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SILVA, J. D. Software Educacional: recurso didático para apoio no processo de 
revitalização da língua Tupi. In: COSTA, F. V. F; NETO, J. V. F (Orgs.). Multiverso 
Indígena - abordagens transdisciplinares. Salvador (BA): Egba, 2014). 
SOFTWARE EDUCACIONAL: RECURSO DIDÁTICO PARA APOIO 
NO PROCESSO DE REVITALIZAÇÃO DA LÍNGUA TUPI 
José Daniel da Silva 
Podemos afirmar que Língua e Sociedade são duas 
realidades que se inter-relacionam de tal modo que é 
impossível conceber-se a existência de uma sem a outra. 
É no seio da sociedade, com suas particularidades e 
afinidades, que as falas fluem, que a interação ocorre. 
Maria do Socorro Pessoa 
A fala é o espelho da alma; o homem é o que diz. 
Públio Siro 
APRESENTAÇÃO 
Respondendo a uma demanda da comunidade indígena Tupinambá, localizada 
no Sul e Extremo Sul da Bahia, relacionada ao processo de revitalização da língua Tupi 
e, tendo como elemento norteador a pesquisa que resultou na tese de doutorado do 
professor Francisco Vanderlei Ferreira da Costa1, foi desenvolvido um trabalho de 
pesquisa fomentado pela FAPESB2. Esta pesquisa debateu o ensino e a aprendizagem 
da língua indígena, isso com contribuições determinantes da comunidade. O resultado 
da pesquisa foi a criação de um recurso tecnológico do tipo Software Educacional para 
auxiliar no processo de revitalização da língua indígena. 
O desejo de a comunidade Tupinambá voltar a falar a língua Tupi não é recente, 
mas foi fortalecido pelo movimento político local por volta da década de 90, quando um 
pequeno grupo de professores e lideranças buscaram o reconhecimento étnico por parte 
das autoridades, a língua acompanhou essa ação. 
Graduando do curso de Licenciatura em Computação do Instituto Federal de Educação, Ciência e 
Tecnologia da Bahia (IFBA), Campus Porto Seguro. 
1 Professor da Licenciatura Intercultural Indígena e da Licenciatura em Computação, ambas do Instituto 
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Campus Porto Seguro. Orientador da 
pesquisa. 
2 Pesquisa de Iniciação Científica financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, 
sob os números BOL1614/2011 e BOL 2141/2012.
A pesquisa, que culminou neste capítulo, iniciou-se em agosto de 2011, tendo 
duração de dois anos, e procurou trazer contribuições para o debate sobre o processo de 
revitalização da língua por meio do ensino na escola e também na comunidade. O 
recurso didático resultante destina-se à adoção da tecnologia por parte dos docentes, 
para uso nos laboratórios de informática existentes nas escolas indígenas das 
comunidades. No decorrer da pesquisa foram feitas discussões a respeito do papel da 
tecnologia na sociedade e na educação e visitas de campo às comunidades para 
conhecer as escolas indígenas e os aparatos tecnológicos nelas disponíveis. 
A decisão pela criação de um software educacional livre partiu da convergência 
entre a pesquisa de coleta de dados do professor orientador, na área de Linguística, e a 
pesquisa de formação na área Tecnológica, na graduação do curso de Licenciatura em 
Computação. O fruto desta pesquisa, o software educacional, foi nomeado de Glossário 
Digital Tupinambá e será apresentado detalhadamente adiante. 
SOBRE OS TUPINAMBÁ DO SUL DA BAHIA 
A comunidade indígena Tupinambá, situada nos municípios de Ilhéus, 
Buerarema, Una e Belmonte, etnia considerada extinta pelas autoridades brasileiras 
desde o século XVIII, desde muito tempo luta pelo seu reconhecimento como tal, tendo 
esta luta tomado maior corpo a partir do ano 2000 – no bojo das comemorações pelos 
500 anos da chegado dos europeus ao Brasil. Como um dos resultados dessa luta, 
chegou-se ao reconhecimento étnico desse grupo em maio de 2002, através da Nota 
Técnica 01/CGPE/02 emitida pela Fundação Nacional do Índio. 
Para se chegar a esse reconhecimento, é importante lembrar que até 2003, a 
prática corrente, de acordo com os mecanismos desenvolvidos pelo governo para a 
aferição da identidade étnica, era a de elaboração de laudos por parte de antropólogos, 
sendo estes mecanismos considerados por antropólogos e juristas como 
anticonstitucionais. Em 20033, esta situação foi modificada com a adoção da Convenção 
169 da Organização Internacional do Trabalho, em que a autoidentificação como 
indígena deverá ser considerada um critério fundamental para a definição dos grupos 
aos quais se aplicam as disposições da convenção (VIEGAS, 2007). 
Como parte desta luta, a comunidade Tupinambá ainda busca a retomada de seu 
território tradicional bem como de seus direitos correlatos perante o Estado brasileiro. 
3 Ver Decreto № 5.051, de 19 de abril de 2004, da Presidência da República.
Contudo para que os índios possam ser assistidos na reivindicação de seus direitos no 
tocante a identificação da terra indígena, é necessário a comprovação dessa identidade 
baseada em critérios fundamentados em teorias de identidade indígena (VIEGAS, 2007). 
Faz parte dessa luta também a busca da revitalização da língua Tupi, 
denominada por vezes como Tupinambá. Essa revitalização da língua vem como um 
meio de reforçar não só o reconhecimento étnico já ocorrido, mas também como forma 
de manutenção das tradições, da ligação da comunidade com seus antepassados e 
naturalmente resgatar a língua que a etnia não fala há bastante tempo. 
COMUNIDADE INDÍGENA, TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO 
Figura 1- Charge publicada no jornal Diário do Amazonas em 19/04/2012, aludindo às diferenças entre os 
índios de antigamente e os atuais. Fonte: http://blogs.d24am.com/jrlima/files/2012/04/indio-2-charge-opiniao- 
quinta-c%C3%B3pia1.jpg. 
Quando se fala de comunidades tradicionais, tem-se o entendimento, ainda que 
incorreto, que tais comunidades ficaram paradas no tempo, preservando suas tradições e 
sem muito ou nenhum contato com o mundo exterior e seus artefatos modernos. Ainda 
que algumas comunidades tenham um perfil próximo desse conceito, mas mantendo 
uma dinamicidade própria, fato este que deve ser fortalecido e respeitado, outras, como 
os Tupinambá do Sul e Extremo Sul da Bahia, mantêm suas tradições culturais e ao 
mesmo tempo fazem uso de tecnologia, tanto em seu modo de vida diário quanto na 
educação. 
Uma grande barreira encontrada pelos indígenas é o fato de os não-índios muitas 
vezes não reconhecê-los em suas especificidades, apelando para uma ideia de falta de 
pureza como única forma de reconhecimento, ou seja, não haveriam mais índios devido 
à miscigenação e mudanças de hábitos. Para tais pessoas, para serem ‘índios’ os
indivíduos além da alegada pureza deveriam viver nus na mata como antes da chegada 
dos portugueses. 
A figura acima, ainda que retratando um típico índio norte-americano, procura 
mostrar a ‘diferença’ entre o índio de outrora e o de hoje. A partir dessa figura podemos 
fazer uma análise, ainda que superficial, dos ‘nossos’ índios pelos mesmos critérios 
apresentados. 
Na relação apresentada entre as personagens (o índio antigo e o atual) 
observamos que diversos hábitos modificaram-se com o passar do tempo. Na figura 
vemos o índio ‘antigo’ se comunicando através de sinais de fumaça e o ‘atual’ através 
de um computador. O índio vestido de tanga dá lugar ao índio vestido de bermuda e 
calçado em um tênis, alimentando-se com produto industrializado e ouvindo música 
com fones de ouvido. Em relação a moradia a figura não apresenta grandes mudanças 
(na imagem a ‘oca’ retratada é típica dos índios norte-americanos) embora a ‘oca’ do 
índio atual possua diversos apetrechos tecnológicos. 
Entre os Tupinambá podemos observar que as ocas deram lugar a casas de 
madeira e alvenaria, que a comunicação se dá por telefones celulares e computadores 
ligados à internet, que o vestuário no cotidiano é o mesmo do ‘homem branco’ e que a 
tecnologia está bem presente em seu contexto. 
No ideário de alguns, uma cultura não pode mudar, se isto ocorre ela deixa de 
ser autêntica. Por isso, a visão de algumas pessoas a respeito dos indígenas quanto a sua 
falta de pureza. O índio que conhecemos através da escola e da mídia é folclorizado 
(morando em ocas na floresta, de tanga ou nus, alimentando-se de caça, pesca e colheita, 
de arco e flecha e pintados para a guerra etc.). A visão dos mesmos morando em casas 
modernas e utilizando equipamentos tecnológicos parece, a alguns, algo que quebra 
completamente a sua ligação com o ‘modelo padrão’ do índio brasileiro de 5 séculos 
atrás. 
Seria um absurdo colocarmos a imagem do português que aqui chegou no ano de 
1500 em contraste com o atual e dizer que o atual trata-se de um ex-português, visto que 
sua indumentária e fala, por exemplo, diferem entre o ‘antigo’ e o ‘atual’. Por que então 
se insiste tanto na ideia do ‘ex-índio’ ou do índio ‘impuro’? 
Independentemente dessa visão equivocada, iniciativas de uso da tecnologia 
entre os indígenas não são algo novo, pelo contrário, a tecnologia está inserida na vida 
de boa parte das comunidades. Há desde TV e telefones celulares a computadores e 
internet. Contudo a utilização da tecnologia não significa abandonar as tradições que
são não somente o que as comunidades têm de mais valioso como também o de mais 
bonito (PANK, 2007). Essas comunidades sabem conciliar a tecnologia e a cultura, 
aproveitando essa ligação para promover o desenvolvimento, abrindo as portas para a 
obtenção de um conhecimento mais amplo. A internet, por exemplo, pode ser utilizada 
pelas comunidades para diversos fins, tais como fortalecer a cultura e as tradições e 
expor ao mundo suas histórias, costumes e crenças. 
Para Ará Pank, indígena Pankararu de Pernambuco, a 
tecnologia não mata a cultura dos povos indígenas, pelo contrário, a 
fortalece, se utilizada com responsabilidade. Ela quebra fronteiras [e] 
traz benefícios para os povos indígenas, além de oportunidades de 
expressão. Quanto aos indígenas que ainda não usufruem da 
tecnologia convidamos a utilizá-la com responsabilidade, consciência 
e sabedoria (2007, p. 24). 
Alguns não-índios chegam a considerar que os indígenas não são capazes de 
utilizar a tecnologia e ter acesso a novos conhecimentos, como se eles houvessem 
parado no tempo e ainda possuíssem as mesmas características de há 500 anos. Os 
Pankararu, por exemplo, possuem o maior número de indígenas com formação superior 
em diversas áreas, sendo Maria Pankararu, a primeira indígena a obter o título de 
doutora, “um exemplo a ser seguido pelos indígenas” (PANK, 2007, p. 25). 
É importante salientar que a tecnologia, descrita como a “teoria geral e/ou estudo 
sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais 
ofícios ou domínios da atividade humana“ (HOUAISS ELETRÔNICO 3.0, 2009), não 
se refere apenas as normalmente nomeadas Tecnologias da Informação e Comunicação 
(TICs), como pode parecer a princípio, mas refere-se a todas as tecnologias que foram 
responsáveis por processos de desenvolvimento das sociedades, incluindo nesses 
processos a própria educação (BAZZO et al., 2003). As tecnologias criadas pelo ser 
humano, desde a roda até o computador, geraram mudanças na sua forma de 
comunicação, como podemos observar na invenção da escrita, da imprensa e da 
informatização. O surgimento dessas tecnologias causou grandes transformações no 
mundo, mas, muitas vezes, elas foram e ainda são fatores de exclusão e desigualdade, 
como, por exemplo, o caso de pessoas que não possuem acesso aos indicativos mais 
básicos de qualidade de vida (habitação, escolas, etc.), mas vivem cercadas de artefatos 
tecnológicos, sem, contudo, participar efetivamente das consequências que eles 
provocam. Assim, essa relação do homem com a tecnologia torna-se efetivamente mais
um fator de desigualdade social. Ao longo da história da humanidade a tecnologia teve 
papel importante nos processos de evolução do ser humano, que modificou as suas 
relações com os seus semelhantes e com a natureza, ao transformar ao longo do tempo 
as formas de produzir e reproduzir os meios de sua própria sobrevivência (SAMPAIO; 
LEITE, 2011). 
A tecnologia está presente em quase todos os lugares e áreas de nossas vidas e é 
impossível não notar todas as mudanças aceleradas que vem ocorrendo pelo mundo. As 
mais diversas publicações, científicas ou não, como livros, filmes, programas de TV 
entre outras nos trazem a discussão a respeito do avanço tecnológico ocorrido nos 
últimos anos, bem como as suas consequências. O avanço tecnológico é sem dúvida 
uma das principais marcas do nosso tempo e atinge todos os setores da sociedade, 
mesmo que as relações ocorram entre classes sociais com diferentes interesses, poderes 
e direitos. Para Filé (2011), 
Os aparatos tecnológicos interessam naquilo que tem alterado nos 
seres humanos: a vida social, a produção da cultura, produção de 
outras subjetividades e alteração da ordem do conhecimento. Pensá-los 
entre a proposição de que eles possuem capacidade benfazeja 
intrínseca (TICs) e as transformações que vão produzindo (p. 32). 
