1. 19. Havia um homem que era rico e vestia-se de púrpura e de linho muito fino, e vivia cada dia
esplendidamente.
20. Um pobre, chamado Lázaro, coberto de úlceras, ficava deitado à porta da casa do rico,
21. desejando alimentar-se dos pedaços que caiam da mesa do rico. Ainda por cima, os cães
vinham lamber-lhe as chagas.
22.Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão e morreu
também o rico e foi sepultado.
23. E no Hades, o rico, estando em tormentos, levantou os olhos e viu de longe Abraão com
Lázaro junto dele,
24. e gritando disse: “Pai Abraão, tem piedade de mim e envia Lázaro para que ele molhe a
ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou torturado nesta chama”.
25. Então Abraam disse: “Filho, lembra-te que tu recebeste os teus bens (ta agatha) na tua vida,
e Lázaro, do mesmo modo, [recebeu] as coisas más (ta kaka). Agora, pois, aqui ele é confortado
e tu estás a sofrer.
26. Mas acima de tudo, foi fixado um grande abismo entre nós e vós para que os que quiserem
passar daqui para vós não o possam fazer e do vosso lado não podem vir até nós”.
27. Mas ele [o rico] disse: “Peço-te, então, que o mandes à casa do meu pai,
28. porque tenho cinco irmãos, a fim de que os alerte e não venham parar a este lugar de
tormento.
29. Disse Abraão: “Eles têm Moisés e os Profetas: que os escutem!”
30. Aquele [o rico] disse: “”Não, Pai Abraão, mas se algum dos mortos se apresentasse a eles,
eles se arrependeriam”.
31. Disse-lhe [Abraão]: Se eles não ouvem Moisés e os Profetas também não seriam
convencidos se alguém de entre os mortos ressuscitasse”.
Duas condições (v. 19-21)
A parábola começa por nos apresentar duas personagens que vivem em condições materiais e
sociais muito diferentes. Parece-me que, para nós, leitores da parábola neste século XXI,
podermos envolver-nos no que se vai passar, é útil tentar perceber o que podia significar para os
primeiros ouvintes de Jesus e pode significar para nós ser rico ou ser pobre.
No grego em que o manuscrito original está escrito a palavra que traduzimos por “rico” é
transliterada em plousios e a que traduzimos por “pobre” é ptochos (leia-se ptokos) e são as
mesmas palavras que aparecem em Mateus 19:23; Lucas 6:24 e Apocalipse 13:16, entre outros
textos. O rico da parábola é descrito como alguém que veste esplendorosamente, faz banquetes
todos os dias e habita em casa que se imagina apalaçada. Ao pobre da história falta tudo: falta-
lhe a saúde, falta-lhe alimentação, falta-lhe trabalho, deduz-se que lhe falta também casa onde
dormir. Os artistas que ilustram esta parábola põem-no também nu, o que o texto não refere,
mas é uma hipótese aceitável, como contraste das vestes do rico. Digamos que o rico da
parábola representa o tipo de pessoa que vive o que se pode chamar uma boa vida e o pobre é
o seu reverso
Em algumas versões do Novo Testamento, o ptochos de Lucas 16:20 é traduzido por mendigo
ou pedinte, mas a palavra “pobre” que, como vimos nos textos acima indicados, cobre mais
situações, é mais adequada. O mesmo evangelista refere o discurso que em Mateus chamamos
Sermão da Montanha, e na boca de Jesus aparecem estas palavras: “Bem-aventurados os
pobres (ptochoi), porque vosso é o Reino de Deus”. Totalmente diferente seria o sentido destas
palavras se ali se dissesse “Bem-aventurados os mendigos” ou “Bem-aventurados os pedintes”.
A tradução de uma língua como o hebraico ou como o grego comum tem sempre de ter em conta
o contexto. No caso de Lázaro, é verdade que a sua situação de pobre está no limite que é a
mendicância, mas a parábola tem de ver também com todas as pessoas que podem ser
alcançadas pela designação de pobres, mesmo sem se encontrarem no limite do mendigo. Nos
nossos dias, tem havido o cuidado de assinalar quais são as condições em que uma pessoa
pode ser chamada em estado de pobreza e conclui-se que é pobre a pessoa que não consegue
satisfazer em si ou no seu núcleo familiar mais direto as necessidades básicas de uma vida, que
são: a alimentação, a habitação, a saúde e as vestes com que cubra dignamente o seu corpo.
2. Numa perspetiva mais exigente para a dignidade humana, fala-se também da necessidade
cultural e de recreação.
