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A Floresta me chamou! 
Profa. Lúcia Gomes Aragão 
Manaus-Amazonas- Brasil
A terra sagrada é meu abrigo, 
Sou sangue deste reduto, não tem como 
negar. Quem ousa negar? 
Um dia saí, fui conhecer outras tribos. 
Quando estive por lá, senti o vento sul, 
conheci os nativos brancos e dormi. A 
saudade nasceu, cresceu e floresceu – foi 
tomando conta de todo meu eu. 
Sabia que estava na hora de retornar, os 
rios, florestas, ventanias e temporais me 
assopravam os ouvidos, me avisando que 
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Toda minha natureza sentia saudades de 
minha presença 
Não questionei, não retruquei, nem 
pestanejei 
Somente obedeci e cumpri o que meu povo 
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Um dia retornei, não chorei e nem lagrimei 
O rio ao me ver, disse: “me respeite e me 
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A Mãe mata, Floresta mãe!
O banzeiro cheio de banzos me chama de 
filha. 
O vento sopra ao meu ouvido e sussurra 
que também é parte de mim. 
A floresta pula de lá, me agarra em seus 
braços e diz: “você é de cá e nada vai 
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Minha cultura me sustenta e me orgulho ao 
subir os rios numa noite enluarada, 
Eu na proa do barco embarco numa viagem 
só minha.
Sou da terra, dos rios, sou daqui. Tenho 
orgulho de ti mãe natureza. 
Não ousem me chamar de fraca, medrosa ou 
covarde 
Não ousem me falar de preguiça, moleza ou 
banzo, 
Sou filha de índio e tenho no sangue o 
trabalho à seu tempo. Tanto à seu tempo 
que sobra tempo para brincar de viver. 
Hoje, lembro do tempo que passou, mas 
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A Floresta me chamou

  • 1. A Floresta me chamou! Profa. Lúcia Gomes Aragão Manaus-Amazonas- Brasil
  • 2. A terra sagrada é meu abrigo, Sou sangue deste reduto, não tem como negar. Quem ousa negar? Um dia saí, fui conhecer outras tribos. Quando estive por lá, senti o vento sul, conheci os nativos brancos e dormi. A saudade nasceu, cresceu e floresceu – foi tomando conta de todo meu eu. Sabia que estava na hora de retornar, os rios, florestas, ventanias e temporais me assopravam os ouvidos, me avisando que era hora.
  • 3. Toda minha natureza sentia saudades de minha presença Não questionei, não retruquei, nem pestanejei Somente obedeci e cumpri o que meu povo pedia. Um dia retornei, não chorei e nem lagrimei O rio ao me ver, disse: “me respeite e me chame de pai”. A Mãe mata, Floresta mãe!
  • 4. O banzeiro cheio de banzos me chama de filha. O vento sopra ao meu ouvido e sussurra que também é parte de mim. A floresta pula de lá, me agarra em seus braços e diz: “você é de cá e nada vai nos separar”. Minha cultura me sustenta e me orgulho ao subir os rios numa noite enluarada, Eu na proa do barco embarco numa viagem só minha.
  • 5. Sou da terra, dos rios, sou daqui. Tenho orgulho de ti mãe natureza. Não ousem me chamar de fraca, medrosa ou covarde Não ousem me falar de preguiça, moleza ou banzo, Sou filha de índio e tenho no sangue o trabalho à seu tempo. Tanto à seu tempo que sobra tempo para brincar de viver. Hoje, lembro do tempo que passou, mas somente eu vivi e sobrevivi e estou consciente que morrerei aqui.

Notas do Editor

  1. Um dia retornei, não chorei e nem lagrimei O rio ao me ver, disse