectivamente, çleveu-se a Carlos Porfírio todo o entusiasmo 
futurista do "grupo do Heraldo". Nado e finado em Faro (1895-1970), 
Carlos Porfírio foi um talentoso pintor, cujas obras poderão ainda 
ser apreciadas no Museu de Etnografia desta cidade, do qual, aliás, 
foi fundador e director. Os seus estudos nas artes plásticas funda-
mentou os em Paris onde permaneceu aLé ao início da IT Guerra Mundial, 
filiando-se inclusivamente na família da célebre escritora Simone de 
Beauvoir, que aqui ao Algarve o veio visitar em 1945. Era amigo ínti­mo 
de Almada Negreiros, de Santa-Rita Pintor e de Mário de Sá-Carnei­ro, 
tendo a ele pertencido, como já se disse, a direcção da revista 
Portugal Fu turista. Após o seu desaparecimento práticamente ninguém 
fala dele nem da sua obra. Caiu no esquecimento, como é normal nesta 
vida cultural algarvia. 
Do "grupo do Heraldo” ainda resiste, mais ou menos na plen_i 
tude das suas faculdades intelectuais, c dr. Máriu Augusto Barbosa Ly_s 
ter Franco que durante quarenta anos dirigiu o semanário "Correio do 
Sul" em Faro, infelizmente já extinto. A ele devemos uma boa parte das 
informações aqui prestadas e para ele vai a nossa vénia de profunda 
gratidão. Resta-me, para terminar, em face de tudc quanto aqui ficou 
dito, reafirmar que o Algarve deve a este homem uma prova de justa 
e profunda gratidão pela sua obra, pela sua acção e, sobreLudu, pelo 
seu intrínseco algarviismo, vocábulo conceptual que ele próprio criou. 
Por isso, proponho a este Congresso e muibo especialmente ao Racal 
Club de Silves, que pelo engrandecimento do Algarve tem encetado dura 
e intransigente luta, que preste hoje e futuramente ã memória do Dr. 
Mário Lyster Franco aquela homenagem que o Algarve e os algarvios tan 
to lhe devem.
N O T A S 
(1) A colecção completa deste periódico, única no país, poderá consul­tar- 
se na Hemeroteca da Universidade do Algarve cujo acervo foi al 
truísticamente doado pelo Dr. Mário Lyster Franco. 
Também com algum interesse se poderá consultar a obra do capi 
tão Vieira Branco, Subsídios para a História da Imprensa Algarvia 
de 1833 aos nossos di as,Faro, 1938. 
(2) Cf. "Futurismo", in Dicionário da Literatura Portuguesa, Brasilei-ra, 
Galega e Esti1ística ■ Literár ia, dirigido por Jacinto dn Prado 
Coelho, 5 vols., 33 edição. Porto, Liv. Figueirinhas, 1978, vol. 
II, p. 335. 
(3) Iderr., p. 336 
(4) Estritamente dedicado aos aspectos biográficos do Dr. Mário Lyster 
Franco existem apenas dois trabalhos da minha autoria.D primeiro 
foi publicado no "Diário - de Notícias" de 20/11/1982 e o segundo en^ 
contra-se ainda no prelo e trota-se de um livro de memórias que te 
rá por título Confidências e Revelações de Mário Lyster F ranco. 
(5) Cf. Nuno Judice (selecção e prefácio). Poesia Futurista Portuguesa, 
(Faro 1916-1917), Lisboa, Cd. Regra do Jogo, 1981, p.ll. 
(6) Idem, p. 132 
(7) Nu dia 5 de Agosto de 1909, o "Diário dos Açores" de Ponto Delgada, 
transcrevia o Manifesto de Marinetti sendo curiosamente o único 
jornal português a faze-lo. Publicou ainda mais tarde uma entrevis­ta 
que Marinetti concedeu ao poeta Luís Francisco Bicudo, que pes­soalmente 
se encarregou de a traduzir para aquele periódico açoreano. 
Cr. Dicionário da Literatura Portuguesa..., op . cit.,p.335 . 
(8) Jacinto do Prado Coelho, Problemática da História Literária, L i s b o c , 
Editora Atica, 1961, p. 250 
(9) Nuno Júdice, op. cit., p. 14
BIBLIOGRAFIA 
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Editora Atíca, 19 73. 
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CASTRO, E. M. de Melo e - As Vanguardas na Poesia Portuguesa do S é ­culo 
X X ,Lisboa, Instituto de CulLura e 
Língua Portuguesa, M.E.C., 1080. 
COELHO, Jacinto do Prado - Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa 
23 edição, Lisboa, Editorial Verbo, 1963. 
