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A DIFERENÇA ESTÁ
NA ATENÇÃO
AO PORMENOR
Partidas, chegadas e muitas histórias sem fronteiras
Pontos de encontro
M
esmo quem acha
que não se deve
perder muito tempo
com hotéis, é
possível que já tenha
ouvido falar de Kit
Kemp, a premiada
designer de
interiores britânica que, juntamente com o
seu marido Tim Kemp, fundou, em 1985, a
cadeia Firmdale – um negócio familiar e não
corporativo, como ela insiste sempre em
frisar, por mais que o grupo contabilize sete
unidades só em Londres, onde os Kemp vivem
e trabalham, e mais uma em Nova Iorque.
Mas, dizíamos nós, é muito provável que, no
mínimo, já tenha reparado num dos hotéis as-
sinados por Kit (o marido ocupa-se da gestão;
ela do processo criativo). É que além de
pequenos, e por regra situados em edifícios
históricos e bairros carismáticos, eles
possuem sempre um restaurante
e/ou um bar que depressa se tornam ponto de
encontro dos próprios locais. Não falha um,
pelo que até o mais novo da prole, o Dorset
Square Hotel, inaugurado em meados de 2012
(e que a VM apresentou na secção «Em Alta»
da edição de agosto), já se pode gabar de ter
um dos pequenos-almoços mais concorridos
de Marylebone.
Outra caraterística impactante nos hotéis
Firmdale é que Kit, amante confessa da cor,
estampas e texturas fortes, imprime-lhes
uma certa dramaticidade à antiga inglesa,
que só não chega a ficar over porque é tem-
perada com rasgos contemporâneos e por
marcas registados como as peças de arte
ou os manequins de alfaiate.
Sempre a mil, Kit encontrou tempo, entre
um hotel e outro, para lançar o seu primeiro
livro de interiores e desenhar uma coleção
de tecidos para a ChelseaTextiles e outra de
tapetes para a Christopher Farr. Depois, há
as constantes viagens, que lhe servem para
recuperar forças – nos fins de semana foge
de Londres e refugia-se no campo, junto às
praias desertas de Hampshire, com a família
e os cães – e de inspiração – não resiste a
perambular por lojas que descobre em des-
tinos como Biarritz ou Udaipur, onde ficam
L’Hotel du Palais e o Oberoi Udaivilas, dois
hotéis de que gosta particularmente.
Quando se tem uma entrevistada apaixonada
pelo que faz como Kit, e o tema dá pano
para mangas, a conversa corre solta, mas é
sempre bom saber que, quase na reta final,
esta não se fez rogada em dividir connosco
pormenores ainda pouco divulgados dos seus
próximos hotéis. Sim, a família Firmdale está
prestes a aumentar e estão já a caminho,
pelo menos, mais duas novas unidades:
a oitava de Londres (de cem quartos, com
uma avenida pelo meio e uma tela gigante
do pintor britânico Sir Howard Hodgkin) e a
segunda de Nova Iorque (na 56th St, entre a
5th e a 6th Avenues). Nada mal.
Kit Kemp
“
”
«MARCAMOS A
DIFERENÇA NA ATENÇÃO
AO PORMENOR, E POR
SE TRATAR DE UM
NEGÓCIO FAMILIAR E
NÃO CORPORATIVO. NÓS
TROUXEMOS O INDIVÍDUO
DE VOLTA ÀS VIAGENS.»
O Dorset Square é o benjamim do
grupo Firmdale. Como define a sua
personalidade?
É um edifício de estilo regency, construído
ao lado do primeiro campo de críquete,
pelo que me diverti a trazer para o hotel
toda a memorabilia ligada a este desporto
de elites e a usar, inclusive, tons bastante
«robustos», como paprika, rosa-averme-
lhado, cinzento-metálico ou roxo.
Os hoteleiros, diferentemente da maioria
dos pais, conseguem dizer qual é favorito
da sua prole de hotéis?
