Este documento contém duas entrevistas realizadas pelo estudante Gonçalo Nuno Ribeiro Alves: a primeira ao seu avô sobre a sua experiência na guerra colonial em Angola entre 1972-1974, e a segunda à sua avó sobre onde estava e como viveu o 25 de Abril de 1974.
1. Você cuida e alguém aprende…
Gonçalo Nuno Ribeiro Alves Página 1
Projeto LivroLivre
Gonçalo Nuno Ribeiro Alves
8ºAno; Turma B; Nº13
2. Você cuida e alguém aprende…
Gonçalo Nuno Ribeiro Alves Página 2
Índice
Experiência na guerra colonial...................................................................................................... 3
CONTINUAÇÃO ..................................................................................................................... 4
Onde estavas no 25 de abril de 1974?........................................................................................... 5
3. Você cuida e alguém aprende…
Gonçalo Nuno Ribeiro Alves Página 3
Experiência na guerra colonial
Estórias da guerra colonial, por quem já lá esteve…
Entrevista realizada ao avô materno do entrevistador
Informação:
Nome: Germano Ribeiro
Idade: 64 anos
Data de Nascimento: 29/10/1949
GA: Olá Germano…Preparado para uma entrevista?
GR: Tudo bem.
GA: Prosseguindo, queria-lhe fazer algumas questões acerca da sua passagem na guerra colonial.
Para que colónia foi?
GR: Angola.
GA: Quando chegou a essa colónia qual foi a sua primeira impressão?
GR: Cheguei no dia 10 de fevereiro de 1972 a Luanda às 8 da manhã, um calor tórrido, terra
vermelha, uma surpresa total
GA: Qual era a sua companhia?
GR: Eu fazia parte de uma companhia açoriana de caçadores 3510 (CCAÇ3510)
GA: Desde o seu primeiro encontro com a companhia, sentiu que se integrou bem, ou foi difícil
darem-se bem em grupo?
GR: A integração foi fácil.
GA: E qual foi a razão dessa facilidade?
GR: Porque o grupo era de fácil relacionamento, um grupo muito afável.
GA: Quanto tempo passou na sua companhia?
GR: Passei 26 meses e uma semana.
GA: Considera tempo bem passado?
GR: Foi um tempo de sofrimento, mas que nos ofereceu recordações espectaculares.
GA: Qual foi a recordação mais marcante, de que ainda se lembra?
GR: Quando chegamos a angola, com sete dias de luanda na deslocação para um destacamento
rebentamos uma mina incendiária. Como normal entramos em pânico, pois era um ambiente
hostil ao qual não estávamos habituados, pois nessa altura, para nós, tudo era novo.
GA: Nessa altura era comprometido? Tinha família que deixou para trás?
GR: Sim. Era casado…deixei a minha mulher e uma filha com 7 meses de vida.
GA: Foi complicado viver mais de dois anos sem as suas presenças?
GR: Claro, foi muito, muito complicado. Principalmente a primeira fase de crescimento da
minha filha
GA: Mas fazia troca de correspondência com quem vivia em Portugal?
GR: Sim, todos os dias escrevia para não esquecer quem deixei para trás.
GA: Os membros da sua companhia tornaram-se amigos para a vida ou acabou por parar de os
contactar?
GR: Os amigos lá, continuaram amigos cá.
GA: Fazem algum encontro anual com os da companhia?
GR: Desde 1975, que nos encontramos anualmente na primeira ou segunda semana de maio.
4. Você cuida e alguém aprende…
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CONTINUAÇÃO
GA: E a vossa relação com os nativos?
GR: Foi muito boa, exercíamos ação psicológica, tentar integrá-los na população.
GA: Houve algum nativo que estabelecesse uma relação de amizade mais forte com vocês?
GR: Sim, existiu. OMuliata e o Camboela, dois jovens africanos criados por nós.
GA: Qual foi a sensação de voltar a Portugal?
GR: Foi nascer de novo, voltar à terra onde nasci e voltar a estar com a família.
GA: Após tudo isto, qual o balanço que faz dos 26 meses passados na guerra colonial?
GR: Uma experiência única, doloroso, mas que repetiria com toda a vontade
GA: Tenha um resto de bom dia.
GR: Para si também
5. Você cuida e alguém aprende…
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Onde estavas no 25 de abril de 1974?
Estória de quem viveu a Revolução dos Cravos…
Entrevista realizada à avó materna do entrevistador:
Informação:
Nome: Adelaide Ribeiro
Idade atual: 61 anos
Idade no 25 de abril de 1974: 22 anos
GA: Boa noite Adelaide, vamos começar a entrevista?
AR: Sim
GA: Soube que era adulta aquando do 25 de abril de 1974.Como se vivia antes da
Revolução dos Cravos?
AR: Vivia-se muito mal, a sociedade era “8 e 80”, ou seja, havia muitos pobres e muitos
ricos, quase não havia classe média. Os pobres passavam fome e tinham muito pouco
dinheiro, os ricos possuíam uma grande fortuna e eram pessoas que tinham mais
oportunidades de estudar.
GA: No ano de 1974, havia rumores de uma revolução militar. Sabia que ia acontecer
uma revolução na madrugada de dia 24 para dia 25?
AR: Não, não se fazia ideia, foi uma autêntica surpresa.
GA: Onde estava quando se deu a revolução?
AR: Estava na cama, pois a revolução foi de madrugada. Quando acordei fui informada
de que já não eramos um país ditador.
GA: Quem da sua família ficou mais emocionado com esta revolução?
AR: Os meus pais, especialmente o meu pai, que conheceu o sabor da liberdade e foi
obrigado depois a viver numa ditadura. Por essa razão, ficou muito emocionado e,
inclusive, chegou a chorar.
GA: Qual foi o sentimento predominante em si após a revolução?
AR: Senti-me livre, alegre e feliz pelo fim de um período “negro” do nosso país.
GA: Chegou a comprar um cravo vermelho e a sair à rua para o exibir?
AR: Sim, no dia 25 quando fui ver um filme ao cinema, acabei por comprar um, e desci
a praça com ele na mão.
GA: Última pergunta. Para si o que significou este dia?
AR: Para mim este dia foi importante, pois teve como significado a melhora das nossas
vidas e a esperança de um futuro melhor com mais possibilidades a nível financeiro.
Diz-se que o dinheiro não traz felicidade, mas sem dúvida o dinheiro ajuda. Apesar de
tudo, a liberdade foi o mais importante e a ideia de estar imune à PIDE foi um
sentimento fantástico. Para mim foi o dia mais importante da nossa nação.
GA: Resto de uma boa noite e obrigado pela entrevista.
AR: De nada. Mais uma coisa, fiquei muito grata aos capitães de Abril, como o
Salgueiro Maia, por proporcionarem um futuro melhor a 10 milhões de portugueses.