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Ceíebes, 1969. 
FALQUI, E. - Bibliographie e Iconografia del Fu turismo.Flurença. Ed. 
Sansoni 1959. 
FERREIRA, J. Mendes - Antologia do Futurismo Italiano. Manifestos e 
Poema s, Lisboa Euituridl Vega, 1979. 
JUDICE, Nuno - A Poesia Futurista Portuguesa (Faro 1916-1917), Lisboa 
Ed. A Regra do Jogo, 1961. 
NEGREIROS, José de Almada - Obras Completas, Lisbua Ed. Estampa, 1970 
NEVES, J. Alves das - 0 Movimento Futurista em Portuga l, Porto,Ed. Di 
vu lgação, 1966. 
PESSOA , Fernando - Páginas Intimas e de Auto-1nterpretaçáo, Lisboa, 
Ed. Ática, 1966. 
POMORSKA, Krystyna - Formalismo e Futurismo, Sãc Paulo, Ed. Perspec­tiva, 
1972. 
SIMO ES, João Gaspar - Vida e Obra de Fernandu Pessod , Lisboa, Livra­ria 
Bertra nd, 1951. 
TAYLOR, J. C. - Futurismo, Nova York, 1961.

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Faro e o movimento do Orfeu

  • 1.
  • 2. FARO E O MOVIMENTO DO ORFEU JOSÉ CARLOS VILHENA MESQUITA RESUMO Poucos saberão que Faro foi a única cidade de província a dar cobertura e apoio ao movimento futurista liderado por Fernando Pessoa, Mário Sá- -Carneiro e Almada Negreiros. Será esse o principal aspecto a ser focado nesta comunicação, para além de ser lembrado que Fernando Pessoa viveu em Tavira, em casa de sua tia cujo imóvel bem merecia a colocação de uma placa evocativa da passagem pelo Algarve de um dos maiores poetas da cultura portuguesa. Será igualmente analisado o papel do semanário «O Heraldo», dirigido pelo pintor Lyster Franco na cidade de Faro e recor­dada a colaboração do artista Carlos Porfírio, director da revista «Portugal Futurista», de Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Sá-Carneiro e de vários outros jovens algarvios. De salientar que o último sobrevivente do Movi­mento Futurista Português é um algarvio, dr. Mário Lyster Franco, que com 82 anos e praticamente cego ainda resiste no seu eremitério farense, que bem merecia a designação de imóvel de interesse público e a sua conversão em Casa-Museu. Propor-se-á ao Congresso a aprovação de uma moção de homenagem à memória deste ilustre algarvio.
  • 3. Talvez nem toda a gente saiba que a cidade de Faro esteve di recta e profundamente ligada ao movimento do "Orpheu", o qual, ao tem­po da sua formação, gerou uma linha de ruptura na esclerosada escola ‘romântica e uma via de progresso na aurora simbolista. Estávamos em pleno início de século, a República dava ainda os primeiros passos. Pairava um clima de instabilidade, temor, intole­rância, e de insegurança geral.Ninguém sabia no que isto ia parar. A Europa estava em guerra, no Norte fervilhava a sedição couceirista, o clero sentindo-se perseguido e espoliado, profetizava a guerra civil... Em suma, vivia-se receando o dia de amanhã. Os políticos não se enten­diam, formavam-se e caíam governos, e a necessidade de afirmação do re gime atraiu-nos para a deflagração do primeiro conflito mundial. No Algarve, onde as notícias chegavam já ressessas, a vida corria numa pacatez provinciana, sem grandes agitações, numa rotineira sonolência. Apenas o movimento operário se manifestava, sobretudo nos sectores corticeiro e conserveiro, despertando o poder local da letar­gia em que, normalmente, se encontrava mergulhado. As eleições gerais e autárquicas, as greves, o recrutamento, os comícios, etc.,eram natural mente acontecimentos de elev.ada repercussão aos quais não era estranha a imprensa regional. Mas, dessa imprensa há que destrinçar a informação da formação e a esta última pertenceu, entre outros, "OHeraldo". "O HERALDO" DE LYSTER FRANCO Fundado em Tavira no uia 3 de Janeiro de 1901, iniciou a sua publicação com o n 9966 assumi ido-se como o legítimo sucessor do "Jornal de Annuncios” que por ser de distribuição gratuita se viu arbitrariam e_n te privado de publicar os anúncios oficiais seu único e quase exclusivo suporte económico. 0 seu proprietário, José Maria dos Santos, lançou en tão "0 Heraldo” em cuja tipografia Burocrática se editou até ao n 91542 de 2 de Fevereiro de 1912, tendo então como directores os seus dois.- fi­lhos, António dos Santos - futuro redactor, fundador e director do "Cor reio do Sul ” - e José Maria dos Santos Júnior, todos naturais de Tavira Circunstâncias próprias da vida levaram ao encerramento da ti pografia que pouco depois, juntamente com o título do jornal, seria ven dida ao pintor e professor Carlos Augusto Lyster Franco e ao médico Jo­ão Pedro de Sousa que na capital algarvia no dia 10 de Abril do mesmo a_ no ressuscitavam aquele que já era então considerado como o melhor pe­r i ó d i c o algarvio. Reapareceu como bissemanário e seguindo uma orientação políti