Muitos estudiosos das ciências humanas já buscaram compreender, definir e 
produzir conhecimento sobre a sociedade, hoje predominantemente tecnológica. No 
quadro abaixo podemos ver uma síntese do que alguns desses estudiosos pensavam a 
respeito da ‘revolução tecnológica’ sofrida pela sociedade (SAMPAIO; LEITE, 2011, p. 
30-31). 
Marcuse 
(1967) 
O avanço tecnológico deve ser orientado e o homem não pode deixar-se 
dominar pela tecnologia, para que o crescimento econômico e social seja 
mais qualitativo e menos desumano. 
Ferkiss 
(1972) 
A tecnologia é incapaz de acabar com as desigualdades sociais do 
sistema capitalista. Pensa o homem tecnológico em contraposição ao 
homem burguês da sociedade industrial. O primeiro dominaria a ciência 
e a tecnologia em vez de ser dominado por elas. 
Morais 
(1978) 
Aponta a desigualdade de distribuição dos benefícios tecnológicos e não 
considera a tecnologia como solução de todos os problemas.
Fromm 
(1984) 
Não considera a tecnologia libertadora e ela somente resolverá todos os 
problemas quando estiver a serviço da humanidade e não de alguns 
grupos e nações. 
Frigotto 
(1992) 
A tecnologização é inerente a busca do ser humano por formas de 
construção de seu mundo. 
Lévy 
(1993) 
Considera a época atual como limítrofe, uma transição da civilização 
baseada na escrita e na lógica para a civilização informática. 
Parente 
(1993) 
As tecnologias são produtoras e produtos da subjetividade humana. 
Borheim 
(1995) 
A “pedagogia da máquina” refere-se ao processo de robotização do 
homem que passa a ser padronizado pela máquina, assimilando a 
dinâmica e comportamento desta. 
Schaff 
(1995) 
Aponta como bases da produção tecnológica, a microeletrônica, a 
revolução da microbiologia e a revolução energética. 
Esses estudiosos encaram a relação entre o homem e a tecnologia de duas formas: 
a tecnologia como instrumento do ato humano de trabalhar e a tecnologia como 
ferramenta do ato humano de pensar e construir conhecimento, nas formas de raciocínio 
e interpretação. 
Mais recentemente vemos o surgimento das chamadas Novas Tecnologias ou 
Tecnologias Digitais, que são definidas em diversos livros e artigos como um conjunto 
de recursos tecnológicos integrados que proporcionam a automação e/ou a comunicação 
de vários tipos de processos existentes nas mais diversas áreas, tais como negócios, 
ensino e pesquisa científica, bancária e financeira, etc. Essas tecnologias são utilizadas 
para reunir, distribuir e compartilhar informações: sites da Web, equipamentos de 
informática, telefonia, etc. (MENDES, 2008). 
Como participantes desta sociedade informacional, vivemos cercados pelas 
tecnologias digitais. Elas estão presentes nas TVs, computadores, tablets, equipamentos 
de rede, telefones celulares, computadores de bordo, micro controladores, leitores de 
código de barras, terminais de autoatendimento bancário, etc. Nessa sociedade tão 
impregnada de tecnologia, a educação não poderia ficar fora. Antes do surgimento das 
Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (ou Tecnologias Digitais), pode-se 
pensar que na educação não havia a utilização de nenhum tipo de ferramenta
tecnológica, entretanto ao considerarmos o significado mais amplo que este termo traz, 
percebemos que tal pensamento não se sustenta historicamente, pois “as ações dos 
professores para ensinar determinados conteúdos, durante um certo período de tempo, 
com a finalidade de alcançar determinadas metas é tecnologia” (SANCHO, 1994, p. 28 
apud CORRÊA, 2006, p. 45). Veremos mais adiante que a tecnologia já vem sendo 
utilizada de longa data no sistema educacional. 
Devemos antes entender que classificar um conjunto de tecnologias e/ou 
métodos como ‘Novas Tecnologias’ irá depender do uso que se faz das mesmas no 
contexto social ou escolar. Uma tecnologia dita “inovadora” em sua cronologia ou 
contexto (centros urbanos) pode não ser uma inovação em um outro contexto (periferia, 
escola, etc.) se não produzir mudanças significativas (CORRÊA, 2006). Tomemos por 
exemplo o mimeógrafo, que no contexto urbano é considerado uma velha tecnologia, 
mas que num outro ambiente ou contexto social pode ser uma inovação, isso pelo uso 
que é dado a ele. Da mesma forma, uma sala de aula equipada com artefatos 
tecnológicos de última geração não pode ser considerada inovadora se o uso destes 
artefatos for feito de forma inadequada, ou seja, além de não se alcançar os objetivos 
propostos, também não ocorre a modificação das relações dos sujeitos envolvidos 
(alunos e professores). 
De nada adiantará propagar a ideia de uma escola com grande gama de artefatos 
tecnológicos a disposição do processo de ensino e aprendizagem, se este processo, com 
a utilização de tais artefatos, se der apenas como forma de reprodução do paradigma 
educacional no qual fomos formados. Usar tecnologia sem modificar as práticas 
docentes é dar uma roupagem de modernidade a práticas antigas (CORRÊA, 2006, 
p.47). 
No contexto da sociedade tecnológica atual caracteriza-se o que podemos 
chamar de Tecnologia Educacional. Sendo a escola uma instituição social cuja função é 
preparar cidadãos para o trabalho e para a vida, ela não pode e nem deve ficar às 
margens da modernidade tecnológica da sociedade, sob o risco de tornar-se uma escola 
defasada, desinteressante, alienada além de não cumprir com suas funções (DEMO, 
1991 apud SAMPAIO; LEITE, 2011). No Brasil, a partir dos anos 60, iniciou-se nas 
instituições educacionais as discussões sobre a Tecnologia Educacional, que a princípio 
possuía um caráter tecnicista, voltado para a formação de mão-de-obra especializada 
para o mercado de trabalho. Esse caráter ainda perdura em muitos aspectos da educação, 
mas hoje ela é, ou deveria ser, voltada para a formação do homem crítico, portanto
produtora de mudanças sociais. Nos anos de 79/80, a Associação Brasileira de 
Tecnologia Educacional (ABT) submete um novo conceito em que define que a 
Tecnologia Educacional é fundamentada em uma opção filosófica, centrada no 
desenvolvimento integral do homem, inserido na dinâmica da transformação social. 
Para Luckesi (1986, apud SAMPAIO; LEITE, 2011, p. 23) este novo conceito 
“globaliza os três elementos fundamentais de qualquer ação humana: uma opção 
filosófica, uma contextualização social da ação e o uso de princípios científicos e 
instrumentos técnicos de transformação” social. 
Embora o termo Tecnologia Educacional seja recente, no decorrer do 
desenvolvimento da humanidade e das sociedades podemos perceber diversos artefatos 
que foram inovações tecnológicas nos processos educativos: as pinturas pictográficas 
pré-históricas nas cavernas, que foram a forma que o homem primitivo encontrou para 
‘registrar’ sua história; a invenção da escrita pelos sumérios por volta de 4000 a.C, que 
demonstra que o homem desejava construir outras formas de comunicação; a prensa4 de 
Gutenberg que por volta século XV inovou a publicação de livros através da impressão 
de tipos móveis, livros antes escritos/copiados à mão etc. 
Figura 2- Ilustração metafórica onde há uma ligação entre a comunicação através de uma pictografia pré-histórica e 
outra tecnológica. Fonte: Google Imagens. 
Depois da prensa, diversos outros artefatos puderam ser destacados como 
inovações tecnológicas: quadros negros, livros, rádio, projetores de filmes, 
retroprojetores, televisão, fitas de vídeo e áudio e, mais recentemente, computadores, 
lousas digitais, datashows, internet, smartphones, laptops, tablets, videogames, entre 
4 http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/prensa-gutenberg-435887.shtml
outros. Contudo, devemos entender que a inovação é definida não pela cronologia da 
tecnologia, mas pela transformação que a tecnologia promove no meio em que é 
utilizada. 
Na tabela abaixo podemos ver as tecnologias utilizadas em ambiente escolar 
através dos anos. 
Época Tecnologia Descrição 
Século 
XVIII 
Quadro e giz Possibilita o aumento do número de alunos e o surgimento 
do professor que conhecemos hoje. Desde 1980, dividem 
espaço com o quadro branco e o pincel atômico. 
1887 Mimeógrafo Permite a impressão de pequenas tiragens com papel 
carbono e álcool. Colabora principalmente com a preparação 
de provas, exercícios e lições de casa. 
1900 Episcópio Projeta em uma tela objetos ou superfícies opacas, como 
fotografias e páginas de livros. Para funcionar corretamente, 
a sala deve estar completamente escura. 
1950 Retroprojetor Com ele, o professor não precisa mais ficar de costas para a 
turma. Além disso, preparar as transparências é bem mais 
rápido do que escrever com o giz no quadro. 
1971 Computador O primeiro uso em aulas no Brasil foi na Universidade 
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas, rapidamente, ele 
passa a contribuir também com o ensino para as crianças. 
1984 Datashow Exibe a imagem do computador em uma tela ou na parede. 
Tem gerado o abandono dos demais recursos de projeção 
que existiram antes dele. 
1990 Internet Apesar de ter sido utilizada na Guerra Fria, ela chega às 
escolas na década de 1990. A partir daí, revoluciona o 
acesso de professores e alunos à informação. 
1991 Lousa Digital Reproduz a imagem do computador em uma tela sensível ao 
toque, na qual também é possível escrever. Com isso, deixa 
o antigo quadro com cara de passado. 
2010 Tablet Nos Estados Unidos, existem mais de 20 mil aplicativos 
educativos. No Brasil, há intensa distribuição para docentes
e alunos do Ensino Médio, com usos variados. 
Fonte: Revista Nova Escola, Edição Especial № 42, Julho de 2012. 
Desde as primeiras gerações de computadores, sempre ocorreu a busca de sua 
utilização no ambiente educacional. Contudo, a prática educacional difere de outras 
práticas sociais, como a comercial e a científica, e, portanto, requer outro tipo de 
abordagem. Na educação, por exemplo, existem dois tipos de usuários, o professor e o 
aluno, que operam por vezes quase que simultaneamente. Além disso, existem as 
questões pedagógicas que envolvem o processo de ensino e aprendizagem e seu alto 
grau de subjetividade. Portanto, a utilização da tecnologia na educação tem pelo menos 
dois aspectos: seu uso na interação com o conhecimento de áreas específicas e como 
ferramenta de apoio ao processo de ensino e aprendizagem (NETO, 2006, p. 55). 
O software educativo, um conjunto de recursos informáticos projetados para 
serem usados em contextos de ensino e aprendizagem, abrangendo finalidades diversas, 
desde a aquisição de conceitos até o desenvolvimento de habilidades básicas (CANO, 
1998, p. 169 apud MARQUES NETO, 2006, p.55), é utilizado por alunos e professores 
no processo de interação com o conhecimento de uma disciplina, podendo ser utilizado 
para que os alunos, sob orientação do professor, promovam também a produção do 
conhecimento. No contexto das comunidades Tupinambá, além das tecnologias 
relacionadas ao seu dia a dia (televisão, áudio, vídeo, etc.), há uso das Novas 
Tecnologias nas escolas. 
Figura 3 - Modelo Monitor Educacional. Fonte: http://educar.sec.ba.gov.br/monitoreducacional 
Estas escolas possuem Monitores Educacionais (figura acima) que possibilita a 
exibição de arquivos digitalizados de áudio, imagem e vídeo, todos diretamente de uma 
mídia de armazenamento, o pendrive e o cartão de memória são exemplos dessas mídias.
Também há no ambiente escolar da citada etnia data-shows, esses podem ser utilizados 
com notebooks e ou computadores desktop para exibição de vídeos, apresentações de 
slides dentre outras aplicações nas aulas. Além desses equipamentos, as escolas 
possuem centros digitais com diversos computadores e impressoras, e boa parte dos 
docentes possuem notebooks. Todos esses equipamentos fazem parte da iniciativa de 
uso das tecnologias e novas tecnologias como ferramentas no processo de ensino e 
aprendizagem. Há ainda o uso de computadores para a gestão da escola. 
A escola indígena Tupinambá na comunidade de Serra do Padeiro, município de 
Buerarema, recentemente recebeu a instalação de um link de acesso à internet. Esse 
novo recurso tecnológico disponibilizado, não desconhecido, mas até então ausente na 
comunidade e na escola, proporcionará acesso aos diversos recursos de pesquisa 
disponibilizados, bem como permitirá a criação de conteúdo para o ambiente da web. 
Esse novo portal abre um mundo de vasto conhecimento distribuído, com origem em 
várias partes do mundo, vários povos, vários pensadores e teóricos. É necessário 
contudo, muito critério ao se apropriar desse conhecimento, pois deve-se procurar 
sempre fontes confiáveis. 
Esse acesso ao ciberespaço5, ou simplesmente o ‘acesso à internet’, proporciona 
navegar numa rede digital que se comporta de certa forma com uma grande 
biblioteca/discoteca/videoteca ilustrada e que contém dentro de seu ambiente ‘estantes’ 
com itens virtuais que equivalem a livros, a discos, a programas de rádio, a revistas, a 
jornais, a folhetos, a videogames e a uma série de outras mídias, todas apresentadas de 
forma interligada e fluida. Esse espaço é compartilhado e a manutenção dele, parte de 
nossa relação com ele, é feita através da alimentação e atualização desse imenso acervo 
de mídias. 