Eu sou incapaz de o fazer – é como se
fossem meus filhos! Há em cada um deles
apontamentos que adoro. No Charlotte
Street Hotel, por exemplo, amo a refe-
rência ao grupo Bloomsbury [que reuniu
artistas, intelectuais e escritores como
Virginia Woolf ou John Maynard Keynes];
no Covent Garden Hotel, gosto da sua dra-
maticidade à antiga inglesa; no The Soho
Hotel, o frenesim dos media e a atmosfera
de cinema; no Haymarket, a qualidade es-
cultural como contraponto aos elementos
da arquitetura de John Nash [entre outras
coisas, ele desenvolveu o projeto do Regent
Park, em Londres]; no Knightsbridge Hotel,
a elegância, o chique, as compras; no Num-
ber Sixteen, o seu maravilhoso jardim; no
Crosby Street Hotel, o seu chique urbano e
a temática mad dog.
Entre outras coisas, Kit é conhecida por
ter imprimido, em matéria de decoração,
um novo twist ao estilo britânico. Com tan-
tos novos hotéis em Londres, onde e como
os da marca Firmdale fazem a diferença?  
Na nossa atenção ao pormenor, e por se
tratar de um processo de criação original
– é um negócio familiar e não corporativo.
Nós trouxemos o indivíduo de volta ao mun-
do das viagens.
A Firmdale tem uma ligação especial com
Londres. Como foi a experiência de lançar
o Crosby em Nova Iorque?
Foi intimidador e desafiador, mas consegui
encher dois armazéns com coisas para o
37Volta ao Mundo novembro 2012
hotel mesmo antes de abrir. Foi maravilho-
so encontrar um tipo diferente de pessoas.
Por falar nisso, como é o seu processo de
criação? Depois de todos estes anos, sabe
de antemão o que funciona (ouvimos dizer
que faz questão de ter fotos de todas as
divisões do hotel)?
O meu processo de criação varia muito em
função da localização e do tipo de arquitetura
do bairro onde vai ficar o hotel, já que Lon-
dres acaba por ser um somatório de aldeias.
Amo a cor e a textura, pelo que o resultado
final terá de ser colorido e despojado.
Entrevista Kit Kemp
38 Volta ao Mundo novembro 2012
Isso leva-nos à seguinte pergunta: o que
mais odeia nos hotéis?
Odeio quando, por termos noção do proces-
so e da fórmula de se ser hóspede, isso nos
rouba o prazer individual da descoberta,
da viagem.
Hotéis são mais do que meros lugares
para dormir, nalguns casos chegam a ser
uma experiência lúdica, mas concorda que,
feitas as contas, uma boa cama continua a
ser o que mais conta para o hóspede?
De facto, no final tudo se resume a uma
boa cama, mesas de cabeceira funcionais,
boa iluminação e um sítio confortável para
se sentar. E ainda um chuveiro potente.
Não há mistérios.
Ainda assim, a arte desempenha um papel
principal nos seus hotéis. Qual é o critério
de seleção? Sabemos, por exemplo, que
adora descobrir a história de uma pintura…
A arte é muito importante e sempre me
surpreendo pelo conhecimento e quão in-
formados a respeito disso estão os nossos
hóspedes. Possuo algumas peças muito
valiosas, mas igualmente outras que não
o são de todo. É um tipo de arte em que
coloco um pouco do coração e da alma.
Mudando de assunto, eventos como os
recentes Jogos Olímpicos funcionam como
ponto de viragem para Londres?
Ponto de viragem não direi, mas foi muito
divertido e viveu-se uma atmosfera incrível
na cidade.
Não resistimos… será que já pode
revelar-nos alguns pormenores do seu
próximo projeto?
Chamar-se-á Ham Yard Hotel – terá um
jardim muito bonito e estou animada com
o espaço ao ar livre de que vamos dispor
no telhado e no terraço. Vai também incluir
uma brasserie, um cinema, um estaciona-
mento, lojas e até uma pista de bowling…
Só falta dizer-nos onde fica...
Perto de Regent Street.
Kit Kemp foi intrevistada por João Miguel
Simões
«NO FINAL TUDO SE
RESUME A UMA BOA CAMA,
MESAS DE CABECEIRA
FUNCIONAIS, BOA
ILUMINAÇÃO, UM CHUVEIRO
POTENTE (...) NÃO HÁ
MISTÉRIOS.»