  • 4. ca muito próxima do Partido Democrático liderado por Afonso Costa, de quem o pintor Lyster Franco foi grande amigo e fiel militante. Teve no "Heraldo" uma apresentação gráfica verdadeiramente notável, ilustrado com magníficas gravuras, algumas delas talhadas à mão em madeira ou c o ­bre, que para além de constituírem verdadeiras obras-primas são simulta neamente v a 1iosíssimas peças para um possível museu de artes gráficas que, atendendo ã descentralização da cultura e à ancestralidade da im ­prensa algarvia, bem poderia fundar-se no Algarve. 0 próprio formato deste jornal de características jo rn a1ístico- 1iterárias tão interessan­tes sofreu várias alterações tanto no tamanho como na qualidade do pa­pel, acabando por no dia 19 de Setembro de 1914 quando se publicava o n 9 251 se transformar definitivamente em semanário, mercê das vicissitudes da falta de papel motivada pela deflagração da guerra em que Portugal t£ maria parte integrante. A nova direcção de "0 Heraldo” sempre pugnou pela manutenção de uma linha democrática e livre na informação algarvia, se bem que en­quanto ao seu leme esteve a pena do dr. Pedro de Sousa as suas baterias jamais deixaram de bombardear implacável e violentamente os seus direc­tos rivais, especialmente os semanários "0 Algarve" e "0 Distrito de F£ ro", todos publicáveis na capital algarvia. Logicamente que os processos judiciais começaram a bater à porta da redacçao de "0 Heraldo , sendo de realçar as sete querelas que só ã sua conta lhe moveu o então governa dor do distrito, coronel Paulino de Andrade, para além das muitas que s­tões e polémicas que manteve com alguns oficiais do Batalhão de Infanta­ria n 9 3 3, aquartelado em Faro, e que nesta cidade suscitou viva celeuma. Todas estas tropelias jornalísticas fizeram do dr. João Pedro de Sousa um homem temido e odiado por alguns mas respeitado e admirado por muitos, o que acabou por abrir-lhe um caminho na senda política che gando mesmo a ter grande prestígio e a ser eleito deputado. Nessa altu­ra, partiu então para Lisboa deixando nas mãos do pintor Lyster Francc a posse definitiva do leme de "0 Heraldo", ate ai tão difícil de orien­tar devido aos tumultos das águas em grande parte agitadas pelo seu pró prio sócio. Nestas circunstâncias o respeitável e erudito pintor, ao tempo director da Escola Industrial Pedro Nunes, de boa memória, regis­tava no editorial do n 933 de 24 de Outubro de 1915 o começo de uma n o ­va era para "0 Heraldo": a era da pacificação. E assim aconteceu. Daí para a frente aquele jornal não mais teve problemas de vulto, tomando um cariz fundamentalmente literário, embora sem descurar totalmente o temperamento e o ideário político que estivera na sua origem. Por conse guinte, estava-se na presença de um periódico politico-cultural, no gé­nero daqueles que.hoje, salvo raras e honrosas excepções, já não exis-tem( l). E devemos salientar que nas colunas de ”0 Heraldo" colaboraram as melhores e mais prestigiadas penas do país, desde poetas a cientis­
  • 5. tas e de literatos a historiadores, sem esquecer algumas figuras gradas da política que em S. Bento ou no próprio governo deram bastante brado. Convém acrescentar, para aqueles que eventualmente desconhe­çam a personalidade muitifacetada do pintor Carlos Augusto Lyster Fran­co, que raramente pelo Algarve passou um homem tão extraordinário e tão dotado. Foi em toda a sua existência um racionalista, amante da verdade, da integridade e da isenção, da beleza, da fraternidade, da solidarieda de e sobretudo da rectidão e coerência das ideias.Foi especialmente e aos olhos do vulgo um notável pintor, um dedicado pedagogo à causa da e ducação e à sobrevivência dos verdadeiros cânones da língua portuguesa e foi, naturalmente, um brilhante escritor de fino recorte literário. Mas vejamos alguns dados biográficos. Nasceu em Belém, Lisboa, a 5 de Outubro de 1879(comemorou-se ainda há bem pouco tempo de forma pouco brilhante o seu centenário) e após concluído o curso de pintura histórica na escola de Belas Artes, onde foi discípulo de Simões de Almeida(tio) e de Veloso Salgado, radi cou-se em Faro, no ano de 1901, acjui exercendo a