O ciberespaço também é definido 
como o espaço de comunicação aberta pela interconexão mundial dos 
computadores e das memórias dos computadores. Esse novo meio tem 
a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de 
criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. 
A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente 
tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de 
memória da humanidade a partir do início do próximo século (LÉVY, 
1999, p.94-95). 
5 “A palavra Ciberespaço foi inventada em 1984 por Willian Gibson em seu romance de ficção 
Neuromancer. Neste romance o termo designa o universo de redes digitais, descrito como um campo de 
batalha entre multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural” (LÉVY, 
1999, p. 94).
Assim, o ciberespaço passa a ter como principal função o acesso aos diversos 
recursos de outros computadores. Isso ocorre de forma natural no nosso dia a dia, 
quando acessamos a internet para diversos fins, como pesquisar um determinado 
assunto, assistir vídeos e ouvir músicas, efetuar compras, enviar e-mails, ler o noticiário, 
escrever e/ou comentar artigos em blogs. Por haver muitas oportunidades de acesso e 
criação da informação no ciberespaço, as contribuições para a educação são enormes e, 
em particular, no processo de revitalização da língua Tupi pela comunidade Tupinambá. 
Mas não basta apenas ter estas ferramentas tecnológicas disponíveis na escola, é 
necessário que os docentes estejam preparados para fazer uso adequado delas, pois a 
educação nesta sociedade tecnológica requer que os indivíduos ligados a ela estejam 
habilitados no uso dos vários instrumentais disponibilizados pela tecnologia e que sejam 
capacitados a transformar as linguagens digitais em simbologias e representações 
construtivas, sabendo como as inserir no processo educativo. Contudo para que esses 
recursos sejam utilizados de forma adequada há a necessidade de revisão do processo de 
ensino e aprendizagem, bem como uma gestão de forma consciente tanto da pedagogia 
como do conhecimento em rede (FERREIRA; FRADE, 2010). 
Quando nos apropriamos das tecnologias digitais tendemos a alterar nossa visão 
geral sobre a educação e deixamos de ser meros usuários dos instrumentais disponíveis, 
pois a tecnologia deixa de ser só um objeto de uso e torna-se um objeto de cooperação 
no processo de aquisição do conhecimento. Não podemos limitar a aplicação da 
tecnologia na educação apenas aos seus aspectos operacionais, tais como pesquisas por 
parte dos alunos e apontamento de notas por parte dos professores. É necessário que o 
docente reflita sobre o seu ato educativo e como prover, nesse ato, momentos de 
experimentações, simulações e até mesmo ações de reconstrução dos processos de 
ensino e aprendizagem. O docente poderá, dependendo da proposta pedagógica, aplicar 
a tecnologia na educação tanto de forma multidisciplinar como de forma unidisciplinar. 
Uma ferramenta educacional, tal como a proposta por esta pesquisa, ao ser 
utilizada/acessada através do ciberespaço, poderá colaborar com o processo de 
revitalização e ensino da língua Tupinambá de uma forma dinâmica e multicultural. Sua 
publicação em ambiente on-line atingirá um público maior, uma vez que ultrapassará as 
barreiras físicas da escola e seus computadores locais, não sendo acessado apenas por 
indígenas, mas por toda a comunidade que ‘habita’ o ciberespaço.
O uso da tecnologia entre os Tupinambá é algo real e palpável, isso pode ser 
comprovado ao assistirmos o curta-metragem Indígenas Digitais6. Neste, indígenas de 
diversas etnias, Tupinambá inclusive, relatam suas experiências com o uso de celulares, 
câmeras fotográficas, filmadoras, computadores e internet. Esses recursos são 
apresentados como ferramentas na busca por melhorias para os grupos, também 
facilitam a relação destes com o mundo globalizado. O uso da tecnologia permite-os 
interagir como o mundo. Permitindo, inclusive, a divulgação de suas lutas e tradições. 
Como exemplo, temos a produção dos livros Tupinambá e Nós Tupinambá, de autoria 
da própria comunidade em parceria com a ONG THYDÊWÁ, e que fazem parte da 
série ‘índios na visão dos índios’. Estes livros, disponíveis para download7 no site da 
ONG, contém relatos de experiências, da cultura, da luta, da tecnologia além de fotos. 
A TECNOLOGIA COMO MEDIADORA DA APRENDIZAGEM 
Há cerca de 15 anos, o cenário era de pressão para o uso das tecnologias em 
todas as áreas, inclusive na educação. Os professores sentiam medo de não terem mais 
lugar no mercado de trabalho caso não fossem capazes de dominá-las (COSCARELLI, 
1998). Hoje, o que mudou em relação a esse cenário? 
Acreditamos que pouca coisa mudou deste cenário inicial, pois o uso da 
tecnologia tem aumentado e as pressões continuam as mesmas (em geral e na educação). 
Os medos dos professores continuam os mesmos. Mas nesse longo período de 
acomodação da tecnologia em nosso cotidiano e também na educação, quais os 
resultados que a informática trouxe para o processo de ensino e aprendizagem? Será que 
os alunos de hoje, considerados ‘nativos’ digitais, realmente aprendem mais com o uso 
da tecnologia ou ela apenas tem maquiado o resultado? 
Estas questões ainda podem continuar em aberto em alguns ambientes 
educacionais, mas em outros a tecnologia tem alcançado êxito ao ser utilizada como 
mediadora, juntamente com o professor, nos processos de ensino e aprendizagem. 
Recentemente o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, anunciou o investimento de 
cerca de R$ 150 milhões para a compra de 600 mil tablets, que serão utilizados por 
6 Esse curta-metragem é o resultado da parceria da ONG Thydewá com a Cardim Projetos. Conta com o 
patrocínio da Oi, via Oi Futuro, e do Programa Estadual de Incentivo ao Patrocínio Cultural do Governo 
da Bahia, o Fazcultura. Fonte: http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI4382950-EI4802,00- 
Curta+sobre+comunidades+indigenas+digitais+tem+preestreia.html. Acesso em: 10/05/2013. 
7 Disponível em: http://www.thydewa.org/downloads1. Acesso em: 01/08/2013.
professores do ensino médio da rede pública de ensino (MEC, 2012). A ideia do projeto, 
chamado de Educação Digital, é prover não somente instrumentos, mas também 
formação aos professores e gestores das escolas públicas, de forma que ocorra o uso 
intensivo das TICs nos processos de ensino e aprendizagem. O projeto abrange o uso do 
computador interativo desenvolvido pelo MEC, que reúne projeção, computador, 
microfone, DVD, lousa digital e acesso à internet, além de abranger também o uso do 
tablet. Além desse aparato tecnológico o MEC disponibilizou em 2008 o Portal do 
Professor8, que possui um acervo de cerca de 15 mil aulas criadas por educadores, 
acervo este que tende a ser ampliado cada vez mais. Há sem dúvida um investimento em 
tecnologia para educação e esta tecnologia será mais eficiente na proporção em que 
houver maiores cuidados pedagógicos e maior envolvimento dos professores no 
processo educativo. Para o ministro Aloísio Mercadante “na educação, a inclusão 
[tecnológica] começa pelo professor” (MEC, 2012). 
Nas comunidades indígenas, a educação formal tem importante papel na 
reafirmação da identidade étnica, na valorização das suas línguas e no acesso ao 
conhecimento, possibilitando que possam ser respeitados como grupos étnicos 
diferenciados e tenham preservados os seus costumes, crenças e direitos. A Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação de 1996 garantiu aos indígenas o acesso ao 
conhecimento oriundo de uma educação própria, com programas e matrizes curriculares 
específicas para as comunidades. 
As tecnologias não podem ficar fora do contexto da educação indígena, pois sem 
dúvida contribuem em muito nos processos de ensino e aprendizagem e também nos 
processos de reafirmação étnica e cultural, entre eles o processo de revitalização da 
língua no caso específico dos Tupinambá. É necessário, contudo, a adequação do uso 
destas tecnologias aos contextos específicos da educação indígena em cada comunidade, 
assim a mediação nos processos de ensino e aprendizagem fluirá respeitando sempre o 
contexto indígena e não com a imposição de teorias específicas. 
GLOSSÁRIO DIGITAL TUPINAMBÁ 
A comunidade Tupinambá do Sul e Extremo Sul da Bahia reúne duas iniciativas 
relevantes – o uso da tecnologia e o processo de revitalização da língua Tupi – estes 
8 O Portal do Professor foi projetado com objetivo de apoiar os professores em seus processos de 
formação, bem como auxiliar e enriquecer a sua prática pedagógica deles. Disponível em: 
http://portaldoprofessor.mec.gov.br. Acesso em: 30/06/2013.
caracterizaram fator importante para a criação de um recurso didático, proposto como 
forma de auxiliar os professores de língua indígena, já ensinada de forma tradicional. O 
processo de revitalização da língua Tupi na comunidade Tupinambá tem como objetivos 
principais subsidiar as ações didático-educacionais desenvolvidas por professores de 
língua indígena e colaborar para o fortalecimento cultural dessa etnia. A comunicação 
entre os indivíduos nas aldeias se dá pelo uso da língua portuguesa, mas é latente o 
desejo que a língua Tupi volte a ser falada. Assim algumas pesquisas em andamento 
procuram ajudar nesse processo, como a pesquisa entre os Tupinambá de Olivença 
realizada por alguns professores indígenas sob a orientação da antropóloga Flávia 
Cristina de Mello, da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus, Bahia. 
A partir do processo de revitalização da língua Tupi, pela comunidade 
Tupinambá, a pesquisa que resultou neste capítulo, visou auxiliar a comunidade nesse 
processo de revitalização, propondo a catalogação de palavras faladas pelos anciãos, 
cujas lembranças remontam as suas infâncias, pois aprenderam tais palavras com seus 
pais e avós. Muitos desses vocábulos apresentam vínculo com a língua Tupi. A pesquisa, 
finalizada em julho de 2013, visou também o debate para a proposição de alternativas 
tecnológicas para armazenamento de dados e propostas de metodologias de ensino. 
Como a comunidade dispõe de laboratórios de informática em suas escolas, faz-se 
necessário a adoção de tecnologias digitais para uso nestes laboratórios, bem como 
propor alternativas para o processo de ensino e aprendizagem, que abranjam não apenas 
o ambiente escolar, mas toda a comunidade. Segundo Ferreira e Frade (2010), o recurso 
didático deve ser visto como ferramenta para uso reflexivo sobre o ato educativo, 
propiciando a professores e alunos experimentações relativas às atividades de ensino e 
aprendizagem, por isso o software Glossário Digital Tupinambá, também designado por 
GDT, não tem como função única a pesquisa de palavras. O seu uso compreende ações 
e projetos educacionais abrangentes que envolvam todas as disciplinas ministradas nas 
escolas da comunidade (português, geografia, história etc.) ou em ações isoladas que 
envolvam apenas a disciplina de ensino da língua Tupi. Esse uso pode ocorrer 
concomitante ao uso de outros softwares educacionais, tais como o HagáQuê, um editor 
de histórias em quadrinhos desenvolvido pelo NIEED/Unicamp9 para auxiliar no 
desenvolvimento da alfabetização infantil, podendo ser utilizado nas mais diversas 
disciplinas do ensino fundamental. O software HagáQuê foi apresentado aos professores 
9 Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Unicamp. Disponível em http://www.nied.unicamp.br. 
Acesso em: 15/07/2013.
da comunidade de Serra do Padeiro em um minicurso realizado em 2012. Dentre a 
classificação de softwares proposta por Tajra (2008, p. 50) podemos classificar o 
recurso digital resultante desta pesquisa na modalidade ‘Banco de Dados’, visto que sua 
construção possibilita o arquivamento e gerenciamento de informações, com opções de 
atualização e inclusão de novas palavras. 
Considerando o aspecto do ensino da língua, em pesquisas preliminares10, 
verificou-se a existência de alguns cursos de língua Tupi, presenciais e a distância, 
dicionários publicados ou digitalizados e alguns sites contendo algumas listas de 
palavras em Tupi. Em princípio, poderia ser considerado mais prático adotar um destes 
cursos, contudo, por tratar-se de um processo de revitalização, que inclui 
autoidentificação étnica, manutenção das tradições culturais com seu movimento 
dinâmico e o desejo da comunidade em participar ativamente do processo de volta da 
língua, criando seus próprios métodos para o ensino dessa, ficou claro que as 
alternativas existentes não proveriam as necessidades de tal processo de revitalização. 
Durante a pesquisa de campo ocorreram visitas à comunidade Tupinambá onde 
foram catalogadas diversas palavras através de entrevistas realizadas com os anciãos, 
moradores de Serra do Padeiro (em Buerarema/BA) e Olivença (em Ilhéus/BA). 
Paralelamente à pesquisa de campo e durante as entrevistas para coleta de dados, 
ocorreram discussões com os professores a respeito da aplicação das tecnologias da 
informação e comunicação nos processos de ensino e aprendizagem. 