Deve dizer-se que há comentadores que consideram inadequado chamar “parábola” à história do
rico e de Lázaro, mas que ela deve ser considerada uma história verídica que Jesus contou.
Argumentam tais comentadores que nas histórias que são claramente parábolas nenhuma
personagem tem nome, o que não acontece aqui com o pobre, que se chama Lázaro. Veremos
mais adiante que o nome da personagem é, de facto, a chave para a compreensão desta
história, mas que é também o que justifica que a ela se chame parábola, sendo essa a
designação dada às histórias criadas para ilustrarem ensino do Mestre.
Pode ver-se nesta parábola uma expressão da polémica que nos Evangelhos Jesus tem com os
fariseus. O homem rico será, nessa interpretação, o representante do Farisaísmo, que era o
partido religioso mais forte da época. Na verdade, o Farisaísmo caracteriza-se na atenção
elevada que dá à sua imagem, o cuidado com as suas vistosas túnicas, a ostentação. O que o
versículo 19 diz dessa personagem condiz bem com a figura do chefe fariseu retratado nos
Evangelhos.
Mas quem é Lázaro nessa perspetiva? É preciso saber que o nome Lázaro é a latinização do
nome hebreu Eliazer e este nome significa “Deus é auxílio”. Lázaro, como símbolo, é, nesta
interpretação, o contraponto do rico auto-suficiente, porque é o homem que, ao contrário de
confiar em si mesmo, só conta com o auxílio de Deus. Lázaro representa, nesta interpretação,
um estilo de vida que apenas espera no Senhor.
O perigo dessa interpretação que vê aí a polémica contra o Farisaísmo é ficarmos pela polémica
do passado e não colhermos o que há nela de mais desafiante para qualquer tempo, incluindo o
nosso. O que interessa perceber é que cada personagem significa para nós, hoje um modo de
estar na vida. O homem rico é-nos apresentado como alguém que se reveste de roupas
riquíssimas e que vive regaladamente todos os dias. É, por assim dizer, a expressão de uma
vida de ostentação. Hoje ninguém, no mundo ocidental, pelo menos, deseja vestir-se de púrpura
e linho finíssimo, mas sonha com fatos caríssimos, de famosos alfaiates, vida regalada, carros
sumptuosos. Se pensarmos bem, veremos que ele é a própria ilustração do pecado. A essência
do pecado é o orgulho, o homem a colocar-se no centro de tudo. Até Deus é posto ao serviço do
homem. Martinho Lutero definiu o pecado como sendo “o homem dobrado sobre si mesmo”
(incurvatus in se), ou como dizem os povos de língua inglesa, “the self-centered man” (o homem
centrado sobre si próprio). É o caso do rico da parábola. Estamos a identificar-nos com o rico da
parábola quando somos egocêntricos, e isso pode acontecer mesmo em quem viva com muita
religião à mistura, com muitas palavras religiosas na boca e frequentando muito a Igreja. A
grande heresia que visita o Cristianismo nos nossos dias é a do chamado “Evangelho do
sucesso e da prosperidade”, que é largamente pregado por grupos religiosos como a Igreja
Universal do Reino de Deus e muitas outras com nomes arrevesados ou chamando-se mesmo
Igrejas Evangélicas. Nessas Igrejas, diz-se, ou deixa-se entender, que a doença é falta de fé,
que a pobreza é ausência da graça divina, e o sofrimento é um elemento a repudiar. Na verdade,
Lázaro, com essa pregação, nem na Igreja tem quem o conforte.
Diálogo no Hades (v.22-26)
O verso 22 diz que Lázaro morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. Esta
expressão, seio de Abraão, é a forma simbólica de referir o lugar onde os crentes se encontram
na vida depois da morte. Abraão é o pai dos crentes Romanos 4:11. Mais complexa é a
afirmação de que Lázaro foi “levado pelos anjos para o seio de Abraão”. Imaginamos
imediatamente um grupo de anjos carregando Lázaro pelos céus fora, mas a expressão talvez
tenha um significado mais acessível e mais significativo, se tivermos em vista o que se diz ter
acontecido com a morte do rico, que também aconteceu. Este, diz o verso 22, “foi sepultado”
(etaphé). Quer dizer que Lázaro era tão pobre, tão destituído de bens, tão só, tão desamparado,
que nem enterro teve. Isto acontece ainda hoje com pessoas que não tenham família nem
amigos. Não há ninguém para reclamar o corpo, e o caixão é levado por funcionários para o
cemitério. De casos recentemente noticiados de pessoas idosas que morreram em solidão nas
suas casas, algumas mortas há anos, podia também dizer-se “foram levadas pelos anjos”.