docência do desenho e das línguas portuguesa e francesa. Para além disso, foi ainda professor efectivo das escolas Industrial Pedro Nunes e da Comercial de Tomas Ca ­breira, onde foi director durante largos anos, da escola do Magistério Primário e da escola Primária Superior, director do Posto Metereológi-co. Administrador do Concelho, Comissário de Polícia do Distr it o,Presi-dente da Câmara de Faro, membro da Academia das Ciências de Portugal, do Instituto Arqueológico do Algarve e c a v a l e i s da Ordem Militar de San_ tiago. A sua obra pictórica reparte-se sobretudo pelas paisagens a óleo e fundamentalmente pelo desenho a carvão, segundo a escola de Allongé, tendo-lhe a fama grangeado o epíteto de "Franco dos Carvões". Realizou numerosas exposições e procedeu graciosamente ao restauro de inúmeros quadros depositados no Museu Arqueológico e Lapitar Infante D. Henrique em Faro e no Museu Marítimo da mesma cidade onde tem uma sala com o seu nome. Foi candidato a deputado pelo Algarve pouco depois da implantação da República e para além de ter pertencido ao Partido Democrático acaba ria mais tarde por fundar e presidir ao Directório do Partido Republica no Radical que não chegou porém a ter grande expressão nacional. Cultuou a lírica e durante os cinco anos (1912-1917) em que dirigiu o bissemanário "0 Heraldo", deu’ a mão a muitos Jovens que dese­josos de se afirmarem no mundo das letras, não tinham quem lhes desse um voto de confiança. Foi aí no "Heraldo", na secção "Gente Nova", ini­ciada a 5 de Novembro de 1916, que nasceram alguns nomes, hoje consagra dos, da nossa poesia, nomeadamente João Lúcio, Coelho de Carvalho, Sala zar Moscoso, Bernardo de Passos e até Estácio da Veiga que por vezes trocava a arqueologia pela criação lírica. Em contrapartida confrontava -se a nova poesia com a poesia consagrada, tendo esta secção a sugestiva
  • 6. designação de "Ouro Velho", na qual se transcreveram poemas de Camões, Bocage, Garrett, Casti 1 h o , João de Deus, Guerra Junqueiro e outros. Amante da leitura e dos livros, Carlos Lyster Franco logo se sentiu atraído pelo movimento do "Orpheu", que em 1915 dava os primei­ros passos. Os escassos dois números, então publicados, guardou-os até a morte como duas relíquias sagradas, que ainda hoje se conservam na bib 1 ioteca-museu de seu filho. 0 Modernismo apaixonava-o e a ideia de substituir a "Gente Nova" por "Futurismo" não significava o abandono dos jovens valores, mas antes, uma tentativa de chamar às coisas pelo seu verdadeiro nome. A poesia da "Gente Nova" era nitidamente futuris­ta, para quê escondê-lo?Não admira pois, que a 4 de Fevereiro de 1917 se iniciasse a publicação de uma página inteiramente dedicada ao "Futu­rismo", que, infelizmente, morreria com o próprio "Heraldo" a 26 de A - gosto do mesmo ano, para jamais se ouvir falar dessa "literatura de ma-nicómio astral" no Algarve. Em que consistiu o Movimento Futurista é comum identificar-se o Futurismo com o Modernismo, o que, na realidade, não corresponde exactamente ao espírito intrínseco dos dois movimentos artístico-literários, havendo, no entanto, a considerar que o futurismo marca o início de uma época lírica, que haveria de per­durar até praticamente ao seu sucessor: o movimento da "Presença". As origens deste movimento estético-1iterário remontam a Itália, mais pro­priamente a Milão, onde o poeta Marinetti reuniu à sua volta um grupo de pintores, poetas e músicos, todos eles interessados em romper com a velha estrutura clássica que dominava as instituições culturais. Eram, na sua generalidade, jovens e conheciam-nos por futuristas, tendo o seu primeiro "Manifesto" causado enorme escândalo, nos meios artísticos, ao ser publicado a 20 de Fevereiro do referido ano no jornal 'parisiense"Le Figaro". As pretenções destes "esquisofrénicos" poetas-pintores eram simples mas demolidoras: esquecer o passado e criar um futuro sem raízes conhecidasj desprezo pelos museus, academias e mestres; extinguir o tra-dicionalismo e tudo quanto fosse clássico; amar a velocidade, a liberda­de, o perigo, a violência e a máquina ; sobretudo prezar a origina 1idade« Na poesia tudo isto se traduzia num verso livre, sem métrica e sem musi­calidade, procurando explorar a inquietação, a insatisfação, o ocultismo, a astrologia e o metapsiquismo. Estávamos, portanto, em presença de uma declaração de guerra ao idealismo romântico. Em Portugal, o movimento teve repercussão por volta de 1915, altura em que Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho dão à estampa o primeiro número da revista "Orpheú". Os principais mentores da iniciati­va foram, contudo, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, que, aliás, já se apresentaram à frente dos seus destinos no segundo e último núm e­