Após a fase de entrevistas, as palavras coletadas foram organizadas, ordenadas 
alfabeticamente e iniciou-se a fase de busca das mesmas em dicionários de Tupi, cujo 
objetivo era verificar se as palavras coletadas possuíam origem nesse idioma, assim 
como verificar a similaridade entre os significados dados pelos entrevistados 
(significado comunitário) e os significados encontrados nos dicionários. Para essa tarefa, 
foram utilizados os seguintes dicionários: Dicionário da Língua Tupi - Chamada 
Língua Geral dos Indígenas do Brasil de A. Gonçalves Dias (1858), Pequeno 
Vocabulário Português-Tupi de A. Lemos Barbosa (1970), Dicionário de Tupi Antigo 
de Eduardo de Almeida Navarro (2006) e o Dicionário Histórico das palavras 
portuguesas de origem Tupi de Antonio Geraldo da Cunha (2005). Os dicionários de A. 
Gonçalves Dias e A. Lemos Barbosa foram obtidos na Biblioteca Digital Curt 
10 Foram pesquisas feitas durante a escrita do plano de trabalho, elas se tornaram a base para os 
levantamentos de dados ocorridos durante a pesquisa.
Nimuendaju11 através de download. Durante o processo de busca algumas palavras 
coletadas não foram encontradas nos dicionários, mesmo pesquisando-as com grafias 
diferentes. Algumas dessas palavras demonstraram influência africana, por isso também 
serviu de apoio o Novo Dicionário Banto do Brasil, de autoria de Nei Lopes. Outras 
permaneceram sem significado dicionarizado, constando apenas o significado dado pela 
comunidade. 
Terminada a fase de busca nos dicionários de Tupi, na qual também ocorreu a 
transcrição fonética das palavras, deu-se início ao processo de construção de um recurso 
didático digital – também chamado de software educacional, onde as palavras, seus 
significados, imagens referentes ao seu significado principal e sua pronúncia foram 
inseridas. 
Para a construção do software, no que se refere à interface com o usuário, foi 
utilizada a ferramenta de programação Delphi 7 Enterprise12. O Delphi é uma 
ferramenta de desenvolvimento de aplicações cliente/servidor, que também pode ser 
utilizada para desenvolver aplicativos de uso genérico, tais como um editor de textos, 
uma planilha eletrônica, um cliente de e-mail, entre outros. O Delphi é baseado na 
linguagem Object Pascal e foi desenvolvido em 1995 pela empresa Borland Software 
Corporation. A ferramenta foi comprada em 2008 pela empresa Embarcadero e 
atualmente encontra-se na versão denominada Delphi XE4, que possibilita o 
desenvolvimento de aplicativos mobile para iOS (sistema operacional para iPhone e 
iPad da Apple Inc) além de aplicativos para Windows e Mac (Apple). Esta ferramenta 
foi criada seguindo o conceito RAD (Rapid Application Development – 
Desenvolvimento Rápido de Aplicativos) e seu ambiente de desenvolvimento é um IDE 
(Integrated Development Environment – Ambiente de Desenvolvimento Integrado), 
que proporciona ao desenvolvedor construir a interface de programas seguindo o padrão 
de janelas com todas as facilidades que elas possuem, como por exemplo visualizar as 
telas durante o processo de desenvolvimento e podendo arrastar e soltar 
(organizar/alinhar) os componentes (botões, barras, frames, caixas etc.) que comporão 
tal interface. 
11 Essa biblioteca on-line possui uma coletânea de artigos e livros raros sobre línguas e culturas indígenas 
sul-americanas. Disponível em: http://biblio.etnolinguistica. Acesso em: 15/12/2012. 
12 Disponível em: http://www.embarcadero.com/br/products/delphi. Acesso em: 05/01/2013.
No que se refere ao armazenamento dos dados coletados, foi utilizada a versão 
1.5.6 do Firebird SQL13. O Firebird é um SGDB (Sistema Gerenciador de Banco de 
Dados) que trabalha nos sistemas operacionais Windows, Linux, Mac e diversos 
sistemas baseados em Unix. O Firebird é baseado no SGDB Interbase 6.0 da Inprise 
Corp, cujo código foi aberto em julho de 2000, sendo mantido desde então por uma 
comunidade mundial de programadores. Ele é distribuído de forma gratuita e atualmente 
está na versão 2.5.2. É utilizado como sistema de armazenamento de dados em diversos 
softwares, desde pequenas aplicações até aplicações de grande porte. Oferece diversas 
características tais como excelente concorrência, alta performance e suporte para stored 
procedures (procedimentos armazenados) e triggers (gatilhos). 
O software GDT foi construído de forma a auxiliar professores no processo de 
ensino e aprendizagem nas séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, e 
possui como funções principais: 
a) Pesquisa por palavra: exibe os significados da palavra pesquisada; 
b) Pesquisa parcial de palavras: busca palavras que contenham o termo 
parcial digitado e exibe os significados das palavras encontradas; 
c) Pesquisa parcial dos significados: exibe quais palavras possuem o termo 
pesquisado em seus significados. 
Além da interface de pesquisa de palavras, o software dispõe de uma interface 
que simula um livro, onde as páginas (duas) serão visualizadas uma após a outra e as 
palavras (uma por página) estão dispostas em ordem alfabética, como ocorre em um 
glossário impresso. Outra característica do software GDT é a possibilidade de adição de 
novas palavras, por parte dos docentes, pois sendo um software livre (mas sem 
possibilidade de alteração de seu código por outros), esse programa estará à disposição 
do docente para que ele mesmo possa construir sua prática pedagógica. O tipo de 
construção do software também permitirá utilizá-lo em uma rede de computadores 
(padrão cliente/servidor) onde o banco de dados estará instalado em um servidor central 
e não haverá necessidade de inclusão da mesma palavra várias vezes, como ocorre na 
opção de instalação monousuário. O GDT será utilizado nas escolas tupinambá de três 
comunidades: Serra do Padeiro, Olivença e Belmonte, que inicialmente deverão utilizar 
13 Disponível em: http://www.firebirdsql.org. Acesso em: 05/01/2013.
um computador central (servidor) para armazenar o banco de dados e os demais 
computadores (clientes) farão o acesso aos dados. 
Figura 4 - Ilustração de acesso em rede com servidor central. Fonte: http://www.datasolution.srv.br/DS-Infra 
Outra possibilidade, prevista para atualização futura, é a transposição do GDT 
para o ambiente web (internet), onde o banco de dados seria centralizado num servidor 
na nuvem14 e o acesso se daria através de um navegador de internet (Internet Explorer, 
Google Chrome, Mozilla Firefox etc.). 
Figura 5 - Ilustração de acesso de computadores à internet Fonte: http://antivirus.uol.com.br/dicas/dia-mundial- 
da-internet-segura.html. 
Uma vez portado o GDT para a web, será necessário o investimento na 
infraestrutura das escolas, tais como possuir uma conexão à internet, criar um domínio 
de internet e contratar um plano de hospedagem em um provedor, onde o banco de 
dados será disponibilizado para acesso através de uma página web, construída tanto para 
consulta quanto para administração. Essa atualização não impedirá o uso do GDT na 
rede local, uma vez que o banco de dados local poderá ser atualizado com os dados on- 
14 “Nuvem é um termo que descreve um amplo recurso de computação disponível na internet. Não é 
possível saber onde a nuvem se localiza fisicamente” (LANIER, 2012, p. 32).
line e vice-versa. Essa transposição proverá o acesso on-line, podendo ser utilizando 
além da própria comunidade Tupinambá, como recurso de consulta acadêmica por 
exemplo. 
A operação do GDT por parte dos docentes e alunos é bastante simples, 
necessitando apenas de um conhecimento básico na operação de computadores por parte 
destes. A tela inicial do GDT possui botões com as funções de pesquisa, livro, 
manutenção e informações sobre o software. 
Figura 6 - Botões de acesso às funções do GDT. 
Quando clicamos no botão ‘pesquisa’, temos acesso a tela de pesquisa (figura 7) 
onde podemos efetuar dois tipos de buscas: a busca por palavras (específica ou parcial) 
e a busca por significados (comunitário ou dicionarizado). Nesta tela também podemos 
ter acesso aos dados de uma palavra específica escolhendo-a em uma lista onde são 
exibidas todas as palavras existentes ou previamente exibidas de acordo com uma 
pesquisa parcial. 
Figura 7 -Tela inicial com todas as palavras listadas. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. 
A Figura 8 exemplifica uma busca ‘específica’ pela palavra ‘jequi’ que retornou 
a transcrição fonética, o significado comunitário, o significado dicionarizado e a 
imagem referentes a palavra.
Figura 8 - Exemplo de pesquisa de uma palavra específica. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. 
A Figura 9 exemplifica uma busca ‘parcial’ por palavras que contenham o termo 
‘capi’ em sua composição. O resultado da busca foram as palavras ‘Capim Açu’ e 
‘Capivara’. Nesse caso basta escolher na lista para qual das palavras desejamos obter os 
dados e eles serão exibidos. 
Figura 9 - Exemplo de pesquisa parcial. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. 
A Figura 10 exemplifica uma busca nos ‘significados’ por palavras que 
contenham o termo ‘árvore’. O resultado da busca foram várias palavras, entre elas a 
palavra ‘acari’ que é a designação de um peixe conhecido por ‘cascudo’, mas que 
também designa uma espécie de árvore. As demais palavras exibidas são designações 
apenas de árvores.
Figura 10 - Exemplo de pesquisa de significados. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. 
A Figura 11 exemplifica uma busca nos ‘significados’ por palavras que 
contenham o termo ‘pesca’. O resultado da busca foram as palavras ‘jequi’ e ‘jereré’. 
Figura 11 - Exemplo de pesquisa de significados. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. 
A Figura 12 exemplifica a tela de atualização de dados onde podemos incluir 
novas palavras, atualizar o significado de palavras já inseridas e incluir imagens e áudio 
previamente disponíveis no computador.
Figura 12 - Tela de manutenção de dados. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. 
A Figura 13 exemplifica a tela onde as palavras são apresentadas em um suporte 
em formato de folhas de um livro, ordenadas alfabeticamente, sendo necessário apenas 
fazermos a passagem das páginas através dos botões que representam as ações de 
avançar e retroceder. 
Figura 13 - Tela com simulação de livro. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. 
Como já elencado, o GDT pode ser utilizado em conjunto com outros softwares 
educacionais, a depender da prática pedagógica do professor, não só de ensino de língua 
indígena, mas de qualquer outra disciplina. A Figura 14 exemplifica o uso em conjunto 
com o software HagáQuê, onde foi criada uma página de história em quadrinhos 
contendo imagens e termos em Tupi e Português.
Figura 14 - Tela do software HagáQuê utilizando palavras catalogadas. 
Salientamos contudo que o Glossário Digital Tupinambá não substitui as 
metodologias nos processos de ensino e aprendizagem construídas pelos professores, 
antes se propõe a auxiliá-los no processo da práxis educativa nas escolas da comunidade 
Tupinambá. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A tecnologia sem dúvida tem papel importante nos processos de ensino e 
aprendizagem, contudo devemos encará-la como um meio e não como um fim. Não há 
motivos para que os professores temam ser substituídos por ela, mas ao mesmo tempo 
não há motivos para descartá-la, visto já se encontrar presente em todas as áreas. 
Também devemos entender que a tecnologia por si só não produzirá mudanças se não 
for utilizada de forma adequada, calcada nas escolas metodológicas do docente. O 
computador traz informações e recursos, mas o professor necessita planejar a sua 
aplicação em sala de aula. 
O ensino diferenciado para comunidades indígenas é garantido pela legislação e 
muitas delas já possuem forte ligação com as tecnologias da informação e comunicação. 
Por isso faz-se necessário um estudo mais profundo para que essas tecnologias sejam 
adequadas ao contexto educacional indígena, promovendo a formação do indígena sem 
contudo criar um fator de negação de sua identidade e cultura. 
Esperamos que o Glossário Digital Tupinambá cumpra seu papel de auxiliador 
na prática do ensino e aprendizagem da língua Tupi nas comunidades Tupinambá. As
comunidades, através de seus docentes, proverão um feedback valioso sobre o uso e o 
resultado do mesmo nos processos pedagógicos, permitindo assim que o GDT possa, 
caso necessário, ser modificado, sempre em consonância com as necessidades e 
expectativas da comunidade. A sua utilização reforçará, sem dúvidas, a importância da 
tecnologia aplicada à educação, na qual os educadores esperam que os modos de estudar, 
pesquisar e elaborar, sejam aprimorados e elevadas as estratégias de construção de 
oportunidades e autoria. Nesse processo, tanto os especialistas em tecnologia quando os 
especialistas em educação devem arquitetar em conjunto as possibilidades educacionais, 
aprendendo sempre uns com os outros (DEMO, 2008). 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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  • 1. SILVA, J. D. Software Educacional: recurso didático para apoio no processo de revitalização da língua Tupi. In: COSTA, F. V. F; NETO, J. V. F (Orgs.). Multiverso Indígena - abordagens transdisciplinares. Salvador (BA): Egba, 2014). SOFTWARE EDUCACIONAL: RECURSO DIDÁTICO PARA APOIO NO PROCESSO DE REVITALIZAÇÃO DA LÍNGUA TUPI José Daniel da Silva Podemos afirmar que Língua e Sociedade são duas realidades que se inter-relacionam de tal modo que é impossível conceber-se a existência de uma sem a outra. É no seio da sociedade, com suas particularidades e afinidades, que as falas fluem, que a interação ocorre. Maria do Socorro Pessoa A fala é o espelho da alma; o homem é o que diz. Públio Siro APRESENTAÇÃO Respondendo a uma demanda da comunidade indígena Tupinambá, localizada no Sul e Extremo Sul da Bahia, relacionada ao processo de revitalização da língua Tupi e, tendo como elemento norteador a pesquisa que resultou na tese de doutorado do professor Francisco Vanderlei Ferreira da Costa1, foi desenvolvido um trabalho de pesquisa fomentado pela FAPESB2. Esta pesquisa debateu o ensino e a aprendizagem da língua indígena, isso com contribuições determinantes da comunidade. O resultado da pesquisa foi a criação de um recurso tecnológico do tipo Software Educacional para auxiliar no processo de revitalização da língua indígena. O desejo de a comunidade Tupinambá voltar a falar a língua Tupi não é recente, mas foi fortalecido pelo movimento político local por volta da década de 90, quando um pequeno grupo de professores e lideranças buscaram o reconhecimento étnico por parte das autoridades, a língua acompanhou essa ação. Graduando do curso de Licenciatura em Computação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Campus Porto Seguro. 1 Professor da Licenciatura Intercultural Indígena e da Licenciatura em Computação, ambas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Campus Porto Seguro. Orientador da pesquisa. 2 Pesquisa de Iniciação Científica financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, sob os números BOL1614/2011 e BOL 2141/2012.