3. O versículo 23 refere o Hades, onde está o rico, mas ali encontra-se também Lázaro e Abraão.
Hades é muitas vezes traduzido por inferno – e indica a morada dos mortos, sem fazer distinção
entre bons e maus. Vamos ver que há um abismo entre a situação do rico, que está em
tormentos, e o “Seio de Abraão”, que é um lugar de consolo, mas todos estão no Hades. O
próprio Senhor Jesus Cristo, entre a crucifixão e a ressurreição, desceu ao Hades, aos infernos,
para pregar a libertação aos mortos 1ª Pedro 3:19; 1ª Pedro 4:6. O Hades é um lugar transitório,
onde as almas aguardam o dia da ressurreição final, quando Cristo voltará “para julgar os vivos e
os mortos”, como diz o Credo, que o crente também proclama quando diz: “Creio na ressurreição
da carne e na vida eterna”.
Apesar do abismo entre os condenados e os salvos, assistimos a um diálogo no Hades, entre o
rico e Abraão. É interessante verificar que mesmo em tormentos o rico é um homem decidido,
um empreendedor, diríamos hoje. Levanta a sua voz e dirige-se a Abraão, chamando-lhe Pai,
portanto apresentando-se como parte da comunidade dos crentes. “Pai Abraão, tem misericórdia
de mim e manda Lázaro”. Mesmo no Além, o rico olha para Lázaro como um subalterno que está
ao serviço de alguém.”Que Lázaro molhe a ponta do seu dedo na água e me refresque a língua”.
O homem, habituado a mandar, agora quer dar ordens por interposta pessoa. Mas Abraão, que
representa o pensamento de Deus, diz que não pode ser, por duas razões. A primeira é que há,
na vida depois da morte, um abismo entre os que estão em tormentos e os que estão no lugar de
delícias; e a segunda razão é que, nesta vida depois da morte cada um passa a viver de modo
contrário ao modo como viveu do lado de cá da vida: o rico recebeu do lado de cá da vida o que
desejava, e agora isso acabou; o pobre recebeu sofrimento e agora é consolado.
Há aqui uma situação muito delicada. Muitos concluem que o rico está, depois de morrer, num
lugar de tormentos como castigo dado por Deus por ter sido mau, e o pobre está na bem-
aventurança por ter sido bom. Mas em nenhum lugar da parábola lemos que o rico é mau ou que
o pobre é bom. O que acontece é que o rico recebeu já, adiantadamente, aquilo que queria; e o
pobre recebeu, depois da morte, o que nunca tinha recebido. Não era aquilo que Lázaro
merecia: é pura graça de Deus. Não houve mérito nenhum no pobre. Ele, coitado, aparece
descrito como o mais incapaz de fazer qualquer obra de bem. O rico, é verdade, poderia ter feito
muitas coisas a favor do seu semelhante, mas esse é outro aspeto. O que ele buscava, a sua
orientação, era gozar a vida, era ter sucesso e prosperidade, e conseguiu isso na sua vida
terrestre. Não pode queixar-se, pois recebeu, e bem, o galardão que buscava na terra. O pobre,
e não esqueçamos que Jesus lhe deu o nome de Lázaro (Eliazer, Deus é auxílio), não tinha
entre os homens quem o ajudasse, quem lhe desse a mão, quem metesse uma cunha. As
pessoas dizem como provérbio: “É preciso ter amigos até no inferno”. Procuram trabalho? Levam
uma prenda ao engenheiro tal e o engenheiro tal dá uma mão para a firma tal o pôr à frente de
todos os candidatos. Vai fazer um exame de condução? Oferece umas notas ao examinador e lá
vem a carta. Vivemos sob o signo do rico da parábola quando vivemos assim. Vivemos sob o
“signo de Lázaro” quando só temos o auxílio de Deus. O drama é maior quando Lázaro nem
sabe que tem o auxílio de Deus (mas tens, Lázaro: em breve o saberás!).
Eu falei em signo de Lázaro porque no nosso tempo é arrepiante como tantas pessoas falam do
seu “signo de Zodíaco”, crendo na astrologia, uma superstição que o simples raciocínio rejeita.
Fale-se então dos que nascem sob o signo de Lázaro.