LIBRARY-NUMBERSIXTEEN
O novo livro
«Chama-se A Living Space e procurei
que fosse um livro do tipo «dá para
fazer», em que revelo muitos dos meus
truques em decoração e as várias
influências que sofri.»
O livro de 260 páginas foi lançado em
outubro de 2012 pela Hardie Grant
Books e pode ser encomendado online
na Amazon. Em 2010, o mesmo título
havia sido usado para uma exposição
com artesãos britânicos que teve Kit
como curadora.
SIMONBROWN
COVENTGARDENHOTEL
39Volta ao Mundo novembro 2012
«ADORO O CAMPO, ONDE
POSSO MONTAR A CAVALO,
PASSEAR OS MEUS CÃES E
ESTAR EM COMUNHÃO COM
A NATUREZA. QUANDO NÃO
POSSO, OPTO PELO HYDE
PARK, EM LONDRES.»
EM
TRÂNSITO
MUNDO
AFORA
Não viaja sem...
Toda a minha bagagem deve ter rodas e
uma cor que a distinga das demais, caso
contrário perde-se. Não passo sem etique-
tas de bagagem bonitas, sem uma mala
de mão prática com fechos de segurança e
sem um bom livro.
A sua Londres (cinco lugares ou coisas de
que gosta especialmente na cidade)
Anthropologie
Descobri estas lojas incríveis em Regents
Street e na Kings Road. Possui vestuário do
tipo arts and crafts e artigos como toalhas
de chá bordadas, almofadas e cerâmicas
pintadas à mão. Têm ainda peças de
mobiliário estranhas e fora do comum,
bem como livros empilhados e camisas
de algodão coloridas. Tornam o ato da
compra algo divertido e curioso.
anthropologie.eu
Exhibition Road
Há uma série de esculturas de Tony Cragg
que foram erigidas ao longo desta via e
adoro ficar a observar a expressão das pes-
soas que por ali passam. Muitas ficam intri-
gadas com o que veem e tentam colocar
algum sentido naquelas enormes peças de
bronze. Outras, sobretudo as mais velhas
que sempre carregam sacos de compras,
entretêm-se mesmo a ler com muita aten-
ção as suas etiquetas. Gosto muito delas.
Outra coisa de que gosto é do London
Design Festival, que decorre junto ao
Victoria & Albert Museum e sempre inclui
na programação palestras interessantes.
vam.ac.uk; tony-cragg.com
Temporadas
Tento não perder a Fairs and Exhibitions e
ir a todas as produções da temporada de
ballet na Royal Opera House. A Royal Opera
House encontra-se no lugar de um antigo
mercado de fruta e hortaliça e a estrutura
de vidro, hoje conhecida como Paul Hamlyn
Hall, é deliciosa para ficarmos ali sentados.
Se certos edifícios pudessem falar! Ah, e já
agora, vale a pena dar um pulo à Brasserie
Max, no nosso Covent Garden Hotel, para
uma ceia antes do espetáculo.
roh.org.uk
firmdalehotels.com/london/covent-garden-
-hotel/covent-garden-braserie-max
Serpentine
Gosto de tomar o pequeno-almoço no pavi-
lhão Serpentine e ficar a ver os nadadores
que madrugam e abrem caminho entre os
patos, emergindo depois todos corados.
Mesmo no outono, quando faz sol, é possível
sentarmo-nos no exterior, bem agasalhados.
serpentinegallery.org 
Tate Modern
Nunca desaponta. E já que estamos nesta
parte de Londres, podemos ir ao Globe
Theatre e assistir à peça Twelfth Night.
tate.org.uk/visit/tate-modern
shakespearesglobe.com/
Destinos/lugares debaixo de mira
Edinburgh Festival; ioga em Puglia, Itália;
Nova Iorque para as compras de Natal;
e Barbados no Natal.
Lugares/cidades que fazem parte da sua
geografia afetiva 
Adoro o campo, onde posso montar a
cavalo, passear os meus cães e estar em
comunhão com a natureza. Quando não
posso, opto pelo Hyde Park, em Londres.