  • 2. A pesquisa, que culminou neste capítulo, iniciou-se em agosto de 2011, tendo duração de dois anos, e procurou trazer contribuições para o debate sobre o processo de revitalização da língua por meio do ensino na escola e também na comunidade. O recurso didático resultante destina-se à adoção da tecnologia por parte dos docentes, para uso nos laboratórios de informática existentes nas escolas indígenas das comunidades. No decorrer da pesquisa foram feitas discussões a respeito do papel da tecnologia na sociedade e na educação e visitas de campo às comunidades para conhecer as escolas indígenas e os aparatos tecnológicos nelas disponíveis. A decisão pela criação de um software educacional livre partiu da convergência entre a pesquisa de coleta de dados do professor orientador, na área de Linguística, e a pesquisa de formação na área Tecnológica, na graduação do curso de Licenciatura em Computação. O fruto desta pesquisa, o software educacional, foi nomeado de Glossário Digital Tupinambá e será apresentado detalhadamente adiante. SOBRE OS TUPINAMBÁ DO SUL DA BAHIA A comunidade indígena Tupinambá, situada nos municípios de Ilhéus, Buerarema, Una e Belmonte, etnia considerada extinta pelas autoridades brasileiras desde o século XVIII, desde muito tempo luta pelo seu reconhecimento como tal, tendo esta luta tomado maior corpo a partir do ano 2000 – no bojo das comemorações pelos 500 anos da chegado dos europeus ao Brasil. Como um dos resultados dessa luta, chegou-se ao reconhecimento étnico desse grupo em maio de 2002, através da Nota Técnica 01/CGPE/02 emitida pela Fundação Nacional do Índio. Para se chegar a esse reconhecimento, é importante lembrar que até 2003, a prática corrente, de acordo com os mecanismos desenvolvidos pelo governo para a aferição da identidade étnica, era a de elaboração de laudos por parte de antropólogos, sendo estes mecanismos considerados por antropólogos e juristas como anticonstitucionais. Em 20033, esta situação foi modificada com a adoção da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, em que a autoidentificação como indígena deverá ser considerada um critério fundamental para a definição dos grupos aos quais se aplicam as disposições da convenção (VIEGAS, 2007). Como parte desta luta, a comunidade Tupinambá ainda busca a retomada de seu território tradicional bem como de seus direitos correlatos perante o Estado brasileiro. 3 Ver Decreto № 5.051, de 19 de abril de 2004, da Presidência da República.
  • 3. Contudo para que os índios possam ser assistidos na reivindicação de seus direitos no tocante a identificação da terra indígena, é necessário a comprovação dessa identidade baseada em critérios fundamentados em teorias de identidade indígena (VIEGAS, 2007). Faz parte dessa luta também a busca da revitalização da língua Tupi, denominada por vezes como Tupinambá. Essa revitalização da língua vem como um meio de reforçar não só o reconhecimento étnico já ocorrido, mas também como forma de manutenção das tradições, da ligação da comunidade com seus antepassados e naturalmente resgatar a língua que a etnia não fala há bastante tempo. COMUNIDADE INDÍGENA, TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO Figura 1- Charge publicada no jornal Diário do Amazonas em 19/04/2012, aludindo às diferenças entre os índios de antigamente e os atuais. Fonte: http://blogs.d24am.com/jrlima/files/2012/04/indio-2-charge-opiniao- quinta-c%C3%B3pia1.jpg. Quando se fala de comunidades tradicionais, tem-se o entendimento, ainda que incorreto, que tais comunidades ficaram paradas no tempo, preservando suas tradições e sem muito ou nenhum contato com o mundo exterior e seus artefatos modernos. Ainda que algumas comunidades tenham um perfil próximo desse conceito, mas mantendo uma dinamicidade própria, fato este que deve ser fortalecido e respeitado, outras, como os Tupinambá do Sul e Extremo Sul da Bahia, mantêm suas tradições culturais e ao mesmo tempo fazem uso de tecnologia, tanto em seu modo de vida diário quanto na educação. Uma grande barreira encontrada pelos indígenas é o fato de os não-índios muitas vezes não reconhecê-los em suas especificidades, apelando para uma ideia de falta de pureza como única forma de reconhecimento, ou seja, não haveriam mais índios devido à miscigenação e mudanças de hábitos. Para tais pessoas, para serem ‘índios’ os
  • 4. indivíduos além da alegada pureza deveriam viver nus na mata como antes da chegada dos portugueses. A figura acima, ainda que retratando um típico índio norte-americano, procura mostrar a ‘diferença’ entre o índio de outrora e o de hoje. A partir dessa figura podemos fazer uma análise, ainda que superficial, dos ‘nossos’ índios pelos mesmos critérios apresentados. Na relação apresentada entre as personagens (o índio antigo e o atual) observamos que diversos hábitos modificaram-se com o passar do tempo. Na figura vemos o índio ‘antigo’ se comunicando através de sinais de fumaça e o ‘atual’ através de um computador. O índio vestido de tanga dá lugar ao índio vestido de bermuda e calçado em um tênis, alimentando-se com produto industrializado e ouvindo música com fones de ouvido. Em relação a moradia a figura não apresenta grandes mudanças (na imagem a ‘oca’ retratada é típica dos índios norte-americanos) embora a ‘oca’ do índio atual possua diversos apetrechos tecnológicos. Entre os Tupinambá podemos observar que as ocas deram lugar a casas de madeira e alvenaria, que a comunicação se dá por telefones celulares e computadores ligados à internet, que o vestuário no cotidiano é o mesmo do ‘homem branco’ e que a tecnologia está bem presente em seu contexto. No ideário de alguns, uma cultura não pode mudar, se isto ocorre ela deixa de ser autêntica. Por isso, a visão de algumas pessoas a respeito dos indígenas quanto a sua falta de pureza. O índio que conhecemos através da escola e da mídia é folclorizado (morando em ocas na floresta, de tanga ou nus, alimentando-se de caça, pesca e colheita, de arco e flecha e pintados para a guerra etc.). A visão dos mesmos morando em casas modernas e utilizando equipamentos tecnológicos parece, a alguns, algo que quebra completamente a sua ligação com o ‘modelo padrão’ do índio brasileiro de 5 séculos atrás. Seria um absurdo colocarmos a imagem do português que aqui chegou no ano de 1500 em contraste com o atual e dizer que o atual trata-se de um ex-português, visto que sua indumentária e fala, por exemplo, diferem entre o ‘antigo’ e o ‘atual’. Por que então se insiste tanto na ideia do ‘ex-índio’ ou do índio ‘impuro’? Independentemente dessa visão equivocada, iniciativas de uso da tecnologia entre os indígenas não são algo novo, pelo contrário, a tecnologia está inserida na vida de boa parte das comunidades. Há desde TV e telefones celulares a computadores e internet. Contudo a utilização da tecnologia não significa abandonar as tradições que
  • 5. são não somente o que as comunidades têm de mais valioso como também o de mais bonito (PANK, 2007). Essas comunidades sabem conciliar a tecnologia e a cultura, aproveitando essa ligação para promover o desenvolvimento, abrindo as portas para a obtenção de um conhecimento mais amplo. A internet, por exemplo, pode ser utilizada pelas comunidades para diversos fins, tais como fortalecer a cultura e as tradições e expor ao mundo suas histórias, costumes e crenças. Para Ará Pank, indígena Pankararu de Pernambuco, a tecnologia não mata a cultura dos povos indígenas, pelo contrário, a fortalece, se utilizada com responsabilidade. Ela quebra fronteiras [e] traz benefícios para os povos indígenas, além de oportunidades de expressão. Quanto aos indígenas que ainda não usufruem da tecnologia convidamos a utilizá-la com responsabilidade, consciência e sabedoria (2007, p. 24). Alguns não-índios chegam a considerar que os indígenas não são capazes de utilizar a tecnologia e ter acesso a novos conhecimentos, como se eles houvessem parado no tempo e ainda possuíssem as mesmas características de há 500 anos. Os Pankararu, por exemplo, possuem o maior número de indígenas com formação superior em diversas áreas, sendo Maria Pankararu, a primeira indígena a obter o título de doutora, “um exemplo a ser seguido pelos indígenas” (PANK, 2007, p. 25). É importante salientar que a tecnologia, descrita como a “teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana“ (HOUAISS ELETRÔNICO 3.0, 2009), não se refere apenas as normalmente nomeadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), como pode parecer a princípio, mas refere-se a todas as tecnologias que foram responsáveis por processos de desenvolvimento das sociedades, incluindo nesses processos a própria educação (BAZZO et al., 2003). As tecnologias criadas pelo ser humano, desde a roda até o computador, geraram mudanças na sua forma de comunicação, como podemos observar na invenção da escrita, da imprensa e da informatização. O surgimento dessas tecnologias causou grandes transformações no mundo, mas, muitas vezes, elas foram e ainda são fatores de exclusão e desigualdade, como, por exemplo, o caso de pessoas que não possuem acesso aos indicativos mais básicos de qualidade de vida (habitação, escolas, etc.), mas vivem cercadas de artefatos tecnológicos, sem, contudo, participar efetivamente das consequências que eles provocam. Assim, essa relação do homem com a tecnologia torna-se efetivamente mais
  • 6. um fator de desigualdade social. Ao longo da história da humanidade a tecnologia teve papel importante nos processos de evolução do ser humano, que modificou as suas relações com os seus semelhantes e com a natureza, ao transformar ao longo do tempo as formas de produzir e reproduzir os meios de sua própria sobrevivência (SAMPAIO; LEITE, 2011). A tecnologia está presente em quase todos os lugares e áreas de nossas vidas e é impossível não notar todas as mudanças aceleradas que vem ocorrendo pelo mundo. As mais diversas publicações, científicas ou não, como livros, filmes, programas de TV entre outras nos trazem a discussão a respeito do avanço tecnológico ocorrido nos últimos anos, bem como as suas consequências. O avanço tecnológico é sem dúvida uma das principais marcas do nosso tempo e atinge todos os setores da sociedade, mesmo que as relações ocorram entre classes sociais com diferentes interesses, poderes e direitos. Para Filé (2011), Os aparatos tecnológicos interessam naquilo que tem alterado nos seres humanos: a vida social, a produção da cultura, produção de outras subjetividades e alteração da ordem do conhecimento. Pensá-los entre a proposição de que eles possuem capacidade benfazeja intrínseca (TICs) e as transformações que vão produzindo (p. 32). Muitos estudiosos das ciências humanas já buscaram compreender, definir e produzir conhecimento sobre a sociedade, hoje predominantemente tecnológica. No quadro abaixo podemos ver uma síntese do que alguns desses estudiosos pensavam a respeito da ‘revolução tecnológica’ sofrida pela sociedade (SAMPAIO; LEITE, 2011, p. 30-31). Marcuse (1967) O avanço tecnológico deve ser orientado e o homem não pode deixar-se dominar pela tecnologia, para que o crescimento econômico e social seja mais qualitativo e menos desumano. Ferkiss (1972) A tecnologia é incapaz de acabar com as desigualdades sociais do sistema capitalista. Pensa o homem tecnológico em contraposição ao homem burguês da sociedade industrial. O primeiro dominaria a ciência e a tecnologia em vez de ser dominado por elas. Morais (1978) Aponta a desigualdade de distribuição dos benefícios tecnológicos e não considera a tecnologia como solução de todos os problemas.