  • 7. ro da revista. Curioôamente, Fernando Pessoa, escondendo-se por detrás de um seu heterónimo, Álvaro de Campos, assina então por ventura a o-bra- prima do futurismo poético português, repartida pela "Ode Marítima" e pela "Ode Triunfal". São dois poemas magistrais, de rara beleza, ple­nos de fulgor e movimento a atestar o extraordinário talento do seu criador. A Mário de Sá-Carneiro se ficou devendo a criação do poema "Ma nucure", que ele próprio classificou de "semifuturista com intenção de blague", nos moldes perfeitamente modernistas[2). Infelizmente, a estra nha personalidade sado-masoquista deste poeta inconstante levou-o ao suicídio um ano após o início do movimento do "Orpheu". As circunstân­cias de ordem financeira, a adversidade que a opinião pública lhes d e ­monstrava, ao apodá-los de mistificadores e alienados, o suicídio de Sá -Carneiro, são tudo razões que grosso modo justificam e extinção da re­vista, muito embora esta houvesse iniciado a publicação do número três sem nunca o ter concluído. Aos impulsionadores do movimento se juntaram igualmente vá ­rios outros poetas e pintores, de entre os quais destacamos: Almada Ne greiros. Santa Rita Pintor, Angelo de Lima, Corte-Rodrigues, António Botto e Raul Leal, cujas produções literárias se estenderam pelos suce­dâneos do "Orpheu", principalmente pelas revistas Centauro (1 número em 1916), Exílio (1 número em 1916), Portugal Futurista (1 número em 1917), Contemporânea (13 números de 1922 a 1923) e A t n e n a (5 números de 1924 a 1925). 0 mais genial e autêntico modernista deste grupo secundário foi José Almada Negreiros que assinou em 1916 o famuso "Manifesto Anti-Uan-tas", auto-denominando-se "Poeta d ’Horpheu, futurista e tudo ” (3). Ao la do de Santa Rita Pintor, levou a cabo no Teatro República (actual cirie-ma S. Luís), a 14 de Abril de 1917, aquela que seria a última manifesta çâo futurista do grupo do "Orpheu” . Aí foram lidos, perante uma escassa audiência, textos de Almada Negreiros, ”Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século X X ’; de Mme de Saint-Point, “Manifesto Futurista da Luxúria” e de Marinetti ”Music-Hall et Tuons le Clair de Lun eV Com a publicação do único número do Portugal Futurista se extinguiu pratica­mente este movimento de "estrangeirados do séc.XX" que usaram a pintura e fundamentalmente a poesia como "escada de assalto" ao castelo em que se achava encerrada a lusa lira, exausta de tantos saudosismos românti-cus, de pomposos academismos e sobretudo farta desse clima de junqueiria nismo em que então se vivia. " O Heraldo" Futurista Tal como já dissemos, o pintor Carlos Augusto Lyster Franco, como homem das artes e das letras, acolheu empolgantemente o movimento futurista, dando-lhe na página literária de "0 Heraldo" todo o apoio e projecção ao seu alcance. 0 seu esforço não foi solitário, pois que o acompanharam na ingrata tarefa dois talentosos jovens, de quem havia mui
  • 8. to a esperar no campo das artes e no campo das letras. Refiro-me, natu ralmente, a Carlos Porfírio, pintor futurista de inegável talento, e a Mário Lyster Franco, felizmente ainda vivo, autor de vários estudos s£ bre a história e a cultura algarvia . Saliente-se que o Dr. Mário Lys­ter Franco é o autor de uma obra monumental, semelhante ao Dicionário Bibliográfico Portuguez de Innocêncio Francisco da Silva, intitulada Algarviana - Subsídios para uma bibliografia do Algarve e dos autores algarvios, cujo l9 volume foi editado no ano transacto pela CâmaTa Muni cipal de Faro, mas que por razões inadmissíveis não obteve ainda conti­nuidade. Segundo a autarquia farense as razões prendem-se com a falta de verbas, o que se estranha, já que o vereador da cultura, desse tem­po, recusou de vários organismos públicos quaisquer auxílios quer mate riais quer financeiros. Enfim, reina a Estupidez na Câmara Municipal de Faro. No que respeita ã acção do Dr. Lyster Franco em prol da cultura e do engrandecimento do Algarve, por ser sobejamente conhecida e por mim várias vezes enaltecida, escuso-me de referi-la, remetendo no entanto