Há pessoas que parecem não “ter sorte nenhuma nesta vida”, como se costuma dizer, embora
falar de sorte e azar não seja linguagem cristã. Nascem em lares pobres, algumas com
deficiências físicas que os marcam para o resto da vida, têm saúde frágil, têm maus empregos,
com maus patrões, enfim, em tudo parecem viver sob o signo de Lázaro. Os que os querem
criticar veem nos seus infortúnios sinais de falta de fé, como os que conheceram o Job do Antigo
Testamento, mas é errado tirar tal conclusão. O grande servo de Deus que foi João Calvino foi
pela vida fora vítima de muito sofrimento de várias ordens, mas principalmente na área da
saúde, mas foi um dos teólogos que mais contribuíram para a glorificação do nome de Deus.
Viver sob o signo do homem rico da parábola não acontece apenas quando se é rico. Acontece
sempre que a nossa preocupação última é o ter e não o ser, o desejo de dominar, a ostentação,
sucesso pessoal, aplausos. Um simples camponês pode viver obcecado com a ideia de possuir.
Um homem pode até ter uma religião mas viver sob o signo do homem rico, querendo usar o seu
deus para seu benefício pessoal.
Até as nações podem viver sob o signo do homem rico. A orientação geral da vida política e
4. económica, pode ter a marca do homem rico da parábola. A crise que estamos a viver em
Portugal, no resto da União Europeia no conjunto do mundo ocidental, principalmente, tem essa
origem: a adoção do estilo de vida do homem centrado sobre si próprio. Como o rico da
parábola, os países viveram, com o capitalismo selvagem, “todos os dias regaladamente”. Já há
muitos anos que economistas de renome e políticos alertavam para o facto de os países estarem
a viver acima das suas possibilidades, a amontoar dívida, os estados e as famílias, mas
queríamos viver como o homem rico da parábola, todos os dias regaladamente.
Salvação do Homem (v.27-31)
O rico não descansa em meter cunhas. O da parábola insiste com Abraão (v. 27-28): “Rogo-te, ó
Pai, que mandes Lázaro à terra, para aparecer aos meus cinco irmãos. Assim, eles, diante desse
milagre de ouvirem uma “alma do outro mundo”, talvez se arrependam e não venham parar a
este lugar!”.
É interessante ver o rico tão preocupado com os seus irmãos. Pode ser um pormenor sem
importância, um elemento que Jesus introduziu na parábola para deixar o ensino sobre o lugar
fundamental que a Sagrada Escritura tem de ter na vida do homem, mas pode ser também para
dizer que entre os tormentos de quem não deu lugar a Deus na sua vida terrena há o tormento
de pensar no destino dos seus familiares.
Mas é uma ideia muito espalhada a de que, se as pessoas virem coisas milagrosas, elas passam
a acreditar no divino. Se “ouvirmos uma voz do outro mundo”, se houver um milagre, uma cura
divina, então eu posso crer em Deus. Escribas e fariseus pediram a Jesus que fizesse um
milagre para que pudessem crer nele, e Jesus reagiu dizendo: ”Uma geração má e adúltera pede
um sinal; mas não lhe será dado nenhum sinal senão o do profeta Jonas” Lucas 11:29/32. E qual
foi o sinal do profeta Jonas? Foi a pregação: é ouvindo e aceitando a Palavra vinda de Deus que
o homem pode chegar à fé Romanos 10:7. E é por meio da fé que o homem encontra a salvação
Efésios 2:8. É isso também que Abraão diz ao que foi rico: “Os teus irmãos têm os livros de
Moisés e dos profetas, isto é, têm a Bíblia: portanto, deem ouvidos à Bíblia e saberão a verdade
sobre o destino eterno do homem”. O apóstolo Paulo dirá: “Os judeus pedem sinais e os gregos
pedem sabedoria, mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus e tolice
para os gregos, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a
Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” 1ª Coríntios 1:22/23.