  • 7. Fromm (1984) Não considera a tecnologia libertadora e ela somente resolverá todos os problemas quando estiver a serviço da humanidade e não de alguns grupos e nações. Frigotto (1992) A tecnologização é inerente a busca do ser humano por formas de construção de seu mundo. Lévy (1993) Considera a época atual como limítrofe, uma transição da civilização baseada na escrita e na lógica para a civilização informática. Parente (1993) As tecnologias são produtoras e produtos da subjetividade humana. Borheim (1995) A “pedagogia da máquina” refere-se ao processo de robotização do homem que passa a ser padronizado pela máquina, assimilando a dinâmica e comportamento desta. Schaff (1995) Aponta como bases da produção tecnológica, a microeletrônica, a revolução da microbiologia e a revolução energética. Esses estudiosos encaram a relação entre o homem e a tecnologia de duas formas: a tecnologia como instrumento do ato humano de trabalhar e a tecnologia como ferramenta do ato humano de pensar e construir conhecimento, nas formas de raciocínio e interpretação. Mais recentemente vemos o surgimento das chamadas Novas Tecnologias ou Tecnologias Digitais, que são definidas em diversos livros e artigos como um conjunto de recursos tecnológicos integrados que proporcionam a automação e/ou a comunicação de vários tipos de processos existentes nas mais diversas áreas, tais como negócios, ensino e pesquisa científica, bancária e financeira, etc. Essas tecnologias são utilizadas para reunir, distribuir e compartilhar informações: sites da Web, equipamentos de informática, telefonia, etc. (MENDES, 2008). Como participantes desta sociedade informacional, vivemos cercados pelas tecnologias digitais. Elas estão presentes nas TVs, computadores, tablets, equipamentos de rede, telefones celulares, computadores de bordo, micro controladores, leitores de código de barras, terminais de autoatendimento bancário, etc. Nessa sociedade tão impregnada de tecnologia, a educação não poderia ficar fora. Antes do surgimento das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (ou Tecnologias Digitais), pode-se pensar que na educação não havia a utilização de nenhum tipo de ferramenta
  • 8. tecnológica, entretanto ao considerarmos o significado mais amplo que este termo traz, percebemos que tal pensamento não se sustenta historicamente, pois “as ações dos professores para ensinar determinados conteúdos, durante um certo período de tempo, com a finalidade de alcançar determinadas metas é tecnologia” (SANCHO, 1994, p. 28 apud CORRÊA, 2006, p. 45). Veremos mais adiante que a tecnologia já vem sendo utilizada de longa data no sistema educacional. Devemos antes entender que classificar um conjunto de tecnologias e/ou métodos como ‘Novas Tecnologias’ irá depender do uso que se faz das mesmas no contexto social ou escolar. Uma tecnologia dita “inovadora” em sua cronologia ou contexto (centros urbanos) pode não ser uma inovação em um outro contexto (periferia, escola, etc.) se não produzir mudanças significativas (CORRÊA, 2006). Tomemos por exemplo o mimeógrafo, que no contexto urbano é considerado uma velha tecnologia, mas que num outro ambiente ou contexto social pode ser uma inovação, isso pelo uso que é dado a ele. Da mesma forma, uma sala de aula equipada com artefatos tecnológicos de última geração não pode ser considerada inovadora se o uso destes artefatos for feito de forma inadequada, ou seja, além de não se alcançar os objetivos propostos, também não ocorre a modificação das relações dos sujeitos envolvidos (alunos e professores). De nada adiantará propagar a ideia de uma escola com grande gama de artefatos tecnológicos a disposição do processo de ensino e aprendizagem, se este processo, com a utilização de tais artefatos, se der apenas como forma de reprodução do paradigma educacional no qual fomos formados. Usar tecnologia sem modificar as práticas docentes é dar uma roupagem de modernidade a práticas antigas (CORRÊA, 2006, p.47). No contexto da sociedade tecnológica atual caracteriza-se o que podemos chamar de Tecnologia Educacional. Sendo a escola uma instituição social cuja função é preparar cidadãos para o trabalho e para a vida, ela não pode e nem deve ficar às margens da modernidade tecnológica da sociedade, sob o risco de tornar-se uma escola defasada, desinteressante, alienada além de não cumprir com suas funções (DEMO, 1991 apud SAMPAIO; LEITE, 2011). No Brasil, a partir dos anos 60, iniciou-se nas instituições educacionais as discussões sobre a Tecnologia Educacional, que a princípio possuía um caráter tecnicista, voltado para a formação de mão-de-obra especializada para o mercado de trabalho. Esse caráter ainda perdura em muitos aspectos da educação, mas hoje ela é, ou deveria ser, voltada para a formação do homem crítico, portanto
  • 9. produtora de mudanças sociais. Nos anos de 79/80, a Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (ABT) submete um novo conceito em que define que a Tecnologia Educacional é fundamentada em uma opção filosófica, centrada no desenvolvimento integral do homem, inserido na dinâmica da transformação social. Para Luckesi (1986, apud SAMPAIO; LEITE, 2011, p. 23) este novo conceito “globaliza os três elementos fundamentais de qualquer ação humana: uma opção filosófica, uma contextualização social da ação e o uso de princípios científicos e instrumentos técnicos de transformação” social. Embora o termo Tecnologia Educacional seja recente, no decorrer do desenvolvimento da humanidade e das sociedades podemos perceber diversos artefatos que foram inovações tecnológicas nos processos educativos: as pinturas pictográficas pré-históricas nas cavernas, que foram a forma que o homem primitivo encontrou para ‘registrar’ sua história; a invenção da escrita pelos sumérios por volta de 4000 a.C, que demonstra que o homem desejava construir outras formas de comunicação; a prensa4 de Gutenberg que por volta século XV inovou a publicação de livros através da impressão de tipos móveis, livros antes escritos/copiados à mão etc. Figura 2- Ilustração metafórica onde há uma ligação entre a comunicação através de uma pictografia pré-histórica e outra tecnológica. Fonte: Google Imagens. Depois da prensa, diversos outros artefatos puderam ser destacados como inovações tecnológicas: quadros negros, livros, rádio, projetores de filmes, retroprojetores, televisão, fitas de vídeo e áudio e, mais recentemente, computadores, lousas digitais, datashows, internet, smartphones, laptops, tablets, videogames, entre 4 http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/prensa-gutenberg-435887.shtml
  • 10. outros. Contudo, devemos entender que a inovação é definida não pela cronologia da tecnologia, mas pela transformação que a tecnologia promove no meio em que é utilizada. Na tabela abaixo podemos ver as tecnologias utilizadas em ambiente escolar através dos anos. Época Tecnologia Descrição Século XVIII Quadro e giz Possibilita o aumento do número de alunos e o surgimento do professor que conhecemos hoje. Desde 1980, dividem espaço com o quadro branco e o pincel atômico. 1887 Mimeógrafo Permite a impressão de pequenas tiragens com papel carbono e álcool. Colabora principalmente com a preparação de provas, exercícios e lições de casa. 1900 Episcópio Projeta em uma tela objetos ou superfícies opacas, como fotografias e páginas de livros. Para funcionar corretamente, a sala deve estar completamente escura. 1950 Retroprojetor Com ele, o professor não precisa mais ficar de costas para a turma. Além disso, preparar as transparências é bem mais rápido do que escrever com o giz no quadro. 1971 Computador O primeiro uso em aulas no Brasil foi na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas, rapidamente, ele passa a contribuir também com o ensino para as crianças. 1984 Datashow Exibe a imagem do computador em uma tela ou na parede. Tem gerado o abandono dos demais recursos de projeção que existiram antes dele. 1990 Internet Apesar de ter sido utilizada na Guerra Fria, ela chega às escolas na década de 1990. A partir daí, revoluciona o acesso de professores e alunos à informação. 1991 Lousa Digital Reproduz a imagem do computador em uma tela sensível ao toque, na qual também é possível escrever. Com isso, deixa o antigo quadro com cara de passado. 2010 Tablet Nos Estados Unidos, existem mais de 20 mil aplicativos educativos. No Brasil, há intensa distribuição para docentes
  • 11. e alunos do Ensino Médio, com usos variados. Fonte: Revista Nova Escola, Edição Especial № 42, Julho de 2012. Desde as primeiras gerações de computadores, sempre ocorreu a busca de sua utilização no ambiente educacional. Contudo, a prática educacional difere de outras práticas sociais, como a comercial e a científica, e, portanto, requer outro tipo de abordagem. Na educação, por exemplo, existem dois tipos de usuários, o professor e o aluno, que operam por vezes quase que simultaneamente. Além disso, existem as questões pedagógicas que envolvem o processo de ensino e aprendizagem e seu alto grau de subjetividade. Portanto, a utilização da tecnologia na educação tem pelo menos dois aspectos: seu uso na interação com o conhecimento de áreas específicas e como ferramenta de apoio ao processo de ensino e aprendizagem (NETO, 2006, p. 55). O software educativo, um conjunto de recursos informáticos projetados para serem usados em contextos de ensino e aprendizagem, abrangendo finalidades diversas, desde a aquisição de conceitos até o desenvolvimento de habilidades básicas (CANO, 1998, p. 169 apud MARQUES NETO, 2006, p.55), é utilizado por alunos e professores no processo de interação com o conhecimento de uma disciplina, podendo ser utilizado para que os alunos, sob orientação do professor, promovam também a produção do conhecimento. No contexto das comunidades Tupinambá, além das tecnologias relacionadas ao seu dia a dia (televisão, áudio, vídeo, etc.), há uso das Novas Tecnologias nas escolas. Figura 3 - Modelo Monitor Educacional. Fonte: http://educar.sec.ba.gov.br/monitoreducacional Estas escolas possuem Monitores Educacionais (figura acima) que possibilita a exibição de arquivos digitalizados de áudio, imagem e vídeo, todos diretamente de uma mídia de armazenamento, o pendrive e o cartão de memória são exemplos dessas mídias.
  • 12. Também há no ambiente escolar da citada etnia data-shows, esses podem ser utilizados com notebooks e ou computadores desktop para exibição de vídeos, apresentações de slides dentre outras aplicações nas aulas. Além desses equipamentos, as escolas possuem centros digitais com diversos computadores e impressoras, e boa parte dos docentes possuem notebooks. Todos esses equipamentos fazem parte da iniciativa de uso das tecnologias e novas tecnologias como ferramentas no processo de ensino e aprendizagem. Há ainda o uso de computadores para a gestão da escola. A escola indígena Tupinambá na comunidade de Serra do Padeiro, município de Buerarema, recentemente recebeu a instalação de um link de acesso à internet. Esse novo recurso tecnológico disponibilizado, não desconhecido, mas até então ausente na comunidade e na escola, proporcionará acesso aos diversos recursos de pesquisa disponibilizados, bem como permitirá a criação de conteúdo para o ambiente da web. Esse novo portal abre um mundo de vasto conhecimento distribuído, com origem em várias partes do mundo, vários povos, vários pensadores e teóricos. É necessário contudo, muito critério ao se apropriar desse conhecimento, pois deve-se procurar sempre fontes confiáveis. Esse acesso ao ciberespaço5, ou simplesmente o ‘acesso à internet’, proporciona navegar numa rede digital que se comporta de certa forma com uma grande biblioteca/discoteca/videoteca ilustrada e que contém dentro de seu ambiente ‘estantes’ com itens virtuais que equivalem a livros, a discos, a programas de rádio, a revistas, a jornais, a folhetos, a videogames e a uma série de outras mídias, todas apresentadas de forma interligada e fluida. Esse espaço é compartilhado e a manutenção dele, parte de nossa relação com ele, é feita através da alimentação e atualização desse imenso acervo de mídias. O ciberespaço também é definido como o espaço de comunicação aberta pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século (LÉVY, 1999, p.94-95). 5 “A palavra Ciberespaço foi inventada em 1984 por Willian Gibson em seu romance de ficção Neuromancer. Neste romance o termo designa o universo de redes digitais, descrito como um campo de batalha entre multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural” (LÉVY, 1999, p. 94).
  • 13. Assim, o ciberespaço passa a ter como principal função o acesso aos diversos recursos de outros computadores. Isso ocorre de forma natural no nosso dia a dia, quando acessamos a internet para diversos fins, como pesquisar um determinado assunto, assistir vídeos e ouvir músicas, efetuar compras, enviar e-mails, ler o noticiário, escrever e/ou comentar artigos em blogs. Por haver muitas oportunidades de acesso e criação da informação no ciberespaço, as contribuições para a educação são enormes e, em particular, no processo de revitalização da língua Tupi pela comunidade Tupinambá. Mas não basta apenas ter estas ferramentas tecnológicas disponíveis na escola, é necessário que os docentes estejam preparados para fazer uso adequado delas, pois a educação nesta sociedade tecnológica requer que os indivíduos ligados a ela estejam habilitados no uso dos vários instrumentais disponibilizados pela tecnologia e que sejam capacitados a transformar as linguagens digitais em simbologias e representações construtivas, sabendo como as inserir no processo educativo. Contudo para que esses recursos sejam utilizados de forma adequada há a necessidade de revisão do processo de ensino e aprendizagem, bem como uma gestão de forma consciente tanto da pedagogia como do conhecimento em rede (FERREIRA; FRADE, 2010). Quando nos apropriamos das tecnologias digitais tendemos a alterar nossa visão geral sobre a educação e deixamos de ser meros usuários dos instrumentais disponíveis, pois a tecnologia deixa de ser só um objeto de uso e torna-se um objeto de cooperação no processo de aquisição do conhecimento. Não podemos limitar a aplicação da tecnologia na educação apenas aos seus aspectos operacionais, tais como pesquisas por parte dos alunos e apontamento de notas por parte dos professores. É necessário que o docente reflita sobre o seu ato educativo e como prover, nesse ato, momentos de experimentações, simulações e até mesmo ações de reconstrução dos processos de ensino e aprendizagem. O docente poderá, dependendo da proposta pedagógica, aplicar a tecnologia na educação tanto de forma multidisciplinar como de forma unidisciplinar. Uma ferramenta educacional, tal como a proposta por esta pesquisa, ao ser utilizada/acessada através do ciberespaço, poderá colaborar com o processo de revitalização e ensino da língua Tupinambá de uma forma dinâmica e multicultural. Sua publicação em ambiente on-line atingirá um público maior, uma vez que ultrapassará as barreiras físicas da escola e seus computadores locais, não sendo acessado apenas por indígenas, mas por toda a comunidade que ‘habita’ o ciberespaço.