o leitor para a bibliografia final(4). Curiosamente, Carlos Porfírio, após o encerramento de "0 Heral d o ”, irá dirigir a revista Portugal Fu turista, cuja carreira literária na o teve o impacto desejado e daí ela ter morrido ã nascença. Apesar de tudo foi uma tentativa, inglória como todas as outras, num país republi cano profundamente castiço, religioso e romântico. Tudo quanto fosse i-novador, bizarro e anti-saudosista, causava aberração numa sociedade tradicionalista, sentimental e sebastianista, que apesar dos esforços de Afonso Costa, permanecia profundamente clerical. Por isso, estes m o ­vimentos artístico- 1iterários, como o futurismo pouco eco obtinham na província, geralmente assoberbada pela batina clerical, que nestas"coi­sas de moços", ainda por cima esquisitos no falar e no vestir, viam pres ságios do inferno. Efectivamente, "0 Heraldo" de Lyster Franco não era um simples órgão de província, bem pelo contrário, embora praticando jornalismo a sério e responsável, não deixava por isso de ser intrinsecamente repu­blicado e defensor dos valores culturais do Algarve e da nação em geral. Daí o seu apoio ao movimento do"Horpheu". materializado inclusivamente na colaboração prestada por Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e A l ­mada Negreiros. Refira-se que Sá-Carneiro foi o primeiro destes tris a ver os seus versos inseridos nas colunas de "0 Heraldo", com o texto em prosa intitulado " Além"e que ainda se conserva "praticamente inédito "( 5), Seguiu-se-lhe Fernando Pessoa com o poema "A Casa Branca, Nau Preta", assinada pelo seu punho e que estranhamente aparecerá incluído nas poe­sias completas de Álvaro de Campos que, como todos sabem, é um dos hete-rónimos do autor da Mensag em . Tudo leva a crer, que este poema foi dita-do com o coração em Tavira, cidade à qual o poeta estava ligado por la­
  • 9. ços familiares, o que, provavelmente, explica a ideia de fazer "nascer" Alvaro de Campos nesta cidade algarvia. Além disso, era de toda a justi ça que na casa onde o poeta sazonalmente admirava a azáfama da chegada dos barcos que depois da árdua e arriscada faina da pesca atracavam aos muros da lota fronteira ao mercado, colocasse uma placa evocativa da passagem pelo Algarve de um dos maiores embaixadores da língua e da cul tura portuguesa no mundo. Por fim, a Almada Negreiros pertence o poema "Litoral”, dedicado ao pintor futurista de efémera existência, amadeu de sousa cardoso (sic) . é curioso que, quando Almada Negreiros enviou este poema ã redacção de "0 Heraldo", aparecia um verso que dizia textualmente o se guinte:"A lua a mijar na cisterna’: Perante o facto, e adivinhando o es­cândalo que isto poderia gerar num meio pequeno como Faro, o pintor Lyster Franco recusou-se a publicar o poe ma 11 Belfa st’,* que continha o ci tado versoí 6) . Porém, o seu filho Mário alvitrou a ideia de em vez da palavra mijar se publicasse antes mia:’, o que, de certo modo, solucio­naria o problema do jornal perante o autor e o público. Realmente, p a ­ra o poeta tratar-se-ia de uma gralha e para o público não passaria de uma bizarrice futurista, pois que a lua jamais poderia mijar ou miar numa cisterna. Tudo isso seria um absurdo, portanto, ao público tanto servia de uma forma como de outra, se bem que a primeira pudesse ferir o nome do jornal, que era dirigido por um homem de elevadas responsa-bilidades sociais. Convém ainda acrescentar que a participação destes poetas, ao tempo ainda simples amadores e ilustres desconhecidos, mas que com toda a justiça a história consagrou e perpectualizou como verdadeiros introdutoreá* do ideário futurista no nosso país, se ficou devendo a Carlos Porfírio, que com eles mantinha fraterna amizade, e à admiração que Fernando Pessoa dedicava ao velho "Heraldo” dos tempos de Tavira que ele julgava ainda ser o mesmo dos seus tempos de juventude. Em s uma... Se bem que, na realidade, não tenha sido ”0 Heraldo” o pri ­meiro e único jornal a apoiar o movimento futu ri sta (7), o certo é que ele foi, sem dúvida, o único a manter publicamente uma secção literá­ria intitulada "futurismo" e a contar com a colaboração dos três vul­tos mais destacados do "Orpheu". Não devemos esquecer que o director de "0 Heraldo"e o seu braço direito, Carlos Porfírio, eram artistas plásticos e por isso não permaneceram incensíveis a esta nova vaga, irritante, absurda e tresloucante que do Bstrangeiro trazia uma mensagem criativa e inova­dora. Na verdade, com a publicação do "Manifesto" pretendia-se alcan-Çar 0 "cult° d° do Indefinido, do Inefável, a aua se nrpndn