 
Em viagem, como escolhe os lugares que
frequenta? Pesquisa, pede dicas ou deixa-
-se levar pelo instinto?
Um pouco das três; continuo a aprender, a
manter a mente aberta em relação a expe-
rimentar coisas novas. JMS
SIMONBROWN
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Kit Kemp-Volta ao Mundo Nov 2012

  • 1. 36 A DIFERENÇA ESTÁ NA ATENÇÃO AO PORMENOR Partidas, chegadas e muitas histórias sem fronteiras Pontos de encontro M esmo quem acha que não se deve perder muito tempo com hotéis, é possível que já tenha ouvido falar de Kit Kemp, a premiada designer de interiores britânica que, juntamente com o seu marido Tim Kemp, fundou, em 1985, a cadeia Firmdale – um negócio familiar e não corporativo, como ela insiste sempre em frisar, por mais que o grupo contabilize sete unidades só em Londres, onde os Kemp vivem e trabalham, e mais uma em Nova Iorque. Mas, dizíamos nós, é muito provável que, no mínimo, já tenha reparado num dos hotéis as- sinados por Kit (o marido ocupa-se da gestão; ela do processo criativo). É que além de pequenos, e por regra situados em edifícios históricos e bairros carismáticos, eles possuem sempre um restaurante e/ou um bar que depressa se tornam ponto de encontro dos próprios locais. Não falha um, pelo que até o mais novo da prole, o Dorset Square Hotel, inaugurado em meados de 2012 (e que a VM apresentou na secção «Em Alta» da edição de agosto), já se pode gabar de ter um dos pequenos-almoços mais concorridos de Marylebone. Outra caraterística impactante nos hotéis Firmdale é que Kit, amante confessa da cor, estampas e texturas fortes, imprime-lhes uma certa dramaticidade à antiga inglesa, que só não chega a ficar over porque é tem- perada com rasgos contemporâneos e por marcas registados como as peças de arte ou os manequins de alfaiate. Sempre a mil, Kit encontrou tempo, entre um hotel e outro, para lançar o seu primeiro livro de interiores e desenhar uma coleção de tecidos para a ChelseaTextiles e outra de tapetes para a Christopher Farr. Depois, há as constantes viagens, que lhe servem para recuperar forças – nos fins de semana foge de Londres e refugia-se no campo, junto às praias desertas de Hampshire, com a família e os cães – e de inspiração – não resiste a perambular por lojas que descobre em des- tinos como Biarritz ou Udaipur, onde ficam L’Hotel du Palais e o Oberoi Udaivilas, dois hotéis de que gosta particularmente. Quando se tem uma entrevistada apaixonada pelo que faz como Kit, e o tema dá pano para mangas, a conversa corre solta, mas é sempre bom saber que, quase na reta final, esta não se fez rogada em dividir connosco pormenores ainda pouco divulgados dos seus próximos hotéis. Sim, a família Firmdale está prestes a aumentar e estão já a caminho, pelo menos, mais duas novas unidades: a oitava de Londres (de cem quartos, com uma avenida pelo meio e uma tela gigante do pintor britânico Sir Howard Hodgkin) e a segunda de Nova Iorque (na 56th St, entre a 5th e a 6th Avenues). Nada mal. Kit Kemp “ ”
  • 2. «MARCAMOS A DIFERENÇA NA ATENÇÃO AO PORMENOR, E POR SE TRATAR DE UM NEGÓCIO FAMILIAR E NÃO CORPORATIVO. NÓS TROUXEMOS O INDIVÍDUO DE VOLTA ÀS VIAGENS.» O Dorset Square é o benjamim do grupo Firmdale. Como define a sua personalidade? É um edifício de estilo regency, construído ao lado do primeiro campo de críquete, pelo que me diverti a trazer para o hotel toda a memorabilia ligada a este desporto de elites e a usar, inclusive, tons bastante «robustos», como paprika, rosa-averme- lhado, cinzento-metálico ou roxo. Os hoteleiros, diferentemente da maioria dos pais, conseguem dizer qual é favorito da sua prole de hotéis? Eu sou incapaz de o fazer – é como se fossem meus filhos! Há em cada um deles apontamentos que adoro. No Charlotte Street Hotel, por exemplo, amo a refe- rência ao grupo Bloomsbury [que reuniu artistas, intelectuais e escritores como Virginia Woolf ou John Maynard Keynes]; no Covent Garden Hotel, gosto da sua dra- maticidade à antiga inglesa; no The Soho Hotel, o frenesim dos media e a atmosfera de cinema; no Haymarket, a qualidade es- cultural como contraponto aos elementos da arquitetura de John Nash [entre outras coisas, ele desenvolveu o projeto do Regent Park, em Londres]; no Knightsbridge Hotel, a elegância, o chique, as compras; no Num- ber Sixteen, o seu maravilhoso jardim; no Crosby Street Hotel, o seu chique urbano e a temática mad dog. Entre outras coisas, Kit é conhecida por ter imprimido, em matéria de decoração, um novo twist ao estilo britânico. Com tan- tos novos hotéis em Londres, onde e como os da marca Firmdale fazem a diferença?   Na nossa atenção ao pormenor, e por se tratar de um processo de criação original – é um negócio familiar e não corporativo. Nós trouxemos o indivíduo de volta ao mun- do das viagens. A Firmdale tem uma ligação especial com Londres. Como foi a experiência de lançar o Crosby em Nova Iorque? Foi intimidador e desafiador, mas consegui encher dois armazéns com coisas para o 37Volta ao Mundo novembro 2012 hotel mesmo antes de abrir. Foi maravilho- so encontrar um tipo diferente de pessoas. Por falar nisso, como é o seu processo de criação? Depois de todos estes anos, sabe de antemão o que funciona (ouvimos dizer que faz questão de ter fotos de todas as divisões do hotel)? O meu processo de criação varia muito em função da localização e do tipo de arquitetura do bairro onde vai ficar o hotel, já que Lon- dres acaba por ser um somatório de aldeias. Amo a cor e a textura, pelo que o resultado final terá de ser colorido e despojado.
  • 3. Entrevista Kit Kemp 38 Volta ao Mundo novembro 2012 Isso leva-nos à seguinte pergunta: o que mais odeia nos hotéis? Odeio quando, por termos noção do proces- so e da fórmula de se ser hóspede, isso nos rouba o prazer individual da descoberta, da viagem. Hotéis são mais do que meros lugares para dormir, nalguns casos chegam a ser uma experiência lúdica, mas concorda que, feitas as contas, uma boa cama continua a ser o que mais conta para o hóspede? De facto, no final tudo se resume a uma boa cama, mesas de cabeceira funcionais, boa iluminação e um sítio confortável para se sentar. E ainda um chuveiro potente. Não há mistérios. Ainda assim, a arte desempenha um papel principal nos seus hotéis. Qual é o critério de seleção? Sabemos, por exemplo, que adora descobrir a história de uma pintura… A arte é muito importante e sempre me surpreendo pelo conhecimento e quão in- formados a respeito disso estão os nossos hóspedes. Possuo algumas peças muito valiosas, mas igualmente outras que não o são de todo. É um tipo de arte em que coloco um pouco do coração e da alma. Mudando de assunto, eventos como os recentes Jogos Olímpicos funcionam como ponto de viragem para Londres? Ponto de viragem não direi, mas foi muito divertido e viveu-se uma atmosfera incrível na cidade. Não resistimos… será que já pode revelar-nos alguns pormenores do seu próximo projeto? Chamar-se-á Ham Yard Hotel – terá um jardim muito bonito e estou animada com o espaço ao ar livre de que vamos dispor no telhado e no terraço. Vai também incluir uma brasserie, um cinema, um estaciona- mento, lojas e até uma pista de bowling… Só falta dizer-nos onde fica... Perto de Regent Street. Kit Kemp foi intrevistada por João Miguel Simões «NO FINAL TUDO SE RESUME A UMA BOA CAMA, MESAS DE CABECEIRA FUNCIONAIS, BOA ILUMINAÇÃO, UM CHUVEIRO POTENTE (...) NÃO HÁ MISTÉRIOS.» LIBRARY-NUMBERSIXTEEN O novo livro «Chama-se A Living Space e procurei que fosse um livro do tipo «dá para fazer», em que revelo muitos dos meus truques em decoração e as várias influências que sofri.» O livro de 260 páginas foi lançado em outubro de 2012 pela Hardie Grant Books e pode ser encomendado online na Amazon. Em 2010, o mesmo título havia sido usado para uma exposição com artesãos britânicos que teve Kit como curadora. SIMONBROWN COVENTGARDENHOTEL