  • 14. O uso da tecnologia entre os Tupinambá é algo real e palpável, isso pode ser comprovado ao assistirmos o curta-metragem Indígenas Digitais6. Neste, indígenas de diversas etnias, Tupinambá inclusive, relatam suas experiências com o uso de celulares, câmeras fotográficas, filmadoras, computadores e internet. Esses recursos são apresentados como ferramentas na busca por melhorias para os grupos, também facilitam a relação destes com o mundo globalizado. O uso da tecnologia permite-os interagir como o mundo. Permitindo, inclusive, a divulgação de suas lutas e tradições. Como exemplo, temos a produção dos livros Tupinambá e Nós Tupinambá, de autoria da própria comunidade em parceria com a ONG THYDÊWÁ, e que fazem parte da série ‘índios na visão dos índios’. Estes livros, disponíveis para download7 no site da ONG, contém relatos de experiências, da cultura, da luta, da tecnologia além de fotos. A TECNOLOGIA COMO MEDIADORA DA APRENDIZAGEM Há cerca de 15 anos, o cenário era de pressão para o uso das tecnologias em todas as áreas, inclusive na educação. Os professores sentiam medo de não terem mais lugar no mercado de trabalho caso não fossem capazes de dominá-las (COSCARELLI, 1998). Hoje, o que mudou em relação a esse cenário? Acreditamos que pouca coisa mudou deste cenário inicial, pois o uso da tecnologia tem aumentado e as pressões continuam as mesmas (em geral e na educação). Os medos dos professores continuam os mesmos. Mas nesse longo período de acomodação da tecnologia em nosso cotidiano e também na educação, quais os resultados que a informática trouxe para o processo de ensino e aprendizagem? Será que os alunos de hoje, considerados ‘nativos’ digitais, realmente aprendem mais com o uso da tecnologia ou ela apenas tem maquiado o resultado? Estas questões ainda podem continuar em aberto em alguns ambientes educacionais, mas em outros a tecnologia tem alcançado êxito ao ser utilizada como mediadora, juntamente com o professor, nos processos de ensino e aprendizagem. Recentemente o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, anunciou o investimento de cerca de R$ 150 milhões para a compra de 600 mil tablets, que serão utilizados por 6 Esse curta-metragem é o resultado da parceria da ONG Thydewá com a Cardim Projetos. Conta com o patrocínio da Oi, via Oi Futuro, e do Programa Estadual de Incentivo ao Patrocínio Cultural do Governo da Bahia, o Fazcultura. Fonte: http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI4382950-EI4802,00- Curta+sobre+comunidades+indigenas+digitais+tem+preestreia.html. Acesso em: 10/05/2013. 7 Disponível em: http://www.thydewa.org/downloads1. Acesso em: 01/08/2013.
  • 15. professores do ensino médio da rede pública de ensino (MEC, 2012). A ideia do projeto, chamado de Educação Digital, é prover não somente instrumentos, mas também formação aos professores e gestores das escolas públicas, de forma que ocorra o uso intensivo das TICs nos processos de ensino e aprendizagem. O projeto abrange o uso do computador interativo desenvolvido pelo MEC, que reúne projeção, computador, microfone, DVD, lousa digital e acesso à internet, além de abranger também o uso do tablet. Além desse aparato tecnológico o MEC disponibilizou em 2008 o Portal do Professor8, que possui um acervo de cerca de 15 mil aulas criadas por educadores, acervo este que tende a ser ampliado cada vez mais. Há sem dúvida um investimento em tecnologia para educação e esta tecnologia será mais eficiente na proporção em que houver maiores cuidados pedagógicos e maior envolvimento dos professores no processo educativo. Para o ministro Aloísio Mercadante “na educação, a inclusão [tecnológica] começa pelo professor” (MEC, 2012). Nas comunidades indígenas, a educação formal tem importante papel na reafirmação da identidade étnica, na valorização das suas línguas e no acesso ao conhecimento, possibilitando que possam ser respeitados como grupos étnicos diferenciados e tenham preservados os seus costumes, crenças e direitos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 garantiu aos indígenas o acesso ao conhecimento oriundo de uma educação própria, com programas e matrizes curriculares específicas para as comunidades. As tecnologias não podem ficar fora do contexto da educação indígena, pois sem dúvida contribuem em muito nos processos de ensino e aprendizagem e também nos processos de reafirmação étnica e cultural, entre eles o processo de revitalização da língua no caso específico dos Tupinambá. É necessário, contudo, a adequação do uso destas tecnologias aos contextos específicos da educação indígena em cada comunidade, assim a mediação nos processos de ensino e aprendizagem fluirá respeitando sempre o contexto indígena e não com a imposição de teorias específicas. GLOSSÁRIO DIGITAL TUPINAMBÁ A comunidade Tupinambá do Sul e Extremo Sul da Bahia reúne duas iniciativas relevantes – o uso da tecnologia e o processo de revitalização da língua Tupi – estes 8 O Portal do Professor foi projetado com objetivo de apoiar os professores em seus processos de formação, bem como auxiliar e enriquecer a sua prática pedagógica deles. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br. Acesso em: 30/06/2013.
  • 16. caracterizaram fator importante para a criação de um recurso didático, proposto como forma de auxiliar os professores de língua indígena, já ensinada de forma tradicional. O processo de revitalização da língua Tupi na comunidade Tupinambá tem como objetivos principais subsidiar as ações didático-educacionais desenvolvidas por professores de língua indígena e colaborar para o fortalecimento cultural dessa etnia. A comunicação entre os indivíduos nas aldeias se dá pelo uso da língua portuguesa, mas é latente o desejo que a língua Tupi volte a ser falada. Assim algumas pesquisas em andamento procuram ajudar nesse processo, como a pesquisa entre os Tupinambá de Olivença realizada por alguns professores indígenas sob a orientação da antropóloga Flávia Cristina de Mello, da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus, Bahia. A partir do processo de revitalização da língua Tupi, pela comunidade Tupinambá, a pesquisa que resultou neste capítulo, visou auxiliar a comunidade nesse processo de revitalização, propondo a catalogação de palavras faladas pelos anciãos, cujas lembranças remontam as suas infâncias, pois aprenderam tais palavras com seus pais e avós. Muitos desses vocábulos apresentam vínculo com a língua Tupi. A pesquisa, finalizada em julho de 2013, visou também o debate para a proposição de alternativas tecnológicas para armazenamento de dados e propostas de metodologias de ensino. Como a comunidade dispõe de laboratórios de informática em suas escolas, faz-se necessário a adoção de tecnologias digitais para uso nestes laboratórios, bem como propor alternativas para o processo de ensino e aprendizagem, que abranjam não apenas o ambiente escolar, mas toda a comunidade. Segundo Ferreira e Frade (2010), o recurso didático deve ser visto como ferramenta para uso reflexivo sobre o ato educativo, propiciando a professores e alunos experimentações relativas às atividades de ensino e aprendizagem, por isso o software Glossário Digital Tupinambá, também designado por GDT, não tem como função única a pesquisa de palavras. O seu uso compreende ações e projetos educacionais abrangentes que envolvam todas as disciplinas ministradas nas escolas da comunidade (português, geografia, história etc.) ou em ações isoladas que envolvam apenas a disciplina de ensino da língua Tupi. Esse uso pode ocorrer concomitante ao uso de outros softwares educacionais, tais como o HagáQuê, um editor de histórias em quadrinhos desenvolvido pelo NIEED/Unicamp9 para auxiliar no desenvolvimento da alfabetização infantil, podendo ser utilizado nas mais diversas disciplinas do ensino fundamental. O software HagáQuê foi apresentado aos professores 9 Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Unicamp. Disponível em http://www.nied.unicamp.br. Acesso em: 15/07/2013.
  • 17. da comunidade de Serra do Padeiro em um minicurso realizado em 2012. Dentre a classificação de softwares proposta por Tajra (2008, p. 50) podemos classificar o recurso digital resultante desta pesquisa na modalidade ‘Banco de Dados’, visto que sua construção possibilita o arquivamento e gerenciamento de informações, com opções de atualização e inclusão de novas palavras. Considerando o aspecto do ensino da língua, em pesquisas preliminares10, verificou-se a existência de alguns cursos de língua Tupi, presenciais e a distância, dicionários publicados ou digitalizados e alguns sites contendo algumas listas de palavras em Tupi. Em princípio, poderia ser considerado mais prático adotar um destes cursos, contudo, por tratar-se de um processo de revitalização, que inclui autoidentificação étnica, manutenção das tradições culturais com seu movimento dinâmico e o desejo da comunidade em participar ativamente do processo de volta da língua, criando seus próprios métodos para o ensino dessa, ficou claro que as alternativas existentes não proveriam as necessidades de tal processo de revitalização. Durante a pesquisa de campo ocorreram visitas à comunidade Tupinambá onde foram catalogadas diversas palavras através de entrevistas realizadas com os anciãos, moradores de Serra do Padeiro (em Buerarema/BA) e Olivença (em Ilhéus/BA). Paralelamente à pesquisa de campo e durante as entrevistas para coleta de dados, ocorreram discussões com os professores a respeito da aplicação das tecnologias da informação e comunicação nos processos de ensino e aprendizagem. Após a fase de entrevistas, as palavras coletadas foram organizadas, ordenadas alfabeticamente e iniciou-se a fase de busca das mesmas em dicionários de Tupi, cujo objetivo era verificar se as palavras coletadas possuíam origem nesse idioma, assim como verificar a similaridade entre os significados dados pelos entrevistados (significado comunitário) e os significados encontrados nos dicionários. Para essa tarefa, foram utilizados os seguintes dicionários: Dicionário da Língua Tupi - Chamada Língua Geral dos Indígenas do Brasil de A. Gonçalves Dias (1858), Pequeno Vocabulário Português-Tupi de A. Lemos Barbosa (1970), Dicionário de Tupi Antigo de Eduardo de Almeida Navarro (2006) e o Dicionário Histórico das palavras portuguesas de origem Tupi de Antonio Geraldo da Cunha (2005). Os dicionários de A. Gonçalves Dias e A. Lemos Barbosa foram obtidos na Biblioteca Digital Curt 10 Foram pesquisas feitas durante a escrita do plano de trabalho, elas se tornaram a base para os levantamentos de dados ocorridos durante a pesquisa.
  • 18. Nimuendaju11 através de download. Durante o processo de busca algumas palavras coletadas não foram encontradas nos dicionários, mesmo pesquisando-as com grafias diferentes. Algumas dessas palavras demonstraram influência africana, por isso também serviu de apoio o Novo Dicionário Banto do Brasil, de autoria de Nei Lopes. Outras permaneceram sem significado dicionarizado, constando apenas o significado dado pela comunidade. Terminada a fase de busca nos dicionários de Tupi, na qual também ocorreu a transcrição fonética das palavras, deu-se início ao processo de construção de um recurso didático digital – também chamado de software educacional, onde as palavras, seus significados, imagens referentes ao seu significado principal e sua pronúncia foram inseridas. Para a construção do software, no que se refere à interface com o usuário, foi utilizada a ferramenta de programação Delphi 7 Enterprise12. O Delphi é uma ferramenta de desenvolvimento de aplicações cliente/servidor, que também pode ser utilizada para desenvolver aplicativos de uso genérico, tais como um editor de textos, uma planilha eletrônica, um cliente de e-mail, entre outros. O Delphi é baseado na linguagem Object Pascal e foi desenvolvido em 1995 pela empresa Borland Software Corporation. A ferramenta foi comprada em 2008 pela empresa Embarcadero e atualmente encontra-se na versão denominada Delphi XE4, que possibilita o desenvolvimento de aplicativos mobile para iOS (sistema operacional para iPhone e iPad da Apple Inc) além de aplicativos para Windows e Mac (Apple). Esta ferramenta foi criada seguindo o conceito RAD (Rapid Application Development – Desenvolvimento Rápido de Aplicativos) e seu ambiente de desenvolvimento é um IDE (Integrated Development Environment – Ambiente de Desenvolvimento Integrado), que proporciona ao desenvolvedor construir a interface de programas seguindo o padrão de janelas com todas as facilidades que elas possuem, como por exemplo visualizar as telas durante o processo de desenvolvimento e podendo arrastar e soltar (organizar/alinhar) os componentes (botões, barras, frames, caixas etc.) que comporão tal interface. 11 Essa biblioteca on-line possui uma coletânea de artigos e livros raros sobre línguas e culturas indígenas sul-americanas. Disponível em: http://biblio.etnolinguistica. Acesso em: 15/12/2012. 12 Disponível em: http://www.embarcadero.com/br/products/delphi. Acesso em: 05/01/2013.