  • 10. a substimação do épico sm relação ao lírico ou "poesia pura") vontade de uma literatura sem literatura; ódio às coisas claras ou acabadas; gosto da vertigem e do absurdo, exaltação do prlmitlvismo em todas as manifestações, arte Infantil, arte dos loucos, escrita automática, mg ra expansão do inconsciente, descidas ao abismo do sonho. (8). Não sabemos se seriam esses os propósitos do "grupo futuris­ta de Faro” , mas o certo é que ele se manteve acordado e sensível a es ta "moda" que, como todos os movimentos literários, teve a sua época própria. No caso presente ela atravessou o país numa altura em que o novo regime ensaiava os primeiros passos e talvez por isso não lhe te nham prestado a atenção merecida. A crise política instalara-se no país tornara-se endémica, e os partidos confrontavam-se permanentemente con­trapondo aos interesses nacionais as suas próprias e naturais dissen-sões ideológicas esquecendo-se que estavam em jogo os destinos da N a ­ção portuguesa. A crise económica, no cl^ma político vigente , era in controlável e o país caminhava a passos largos para a bancarrota. A literatura resvalava para um plano secundário enquanto os jornais se ufanavam em educar o povo nos moldes leais e tolerantes em que se ins pirava o novo regime. Não admira pois que os jovens lutassem por uma futura criatividade desopiladora dos saturantes conceitos académico- -cristãos de um Julio Dantas ou demasiado republicano-classicistas de um Guerra Junqueiro. Daí surgir a corrente futurista que do Mediterrâ neo soprava uma lufada de ar rejuvenescedor apelando para o progresso da máquina, da tecnologia e do modernismo, expurgado de quaisquer t a ­bus sociais que amordaçavam a criatividade humana. Foi uma "pleiâde de Novos", como lhe chamou a misteriosa miss Edith (9), ao"grupo do Heraldo", que aqui perpectuou o ideário do "Orpheu", escudando a sua timidez numa capa de pseudónimos alguns dos quais hoje indecifráveis. Já agora, aqui ficam os que se puderam apu ­rar como indubitáveis: o pintor Carlos Lyster Franco assinava Kernok, Carlos Porfírio era o Ne s s o , Mário Lyster Franco, com apenas 15 anos, era o Fontan es, João Rosado assinava Horácio ou 0 *Racio, Raul Marques Carneiro era o A . de Queiroz, António do Nascimento era o Naissance e o p r o f . José Nunes de Sousa foi o único que nunca ocultou a sua verda deira identidade, não usando por isso de pseudónimo. Os outros, que são ainda bastantes, dormem o sono dos ignorados, numa espécie de sol dados -desconhecidos. Efectivamente, çleveu-se a Carlos Porfírio todo o entusiasmo futurista do "grupo do Heraldo". Nado e finado em Faro (1895-1970), Carlos Porfírio foi um talentoso pintor, cujas obras poderão ainda ser apreciadas no Museu de Etnografia desta cidade, do qual, aliás, foi fundador e director. Os seus estudos nas artes plásticas funda-
  • 11. mentou os em Paris onde permaneceu aLé ao início da IT Guerra Mundial, filiando-se inclusivamente na família da célebre escritora Simone de Beauvoir, que aqui ao Algarve o veio visitar em 1945. Era amigo ínti­mo de Almada Negreiros, de Santa-Rita Pintor e de Mário de Sá-Carnei­ro, tendo a ele pertencido, como já se disse, a direcção da revista Portugal Fu turista. Após o seu desaparecimento práticamente ninguém fala dele nem da sua obra. Caiu no esquecimento, como é normal nesta vida cultural algarvia. Do "grupo do Heraldo” ainda resiste, mais ou menos na plen_i tude das suas faculdades intelectuais, c dr. Máriu Augusto Barbosa Ly_s ter Franco que durante quarenta anos dirigiu o semanário "Correio do Sul" em Faro, infelizmente já extinto. A ele devemos uma boa parte das informações aqui prestadas e para ele vai a nossa vénia de profunda gratidão. Resta-me, para terminar, em face de tudc quanto aqui ficou dito, reafirmar que o Algarve deve a este homem uma prova de justa e profunda gratidão pela sua obra, pela sua acção e, sobreLudu, pelo seu intrínseco algarviismo, vocábulo conceptual que ele próprio criou. Por isso, proponho a este Congresso e muibo especialmente ao Racal Club de Silves, que pelo engrandecimento do Algarve tem encetado dura e intransigente luta, que preste hoje e futuramente ã memória do Dr. Mário Lyster Franco aquela homenagem que o Algarve e os algarvios tan to lhe devem.