  • 4. 39Volta ao Mundo novembro 2012 «ADORO O CAMPO, ONDE POSSO MONTAR A CAVALO, PASSEAR OS MEUS CÃES E ESTAR EM COMUNHÃO COM A NATUREZA. QUANDO NÃO POSSO, OPTO PELO HYDE PARK, EM LONDRES.» EM TRÂNSITO MUNDO AFORA Não viaja sem... Toda a minha bagagem deve ter rodas e uma cor que a distinga das demais, caso contrário perde-se. Não passo sem etique- tas de bagagem bonitas, sem uma mala de mão prática com fechos de segurança e sem um bom livro. A sua Londres (cinco lugares ou coisas de que gosta especialmente na cidade) Anthropologie Descobri estas lojas incríveis em Regents Street e na Kings Road. Possui vestuário do tipo arts and crafts e artigos como toalhas de chá bordadas, almofadas e cerâmicas pintadas à mão. Têm ainda peças de mobiliário estranhas e fora do comum, bem como livros empilhados e camisas de algodão coloridas. Tornam o ato da compra algo divertido e curioso. anthropologie.eu Exhibition Road Há uma série de esculturas de Tony Cragg que foram erigidas ao longo desta via e adoro ficar a observar a expressão das pes- soas que por ali passam. Muitas ficam intri- gadas com o que veem e tentam colocar algum sentido naquelas enormes peças de bronze. Outras, sobretudo as mais velhas que sempre carregam sacos de compras, entretêm-se mesmo a ler com muita aten- ção as suas etiquetas. Gosto muito delas. Outra coisa de que gosto é do London Design Festival, que decorre junto ao Victoria & Albert Museum e sempre inclui na programação palestras interessantes. vam.ac.uk; tony-cragg.com Temporadas Tento não perder a Fairs and Exhibitions e ir a todas as produções da temporada de ballet na Royal Opera House. A Royal Opera House encontra-se no lugar de um antigo mercado de fruta e hortaliça e a estrutura de vidro, hoje conhecida como Paul Hamlyn Hall, é deliciosa para ficarmos ali sentados. Se certos edifícios pudessem falar! Ah, e já agora, vale a pena dar um pulo à Brasserie Max, no nosso Covent Garden Hotel, para uma ceia antes do espetáculo. roh.org.uk firmdalehotels.com/london/covent-garden- -hotel/covent-garden-braserie-max Serpentine Gosto de tomar o pequeno-almoço no pavi- lhão Serpentine e ficar a ver os nadadores que madrugam e abrem caminho entre os patos, emergindo depois todos corados. Mesmo no outono, quando faz sol, é possível sentarmo-nos no exterior, bem agasalhados. serpentinegallery.org  Tate Modern Nunca desaponta. E já que estamos nesta parte de Londres, podemos ir ao Globe Theatre e assistir à peça Twelfth Night. tate.org.uk/visit/tate-modern shakespearesglobe.com/ Destinos/lugares debaixo de mira Edinburgh Festival; ioga em Puglia, Itália; Nova Iorque para as compras de Natal; e Barbados no Natal. Lugares/cidades que fazem parte da sua geografia afetiva  Adoro o campo, onde posso montar a cavalo, passear os meus cães e estar em comunhão com a natureza. Quando não posso, opto pelo Hyde Park, em Londres.   Em viagem, como escolhe os lugares que frequenta? Pesquisa, pede dicas ou deixa- -se levar pelo instinto? Um pouco das três; continuo a aprender, a manter a mente aberta em relação a expe- rimentar coisas novas. JMS SIMONBROWN KNIGHTSBRIDGEHOTEL