Conclusão
Pode temer-se que, esta parábola, ao apresentar a felicidade de Lázaro num futuro que está
para além da morte, estimule um tipo de espiritualidade desencarnada que não leva a sério o
mundo presente e desmobiliza o crente para as tarefas atuais. É como se o ensino a fixar fosse
este: “Pobres, conformai-vos com o vosso sofrimento, sujeitai-vos à injustiça, porque depois da
vossa morte recebereis toda a felicidade!”. Não há dúvida de que em muitas igrejas é esse o
ensino que é comunicado, por causa de uma leitura superficial do texto bíblico. Na verdade, não
há elogio ao conformismo em parte alguma da parábola e no conjunto da Bíblia. O que há,
inegavelmente, é o conforto da esperança naquele que sofre. E a esperança é um elemento
mobilizador do indivíduo e da comunidade. Numa edição recente da revista Visão (5 de abril de
2012) o professor Boaventura de Sousa Santos denunciava o carácter ruinoso do neoliberalismo
e defendia, para o combater, “uma cultura de esperança, de felicidade e de vida”. Penso de esse
estudioso tem razão e uma verdadeira fé cristã desde sempre está nessa linha. O homem que
espera com confiança a felicidade futura encara com ânimo os problemas que se levantam no
presente. O futuro projeta a sua força no presente e dinamiza o homem para a ação
transformadora. Embora o cristão tenha a sua cidade para além deste mundo Hebreus 11:10, e
esta seja construída por Deus e não pelo homem, é neste mundo que ele tem de ser “fiel até à
morte” para herdar a coroa da vida Apocalipse 2:10. Jurgen Moltmann, teólogo alemão, vem
desde a década de 60 do século passado a sublinhar, com a sua Teologia da Esperança, o
carácter revolucionário da esperança cristã. Ele sublinha que o Cristianismo é essencialmente
5. escatológico, isto é, vive na esperança do Futuro, quando o Reino de Deus chegar à sua
plenitude.
Muitos acusam a pregação sobre a esperança cristã no futuro (escatologia) como uma forma de
alienação, mas a experiência mostra que, se essa alienação existe em grupos sectários, ela não
está presente numa Igreja verdadeiramente fiel à Sagrada Escritura. Pode dizer-se que há
realmente alienação quando o homem não inclui no seu pensamento a questão da filiação e da
obediência a Deus, o que acontece dentro e fora das Igrejas. Voltaremos então à expressão que
usámos acima: o homem centrado sobre si mesmo. A Parábola do Rico e de Lázaro aponta uma
alienação, mas é a do rico que vive dobrado sobre si mesmo. Essa é a forma extrema da
alienação. Mas pensar na Vida que se seguirá à nossa morte terrena, pensar no Reino de Deus
em plenitude que Jesus Cristo proclamará, não é alienação: é assumir a visão que nos animará
na nossa caminhada neste mundo. “Os que esperam no Senhor renovarão as suas forças,
subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão”
Isaías 40:31.
Vou terminar este estudo com a citação de um homem mais consensual que Moltmann, o acima
referido fundador da teologia da esperança. Falo agora de C. S. Lewis, escritor anglicano
também do século passado, que num pequeno volume escreveu estas palavras simples e
profundas: “Se você lê História, verificará que os cristãos que mais fizeram pelo mundo presente
[o mundo do lado de cá] foram justamente aqueles que mais pensaram no mundo que virá [o
mundo depois da morte]” (Mere Christianity, p. 116).
6. escatológico, isto é, vive na esperança do Futuro, quando o Reino de Deus chegar à sua
plenitude.
Muitos acusam a pregação sobre a esperança cristã no futuro (escatologia) como uma forma de
alienação, mas a experiência mostra que, se essa alienação existe em grupos sectários, ela não
está presente numa Igreja verdadeiramente fiel à Sagrada Escritura. Pode dizer-se que há
realmente alienação quando o homem não inclui no seu pensamento a questão da filiação e da
obediência a Deus, o que acontece dentro e fora das Igrejas. Voltaremos então à expressão que
usámos acima: o homem centrado sobre si mesmo. A Parábola do Rico e de Lázaro aponta uma
alienação, mas é a do rico que vive dobrado sobre si mesmo. Essa é a forma extrema da
alienação. Mas pensar na Vida que se seguirá à nossa morte terrena, pensar no Reino de Deus
em plenitude que Jesus Cristo proclamará, não é alienação: é assumir a visão que nos animará
na nossa caminhada neste mundo. “Os que esperam no Senhor renovarão as suas forças,
subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão”
Isaías 40:31.
Vou terminar este estudo com a citação de um homem mais consensual que Moltmann, o acima
referido fundador da teologia da esperança. Falo agora de C. S. Lewis, escritor anglicano
também do século passado, que num pequeno volume escreveu estas palavras simples e
profundas: “Se você lê História, verificará que os cristãos que mais fizeram pelo mundo presente
[o mundo do lado de cá] foram justamente aqueles que mais pensaram no mundo que virá [o
mundo depois da morte]” (Mere Christianity, p. 116).