  • 12. N O T A S (1) A colecção completa deste periódico, única no país, poderá consul­tar- se na Hemeroteca da Universidade do Algarve cujo acervo foi al truísticamente doado pelo Dr. Mário Lyster Franco. Também com algum interesse se poderá consultar a obra do capi tão Vieira Branco, Subsídios para a História da Imprensa Algarvia de 1833 aos nossos di as,Faro, 1938. (2) Cf. "Futurismo", in Dicionário da Literatura Portuguesa, Brasilei-ra, Galega e Esti1ística ■ Literár ia, dirigido por Jacinto dn Prado Coelho, 5 vols., 33 edição. Porto, Liv. Figueirinhas, 1978, vol. II, p. 335. (3) Iderr., p. 336 (4) Estritamente dedicado aos aspectos biográficos do Dr. Mário Lyster Franco existem apenas dois trabalhos da minha autoria.D primeiro foi publicado no "Diário - de Notícias" de 20/11/1982 e o segundo en^ contra-se ainda no prelo e trota-se de um livro de memórias que te rá por título Confidências e Revelações de Mário Lyster F ranco. (5) Cf. Nuno Judice (selecção e prefácio). Poesia Futurista Portuguesa, (Faro 1916-1917), Lisboa, Cd. Regra do Jogo, 1981, p.ll. (6) Idem, p. 132 (7) Nu dia 5 de Agosto de 1909, o "Diário dos Açores" de Ponto Delgada, transcrevia o Manifesto de Marinetti sendo curiosamente o único jornal português a faze-lo. Publicou ainda mais tarde uma entrevis­ta que Marinetti concedeu ao poeta Luís Francisco Bicudo, que pes­soalmente se encarregou de a traduzir para aquele periódico açoreano. Cr. Dicionário da Literatura Portuguesa..., op . cit.,p.335 . (8) Jacinto do Prado Coelho, Problemática da História Literária, L i s b o c , Editora Atica, 1961, p. 250 (9) Nuno Júdice, op. cit., p. 14
  • 13. BIBLIOGRAFIA CARNEIRO, Mário de Sá - Cartas d Fernando Pe ssoa. 2 vols.Liõbod, Editora Atíca, 19 73. CARRIERI, R - I 1 Futurismo. Milão, Ed. del Milione, 1951 CASTRO, E. M. de Melo e - As Vanguardas na Poesia Portuguesa do S é ­culo X X ,Lisboa, Instituto de CulLura e Língua Portuguesa, M.E.C., 1080. COELHO, Jacinto do Prado - Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa 23 edição, Lisboa, Editorial Verbo, 1963. CRISPOLTI, E.- II Mito delia Macchina e Altri Temi del Fu turismo, Ceíebes, 1969. FALQUI, E. - Bibliographie e Iconografia del Fu turismo.Flurença. Ed. Sansoni 1959. FERREIRA, J. Mendes - Antologia do Futurismo Italiano. Manifestos e Poema s, Lisboa Euituridl Vega, 1979. JUDICE, Nuno - A Poesia Futurista Portuguesa (Faro 1916-1917), Lisboa Ed. A Regra do Jogo, 1961. NEGREIROS, José de Almada - Obras Completas, Lisbua Ed. Estampa, 1970 NEVES, J. Alves das - 0 Movimento Futurista em Portuga l, Porto,Ed. Di vu lgação, 1966. PESSOA , Fernando - Páginas Intimas e de Auto-1nterpretaçáo, Lisboa, Ed. Ática, 1966. POMORSKA, Krystyna - Formalismo e Futurismo, Sãc Paulo, Ed. Perspec­tiva, 1972. SIMO ES, João Gaspar - Vida e Obra de Fernandu Pessod , Lisboa, Livra­ria Bertra nd, 1951. TAYLOR, J. C. - Futurismo, Nova York, 1961.