  • 19. No que se refere ao armazenamento dos dados coletados, foi utilizada a versão 1.5.6 do Firebird SQL13. O Firebird é um SGDB (Sistema Gerenciador de Banco de Dados) que trabalha nos sistemas operacionais Windows, Linux, Mac e diversos sistemas baseados em Unix. O Firebird é baseado no SGDB Interbase 6.0 da Inprise Corp, cujo código foi aberto em julho de 2000, sendo mantido desde então por uma comunidade mundial de programadores. Ele é distribuído de forma gratuita e atualmente está na versão 2.5.2. É utilizado como sistema de armazenamento de dados em diversos softwares, desde pequenas aplicações até aplicações de grande porte. Oferece diversas características tais como excelente concorrência, alta performance e suporte para stored procedures (procedimentos armazenados) e triggers (gatilhos). O software GDT foi construído de forma a auxiliar professores no processo de ensino e aprendizagem nas séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, e possui como funções principais: a) Pesquisa por palavra: exibe os significados da palavra pesquisada; b) Pesquisa parcial de palavras: busca palavras que contenham o termo parcial digitado e exibe os significados das palavras encontradas; c) Pesquisa parcial dos significados: exibe quais palavras possuem o termo pesquisado em seus significados. Além da interface de pesquisa de palavras, o software dispõe de uma interface que simula um livro, onde as páginas (duas) serão visualizadas uma após a outra e as palavras (uma por página) estão dispostas em ordem alfabética, como ocorre em um glossário impresso. Outra característica do software GDT é a possibilidade de adição de novas palavras, por parte dos docentes, pois sendo um software livre (mas sem possibilidade de alteração de seu código por outros), esse programa estará à disposição do docente para que ele mesmo possa construir sua prática pedagógica. O tipo de construção do software também permitirá utilizá-lo em uma rede de computadores (padrão cliente/servidor) onde o banco de dados estará instalado em um servidor central e não haverá necessidade de inclusão da mesma palavra várias vezes, como ocorre na opção de instalação monousuário. O GDT será utilizado nas escolas tupinambá de três comunidades: Serra do Padeiro, Olivença e Belmonte, que inicialmente deverão utilizar 13 Disponível em: http://www.firebirdsql.org. Acesso em: 05/01/2013.
  • 20. um computador central (servidor) para armazenar o banco de dados e os demais computadores (clientes) farão o acesso aos dados. Figura 4 - Ilustração de acesso em rede com servidor central. Fonte: http://www.datasolution.srv.br/DS-Infra Outra possibilidade, prevista para atualização futura, é a transposição do GDT para o ambiente web (internet), onde o banco de dados seria centralizado num servidor na nuvem14 e o acesso se daria através de um navegador de internet (Internet Explorer, Google Chrome, Mozilla Firefox etc.). Figura 5 - Ilustração de acesso de computadores à internet Fonte: http://antivirus.uol.com.br/dicas/dia-mundial- da-internet-segura.html. Uma vez portado o GDT para a web, será necessário o investimento na infraestrutura das escolas, tais como possuir uma conexão à internet, criar um domínio de internet e contratar um plano de hospedagem em um provedor, onde o banco de dados será disponibilizado para acesso através de uma página web, construída tanto para consulta quanto para administração. Essa atualização não impedirá o uso do GDT na rede local, uma vez que o banco de dados local poderá ser atualizado com os dados on- 14 “Nuvem é um termo que descreve um amplo recurso de computação disponível na internet. Não é possível saber onde a nuvem se localiza fisicamente” (LANIER, 2012, p. 32).
  • 21. line e vice-versa. Essa transposição proverá o acesso on-line, podendo ser utilizando além da própria comunidade Tupinambá, como recurso de consulta acadêmica por exemplo. A operação do GDT por parte dos docentes e alunos é bastante simples, necessitando apenas de um conhecimento básico na operação de computadores por parte destes. A tela inicial do GDT possui botões com as funções de pesquisa, livro, manutenção e informações sobre o software. Figura 6 - Botões de acesso às funções do GDT. Quando clicamos no botão ‘pesquisa’, temos acesso a tela de pesquisa (figura 7) onde podemos efetuar dois tipos de buscas: a busca por palavras (específica ou parcial) e a busca por significados (comunitário ou dicionarizado). Nesta tela também podemos ter acesso aos dados de uma palavra específica escolhendo-a em uma lista onde são exibidas todas as palavras existentes ou previamente exibidas de acordo com uma pesquisa parcial. Figura 7 -Tela inicial com todas as palavras listadas. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. A Figura 8 exemplifica uma busca ‘específica’ pela palavra ‘jequi’ que retornou a transcrição fonética, o significado comunitário, o significado dicionarizado e a imagem referentes a palavra.
  • 22. Figura 8 - Exemplo de pesquisa de uma palavra específica. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. A Figura 9 exemplifica uma busca ‘parcial’ por palavras que contenham o termo ‘capi’ em sua composição. O resultado da busca foram as palavras ‘Capim Açu’ e ‘Capivara’. Nesse caso basta escolher na lista para qual das palavras desejamos obter os dados e eles serão exibidos. Figura 9 - Exemplo de pesquisa parcial. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. A Figura 10 exemplifica uma busca nos ‘significados’ por palavras que contenham o termo ‘árvore’. O resultado da busca foram várias palavras, entre elas a palavra ‘acari’ que é a designação de um peixe conhecido por ‘cascudo’, mas que também designa uma espécie de árvore. As demais palavras exibidas são designações apenas de árvores.
  • 23. Figura 10 - Exemplo de pesquisa de significados. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. A Figura 11 exemplifica uma busca nos ‘significados’ por palavras que contenham o termo ‘pesca’. O resultado da busca foram as palavras ‘jequi’ e ‘jereré’. Figura 11 - Exemplo de pesquisa de significados. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. A Figura 12 exemplifica a tela de atualização de dados onde podemos incluir novas palavras, atualizar o significado de palavras já inseridas e incluir imagens e áudio previamente disponíveis no computador.
  • 24. Figura 12 - Tela de manutenção de dados. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. A Figura 13 exemplifica a tela onde as palavras são apresentadas em um suporte em formato de folhas de um livro, ordenadas alfabeticamente, sendo necessário apenas fazermos a passagem das páginas através dos botões que representam as ações de avançar e retroceder. Figura 13 - Tela com simulação de livro. Fonte: Glossário Digital Tupinambá. Como já elencado, o GDT pode ser utilizado em conjunto com outros softwares educacionais, a depender da prática pedagógica do professor, não só de ensino de língua indígena, mas de qualquer outra disciplina. A Figura 14 exemplifica o uso em conjunto com o software HagáQuê, onde foi criada uma página de história em quadrinhos contendo imagens e termos em Tupi e Português.
  • 25. Figura 14 - Tela do software HagáQuê utilizando palavras catalogadas. Salientamos contudo que o Glossário Digital Tupinambá não substitui as metodologias nos processos de ensino e aprendizagem construídas pelos professores, antes se propõe a auxiliá-los no processo da práxis educativa nas escolas da comunidade Tupinambá. CONSIDERAÇÕES FINAIS A tecnologia sem dúvida tem papel importante nos processos de ensino e aprendizagem, contudo devemos encará-la como um meio e não como um fim. Não há motivos para que os professores temam ser substituídos por ela, mas ao mesmo tempo não há motivos para descartá-la, visto já se encontrar presente em todas as áreas. Também devemos entender que a tecnologia por si só não produzirá mudanças se não for utilizada de forma adequada, calcada nas escolas metodológicas do docente. O computador traz informações e recursos, mas o professor necessita planejar a sua aplicação em sala de aula. O ensino diferenciado para comunidades indígenas é garantido pela legislação e muitas delas já possuem forte ligação com as tecnologias da informação e comunicação. Por isso faz-se necessário um estudo mais profundo para que essas tecnologias sejam adequadas ao contexto educacional indígena, promovendo a formação do indígena sem contudo criar um fator de negação de sua identidade e cultura. Esperamos que o Glossário Digital Tupinambá cumpra seu papel de auxiliador na prática do ensino e aprendizagem da língua Tupi nas comunidades Tupinambá. As
  • 26. comunidades, através de seus docentes, proverão um feedback valioso sobre o uso e o resultado do mesmo nos processos pedagógicos, permitindo assim que o GDT possa, caso necessário, ser modificado, sempre em consonância com as necessidades e expectativas da comunidade. A sua utilização reforçará, sem dúvidas, a importância da tecnologia aplicada à educação, na qual os educadores esperam que os modos de estudar, pesquisar e elaborar, sejam aprimorados e elevadas as estratégias de construção de oportunidades e autoria. Nesse processo, tanto os especialistas em tecnologia quando os especialistas em educação devem arquitetar em conjunto as possibilidades educacionais, aprendendo sempre uns com os outros (DEMO, 2008). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAZZO, Walter A. et al. Introdução aos estudos CTS – Ciência, Tecnologia e Sociedade. Organização dos estados Ibero-Americanos para a educação, a ciência e a cultura. Caderno de Ibero-América, 2003. BATISTA, José Carlos. Sobre o processo de recuperação do Tupinambá. Disponível em: http://linguasminoritarias.blogspot.com.br. Acesso em: 05/01/2013. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, № 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br. Acesso em: 10/01/2013. Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/gender/pub/convencao%20169%20p ortugues_web_292.pdf. Acesso em: 30/06/2013. CORRÊA, Juliane. Novas tecnologias da informação e comunicação: novas estratégias de ensino/aprendizagem. In: COSCARELLI, Carla Viana (org,). Novas Tecnologias, Novos Textos, Novas Formas de Pensar. 3ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. COSCARELLI, Carla Viana. O uso da informática como instrumento de ensino-aprendizagem. Revista Presença Pedagógica. Belo Horizonte, mar/abril, p. 36-45, 1998 COUTO, Patrícia N. A. Os Filhos de Jaci: ressurgimento étnico entre os Tupinambá de Olivença – Ilhéus – BA. Disponível em: http://www.pineb.ffch.ufba.br/downloads/12486996012003%20COUTO,%20Patricia% 20-%20Ressurgimento%20Tupinamba.pdf. Acesso em: 05/12/2012. CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário histórico das palavras portuguesas de origem Tupi. 3ed. São Paulo: Melhoramentos, 1989. DEMO, Pedro. TICs e Educação (2008). Disponível em: https://docs.google.com/document/pub?id=122YjQchoYmfKffYTaFQksphUwzyh9gOP x6FuQTBRIrU. Acesso em: 01/08/2013. FERREIRA, Márcia Helena Mesquita; FRADE, Isabel Cristina A. S. Alfabetização e letramento em contextos digitais. In: RIBEIRO, Ana Elisa (org. et al.). Linguagem, tecnologia e educação. São Paulo: Peirópolis, 2010.
  • 27. FILÉ, Valter. Novas tecnologias, antigas estruturas de produção de desigualdades. In: FREIRE, Wendel (org.). Tecnologia e educação: as mídias na prática docente. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Wak, 2011. LANIER, Jaron. Bem-vindo ao Futuro: uma visão humanista sobre o avanço da tecnologia. São Paulo: Saraiva, 2012. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. MEC. Ministério distribuirá tablets a professores do ensino médio. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=17479. Acesso em: 01/07/2013. MELLO, Flávia Cristina de. Uma investigação sobre a bibliografia histórica e o atual processo de revitalização da língua tupinambá. Disponível em: http://www.uesb.br/eventos/c-indy/caderno%20de%20resumos.pdf. Acesso em: 06/06/2013. MENDES, Alexandre. TIC-Muita gente está comentando, mas você sabe o que é? Disponível em: http://imasters.com.br/artigo/8278/gerencia-de-ti/tic-muita-gente-esta-comentando- mas-voce-sabe-o-que-e/. Acesso em: 22/06/2013. NAVARRO, Eduardo de Almeida. Dicionário de Tupi Antigo: a língua indígena clássica do Brasil (Tese de livre-docência). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006. MARQUES NETO, Humberto Torres. A tecnologia da informação na escola. In: COSCARELLI, Carla Viana (org.). Novas Tecnologias, Novos Textos, Novas Formas de Pensar. 3ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. PANK, Ará. Tecnologia e Tradição. In: KARIRI-XOCÓ, Nhenety (org. et al.). @rco Digital: uma rede para aprender a pescar. Ministério da Cultura e Instituto Oi Futuro. Maceió, 2007. PANK, Taíná. Diálogo Intercultural. In: KARIRI-XOCÓ, Nhenety (org. et al.). @rco Digital: uma rede para aprender a pescar. Ministério da Cultura e Instituto Oi Futuro. Maceió, 2007. PESSOA, Maria do Socorro. Sociolinguística aplicada ao ensino/aprendizagem de língua portuguesa. Disponível em: www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/slp15/01.pdf. Acesso em: 05/12/2012. SAMPAIO, Mariza Narcizo; LEITE, Lígia Silva. Alfabetização Tecnológica do Professor. 9 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. SCACHETTI, Ana Lígia (org.). Guia de Tecnologia na educação. São Paulo: Fundação Victor Civita, 2012. TAJRA, Sanmya Feitosa. Informática na Educação: novas ferramentas pedagógicas para o professor na atualidade. 8 ed. São Paulo: Érica, 2008. TUPINAMBÁ, Magno. Relatório de Denúncia. Disponível em: http://www.indiosonline.net/relatorio_de_denuncia. Acesso em: 20/09/2012. VIEGAS, Suzana de Matos. Terra Calada: os Tupinambá na Mata Atlântica do Sul da Bahia. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007.